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Penal P. Especial atualizado (XVII TRF4) pág. 820

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Direito PENAL
PARTE ESPECIAL
2016
Dos crimes previstos na parte especial do Código Penal
Dos crimes contra a pessoa
HOMICÍDIO
PREVISÃO LEGAL
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Caso de diminuição e pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil;
II- com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
- à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
- para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Feminicídio (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
– contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
- na presença de descendente ou de ascendente da vítima. (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015)
CONCEITO
Nelson Hungria: É o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia (montanha) dos crimes. O homicídio é o crime por excelência. Von Lizst: Destruição da vida humana. Conceito moderno: Destruição da vida extrauterina de alguém praticada por outra pessoa.
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa, isolada ou associada a outrem. Trata-se de crime comum, ou seja, o tipo não exige qualidade ou condição especial do agente.
 E no caso dos irmãos Xifópagos (siameses), onde um deles comete homicídio? A doutrina diverge:
1ª C: O irmão criminoso deve ser absolvido. No conflito entre o interesse de punir e o estado de liberdade do irmão inocente, prevalece este último (Euclides da Silveira).
2ª C: O irmão criminoso deve ser condenado, mas só vai cumprir pena quando o irmão inocente praticar crime sujeito à pena de prisão (FMB). Prevalece o direito à liberdade.
Sujeito Passivo
Ser vivo, nascido de mulher.
Magalhães Noronha entende que o Estado é tão vítima quanto a pessoa que morreu. “A vida humana é condição de existência do próprio Estado”.
Se o sujeito passivo for Presidente da República, do Senado, da Câmara ou do STF, a conduta pode configurar tanto o art. 121 do CP quanto o art. 29 c/c art. 2º da Lei 7.170/83 (Crimes contra a Segurança Nacional), a depender da existência ou não de motivação política no assassinato.
Novamente os irmãos siameses: Se o agente quer matar apenas um dos irmãos, responderá quanto a este com dolo direto de 1º grau, e em face do segundo responderá com dolo direto de 2º grau, pois a morte de um irmão era evento necessário para a morte do outro (ver acima).
OBJETO MATERIAL
Sobre o qual recai a conduta descrita no tipo: Pessoa viva.
Se for pessoa morta, trata-se de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto material do crime.
TIPO OBJETIVO
Tirar a vida extrauterina de alguém.
Vida intrauterina	Vida extrauterina
Aborto	Homicídio ou infanticídio
O momento no qual a vida passa a ser extrauterina refere-se ao início do parto. Antes é aborto; após é homicídio ou infanticídio. Três correntes discutem qual é o momento exato de início do parto:
1ª C: Com o completo e total desprendimento do feto das entranhas maternas.
2ª C: Desde as dores do parto.
3ª C: Dilatação do colo do útero.
IMPORTANTE: É importante lembrar que existe homicídio mesmo que a vida extrauterina não seja viável.
OBS: Rogério Greco afirma que, adotando-se a teoria da imputação objetiva seria possível sustentar que o fato seria atípico, pois não haveria incremento de risco, uma vez que o resultado morte ocorreria de qualquer forma.
MEIOS DE EXECUÇÃO
O homicídio é um Crime de execução livre, podendo ser praticado:
-	Por ação ou omissão;
-	Por meios diretos ou indiretos: Ex.: Tiro ou uso de animal.
-	Por meios físicos, psicológicos ou emocionais. Exemplo: meios mecânicos ou susto, riso, emoção violenta.
TIPO SUBJETIVO
O homicídio admite tanto a forma dolosa (dolo direto ou eventual), como a forma culposa, nos termos do §3º do art. 121.
OBS: A finalidade do agente pode significar um privilégio ou qualificadora.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
O crime é material (exige produção de resultado para a consumação), consumando-se com a morte. Dá-se a morte com cessação da atividade encefálica, conforme dispõe o art. 3º da Lei 9.434/97 (Lei da Remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo para fins médicos).
A tentativa é possível, pois o crime é plurissubsistente (a execução admite fracionamento).
Homicídio simples é hediondo?
Em regra, não, salvo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio. É o chamado homicídio condicionado.
OBS1: Esse homicídio que está tipificado no § 6º do art. 121.
OBS2: existe posicionamento que defende que o homicídio praticado por grupo de extermínio é sempre qualificado, pois praticado por motivo torpe.
HOMICÍDIO DOLOSO PRIVILEGIADO (ART. 121 §1º)
Previsão legal
Art. 121 § 1º: Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Trata-se de uma causa de diminuição da pena (minorante) devendo ser levada em conta na 3ª fase da aplicação da pena. Em razão da pena do homicídio, a redução não é muito alta. A expressão PODE, prevista no §1º, deve ser lida DEVE. O privilégio faz parte da votação dos quesitos pelos jurados. A sua votação antecede as penas acusatórias, sob pena de nulidade.
“Privilegiadoras” (na realidade são m inorantes especiais)
1)	Matar impelido por relevante valor social: para atender aos interessesda coletividade. Exemplo: Matar um traidor da pátria; matar perigoso bandido que aterroriza a vizinhança.
2)	Matar impelido por relevante valor moral: valor individual do homicida, que deve ser analisado a fim de que se perquira se é relevante do ponto de vista da sociedade em que se vive. Matar para atender interesses pessoais, porém ligados ao sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade. Exemplo: Eutanásia; pai que mata estuprador da filha.
OBS: Nesses casos de pai que mata estuprador ou marido que mata a mulher adúltera não há que se falar em legítima defesa da honra. Trata-se de fato típico, ilícito e culpável, porém com causa de diminuição de pena.
Sobre eutanásia: A própria exposição de motivos do CP coloca a eutanásia como exemplo de homicídio privilegiado.
E a ortotanásia? Trata-se da morte natural sem interferência da ciência, deixando a doença evoluir em caso de paciente irrecuperável (cessar sobrevida artificial).
A eutanásia pode ser ativa ou passiva. Será ativa quando presentes atos positivos com o fim de matar alguém, eliminando ou aliviando seu sofrimento. A passiva se dá com a omissão de tratamento ou de qualquer meio capaz de prolongar a vida humana, irreversivelmente comprometida, acelerando o processo morte. Não se pode confundir com a ortotanásia e a distanásia. Como bem esclarece Regis Prado: “A ortotanásia tem certa relação com a eutanásia passiva, mas apresenta significado distinto desta e oposto da distanásia. O termo ortotanásia indica morte certa, justa, em momento oportuno. Destarte, corresponde à supressão de cuidados de reanimação em pacientes em estado de como profundo e irreversível, em estado terminal ou vegetativo. De outra parte, a distanásia refere-se ao prolongamento do curso natural da morte – e não da vida – por todos os meios existentes, apesar de aquela ser inevitável, sem ponderar os benefícios ou prejuízos que podem advir para o paciente.
 OBS1: Deve ser impelido, ou seja, o motivo único ou mais forte deve ser o relevante valor moral ou social. Se o sujeito mata pelo relevante motivo, mas não impelido pelo motivo, é sinal que concorreram outros fatores determinantes para a conduta. Nesse caso, responderá pelo homicídio simples com a atenuante genérica do art. 65, III, ‘a’.
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: III - ter o agente;
a)	cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
OBS2: O valor deve ser relevante, ou seja, deve ser tão importante que de certa forma explique a conduta. Na hora do julgamento o critério da relevância deve ser aferido de forma objetiva, ou seja, não deve ser analisado somente na órbita de consciência do réu.
3)	Homicídio Emocional
Exige três requisitos cumulativos:
3.1)	Violenta emoção que domine o réu
Domínio não se confunde com mera influência (que configura atenuante genérica do art.
65 do CP). O domínio da violenta emoção é mais contundente, significando uma perda de autocontrole, levando o agente a praticar o homicídio. É a chamada emoção-choque.
A mera INFLUÊNCIA de violenta emoção configura a chamada “emoção-estado”, que é administrável, não configurando, por isso, a causa de diminuição de pena, mas sim a atenuante. (art. 65, III, e CP), (o domínio cega; a mera influência confunde, turva).
A expressão “logo após” indica que a reação deve ser imediatamente ao conhecimento do réu da injusta provocação, não sendo necessário ter presenciado ao ato.
3.2)	Reação logo em seguida
Exige-se a imediatidade da reação. É a reação sem intervalo temporal.
Jurisprudência: A reação será considerada imediata enquanto perdurar o domínio da violenta emoção (análise do caso concreto).
3.3)	Provocação injusta (dolosa ou culposa) da vítima ao réu
Não traduz necessariamente um fato típico (exemplo: adultério, injusta provocação que não corresponde a um fato típico).
Provocação não se confunde com agressão (que poderia possibilitar a justificação da conduta pela legítima defesa).
A provocação pode ser tanto direta (contra o próprio homicida), como indireta (contra pessoa distinta do homicida).
Exemplo de provocação indireta culposa: Atropelamento culposo de criança. O pai da criança, vendo a cena, mata o motorista sob domínio de violenta emoção, logo em seguida ao atropelamento e consequente morte da criança (provocação injusta).
 OBS: Na quesitação, a privilegiadora vem após a pergunta se o jurado absolve o réu e antes das qualificadoras.
§ 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação:
O jurado absolve o acusado?
§ 3o Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue, devendo ser formulados quesitos sobre:
I	– causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II	– circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena, reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram admissível a acusação.
Privilegiadoras e erro na execução
OBS: Vale lembrar que essas causas privilegiadoras são aplicadas mesmo que o agente atue em erro na execução (“aberratio ictus”), ou seja, em vez de matar o estuprador da filha, mata o filho deste. Nesse caso, responderá por homicídio privilegiado porque agiu impelido por motivo de relevante valor moral (art. 73 - consideram-se as circunstâncias ligadas à vítima virtual).
Comunicabilidade das privilegiadoras
Conforme o art. 30 do CP:
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
-	As elementares (sua presença interfere na tipicidade) do tipo sempre se comunicam desde que haja conhecimento do codelinquente. Exemplo: subtração (furto 155) + violência (157). A violência é elementar do crime, sua presença interferiu na tipicidade do comportamento, furto  roubo.
-	As circunstâncias (sua presença interfere na pena) do tipo só se comunicam se objetivas e se o codelinquente delas tiver conhecimento.
Circunstâncias subjetivas: ligada ao motivo ou estado anímico do agente
Circunstâncias objetivas: ligada ao meio/modo de execução.
Como as privilegiadoras não são elementares (são circunstâncias), e não são objetivas (são subjetivas), não há que se falar em sua comunicabilidade entre os coautores do homicídio.
Exemplo: Somente o pai será beneficiado pela privilegiadoras ao matar o estuprador de sua filha; o vizinho que o ajudou no crime responderá pelo homicídio simples.
O privilégio é um direito subjetivo do réu ou faculdade do juiz?
Prevalece que é direito subjetivo do réu, ou seja, preenchidos os requisitos o juiz DEVE diminuir a pena. A expressão ‘pode’ do dispositivo se refere ao quantum de diminuição de pena.
HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO (art. 121, §2º)
É sempre hediondo, pouco importando qual a qualificadora.
Compatibilidade entre qualificadora e dolo eventual
O dolo eventual combina com qualificadora subjetiva? Exemplificando, se o jurado reconhece que o dolo é eventual, pode também reconhecer uma qualificadora subjetiva?
STF: O dolo eventual pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe do crime de homicídio. Nada impediria que o agente — médico —, embora prevendo o resultado e assumindo o risco de levar os seus pacientes à morte, praticasse a conduta motivado por outras razões, tais como torpeza ou futilidade (no caso concreto, o lucro - RHC-92571).
Informativo 677 do STF
É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?
-	No caso das qualificadoras do motivo fútil e/ou torpe: SIM (posição do STJ e do STF).
-	No caso de qualificadoras de meio: NÃO (posição do STF HC 95136/PR)
Por que o dolo eventual é incompatível com a qualificadora da surpresa?
Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse resultado.Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância (surpresa).
Qualificadoras do homicídio em espécie (análise do art. 121, §2º)
 I	– Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe
É o motivo moralmente reprovável, demonstrativo de depravação espiritual do sujeito. Torpe é o motivo abjeto, vil, ignóbil e desprezível. É, pois, o motivo repugnante, moral e socialmente repudiado. No dizer de Hungria, revela alta depravação espiritual do agente, profunda imoralidade, que deve ser severamente punida.
Na previsão do motivo torpe o legislador trabalha com a chamada interpretação analógica ou “analogia intralegem” (dá exemplos da conduta seguidos de um encerramento genérico). Lembrando que a analogia pura é vedada para punir.
Exemplo dado pelo legislador: Homicídio cometido mediante paga ou recompensa. É o chamado Homicídio mercenário ou mandato remunerado. Trata-se de delito onde necessariamente há número plural de agentes (mandante e executor), ou seja, trata-se de crime plurissubjetivo (de concurso necessário).
Quanto à paga e promessa de recompensa, prevalece que se refere à vantagem econômica (Greco não faz essa limitação). A diferença entre elas é o momento em que são realizadas.
OBS: matar por favor sexual é tão torpe quanto, só não configura o exemplo da vantagem econômica.
No homicídio mercenário, a qualificadora da torpeza é só para o executor ou se comunica ao mandante?
1ª C: Trata-se de circunstância subjetiva incomunicável nos termos do art. 30 do CP. (Doutrina moderna – Rogério Greco).
2ª C: Trata-se de elementar subjetiva do homicídio qualificado, logo, comunicável aos concorrentes, nos termos do art. 30 do CP. Ou seja, para essa corrente, o homicídio qualificado configura um tipo penal autônomo.
Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
Para o STJ (último entendimento):
-	"A paga ou a promessa de recompensa" é uma circunstância acidental do delito de homicídio, de caráter pessoal e, portanto, incomunicável automaticamente aos coautores do homicídio.
 -	No entanto, não há proibição de que esta circunstância se comunique entre o mandante e o executor do crime, caso o motivo que levou o mandante a encomendar a morte tenha sido torpe, desprezível ou repugnante.
-	Em outras palavras, o mandante poderá responder pelo inciso I do § 2º do art. 121 do CP, desde que a sua motivação, ou seja, o que o levou a encomendar a morte da vítima seja algo torpe. Ex: encomendou a morte para ficar com a herança da vítima.
-	Por outro lado, o mandante, mesmo tendo encomendado a morte, não responderá pela qualificadora caso fique demonstrado que sua motivação não era torpe. Ex: homem que contrata pistoleiro para matar o estuprador de sua filha. Neste caso, o executor responderá por homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I) e omandante por homicídio simples, podendo até mesmo ser beneficiado com o privilégio do § 1º.
Vingança é sinônimo de motivo torpe?
Não, necessariamente. Deve-se analisar o caso concreto. Só existe uma espécie de vingança que SEMPRE configura um motivo torpe: aquela onde o agente atinge não a pessoa que o provocou, mas uma terceira pessoa que o atinja. É o exemplo do sujeito que, querendo vingar- se de seu patrão, mata o filho deste.
O resto das vinganças nem sempre qualificam o homicídio: quanto mais torpe for a ação que causou o sentimento de vingança, menos torpe será a vingança.
O ciúme não é considerado motivo torpe (e nem fútil). O motivo torpe é infamante e não se pode considerar infamante algo que resulta de um sentimento bom como o amor.
II	– Por motivo fútil
É o motivo insignificante, frívolo. Ocorre aqui uma grande desproporção entre a causa moral da conduta e o resultado morte por ela operado. Exemplo: Briga de trânsito.
Motivo fútil não se confunde com motivo injusto. Injusto todo crime é.
Todo motivo fútil é injusto, mas nem sempre o motivo injusto pode ser considerado fútil.
Ex: Maria anuncia que vai se separar de Abel após 10 anos de casamento em razão de ter se apaixonado por Pedro, vizinho do casal. Inconformado, Abel mata Maria.
O motivo é injusto, considerando que não há justificativa para ceifar a vida de uma pessoa por conta do fim de um relacionamento. Por outro lado, não se pode dizer que a razão que motivou o agente seja insignificante (desprezível).
-	O móvel fútil tem que ser o único que influencia o agente em seu desiderato. Se concorrer outro motivo, acabará por diminuir a futilidade do motivo.
-	Para incidir a qualificadora, o móvel fútil deve advir de pessoas em estado de normalidade psíquica. Exemplo: Pessoa em estado embriaguez não pode responder por homicídio qualificado pela futilidade, porquanto é privada de senso de proporção caracterizador do motivo fútil.
E a questão do dolo eventual? A pessoa está em estado de embriaguez e o homicídio poderá ser qualificado, como dito acima.
Ausência de motivos qualifica o crime?
1ª C: Se motivo pequeno (fútil) qualifica, a ausência de motivo também qualificará. Jurisprudência (Capez, Greco). Seria um contrassenso conceber que o legislador punisse com pena mais grave quem mata por futilidade, permitindo que o que age sem qualquer motivo receba a sanção mais branda.
2ª C: O crime será qualificado quando o motivo é pequeno, que não se confunde com ausência de motivos. Querer abranger a ausência é analogia in malam partem. Logo, o homicídio será simples (Cezar Bitencourt, Damásio). Afirma que, apesar de ser ilógico, pelo respeito ao princípio da legalidade, a ausência de motivos não se equipara ao motivo fútil. Equiparar “ausência de motivo” a “motivo fútil” é fazer uma analogia in mallan partem.
Vale ressaltar, no entanto, que “a discussão anterior entre vítima e autor do homicídio, por si só, não afasta a qualificadora do motivo fútil” (AgRg no REsp 1113364/PE, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 06/08/2013). Assim, é preciso verificar a situação no caso concreto.
É possível que o homicídio seja qualificado por motivo fútil (art. 121, § 2º, II) e, ao mesmo tempo, privilegiado (art. 121, § 1º)? NÃO. A jurisprudência somente admite que um homicídio seja qualificado e privilegiado ao mesmo tempo se esta qualificadora for de natureza objetiva (ex: meio cruel, surpresa). Se a qualificadora for subjetiva, entende-se que ela é incompatível com o privilégio.
Se o fato surgiu por conta de uma bobagem, mas depois ocorreu uma briga e, no contexto desta, houve o homicídio, tal circunstância pode vir a descaracterizar o motivo fútil.
Cleber Masson fornece um exemplo: “Depois de discutirem futebol, “A” e “B” passam a proferir diversos palavrões, um contra o outro. Em seguida, “A” cospe na face de “B”, que, de imediato, saca um revólver e contra ele atira, matando-o. Nada obstante o início do problema seja fútil (discussão sobre futebol), a razão que levou à prática da conduta homicida não apresenta essa característica.
III	– Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum
Também aqui o legislador trabalha com interpretação analógica.
•	Meio insidioso: Aquele dissimulado na sua eficiência maléfica, ou seja, desconhecido da vítima, que não sabe estar sendo atacada. Exemplo: Veneno. O homicídio com emprego de veneno é chamado de venefício.
Veneno: Substância mineral, vegetal ou animal, que, introduzida no corpo da vítima, é capaz de perturbar ou destruir as funções vitais de seu organismo. Exemplo de Hungria: Açúcar para o diabético é veneno.
Para incidir a qualificadora é imprescindível que a vítima desconheça estar ingerindo a substância venenosa (ignora estar sendo envenenada). Se a vítima tem conhecimento, não incide ESTA qualificadora (pois o meio deixa de ser insidioso), mas pode estar presente outra (como o meio cruel).
Exemplo: pessoa coloca arma na cabeça da pessoa e diz “bebaeste veneno”. A pessoa bebe sabendo que era veneno. O homicídio é simples ou qualificado? É qualificado não pelo emprego de veneno, pois a pessoa sabia que estava bebendo veneno, mas não deixa de ser qualificado pela impossibilidade de defesa a vítima.
•	Meio cruel: Aquele que aumenta inutilmente o sofrimento da vítima. Exemplo: tortura, asfixia, fogo.
Tortura: Não se confunde o homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 3º, III do CP), com o crime de tortura qualificada pela morte (art. 1º, § 3º da Lei 9.455/97). Nesta a intenção do agente é torturar, ocorrendo a morte de forma culposa (crime preterdoloso). Naquela, a intenção é matar, sendo a tortura o meio de execução eleito.
OBS: Admite-se concurso entre a tortura simples e o homicídio qualificado, na hipótese em que, depois de torturar a vítima o agente decide matá-la para assegurar a impunidade (art. 121, §2º, V).
•	Meio que resulte perigo comum: Fogo e explosivo, por exemplo.
IV	- À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
Traição: Quebra de confiança. Exemplo: Marido que mata a mulher durante a conjunção carnal. Tiro pelas costas.
Emboscada: Surpresa à vítima, pressupõe ocultamento do agressor. Ex.: Tocaia.
Pressupõe sempre uma premeditação.
 Dissimulação: É a ocultação da intenção homicida. Exemplo: Fazer-se de amigo da vítima para matá-la. A dissimulação pode ser moral (exemplo onde o agente leva a vítima para o motel) e material (exemplo do disfarce). Também pressupõe uma premeditação.
OBS: Conforme Damásio, a premeditação, per si, não constitui circunstância qualificadora do homicídio. Muitas vezes significa até mesmo uma resistência do agente à prática delituosa. Apesar de não constituir uma qualificadora, deve ser valorada pelo juiz na fixação da pena-base.
Para que essa qualificadora (uso de meio que dificulte ou impossibilite defesa) exista é necessário que a vítima tenha alguma possibilidade de defesa numa situação normal. Exemplo onde não se configura: Vítima em coma.
Além disso, só se configura a qualificadora se a dificuldade ou impossibilidade de defesa resultar da conduta do agente. Se a impossibilidade de defesa decorrer de característica da vítima, não há que se falar na qualificadora oura estudada. Exemplo onde não se configura: Vítima que anda de muletas; vítima de tenra idade etc. Ora, o agente não utiliza como recurso a característica da vítima, e sim se aproveita dela.
OBS: Vale lembrar que essas circunstâncias relativas ao meio e modo de execução (objetivas) são comunicáveis aos partícipes do crime, desde que, é claro, sejam de seu conhecimento.
V	- Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (conexão);
Sempre que for reconhecida essa qualificadora, o homicídio deverá ter relação com outro crime, ou seja, deverá existir uma conexão entre os crimes, que pode ocorrer de duas formas:
Conexão objetiva teleológica: O agente mata para assegurar a execução de outro crime (futuro). Exemplo: Matar o segurança da Gisele para estuprá-la. Assegurar a execução.
OBS: Mesmo que o segundo crime não se consume, ou mesmo seja impossível, é qualificado o primeiro, pois basta que a finalidade do homicídio tenha sido a garantia da execução (a censurabilidade da conduta daquele que age com esse fim é maior). Ocorrendo o segundo crime, ocorrerá concurso de delitos.
Conexão objetiva consequencial: O agente mata para assegurar a impunidade, vantagem ou ocultação de outro crime (pretérito).
Impunidade: Homicídio da testemunha que pode identificar o agente como autor de um estupro.
Vantagem: Homicídio de coautor de furto para ficar com a totalidade da ‘res furtiva’.
Ocultação: Homicídio de perito que ia apurar a apropriação indébita do agente.
Conexão temporal (conexão ocasional): O agente mata por ocasião de outro crime, sem vínculo finalístico. Ex.: Estava matando uma pessoa e aproveitei para matar o meu desafeto que passava no local. NÃO CONFIGURA UMA QUALIFICADORA.
OBS1: Não se exige coincidência de sujeitos ativos para configurar a qualificadora. O crime conexo ao homicídio pode ter como autor qualquer outra pessoa. Ex.: Pai mata a testemunha de crime cometido pelo filho.
OBS2: Quando o homicídio é realizado para garantir a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de uma contravenção, não se configura essa qualificadora (seria analogia in malam partem). Entretanto, deve ser aplicada a qualificadora da torpeza, porquanto a qualificadora da conexão é apenas uma especialização do motivo torpe.
VI	- Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
Esta qualificadora foi incluída no CP pela Lei 13.104/2015, que:
a)	Prevê o FEMINICÍDIO como qualificadora do crime de homicídio; e
b)	Inclui o FEMINICÍDIO no rol dos crimes hediondos
O que é feminicídio?
Feminicídio é o homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino.
Existe diferença entre feminicídio e femicídio?
•	Femicídio significa praticar homicídio contra mulher (matar mulher);
•	Feminicídio significa praticar homicídio contra mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero).
A nova Lei trata sobre FEMINICÍDIO, ou seja, pune mais gravemente aquele que mata mulher por “razões da condição de sexo feminino” (por razões de gênero). Não basta a vítima ser mulher.
Como era a punição do feminicídio?
Antes da Lei n. 13.104/2015, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio ser praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Em outras palavras, o feminicídio era punido, de forma genérica, como sendo homicídio (art. 121 do CP).
A depender do caso concreto, o feminicídio (mesmo sem ter ainda este nome) poderia ser enquadrado como sendo homicídio qualificado por motivo torpe (inciso I do § 2º do art. 121) ou fútil (inciso II) ou, ainda, em virtude de dificuldade da vítima de se defender (inciso IV). No entanto, o certo é que não existia a previsão de uma pena maior para o fato de o crime ser cometido contra a mulher por razões de gênero.
A Lei n. 13.104/2015 veio alterar esse panorama e previu, expressamente, que o feminicídio, deve agora ser punido como homicídio qualificado.
A Lei Maria da Penha já não punia isso? NÃO. A Lei Maria da Penha não traz um rol de crimes em seu texto. Esse não foi seu objetivo. A Lei n. 11.340/2006 trouxe regras processuais instituídas para proteger a mulher vítima de violência doméstica, mas sem tipificar novas condutas, salvo uma pequena alteração feita no art. 129 do CP.
Vale ressaltar que as medidas protetivas da Lei Maria da Penha poderão ser aplicadas à vítima do feminicídio (obviamente, desde que na modalidade tentada).
Foi acrescentado o inciso VI ao § 2º do art. 121 do CP
O rol de qualificadoras do homicídio encontra-se previsto no § 2º do art. 121 do CP.A Lei n. 13.104/2015 acrescentou um sexto inciso ao rol do § 2º para tratar do feminicídio. 
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa (trata-se de crime comum). O sujeito ativo do feminicídio normalmente é um homem, mas também pode ser mulher.
Sujeito passivo: Obrigatoriamente deve ser uma pessoa do sexo feminino (criança, adulta, idosa, desde que do sexo feminino). Mulher que mata sua companheira homoafetiva: pode haver feminicídio se o crime foi por razões da condição de sexo feminino.
Homem que mata seu companheiro homoafetivo: não haverá feminicídio porque a vítima deve ser do sexo feminino. Esse fato continua sendo, obviamente, homicídio.
Transexual, homossexual e travesti. Diferenças
Transexual é o indivíduo que possui características físicas sexuais distintas das características psíquicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a transexualiade é um transtorno de identidade de gênero. A identidade de gênero é o gênero como a pessoa se enxerga(como homem ou mulher). Assim, em simples palavras, o transexual tem uma identidade de gênero (sexo psicológico) diferente do sexo físico, o que lhe causa intenso sofrimento.
Existem algumas formas de acompanhamento médico oferecidas ao transexual, dentre elas a cirurgia de redesignação sexual (transgenitalização), que pode ocorrer tanto para redesignação do sexo masculino em feminino, como o inverso.
Importante, ainda, esclarecer que transexual não é o mesmo que homossexual ou travesti. A definição de cada uma dessas terminologias ainda está em construção, sendo ponto polêmico, mas em simples palavras, a homossexualidade (não se fala homossexualismo) está ligada à orientação sexual, ou seja, a pessoa tem atração emocional, afetiva ou sexual por pessoas do mesmo gênero. O homossexual não possui nenhuma incongruência de identidade de gênero. A travesti (sempre se utiliza o artigo no feminino), por sua vez, possui identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, mas, diferentemente dos transexuais, não deseja realizar a cirurgia de redesignação sexual.
Vítima homossexual (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino.
Vítima travesti (sexo biológico masculino): não haverá feminicídio, considerando que o sexo físico continua sendo masculino.
Transexual que realizou cirurgia de transgenitalização (neovagina) pode ser vítima de feminicídio se já obteve a alteração do registro civil, passando a ser considerada mulher para todos os fins de direito? NÃO. A transexual, sob o ponto de vista estritamente genético, continua sendo pessoa do sexo masculino, mesmo após a cirurgia.
Não se discute que a ela devem ser assegurados todos os direitos como mulher, eis que esta é a expressão de sua personalidade. É assim que ela se sente e, por isso, tem direito, inclusive de alterar seu nome e documentos, considerando que sua identidade sexual é feminina. Trata-se de um direito seu, fundamental e inquestionável.
No entanto, tão fundamental como o direito à expressão de sua própria sexualidade, é o direito à liberdade e às garantias contra o poder punitivo do Estado.
O legislador tinha a opção de, legitimamente, equiparar a transexual à vítima do sexo feminino, até porque são plenamente equiparáveis. Porém, não o fez. Não pode o intérprete, a pretexto de respeitar a livre expressão sexual do transexual, valer-se de analogia para punir o agente.
Enfim, a transexual que realizou a cirurgia e passou a ter identidade sexual feminina é equiparada à mulher para todos os fins de direito, menos para agravar a situação do réu. Isso porque, em direito penal, somente se admitem equiparações que sejam feitas pela lei, em obediência ao princípio da estrita legalidade.
Deve-se salientar, contudo, que, em sentido contrário, a Prof. Alice Bianchini, maior especialista do Brasil sobre o tema, defende, em palestra disponível no Youtube, que a transexual que realizou a cirurgia pode sim ser vítima de feminicídio.
Razões de condição de sexo feminino
“Razões de gênero” foi substituída no Congresso. A expressão escolhida é péssima. A redação é confusa, truncada e não explica nada.
No projeto de lei, a locução prevista para o tipo era: se o homicídio é praticado “contra a mulher por razões de gênero”. Ocorre que, durante os debates, a bancada de parlamentares evangélicos pressionou para que a “gênero” da proposta inicial fosse substituída por “sexo feminino”, com objetivo de afastar a possibilidade de que transexuais fossem abarcados pela lei. A bancada feminina acabou aceitando a mudança para viabilizar a aprovação do projeto.
 Melhor seria se tivesse sido mantida a redação original, que, aliás, é utilizada na Lei Maria da Penha: “configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero” (art. 5º) e nas legislações internacionais.
Mas, afinal, o que são “razões de condição de sexo feminino”?
O legislador previu, no § 2º-A do art. 121, uma norma penal interpretativa, ou seja, um dispositivo para esclarecer o significado dessa expressão.
§ 2º-A Considera-se que há “razões de condição de sexo feminino” quando o crime envolve:
I	- violência doméstica e familiar;
II	- menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Violência doméstica e familiar (inciso I)
Haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra a mulher em situação de violência doméstica e familiar.
Ao afirmar isso, o legislador ampliou bastante o conceito de feminicídio, já que, pela redação literal do inciso I não seria necessário discutir os motivos que levaram o autor a cometer o crime. Pela interpretação literal, não seria indispensável que o delito tivesse relação direta com razões de gênero. Tendo sido praticado homicídio (consumado ou tentado) contra pessoa do sexo feminino envolvendo violência doméstica, haveria feminicídio.
Ocorre que a interpretação literal e isolada do inciso I não me parece a melhor. É preciso contextualizar o tema e buscar a interpretação sistemática, socorrendo-se da definição de “violência doméstica e familiar” encontrada no art. 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que assim a conceitua:
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I	- no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II	- no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III	- em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Desse modo, conclui-se que, mesmo no caso do feminicídio baseado no inciso I do § 2º-A do art. 121, será indispensável que o crime envolva motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex.1: marido que mata a mulher porque acha que ela não tem “direito” de se separar dele; Ex.2: companheiro que mata sua companheira porque quando ele chegou em casa o jantar não estava pronto.
Por outro lado, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a mulher como vítima, não haverá feminicídio se não existir, no caso concreto, uma motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). Ex: duas irmãs, que vivem na mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o quarto da outra e a mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado com violência doméstica, já que envolveu duas pessoas que tinha relação íntima de afeto, mas não será feminicídio porque não foi um homicídio baseado no gênero (não houve violência de gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a motivação do delito sido meramente patrimonial.
Menosprezo ou discriminação à condição de mulher (inciso II)
Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Ex.: funcionário de uma empresa que mata sua colega de trabalho em virtude de ela ter conseguido a promoção em detrimento dele, já que, em sua visão, ela, por ser mulher, não estaria capacitada para a função.
O feminicídio pode ser tentado ou consumado.
Tipo subjetivo: pode ser praticado com dolo direto ou eventual.
Natureza da qualificadora: A qualificadora do feminicídio é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente (“razões de condição de sexo feminino”). Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de execução. Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essa qualificadora não se comunica aos demais coautores oupartícipes, salvo se eles também tiverem a mesma motivação. Ex.: João deseja matar sua esposa (Maria) e, para tanto, contrata o pistoleiro profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas lucrar com a execução; João responderá por feminicídio (art. 121, § 2º, VI) e Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do feminicídio não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP.
Impossibilidade de feminicídio privilegiado
É possível aplicar o privilégio do § 1º ao feminicídio? É possível que exista feminicídio privilegiado? NÃO. A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No entanto, para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do feminicídio, a qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que haja feminicídio privilegiado.
Competência
Se o feminicídio ocorre com base no inciso I do § 2º-A do art. 121, ou seja, se envolveu violência doméstica, a competência para processar este crime será da vara do Tribunal do Júri ou do Juizado Especial de Violência Doméstica (“Vara Maria da Penha”)?
Dependerá da Lei estadual de Organização Judiciária.
Situação 1: existem alguns Estados que, em sua Lei de Organização Judiciária preveem que, em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica, a Vara de Violência Doméstica será competente para instruir o feito até a fase de pronúncia. A partir daí, o processo será redistribuído para a Vara do Tribunal do Júri.
Segundo já decidiu o STF, essa previsão é válida. Assim, a Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri (STF. 2ª Turma. HC 102150/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/5/2014. Info 748).
Situação 2: se a lei de organização judiciária não prever expressamente essa competência da Vara de Violência Doméstica para a 1ª fase do procedimento do Júri, aplica-se a regra geral e todo o processo tramitará na Vara do Tribunal do Júri.
Crime hediondo
A Lei n. 13.104/2015 alterou o art. 1º da Lei n. 8.072/90 e passou a prever que o feminicídio é crime hediondo.
O que muda no fato de o feminicídio tornar-se crime hediondo? Quais são as diferenças entre o crime comum e o crime hediondo?
	CRIME COMUM
	CRIME HEDIONDO (OU EQUIPARADO)
	Em regra, admite fiança.
	NÃO admite fiança.
	Admite liberdade provisória.
	Admite liberdade provisória.
	Admite a concessão de anistia, graça e indulto.
	NÃO admite a concessão de anistia, graça e indulto.
	O prazo da prisão temporária, quando cabível, será de 5 dias, prorrogável por igual período.
	O prazo da prisão temporária, quando cabível, será de 30 dias, prorrogável por igual período.
	O regime inicial de cumprimento da pena pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
	O regime inicial de cumprimento da pena pode ser fechado, semiaberto ou aberto.
	Admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do CP).
	Admite a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44 do CP).
	Admite a concessão de sursis, cumpridos os requisitos do art. 77 do CP.
	Admite a concessão de sursis, cumpridos os requisitos do art. 77 do CP, salvo no caso do tráfico de drogas por força do art. 44 da Lei n.°11.343/2006.
	O réu pode apelar em liberdade, desde que a prisão não seja necessária.
	O réu pode apelar em liberdade, desde que a prisão não seja necessária.
	Para	a	concessão	do	livramento
	Para a concessão do livramento condicional,
	condicional, o apenado deverá cumprir 1/3 ou 1/2 da pena, a depender do fato de ser ou não reincidente em crime doloso.
	o condenado não pode ser reincidente específico em crimes hediondos ou equiparados e terá que cumprir mais de 2/3 da pena.
	Para que ocorra a progressão de regime, o condenado deverá ter cumprido 1/6 da pena.
	Para que ocorra a progressão de regime, o condenado deverá ter cumprido:
2/5 da pena, se for primário; e
3/5 (três quintos), se for reincidente.
	A pena do art. 288 do CP (associação criminosa) é de 1 a 3 anos.
	A pena do art. 288 do CP (associação criminosa) será de 3 a 6 anos quando a associação for para a prática de crimes hediondos ou equiparados.
A qualificadora do feminicídio é inconstitucional por violar o princípio da igualdade? NÃO. O STF enfrentou diversos questionamentos nesse sentido ao julgar a ADC 19/DF proposta em relação à Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006) e na oportunidade decidiu que é possível que haja uma proteção penal maior para o caso de crimes cometidos contra a mulher por razões de gênero (STF. Plenário. ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 9/2/2012).
Na visão da Corte, a Lei Maria da Penha e, agora, a Lei do Feminicídio, são instrumentos que promovem a igualdade em seu sentido material. Isso porque, sob o aspecto físico, a mulher é mais vulnerável que o homem, além de, no contexto histórico, ter sido vítima de submissões, discriminações e sofrimentos por questões relacionadas ao gênero.
Trata-se, dessa forma, de uma ação afirmativa (discriminação positiva) em favor da mulher. Ademais, a criminalização especial e mais gravosa do feminicídio é uma tendência mundial, adotada em diversos países do mundo.
Vigência e irretroatividade
A Lei n. 13.104/2015 entrou em vigor no dia 10/03/2015, de forma que se a pessoa, a partir desta data, praticou o crime de homicídio contra mulher por razões da condição de sexo feminino responderá por feminicídio, ou seja, homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VI, do CP.
A Lei n. 13.104/2015 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de sorte que, quem cometeu homicídio contra mulher por razões da condição de sexo feminino até 09/03/2015, não responderá por feminicídio (art. 121, § 2º, VI).
VII	– Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição
Esta qualificadora foi incluída no CP pela Lei 13.142/2015.
 PONTOS IMPORTANTES
1) O homicídio cometido contra integrantes dos órgãos de segurança pública (ou contra seus familiares) passa a ser considerado como homicídio qualificado, se o delito tiver relação com a função exercida.
REQUISITO 1 - VÍTIMA DO CRIME: 
a)Autoridades ou agentes do art. 142 da CF/88 (Forças Armadas); 
b)Autoridades ou agentes do art. 144 da CF/88 (segurança pública). Na redação do caput do art. 144 da CF/88, não há menção às guardas municipais. Diante disso, indaga-se: o homicídio praticado contra um guarda municipal no exercício de suas funções pode ser considerado qualificado, nos termos do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP? Essa nova qualificadora aplica-se também para os guardas municipais?
SIM. A qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP aplica-se em situações envolvendo guardas municipais. Chega-se a essa conclusão tanto a partir de uma interpretação literal como teleológica.
O inciso VII fala em “autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal”. Repare que o legislador não restringiu a aplicação da qualificadora ao caput do art. 144 da CF/88. As guardas municipais estão descritas no art. 144, não em seu caput, mas sim no § 8º. Vale aqui aplicar o vetusto brocardo jurídico “ubi lex non distinguir nec nos distinguere debemus”, ou seja, “onde a lei não distingue, não pode o intérprete distinguir”.
Ressalte-se que não se trata de interpretação extensiva ou ampliativa contra o réu. A lei fala no art. 144 da CF/88,sem qualquer restrição ou condicionante. O art. 144 é composto não apenas pelo caput, mas também por parágrafos. Ao se analisar todo o artigo para cumprir a remissão feita pela lei (e não apenas o caput) não se está ampliando nada, mas apenas dando estreita obediência à vontade do legislador.
Além disso, há razões de natureza teleológica que justificam essa interpretação. O objetivo do legislador foi o de proteger os servidores públicos que desempenham atividades de segurança pública e que, por estarem nessa condição, encontram-se mais expostos a riscos do que as demais pessoas. Os guardas municipais, por força de lei que deu concretude ao § 8º do art. 144 da CF/88, estão também incumbidos de inúmeras atividades relacionadas com a segurança pública. Refiro-me à Lei n. 13.022/2014 (Estatuto das Guardas Municipais), que prevê, dentre as competências dos guardas municipais, a sua atuação em prol da segurança pública das cidades (arts. 3º e 4º da Lei).
d)	Agentes de segurança viária: O mesmo raciocínio acima penso que pode ser aplicado para os agentes de segurança viária, disciplinados no § 10 do art. 144 da CF/88.
e)	Servidores aposentados: não estão abrangidos pelo inciso VII do § 2º do art. 121 do CP os servidores aposentados dos órgãos de segurança pública, considerando que, para haver essa inclusão, o legislador teria que ter sido expresso já que, em regra, com a aposentadoria o ocupante do cargo deixa de ser autoridade, agente ou integrante do órgão público.
f)	Familiares das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública: também será qualificado o homicídio praticado contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau das autoridades, agentes e integrantes dos órgãos de segurança pública.
Quando se fala em cônjuge ou companheiro, isso inclui, tanto relacionamentos heteroafetivos como homoafetivos. Assim, matar um companheiro homoafetivo do policial, em retaliação por sua atuação funcional, é homicídio qualificado, nos termos do art. 121, § 2º, VII, do CP.
A expressão “parentes consanguíneos até 3º grau” abrange: Ascendentes (pais, avós, bisavós); Descendentes (filhos, netos, bisnetos); Colaterais até o 3º grau (irmãos, tios e sobrinhos). O filho adotivo está abrangido na proteção conferida por este inciso VII? Se um filho adotivo do policial é morto como retaliação por sua atuação funcional haverá homicídio qualificado com base no art. 121, § 2º, VII, do CP?
O tema certamente suscitará polêmica na doutrina e jurisprudência, mas penso que não. Existem três espécies de parentesco no Direito Civil:
a)	parentesco consanguíneo ou natural (decorrente do vínculo biológico);
b)	parentesco por afinidade (decorrente do casamento ou da união estável);
c)	parentesco civil (decorrente de uma outra origem que não seja biológica nem por afinidade).
De acordo com essa classificação, a adoção gera uma espécie de parentesco civil entre adotando e adotado. O filho adotivo possui parentesco civil com seu pai adotivo. O legislador, ao prever o novel inciso VII cometeu um grave equívoco ao restringir a proteção do dispositivo às vítimas que sejam parentes consanguíneas da autoridade ou agente de segurança pública, falhando, principalmente, por deixar de fora o parentesco civil.
Tivesse o legislador utilizado apenas a expressão “parente”, sem qualquer outra designação, poderíamos incluir todas as modalidades de parentesco. Ocorre que ele, abraçando a classificação acima explicada, escolheu proteger apenas os parentes consanguíneos.
É certo que a CF/88 equipara os filhos adotivos aos filhos consanguíneos, afirmando que não poderá haver tratamento discriminatório entre eles. Isso está expresso no § 6º do art. 227:
§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Desse modo, a restrição imposta pelo inciso VII é manifestamente inconstitucional. No entanto, mesmo sendo inconstitucional, não é possível “corrigi-la” acrescentando, por via de interpretação, maior punição para homicídios cometidos contra filhos adotivos. Se isso fosse feito, haveria analogia in malam partem, o que é inadmissível no Direito Penal.
g) Parentes por afinidade também estão fora
Não estão abrangidos os parentes por afinidade, ou seja, aqueles que a pessoa adquire em decorrência do casamento ou união estável, como cunhados, sogros, genros, noras etc. Assim, se o traficante mata a sogra do Delegado que o investigou não cometerá o homicídio qualificado do art. 121, § 2º, VII, do CP. A depender do caso concreto, poderá ser enquadrado como motivo torpe (art. 121, § 2º, I, do CP).
REQUISITO 2: RELAÇÃO COM A FUNÇÃO
Não basta que o crime tenha sido cometido contra as pessoas acima listadas. É indispensável que o homicídio esteja relacionado com a função pública desempenhada pelo integrante do órgão de segurança pública.
Assim, três situações justificam a incidência da qualificadora: O indivíduo foi vítima do homicídio no exercício da função. Ex.: PM que, ao fazer a ronda no bairro, é executado por um bandido; O indivíduo foi vítima do homicídio em decorrência de sua função. Ex.: Delegado de Polícia é morto pelo bandido como vingança por ter prendido a quadrilha que ele chefiava; O familiar da autoridade ou agente foi vítima do homicídio em razão dessa condição de familiar de integrante de um órgão de segurança pública. Ex.: filho de Delegado de Polícia Federal é morto por organização criminosa como retaliação por ter conduzido operação policial que apreendeu enorme quantidade de droga.
De outro lado, não haverá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP se o crime foi praticado contra um agente de segurança pública (ou contra seus familiares), mas este homicídio não tiver qualquer relação com sua função. Ex.: policial civil, em seu período de folga, está em uma boate e paquera determinada moça que ele não viu estar acompanhada. O namorado da garota, com ciúmes, saca uma arma e dispara tiro contra o policial. Não haverá a qualificadora do inciso VII, mas o crime, a depender do conjunto probatório, poderá ser qualificado com base no motivo fútil (inciso II).
Em suma, a novel qualificadora não protege a pessoa do militar, do policial, do delegado etc. A nova qualificadora tutela a FUNÇÃO desempenhada por esses indivíduos. Esse é o bem jurídico protegido.
OUTRAS OBSERVAÇÕES
a)	Tentado ou consumado: incidirá a qualificadora tanto nos casos de homicídio tentado, como consumado.
b)	Elemento subjetivo: é indispensável que o homicida saiba (tenha consciência) da função pública desempenhada e queira cometer o crime contra o agente que está em seu exercício ou em razão dela ou ainda que queira praticar o delito contra o seu familiar em decorrência dessa atividade.
Ex.: João, membro de uma organização criminosa, está “jurado de morte” pela organização criminosa rival e, por isso, anda sempre armado e atento. João não sabia que estava sendo investigado pela Polícia Federal, inclusive sendo acompanhado por dois agentes da PF à paisana. Determinado dia, ao perceber que estava sendo seguido, João, pensando se tratar dos membros da organização rival, mata os dois policiais. Não incidirá a qualificadora do inciso VII do § 2º do art. 121 do CP porque ele não tinha dolo de matar especificamente os policiais no exercício de suas funções. A depender do conjunto probatório, João poderá, em tese, responder por homicídio qualificado com base no motivo torpe (inciso I), desde que não fique caracterizada a legítima defesa putativa.
c)	Natureza da qualificadora: a qualificadora do inciso VII é de natureza subjetiva, ou seja, está relacionada com a esfera interna do agente (ele mata a vítima no exercício da função, em decorrência dela ou em razão da condição de familiar do agente de segurança pública).
Ademais, não se trata de qualificadora objetiva porque nada tem a ver com o meio ou modo de execução. Por ser qualificadora subjetiva, em caso de concurso de pessoas, essaqualificadora não se comunica aos demais coautores ou partícipes, salvo se eles também tiverem a mesma motivação. Ex.: João, por vingança, deseja matar o Delegado que lhe investigou e, para tanto, contrata o pistoleiro profissional Pedro, que não se importa com os motivos do mandante, já que seu intuito é apenas lucrar com a execução; João responderá por homicídio qualificado do art.121, § 2º, VII e Pedro por homicídio qualificado mediante paga (art. 121, § 2º, I); a qualificadora do inciso VII não se estende ao executor, por força do art. 30 do CP.
d)	Impossibilidade de a qualificadora do inciso VII ser conjugada com o privilégio do § 1º. A jurisprudência até admite a existência de homicídio privilegiado-qualificado. No entanto, para isso, é necessário que a qualificadora seja de natureza objetiva. No caso do novo inciso VII a qualificadora é subjetiva. Logo, não é possível que seja conjugada com o § 1º.
Ocorrência de duas ou mais qualificadoras
Qualquer das causas qualificadoras pode servir para qualificar o homicídio, mas apenas uma delas. As demais causas qualificadoras devem ser valoradas no cálculo da pena, no entanto, a doutrina diverge quanto ao momento em que tais circunstâncias devem ser valoradas.
1ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias agravantes (2ª fase), nos termos do art. 61, CP; Crítica: não se pode ‘enxertar’ circunstâncias agravantes na segunda fase, sabidamente legal, conforme o art. 61 e 62, taxativos.
2ª C: Devem ser utilizadas como circunstâncias judiciais desfavoráveis (1ª Fase), nos termos do art. 59 do CP.
 HOMICÍDIO QUALIFICADO-PRIVILEGIADO
Seria possível a ocorrência de um homicídio ao mesmo tempo qualificado e privilegiado? 
	Privilegiadoras (§1º do art. 121)
	Qualificadoras (§2º do art. 121)
	Relevante valor social (subjetiva)
Relevante valor moral (subjetiva)
Emoção (subjetiva)
	Motivo torpe (subjetiva)
Motivo fútil (subjetiva)
Meio cruel (objetiva)
Modo surpresa (objetiva)
Finalidade especial (subjetiva)
Feminicídio (subjetiva)
Agentes de segurança (subjetiva)
O homicídio pode ser qualificado e privilegiado, mas somente quando a qualificadora for referente a circunstâncias objetivas (inciso III e IV).
Circunstâncias subjetivas: São aquelas ligadas ao motivo ou ao estado anímico do agente.
Circunstâncias objetivas: São aquelas ligadas ao meio ou modo de execução.
Ex.: Não pode um homicídio ser qualificado por motivo torpe e privilegiado pela violenta emoção. Ocorre uma contradição.
O privilégio prevalece, pois é perguntado primeiro ao jurado. A partir do momento em que o jurado reconhece o privilégio, resta prejudicado o conhecimento da qualificadora subjetiva. 
STF Sumula 162 "É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes.
O homicídio qualificado-privilegiado é hediondo?
1ª C (PREVALECE, inclusive STF e STJ) NÃO é hediondo. Esta corrente faz uma analogia “in bonam partem” com o art. 67 do CP, segundo o qual na concomitância de circunstâncias atenuantes e agravantes prevalecem as de caráter subjetivo, pois dizem respeito aos motivos determinantes do crime. Assim, como na figura híbrida do homicídio qualificado- privilegiado as privilegiadoras são subjetivas em face das qualificadoras necessariamente objetivas, afasta-se a hediondez. Ademais, há clara incompatibilidade entre a hediondez e o crime cometido por motivos ‘nobres’.
2ª C: É hediondo, pois o fato de incidir uma mera causa de diminuição de pena (privilegiadora) não altera a qualidade do delito, que continua sendo homicídio qualificado e, portanto, hediondo.
HOMICÍDIO CULPOSO (ART. 121 §3º)
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um (admite suspensão condicional do processo) a três anos.
 Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta negligência, imprudência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), jamais querido ou aceito.
a)	Violação do dever de cuidado. Negligência: Ausência de cautela; Imprudência: Afoiteza; Imperícia: Falta de aptidão técnica para o exercício de arte ofício ou profissão.
A culpa concorrente da vítima não exime o agente de responsabilidade. O direito penal não admite compensação de culpas. Porém, a culpa concorrente da vítima pode atenuar a condenação do agente, nos termos do art. 59 do CP (comportamento da vítima).
Já quando estamos diante de culpa exclusiva da vítima (ou autocolocação da vítima em perigo), não há que se falar em responsabilização penal, porquanto há quebra do nexo causal.
b)	Homicídio culposo no trânsito
Vide Ponto 32 (crimes de trânsito). 
MAJORANTES DO HOMICÍDIO (ART. 121 § 4º)
Previsão legal
Art. 121 § 4º: No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Majorantes do homicídio culposo
OBS: essas regras não se aplicam ao homicídio culposo de trânsito.
1)	Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.
Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de INOBSERVÂNCIA DE REGRA TÉCNICA DE PROFISSÃO, ARTE OU OFÍCIO, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Essa majorante não se confunde com a imperícia? 1ªC: Sim. Há bis in idem.
2ªC: Não se confunde com imperícia, pois nesta FALTA aptidão técnica (o sujeito não conhece a regra técnica). Aqui, o sujeito tem aptidão técnica (conhece a regra), mas não a observa. Na realidade, o que ocorre aqui é uma negligência profissional. É aqui que poderia ser incluído o erro médico.
Homicídio culposo e negligência profissional
1ª C: Ocorrência de Bis in idem (STF HC 95.078).
2ª C: Não ocorrência do bis in idem, pois inobservância de regra técnica não é a essência do crime culposo (STJ HC 63.929, julgado em 13/03/2007, STF RHC 17.530/RS. Prevalecia).
Nessa situação, não há que se falar em bis in idem. Isso porque o legislador, ao estabelecer a circunstância especial de aumento de pena prevista no referido dispositivo legal, pretendeu reconhecer maior reprovabilidade à conduta do profissional que, embora tenha o necessário conhecimento para o exercício de sua ocupação, não o utilize adequadamente, produzindo o evento criminoso de forma culposa, sem a devida observância das regras técnicas de sua profissão. De fato, caso se entendesse caracterizado o bis in idem na situação, ter-se-ia que concluir que essa majorante somente poderia ser aplicada se o agente, ao cometer a infração, incidisse em pelo menos duas ações ou omissões imprudentes ou negligentes, uma para configurar a culpa e a outra para a majorante, o que não seria condizente com a pretensão legal.
2)	Omissão de socorro
Art. 121 § 4º: No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente DEIXA DE PRESTAR IMEDIATO SOCORRO À VÍTIMA, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.
Trata-se de um crime culposo majorado por uma omissão dolosa. 
OBS1: não incide o art. 135 CP (para evitar o bis in idem).
OBS2: Não incide o aumento quando a vítima é imediatamente socorrida por terceiros.OBS3: As duas observações acima conflitam diretamente com a absurda redação do parágrafo único do art. 304 do CTB. O delito de não prestar socorro à vítima já morta é de consumação impossível.
3)	O agente não procura diminuir as consequências do seu ato
Conformo Fragoso, essa causa configura uma redundância da omissão de socorro.
O aumento imposto à pena decorre do total desinteresse pela sorte da vítima. O fundamento da norma incriminadora do § 4º do art. 121 é resguardar o dever de solidariedade humana que deve reger as relações na sociedade brasileira (art. 3º, I, da CF/88). O que pretende a regra em destaque é realçar a importância da alteridade (preocupação com o outro).
Assim, o interesse pela integridade da vítima deve ser demonstrado, a despeito da possibilidade de êxito, ou não, do socorro que possa vir a ser prestado. Dessa forma, o dever imposto ao autor do homicídio de tentar socorrer a vítima persiste, a não ser que seja evidente a morte instantânea, perceptível por qualquer pessoa. Em outras palavras, havendo dúvida sobre a ocorrência do óbito imediato, compete ao autor da conduta imprimir os esforços necessários para minimizar as consequências do fato. Ao agressor, não cabe, no momento do fato, presumir as condições físicas da vítima, medindo a gravidade das lesões que causou e as consequências de sua conduta. Tal responsabilidade é do especialista médico, autoridade científica e legalmente habilitada para, em tais circunstâncias, estabelecer o momento e a causa da morte.
4) O agente foge para evitar o flagrante
Art. 121 § 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, OU FOGE PARA EVITAR PRISÃO EM FLAGRANTE. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Essa causa agrava a pena do agente que demonstra insensibilidade de espírito e moral, ausência de escrúpulo, além de prejudicar as investigações.
No entanto, não há que se falar em agravante quando o agente foge do local como forma de autodefesa, como no caso de correr o risco de ser linchado por populares (nesse caso, há espécie de estado de necessidade).
 Rogério Sanches e doutrina moderna: Essa majorante viola o princípio do “nemu tenetur se detegere”. A doutrina moderna diz que essa causa de aumento obriga a produzir prova contra si mesmo e sucumbir ao seu instinto natural de liberdade.
Rogério Greco: O sujeito que presta socorro à vítima não pode ser preso em flagrante, numa aplicação analógica do art. 301 do CTB, que impede essa forma de prisão cautelar àquele que presta socorro à vítima de trânsito.
CTB Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela.
Majorante do homicídio doloso
Art. 121 § 4º: No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo DOLOSO o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime É PRATICADO CONTRA PESSOA MENOR DE 14 (QUATORZE) OU MAIOR DE 60 (SESSENTA) ANOS.
É imprescindível que o agente conheça a idade da vítima, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Se ele não conhece, estamos diante de erro de tipo que desconstitui a majorante.
A idade deve ser verificada no momento da prática do crime, ou seja, no momento da conduta (art. 4º do CP). Teoria da atividade.
ATENÇÃO: Idade maior de 60. No dia que faz 60 anos não se aplica a majorante. Obs.: se o crime é culposo, não se faz este aumento de pena.
Majorante do homicídio doloso praticado por grupo de extermínio
Art. 121, § 6º - a pena é aumentada de 1/3 até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Cuida-se de causa especial de aumento de pena, incidente na terceira e última fase da dosimetria da pena, aplicado exclusivamente ao homicídio doloso, simples ou qualificado. Embora não exista disposição expressa nesse sentido, é evidente que o homicídio praticado por milícia privada será considerado hediondo. Com efeito, não há como se imaginar uma execução desta natureza sem a presença de alguma qualificadora, notadamente o motivo torpe ou o recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima.
Por milícia privada entende-se o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive com a participação de militares fora de suas funções - com a pretensa de restaurar a segurança de locais controlados pela criminalidade, diante da inércia do Poder Público.
Por grupo de extermínio entende-se a reunião de pessoas, matadores, justiceiros (civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas.
Em relação ao número de pessoas que devem integrar a milícia privado ou o grupo de extermínio, duas correntes:
1ªC: o número de agentes deve coincidir com o número da associação criminosa, qual seja: três ou mais pessoas.
2ªC: defende que deve ser o mesmo número que caracteriza a organização criminosa, ou seja, no mínimo quatro pessoas.
Majorante do feminicídio
A Lei n.	13.104/2015 previu também três causas de aumento de pena exclusivas para o feminicídio. Veja:
§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
I	– durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II	– contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência;
III	– na presença de descendente ou de ascendente da vítima.
a)	Inciso I – gestante ou pós-parto: a pena imposta ao feminicídio será aumentada se, no momento do crime, a vítima (mulher) estava grávida ou havia apenas 3 meses que ela tinha tido filho (a).
A razão de ser dessa causa de aumento está no fato de que, durante a gravidez ou logo após o parto, a mulher encontra-se em um estado físico e psicológico de maior fragilidade e sensibilidade, revelando-se, assim, mais reprovável a conduta.
b)	Inciso II – menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência
A pena imposta ao feminicídio será aumentada se, no momento do crime, a mulher (vítima) tinha menos de 14 anos, era idosa ou deficiente. A vítima, nesses três casos, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do agente se revela com alto grau de covardia.
Como o tipo utiliza a expressão “com deficiência”, devemos entendê-la em sentido amplo, de forma que incidirá a causa de aumento em qualquer das modalidades de deficiência (física, auditiva, visual, mental ou múltipla). O conceito de deficiência está previsto no Decreto n. 3.298/99, sendo definida como “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano” (art. 3º, I). No art. 4º são conceituadas as diversas categorias de deficiência (física, auditiva, visual, mental e múltipla).
c)	Inciso III – na frente de ascendente ou descendente da vítima
A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença de descendente ou de ascendente da vítima. Aqui a razão do aumento está no intenso sofrimento que o autor provocou aos descendentes ou ascendentes da vítima que presenciaram o crime, fato que irá gerar graves transtornos psicológicos.
Importante esclarecer algo muito relevante: semanticamente, quando se fala que foi praticado “na presença de alguém”, isso não significa, necessariamente,que a pessoa que presenciou estava fisicamente no local. Assim, o tipo não exige a presença física do ascendente ou descendente. Poderá haver esta causa de aumento mesmo que o ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe; ele terá presenciado o crime, mesmo sem estar fisicamente no local do homicídio.
Ascendente: é o pai, mãe, avô, avó, bisavô, bisavó e assim por diante. Descendente: é o filho (a), neto(a), bisneto(a) etc. Atenção: não haverá a causa de aumento se o crime é praticado na presença de colateral (ex: irmão, tio) ou na presença do cônjuge da vítima.
Dolo: para que incidam tais causas de aumento, o agente deve ter ciência das situações expostas nos incisos, ou seja, ele precisa saber que a vítima estava grávida, que ela era menor que 14 anos, que tinha deficiência etc.
d)	Agravantes genéricas e bis in idem:
Algumas dessas causas de aumento especiais são também previstas como agravantes genéricas no art. 61, II, do CP. No caso de feminicídio, o magistrado deverá aplicar apenas as causas de aumento, não podendo fazer incidir as agravantes que tenham o mesmo fundamento sob pena de incorrer em bis in idem.
Ex.: se o feminicídio é praticado contra mulher idosa, o agente responderá pelo art. 121, § 2º, VI com a causa de aumento do inciso II do § 7º; não haverá, contudo, a incidência da agravante do at. 61, II, “h”.
PERDÃO JUDICIAL (ART. 121 §5º)
Previsão legal e conceito
Art. 121 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
Perdão judicial é um instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática de um fato típico e ilícito, por um sujeito comprovadamente culpado, deixa de lhe aplicar a pena nas hipóteses taxativamente previstas em lei, levando em consideração determinadas circunstâncias que concorrem para o evento. O Estado perde o interesse de punir.
“Forma tão grave”: sequelas de ordem físicas ou morais. Exemplo: ficar tetraplégico e/ou perder um filho. 
Requisito do perdão: “se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”. 
OBS: Não é necessária qualquer relação entre agente e vítima. Exemplo: Homicídio culposo onde o agente fica tetraplégico. É errado aquele falso dogma de que a vítima fatal deve ser o filho da vítima ou coisa que o valha.
Presentes os requisitos legais o juiz DEVE perdoar. Hoje, prevalece o entendimento segundo o qual o perdão judicial é um direito público subjetivo de liberdade do agente, e não uma faculdade do magistrado.
Princípio da bagatela imprópria: lembrando – o crime é fato típico, ilícito e culpável, sendo a punibilidade sua consequência. O princípio da bagatela própria exclui o fato típico, pois há insignificância da lesão ou perigo de lesão. Já o princípio da bagatela imprópria extingue a pena, ante sua desnecessidade.
	PERDÃO JUDICIAL
	PERDÃO DO OFENDIDO
	Unilateral (não há como recusar)
	Bilateral (preciso ser aceito)
	Cabe nas hipóteses taxativamente previstas em lei.
	Casos de ação penal privada.
Ônus da prova
O ônus da prova da ocorrência dos requisitos à concessão do perdão cabe ao agente, ou seja, na falta de êxito na atividade probatória quem sofre as consequências pela ausência de provas é o agente. Vale dizer, aqui não se aplica o in dubio pro reo, exatamente pelo fato de o ônus da prova ser da defesa.
Natureza jurídica da sentença concessiva do perdão judicial
Em que pese a divergência doutrinária, prevalece o entendimento segundo o qual a natureza jurídica da decisão concessiva do perdão judicial é de sentença declaratória de extinção de punibilidade. Dessa forma, não se presta a marco interruptivo prescricional, tampouco gera qualquer efeito penal ou extrapenal, típicos das sentenças condenatórias.
1ª C: Sentença condenatória (STF).
-Remanescem efeitos secundários. Deve pagar custas, nome no rol de culpados.
-	Interrompe prescrição;
-	Serve como título executivo judicial;
-	Depende do devido processo legal;
2ª C: Sentença declaratória extintiva da punibilidade (STJ).
-	Não interrompe a prescrição;
-	Não serve como título executivo, ou seja, vai precisar de um processo de conhecimento.
-	Cabe na fase de inquérito policial, pois o juiz pode reconhecer a extinção da punibilidade a qualquer tempo.
Entretanto, como se trata de sentença que reconhece culpa, sempre pressupõe o devido processo legal. Entendendo ser sentença declaratória extintiva da punibilidade, ainda que haja perdão, o sujeito tem o direito de se defender em juízo.
Prevalece a 2ª corrente, nos termos da Súmula 18 do STJ:
STJ Súmula: 18 - A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
Rogério não concorda com a Súmula, com base no art. 120 do CP. Ver acima.
Art. 120 - A sentença que conceder perdão judicial (apesar de condenatória) não será considerada para efeitos de reincidência.
Só pode-se enxergar utilidade neste artigo se a sentença for condenatória. Cabe perdão judicial para homicídio culposo no CTB?
O art. 300 do CTB previa o perdão judicial, porém foi vetado pelo Presidente. Apesar disso, é possível o perdão judicial, com fundamento nas razões do veto. Ao vetar, o presidente disse que o artigo era desnecessário, pois já havia previsão no art. 121 do CP, e este era mais benéfico que aquele, por ser mais abrangente.
OBS1: A sentença que concede o perdão judicial é conhecida como uma sentença autofágica. O juiz condena e automaticamente extingue a punibilidade.
OBS2: somente em 03 casos do CP é possível o perdão judicial – homicídio culposo (121,§3º), lesão corporal culposa e na injúria (140,§1º).
PARTICIPAÇÃO EM SUICÍDIO
Previsão Legal: 
CONCEITO DE SUICÍDIO
Eliminação voluntária e direta da própria vida. Também é chamado de autocídio ou autoquiria.
OBJETO JURÍDICO
Genérico: Pessoa.
Específico: Vida humana, bem indisponível.
PUNIBILIDADE DO PARTÍCIPE
Teoria da acessoriedade limitada: Conforme a referida teoria (adotada pelo CP), para que o partícipe seja punido, o fato principal deve ser típico e ilícito.
Indaga-se: Suicídio é fato típico e ilícito? Não. Por razões ligadas à impossibilidade de punir o agente (entre elas o princípio da alteridade ou transcendência) e à política criminal, o suicídio, apesar de constituir uma injusta agressão, não constitui crime.
Então como pode ser punível o partícipe nesse caso?
Porque os núcleos da participação são elementares do tipo. O art. 122 não está punindo uma atividade acessória, mas sim uma atividade principal.
SUJEITO ATIVO: Qualquer pessoa. É crime comum.
PROVA: ‘A’ induz ‘B’ a auxiliar ‘C’ a se suicidar. ‘A’ é partícipe do art. 122. ‘B’ é o autor do art. 122.
SUJEITO PASSIVO
Qualquer pessoa capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado, ou seja, qualquer pessoa capaz de resistir à conduta do sujeito ativo. Se o agente induz um incapaz, se diz que a incapacidade passará a ser um instrumento de que se vale o agente para realizar um homicídio, logo, responde pelo art. 121 na forma de autor mediato.
A vítima deve ser determinada. Pessoas incertas e indeterminadas não configuram o crime. Exemplo: Autor de livro que incita seus leitores a se suicidarem não é sujeito ativo do crime em análise. O fato é atípico pela indeterminação da vítima.
OBS MP: para que haja este delito é preciso que a vítima tenha um RESQUÍCIO de capacidade, pois se o agente ativo reduz a vítima a uma incapacidade completa, ele pratica homicídio.
CRIME PLURINUCLEAR
Induzir: Fazer nascer a ideia mórbida Participação moral.
Instigar: Reforçar ideia já existente Participação moral.
Auxiliar: Assistência material Participação material.
As modalidades induzir e instigar pressupõem obrigatoriamente

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