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Soro-Virus-neutralização O teste de soro-neutralização (SN), também chamado de soro-vírus-neutralização é utilizado para detectar anticorpos que possuem capacidade de neutralizar a infectividade do vírus (anticorpos neutralizantes). O teste geralmente utiliza soro sangüíneo, mas eventualmente pode utilizar outros fluidos corporais que possuam anticorpos. Nessa prova sorológica examina-se o soro-teste frente ao vírus suspeito de causar a infecção. Pode ser utilizada para praticamente todas as infecções víricas, sendo os seus resultados bastante confiáveis. O objetivo da prova não é só diagnóstico, mas também epizootiológico, ou seja determinar a prevalência e distribuição de anticorpos contra um determinado agente. É uma das técnicas sorológicas mais difundidas e utilizadas em todo o mundo. Pode ser executada para obter-se resultados qualitativos (indica a presença ou ausência de anticorpos contra um determinado vírus) ou quantitativos (além de indicar a presença, indica a quantidade de anticorpos presentes no soro). Como a neutralização de um determinado vírus só ocorre por anticorpos específicos contra ele, essa técnica é altamente específica para cada vírus utilizado. O teste baseia-se na capacidade de determinados anticorpos séricos de neutralizar a infectividade dos vírus. A soro-neutralização define-se então como a perda da capacidade infectante do vírus pela ligação de anticorpos específicos. Inicialmente, incuba-se o soro- teste com o vírus para o qual se está pesquisando anticorpos. O procedimento básico consiste em misturar diluições apropriadas de soro e vírus em microplacas de 96 orifícios, incubando-a em condições ideais de temperatura (370C) e tempo (1, 2, ou 4h). Após a incubação do vírus com o soro-teste, a mistura é adicionada a cultivos celulares susceptíveis à replicação do vírus. O cultivo é então monitorado diariamente (durante 3 a 5 dias) para ver se há a produção de efeito citopático (ecp). Se o soro possuía anticorpos, o vírus será neutralizado e não produzirá efeito citopático nas células. Se o soro não possuía anticorpos, o vírus permanecerá viável e causará citopatologia nas células de cultivo. Teste qualitativo: incuba-se 50ul de uma certa diluição do soro-teste (por exemplo: 1:10) com uma determinada quantidade de vírus (100-200TCID50) por 1-2h. Após, adiciona-se essa mistura a um orifício da placa de 96 poços juntamente com células susceptíveis. Observa-se por 3 a 5 dias. Resultado positivo: tapete celular íntegro, sem efeito citopático. Indica a presença de anticorpos neutralizantes, que na diluição utilizada foram capazes de neutralizar as 100TCID50 do vírus. Resultado negativo: produção de ecp, destruição do tapete celular. Indica que o soro não possuía anticorpos específicos para o vírus utilizado capazes de neutralizá-lo. Os testes de SN qualitativos são muito utilizados em triagens (screenings) de grandes populações de animais ou humanos, para determinar-se a prevalência e distribuição geográfica de determinadas infecções víricas. Em uma placa e possível testar-se aproximadamente 90 amostras de soro. Teste quantitativo: por ser mais trabalhoso que o quantitativo, esse teste não é muito usado para teste de grande número de amostras e em triagens de populações. É utilizado quando deseja-se saber a concentração de anticorpos contra determinado vírus no soro. Utilizado para determinar se houve soroconversão (aumento do nível de anticorpos) para um determinado agente, para avaliar o poder imunogênico de vacinas e para avaliar status imunológico de animais e humanos. Para isso, incuba-se diluições crescentes do soro-teste (ex: 1:2, 1:4, 1:8, 1:16, 1:32) com uma dose constante de vírus (100-200TCID50) por 1-2h. Após, adiciona-se essa mistura ao cultivo celular e observa-se a produção de ecp durante 3 a 5 dias. Cada orifício da placa receberá uma determinada diluição do soro+vírus+células. No final da incubação, observa- se as células e registra-se em quais orifícios (diluições) houve a produção de ecp. Resultado positivo: inibição do ecp até uma determinada diluição do soro (exemplo: até 1:16). A partir de 1:32, houve produção de ecp. Isto indica que o soro-teste possui anticorpos no título de 1:16. Ou seja, pode-se diluir o soro até 1:16 que ainda há anticorpos suficientes para neutralizar 100-200TCID50 de vírus. A mais alta diluição (menor quantidade de soro) que protege da infecção denomina-se título soro-neutralizante. Resultado negativo: produção de ecp desde as menores diluições do soro. Indica que o soro não possui anticorpos capazes de neutralizar o vírus mesmo na menor diluição usada. Usos: - Screening ou triagem de populações humanas ou animais: determina a presença, freqüência e distribuição dos anticorpos na população. - Diagnóstico de infecção viral aguda: teste de soro na fase dos sinais clínicos e 3 semanas após pode indicar aumento dos títulos de anticorpos específicos (soroconversão). - Determinar níveis de imunidade nas populações, já que em geral, os anticorpos neutralizantes persistem durante tempos mais prolongados. - Determinar o poder imunogênico de vacinas: embora a presença de anticorpos não indique necessariamente proteção, esses testes são realizados para verificar se imunizações passivas e ativas induzem anticorpos neutralizantes. Vantagens e desvantagens: É uma técnica relativamente barata, de fácil execução e possui boa sensibilidade e especificidade. Pode informar o nível de anticorpos. Por outro lado, a obtenção dos resultados pode demorar até 5 dias, envolve manipulação de cultivo celular (o que é indesejável por muitos laboratórios) e é de difícil automação. Outra restrição refere-se à toxicidade e contaminação bacteriana de algumas amostras de soro, tornando esse teste algumas vezes impraticável. Observações: 1. Em geral, utiliza-se como padrão a quantidade de 100 a 200 TCID50 de vírus por cavidade da placa. Isso permite comparar os resultados de diferentes laboratórios. 2. Dependendo do vírus, as diluições do soro podem iniciar em 1:2, 1:5, 1:10 ou 1:20. 3. O tempo de incubação da mistura soro-vírus também varia de acordo com o vírus e com o laboratório. São comuns incubações de 1, 2 ou 4h a 370C. Alguns sistemas utilizam incubações de 12 a 18 h a 40C. 4. Antes da realização da técnica é necessário fazer a inativação do soro pelo calor, com a finalidade de inativar o complemento e possíveis inibidores virais inespecíficos. Para isso coloca-se o soro em banho-maria a 56ºC por 30 minutos. 5. O tempo de incubação dos cultivos celulares também depende do vírus. Vírus que replicam rapidamente podem ter suas SN lidas em 48 a 72h, enquanto que vírus de replicação lenta podem requerer 4 a 5 dias de incubação. 6. Para vírus citopáticos que destroem o tapete celular, pode-se fazer a leitura ao microscópio ou corar as placas com cristal violeta. Tapetes íntegros (ausência de ecp) são coradas em azul; tapetes destruídos pelo vírus não se coram. 7. Para vírus não-citopáticos, a leitura dos resultados é feita pela realização de IFA ou IPX nas células crescidas nas cavidades das placas. Ao invés de ecp, procura-se reação positiva nesses testes (presença de antígenos virais). 8. Como foi visto, vários parâmetros são variáveis, como as diluições utilizadas, a quantidade de vírus, o tempo de incubação da mistura vírus-soro, o tempo de leitura dos resultados. Para padronização da técnica é importante que, uma vez determinadas as condições ótimas para um determinado vírus, os parâmetros sejam sempre os mesmos.
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