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AR COMPRIMIDO: UM ESTUDO DE CASO DANIEL OSS, ROBSON SIRENA E VINÍCIUS BORTOLUZZI Universidade de Caxias do Sul Disciplina de Gestão de Energia e Tarifação Semestre 2018/2 Subsistemas de ar comprimido O objetivo da instalação de um sistema de ar comprimido é fornecer ar para vários pontos de aplicação em condições de quantidade e qualidade suficientes e com pressão adequada para uma operação eficiente das ferramentas pneumáticas e outros dispositivos do ar comprimido. Um sistema de ar comprimido é composto por três partes fundamentais: geração, distribuição e consumo final. Geração A geração é composta pelos compressores de ar, secadores de ar e sistemas de tratamento, assim como também a própria sala de máquinas. Os compressores utilizados nas mais diversas áreas, são divididos em dois modelos: o tipo dinâmico e o tipo volumétrico. O sistema de geração de ar comprimido pode ser descentralizado, onde há vários pontos de geração de ar comprimido ou centralizado, onde há uma única central de compressores. A principal vantagem dos sistemas descentralizados é a flexibilidade. Em grandes fábricas, com futuras instalações difíceis de serem previstas, pequenas unidades pontuais podem ser adquiridas de acordo com a necessidade, fornecendo ar conforme a demanda adicional. Outra vantagem é a maior facilidade no ajuste das pressões. No sistema centralizado de geração o principal ponto é o conhecimento prévio da localização do sistema. A sala deve ser alocada em um sítio onde haja ar limpo e fresco para admissão. Com o uso de sistema centralizado, necessidades intermitentes e variáveis de ar comprimido de diferentes aplicações podem ser combinadas para uma carga relativamente constante com uma capacidade total reduzida, enquanto que o sistema descentralizado, um compressor isolado não pode ser utilizado para atender uma carga de pico em outro local da indústria. (Compressed Air and Gas Handbook, 1989). Distribuição Em um sistema industrial, o transporte do ar comprimido é feito através da rede de ar comprimido. A rede de distribuição de ar comprimido compreende todas as tubulações que saem do (s) compressor (es), passando pelo (s) secador (es), passando pelo reservatório, e que, unidas, levam o ar comprimido até os pontos individuais de utilização. Um sistema de distribuição perfeitamente executado deve manter a pressão, manter a vazão e eliminar o condensado. Para que a rede de distribuição atenda a estas condições, primeiramente um traçado básico da tubulação deve ser executado, visando melhor desempenho na distribuição do ar. Os principais componentes da rede de distribuição de ar são: Válvulas de fechamento da distribuição; Resfriador de ar; Reservatório de ar comprimido; Drenagem do ar comprimido. Consumo Final Outro ponto que deve ser bem analisado no sistema de ar comprimido é o consumo final ou utilização final, que representa a maior fonte de desperdícios, seja pelas instalações deficientes, ou seja, pela má utilização do ar comprimido. Recomenda-se ainda que não se realize a utilização direta do ar no ponto terminal do tubo de tomada. No terminal, deve-se colocar uma pequena válvula de drenagem e a utilização deve ser feita um pouco mais acima, aonde o ar, antes de ir para a máquina, passa através da unidade de condicionamento (Training Park, 2000). Os problemas mais encontrados na utilização final do ar comprimido são: Perda de capacidade de ar; Potência de ferramentas pneumáticas diminuída; Desgaste prematuro de ferramentas; Presença de impurezas e água na rede. Todos estes problemas são causados principalmente pelos vazamentos, que por sua vez são os maiores causadores de quedas de pressão na rede. Vazamentos Vazamento é um item que na maioria das instalações tem grande importância. Normalmente os vazamentos estão localizados no terminal do ponto consumidor, tanto nas conexões, mangueiras e engates, como nas juntas que ligam os diferentes componentes do sistema. Os vazamentos afetam diretamente no consumo de energia do compressor, e necessitam ser eliminados por completo, pois representam um consumo contínuo de ar, a quantidade de ar perdido através de pequenos furos, acoplamentos com folgas, vedações defeituosas, etc, quando somadas, alcançam elevados valores. A importância econômica desta contínua perda de ar torna-se mais evidente quando comparada com o consumo de um equipamento e a potência necessária para realizar a compressão. Desta forma, um vazamento na rede representa um consumo consideravelmente maior de energia, que pode ser verificado através da Tabela 1. Tabela 1 – Custo x Diâmetro A eliminação completa de todos os vazamentos é praticamente impossível, porém estes devem ser reduzidos ao máximo com uma manutenção preventiva do sistema, sendo verificados, por exemplo: substituição de juntas de vedação defeituosa, engates, mangueiras, tubos, válvulas, aperto das conexões, restauração das vedações nas uniões roscadas, eliminação dos ramais de distribuição fora de uso e outras que podem aparecer, dependendo da rede construída. A queda de pressão é um dos problemas centrais dos sistemas de ar comprimido. Sabe-se, por exemplo, que a redução de 6 a 5 bar na pressão entregue a uma ferramenta pneumática reduz em 25% sua potência desenvolvida, ou seja, impacta em seu rendimento, incrementando os custos de produção. Na Tabela 2 são apresentados os incrementos médios de tempo para a redução de 0,5 bar em algumas ferramentas industriais típicas. Ferramenta Incremento de tempo Esmirilhadeira 19% Furadeira 62% Chaves de impacto 7% Tabela 2 – Incremento de tempo As quedas de pressão ao longo do sistema de distribuição de ar comprimido devem-se, em suma, ao subdimensionamento, vazamentos, entupimento de filtros, rompimento de válvulas e obstrução das linhas. Tais problemas poderiam ser mitigados através de manutenções e inspeções periódicas. Das causas apresentadas o subdimensionamento do sistema é a que apresenta maior impacto; linhas longas, duas ou mais ferramentas instaladas em uma mesma linha e inserção de tubulações e equipamentos inadequados são englobadas nesta causa. Os principais problemas em instalações de ar comprimido, no que tange à distribuição, são os vazamentos e as perdas de carga; na geração o baixo rendimento e o alto consumo de energia figuram como grandes empecilhos e na utilização (consumo) as pressões inadequadas entregues e os vazamentos são os principais problemas. A auditoria de energia é um processo de verificação do sistema como um todo, de modo a fornecer soluções para que os equipamentos de utilização final operem de maneira satisfatório, evitando paradas de produção inesperadas. Este processo é realizado nos três grandes setores da instalação de ar comprimido: geração, distribuição e consumo final. Na geração é realizada uma auditoria na sala de compressores, verificando a temperatura do ar aspirado, que impacta no consumo de energia elétrica, conforme a Tabela 3, além da determinação de seu rendimento e mensuração da corrente. Também são verificados os sistemas de manutenção e a regulagem de pressão. Tabela 3 – Percentual Para a mensuração do rendimento dos compressores uma ferramenta, mostrada na Figura 1 é utilizada. Ela é acoplada àsaída do compressor. Possui orifícios calibrados, de acordo com a vazão da máquina, e é dotada de sensores de temperatura e pressão. Ela mensura o ar de descarga, calculando a vazão real do compressor. Tal valor é comparado ao informado pelo fabricante; se um compressor de 1939 l/seg apresenta uma vazão real de 1739 l/seg este equipamento apresenta rendimento de 90%. Figura 1 – Ferramenta de orifício A mensuração de corrente pode trazer à tona diversos problemas relacionados à operação do compressor, como sobrecarga do motor, causada por restrição de filtros, por exemplo. Nesta mensuração é empregado um transformador de corrente em cada uma das fases que o alimentam. Tal mensuração também revela o perfil de consumo de cada máquina, para que se possa, posteriormente, ajustar a máquina para que opere a maior parte do tempo em carga, se estiver em alívio. Na distribuição são verificadas as pressões pontuais em trechos de tubulação. Detectar as quedas já citadas anteriormente, que impactam no funcionamento do sistema, permite traçar soluções, como a inserção de pequenos compressores em locais afastados da central de compressão, por exemplo. Um sensor de pressão pontual, mostrado na Figura 2, é utilizado para tal análise. Figura 2 – Sensor de pressão No consumo final a detecção de vazamentos é a analise realizada. Um medidor ultrassônico, mostrado na Figura 3, é empregado; este dispositivo tem como objetivo converter sons de alta frequência, inaudíveis pelo ser humano devido às características de seu sistema auditivo, em sinais audíveis, de intensidade e som proporcionais ao original. Através da aproximação do sensor das tubulações de ar comprimido, se houver vazamento, o som do fluído escoando será percebido e o ponto de escape será registrado. Figura 3 – Sensor ultrassônico Estudo de Caso: Renault do Brasil O estudo de caso foi realizado na planta da Renault do Brasil, que hoje é composta por 3 compressores ZR 750 e um compressor ZR 900 VSD. Um quinto compressor também de modelo ZR 750 está sendo instalado visando a ampliação da fábrica. Visto que a Renault do Brasil é composta por uma única central de ar comprimido, o estudo de caso iniciou-se pela sua geração, e na sequência analisou- se o sistema de distribuição e utilização. Na casa de máquinas (geração) realizou-se a eficiência dos 4 compressores de ar utilizados atualmente. Através de medidores de corrente (TCs) mediu-se o consumo energético dos motores em um período de 6 dias. Com o auxílio do software ME Box, obteve-se a relação entre a vazão e o consumo de energia. Desta forma comparando-se os dados medidos com os dados nominais dos compressores foi possível realizar o rendimento dos mesmos. A Figura 4 apresenta os rendimentos dos 4 compressores analisados, percebe-se que os mesmos apresentam valores adequados, visto que o valor limite de aceitação de rendimento de um compressor é em torno de 95%. Figura 4 - Valores de Rendimento dos Compressores No setor de distribuição de ar comprimido, encontrou-se 2.058 pontos de vazamento, que representa valor aproximado de 29,44% da demanda de ar produzido. Estes vazamentos representam uma perda de energia anual de 3.469.567,50 kWh, considerando um valor de R$0,15/ kWh estas perdas representam um custo de R$ 520.448,62. Na Tabela 4 estão apresentados de forma detalhada os vazamentos encontrados no setor de distribuição. Tabela 4 – Vazamentos diversos na área da fábrica Em quatro meses de trabalho conseguiu-se sanar cerca de 60% dos vazamentos, o que representa uma redução de aproximadamente 9,3% no consumo de energia elétrica dos compressores. Uma campanha também foi realizada visando sensibilizar os funcionários a evitar o desperdício de ar comprimido. Diversos informativos foram distribuídos pela empresa (jornal de banheiro, etc.), além de treinamentos para os funcionários, onde apresentam-se os custos de produção do ar comprimido, formas de identificar vazamentos, e os procedimentos que devem ser adotados caso alguém funcionário encontre vazamentos de ar. Resultados Todas as ações de verificação realizadas na Renault do Brasil foram realizadas entre 2008 e 2009 e implementadas em 2010. Para verificação da economia proporcionada, foi realizada a medição de consumo energético antes da implementação (2009) e após (2010). Com todas as ações realizadas na rede de ar comprimido, obteve-se uma economia de R$56.019.00 no ano de 2010. Este valor pode ser melhor visualizado no gráfico apresentado na Figura 5, onde há a soma cumulativa da economia durante o ano. Figura 5 – Soma cumulativa da economia das ações Referências [1] Olesko, H. D. (2013). Uma proposta de eficiência energética para sistemas de ar comprimido industriais.
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