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FRANCISCO RICARDO MIRANDA PINTO GRAÇA MARIA DE MORAIS AGUIAR E SILVA EDUCAÇÃO ESPECIAL COM ÊNFASE NA INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL 1ª Edição Sobral/2017 3 Sumário Palavra dos Professores autores Sobre os autores Ambientação à disciplina Trocando ideias com os autores Problematizando UNIDADE I: FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Introdução. Conceitos Fundamentais. Marcos histórico da exclusão, educação especial e inclusiva no Brasil. UNIDADE II: POLÍTICAS PÚBLICAS NAS PERPECTIVAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA. Introdução. Situando as políticas públicas. Entres textos e tramas: Políticas públicas inclusivas. UNIDADE III: A PESSOA COM DEFICIÊNCIA, EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA. Introdução. Tipos e características da deficiência e suas implicações no contexto escolar. Deficiência Física. Deficiência Auditiva. Deficiência Visual. Deficiência intelectual (mental). A inclusão escolar e social na diversidade. Atendimento Educacional Especializado (AEE) como suporte a inclusão. Gestão dos processos educativos e práticas inclusivas na escola. O planejamento. 4 O plano de aula. A organização da sequência didática A rotina na sala de aula UNIDADE IV: A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO PEDAGOGO PARA AS PRÁTICAS INCLUSIVAS. Introdução. Formação do pedagogo: desafios da docência em tempo de inclusão. Explicando melhor com a pesquisa Leitura obrigatória Pesquisando na internet Saiba mais Vendo com os olhos de ver Revisando Autoavaliação Bibliografia Bibliografia Web Vídeos 5 Palavra dos professores autores Caro (a) estudante, Vivemos o advento da inclusão. Se considerarmos a História da Educação e todo o histórico de exclusão social e educacional da pessoa com deficiência, podemos evidenciar que os avanços e desafios vivenciados atualmente são, particularmente, novos. No passado a pessoa com deficiência ficava em casa protegida pela família, privada de estímulos, impossibilitada de viver e se desenvolver plenamente sob o ponto de vista social, intelectual, etc. A partir das lutas sociais ao longo dos séculos foram surgindo, mais especificamente no século XX e XXI, políticas públicas a favor da pessoa com deficiência o que impulsionou estudos, pesquisas, iniciativas em torno da inclusão social e escolar. Tais ações provocaram mudanças no meio educacional exigindo estudos e redimensionamentos do perfil profissional dos sujeitos da educação, afinal gestores, professores e toda comunidade escolar precisam empenhar-se em acolher e zelar pela permanência da pessoa com deficiência na escola, com direito a aprendizagem, dignidade e respeito como todo cidadão conforme prega a Constituição Federal de 1988. Visando atender o que preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no Capítulo V que versa sobre a Educação Especial, objetivando seguir a Resolução CNE/CP Nº 01, de 15 de Maio de 2006 que versa sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de graduação em Pedagogia/licenciatura, preparamos este módulo pensando em contribuir para sua formação acerca da Educação Especial e Inclusiva refletindo, sobretudo, o perfil profissional, a atuação e contribuição para inclusão escolar e social da pessoa com deficiência que hoje faz parte da rede regular de ensino. Este material foi preparado especialmente para o estudante em formação oportunizando a elaboração de conceitos fundamentais na área, bem como habilidades e competências necessárias a ação/reflexão sobre a prática. 6 Sobre os autores Graça Maria de Morais Aguiar e Silva: Mestre em Educação e formação de professores – UECE. Doutoranda em Educação (lusófona/Portugal). Pedagoga, Psicanalista, Psicopedagoga, vice- presidente da ABPp Ceará (2011/2013, 2014/2016), membro titular da ABPp Nacional sob nº 202. Como professora no ensino superior a 14 anos, atua nos cursos de Pedagogia e pós- graduação em Educação Especial e Inclusiva e Psicopedagogia. Desde 2013 participa do programa PARFOR/CAPES como Professor Pesquisador I. Pesquisa e contribui na formação de professores nas áreas de: Educação Especial e Inclusiva; Atendimento Educacional Especializado (AEE); A psicopedagogia na instituição escola, clínica e espaços de saúde; transtornos de aprendizagem; didática; aprendizagem e desenvolvimento humano. Atualmente coordena a Pedagogia em EaD do UNINTA. Francisco Ricardo Miranda Pinto Mestre em Saúde Coletiva – UNIFOR. Pedagogo. Psicopedagogo Reg. Nº. 2017/1046 Especialista em Coordenação Pedagógica – UFC. Especialista em Educação Pobreza e Desigualdade Social – UFC. Graduado em Letras – Português/Espanhol – UNIP. Graduado em Enfermagem – UNINTA. Como professor já atuou no curso de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA/Sobral. É professor do Curso de Pedagogia EaD do Centro Universitário INTA – UNINTA, professor- colaborador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Vale do Acaraú-IVA. Desde 2014 faz participa do PARFOR/CAPES no curso de Pedagogia mediado pela UVA/Sobral. Tem interesses de pesquisa nas áreas de diversidade, relações de gênero, formação de professores. 7 Ambientação à disciplina Olá, sejam bem-vindos à disciplina de Educação Especial com Ênfase na Inclusão Escolar e Social. A disciplina tem por objetivo oportunizar ao graduando em Pedagogia o estudo das teorias e discussões sobre questões fundamentais da Educação Especial com Ênfase na Inclusão Escolar e Social, contribuindo assim para a construção do conhecimento, aprimorar concepções que viabilizem a prática pedagógica inclusiva efetiva no sistema regular de ensino, nas gestões na educação básica, nos espaços escolares e não escolares entre outros. Neste trataremos dos fundamentos conceituais e históricos da exclusão e inclusão da pessoa com deficiência, objetivando compreender a construção histórica dos conceitos e termos utilizados no passado e no presente, bem como seu processo evolutivo. Discutiremos as políticas públicas instituídas e implementadas ao longo da história na perspectiva da Educação Especial e Inclusiva, seus desafios, avanços e contribuições para a evolução da Educação especial e Inclusiva. Serão abordados ainda as características da deficiência e suas implicações no contexto escolar e social e o Atendimento educacional Especializado (AEE) como suporte a inclusão, o planejamento, a didática e as práticas inclusivas na escola. Não nos esquecemos de tratar de um tema atual e urgente que é a formação inicial e continuada do pedagogo para as práticas inclusivas. Bons estudos!!!! 8 Trocando ideias com os autores Sugerimos que leia a obra: Inclusão escolar- O que é? Por quê? Como fazer? Esse livro discute sobre o ensinar e o aprender na perspectiva da inclusão num ambiente escolar aberto à diversidade, pontua o que é necessário para implantação de um sistema educacional inclusivo acolhedor, garantindo o direito à educação de forma respeitosa, didática e conclui debatendo sobre os possíveis caminhos para se concretizar a inclusão inclusiva. MANTOAN, Maria Tereza Eglér. Inclusão escolar- O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Editora Moderna, 2006. Propomos também que leiaa obra: Educação especial no Brasil: história e políticas publicas. A obra se propõe a fazer um resgate histórico da legislação e de como esta influenciou o caminhar da Educação Especial e Inclusiva no Brasil. É importante destacar que o autor teve todo um cuidado em separar por recortes temporais específicos que facilitam, didaticamente, a compreensão do texto. MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2003. Guia de estudo: Após a leitura das obras, realize uma comparação entre as ideias dos autores, em seguida faça um texto dissertativo-argumentativo sobre o que mais lhe chamou atenção e disponibilize na sala virtual. 9 Problematizando Paulinha tem 12 anos, frequenta a escola regularmente, não se mostra sociável e na maior parte do tempo está isolada e calada. Algumas vezes os colegas se aproximam, mas não conseguem interagir, não participa ativamente das aulas, tem crises constantes de gritos e não consegue manter-se em sala de aula por muito tempo. Sua mãe não trouxe diagnóstico ou laudo médico para a escola ainda, no entanto uma vizinha informou que a garota era autista. O que a escola pode fazer para ajudar esta garota? Há pouco tempo, por solicitação do conselho tutelar, receberam para matrícula nessa escola um aluno de 12 anos com histórico de deficiência mental. Desde então a turma do 4º ano está em turbulência. O aluno é bastante agitado, fala palavrões, não consegue manter-se atento as aulas, nem participar. O que a equipe pedagógica faria para ajudar este garoto? Guia de estudo: Como você, acadêmico, percebe na prática, a Educação Especial e Inclusiva? Os direitos e garantias de uma educação que inclua sem excluir estão sendo contemplados no cenário contemporâneo? Compartilhe suas conclusões postando no ambiente virtual. 10 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 1 Conhecimentos Conhecer os conceitos fundamentais da Educação Especial e Inclusiva, através de um percurso histórico delineado a nível nacional e internacional. Habilidades Compreender a partir dos construtos históricos como as pessoas com deficiência eram vistas nas sociedades antigas e como esta concepção foi se modificando e evoluindo na contemporaneidade, exigindo postura inclusiva por parte do professor e da sociedade. Atitudes Posicionar-se criticamente frente às diferentes formas de preconceito vivenciadas pelas pessoas deficientes ao longo da história Construir concepção e postura inclusiva frente à diversidade. 11 Introdução Esta unidade traz como principal proposta localizar a Educação Especial e Inclusiva na perspectiva histórica, buscando traçar linhas paralelas entre os conceitos, as leis e as diferentes formas culturais como eram vistas e tratadas às pessoas com quaisquer deficiências. Conceitos Fundamentais Nas últimas décadas vivenciamos inúmeros avanços que quebraram paradigmas vigentes em torno do trabalho com as diferenças e diversidades no âmbito educacional, assim como descobrimos novos desafios educacionais. Não se concebe, no século XXI, concepções e posturas excludentes na sociedade, tampouco no meio escolar. Cada vez mais se exige que a educação formal seja acessível para todos e que haja uma mobilização geral para incluir e ensinar de forma satisfatória os estudantes, favorecendo a estes melhores possibilidades de incluir-se socialmente. Diante dessa responsabilidade, como atuar de forma inclusiva quando não se compreende a dimensão deste ato? Os estudos a cerca da história da humanidade apresenta-nos uma sociedade cheia de preconceitos, com dificuldades para lidar com as diferenças religiosas, de gênero, raça, etnia, físicas, sensoriais, psíquicas entre outras. A caminhada da exclusão à inclusão é longa e sofrida, muito já se conquistou, mas ainda temos muito a fazer. Historicamente as pessoas com deficiências foram vítimas de maus tratos, preconceitos, exclusões, muitas foram abandonadas a própria sorte. Na Idade Média estas foram divinizadas no Egito, eliminadas na Grécia enquanto em Roma foram submetidas ao abandono e vistas como aberrações demoníacas (GAIO, MENEGHETTI, 2010). Na prática, apesar de ainda existirem pessoas que não se atualizaram para estas demandas, já é possível encontrarmos avanços nas pesquisas, discussões, criação e implementação de políticas públicas a nível mundial e nacional, alguns esforços a mais por parte dos educadores e gestores buscando formação continuada, no entanto ainda há muito que ser feito para que a inclusão escolar e social aconteça de fato e de direito. Vale ressaltar que conhecer teoricamente uma perspectiva educativa, colabora para a construção de concepções e mudanças de 12 atitudes. Embora Stainback (2008) acreditem que as tentativas de resistir à inclusão ainda são evidentes na prática apesar dos discursos. Há bem pouco tempo não existia espaço na sociedade para a pessoa com deficiência, eram excluídas do contexto social, não tendo seus direitos como cidadão tampouco possibilidades de acesso à escolarização, eram vistas como incapazes. Os estudos acerca da Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem na metade do século passado, através de teóricos como Piaget (1999), Vygotsky (1984), Montessori (1975), Wallon (1982, 1987) entre outros, mudaram concepções organicistas e nos fizeram compreender que todas as pessoas em contato com estímulos ambientais são capazes de aprender, do seu jeito, do seu modo, no seu ritmo apesar de suas limitações físicas, sensoriais, intelectuais. Quanto mais cedo forem estimuladas melhores serão suas chances de se desenvolverem plenamente e viverem socialmente de forma satisfatória. Nesta perspectiva, aos poucos, muitas concepções foram modificando-se e possibilitando o acesso destes a escolarização (SILVA, 2010). As mudanças foram ocorrendo de acordo com as evoluções históricas, sociais, políticas e principalmente de concepções influenciadas pelas novas teorias. Consideramos pertinente neste momento discutirmos os conceitos e termos utilizados na Educação Especial (EI) e Educação Inclusiva (EI) atualmente no âmbito legislativo e acadêmico. Até a primeira metade do século XX o conceito de deficiência estava baseado na caracterização da teoria inatista, onde a hereditariedade é valorizada, os fatores inatos são determinantes para o desenvolvimento do indivíduo, mais importantes que os estímulos ambientais e sociais, ou seja, quem nascia com alguma anomalia estava “destinado” a não se desenvolver ou aprender. Nesta concepção, as deficiências não possibilitavam que qualquer aptidão se manifestasse. No passado se referiam a “pessoa com deficiência” usando termos inapropriados e ofensivos para os dias atuais como “mongol”, “idiota” “retardado”, “deficiente”, entre outros que além de inaceitáveis eram excludentes. Hodierna os 13 termos utilizados nos documentos do Ministério da Educação e Cultura e na legislação vigente são pessoa com deficiência, aluno com deficiência, etc. Durante algumas décadas o termo “portador de deficiência” fora bastante utilizado até ficar evidente que a pessoa com deficiência, não “porta”, a deficiência faz parte dela e que, portanto, a definição teria um sentido incompatível com a realidade de quem tem alguma deficiência. Estudiosos acreditam que as definições acerca do que é patológico, doença, deficiência, incapacidade podem interferir diretamente na forma de lidar com o indivíduo, principalmente no âmbito educacional. OConceito de deficiência é amplo, porém hoje a Lei 13.146/2015 que trata do Estatuto da Pessoa com Deficiência, define: Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. (BRASIL, 2015, p. 1) Por sua vez a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu Incapacidade como “Qualquer redução ou falta (resultante de uma deficiência) de capacidades para exercer alguma atividade dentro dos limites considerados normais para o ser humano.” (HORVATH JUNIOR, apud COSTA, 2014, p. 148). Vale ressaltar que limitações não significam incapacidades, na maioria das vezes ocorre baixo rendimento na aprendizagem, mas a partir de estímulos é possível desenvolvimento e superação dos fatores limitantes, principalmente quando o sujeito acredita que pode superar-se . O trabalho destinado à Educação Especial e Inclusiva no Brasil é algo particularmente novo. Nas pesquisas, ao longo do Século XX, as lutas sociais pela causa da deficiência junto às políticas públicas aprovadas e lentamente implementadas provocaram tanto mudanças sociais como no sistema educacional. Ainda que tenham acontecido avanços, a força da lentidão exige estudos constantes, pesquisas, formações continuadas e novos redimensionamentos na 14 postura da sociedade, cobrando gestores e educadores mobilizados em torno da educação para todos de forma que não se tenha, hoje, nenhum profissional que se negue a incluir estudantes com deficiência na rede regular de ensino sob pena da lei. No Brasil, políticas educacionais e ações mais efetivas ocorreram apenas a partir da década de 1970. Com base na concepção integracionista foram criadas as chamadas ‘classes especiais’, organizadas dentro de escolas comuns, acompanhadas por professores (as) especializados (as), compostas por estudantes que apresentavam algum tipo de deficiência ou que foram julgadas não poderem frequentar uma sala de aula regular. Para Magalhães (2002) a tentativa de escolarização destes estudantes, a forma como ocorreu à inserção no contexto escolar, foi marcada pela discriminação, mais tarde entendida como uma espécie de segregação que em vez de incluir, ‘separava’ as crianças ditas ‘deficientes’ dos estudantes ditos ‘normais’. A relação entre ensino ‘especial’ e ensino regular, portanto, vem sendo discutida de forma mais pontual, desde a década de 1970, com a denominada Filosofia da Integração que entende que a melhor forma de incluir o estudante com deficiência é matriculá-lo no ensino regular, podendo participar da vida escolar das demais crianças que estudam convencionalmente: “postulando que a elas sejam garantidas as condições julgadas necessárias para o desenvolvimento de suas reais possibilidades.” (MAGALHÃES, 2003, p. 36). Após a década de 1990 intensificaram-se as discussões propondo articulações e aproximações entre a Educação Especial e o ensino regular resultando na Educação Inclusiva. As propostas surgem principalmente após a Conferência Mundial sobre “Educação para Todos” que ocorreu na Tailândia, em 1990, da qual se originou a Declaração de Jomtien e da Conferência Mundial sobre “Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade da educação para todos”, em Salamanca – Espanha, em 1994. Mais precisamente nesta década os documentos internacionais elaborados em acordo com a representação de mais de 100 países influenciaram a formulação e implementação das políticas públicas adotadas para a educação brasileira. 15 As políticas de Educação Inclusiva (EI) estão diretamente ligadas à responsabilidade dos governos e dos gestores em disponibilizar o acesso e a permanência dos estudantes com deficiências matriculados regularmente nos sistemas escolares de cada instituição de ensino, com o compromisso de zelar pela permanência e qualificação de crianças e jovens independente das diferenças individuais de qualquer natureza. Ao passo em que as políticas vão acontecendo urge a necessidade de reformulação das escolas para garantir a acessibilidade na perspectiva inclusiva não só nos espaços arquitetônicos, mas também no suporte material e pedagógico dos sujeitos e sistemas inseridos na comunidade escolar, melhorando as chances de acesso e permanência com sucesso de estudantes com Necessidades Educacionais Específicas (NEE) no ensino regular. Com relação a este aspecto Glat (2007, p 17): Neste contexto, a Educação Especial encontra-se também, em processo de ressignificação de seu papel, para abranger, além do atendimento especializado direto, o suporte às escolas regulares que recebem alunos que necessitam de ajudas diferenciadas e específicas para aprender. A Educação Especial apresenta-se como um suporte necessário ao processo inclusivo que deve funcionar como complementar ou suplementar aos processos de ensino e em casos excepcionais de forma substitutiva. A gestão desta perspectiva vem embasando as práticas educativas voltadas à pessoa com deficiência, proposta em leis, diretrizes e fundamentações legais desenvolvidas no Brasil. Assim, faz-se necessário definirmos conceitualmente a Educação Especial: Art. 3º Por Educação Especial, modalidade da educação escolar, entende- se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresenta necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. (BRASIL, 2001, p. 1) A Educação Especial constitui-se como um sistema de suporte permanente e efetivo à escola, nesta perspectiva encontra-se em processo de ressignificação de seu papel para abranger além do seu atendimento especializado direto, o suporte as escolas regulares que recebem estudantes com Necessidades Educacionais 16 Específicas (NEE). “Mais do que uma proposta educacional, a Educação Inclusiva pode ser considerada uma nova cultura escolar; uma concepção de escolas que visa o desenvolvimento de ‘respostas educativas’ que atinjam a todos os estudantes” (GLAT 2007, p. 16-17). Para Glat (2007) a Educação Especial (EE) configurou-se por muito tempo como um sistema paralelo e segregado de ensino voltado para o atendimento especializado de indivíduos com deficiências, distúrbios graves de aprendizagem e/ou de comportamento, altas habilidades ou superdotação. Hoje é qualificado como serviço especializado por reunir profissionais, técnicas específicas, recursos adaptados, tecnologia assistiva e metodologias diferenciadas para cada especificidade. Em 2008 a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação Inclusiva dispôs sobre o Atendimento Educacional Especializado: O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros(BRASIL, 2008, p.12). Desta forma o atendimento neste âmbito pode acontecer em espaços de saúde como o Núcleo de Atendimento Pedagógico Especializado (NAPE) que por força do que está prescrito no Art. 2008 da Constituição Federal teve sua implantação a partir de 2003, cujo objetivo é assegurar o apoio ao estudante com deficiência e necessidades educacionais específicas em ambiente escolar, funciona com equipe de multiprofissionais (pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros), do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS ) considerado como porta de entrada da Assistência Social, normalmente organizado em local público, localizado prioritariamente em áreas de maior vulnerabilidade social, onde são oferecidos os serviços de Assistência Social, com o objetivo de fortalecer a convivência com a família e com a sociedade, etc., ou escolas e outras instituições colaboradoras de iniciativa privada 17 com assistência e atenção específicas às deficiências dos alunos e consequentemente contribui para que a inclusão aconteça na escolarização e na vida social. A partir do Decreto nº 6.571/08, foi criado o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, através do Sistema de Gestão Tecnológica (SIGETEC) nas escolas públicas do Brasil. Com o programa o Estado disponibilizou recursos para os municípios de acordo com as demandas estabelecidas através de cadastro junto ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), da população matriculada e informada como escolar com deficiência. Os municípios, em contrapartida, deveriam disponibilizar o espaço físico para as Salas Multifuncionais e Recursos Humanos, ou seja, professores para prestarem o serviço de (AEE), de preferência no contra turno de matrícula dos estudantes, oferecer formação continuada, assistência para a implementação do programa que se constitui como um serviço prestado de forma complementar ou suplementar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades/superdotação matriculados em classes comuns do ensino regular, assegurando-lhes apoio para o desenvolvimento e inclusão escolar e social. O (AEE) hoje funciona em boa parte das escolas brasileiras ligadas a rede pública de ensino e presta atendimento direcionado para os estudantes que aprendam de forma diferenciada dos demais. Oportunamente discutiremos com mais detalhes sobre o Atendimento Educacional Especializado como suporte a inclusão. Assim, desejamos que fique claro que a Educação Especial não deve ser entendida como um sistema especializado à parte, mas como um conjunto de conhecimentos, metodologias e recursos que a escola comum deverá disponibilizar para atender a diversidade de seus estudantes. A Educação Inclusiva deve ir para além da matrícula do estudante com (NEE) nas turmas regulares da escola, para Glat (2007) o objetivo da proposta inclusiva é a possibilidade de ingresso e permanência do aluno na escola com sucesso acadêmico, a partir de atenção às suas peculiaridades de aprendizagem e desenvolvimento (GLAT, 2007, p.17-18). 18 Esperamos que os conceitos e especificidades deste capítulo inicial tenham sido esclarecedores para dar suporte de compreensão e interpretação às temáticas que abordaremos a seguir. Vale ressaltar que os conceitos apresentados e marcos histórico a seguir foram e serão contextualizados com a linha do tempo dos acontecimentos e de forma inevitável faremos referência breve com as políticas implementadas em cada época, deixando claro que o capítulo II aprofundará as políticas públicas nesta área. Marcos Históricos da Exclusão, Educação Especial e Inclusiva no Brasil. O primeiro marco histórico de maior significância para a Educação Especial e Inclusiva, a exceção da própria (LDB), é a Declaração de Salamanca, criada em 1994 na cidade que deu nome a declaração, situada no território Espanhol, no encontro mundial onde se reuniram cerca de 100 países que firmaram um acordo de mobilização para promover educação voltada a toda diversidade. Tendo como lema “Educação para todos, todos pela educação” este foi o marco principal para o trabalho com a Educação Especial e Inclusiva no Brasil. Segundo a Declaração de Salamanca “Todas as crianças, de ambos os sexos, possuem direito fundamental à educação e que a elas deve ser dada a oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimentos” (BRASIL, 2006, p. 15). A Educação Especial ofertada regularmente na rede pública de ensino no Brasil é algo particularmente novo. As políticas educacionais e ações mais efetivas começaram a despontar na década de 1970, no entanto seu desenvolvimento histórico inicia-se no século XIX, no momento em que influenciados pelas práticas e experiências norte americanas e europeias os educadores brasileiros começam a prestar serviços voltados as pessoas com deficiência de forma mais organizada e implementadas algumas vezes de forma isolada (MANTOAN, 2008). Numa breve retrospectiva histórica sobre a atenção às pessoas com deficiência no Brasil verifica-se um movimento em torno da Educação Especial e Inclusiva ainda no Segundo Império com a criação de instituições como o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (1854), atual Instituto Benjamin Constant (IBC) e o 19 Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES) no Rio de Janeiro em 1857 (MAZZOTTA, 2003). Segundo Bueno (2004), após a Proclamação da República na medida em que a educação escolar no país avançava, começou a expansão da Educação Especial de forma precária, lenta e gradativa. As instituições privadas e filantrópicas, a passos lentos, responsabilizaram-se pelo cuidado das pessoas com deficiência embora de forma assistencialista gerando confusão entre o público e o privado. Em 1927 foi criado o primeiro Instituto Pestalozzi voltado especificamente para o atendimento das pessoas com deficiência intelectual. Nas décadas seguintes a Educação Especial ampliou-se no Brasil com o surgimento de entidades privado assistenciais. A primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que se tem conhecimento, foi fundada em 1954, expandindo-se mais tarde por todo o território nacional, até a criação da Federação Nacional das (APAEs) que no início da década de 1980 congregava mais de 200 entidades (MAZZOTTA, 2003). Importante ressaltar que as (APAEs) funcionaram muito tempo como ‘escolas especiais’ que ofereciam assistência especializada e escolarização a partir de equipe multiprofissional. Hoje, com a nova concepção de inclusão, onde não podemos ‘segregar’ ou separar os estudantes com deficiência dos demais, o MEC aponta a necessidade que os alunos das antigas escolas da (APAE) estejam devidamente matriculados no ensino regular, logo aquelas instituições prestam, hoje, serviço de atendimento multiprofissional de assistência e suporte a inclusão, não mais serviço exclusivo. Até então, segundo Mazzotta (2003) e Magalhães (2003), o Estado brasileiro subsidiava somente ações das secretarias estaduais de educação e trabalhava com campanhas de educação especial de forma emergencial. Com a implementação e ampliação destas instituições e, sobretudo, impulsionadas pelas lutas da sociedade civil principalmente por pais de pessoas com deficiência, surgem legislações como as disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 4.024/61 que decretava e orientava as ações a serem efetivadas no atendimento educacional de alunos com deficiências. A referida lei já apontava o direito dos ‘excepcionais’ à educação, preferencialmente dentro do sistema regular de ensino.20 A Lei nº 5.692/71 também fez menção ao ‘tratamento especial’ para estudante com deficiência física e mental, os ‘atrasados’ e os superdotados, referindo-se à questão ‘como um caso do ensino regular’ (MAZZOTA, 2003). No entanto, foi na década de 1970, mais precisamente em 1973, o MEC criou através do Decreto nº 72.425, do Presidente Garrastazu Médici, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), tendo como “[...] finalidade de promover, em todo o território nacional, a expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais”. [...], tinha como discurso e filosofia a ‘integração’ das pessoas com deficiência ou superlotação (MAZZOTTA 2003, p.55). Atualmente a Secretaria de Educação especial (SEESP) coordena ações de educação especial desenvolvidas em todo o território nacional. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, traz no art. 58, a Educação Especial como modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para os alunos com (NEE). No § 1º, do art. 58 desta lei, afirma o legislador: “Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial”. (BRASIL, 2017, p. 39). O seu art. 59 determina que os sistemas de ensino devam assegurar aos estudantes “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades". (BRASIL, 2017, p. 39). As reformas educacionais contidas na mencionada (LDB), ao estabelecer a educação como direito de todos na sociedade brasileira, desencadearam mais questionamentos acerca da inclusão dos estudantes com deficiência nas salas de aula regulares, fazendo emergir a problemática da formação dos professores em geral, inclusive dos pedagogos que atuavam na Educação Básica. A educação de estudantes com (NEE) é pensada em termos de organização curricular diferenciada e passa pela formação de professores capazes de realizar as reformas que tornariam a educação mais atenta a diversidade. Em 1999, o Decreto Nº 3.298 que regulamentou a Lei Nº 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 21 definiu a Educação Especial como modalidade transversal aos níveis e modalidades de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Superior. Em 2001 o Plano Nacional de Educação (PNE), instituído por força da Lei nº 10.172/2001, delegou funções no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, estabelecendo objetivos e metas para que os sistemas de ensino favorecessem o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. Conforme destacou, “O grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”. (BRASIL, 2001b, p.205). Entretanto, a análise das metas estabelecidas para a educação especial revelou contradições ainda vigentes no sistema escolar ao enfatizar o incremento das classes especiais e o modelo da integração. Quanto à formação de professores na perspectiva da Educação Inclusiva, a Resolução CNE/CP nº1/2002, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica institui que as instituições de ensino superior devem prever em sua organização curricular formação docente voltada para "[...], o acolhimento e o trato da diversidade; [...]." (BRASIL, 2002, p. 1), que contemple conhecimentos sobre "[...], as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais [...]." (BRASIL, 2002, p. 3), definição, que, como presenciamos no sistema educacional até os dias atuais, não tomou forma prática na maioria das instituições. Nos anos seguintes, com base na legislação, surgiram ações da (SEESP) voltadas para a tentativa de garantir a Educação Inclusiva no contexto da educação pública. Assim, em 2003, o Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial implantou o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade, com o objetivo de transformar os sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos. Em 2004, com base no Decreto nº 3.956/2001, o Ministério Público Federal publicou o documento ‘O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular’, com o objetivo de reafirmar o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular. Em continuidade, mais um avanço se verifica. O Decreto nº 5.626/05 regulamentou a Lei nº 10.436/2002 e dispôs sobre a inclusão da Língua Brasileira de 22 Sinais (LIBRAS) como disciplina curricular, a formação do professor, instrutor e tradutor/intérprete de Libras, a certificação da proficiência em LIBRAS, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para estudantes surdos e a inclusão de estudantes surdos com a organização da educação bilíngue nos sistemas de ensino. Quanto às tímidas modificações no currículo, em 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, o Ministério da Educação, o Ministério da Justiça e a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) lançam o Plano Nacional de Educação em Direitos. O plano define ações para fomentar no currículo da Educação Básica as temáticas relativas às pessoas com deficiência e para desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão, acesso e permanência na Educação Superior. Em 2007, no contexto do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) enfatiza o desenvolvimento humano e social e a educação como prioridade. Já no Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, Decreto nº 6.094/2007, foi estabelecido diretrizes para a garantia do acesso e da permanência no ensino regular e do atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo assim a inclusão educacional nas escolas públicas. Alguns dados históricos aqui apresentados foram coletados da versão preliminar de um documento organizado pelo MEC em 2007, que trata da Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Visivelmente, a Educação Especial tem avançado em nosso país em termos de leis, pareceres e decretos, mas as dificuldades para a realização da inclusão escolar estão presentes em uma escola marcada, principalmente, pelo fracasso escolar de crianças, mesmo escolarizadas. Apesar de indispensáveis, as leis e informações não são suficientes para remover as barreiras que ainda impedem a inclusão. Afinal, barreiras atitudinais não se removem apenas com determinações legais. Em pleno século XXI, o fracasso escolar e a exclusão são alguns dos principais problemas a desafiar e preocupar educadores. Como podemos promover 23 a inclusão na condição de profissionais possuidores de uma função social? Segundo Magalhães (2002 p. 69-70): [...] não basta abrir as portas da escola, porque logo podem ser fechadas com a alegação de que alguns alunos não apresentam condições de adaptação e sucesso. É preciso modificar a concepção de ensinar e aprender na busca de práticas que fomentem o respeito às diversidades, de qualquer natureza. Conhecer a história da educação especial brasileira é muito importante para que os educadores tenham clareza, lucidez e sensibilidade diante da magnitude da tarefa de construção da escola inclusiva. A nosso ver, uma ação propícia como educadores seria aceitar o ‘diferente’, incondicionalmente, observar suas limitações, sobretudo, suas possibilidades e potencialidades de aprendizagem para oferecer apoio e estímulos adequados aos aprendentes(com ou sem deficiência) que apresentem dificuldades na aprendizagem e na socialização. Dessa forma, poderemos promover uma melhor qualidade no desenvolvimento e no processo de aprendizagem, com vistas à evolução e inclusão dentro do contexto escolar e social. A conquista da Educação Inclusiva é lenta e gradual se pensarmos que desde o século XVIII muitos profissionais ocupam-se com a educação de pessoas com deficiência. Neste sentido, passamos de uma perspectiva de institucionalização da pessoa com deficiência para alternativas mais próximas com a escola regular, tais como a Filosofia da Integração e, atualmente, a Educação Inclusiva entendendo que sem dúvidas ampliou-se a visibilidade destas pessoas no âmbito dos sistemas de ensino. A seguir uma discussão sobre significados e impasses peculiares ao processo de educação inclusiva. 24 POLÍTICAS PÚBLICAS NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA 2 Conhecimentos Reconhecer o aparato legislativo que confere direitos institucionais e legais na perspectiva da educação especial e Inclusiva, às pessoas com deficiência. Habilidades Compreender que o processo de reconhecimento dos direitos da pessoa com deficiência foi e ainda é lento dentro do cenário social e cada um (a) pode contribuir identificando possibilidades de implementação das políticas públicas na escola e sociedade. Atitudes Refletir sobre a trajetória das políticas públicas em nível nacional e internacional para as pessoas com deficiência Adotando uma postura que favoreça a implementação das políticas públicas na escola e sociedade. 25 Introdução Nesta unidade buscaremos refletir sobre a trajetória das políticas públicas em nível nacional e internacional para pessoas deficientes, entendendo que este processo foi e ainda é lento dentro do cenário social, enquanto isso aqueles sofrem com os estigmas, preconceitos, exclusão ou inclusão que exclui. Situando as políticas públicas Para iniciarmos as reflexões sobre as políticas públicas na perspectiva da educação inclusiva faz-se necessário resgatar alguns aspectos importantes: as concepções e construções do que é cultura, criança e a história das pessoas com quaisquer deficiências no âmbito social. Diversos autores trazem seus conceitos de cultura muito próximos. Sorokin (1968) já define como sendo o conjunto ideológico dos valores e normas instituídos como válidos para um grupo ou para um indivíduo com o intuito de melhorar a interação entre os mesmos. O autor Thompson (1995) traz sua definição de cultura dividida em quatro tipos: a clássica (se referia ao desenvolvimento do intelecto/espírito), a descritiva (descreve todo um conjunto de valores e normas que eram inerentes a um grupo ou a uma sociedade em determinado momento histórico), simbólica (compreende os fenômenos como sendo símbolos, logo busca interpretar os símbolos e seus significados) e a estrutural (interpreta os fenômenos culturais como possível de ser analisado a partir dos contextos e dos símbolos) (MAZZOTTA, D’ANTINO, 2011). É importante a compreensão dos significados de cultura ao longo dos anos para que se compreenda como foi construído o conceito de infância. Philippe Ariès (1986) em seu estudo realizado na Europa define que o conceito de infância é contemporâneo e como resultante da vida moderna; Já Corazza (2002) afirma que na antiguidade não havia a infância, tão menos a criança enquanto ser cultural, enquanto ser social. Na verdade a criança era vista como um adulto em miniatura. Havendo estas concepções de cultura, de infância e de cultura constituídas, fica mais palpável compreender que os estigmas, os preconceitos e as formas 26 excludentes das pessoas com deficiência acabam sendo um processo de construção cultural do homem a partir do que esse definiu como padrão estereotípico do corpo ideal, da formação física e mental ideal. No passado as crianças que nasciam com deficiência eram vistas como um castigo, alguém impuro, indigno, representante da imperfeição humana, colocava aqueles que nasciam com alguma deficiência à margem das rodas dos enjeitados ou até mesmo eram fadados a serem abandonados à própria sorte, lançados aos mares, sepultados vivos (característica das tribos indígenas) além de uma série de outras formas de exclusão, até mesmo serem explorados no trabalho e ainda servirem de diversão nos centros urbanos (GUGEL, 2007; JANUZZI, 2004; ANDRADE, 2010; SILVA, 1987). Havia ainda outras relações entre a deficiência e as culturas, sobremaneira a religiosa. A própria religião, com toda sua cultura, ao colocar o homem como “imagem e semelhança de Deus”, ser perfeito, inculcava a ideia da condição humana como incluindo a perfeição física e mental. E não sendo “parecidos com Deus”, os portadores de deficiências (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana. (MAZZOTTA, 2011, p. 16). É importante compreender, a partir da fala do autor, que foi a forma deturpada que foram vistas as pessoas com quaisquer deficiências, provavelmente associada ao despontar do capitalismo e da necessidade de mão de obra pra atender as demandas previstas que o conceito de. “incapacitado”, “deficiente”, “inválido” é uma condição imutável, levou à completa omissão da sociedade em relação à organização de serviços para atender às necessidades individuais específicas dessa população. (MAZZOTTA, 2011, p. 17) Somente no século XVIII com o advento da consolidação do capitalismo, com a separação entre o público e o privado que há a constituição de família sendo a criança vista como um ser frágil e dependente da figura paterna e materna e a instituição da escola como espaço de formação do cidadão, que simbolicamente separa o mundo dos adultos do mundo das crianças (ANDRADE, 2010, ENGELS, 2010). 27 É importante destacar que foi a partir desta separação que começam a despontar, na Europa, as primeiras ações de serviços para as pessoas com deficiências, em nível particular, por profissionais ou aqueles sem conhecimento algum, mas que tinham o propósito de amenizar o sofrimento daqueles que eram excluídos (MAZZOTTA, 2011). No Brasil estas ações chegam somente em fins do século XIX e início do século XX como resultado dos avanços das ciências modernas que modificaram junto os pensamentos sociais, assim como abre margem para os movimentos sociais (KASSAR, 2009). Conheçamos, a seguir, quais foram às políticas públicas desenvolvidas em benefício das pessoas deficientes. Vale destacar que para tanto se fará um ir e vir entre as políticas nacionais e internacionais, uma espécie de linha do tempo, uma vez que esta última tem interferências diretas e são materializadas no Brasil a partir de portarias e decretos. Entre textos e tramas: políticas públicas inclusivas Uma análise aprofundada da literatura revela que as primeiras políticas públicas inclusivas no Brasil já acontecem na segunda metade do século XIX quando foi criada a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte (1854) e com ela a fundação de duas instituições voltadas ao atendimento das pessoas deficientes: Imperial Instituto dos Meninos Cegos (1954) e o Instituto dos Surdos Mudos (1856). A implantação desses dois institutos pode ser considerada um ato isolado no que se refere à preocupação com a educação das pessoas com deficiência, pois nesse momento não há ainda nenhuma legislação educacional de âmbito geral, principalmente no que se refere à Educação Especial. O que temos é a Constituição Brasileira de 1824 registrando o “compromisso” coma gratuidade da instrução primária “a todos os cidadãos” e com a criação de colégios e universidades “onde serão ensinados os elementos das ciências, belas-letras e artes”. No entanto o grupo de “todos os cidadãos” não incluía a massa de trabalhadores, que em sua maioria era escrava, e certamente também não dizia respeito às pessoas com deficiências. (KASSAR, 2009, p. 21). Apesar da fundação daquelas duas instituições o Estado ainda é omisso na perspectiva de criar instituições de ensino surgem às investidas em instituições 28 privadas como o Instituto Pestalozzi (RS) (1926) e a Associação de Pais e Amigos Excepcionais (APAE) (RJ) (1954). É somente em 1961, com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei 4024/61, Art. 88 e Art. 89 que se dá o pontapé inicial na perspectiva de criar e aplicar diplomas que ratifiquem os direitos das pessoas deficientes, ainda que os textos deixem clara a exclusão ao apontarem quando da possibilidade de ocorrer o atendimento da criança deficiente no serviço público ao passo que garantem apoio financeiro às instituições privadas. Parece um contrassenso que o serviço público omita-se a sua obrigação uma vez que o Estado tem total responsabilidade sobre a oferta aos cidadãos do mínimo possível a uma vida digna, todavia não se é de estranhar uma vez que a burguesia mantinha todos os seus privilégios assegurados, inclusive tendo educação, o que já era para poucos. Quando em 1971, com a nova LDB, Lei 5692/71 surge no Art. 9º uma possível caracterização da Educação Especial, ainda que de forma excludente visto que acrescenta às pessoas com deficiência a tão conhecida distorção idade-série. Já em 1973 foi criado, através do Decreto N. 72425 o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), cujo intento era ampliar e melhorar o atendimento aos educacionais que mais tarde, em 1986 foi transformado na Secretaria de Educação Especial (SESPE) (MAZOTTA, 2011). Por sua vez, a Constituição Federal de 1988, traz em seu Art. 208 a certeza que é atribuição do Estado oferecer o Atendimento Educacional Especializado às Pessoas com Deficiências alega que deve ser na rede pública de ensino, reforçada pelo texto do Art. 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de 1990. Em nível internacional, o acontecimento da Declaração de Jomtien, também denominada Declaração Mundial de Educação, elaborada a partir da Conferência Mundial sobre Educação Para Todos endossa, em seu Art. 3º, a necessidade do olhar especial para a educação das pessoas deficientes. Na Conferência Mundial de Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade foi formulada a Declaração de Salamanca (1994), documento voltado exclusivamente para os princípios, 29 políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, se tem maior preocupação em instituir o que diversos outros documentos já haviam se proposto, sem êxito, reforçando que o atendimento a pessoas com deficiência deva ocorrer no ensino regular. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva reconhece A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. (BRASIL, 1994, p. 11). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) N. 9394/96 frente a todos os processos e documentos já institucionalizados traz um capítulo específico, V – Da Educação Especial, para tratar dos direitos das pessoas com deficiências a uma educação pública, de qualidade e não excludente, dando outras providências como o atendimento educacional especializado se for essa uma necessidade da escola e dá outras providências quanto à formação de professores, ao currículo escolar, sem se desprender da necessidade que o deficiente seja incluso na sala de ensino regular. Desde a LDB 9394/96 até o ano de 2017 foram lançadas diversas portarias, leis, diversos decretos que instituem programas e projetos em favorecimento a Educação Especial e Inclusiva. Elencaremos de forma breve cada um deles deixando a indicação de que seja realizada as leituras dos mesmos para pormenorizar todos os seus conteúdos uma vez que o intento deste módulo não é aprofundar-se nos detalhes dos mesmos. O primeiro foi o Decreto Nº 3298/99 (BRASIL, 1999) que regulamenta a Lei nº 7853 de 24.10.1989 (BRASIL, 1999) que institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência enquanto proposta de assegurar os direitos das pessoas deficientes. Em 2001 é lançada a Resolução CNE/CEB Nº 2/2001 (BRASIL, 2001a) que institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Por sua vez a Lei Nº 10172/2001 (BRASIL, 2001b) aprova o Plano Nacional de Educação. Ainda no mesmo ano o Decreto Nº 3956/2001 30 (BRASIL, 2001c) promulga a Convenção de Guatemala conhecida como a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Em 2002 foi aprovada a Resolução CNE/CP nº 1/2002 (BRASIL, 2002a) que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica (este assunto será tratado oportunamente em capítulo específico). A Lei Nº 10436/02 (BRASIL, 2002b) dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e dá outras providências, enquanto a Portaria Nº 2678/02 (BRASIL, 2002c) do Ministério da Educação e Cultura (MEC) cria o BRAILLE e o recomenda como de uso nacional a partir do primeiro dia do ano seguinte a essa portaria. No ano de 2003 foi lançado o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. O objetivo é a formação de gestores e educadores para efetivar a transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos, tendo como princípio, a garantia do direito dos alunos com necessidades educacionais especiais de acesso e permanência, com qualidade, nas escolas regulares. (BRASIL, 2005a, p. 9). O documento Acesso de Estudantes com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular (BRASIL, 2004a) traz um conjunto de diretrizes para a formação do sistema inclusivo com vistas ao atendimento das pessoas em suas individualidades. O Decreto N° 5296, de 02 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004b) regulamenta duas leis: a Lei Nº 10048 de 8.11.2000 e a Lei Nº 10098 de 19.11.2000. As duas conferem a prioridade de Atendimento às Pessoas com Deficiência e a outra estabelece normas para acessibilidade e/ou mobilidade reduzida. O Decreto Nº 5626/05 (BRASIL, 2005b) regulamenta a Lei Nº 10436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000 quanto à formação de tradutores e intérpretes de libras. Ainda naquele mesmo ano foram instituídos, a partir das parcerias dos estados, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S), cujo intuito era ofertar formação continuada aos professores e que terá destaque na Unidade IV deste módulo. 31 No ano de 2007 foi lançado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2007a) (PNEDH) enquanto resultado dos compromissos do Estado na perspectiva de oferecer suporte para que os direitos humanos sejam respeitados e valorizados a partir do envolvimento dos três poderes do Estado: legislativo, judiciário e o executivo. O Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais foi instituído através da Portaria Normativa Nº 13 de 24 de abril de 2007 (BRASIL,2007b). Aquele documento traz as Orientações para a institucionalização da Oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em Salas de Recursos Multifuncionais, implantadas nas escolas regulares. No ano seguinte, a Portaria Nº 1328, de 23 de setembro de 2011 (BRASIL, 2011a) institui a Rede Nacional de Formação Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública. O Plano de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, 2007c), embora não seja um documento voltado exclusivamente para a Educação Especial e Inclusiva traz em seu texto a inclusão de pessoas com deficiências. Por sua vez, o Decreto Nº 6253, de 13 de novembro de 2007 (BRASIL, 2007d) vem dispor sobre a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), além de regulamentar a Lei No 11494, de 20 de junho de 2007, e dá outras providências. No mesmo ano, na valorização docente foi aprovado o Decreto N 6253, de 13 de novembro de 2007 (BRASIL 2007e) e ainda regulamenta a Lei No 11494, de 20 de junho de 2007. No Capítulo IV retomaremos com mais propriedade essa discussão. O Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação foi implementado pelo Decreto Nº 6094, de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007f). No ano seguinte, o Decreto Nº 6571, de 17 de setembro de 2008 (BRASIL, 2008) faz disposição do AEE, regulamenta um dos artigos, 60, da LDB e ainda acrescenta dispositivo ao Decreto No 6253, de 13 de novembro de 2007, todavia foi revogado pelo Decreto Nº 7611, de 17 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011b) que dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. 32 Com o Decreto N° 6949/2009 (BRASIL, 2009a) fica promulgada a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. As Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação Básica, apesar de já apontada em outros documentos, é aprovada, oficialmente, pela Resolução CNE/CEB, 04/2009 (BRASIL, 2009b), endossado pelo Parecer CNE/CEB Nº 13/2009 (BRASIL, 2009c) que institui novas Diretrizes Operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial ao passo que a Resolução CNE/CEB N°04/2010 (BRASIL, 2010) define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Ainda que revogado em 2017, o Decreto N°7084/2010 dispôs sobre os programas de material didático além de outras providências. Revogou o decreto anterior de Nº 9099, de 18 de julho de 2017 (BRASIL, 2017a) que dispõe sobre o Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Em face da realidade das necessidades didático-pedagógicas que as crianças dentro do espaço da escola, foi proposto o Projeto de Lei 8014-C/2010 (BRASIL, 2010b) que faz uma alteração no Art. 58 da LDB e institui a figura do cuidador como suporte ao aluno com deficiência/necessidades pessoais. O Programa Escola Acessível traz em seu escopo a possibilidade de articulação entre todos os sistemas de forma que a educação seja ofertada universalmente e possa acontecer a inclusão plena. É possível encontrar em seu documento norteador o texto que dá conta de que o mesmo é uma ação das instituições educacionais. Foi instituído pelo Decreto N° 7612/2011 (BRASIL, 2011c). Em um recorte temporal mais recente temos a Lei Nº 12.764/2012 (BRASIL, 2012) que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, a Lei Nº 13.005/2014 (BRASIL, 2014), que institui o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Lei Nº 13146 de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015) - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Ainda neste mesmo caminho temos a Portaria Normativa 33 Interministerial Nº 18 de 24 de abril de 2017 (BRASIL, 2017b) que institui o Programa BPC na escola. Trata-se de uma parceria entre ministérios para acompanhar o desenvolvimento e rendimento da criança no espaço escolar. Não têm sido poucas as leis que dão conta da busca incessante do Estado em garantir os direitos das pessoas com deficiências, porém é preciso que se analise que muitos desses não chegaram a ser efetivados em sua totalidade e que por vezes burocratiza demais quando deveria facilitar e otimizar. 34 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA 3 Conhecimentos Distinguir, dentro dos conhecimentos das áreas de Educação e Saúde, as diferentes manifestações da deficiência e como estas são vistas e tratadas na escola e na sociedade. Habilidades Identificar os desafios e possibilidades da pessoa com deficiência no âmbito social e escolar. Refletindo sobre a postura do Pedagogo no Atendimento educacional especializado e no processo de inclusão escolar e social considerando a diversidade humana. Atitudes Reconhecer os tipos de deficiência e suas características e implicações no contexto escolar. Reconhecer o Atendimento Educacional Especializado (AEE) como suporte que garante a inclusão dentro e fora da sala de aula regular, bem como compreender seu funcionamento. 35 Introdução Nesta unidade procuraremos dialogar sobre as deficiências enquanto situação anatomofisiológica e seus impactos dentro do espaço escolar. Os conceitos preliminares sobre deficiência e educação especial e inclusiva já foram expostos no primeiro capítulo. Na ocasião pretendemos refletir sobre como a escola inclui considerando a diversidade como algo inerente ao homem, além de compreender como o AEE é reconhecidamente um suporte que garante a inclusão dentro e fora da sala regular. Tipos e características da deficiência e suas implicações no contexto escolar É fato que as deficiências se apresentam em suas múltiplas facetas e que cada indivíduo responde, organicamente, à forma como foi acometido pelas mesmas, cada um dependendo dos estímulos ambientais, culturais e assistenciais terão suas limitações ou potencialidades desenvolvidas. Esclareçamos de imediato que este capítulo não tem por fim apontar todas as deficiências e detalhar todo o seu processo anatomofisiológico ao olhar da saúde, mas de apresentar as definições segundo Decreto N. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 de algumas deficiências. Não ultrapassaremos os limites das definições, entendendo que há muitas deficiências e que poderíamos incorrer no risco de esquecer algumas. Saiba mais no link a seguir: http://www.mpgo.mp.br/portalweb/hp/41/docs/diferentes_deficiencias_e_seus_concei tos.pdf 36 As deficiências são classificadas em: Deficiência Física Para dialogar sobre a deficiência física é necessário compreender como se dá a organização sistêmica do corpo humano que é coordenado pelo Sistema Nervoso Central (SNC) através de inúmeros impulsos nervosos que organizam e administram os movimentos dos membros inferiores, superiores, tronco e parte da cabeça. Uma vez que o (SNC) não consegue se adaptar às diversas situações do ambiente, tendo sua plasticidade comprometida, compromete, também, os movimentos. Esse comprometimento dos movimentos, denominado deficiência física pode ser: [...], alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; [...]. (BRASIL, 2004, p. 1) Uma deficiência física pode não ser exclusivamente por falhas no (SNC), mas pode ser ainda por uma amputação, por uma má formação ou até mesmo consequência de alguma lesão ou trauma físico, pode ser ainda por complicações adversas no trabalho de parto como a dificuldade de passagem no canal de parto, canal de parto estreito para o feto, uso de fórceps, ou ainda por lesões do (SNC), inclusive o sofrimento fetal (BERSH; MACHADO, 2007). As deficiências podem ser temporárias ou permanentes; progressivas, regressivas ou estáveis; intermitentes ou contínuas. As deficiências não têm uma relação causal com a etiologia ou com a forma como se desenvolveram. As deficiências podem ser parte ou uma expressão de uma condição de saúde, mas não indicam, necessariamente, a presença de uma doença ou que o indivíduo deva ser considerado doente. (OMS, 2004, p. 15- 6). Percebamos que, pela definição do Código Internacional de Funcionalidade (CIF) (2004) fica compreensível que os ambientes têm diretas influências nas 37 deficiências, pois um acidente, por exemplo, pode provocar uma deficiência em decorrência de uma amputação e esse agravo pode trazer outros agravos. Partindo-se do pressuposto que o ser humano apreende e absorve o mundo, ou seja, apropria-se do objeto do conhecimento (PIAGET, 2006) através do corpo herdado especularmente, e principalmente através dos órgãos sensoriais, se torna limitante a adaptação e o acesso ao conhecimento numa escola onde as deficiências são tratadas sem os devidos cuidados. Assim, para além do cuidado com a acessibilidade dos espaços físicos que podem contribuir para a entrada do aluno na escola, esta deve preocupar-se com a permanência destes proporcionando atendimento adequado as suas necessidades sem perder de vista os estímulos fundamentais para a superação das dificuldades apresentadas em decorrência das suas deficiências físicas ou sensoriais. Muitas esperam que a criança se adapte a escola, quando seria o contrário a escola precisa modificar-se para adaptar todos os alunos e todas as formas de aprender. Deficiência Auditiva A surdez enquanto deficiência pode se caracterizar como deficiência física, no entanto é também sensorial, uma vez que a definição é ampla e dá conta do funcionamento parcial ou incompleto de alguma estrutura do corpo. Achados da literatura descrevem a surdez como “[...] redução ou ausência da capacidade para ouvir determinados sons [...].” (MONTEIRO; SILVA; RATNER, 2017). O Decreto N. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 denomina “[...] deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz [...].”. (BRASIL, 2004, p.2). Damázio (2007) já ratifica que as pessoas que possuem deficiência auditiva podem apresentar severas complicações dentro do espaço escolar, muito embora, de certa forma, não tenham grandes alterações na sua vida cotidiana. Isto pode acontecer pelo fato de que a linguagem é um marco no desenvolvimento do sujeito, constituindo-se instrumento fundamental para interação, 38 comunicação e aprendizagem (PIAGET, 2006; VYGOTSKY, 1984). Para o surdo, dependendo da comunidade ou escola em que este esteja inserido, a comunicação e interações podem ficar comprometidas em um ambiente onde as pessoas utilizam outra forma de se comunicar. O professor por sua vez, tem a comunicação como principal instrumento didático para promover o ensino aprendizagem, os demais recursos são secundários. Se o ‘ensinante’ não conseguir comunicar com precisão o objeto do conhecimento ao ‘aprendente’ torna-se impossível de assimilar, comprometendo assim a aprendizagem. Assim, de acordo com o Decreto Federal nº 5626, de 22 de dezembro de 2005 os estudantes com deficiência auditiva possuem o direito a uma educação bilíngue nas classes regulares. Ficando a cargo das instituições de ensino oferecer condições para que os alunos aprendam a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua e a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita como segunda língua. É aconselhável que os alunos surdos adquiram a Língua Brasileira de Sinais o mais cedo possível, preferencialmente na escola e na interlocução com outros surdos ou com usuários de Libras. O que promoverá o acesso e permanência destes em ambiente de aprendizagem, participando, interagindo e possibilitando a inclusão escolar e social de fato e direito. Deficiência Visual A visão é a forma mais dinâmica com que o sujeito interage com o meio, com os espaços e com as culturas. É através dela que se consegue registrar na memória interna imagens mentais que nos permitem rememorar e reviver situações do passado. A sua perda não apenas interfere no desenvolvimento humano como também em seu desenvolvimento social. No Decreto N. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 aponta a cegueira como: [...], cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em 39 ambos os olhos for igual ou menor que 60 o ; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. [...]. (BRASIL, 2004, p.2) Há ainda outras definições para a cegueira como “[...] alteração grave ou total de uma ou mais das funções elementares que afeta de modo irremediável a capacidade de perceber cor, tamanho, distância, forma, posição, ou movimento em um campo mais ou menos abrangente.” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 15.). Enquanto causas, pode-se dividir em dois tipos, a cegueira congênita que acompanha o sujeito desde o nascimento e a cegueira adquirida, aquela que acontece por diversos motivos externos e por vezes até pode estar associado a outras deficiências como a surdez e por outras vezes podem se severas ao ponto da necessidade de o uso de próteses. Enquanto tipos podem ser classificados em cegueira, aquela com perda total do campo visual ou ainda a baixa visão, quando o campo visual é reduzido, mas a pessoa tem visualidade parcial. Nos dois casos a pessoa poderá ter sua mobilidade reduzida de acordo com o agravo da deficiência. Existem casos de crianças com baixa visão que iniciam a escolarização sem terem diagnóstico e que fracassam nos estudos por não conseguirem cumprir as demandas diárias que envolvem ler e escrever sinais, grafemas etc. sem que pais ou professores percebam suas limitações confundindo com problemas de aprendizagem de outra natureza. Vale ressaltar, que embora o aprendente apresente cegueira ou baixa visão, sua cognição e aprendizagem estão ativas e o ensino aprendizagem poderá acontecer por meio de estímulos aos demais órgãos sensoriais (audição, tato, etc.). O que demanda do professor um olhar atento às especificidades do estudante incluindo em seu planejamento diário e atividades gerais da escola, buscando formas diversas de incluí-lo na participação de todos os contextos de aprendizagem e convivência com os grupos. 40 Deficiência intelectual (mental) O campo das deficiências intelectuais/mentais é um dos mais complexos, de forma que defini-lo é ter que caminhar, historicamente, em como se tem buscado uma denominação para o mesmo.A exemplo disso se teve outrora os Testes de Quociente de Inteligência (QI) para determinar o nível de aprendizagem e desenvolvimento das pessoas. Não diferente, o Código Internacional de Doenças (CID – 10) até codifica o retardo mental, todavia não tem uma definição precisa. As teorias de aprendizagem tentam diagnosticá-la e defini-la, mas sem um conceito coeso, conciso (GOMES et al., 2007). Ainda o mesmo Decreto N. 5.296 de 2 de dezembro de 2004 traz as definições de deficiência mental e suas associações. Segundo Moreira (2011) desde o ano de 2006 que os órgãos de saúde têm buscado trabalhar os conceitos e substituiu, ainda naquele ano, o termo retardo mental por desabilidade intelectual, ficando aqui no Brasil a terminologia definida como deficiência intelectual (DI). Os conceitos não conseguem dar conta da dimensão das deficiências mentais por sua vasta abrangência em todos os aspectos do ser humano, não sendo possível associar sua etiologia apenas a questões físicas, mas também a questões ambientais, sociais e suas influências no sujeito. As causas da (DI) são variadas e complexas, desde más formações (genéticas envolvendo síndromes ou não), até as complicações na gestação, parto (perinatais) e primeiros anos de vida, desnutrição severa, contaminação por metais, tudo isto comprometendo o desenvolvimento intelectual pleno da criança. No geral, as crianças com (DI) crescem tendo que lidar com inúmeras dificuldades nas atividades mais simples da vida diária. Apresentam em sua maioria comprometimentos na comunicação, audição, memória, coordenação motora, concentração, e dificuldade de aprendizado. Na escola, e na vida social a pessoas com deficiência intelectual costumam apresentar dificuldades para resolver problemas, compreender ideias abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer relações sociais, compreender e obedecer a regras, e realizar atividades cotidianas 41 como, por exemplo, as ações de autocuidado. Apresentam reduzida capacidade argumentativa para expressar o que pensam e sentem. Os prejuízos estão mais relacionados à vida social e escolar, no entanto é possível com estimulação precoce e uma atenção redobrada à educação, precisam ser continuamente estimulados para facilitar o processo de inclusão e fazer com que a pessoa se desenvolva satisfatoriamente, de forma autônoma, participando da vida em sociedade. Assim, compete à comunidade escolar, cuidar de sua adaptação e permanência nos estudos, tornando as aprendizagens significativas e adaptadas a seu nível de desenvolvimento. Conseguindo incluir-se na escola conseguira aprender no seu ritmo e se tornará mais fácil sua inclusão social. A inclusão escolar e social na diversidade Quando nasce um bebê com deficiência a reação dos pais varia de acordo com o conhecimento ou não da deficiência, no entanto em todos os casos é comum um misto de angústia e preocupação sobre o desenvolvimento e o futuro deste na vida em sociedade. Alguns pais imersos em medo, culpas e inseguros, tendem a proteger demasiadamente o (a) filho (a) temendo problemas de saúde em decorrência da fragilidade do bebê, fugindo dos comentários e preconceitos de parte da sociedade que não aprendeu ainda a conviver com a diversidade, ou simplesmente não esperam que o bebê desenvolva-se plenamente em virtude da deficiência. Estas atitudes limitam os estímulos necessários ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social de qualquer criança, principalmente aqueles que já nasceram em ‘desvantagem’ por conta de algum tipo de deficiência. Estudiosos do desenvolvimento afirmam que é principalmente na família que a criança com deficiência terá os seus primeiros contatos e possibilidades de estímulos para um desenvolvimento pleno. Através das relações positivas vivenciadas encontrarão a base fundamental para o desenvolvimento emocional e 42 psíquico que contribuirão na sua formação de identidade, interação e participação da vida em sociedade. A família não deve esquecer que, independentemente do bebê apresentar algum defeito biológico, é necessário saber que o primeiro mês de vida de um bebê é um momento de adaptação da família à nova realidade, é um tempo necessário para que se possa conhecer um pouco a criança que chegou, portanto, curta demais este momento, faça-se e faça-o feliz. (ALVES 2007, p. 36). Psicólogos e estudiosos afirmam que ao saber que o filho tem uma deficiência os pais dificilmente aceitam com naturalidade, pois representa uma perda do filho ‘saudável’ que foi planejado e não aconteceu como previsto. As reações são as mais diversas, rejeição, sentimento de culpa, revolta, onipotência, busca de justificativas não científicas. Muitas destas reações acabam trazendo alguns conflitos na família e bastante sofrimento. A fase de aceitação dos pais é demorada e esse processo de aceitação pode prejudicar o desenvolvimento da criança minimizando as chances de estímulos para a inclusão escolar e social. Muitas famílias acabam se recolhendo do convívio social, guardando as crianças em casa e protegendo ao extremo, impedindo-as de conviverem com estímulos que com certeza colaborariam para um desenvolvimento maior. Outras seguem uma linha contrária, procuram leis, direitos de assistência, especialistas que irão atuar na estimulação precoce desde os primeiros dias de vida e todas estas iniciativas serão preponderantes para a potencialização da aprendizagem informal e formal da pessoa, possibilitando o acesso à inclusão escolar e social. Para os estudiosos do desenvolvimento a família constitui-se sistemicamente o primeiro espaço de interação e aprendizagem do sujeito. Para Vygotsky (1984) constituímo-nos sujeitos quando mergulhamos na cultura produzida pela humanidade através da aprendizagem construída na interação com os outros sujeitos. É inquestionável a importância da família na vida de qualquer criança em desenvolvimento, principalmente para quem nasce com necessidades educacionais especiais. A Pessoa com Deficiência precisa que a família, apesar das dificuldades iniciais em compreender e aceitar suas limitações deposite confiança e acredite que 43 ela pode ser capaz de enfrentar desafios, para isto o afeto, a aceitação incondicional, a busca de informações, estudo por parte dos pais é primordial para propiciarem um melhor desenvolvimento. Depois da família a grande porta de abertura para o acesso a inclusão e desenvolvimento da pessoa com deficiência encontra-se na escola. A educação formal acontece de fato quando a criança começa frequentar a escola e isto deve ser iniciado no tempo convencional estabelecido para as demais crianças, desde que sua saúde física não apresente complicações de risco a sua integridade. É nesse espaço que ela vai iniciar o processo aprendizagem e fortalecer sua convivência social em interação com outras crianças, devendo ser matriculada em escolas de ensino regular, de rede pública ou particular, mesmo estando com atendimento especializado, pois este não substitui o ensino em salas de aulas regulares onde deverá ser trabalhada a inclusão. A educação formal ministrada na escola é um processo de desenvolvimento muito importante na formação de todos os indivíduos. A escolarização tem como principal objetivo que os alunos aprendam a aprender e que saibam como e onde buscar a informação necessária. (VOIVODIC, 2004, p.58). Embora a criança com deficiência aprenda de maneira mais lenta é importante ser exposta e estimulada aos processos convencionais de aprendizagem como ler e escrever
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