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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI EDUCAÇÃO INCLUSIVA GUARULHOS – SP 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA ............................................................... 5 2.1 As pessoas com deficiência e o tratamento dado a elas ao longo da história .... 5 2.2 Da exclusão à inclusão ....................................................................................... 9 2.3 As pessoas com deficiência e as diferentes nomenclaturas utilizadas ao longo da história ......................................................................................................... 12 3 DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL ............................. 15 3.1 História das políticas em educação especial .................................................... 15 3.2 Diretrizes sobre educação inclusiva no Brasil ................................................... 18 3.3 Os desafios das escolas brasileiras diante da inclusão escolar ....................... 20 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..................................................................................... 23 4.1 Marcos históricos da educação inclusiva .......................................................... 24 4.2 Características da proposta de educação inclusiva .......................................... 27 4.3 Tecnologias e instrumentos na educação inclusiva .......................................... 29 5 SUPERDOTAÇÃO: CARACTERÍSTICAS E COMO PROMOVER O POTENCIAL DOS ALUNOS .................................................................................................. 32 5.1 Auxílio a estudantes com altas habilidades no desenvolvimento do seu potencial 35 6 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA .................................................................................. 37 6.1 As políticas públicas e a implementação da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva ............................................... 37 6.2 Objetivos da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva ........................................................................................... 41 6.3 Diretrizes e normas para a implantação de sistemas educacionais inclusivos . 42 7 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO .......................... 44 7.1 Importância da avaliação escolar como processo de melhoria contínua .......... 44 3 7.2 Diferentes metodologias avaliativas .................................................................. 46 7.3 Pesquisa-ação como metodologia .................................................................... 49 8 PARCERIA ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA: EDUCAÇÃO INCLUSIVA .................. 51 8.1 As funções da família na educação .................................................................. 52 8.2 Ações de participação da família na educação inclusiva .................................. 53 8.3 A interação entre a escola e a família ............................................................... 56 9 INTRODUÇÃO À PEDAGOGIA BILÍNGUE .......................................................... 58 9.1 Princípios da pedagogia bilíngue ...................................................................... 58 9.2 O professor como mediador da aprendizagem na perspectiva da diferença cultural .............................................................................................................. 64 9.3 A importância da aprendizagem da língua brasileira de sinais por parte da sociedade ......................................................................................................... 67 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ......................................................................................... 70 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ........................................................................ 70 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A construção de uma trajetória da exclusão para a inclusão é processual e se dá principalmente por meio da educação — de uma educação para a inclusão. Desse modo, é importante conhecer a deficiência ao longo do tempo e da história, especialmente no que concerne ao desenvolvimento de práticas inclusivas. 2.1 As pessoas com deficiência e o tratamento dado a elas ao longo da história Ao longo da história da humanidade, as pessoas com deficiência foram vistas das mais variadas formas, acompanhando a evolução do pensamento humano característico de cada época. Elas foram sujeitadas a situações que iam desde uma visão divina sobre as suas condições até métodos de correção e cura por meio de torturas e sacrifícios. Dessa maneira, as pessoas com deficiência ficaram à mercê das resoluções alheias, discriminadas e pouco ou nada compreendidas ao longo da história. Fonte: www.institutoitard.com.br Já nos tempos mais remotos, em civilizações arcaicas, é possível encontrar registros sobre os métodos adotados para o manejo com as pessoas com deficiência, levando muitas vezes à sua aniquilação. Como exemplo, podemos citar Esparta, onde, de acordo com a legislação instaurada, as crianças nascidas com alguma deformidade ou diferença anatômica não eram consideradas pessoas e, portanto, eram levadas ao alto de montes e atiradas de lá. Imaginava-se que essas crianças deveriam ser imediatamente eliminadas por representarem impedimentos para a 6 procriação de sujeitos que se encaixavam em um padrão de “normalidade” (LORENTZ, 2006). Métodos semelhantes são encontrados em estudos antropológicos sobre tribos indígenas de diversas regiões do planeta, demonstrando visivelmente um estigma criado em relação àqueles que possuíam alguma diferença. Mesmo pessoas nascidas com um padrão anatômico aceitável ou não muito discrepante dos demais, ao desenvolverem e demonstrarem qualquer dificuldade, eram afastadas do grupo e deixadas à própria sorte em locais afastados, em meio à florestas. Demonstra-se assim que as pessoas com deficiência carregam consigo, ao longo de toda a história da civilização, marcas e estigmas engendrados para excluí-las e segregá-las, sendo essas condutas justificadas por ideias hegemônicas e preconceituosas (GOFFMAN, 1978). Tais métodos eram justificados por códigos e escritos que relatavam os modos de viver da época, conforme os registros de Aristóteles e Platão, sobre legislações ideais na Antiguidade Clássica. Nesses registros, fica claro que os direitos individuais não eram reconhecidos e, portanto, eram colocados em segundo plano em relação ao direito público coletivo. Dessa forma, o Estadotinha o direito de não tolerar as deformidades ou monstruosidades de seus cidadãos (COULANGES, 2003). As religiões contribuíram para o entendimento de que as pessoas com deficiência deveriam ser vistas como pessoas em uma situação passível de cuidado e atenção, ainda que essa perspectiva tenha seus aspectos excludentes, por meio da criação de instituições como asilos e hospitais, onde as pessoas acabavam ficando confinadas sob a alegação de que deveriam receber assistência. Tal perspectiva contribuiu para um olhar mais orgânico sobre as deficiências, inserindo a ideia de que a pessoa com deficiência poderia ser curada, tratada ou desenvolvida de alguma maneira que a aproximasse de um padrão de normalidade, atribuindo funcionalidade e independência aos sujeitos (PIOVESAN, 2012). No decorrer de todos os momentos históricos, da civilização mais arcaica até bem recentemente, há registros de condutas excludentes e exterminadoras de pessoas com deficiência. Esses indivíduos foram eliminados por meio de assassinatos, abandonados sem qualquer cuidado, encarcerados e expostos a experimentos e pesquisas desumanas — como visto em relatos da Segunda Guerra Mundial (LORENTZ, 2006). 7 O período entre guerras da primeira metade do século XX e a escassez da mão de obra qualificada oportunizaram a necessidade de educar e desenvolver, de maneira a construir a autonomia e as competências das pessoas com deficiência. Além disso, também possibilitaram o surgimento de classes especiais de educação dentro de escolas regulares, bem como o desenvolvimento de centros de reabilitação para as mais variadas deficiências. De acordo com Canziani (1995), foi somente a partir da segunda metade do século XX que as pessoas com deficiência puderam escapar da concepção de invalidez e ser vistas como pessoas aptas ou inaptas — ideia que coincidiu com a expansão do modelo econômico capitalista. Conforme indica Lorentz (2006), a educação especial começou a ser delineada por meio do assistencialismo de clínicas e locais para o desenvolvimento das pessoas com deficiência. Nesses espaços, era priorizada a necessidade de ajustar, moldar, condicionar e, ainda, almejar a cura das pessoas com deficiência, para somente depois promover a sua inserção na sociedade. Nesse sentido, mesmo quando começaram a surgir classes especiais dentro das escolas regulares, estas ainda tinham o intuito de segregar, pois se compreendia, nessa época, que era preciso preparar a pessoa com deficiência para o convívio social, para, numa fase posterior, permitir o seu convívio com a sociedade. A década de 1980 foi um marco importante para as pessoas com deficiência, em especial para a construção de considerações relacionadas à sua educação. O ano de 1981 foi declarado como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente (como era denominada a pessoa com deficiência nessa época) e deu o primeiro pontapé para as tessituras da efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência. Esse fato produziu nas pessoas com deficiência consciência de si e de suas condições e potencialidades, possibilitando, a partir disso, uma organização política (FIGUEIRA, 2008). Somente em 1986, a expressão “alunos excepcionais” foi substituída por “alunos portadores de necessidades especiais”, conforme Bueno (1993). Nesse sentido, a partir dessa apropriação das pessoas com deficiência, a sociedade passou a desenvolver a sua aceitação e respeito, buscando superar a ideia de que esses indivíduos deveriam ter superado as suas diferenças, para somente depois se inserirem no convívio social. 8 Aos poucos, em meio ao crescente interesse de diversos estudiosos para a construção de teorias da educação e a consciência de uma impossibilidade de cura para muitas deficiências, foi se potencializando a necessidade de abertura de oportunidades para as pessoas com deficiência, para a construção de seus direitos basilares a partir de seus próprios discursos. Dessa maneira, a tolerância à pessoa com deficiência também foi consubstanciada na proteção e no paternalismo da sociedade em relação esse grupo de pessoas, por meio de declarações como a de Salamanca, em 1994, sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais, e as convenções internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) de 1996 e 1997. Em essência, as lutas pelos direitos das pessoas com deficiência implicaram fortemente na construção e no delineamento da educação especial. Contudo, apesar de todo o embasamento legislativo e da conquista dos direitos das pessoas com deficiência, ainda se contemplava a ideia de que era a pessoa com deficiência que precisava se adaptar à sociedade, e não a sociedade que lhe propiciaria meios de acessibilidade (PIOVESAN, 2012). Fonte: www.educamundo.com.br Assim, as pessoas com deficiência foram percebidas como pessoas somente na história bem recente, ao fim do século XX e início do século XXI. Todavia, ainda são pouco escutadas e contempladas de acordo com as suas singularidades, sendo muitas vezes encaixadas em códigos que só visualizam a doença, beirando a negação da existência de uma pessoa única e pluralizada em sua subjetividade (SAVIANI, 1992). O Quadro 1 apresenta as diferenças entre os conceitos de inclusão, exclusão e segregação. 9 2.2 Da exclusão à inclusão No Brasil, conforme Saviani (1992) a situação da educação ainda apresenta como agravante o reflexo da carência das políticas públicas. Em outras palavras, a educação das classes mais baixas era inexistente ou precária, pois as minorias eram usadas como mão de obra em zonas rurais ou fábricas. Dessa forma, as pessoas com deficiência que não tinham grande dificuldade de locomoção eram condicionadas ao trabalho desde muito cedo, deixando passar despercebidas muitas das suas necessidades educacionais especiais. A pessoa com deficiência passou (e ainda passa) por estigmas relacionados à sua aparência ou apresentação, à sua maneira de se comportar e de pensar ou reproduzir o seu pensamento por meio da comunicação. Pensando no sujeito em integração com o meio, a pessoa com deficiência sofre de maneira mais significativa as carências do contexto no qual está inserida. Ela é atingida de forma que impede ou limita o seu desenvolvimento, conforme as vulnerabilidades às quais está exposta, sejam elas econômicas (com situações de pobreza e miséria), culturais (acesso restrito à educação), sociais (pelas violências), entre outras. As condutas excludentes infelizmente são reflexo de uma formação carente de humanidade da nossa sociedade e das políticas públicas. Ainda pouco tolerantes com as diferenças e diversidades, as instituições de ensino equilibram-se entre o manejo com o público de pessoas com deficiência e das sem deficiências. Embora 10 essa realidade esteja aos poucos se transformando, ainda há muitas pessoas com deficiência que se veem excluídas da sociedade. A educação especial de desenvolveu de maneira a considerar as peculiaridades educacionais de cada sujeito e teve seu início por meio de turmas de classe especial. Nessas classes, as pessoas com deficiência conviviam entre si, de acordo com a sua idade e as fases do desenvolvimento, em uma instituição de ensino regular com outras turmas de classes regulares. Essa modalidade educacional ofertava espaço para que as turmas ocupassem um mesmo território, mas sem que houvesse uma integração entre os alunos, impossibilitando o convívio mais efetivo entre as pessoas com e as sem deficiência, salvo em momentos de chegada ou partida — ainda que algumas instituições realizassem até mesmo esses momentos em horários separados (BUENO, 1993). Fonte: www.fundacaosmbrasil.org A educação especial pretendia, dessa maneira, proteger a pessoa com deficiência e ainda oportunizar o seu desenvolvimento. Todavia, essa proteçãoficava à sombra de uma segregação ou exclusão e, por esses motivos, essa modalidade de educação especial não é mais mantida na atualidade. Outra modalidade da educação especial foi a criação de escolas específicas e exclusivas para as pessoas com deficiência. Hoje essas instituições ainda existem, mas são raras, e visam o pleno desenvolvimento educacional das pessoas com deficiência, possibilitando o convívio 11 com os seus pares e estimulando a socialização. Por contarem com um espaço mais amplo do que somente uma sala, como ocorria nas instituições com classes especiais, as pessoas com deficiência podem ter acesso a uma estrutura com adaptações arquitetônicas e acessibilidade plena, podendo exercer livre circulação, exploração e apropriação dos espaços. Desde os anos 1990, como explica Sassaki (1997), existe um esforço da sociedade para que se possibilite a efetiva inclusão das pessoas com deficiência. A partir desse ideal, construiu-se a ideia da educação inclusiva, na qual pessoas com deficiência convivem na mesma turma de educação regular, mas com ensino adaptado às suas singularidades, mediante a consecução de projetos de desenvolvimento específicos para cada sujeito. Essa acepção favoreceu transformações na mentalidade social, não só com relação às famílias das pessoas com deficiência, como também com todas as pessoas com deficiência (SASSAKI, 1997). No entanto, a trajetória inclusiva da prática educativa encontrou alguns percalços. As pessoas com deficiência precisam ser compreendidas em sua individualidade, e algumas necessitam de atenção integral e exclusiva de um agente educador. O agente educador como mediador do processo educacional pode atuar de múltiplas maneiras, podendo facilitar o processo e estimular o desenvolvimento. No entanto, também pode causar prejuízos, como pressupor condutas vitimizadoras e limitantes das pessoas com deficiência ou ainda inibir o convívio entre os pares. A educação inclusiva em instituições regulares de ensino precisa ser acompanhada caso a caso, com todas as considerações singulares e subjetivas implicadas no processo educativo de cada sujeito (PIOVESAN, 2012). A educação inclusiva estimula o olhar sobre a diversidade social, que passa a ser objeto de aceitação e desejo em um novo modelo de inclusão social. Assim, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, deve haver a aceitação da diversidade social como um aspecto do direito à igualdade, sobretudo nas atuais sociedades multiculturais, nas quais a diversidade é a tônica social medular (ASSIS; POZZOLI, 2005). Uma consideração bem importante para a educação da pessoa com deficiência é que ela deve, necessariamente, ser agente condutor de sua autonomia, e não mero recebedor passivo de prestações alheias (FIGUEIRA, 2008). Em resumo, 12 a pessoa com deficiência deve ser protagonista e condutor de seu processo de inclusão. Assis e Pozzoli (2005) inserem que a educação deve, preferencialmente, ser vista como um todo, entre as pessoas com deficiência e as pessoas sem deficiência. Ela necessita de uma integração verdadeira desde a sua base, na educação infantil, estimulando as virtudes, a tolerância, a empatia e o apoio mútuo, assim como promovendo e desenvolvendo a coletividade e a equidade. Conforme Lorentz (2006), a mera tolerância da pessoa com deficiência não proporciona a dignidade humana. A verdadeira inclusão é proveniente do tratamento de respeito pleno, da admiração e do sentimento de amor entre as pessoas, com base na igualdade e na aceitação plena. 2.3 As pessoas com deficiência e as diferentes nomenclaturas utilizadas ao longo da história A inclusão social se refere a um processo no qual a sociedade se adapta para poder incluir em seus sistemas sociais as diferenças e diversidades apresentadas pelos sujeitos, entre os quais estão as pessoas com deficiência, ao mesmo tempo em que estes se preparam para assumir os seus papéis sociais. Para Sassaki (1997), a inclusão social se configura a partir de uma cooperação entre pessoa com deficiência e sociedade, com o objetivo de buscar soluções viáveis para problemas mútuos e estabelecer equidade de oportunidades e relações. Assim, para se estabelecer meios em que sejam oportunizadas trocas íntegras e equânimes entre os membros da sociedade, faz-se necessária a problematização de estigmas e do engessamento de ideias que limitem a compreensão do outro em sua singularidade. Nesse sentido, o modo como as pessoas são vistas e nomeadas reflete a sua integridade, o respeito, a atuação e apropriação de uma efetiva inclusão social. As terminologias designadas para nomear as pessoas com deficiência acompanharam o desenvolvimento de sua compreensão e respeito ao longo da trajetória histórica da sociedade. Assim, esses indivíduos já foram apontados como aleijados, retardados, mongoloides excepcionais, entre outros. Excepcional, por exemplo, foi o termo utilizado nas décadas de 1950, 1960 e 1970 para se referir às pessoas com deficiência — especificamente a deficiência intelectual. No entanto, com 13 o desenvolvimento de estudos e práticas educacionais referentes às altas habilidades, nas décadas de 1980 e 1990, esse termo passou a se referir a pessoas com inteligência lógico-matemática abaixo da média, ou excepcionais negativos, assim como a pessoas com inteligências múltiplas acima da média, ou excepcionais positivos (SASSAKI, 2003). Fonte: www.pt.dreamstime.com Por fazer inferências pejorativas e discriminatórias, tais termos são raramente usados e não são recomendados. “Deficiente” é outro termo pejorativo reconhecidamente associado à incapacidade e ineficiência, que não deve ser utilizado. Já o termo “pessoa com necessidades especiais” engloba um conceito muito amplo, pois compreende idosos, gestantes, obesos e outras pessoas que possam ter dificuldade para realizar alguma atividade. Por contemplar um grupo muito vasto, considerando que todas as pessoas possuem alguma necessidade especial em algum nível, não é recomendado para se referir especificamente às pessoas com deficiência (SASSAKI, 2003). 14 Outra terminologia bastante utilizada entre 1986 e 1996, como refere Sassaki (2003), foi a expressão “portador de deficiência”. Todavia, não é adequado o uso desse termo, já que a deficiência não é algo que possa ser portado, pois portar algo implica a possibilidade de não portar, se assim se desejar, como uma bolsa ou outro objeto. O termo mais adequado é, portanto, “pessoa com deficiência”. Sassaki (2003) orienta que, ao proferir o termo “pessoa com deficiência”, a pessoa se posiciona antes da deficiência. Essa simples inferência destaca que o sujeito, com as suas características singulares, é mais importante do que a deficiência. Assim, é correto afirmar que existem pessoas com deficiência auditiva, pessoas com deficiência visual, pessoas com deficiência física, pessoas com deficiência intelectual. É importante destacar que, para haver inclusão, as pessoas e a sociedade como um todo — e o reflexo de seu espírito coletivo — devem preferencialmente se propor à mudança, a ponto de compreender que, para aceitar as diferenças e oportunizar a expansão da diversidade, faz-se imprescindível estar atento às formas de comunicação. Dessa forma, elas se colocam a favor de construções e trocas permanentemente mútuas. Por meio dessa relação plena entre as pessoas — as suas diferenças e diversidades, os seus modos de ser e existir singulares — e a sociedade, a criação de oportunidades torna-se a base para se estabelecer o equilíbrio social. É por meio dela que se asseguram os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa enquanto sujeito individual e coletivo, como está previsto na Constituição. 15 3 DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL A educação é, de forma geral,um importante alicerce da vida social. Desse modo, torna-se uma aliada valiosa na perspectiva da inclusão, especialmente pela transmissão dos valores culturais, auxiliando o desenvolvimento da cidadania e a construção de saberes. A escola pode, dessa maneira, desempenhar uma função social transformadora na vida dos indivíduos — como agente de inclusão. 3.1 História das políticas em educação especial No Brasil, a história das políticas em educação especial tem seus primeiros registros no Rio de Janeiro, na época do Império, quando a cidade era a capital do Brasil. Nessa época, foram fundados o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854 — atual Instituto Benjamin Constant (IBC) — e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857 — atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos (INES) (BRASIL, 2008a). Três instituições marcaram a primeira metade do século XX, com a proposta de uma educação voltada para as singularidades. O Instituto Pestalozzi, especializado no atendimento às pessoas com deficiência mental, foi fundado em 1926. Em 1945, foi criado o primeiro atendimento educacional especializado para pessoas com superdotação, na Sociedade Pestalozzi. Já em 1956, foi fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), como eram chamadas as pessoas com deficiência na época (BRASIL, 2008a). No entanto, foi na segunda metade do século XX que a educação se voltou para a efetividade da inclusão. Em 1961, foi desenvolvida a primeira versão da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei nº. 4.024/61. Esse documento ensaiou uma educação possível para todos em um mesmo sistema de ensino, na tentativa de inserir as pessoas com deficiência ao sistema regular de ensino, buscando excluir as classes especiais (BRASIL, 1961). Dez anos depois, em 1971, surgiu a segunda versão da LDB, como Lei nº. 5.692/71, que almejava definir o “tratamento especial” designado aos educandos com “[...] deficiências físicas e mentais, e aos que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula, bem como aos superdotados” (BRASIL, 1971, documento on-line). No entanto, essa versão não promoveu a organização de um sistema de ensino 16 suficientemente capaz de atender às necessidades educacionais especiais e acabou por reforçar os encaminhamentos para as classes e escolas especiais (BRASIL, 2008a). A inauguração do período político democrático no Brasil trouxe consigo a Constituição Federal de 1988, cujos objetivos fundamentais se dispunham a promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, como consta no Artigo 3, Inciso IV. No Artigo 205, a educação é salientada como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, sendo a sua garantia um dever do Estado e da família. Como referido nos Artigos 206 e 208, a igualdade de condições de acesso e permanência na escola é estabelecida como um dos princípios para o ensino e a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1988). Fonte: www.br.freepik.com 17 A década de 1990 foi bastante significativa para as políticas da educação especial, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (o ECA), criado a partir da Lei nº. 8.069/90. Conforme consta no Artigo 55, todas as crianças em idade escolar devem, obrigatoriamente, estar matriculadas na rede de ensino regular (BRASIL, 1990). Ainda nessa década, foi publicada a Declaração Mundial de Educação para Todos (UNESCO, 1990), com o objetivo de promover a satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, bem como a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994), sobre os princípios, as políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Em conjunto, esses acontecimentos influenciaram a formulação das políticas públicas da educação inclusiva. A diretriz intitulada Política Nacional de Educação Especial foi publicada em 1994, orientando um processo que condicionou o acesso às classes comuns do ensino regular aos educandos com deficiência, vistos com condições para acompanhar e desenvolver atividades curriculares do ensino comum, sem prejuízos e no mesmo tempo dos demais educandos. Tal diretriz acabou por distanciar ainda mais a inclusão das pessoas com necessidades educativas especiais da escola regular (BRASIL, 1994). A partir disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/96) foi atualizada em 1996 e, conforme o Artigo 59, assegura a flexibilização do currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às necessidades de aprendizagem de todos os educandos, sem exceção. Ela garante ainda a terminalidade específica aos educandos que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências. Ademais define, como consta no Artigo 37, “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (BRASIL, 1996, documento on-line). Todavia, foi somente no ano de 1999 que o Decreto nº. 3.298 regulamentou a Lei nº. 7.853/89, sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Ela definiu a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, reforçando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular (BRASIL, 1999). A história da educação inclusiva no Brasil foi sempre acompanhada de muita reflexão e problematização, pelas vozes das próprias pessoas com deficiência ou de seus representantes legais e educadores, 18 em uma luta que se constitui e permanecerá por meio da transformação da sociedade e dos contextos. 3.2 Diretrizes sobre educação inclusiva no Brasil No início dos anos 2000, o Conselho Nacional de Educação organizou, em conformidade com os processos de mudanças, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001a). Assim, por meio da resolução CNE/CEB nº. 02/2001, ampliou o caráter da educação especial. Ainda em 2001, estabeleceu também o Plano Nacional de Educação (PNE), via Lei nº. 10.172/2001 (BRASIL, 2001b). A década de 2000 foi declarada como a década da educação, com o objetivo de promover a educação inclusiva. Tais diretrizes, planos e metas apontaram ainda para uma considerável implicação de todas as instâncias governamentais para sanar os déficits referentes à oferta de matrículas para alunos com deficiência nas classes comuns do ensino regular, na formação docente, na acessibilidade física e no atendimento educacional especializado. Esse movimento de mudança e ampliação da educação se inspirou também na Convenção da Guatemala, a qual ocorreu em 1999. No Brasil, ela foi interpretada por meio do Decreto nº. 3.956/2001, produzindo uma reinterpretação na educação especial e promovendo a eliminação das barreiras no acesso à escolarização (BRASIL, 2001c). A partir disso, a formação docente foi focada e redeterminada sob a perspectiva da educação inclusiva, em conformidade com a Resolução CNE/CP nº. 01/2002, que dispôs sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Essa resolução definiu como responsabilidade das instituições de ensino superior a organização curricular para a formação docente voltada para a atenção à diversidade, contemplando saberes sobre as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2002a; BRASIL, 2009). Dois importantes marcos atuaram como diretrizes, a fim de definir a educação inclusiva no Brasil: o Programa Educação Inclusiva e o documento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, de 2003 e2004, respectivamente — ambos sobre o direito à diversidade na educação (BRASIL, 2005a, 2004a). Tais diretrizes propuseram expandir o apoio à transformação dos 19 sistemas de ensino nos sistemas educacionais, para que estes efetivassem a inclusão, promovendo um amplo processo na formação e instrumentalização dos gestores e educadores. O seu objetivo era disseminar os conceitos e as diretrizes mundiais para a inclusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns do ensino regular. Em 2004, o Decreto nº. 5.296/04, com o intuito de promover a inclusão educacional e social, regulamentou a Lei nº. 10.048/00 e a Lei nº. 10.098/00, que dispõem sobre normas e critérios para a promoção de adaptações arquitetônicas para a acessibilidade das pessoas com deficiência. Esse decreto impulsionou o Programa Brasil Acessível, desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos (BRASIL, 2004b). Fonte: www.br.freepik.com Em 2002, o MEC criou a Portaria nº. 2.678/02, com diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o território nacional (BRASIL, 2002b). Já em 2005, o Decreto nº. 5.626/05 regulamentou a Lei nº. 10.436/2002, para a inclusão de 20 educandos surdos no ensino regular, bem como o ensino de Libras como disciplina curricular e a organização da educação bilíngue no ensino regular (BRASIL, 2002b, 2005b). O chamado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), elaborado pelo MEC em 2007 e sustentado pelo Decreto nº. 6.094/2007, em conformidade com as diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, indicou que todos os educandos portadores de deficiência pudessem obter acesso e permanência no ensino regular e o atendimento às suas necessidades educacionais especiais, fortalecendo o ingresso nas escolas públicas regulares. Dessa maneira, colocou a formação de educadores voltada para a educação inclusiva, a implantação de salas de recursos, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares e o acesso e a permanência das pessoas com deficiência na educação superior como metas para superar a oposição entre educação regular e educação especial (BRASIL, 2007). Implementada em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI) se equiparou à Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2008b), a fim de garantir o direito à educação inclusiva. A inclusão das pessoas com deficiência no ensino comum, sem qualquer condicionalidade ou discriminação, e a efetiva participação em igualdade de condições foram enfoque das medidas de apoio à inclusão escolar determinadas pela PNEEPEI, institucionalizando o acesso à classe comum e a oferta do atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à escolarização (BRASIL, 2008b). É importante destacar que todas essas diretrizes acompanharam o processo de profunda transformação e movimento de mudança na perspectiva da educação no Brasil. A educação inclusiva acompanhou movimentos para a construção de uma sociedade ancorada na dignidade e equidade. 3.3 Os desafios das escolas brasileiras diante da inclusão escolar Conforme apontado por Rosin-Pinola e Del Prette (2014), o processo de democratização do ensino ampliou o olhar sobre os aspectos pertinentes à educação inclusiva. Com isso, muitas questões foram levantadas, como o ambiente pertinente e potencializador do desenvolvimento de todos os sujeitos em suas subjetividades e 21 especificidades e, a partir disso, a implicação da formação docente e do contexto social. Paulo Freire (1999) refere em seu escrito Educação como Prática de Liberdade que a educação é a ponte para a construção da cidadania, tendo na democracia a base para a sua efetivação. Para isso, deve estar integrada com o diálogo, a atuação participativa, a valorização da educação e a consequente conscientização para a formação integral dos sujeitos. Nesse sentido, os desafios das escolas brasileiras para se adequarem às exigências da inclusão escolar no Brasil podem ser vistos sob as lentes da cidadania constituída por meio das relações sociais e, portanto, compreendida de acordo com os sujeitos que dela participam, com as suas características e especificidades. Em essência, a inclusão será delineada com esforço tenaz e enérgico para atravessar o que está previamente instituído e precisa ser ajustado: o olhar sobre as diferenças e diversidades. É necessário para isso que as instituições educacionais, os educadores, gestores e especialistas se engajem também nas medidas necessárias para a efetivação da educação inclusiva, com vontade e coragem para mudar a realidade (SAVIANI, 2017). As diretrizes, os planos e as metas estão postas há décadas. Os direitos das pessoas com deficiência estão em diversos artigos da Constituição Federal brasileira. Existem inúmeros esforços e construções para a instrumentalização e constante formação dos educadores e gestores para a consolidação da educação inclusiva (MOREIRA, 2016). No entanto, apesar do desenvolvimento de um olhar sobre os direitos humanos e de um conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das diferenças e na participação dos sujeitos, existe na sociedade certa identificação com mecanismos e processos de hierarquização e diferenciação em relação a padrões ideais de atuação e funcionamento dos sujeitos, operando para a regulação e consequente reprodução de desigualdades. Nesse sentido, a escola e os ambientes educacionais e formativos preferencialmente devem possibilitar espaço para a problematização dos processos normativos de distinção dos sujeitos. Esses espaços podem atuar como esclarecedores das diferenças como potencialidades, permitindo o conhecimento da diversidade de características intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, como criadoras de rupturas dos modelos padronizados e como possíveis pontes para a ampliação da diversidade, respeitando a igualdade e equidade. 22 Como um caminho para a adequação às exigências da inclusão escolar no Brasil, a formação dos educadores e gestores deve se manter adequada e atualizada, com efeitos de motivação e no sentido de atuar cooperativamente com toda a comunidade escolar (SCHIMIDT, 1997). A aprendizagem cooperativa pode se apresentar como uma metodologia capaz de proporcionar a interdependência e a reciprocidade. Ao mesmo tempo, pode se configurar como uma possibilidade de os educandos aprenderem e experienciarem os valores da cidadania democrática desde a mais tenra idade e de maneira sistemática, de forma que absorvam o respeito às diferenças e a diversidade nos modos de ser e existir. Fonte: www.revistareacao.com.br A flexibilização das atividades e do currículo é outro quesito significativo que constitui possibilidades educacionais de atuar em conformidade com as necessidades específicas de aprendizagem dos educandos (MOREIRA, 2016). O envolvimento de todos — educadores, gestores, família, comunidade — para dar voz aos educandos, escutar as suas necessidades e percepções sobreo processo educacional é um processo que atua como ação política. Por meio dessa ação, estimulam-se a criação e o fortalecimento de práticas para a visibilidade das pessoas com necessidades educacionais especiais, bem como para a garantia de seus direitos e melhoria na qualidade de vida. 23 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Atualmente, todos os níveis da educação brasileira devem atender aos preceitos da educação inclusiva. Seja no ensino fundamental, médio ou superior, os estudantes com algum nível dedeficiência devem receber a mesma educação dos demais educandos. Essa proposta segue os princípios da carta de direitos humanos e das políticas sociais de promoção da cidadania e democracia (PLETSCH; MENDES, 2015) (Figura 1). 24 No entanto, por mais que o Brasil tenha uma das Legislações mais avançadas para a proteção dos direitos educacionais dos estudantes que convivem com algum tipo de deficiência, muito educadores ainda sentem que as escolas não têm estrutura, financiamento e aporte teórico necessários para oferecer a melhor educação para esses alunos. Santrock (2009), ao falar sobre o sistema de ensino estadunidense, refere que escolas públicas norte-americanas, assim como as brasileiras, são obrigadas por lei a receberem todas as crianças com deficiências em um ambiente menos restritivo possível. A educação de estudantes com necessidades especiais também é um terreno de debates intensos, sendo que diversos autores discordam sobre a forma de inserir essa população nos sistemas de ensino. 4.1 Marcos históricos da educação inclusiva A história da educação inclusiva no Brasil é marcada por uma série de práticas assistencialistas e excludentes, onde as pessoas com necessidades especiais se viram afastadas do convívio social comum, pela oferta de serviços, em sua maioria, prestados por instituições públicas, privadas ou filantrópicas (MAZZOTA, 1996). Assim, podem ser identificados três grandes períodos das políticas socioassistenciais voltadas à educação especial dentro do território nacional. O primeiro período se estabelece na segunda metade da década de 1950. Durante essa fase inicial, as iniciativas governamentais e particulares isoladas (ONGs, serviços religiosos de caridade) ajudavam a cobrir progressivamente os diferentes tipos de deficiência, tais como: visual, auditiva, física e mental. Com essas primeiras iniciativas voltadas à prestação de um serviço educacional a essas populações, começa a se abrir uma tendência de afirmação do campo da educação especial. Uma das instituições criada e fortalecida durante esse período foi o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, criado em 1854, e posteriormente rebatizado para Instituto Benjamin Constant, que atualmente presta serviços no campo da educação especial, voltados especificamente para o atendimento educacional. O segundo período se inicia no final da década de 1950, quando se fortalece e cria raízes até os primeiros anos da década de 1990. Durante essa fase, há um perceptível um avanço nas iniciativas governamentais. O Estado brasileiro passa a 25 desenvolver campanhas e a estruturar órgãos de educação especial, fragmentando- os de acordo com as diferentes deficiências. Os avanços da iniciativa pública no campo da educação especial são a base na qual todas as políticas voltadas à educação inclusiva começarão a ser formuladas. É importante pois mostra que o Estado reconhece que os indivíduos que convivem com algum tipo de deficiência devem receber oportunidades para exercerem seus papéis como cidadãos, havendo um espaço de organização de âmbito nacional e aglutinação de órgãos em torno da educação especial. Enquanto isso, nos Estados Unidos, entre as décadas de 1960 e 1970, as instituições legais criaram vários direitos no campo da educação especial para crianças com deficiências. Anteriormente, a maioria das crianças com deficiências tinha sua matrícula recusada na rede pública ou era atendida pela escola de maneira inadequada (SANTROCK, 2009). Fonte: www.uol.com.br O início da década de 1990 tem um dos maiores marcos históricos, tanto para a educação inclusiva quanto para as políticas governamentais de direitos humanos em geral no âmbito internacional. Em 1994, foi assinada a Declaração de Salamanca 26 (BARROS; BRITO; GUEDES, 2017), que se tornou um dos documentos mais importantes da história acerca da educação especial, elaborado durante a Conferência Mundial sobre a Educação Especial, na cidade de Salamanca, Espanha. Nesse documento, foi instituído que é responsabilidade primordial do Estado incluir todas as crianças e os jovens com necessidades educativas especiais às escolas regulares, cabendo-lhes as adequações indispensáveis, pois são as escolas os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos (BRASIL, 1994). O objetivo da Declaração de Salamanca foi de fornecer diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social (BRASIL, 1996). Ainda que, nos movimentos curriculares desencadeados em todo o país, tais questões já aparecem em alguma medida, foi após a Lei de Diretrizes Básicas de 1996, embasada na Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994), que a educação básica no Brasil passou a ser encarada como um direito, ancorada no princípio do bem comum e no respeito à diversidade (PLETSCH; MENDES, 2015). Comparado a décadas passadas, hoje, um número muito maior de crianças recebe serviços especializados eficientes. Para muitas crianças, a inclusão em classes comuns com modificações ou serviços suplementares é adequada e funciona (FRIEND, 2007). No entanto, alguns especialistas em educação especial argumentam que o esforço de usar a inclusão para educar crianças com deficiências foi levado ao extremo em alguns casos. Por exemplo, Kauffman (2004) afirmam que a inclusão, muitas vezes, significou fazer adaptações que nem sempre beneficiam crianças com deficiências. Eles defendem uma abordagem mais individualizada, que nem sempre envolve a inclusão total, mas oferece opções como educação especial fora da sala de aula regular. Outros críticos comentam que a maioria das escolas e colégios que trabalham com educação inclusiva não tem a estrutura básica para fornecer um bom atendimento aos estudantes, sendo que se situam em territórios pobres. Dessa forma, esses analistas compreendem que a Legislação pode invisibilizar os problemas de sua implementação nos bairros (SANTROCK, 2009). 27 4.2 Características da proposta de educação inclusiva As Legislações dentro do campo da educação inclusiva são muito melhores estruturadas hoje em dia do que em qualquer outro momento do Estado Moderno. Como pudemos observar na seção anterior, essa Legislação não é um pensamento compartilhado por toda a sociedade, mas, sim, uma construção gerada a partir das diferentes forças no campo político. Dessa forma, precisamos entender que as leis para a educação especial não são imutáveis, podendo estar sujeitas a avanços e retrocessos conforme o passar dos anos e mudança de mentalidade do Estado e da sociedade. Além disso, nem todos os dispositivos dispostos nas leis são cumpridos na prática pelas escolas e faculdades, seja por falta de estrutura, verba ou conhecimento teórico sobre a questão. A seguir, listamos alguns dos serviços disponibilizados dentro das escolas para os alunos com necessidades especiais. Ao tomar contato com esses serviços você deve manter uma visão crítica do assunto, procure pensar nos dispositivos oferecidos nas escolas em que estudou e nas quais você trabalha. Com isso, procure pensar de que forma é possível especializar ainda mais esses serviços oferecer uma melhor oportunidade para todos os estudantes. Quanto aos professores e educadores, Dettmer, Dyck e Thurston (2002) explicam que os alunos podem se utilizar dos serviços do professor de classe regular, do professor da sala de recurso, de um professor de educação especial, de um orientador colaborativo e/ou de outros profissionais vinculado a educação, como fonoaudiólogos, tradutores/intérpretes de LIBRAS, psiquiatras, psicólogos. Esse atendimento não necessariamente precisa ser individual, podendo todos estes profissionais estar trabalhando com a mesma criança em uma equipeintegrada. Os profissionais que mais trabalham com alunos com necessidades especiais estão descritos a seguir. Professor de classe regular: este é o educador encarregado de ministrar as aulas comuns nas salas de aula, com a maior estruturação das políticas de educação inclusiva, e tornou-se o responsável por oferecer os conteúdos a todos os estudantes de sua turma, sendo que não deve fazer distinção entre os estudantes por suas deficiências, mas também não deve esquecer que têm certas necessidades especiais para conseguirem acessar o estudo (VAUGHN; BOS; SCHUMM, 2007). 28 Professor da sala de recursos: os professores que prestam seus serviços na sala de recursos são de extrema importância na educação de determinadas crianças. Muitos dos alunos com alguma dificuldade de aprendizagem ou com necessidades especiais conseguem passar a maior parte do tempo escolar dentro das salas de ensino regulares, necessitando destas para determinados ajustes no seu entendimento e na sua compreensão. Santrock (2009) comenta que, em uma organização comum, uma criança pode passar uma ou duas horas numa sala de recursos e o resto do tempo numa regular. A grande maioria dos conteúdos reforçados pelos professores da sala de recursos são as habilidades de leitura, escrita ou matemática dos estudantes, pois se mostram as maiores dificuldades dos alunos com necessidades especiais. Barros, Brito e Guedes (2017) concordam e complementam, ressaltando que o ensino, em todos os seus âmbitos, deve ser interligado e conectar- se com o cotidiano de todos os estudantes que fazem parte da escola. Assim, salienta- se a necessidade de que o professor de classe regular e o da sala de recursos devem colaborar um com o outro e coordenar seus esforços. Em alguns casos, o professor pode auxiliar as crianças na sala de aula regular em vez de trabalhar em uma sala de recursos. Fonte: www.camarainclusao.com.br 29 Professor de educação especial: um dos pontos mais importantes de Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) é atentar para a formação dos profissionais da educação, incentivando que as faculdades proporcionem conteúdo regular e especializações no campo da educação inclusiva. Portanto, alguns professores têm extenso treinamento em educação de alunos com necessidades especiais e ensinam crianças com deficiências em uma “classe de educação especial” separada. Crianças com dificuldades maiores de apreensão dos conteúdos podem passar uma parcela do dia com o professor de educação especial e outra em sala de aula regular, como acontece com o professor da sala de recursos. No entanto, Santrock (2009) cita que o professor de educação especial geralmente assume uma responsabilidade maior pelo programa da criança como um todo do que o professor da sala de recursos, que geralmente dá suporte ao professor de classe regular. A área mais frequente em que o professor de educação especial trabalha com uma criança com deficiência é a leitura. Serviços relacionados: além dos professores de classe regular, dos da sala de recursos e de educação especial, vá rios outros profissionais de educação especial podem proporcionar atendimento a crianças com deficiências (PLETSCH; MENDES, 2015). Entre eles, estão os fonoaudiólogos, psicólogos, orientadores, assistentes sociais, enfermeiras, médicos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas (BARROS; BRITO; GUEDES, 2017). Além disso, também devem ser providenciados serviços de transporte, caso necessário (SANTROCK, 2009). Os serviços relacionados podem dizer respeito à família, e os cuidadores do estudante, educadores e pesquisadores reconhecem cada vez mais a importância de a família de origem e a escola conduzirem juntas o aprendizado de crianças com deficiências (FRIEND, 2007). 4.3 Tecnologias e instrumentos na educação inclusiva A Legislação brasileira compreende que, além da criação de serviços e da oferta de profissionais especializados, novas tecnologias e novos instrumentos que facilitem a compreensão dos estudantes devem ser incorporados à escola (BRASIL, 1996). Santrock (2009) comenta que a Legislação estadunidense também requer que dispositivos e serviços de tecnologia sejam oferecidos a estudantes com deficiências, caso sejam necessários para assegurar uma educação gratuita apropriada. 30 Nesses casos, Blackhurst (1997) esclarece que existem dois tipos de tecnologia que podem ser usados para melhorar a educação de alunos com necessidades especais: a tecnologia instrutiva e a tecnologia auxiliar. A tecnologia instrutiva engloba diversos tipos de hardware e software, combinados com métodos de ensino cada vez mais especializados e atualizados para acomodar as necessidades de aprendizagem dos estudantes em sala de aula. Exemplos incluem vídeos, ensino assistido por computador e programas de hipermídia complexos nos quais os computadores são usados para controlar a transmissão de áudio e imagens armazenadas em diferentes tipos de dispositivos (pen drives, CD, DVD, blu-ray, etc.). A tecnologia auxiliar é um conjunto interconectado e diverso de serviços e dispositivos que auxiliam os estudantes com necessidades especiais. Essas tecnologias se propõem a ajudar os alunos a serem funcionais em seu ambiente. Exemplos incluem dispositivos de comunicação, teclados alternativos (por voz ou virtual), máquinas de escrever em Braile, classe e salas ajustáveis a cadeiras de rodas e interruptores adaptativos. Fonte: www.ineq.com.br A maioria dos educadores que trabalham com tecnologias no auxílio de suas aulas não costuma subdividir esses diferentes tipos de dispositivos tecnológicos no momento de auxiliar os estudantes com necessidades especiais (ULLMAN, 2005). Por exemplo, estudantes que não conseguem usar as mãos para operar um teclado de computador podem usar um computador operado por voz (tecnologia auxiliar), 31 mediante um programa de software desenvolvido para oferecer ensino de soletração (tecnologia instrutiva). Os modos de aplicação também podem ser subdivididos em diferentes formas de educação. Santrcok (2009) conta que os softwares e hardwares desenvolvidos para uso dos estudantes tradicionais também estão sendo usados com considerável sucesso por estudantes com necessidades especiais, principalmente em classes de inclusão. A seguir, você pode observar algumas formas de aplicação dessas tecnologias. Aplicações tradicionais: envolvem o uso de tutoriais, exercícios e jogos no computador. Aplicações como essas têm sido usadas para melhorar habilidades de decodificação e vocabulário das crianças. Softwares de jogos são usados frequentemente para motivar crianças. Aplicações construtivistas: focam as habilidades de compreensão e raciocínio dos estudantes. Dentre as aplicações construtivistas que podem ser usadas com eficiência para crianças, estão organizadores cognitivos como “IdeaFisher” e “Inspiration” — ambos os softwares podem ser utilizados com crianças que tenham dificuldades de aprendizagem. Os softwares de sugestão/previsão de palavras podem ser utilizados para ajudar crianças com deficiências físicas a escrever no computador, como exemplo. Além disso, os processadores de texto ajudaram muitas crianças com necessidades especiais a terem progressos em suas habilidades de linguagem escrita (HETZRONI; SHRIEBER, 2004). Processadores de voz podem ser especialmente úteis na educação de crianças com problemas de fala. Quando solicitados, esses programas leem texto em voz alta. A computação móvel também é promissor para crianças com necessidades especiais, já que existem evidências de que o uso de dispositivos de informática móveis em classes inclusivas pode auxiliar na compreensão dos conteúdos e melhorar a atenção dos estudantes com necessidades especiais, o que ajuda a diminuir a lacuna de rendimento entre os estudantes com necessidade especiais e osestudantes regulares (SWAN et al., 2005). 32 5 SUPERDOTAÇÃO: CARACTERÍSTICAS E COMO PROMOVER O POTENCIAL DOS ALUNOS Atualmente, a superdotação não é mais um conceito padrão dentro dos estudos da educação. Sá (2017) nos explica que, durante muito tempo, houve uma falsa ideia de que a superdotação infantil seria uma facilidade com o conhecimento em geral. As crianças poderiam aprender qualquer conteúdo que tivessem vontade, e suas habilidades poderiam ser utilizadas em qualquer campo. No entanto, as crianças que têm facilidade em todos os campos do conhecimento são apenas uma parte das que apresentam superdotação — sendo que a maioria dos alunos tem grande talento para alguma área específica, enquanto nas outras é igual às demais crianças ou pior. Uma criança pode ser muito boa em música, mas não em matemática, pode ter superdotação na área de exatas, mas não ter os conhecimentos de humanas. Muitos analistas argumentam que diversas crianças dos “programas de superdotados” não são, de fato, prodígios em uma área em particular, mas inteligentes de modo geral, normalmente cooperativas, além de a grande maioria desses estudantes ser de origem branca não latina (CASTELLANO; DIAZ, 2002). Eles acreditam que o manto da genialidade é colocado sobre muitas crianças que não estão muito além do “inteligente normal”. Embora, em muitos estados norte- americanos, o nível de inteligência definido em pontos de QI seja ainda utilizado como critério principal de decisão para que uma criança participe ou não de um programa de superdotados, novos conceitos de inteligência incluem cada vez mais ideias como a de Gardner, sobre múltiplas inteligências, e o critério de participação baseado em uma avaliação de QI deve mudar (WINNER, 2006). Essa falta de compreensão acerca das características da superdotação fez com que diversos estudantes potencialmente superdotados não tivessem a oportunidade de receber auxílio adicional para o total desenvolvimento de seus potenciais. Como Renzulli e Reis (1997) nos contam, os padrões de admissão de crianças superdotadas nas escolas geralmente eram baseados na inteligência e aptidão acadêmica, ou seja, apenas no QI. Devido a todo esse histórico de perdas e preconceitos relacionados à facilidade incomum ou ao talento inato em determinada área, atualmente, já não são mais utilizados os termos “criança superdotada” ou “superdotação”, sendo que o padrão da academia e das Legislações nesse sentido é 33 tratar por crianças com altas habilidades. Segundo Sá (2017), essa alteração pretende desconstruir o imaginário social de que os alunos com altas habilidades seriam “potenciais gênios” para que os educadores possam, assim, fornecer todas as ferramentas necessárias para o desenvolvimento pleno desses estudantes. Fonte: www.blog.todolivro.com.br Como vimos, as altas habilidade, superdotação, tanto quanto as dificuldades de aprendizagem, foram negligenciadas pelos sistemas de ensino durante várias décadas (SÁ, 2017). Portanto, a Lei de Diretrizes Básicas da Educação (LDB), também inclui algumas emendas sobre como oferecer o melhor ensino para que as crianças superdotadas possam atingir o seu potencial pleno (BRASIL, 1996). Santrock (2009) nos informa que as crianças superdotadas são caracterizadas por: Inteligência acima do normal (geralmente um QI de 130 ou mais) — o QI (quoeficiente de inteligência) ainda é uma medida de cognição muito discutida dentro da psicologia e das neurociências, que, atualmente, é mensurada por meio de testes que pontuam diferentes formas de inteligência, como o raciocínio lógico, as habilidades matemáticas, o vocabulário e a resolução de problemas (BARROS; BRITTO; GUEDES, 2017); E/ou um talento superior em algum campo, como artes plásticas, música ou matemática – o talento natural ou a facilidade extrema para realizar determinada tarefa (cantar, dançar, escrever) é uma das formas de 34 inteligência não englobadas dentro das medidas de QI, sendo que crianças com altas habilidades podem, ou não, ter facilidade nessas áreas (SANTROCK, 2009). Winner (2006) descreveu outros três critérios que podem ajudá-lo a perceber se existem crianças com altas habilidades em sua turma ou convívio. 1. Inteligência precoce ou talento inato: crianças com altas habilidades são precoces quando têm a oportunidade de usar seu dom ou talento. Elas começam a dominar uma determinada área antes dos colegas, e aprender sobre aquilo que dominam exige menos esforço dessas crianças do que da maioria das outras. 2. Estilo próprio: crianças superdotadas aprendem de maneira qualitativamente diferente de outras crianças. Um aspecto em que elas se diferenciam é que requerem menos suporte ou amparo dos adultos para aprender. Geralmente, resistem a instruções explícitas, costumam fazer descobertas por conta própria e resolvem problemas de formas não convencionais na área que dominam. 3. Curiosidade: crianças superdotadas têm o impulso de conhecer tudo sobre a área em que apresentam grande capacidade. Elas demonstram interesse intenso e obsessivo e uma grande capacidade de concentração. Não são crianças que precisam ser empurradas pelos pais. Elas frequentemente têm um alto grau de motivação interna e curiosidade acerca de determinados temas. O curso de vida das crianças com altas habilidades é variado. A principal discussão acerca do potencial desses indivíduos é se suas capacidades derivam de sua genética (hereditariedade) ou do ambiente a que são expostos nos primeiros anos de vida (SANTROCK, 2009). Howeet al. (1995) pensam que as altas habilidades são produto de ambos esses fatores. Comentam que os indivíduos se lembram de mostrar sinais de alta capacidade em uma área em particular desde muito pequenos, antes ou no início do treinamento formal, o que invalidaria a ideia de que apenas o ambiente e o treinamento seriam capazes de produzir sujeitos com altas habilidades, pois sugere a importância da capacidade inata no talento. No entanto, Sá (2017) e Howeet al. (1995) também constataram que indivíduos com fama em artes, matemática, ciências e esportes também relatam forte apoio da família e anos de treinamento e prática — o que explicaria a falta de crianças não brancas e não latinas nos programas de suporte às altas habilidades. 35 Outra ideia muito difundida socialmente acerca do curso de vida e do desenvolvimento de crianças com altas habilidades seria de que esses estudantes se tornariam adultos talentosos e altamente criativos. Santrock (2009) nos conta que a maioria dos estudantes com altas habilidades acaba tornando-se especialistas numa área já consolidada, como medicina, direito ou negócios. No entanto, a maior parte não se tornou um grande criador (SÁ, 2017) — isto é, não criou um novo domínio nem revolucionou um antigo. Uma razão para crianças prodígio não se tornarem adultos prodígio é que elas podem ter sido excessivamente pressionadas por cuidadores e educadores, sendo que estes não souberam estimular de forma adequada o potencial desses estudantes e, por isso, estes perderam sua motivação intrínseca (WINNER, 2006). Como adolescentes, eles podem perguntar-se: “para quem estou fazendo isso? ”. Se a resposta não for “para mim mesmo”, talvez, eles não queiram continuar fazendo. 5.1 Auxílio a estudantes com altas habilidades no desenvolvimento do seu potencial Como pudemos perceber, as crianças com altas habilidades têm facilidade na compreensão de determinadas matérias. Assim, devido ao ritmo mais lento do resto da sala, elas podem tornar-se inquietas, faltar às aulas e perder o interesse em progredir. À s vezes, essas crianças simplesmente se anulam, tornando-se passivas e apáticas em relação à escola (ROSSELLI, 1996). Os educadores devem tentar desafiar as crianças com altas habilidade para que possam atingir seu potencialde forma saudável (WINNER, 2006). Hertzog (1998) fornece quatro opções de programas para estudantes com altas habilidades. 1. Aulas especiais: essa é a forma mais tradicional entre as práticas utilizadas para se trabalhar o desenvolvimento de crianças com altas habilidades. As aulas especiais são períodos fora dos horários curriculares normais, nas quais as crianças podem exercitar sua curiosidade de forma mais livre. As aulas podem ser no turno oposto às aulas regulares, em pequenos cursos, acampamentos de férias, olimpíadas escolares, entre outras propostas. 36 2. Aceleração e enriquecimento no ambiente de sala de aula regular: isso pode incluir admissão precoce na pré-escola, pular de ano (também conhecido como promoção dupla), completar duas séries em um ano, colocação avançada ou aceleração de matérias e estudo em ritmo próprio. A compactação de currículo é uma variação da aceleração em que os professores pulam determinados aspectos do currículo dos quais acreditam que crianças superdotadas não precisam. 3. Programas de mentor e aprendiz: muitos alunos se sentem mais estimulados quando entram em contato com um educador que esteja voltado para o seu desenvolvimento cognitivo individual, sendo que alguns especialistas enfatizam que essas são maneiras importantes e subutilizadas de motivar, desafiar e educar eficientemente crianças superdotadas (PLEISS; FELDHUSEN, 1995). Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 4. Programas trabalho/estudo e/ou de serviços comunitários: Santrock (2009) coloca algumas questões às quais você deve estar atento ao desenvolver as matérias curriculares com crianças com altas habilidades. Não se esqueça de que a criança pode ser muito adiantada para o seu conteúdo e verifique se precisa adiantar um pouco a matéria por meio de feedback do aluno e de avaliações. Crianças com altas habilidades normalmente são muito curiosas, então, procure desafiá-las, mas não de forma a perder curiosidade nos temas. A escola tem que ser um ambiente agradável para que a criança se mantenha engajada. 37 Pense, junto com os cuidadores da criança, em formas de trabalharem juntos para uma melhor estimulação dos potenciais do estudante. 6 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos participarem e aprenderem juntos, sem qualquer tipo de discriminação. Constitui um paradigma educacional fundamentado na concepção de direitos humanos, compreendendo igualdade e diferença como valores indissociáveis e, por consequência, avançando em relação à ideia de equidade formal, uma vez que contextualiza as circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. Nesse sentido, em 2008, foi estabelecida a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, apresentada pelo Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Secretaria da Educação Especial (SEESP). Esse documento tem como objetivo acompanhar os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos (BRASIL, 2008). 6.1 As políticas públicas e a implementação da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva A educação inclusiva no Brasil vem passando por uma trajetória de avanços e conquistas, com a promulgação de leis que orientam a sua implantação em nível nacional. É importante destacar que as políticas no Brasil são fortemente influenciadas por eventos e documentos internacionais, como a Conferência Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Jomtien, 1990), o Relatório Delors (1993– 1996), a V Reunião do Comitê Regional Intergovernamental do Projeto Principal de Educação para a América Latina e Caribe (1993) e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais (Declaração de Salamanca, 1994). Todos esses eventos, de uma forma ou de outra, contribuíram fortemente para as políticas 38 de inclusão no Brasil, inclusive para a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. A partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), os sujeitos com deficiência passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, inclusive no que se refere à educação (BRASIL, 1988; 1990). Nesse sentido, podemos afirmar que, a partir dos anos 1990, houve uma mudança importante no cenário da educação, principalmente no que se refere à regularização da situação educacional das pessoas com deficiência. Ou seja, o movimento pela educação especial ganhou força. Várias políticas importantes foram implementadas, no sentido de garantir a entrada e a permanência dos sujeitos da educação especial no ensino regular. A seguir, veremos algumas das principais políticas. Fonte: www.psicologiaacessivel.net Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No ano de 1996, mais especificamente em 20 de dezembro de 1996, foi estabelecida a Lei nº. 9.394, denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). No Capítulo V, “Da Educação Especial”, art. 58, essa Lei estabelece que: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996, documento on-line). Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos, “O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços 39 especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular” (BRASIL, 1996, documento on-line). Cabe destacar que, após a LDBEN, a educação especial passou de um sistema à parte para uma modalidade educacional transversal. A partir dela, as normativas foram se tornando cada vez mais detalhadas e direcionadas ao público- alvo da educação especial. Salienta-se que a LDBEN apontou algumas mudanças significativas em prol da educação escolar das pessoas com deficiência, porém, tratou a educação especial como “[...] a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996, documento on-line). O termo “preferencialmente” gerou algumas brechas na lei, permitindo que algumas instituições negassem a matrícula para os sujeitos da educação especial. Rech (2015) chama a atenção de que, embora a Lei não tenha se referido à educação inclusiva, nela ficou perceptível a intenção de abrir espaços para a ideia de educação para todos, tendo como base a proposta de manter, na escola especial, apenas os alunos que não tiverem condições de serem integrados na escola regular. A partir desse momento, a matrícula para alunos com deficiência passou a ser obrigatória na escola regular. Porém, até esse momento, pelo menos nas políticas públicas, não se falava no conceito de inclusão na perspectiva da integração escolar. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica Conforme leciona Rech (2015, p. 160-161), o MEC organizou, em 2001, as “Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica”; esse documento começou a circular pelas escolas, “[...] juntamente com um maior aporte teórico sobre a inserção da Educação Especial na escola regular”. Esse material “[...] trouxe também, informações mais completas a respeito dos serviços de apoio pedagógico especializado, nomenclatura adotada no Documento”, ainda conforme Rech (2015, p. 160-161). Rech (2015, p. 160-161) afirma que, conforme o documento: [...] o atendimentoeducacional especializado (AEE), poderia ser realizado nas classes comuns de ensino, mediante parcerias entre os professores da Educação Especial e do ensino regular; nas salas de recursos pelo professor da Educação Especial e, também, fora da escola em classes hospitalares e em ambientes domiciliares. 40 Esse documento é bastante importante, já que nele aparece pela primeira vez o termo inclusão, em substituição ao termo integração. Rech (2015) aponta ainda três aspectos importantes a considerar a partir dessas diretrizes: 1. a utilização do termo “alunos com necessidades especiais”, referindo-se aos alunos que necessitavam ser incluídos; 2. responsabilização do governo em assumir a proposta da inclusão como uma das metas das políticas educacionais; 3. responsabilização do governo pelo sucesso da inclusão. Plano de Desenvolvimento da Educação Outra política importante direcionada para a inclusão das pessoas com deficiência no ensino regular foi a criação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). De acordo com Rech (2015), o PDE foi lançado oficialmente a partir do Decreto nº. 6.094, de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007), que tratou do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação. A autora destaca duas ações importantes no sentido de combater a exclusão escolar: o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais (2005) e o Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior (2005). Essas ações foram importantes, no sentido de trabalharem formas ou criarem experiências para fortificar o movimento pela inclusão, ainda conforme Rech (2015). Esses são alguns exemplos de políticas que, aos poucos, foram sendo criadas e implementadas no sentido de criar condições para que, no ano de 2008, fosse criada a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. É importante destacar que, após a implementação dessa Política, várias outras políticas foram criadas, dando prosseguimento às ações desenvolvidas até então. Dentre elas, podemos citar: Resolução nº. 4 do Conselho Nacional de Educação, de 02 de outubro de 2009; Nota técnica nº. 11 da SEESP, de 07 de maio de 2010; Decreto nº. 7.611, de 17 de novembro de 2011; Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº. 13.146, de 06 de julho de 2015). 41 6.2 Objetivos da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva O documento orientador para a implementação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, publicado em 2008, tem como diretriz principal a instrução para que os estados e municípios organizem as suas ações, no sentido de transformarem seus sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos. O documento tem como objetivo principal o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares. Ele orienta os sistemas de ensino a promoverem respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo os aspectos descritos a seguir (BRASIL, 2008). Fonte: www.psicopedagogiacuritiba.com.br Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior. O atendimento especializado deve ser oferecido em todos os níveis, não substituindo o ensino regular, mas auxiliando o aluno nas suas dificuldades de aprendizagem. . Atendimento Educacional Especializado (AEE). É o conjunto de atividades e recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente. Ele é prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. Pode ser organizado dentro do mesmo estabelecimento escolar ou oferecido em outros espaços, como escolas especiais. 42 . Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino. Devem ser oferecidas oportunidades àqueles alunos que tenham interesse e estejam aptos a ingressarem nos níveis mais elevados, como o ensino superior e as suas modalidades posteriores. . Formação de professores para o atendimento educacional especializado e dos demais profissionais da educação para a inclusão escolar. O MEC, em parceria com a SEESP, deverá oferecer programas de formação inicial e continuada para os professores da rede regular de ensino, com o objetivo de melhor preparar os profissionais envolvidos no processo de inclusão. . Participação da família e da comunidade. É de responsabilidade do MEC a criação de iniciativas de conscientização das famílias e da sociedade em geral, no sentido de uma maior participação e acompanhamento das crianças, perfazendo uma troca de experiências e uma parceria família- -escola, o que pode contribuir para a melhoria do sistema como um todo. . Acessibilidade urbanística e arquitetônica nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e na informação. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação, para que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender às necessidades educacionais de todos os estudantes. . Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas, a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo. Assim, deve ter em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquitetônica, aos atendimentos de saúde e à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. 6.3 Diretrizes e normas para a implantação de sistemas educacionais inclusivos A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva estabelece as normas e diretrizes para a implantação, a implementação e a manutenção da inclusão nos estabelecimentos de ensino da rede regular (BRASIL, 43 2008). Você verá, aqui, algumas delas, consideradas de caráter essencial. Mas, para um maior aprofundamento sobre o assunto, você deve fazer a leitura do documento orientador na íntegra. A educação especial é uma modalidade de ensino que deve perpassar todos os níveis, etapas e modalidades. Ela engloba realizar o atendimento educacional especializado, disponibilizar os recursos e serviços e orientar quanto à sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos estudantes, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado se diferenciam daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização e complementando a formação dos estudantes. O acesso à educação tem início na educação infantil, na qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e o desenvolvimento global do aluno. Na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, a formação para o ingresso no mercado de trabalho e a efetiva participação social. Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. Essas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação e nos materiais didáticos e pedagógicos que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. 44 A avaliação pedagógica deve considerar tanto o conhecimento
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