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PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
ROBSON FELIPE VIEGAS DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
 
Trabalho apresentado à disciplina Direito do Trabalho II, 
Faculdade de Direito, Universidade Federal de Mato 
Grosso, Turma CN (Noturno). 
Profa. Dra. Carla Reita Faria Leal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CUIABÁ-MT 
Fevereiro/2018 
1 
PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO 
 
Robson Felipe Viegas da SILVA1. 
 
 
 
Decidir, criar e modificar normas em matéria de dissídios coletivos, 
respeitando as garantias mínimas previstas em lei é o que se entende por poder 
normativo da Justiça do Trabalho, poder este que encontra suas origens no mundo 
ocidental a partir da instituição do estado corporativista italiano que emergiu da crise 
dos anos 1920 na Itália Fascista. 
Em um estado cujo ótica central firmava-se na interferência estatal em 
todas as esferas, no plano econômico, numa estratégia de inibir as conquistas e 
“domesticar” a luta da classe trabalhadora, estabeleceu-se um sistema no qual os 
conflitos coletivos de trabalho se traduziram em controvérsias jurídicas. 
Como é cediço, a constituição do Estado Novo (1937-1945) teve 
inspiração no estado fascista italiano, e no que diz respeito às relações trabalhistas, a 
Carta del Lavoro2 foi a fonte para a consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, 
estabelecendo, o que persiste até nossos dias, nas relações trabalhistas um pensamento 
corporativo, no qual os conflitos se incluem na esfera do Estado e do Direito. 
Assim, no nascedouro da sociedade urbana e capitalista nacional os 
conflitos coletivos passaram a ser diretamente intermediados pelo Estado e, no lugar 
da luta de classes incentivava a colaboração e entendimento, sendo que o Estado Novo 
manteve sobre o movimento dos trabalhadores domesticado, criando um movimento 
sindical consentido e mantido sob regras que convinham ao estado. 
Tutela que ficava clara na CF/1937: 
Art. 61. São attribuições do Conselho da Economia Nacional: 
(...) 
 
1
 Mestre em História. Bacharelando em Direito. Universidade Federal de Mato Grosso, 
Faculdade de Direito, prof.rfvsilva@msn.com. 
2
 A Carta Del lavoro, editada em 21 de abril de 1927 pelo Gran Consiglio Del Fascismo, foi o 
documento político fundamental do ordenamento corporativo italiano fascista. 
2 
b) estabelecer normas relativas á assistencia prestada pelas 
associações, syndicatos ou institutos; 
c) editar normas reguladoras dos contractos collectivos de trabalho 
entre os syndicatos da mesma categoria da producção ou entre 
associações representativas de duas ou mais categorias; (...)[Grifo 
nosso]. 
Para além das normas, o estado ainda se guardava ao direito de 
reconhecer quais sindicatos seriam legítimos para “defender os trabalhadores”: 
Art. 138. A associação profissional ou syndical é livre. Sómente, porém, o 
syndicato regularmente reconhecido pelo estado tem o direito de representação 
legal dos que participarem da categoria de producção para que foi constituído, 
e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações 
profissionaes, estipular contractos collectivos de trabalho, obrigatorios para 
todos os seus associados, impôr-lhes contribuições e exercer em relação a elles 
funcções delegadas de poder publico. 
Observe-se que o artigo que instituía a Justiça do Trabalho, trazia consigo 
a proibição do direito de greve: 
Art. 139. Para dirimir os conflictos oriundos das relações entre empregadores 
e empregados, reguladas na legislação social, é instituida a justiça do trabalho, 
que será regulada em lei e á qual não se applicam as disposições desta 
Constituição relativas á competencia, ao recrutamento e ás prerogativas da 
justiça commum. 
A gréve e o “lock-out” são declarados recursos anti-sociaes, nocivos 
ao trabalho e ao capital e incompativeis com os superiores interesses 
da producção nacional. [Grifo nosso]. 
Assim, a intervenção do estado na esfera das relações entre trabalho e 
capital, que visava a “manutenção da paz social”, constituía uma das facetas de um 
estado no qual os interesses das massas e da nação se sobrepunham aos interesses 
individuais, o que aproximava o estado brasileiro do fascismo italiano. 
A Constituição de 1946, tida como a carta que restabeleceu a democracia 
após os longos anos da ditatura getulista, deslocou o poder normativo, que era do 
Conselho de Economia Nacional pela CF/1937, para a alçada da Justiça do Trabalho: 
Art. 123 - Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios 
individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e, as demais 
controvérsias oriundas de relações, do trabalho regidas por legislação especial. 
 § 1º - Os dissídios relativos a acidentes do trabalho são da competência da 
Justiça ordinária. 
§ 2º - A lei especificará os casos em que as decisões, nos dissídios coletivos, 
poderão estabelecer normas e condições de trabalho. 
3 
Ou seja, a par de estabelecer a liberdade de organização sindical, 
manteve-se na alçada do estado, migrando do Executivo para o Judiciário, o poder de 
“conciliar” as relações entre trabalho e capital através de um poder normativo. 
No regime de exceção estabelecido a partir de 1967 o poder normativo 
da Justiça do Trabalho e as negociações coletivas perderam força, tendo em vista que 
a política dos governos militares tinha como ótica central a restrição aos direitos 
trabalhistas para favorecimento do capital, de forma que apesar de não deixar de 
existir, o poder normativo subordina-se aos interesses econômicos estatais. 
A Constituição de 1988, que também foi gestada após um período de 
exceção, igualmente feita para organizar um estado democrático, manteve a 
competência dos tribunais do trabalho para proferir decisões nos processos de 
dissídios econômicos, criando condições de trabalho com força obrigatória, 
configurando um resquício do controle estatal sobre o movimento dos trabalhadores: 
114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios 
individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os 
entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta 
dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da 
lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os 
litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, 
inclusive coletivas. 
(...) 
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é 
facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a 
Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as 
disposições convencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho. 
[Grifo nosso]. 
Ou seja, para conciliar, a Justiça do Trabalho podia estabelecer normas e 
condições visando a “proteção do trabalho”, poder que vigorou até a publicação da 
EC 45/04, que retirou essa competência não podendo mais as decisões dos tribunais 
criar normas ou condições de trabalho, devendo apenas decidir os conflitos ajuizados, 
respeitando as disposições mínimas legais de proteção do trabalho, conforme se 
verifica da atual redação do mesmo artigo: 
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: 
(...) 
§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, 
é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza 
econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as 
4 
disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as 
convencionadas anteriormente. 
Assim, no lugar de intervirou “conciliar” criando normas, o estado 
passou a intervir no conflito entre trabalho e capital, em favor da manutenção da paz 
social, por meio dos dissídios coletivos. 
Nessa seara a Justiça do Trabalho instituiu os precedentes normativos, 
enunciados do posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho em matéria de 
dissídio coletivo que não são decisões a priori, mas que em uma cultura na qual a opção 
pela solução judicial é preponderante, acabam por estimular a judicialização dos 
conflitos, dado que em geral apontam para condições que “protegem” o trabalho em 
detrimento do capital. 
A Ação de Dissídio Coletivo acaba por constituir um novo direito 
processual, diverso dos princípios tradicionais do processo comum, na qual se postula 
interesses abstratos e gerais de uma determinada categoria visando a criação, 
modificação ou extinção de normas e condições de trabalho para serem aplicadas a 
pessoas indeterminadas que pertençam a categoria envolvida no conflito. 
Nesse sentido, após a reforma do Poder Judiciário com a EC 45/04, tendo 
em vista que a Justiça do Trabalho foi dado o poder de decidir o conflito ajuizado, ela 
não pode mais criar normas, de forma que o poder normativo passou ser competência 
constitucional conferida aos Tribunais do Trabalho para decidir os conflitos por meio 
da jurisdição e nos limites que são impostos pelas partes e as disposições legais de 
proteção ao trabalho. 
No plano prático, o poder normativo decorre da atuação do judiciário 
trabalhista em sede de dissídios coletivos, subdivididos em dissídios de natureza 
jurídica ou natureza econômica. 
Os dissídios de natureza econômica são os que visam à criação de normas 
novas, de novas condições de trabalho. Não se trata de aplicação de norma 
anteriormente estabelecida, mas, sim, de criação de nova norma, sendo esta a autêntica 
novidade criada pela sentença normativa. Já no que tange ao dissídio de natureza 
jurídica, trata-se de aplicação ou interpretação de norma pré-existente, acerca da qual 
a Justiça do Trabalho deve declarar a aplicabilidade ou interpretação da norma que 
afeta toda uma categoria. (MARANHÃO, 1978, P. 337 Apud CASTRO, 2017). 
Na prolatação da sentença normativa o magistrado se vê obrigado a 
compor o conflito coletivo tendo como premissas os princípios da proporcionalidade 
5 
e da equidade, sobretudo porque o dissídio coletivo traz em seu bojo um antagonismo 
entre direitos fundamentais dos trabalhadores e dos empregadores. 
A sentença normativa é, materialmente, uma lei lato sensu, pois estabelece 
normas e condições de trabalho, motivo pelo qual parte dos doutrinadores entendem 
que o poder normativo dos Tribunais do Trabalho não representa um real efetivo 
exercício da função jurisdicional, mas sim o desenvolvimento de uma função 
legislativa, na medida em que, por meio dela não se objetiva a aplicação de direito pré-
existente ao caso concreto, mas a criação de novas condições de trabalho. 
O fato é que esse poder normatizador está limitado pela Constituição 
Federal, que estabelece ao Judiciário a possibilidade de decidir sobre questões que lhe 
forem submetidas consensualmente e estando a decisão limitada pelo respeito às 
disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas 
anteriormente. 
Ou seja, o magistrado, por meio da sentença coletiva, não poderá reduzir 
direitos trabalhistas já conquistados anteriormente pela categoria profissional bem 
como estabelecer condições inferiores às previstas em lei, decisões que, por fim, 
resultarão precedentes normativos. 
No entendimento do Excelso Pretório o exercício do poder normativo 
pela Justiça do Trabalho é muito reduzido, privilegiando a negociação direta de 
solução dos conflitos coletivos, in verbis 
DISSÍDIO COLETIVO. Recurso extraordinário provido, para excluir as 
cláusulas 2 º ( piso correspondente ao salário mínimo acrescido do percentual) 
e 24º ( estabilidade temporária), por contrariarem, respectivamente, o inciso 
IV( parte final) e I do art. 7 º da Constituição, este último juntamente com o 
art. 10 da ADCT, bem como a cláusula 29º ( aviso prévio de 60 dias ), por ser 
instituída no art. 7º, XXI, da Constituição. Recurso igualmente provido, 
quanto à cláusula 14 º (antecipação para junho, da primeira parcela do 13 º 
salário) por exceder seu conteúdo à competência normativa da Justiça do 
Trabalho, cujas decisões, a despeito de configurarem fonte de direito objetivo, 
revestem a caráter de regras subsidiárias, somente suscetível de operar no 
vazio legislativo, e sujeitas à supremacia da lei formal (art. 114, § 2º, da 
Constituição). Recurso de que não se conhece no concernente à cláusula 
(reajuste salarial), por ausência de pressuposto de admissibilidade, e, ainda no 
que toca as cláusulas 52º (multa pela falta de pagamento de dia de trabalho), 
59º (abrigos para a proteção dos trabalhadores), 61º (fornecimento de listas de 
empregados), 63º (afixação de quadros de aviso), visto não contrariarem os 
dispositivos constitucionais contra ela invocados, especialmente o § 2º do art. 
114. 
(STF-RE nº 197.911-9; Rel. Min. Octavio Gallotti; DJU 7.11.1997) 
6 
Pelo julgado observa-se que o poder normativo não pode ser exercido de 
forma irrestrita estando delimitado ao vazio legislativo, de forma subsidiária ou 
supletiva, mas, ainda assim, subordinado à lei, não podendo produzir disposições ou 
normas contrárias à Carta Magna. 
Assim, havendo previsão legal sobre direitos mínimos, não caberá à 
Justiça do Trabalho, por meio da atividade legislativa complementar, conferir direitos 
além do mínimo regulado em lei, desde que os particulares tenham acordado 
convenções coletivas acima do mínimo legal. 
Ou seja, em que pese o poder normativo da Justiça do Trabalho 
permanecer como uma “intervenção do estado” na esfera das relações entre trabalho 
e capital, o fato é que com a EC 45/04 esse papel passou a ser mais de “conciliador”, 
limitado pelo avençado pelas partes em litígio e pelo mínimo legal e convencional. 
Não há como dissociar a alteração trazida pela EC 45/04 do processo de 
integração do país ao mundo globalizado que emergiu após a queda do muro de 
Berlim em 1989 e a dissolução da União Soviética a partir de 1991. 
O processo de Globalização redundou em crescente informalidade e 
flexibilização da relação entre trabalho e capital. No Brasil, como reflexo desse 
fenômeno, a EC 45/04 possibilitou a minimização do poder de intervenção do estado 
nessas relações, mas ainda não teve o fito de romper com todo um passado ligado ao 
corporativismo, assistencialismo e controle que o estado exerceu sobre o movimento 
trabalhista desde a CF/1937. 
 
REFERÊNCIAS 
 
CASTRO, O poder normativo da Justiça do Trabalho: reflexos na organização da 
Classe Trabalhadora, Rev. do Trib. Reg. Trab. 10ª Região, Brasília, v. 21, n. 1, 2017. 
Disponível em: < 
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/1939/110531/2017_castro_lucas_pod
er_normativo.pdf?sequence=4>. 
 
 
MEIRA, Armando Dayverson Pegado. O poder normativo na Justiça do Trabalho: 
origem, conceito, natureza jurídica e limites, OAB/PA, s.l., s.d.. Disponível em: < 
http://www.oabpa.org.br/index.php/2-uncategorised/1273-o-poder-normativo-na-
justica-do-trabalho-origem-conceito-natureza-juridica-e-limites-armando-pegado>. 
 
7 
NEVES, José Tôrres das. O poder normativo da justiça do trabalho. Revista do 
Tribunal Superior do Trabalho, São Paulo, v. 77, n. 2, p. 308-334. abr./jun. 2011. 
Disponível em: < https://juslaboris.tst.jus.br/handle/1939/25357>.