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11 A teoria dos três tipos de governo em Montesquieu

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A teoria dos três tipos de governo
em Montesquieu
Alexandre Carneiro de Souza
Uma das características de O Espírito das Leis é a ampla diversidade dos temas 
tratados. Montesquieu escreve a obra com a pretensão de analisar as dimensões 
histórica, social e política das leis, investigando-as da forma mais ampla possível, 
tentando incorporar á obra as mais diferentes expressões das leis, dos usos e dos 
costumes dos povos da terra. 
Metodologicamente, o autor utiliza-se de um aparelho conceitual que propõe dar a 
diversidade dos fenômenos jurídicos uma ordem que permita a essa realidade ser 
pensada. A variedade das leis segundo os costumes diversificados dos povos não 
representa um problema, antes traduz a própria natureza dos costumes. Essa 
variedade pode ser explicada, considerando-se que as leis próprias de cada sociedade 
são causalmente determinadas. Assim sendo, caberia ao analista identificar as causas 
particulares das leis de uma determinada sociedade para em seguida isolar aqueles 
princípios intermediários que se situam entre a diversidade particular de uma cultura e 
os conceitos universalmente válidos.
Um aspecto a ser destacado tem relação com o tempo que o livro levou para ser 
elaborado. As épocas diferentes e as inovações por conta das observações feitas 
durantes as viagens do autor dão ao livro não uma composição incoerente, mas a 
reunião de trecho de data e de inspiração diferentes. Tome-se, por exemplo, o livro XI 
sobre a Constituição da Inglaterra e a separação dos poderes que deve ter sido escrito 
após sua viagem ä Inglaterra. Outro exemplo são os livros de sociologia que aborda as 
causas físicas ou morais das leis, provavelmente escritos ainda mais tarde (Aron, 
2000:21).
A primeira parte da obra está constituída pelos livros de I ao XIII - nela o autor 
constrói a sua análise acerca dos três tipos de governo. Essa parte é também traduzida 
como a sua teoria política.
As três modalidades de governo
 A república = democracia ou aristocracia
A monarquia
O despotismo
Antes de apreciar o conjunto das análises sobre as razões e as práticas desses 
três tipos de governo faz-se necessário assinalar a influência de Aristóteles na 
construção da peça formada pelos treze primeiros livros. No entanto é importante 
ressalvar Montesquieu não segue ortodoxamente os escritos aristotélicos. Muito 
embora não se possa negar essa influência visível da escola clássica da filosofia, 
Montesquieu faz alusão, critica e inova o pensamento de Aristóteles acerca das formas 
de governo. Raymond Aron entende que Montesquieu tanto se aproxima como se 
afasta dos filósofos clássicos. A análise dos tipos de governo concentra-se nos livros II 
ao VIII.
Critérios para a definição dos tipos de governo
Vale mencionar que Montesquieu abandona aquela distinção aristotélica de 
governo puro e impuro. Toda forma de governo é para Montesquieu uma organização 
normal, uma vez que cada um possui sua própria natureza e é animado por princípios e 
causas físicas e sociais.
Um outro aspecto importante é que o estudo do filósofo francês sobre as formas 
de governo se distinguia da visão aristotélica distinguia a superestrutura política das 
bases sociais.
A contribuição decisiva de Montesquieu consiste precisamente em 
retomar o problema na sua generalidade e combinar a análise dos 
regimes com a análise das organizações sociais, de tal modo que 
cada governo apareça, ao mesmo tempo, como uma sociedade 
determinada (Aron, 2000:23). 
A natureza e o princípio dos governos
Natureza: Aquilo que faz com que o governo seja o que é (estrutura particular do 
governo)
Princípio: Aquilo que faz o governo agir do modo que age (as paixões humanas 
que movimentam o governo). Deve-se considerar a própria observação que o autor faz 
acerca desses princípios:
Tais são os princípios dos três governos, o que não significa que, em 
determinada república, se seja virtuoso, mas sim que se deveria sê-lo. 
Isso também não prova que numa certa monarquia, a honra reine e 
que, num dado Estado despótico, o medo vigore: mas sim que a honra 
e o medo deveriam existir, sem o que o governo seria imperfeito (Livro 
II, p.47)
Governo, exercício do poder e sentimentos políticos
Governo Forma Princípio
República 
democrática
O povo possui o poder soberano Virtude
República O poder soberano em mãos de um grupo Virtude
aristocrática
Monarquia O monarca ou o príncipe é a fonte de todo o poder 
político e civil, segundo leis estabelecidas
Honra
Despotismo O poder exercido sem leis, por um só Temor
Critério 1- A natureza de cada governo é determinada pelo número dos que 
detém a soberania:
Suponho três definições, ou antes, três fatos: um que o governo 
republicano é aquele em que o povo, como um todo, ou somente uma 
parcela do povo, possui o poder soberano: a monarquia é aquele em 
que um só governa, mas de acordo com leis fixas e estabelecidas, 
enquanto, no governo despótico, uma só pessoa, sem obedecer a leis 
e regras, realiza tudo por sua vontade e seus caprichos (Livro II, cap. 
1, p.31).
Critério 2- A natureza de cada governo não depende somente do número dos 
que detém o poder soberano, mas também do modo como este é exercido:
Montesquieu mostra na comparação entre o exercício do poder de um monarca e 
de um déspota que o aspecto relevante não repousa no número dos que exercem o 
poder, mas no fato de como o exercem. Na monarquia um exerce o poder com base 
em leis predeterminadas; no despotismo o poder político é exercido sem leis e sem 
regras.
Critério 3- Um tipo de governo não é suficientemente definido pela 
característica quase jurídica da posse do poder soberano. Cada tipo de governo 
se caracteriza, além disso, pelo sentimento sem o qual não pode durar ou 
prosperar:
Segundo Montesquieu o funcionamento, que ele denomina perfeito, de cada 
governo vai depender do sentimento que estaria movimentando as práticas do poder 
de cada um deles (Livro II, p.47). O autor define três sentimentos políticos 
fundamentais e cada um assegura a existência de um tipo de governo onde a república 
depende da virtude, a monarquia da honra e o despotismo do medo.
Os sentimentos políticos e as formas de governo
Governo Sentimento político Sentido
República Virtude Não é virtude moral, mas política. Respeito 
ás leis e devotamento do indivíduo á 
coletividade
Monarquia Honra É filosoficamente uma falsa honra. O 
respeito de cada um á sua posição na 
sociedade
Despotismo Temor Um sentimento infrapolítico. No caso de 
despotismo, o medo sustenta um Estado 
corrupto, que é a negação mesma da 
política. Os súditos que só obedecem por 
medo quase não são mais homens
O governo republicano democrático
Uma categoria de análise característica no estudo de Montesquieu sobre os 
governos é a associação da estrutura política com o tamanho do território. Assim 
sendo, para o autor:
É de natureza de uma república que seu território seja pequeno; sem 
isso ela dificilmente pode subsistir (...) os interesses individualizam; 
um homem sente, em primeiro lugar, que poderá ser feliz, poderoso, 
sem sua pátria, e, logo que só poderá ser poderoso sobre as ruínas da 
pátria (...) numa grande república o bem comum é sacrificado a mil 
considerações, é subordinado ás exceções, depende dos acidentes. 
Numa república pequena, o bem comum é mais bem percebido, mais 
bem conhecido, mais próximo de cada cidadão; os abusos são menos 
amplos e, conseqüentemente, menos protegidos (Livro VIII, cap XVI, 
p.120).
 Decerto não seria possível negar uma certa relação entre a extensão territorial e 
ordem pública. Isto parece evidente. Rousseau, também chegou a tocar nessa relação, 
embora que de modo menos incisivo: “No entanto, não se poderia dizer que a extensão 
dos Estados seja totalmente indiferente aos costumes dos cidadãos (1993:93)”. Por 
outro lado,as nações que ocupam territórios de dimensões continentais e o próprio 
governo internacional praticado pelos países industrializados deixam claro que o 
governo pode ajustar-se ao tamanho do território.
O exercício da democracia, ou seja, a atuação do povo como monarca passa 
pelos sufrágios, por meio dos quais a vontade do popular se expressa. Uma vez que na 
democracia, a vontade do soberano é o próprio soberano, as leis que estabelecem o 
direito de sufrágio são fundamentais (Livro II, cap. I, p.31).
A democracia pode ser exercida direta e indiretamente:
O povo que possui o poder soberano deve fazer por si mesmo tudo o 
que pode realizar corretamente e, aquilo que não pode realizar 
corretamente, cumpre que o faça por intermédio se seus ministros 
(Livro II, cap. I, p. 32).
É uma lei fundamental na democracia que só o povo institua as leis. Como não 
poderia ser diferente, um poder social tem seu centro de autoridade relacionado ao 
estabelecimento e á imposição das leis. A experimentação é uma forma primorosa de 
dar vigência ás leis. Chamando o exemplo de Roma e de Atenas, Montesquieu 
enaltece a atitude política em que o senado estatui leis por um prazo experimental de 
um ano, e elas só seriam perpetuadas pela vontade do povo (Livro II, cap. I, p.33).
Um Estado popular possui característica singular. Nele, quem manda executar as 
leis sente que ele próprio a elas estará submetido e que delas sofrerá o peso. Por esta 
razão, num Estado popular, é preciso uma força a mais: a virtude (Livro III, cap. I, p.41).
O patriotismo é a força que alimenta o regime democrático. Este torna a maior das 
ambições, o desejo de prestar á pátria serviços maiores que os outros cidadãos. Nas 
palavras do autor, ao nascer, o indivíduo contrai uma dívida com a pátria, a qual jamais 
poderá pagar (Livro V, cap.I, p.62).
O governo republicano aristocrático
O que distingue o governo aristocrático do democrático. Como já se observou, 
Montesquieu atribui que ambos requerem a força do sentimento político da virtude: a 
virtude é tão necessária no governo popular quanto na aristocracia; muito embora, 
nesta ela não seja tão absolutamente requerida (Livro III, cap. IV, p.43).
Duas questões são colocadas na comparação entre uma e outra forma de 
república:
a) Primeiramente, a aristocracia é possuidora de uma força que a democracia não 
tem:
Os nobres formam um corpo que, por sua prerrogativa e interesse 
particular, reprime o povo: basta que existam leis para que, a esse 
respeito, sejam executadas (Livro III, cap. I, p.43).
b) Depois, o corpo aristocrático experimenta um dilema quando as ocasiões 
requerem que os aristocratas reprimam a si mesmos:
Porém, como se coibirão os nobres? Os que devem nadar executar as 
leis contra seus colegas sentem imediatamente que agem contra eles 
próprios. Cumpre, portanto que, neste corpo, haja virtude, pela 
natureza da constituição (...) Ora um corpo semelhante apenas pode 
reprimir-se de duas maneiras> ou por uma grande virtude que faz com 
que os nobres se achem de algum modo iguais a seu povo, coisa que 
pode formar uma grande república; ou por uma virtude menor, isto é, 
certa moderação que torna os nobres, pelo menos, iguais entre si, o 
que faz a sua conservação (Livro III, cap. IV, p.43).
O lugar e o papel do povo na aristocracia é situado por Montesquieu como estado 
de prostração:
Quando os nobres são muito numerosos é necessário um senado que 
regulamente os negócios que o corpo de nobres não poderia resolver 
e que prepare os quais ele resolve. Neste caso, podemos dizer que a 
aristocracia existe, de alguma forma, no senado, a democracia no 
corpo de nobres e que o povo nada é (Livro II, cap. III, p.34).
Na aristocracia, muito mais que na democracia, pode haver a abertura para a 
concentração de poder nas mãos de um cidadão (nobre). Isto constituiria uma 
monarquia ou mais que uma monarquia, pois naquela a constituição limita o poder do 
monarca; já na república esse poder exorbitante leva a um abuso maior, pois as leis 
que não o proveram nada fizeram para limitá-lo (Livro II, cap. III, p. 34).
A melhor e a pior aristocracia:
Portanto, as famílias aristocráticas, na medida do possível, devem 
fazer parte do povo. Quanto mais uma aristocracia aproximar-se da 
democracia, tanto mais perfeita será ela; tornar-se-á menos perfeita á 
medida que se aproximar da monarquia (Livro II, cap. III, p.35).
A mais imperfeita de todas é aquela em que a parte do povo que 
obedece permanece na escravidão civil dos que comandam, como na 
aristocracia da Polônia, em que os camponeses são escravos da 
nobreza ( Livro II, cap. III, p.35).
A moderação é na aristocracia a virtude equivalente ao patriotismo na democracia:
A moderação é, portanto a alma desses governos. Refiro-me á que se 
baseia sobre a virtude e não á que decorre de uma covardia e 
preguiça da alma ( Livro II, cap. III, p.43).
O governo monárquico
Na classificação feita por Montesquieu acerca das formas de governo, em duas 
o poder é exercido de forma grupal (por todos e por alguns), como são os casos da 
democracia e da aristocracia. Os dois outros tipos de gestão do poder são exercidos 
isoladamente por um só indivíduo, como são os casos da monarquia e do despotismo.
Na monarquia não há espaço para o exercício plural do poder: o príncipe é a 
fonte de todo o poder político e civil (Livro II, cap.IV, p. 35).
No entanto mesmo concentrando em si todo o poder político e civil, a monarquia 
não concede á pessoa que governa o direito de impor sua vontade sem o respaldo de 
leis previamente fixadas. Essa forma de governo deve ser exercida de acordo com as 
leis fundamentais (Livro II, cap.IV, p. 35).
O poder monárquico, a despeito de exercido unilateralmente por um só 
governante, não poderá concretizar a administração política sem o apoio de forças 
auxiliares, aos quais Montesquieu denomina poderes intermediários, subordinados e 
dependentes:
Os poderes intermediários, subordinados e dependentes, constituem a 
natureza do governo monárquico, isto é, daquele em que uma só 
pessoa governa baseada em leis fundamentais (Livro II, cap.IV, p. 35).
Entre os poderes intermediários possíveis, o mais natural e certamente o mais 
importante é o da nobreza (magistrados, conselheiros). Ela é parte da essência da 
monarquia: sem monarquia não há nobreza, sem nobreza não há monarca (Livro II, 
cap.IV, p. 35).
Montesquieu destaca a importância de um repositório de leis atuando 
paralelamente aos poderes intermediários. Os cuidados deste repositório são 
responsabilidade de corpos políticos. Estes anunciam as leis quando criadas e 
relembram-nas quando esquecidas. Outra razão que justifica esse repositório de leis é 
a o desprezo que a nobreza tem sobre o governo civil, aliado a ignorância natural e a 
desatenção dos nobres (Livro II, cap.IV, p. 36).
Diferentemente do governo republicano, á monarquia falta-lhe virtude e sobra-
lhe honra:
Nas monarquias, a política manda fazer as grandes coisas com o 
mínimo de virtude possível (...) O Estado subsiste independentemente 
de amor pela pátria, do desejo da verdadeira glória, da renúncia a si 
mesmo, do sacrifício aos interesses mais caros e de todas estas 
virtudes heróicas que encontramos nos antigos e das quais apenas 
ouvimos falar (Livro III, cap. V, p.43).
A honra enquanto o sentimento político dominante no governo monárquico se 
explica pela própria natureza deste tipo de governo. A monarquia é um regime que 
supõe preeminências, categorias, distinções. Ela só sobrevive na medida em que 
consegue manter essas diferenciações. Desta forma poder-se-ia dizer que se na 
república vigora o sentimento da pátria comum de todos os indivíduos, na monarquia 
sobrevive o sentimento de classe. Esta é a razão porque Montesquieu afirma que a 
natureza da honra é exigir preferências e distinções. A honra designa osanseios 
específicos dos indivíduos e das classes, estando associado ao lugar que o indivíduo 
ocupa na sociedade monárquica (Livro III, cap. V, p.45).
O caráter dos súditos em todos os lugares e em todos os tempos:
A ambição na ociosidade, a baixeza no orgulho, o desejo de 
enriquecer sem trabalhar, a aversão pela verdade, a lisonja, a traição, 
a perfídia, o abandono de todos os compromissos, o desprezo pelos 
deveres do cidadão, o medo pela virtude do príncipe, a esperança em 
suas fraquezas e, mais do que tudo isso, o perpétuo ridículo lançado 
sobre a virtude, formam, creio, o caráter da maioria dos cortesãos, 
observados em todos os lugares e em todos os tempos (Livro III, cap. 
V, p.43).
O governo despótico
A principal característica do governo despótico é a administração política sem o 
amparo de leis constituídas e fundamentais. A vontade do governante déspota consiste 
na própria lei de maneira que a conduta política dos cidadãos converter-se-ia em 
submissão aos caprichos da vontade pessoal daquele que governa.
Montesquieu caracteriza a natureza do exercício do poder despótico:
Da natureza do poder despótico resulta que o único homem que o 
exerce. O faça também exercer por um só. Um homem cujos cinco 
sentidos dizem incessantemente que ele é tudo e os outros nada são, 
é naturalmente preguiçoso, ignorante e voluptuoso (Livro II, cap.V, p. 
36).
A instauração do despotismo está vinculada á supressão de todas as leis. Não 
havendo leis, não há garantias de direitos nem normas fundamentais da conduta dos 
indivíduos. A insegurança se torna um sentimento dominante, em razão da ausência de 
leis; e sem as garantias das leis o povo teme. A força do despotismo reside na ação de 
enfraquecimento da lei. Não seria conciliável uma convivência entre o déspota e a lei 
social e política, pois a fraqueza de um implica no fortalecimento do outro. Como bem 
assinala Montesquieu, o déspota só é poderoso porque foi capaz de suprimir as leis. O 
déspota não observa regulamento algum e seus caprichos destroem todos os demais 
(Livro III, cap.VIII, p. 45).
Em um governo despótico todos os homens são iguais não porque sejam livres, 
mas porque todos são escravos. Por esta razão:
A honra não constitui o princípio dos Estados despóticos; sendo todos 
os homens iguais não se podem antepor uns aos outros; sendo todos 
os homens escravos, ninguém pode antepor-se a coisa alguma (Livro 
III, cap.VIII, p. 45).
A associação do despotismo com o medo: O medo é necessário num governo 
despótico e o seu papel consiste em aniquilar qualquer probabilidade de revolução. O 
governante usa arbitrariamente o seu poder desregrado com a finalidade de inibir a 
coragem e extinguir o menor sentimento de ambição (Livro III, cap.VIII, pp. 45,46).
Um outro aspecto, relacionado á associação do medo com o despotismo é a 
instrumentalização daquele para instauração da tranqüilidade. No entanto a paz aí 
buscada restringe-se ao silêncio (Livro III, cap.VIII, p. 45).
Despotismo e religião. Sempre parece ter havido uma tendência da religião 
acomodar-se ou emprestar estatuto sagrado ao poder político dominante. No entanto 
para Montesquieu, nos Estados despóticos, a religião tem mais influência do que em 
qualquer outro: é um temor adicionado ao temor (Livro V, cap.XIV, p.72).
A corrupção dos três tipos de governo
Governo Princípio Corrupção
República
Democrata
Virtude
(igualdade)
Quando se perde o princípio da igualdade ou 
quando se pretende levá-lo ao extremo 
(abuso), procurando cada um ser igual 
aquele que escolheu para comandá-lo. O 
povo não podendo suportar o próprio poder 
que escolheu, quer fazer tudo por si só: 
deliberar pelo senado, executar pelos 
magistrados e destituir todos os juízes. Caso 
tais pretensões se concretizem, ninguém se 
submeterá aa ninguém. Os costumes e o 
amor pela ordem desaparecerão. Enfim, não 
mais existirá a virtude. A perda ou o abuso 
da igualdade ocorre na desregulamentação 
da democracia.
República
Aristocrática
Virtude 
(moderação)
Quando o poder dos nobres torna-se 
arbitrário. Nesse caso a república só 
subsiste em relação aos nobres e somente 
entre eles. O Estado republicano se torna em 
Estado despótico que possui vários 
déspotas. Estabelece-se aí um grande fosso 
entre o corpo que governa e o corpo 
governado. A extrema corrupção da 
aristocracia ocorre quando esta se torna uma 
oligarquia - a nobreza se torna hereditária e 
sem moderação.
Monarquia Honra A monarquia arruína-se quando um príncipe 
crê que mostra mais seu poderio 
transformando a ordem das coisas do que 
seguindo, quando suprime as funções 
naturais de uns para outorgá-las 
arbitrariamente a outros, e quando aprecia 
mais seus caprichos que suas vontades. A 
monarquia arruína-se quando o príncipe, 
relacionando tudo unicamente a si, chama 
Estado á sua capital, capital á sua corte, e 
corte á sua única pessoa. Enfim, ela se 
arruína quando um príncipe desconhece sua 
autoridade, sua situação, o amor dos 
súditos, e quando não percebe que o 
monarca deve julgar-se em segurança, como 
um déspota deve crer-se em perigo. Quando 
isto ocorre a honraria ocupa o lugar da 
honra, a infâmia e a dignidade convivem, ao 
invés de respeito os súditos são tratados 
com arbitrariedade, a severidade ocupa o 
lugar da justiça e reina a idéia de que o que 
faz com que deva ao príncipe faz com que 
não se deva nada á pátria. 
Governo despótico Medo O princípio do governo despótico corrompe-
se sem cessar, porque é corrompido por sua 
natureza. Os outros governos perecem 
porque acidentes particulares violam seu 
princípio; este perece por seu vício interior, 
quando causas acidentais não impedem seu 
princípio de se corromper. Ele só se 
mantém, portanto, quando circunstâncias 
provenientes do clima, da religião, da 
situação ou do temperamento do povo 
forçam-no a seguir a mesma ordem e a 
submeter-se a alguma regra. Essas coisas 
forçam sua natureza sem mudá-la; sua 
ferocidade permanece; essa está, por algum 
tempo, domada.
Bibliografia
Montesquieu, Charles Louis de Secondart, Baron de la Bréde et de. Do Espírito 
das Leis. São Paulo, Abril Cultural (Os Pensadores), 1979.
Aron, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico, São Paulo, Martins 
Fontes, 1999. 
Montesquieu, Charles Louis de Secondart, Baron de. O Espírito das Leis: as 
formas de governo, a federação, a divisão dos poderes, presidencialismo versus 
parlamentarismo; introdução e notas de Pedro Vieira Mota, São Paulo, Saraiva, 2000.
Rousseau, Jean-Jacque. Discurso sobre a origem e os fundamentos da 
desigualdade entre os homens. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

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