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Civil 2016

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 CADERNO SISTEMATIZADO (CERS + LFG + DAMÁSIO) - 2016 
 
 
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DE DIREITO CIVIL 
 
 Quadro Evolutivo 
 
É cediço que o direito Romano apresentou as primeiras feições do Direito Civil. 
No direito Romano a ciência jurídica era dividida em: i) direito civil; ii) direito penal. 
E era civil tudo o que não era penal. 
O direito civil era tudo, e quem quer ser tudo talvez não consiga ser rigorosamente 
nada. Este era o grande problema do direito civil, pois ele englobava todas as matérias que 
não eram penais. E por conta disto, o direito civil apresentava-se com uma grande feição, 
apresentando-se dentro do direito civil: o direito do trabalho, o direito processual civil, o 
direito empresarial, o direito administrativo. 
Com a presença do absolutismo estatal o direito civil passou a ter correlação com 
os interesses do rei, por isso o direito administrativo situava-se dentro do campo civil. 
Toda esta concatenação tem como limite a Revolução Francesa, que tinha por 
ideais a igualdade, liberdade e fraternidade, haja vista que instaurou uma nova ordem 
social. 
A partir deste momento começa a se estruturar o direito civil moderno, isso em 
1804. Neste momento surgiu o “Code de France” (Código Napoleônico), que está em vigor 
até hoje. A finalidade deste código foi retirar o Estado do Direito Civil, concebendo uma 
engenharia jurídica que preserva-se a propriedade privada, a autonomia privada, era 
necessário que se garantisse aos particulares o direito de contratar livremente. Foi com o 
Código da França que se separou pela primeira vez o direito em: público e privado. O 
direito público era o direito administrativo, ao passo que o direito privado era o direito civil. 
Napoleão queria garantir à burguesia tudo que se entregou a ele, para derrubar o 
absolutismo estatal (causou a queda da bastilha). Napoleão garantiu a propriedade 
privada, a autonomia privada contratual (que se chamava pacta sunt servanda). 
Napoleão, em outro passo, também garantiu a supremacia do interesse público 
sobre o privado em matéria de direito público. Se tiver interesse público, prevalece o 
interesse público, caso contrário, o particular terá autonomia. 
Devemos lembrar que todo o Código traz consigo certos valores. Quais eram os 
valores deste Código? O Código da França era: 
i) Patrimonialista; 
ii) Individualista. 
O direito civil construiu-se a partir da referência da propriedade privada e do pacta 
sunt servanda. Portanto, o direito civil quis garantir a liberdade no campo privado, mas sem 
violar a supremacia do interesse público sobre o privado. 
Temos uma grande comparação quase que idílica (figurado) entre um jardim e 
uma praça. Esta é uma metáfora apresentada pelo grande professor Nelson Saldanha de 
Pernambuco. Nelson Saldanha compara o público vs. Privado com um jardim e uma praça. 
A praça é o espaço do público, ao passo quo jardim é o espaço privado. Na praça só 
posso fazer o que a lei permite. Já no jardim posso fazer tudo, exceto o que a lei proíbe. 
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Nas pegadas do Código Civil Francês, surge em 1896 um segundo Código da era 
moderna, qual seja: Código da Alemanha (“BGB”), que possuía as mesmas diretrizes do 
Código Francês. 
No Brasil, a primeira manifestação do direito civil foi em 1824, por meio da 
Constituição Imperial, que estabeleceu que em 1 (um) ano deveriam ser elaborados um 
Código Civil e um Código Penal. O Código Criminal do Império foi elaborado em 1832. 
Quanto ao Código Civil o legislador foi muito lento, sendo que em 1855 o Brasil contratou o 
Baiano Augusto Teixeira de Freitas para elaborar o primeiro Código Civil brasileiro, que era 
um homem visionário e acima dos padrões da época, e rapidamente começou os estudos. 
Teixeira de Freitas então em 1862 apresentou o seu Projeto de Código Civil, que 
ele humildemente chamou de “esboço de Código Civil”, que tinha quase 7 mil artigos, e 
tratava de matérias inusitadas, tais como: a proteção do nascituro; revisão judicial de 
contratos; e divórcio. O Governo nem deu andamento ao projeto de Teixeira de Freitas, 
afinal era muito evoluído para a época. 
Teixeira de Freitas enlouqueceu após isso, sendo até mesmo interditado. 
O esboço de Teixeira de Freitas adotou o “esboço” de Teixeira de Freitas, sendo 
hoje um dos países mais avançados do mundo em matéria de direito civil. 
Em abril de 1899 o Brasil contrato Clóvis Bevilaqua, que ensinava direito civil 
comparado na faculdade de Olinda (afinal o Brasil ainda não tinha um Código Civil). Em 6 
meses Bevilaqua entregou o projeto de Código Civil (outubro de 1899). O referido projeto 
ficou sendo debatido no Congresso até 1936, quando foi aprovado para entrar em vigor em 
1917 o Código Civil de 1916. Esse Código elaborado em 1899 só podia receber as 
influências da referência da época, e, portanto, recebeu direta influência do Código Civil 
Francês e do Código Civil Alemão, sendo assim, era o Código Civil de 1916 individualista e 
patrimonialista, e este Código Civil conseguiu com perfeição respirar os ares do público e 
do privado. 
Para o nosso Código de 1916 onde estava o direito público não poderia estar o 
privado, ou seja, não poderíamos ter a um só tempo um “mix” entre público e privado. E 
naturalmente o Código de 1916, trazendo essa feição entre público e privado, cuidava 
somente de relações patrimoniais (para garantir a propriedade privada, o pacta sunt 
servanda). Este Código não admitia interferência do Estado nas relações privadas. Onde 
estava o Poder Público não poderia estar o particular, pois havia supremacia do público 
sobre o privado. 
O saudoso Silvio Rodrigues dava como prova do caráter patrimonialista e 
individualista do Código Civil de 1916 o instituto da tutela. Tutela é colocação de um menor 
órfão em uma família substituta. No Código de 1916 a tutela era regida por 24 artigos, 
sendo que 23 artigos preocupavam-se com o patrimônio dele, e só um cuidava da pessoa, 
que era do tutor (e não do tutelado). O Código Civil de 1916 preservava a propriedade do 
tutelado. O Código Civil de 1916 preocupava-se com o ter, com a proteção do patrimônio. 
Esse Código de 1916 passou a ter um grande problema. O problema era: quando 
surgir um problema não trabalhado no Código, como ele será dirimido? Passamos ater a 
denominada legislação de emergência, vale dizer, toda vez que houvesse um problema 
não previsto no Código edita-se uma lei. Exemplo: quando o Código foi elaborado não 
existia nenhum condomínio. A partir das décadas de 30 e 40 surgiram os grandes 
condomínios. Condomínio é direito privado. Eram editadas leis sempre que necessário. E o 
sistema jurídico de direito civil ficou como? O sistema do direito civil era como se fosse um 
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sistema solar. O Código de 1916 era o astro rei, que irradiava luzes aos outros sistemas 
(microssistemas), por exemplo: Lei de Registros Públicos, lei de inquilinato, Código de 
Menores, Estatuto da Mulher Casada. Estas leis se submetiam às diretrizes do Código, 
quais sejam: patrimonialismo e individualismo. 
Isso assim se manteve até 1988. Durante todo este período tivemos uma 
afirmação consequencial deste sistema: o Código Civil de 1916 colocou-se em uma 
posição de proeminência, aceitando-se a ideia de que o Código era a mais alta norma do 
direito civil, pois nenhuma Constituição Brasileira cuidava de direito civil, afinal o sistema 
era dividido em público e privado (clivagem). A Constituição era direito público e não se 
podia falar em direito civil. Quem tratava de direito civil era o Código Civil de 1916. Então, 
apelidou-se o Código Civil de 1916 de Constituição de Direito Privado, ao passo que a 
Constituição Federal era uma Carta Política, pois esta tinha o papel de cuidar da 
organizaçãopolítica-administrativa. Assim, acima do Código Civil não havia nenhuma outra 
norma. Havia uma subversão hermenêutica, pois o Código Civil arvorava-se em papel 
constitucional e a Constituição ficou reduzida a uma mera Carta Política, um protocolo de 
intenções administrativas. 
O Código Civil de 1916 conseguiu uma proeza: era uma lei ordinária que 
permaneceu incólume por 6 diferentes Constituições: Constituição da República (1891), 
Constituição de 1934, Constituição de 1937, Constituição de 1946 (Vargas), Constituição 
de 1967 (militares) e Constituição de 1969 (militares). Nenhuma dessas Constituições 
conseguiu alterar aquela matéria de lei ordinária, pois as matérias do Código Civil nunca 
foram tratadas em sede constitucional, afinal havia clara divisão entre público e privado. 
Tudo isso é significativamente alterado em 1988, com o advento da CF/88. O 
direito civil ganha um grande movimento advindo da Itália para o Brasil, denominado de 
Constitucionalização do direito civil, que tem por fundamento a percepção de que o 
Código Civil não tinha condições de manter um sistema. De acordo com Orlando Gomes “o 
Código Civil perdeu sua completude e generalidade”. Somente uma lei superior 
conseguiria (re)unificar o direito civil (o direito civil já havia sido unificado, mas agora 
deveria ser reunificado no eixo constitucional, e não mais no eixo do Código). O movimento 
de constitucionalização do direito civil ou direito civil constitucional nada mais significa do 
que a interpretação dos clássicos institutos do direito civil conforme a Constituição. Não 
significa que existam dois direitos civis: um no Código Civil e outro na Constituição! O 
direito civil é um só. Toda a compreensão do direito civil tem de se dar conforme a 
Constituição. Portanto, o direito civil se constitucionalizou, e aqueles institutos que só 
estavam presentes no Código Civil (a exemplo da propriedade, o contrato, a família etc) 
tem agora previsão na Constituição. 
A Constituição passou a disciplinar o público e o privado. 
Daniel Sarmento e Luiz Roberto Barroso entendem que hoje a divisão do direito 
em público e em privado é meramente acadêmica, pois tanto o público, bem como o 
privado brotam da Constituição. A Constituição apresenta os pilares da Constituição de um 
e de outro, consequentemente, a divisão é meramente acadêmica. 
ATENÇÃO: Cuidado para não confundir Constitucionalização do direito Civil com 
Publicização do Direito Civil (CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL ≠ 
PUBLICIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL). 
Constitucionalização do direito civil = É a compreensão dos institutos do direito 
civil conforme a Constituição, vale dizer, é a vinculação do tecido normativo 
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infraconstitucional às normas constitucionais. Todas as normas infraconstitucionais 
precisam ser interpretadas conforme a Constituição. 
Na ADI 4277 há um espetacular exemplo de constitucionalização do direito civil. 
Discutiu-se nesta ADI se o conceito de união estável poderia alcançar as uniões 
heteroafetivas e também as homoafetivas. O artigo 1.723 do Código Civil diz assim: A 
união estável é entre homem e mulher (é heteroafetiva). Contudo, o STF entendeu que de 
acordo com os valores da Constituição (dignidade humana, solidariedade, liberdade, 
igualdade) o art. 1.723 do CC tem que ser interpretado que a união estável entre pessoas 
do mesmo sexo é possível. 
Publicização (Dirigismo contratual)= é a episódica e casuística intervenção do 
Estado em uma relação privada para garantir igualdade entre as partes. O Estado percebe 
que determinadas relações privadas precisa do Estado, justamente para se manter a 
isonomia entre as partes. Ocorre quando o Estado penetra em uma relação privada 
visando a isonomia entre as partes. Exemplo: atuação das agências reguladoras, entre as 
quais algumas vão se imiscuir nas relações com os Planos de Saúde. A Seguradora só 
pode aumentar a contribuição de acordo com os índices estabelecidos pelo governo. A 
União penetra em uma relação privada para estabelecer limites. É um claro exemplo de 
dirigismo contratual. 
Estes dois movimentos podem estar juntos (Constitucionalização + Publicização), a 
exemplo do direito do trabalho e direito do consumidor. 
Este movimento de constitucionalização (de compreensão do direito civil conforme 
a Constituição) gera preocupação com o ser e não com o ter. Se o Código de 1916 
preocupava-se fundamentalmente com a proteção do patrimônio (do ter), a Constituição 
preocupou-se com “o ser”. 
A tábua de valores da Constituição Federal (tábua axiológica da CF/88) revela 
essa preocupação com o “ser”. 
Quais são os valores da Constituição? Liberdade, Igualdade e solidariedade social. 
A Constituição estabelece uma espécie de “revival” (ela volta no tempo), pois 
resgata no tempo a liberdade, a igualdade e a solidariedade como tábua de valores, com o 
objetivo de se garantir a dignidade da pessoa humana. 
Esta preocupação com o “ser” faz com que direito adapte-se a isso. E teremos com 
isso no direito civil um movimento de (re)personalização, sendo que o direito civil passa 
a se preocupar com a pessoa humana. Não quer dizer que o direito civil deixou de proteger 
o patrimônio. Continua-se protegendo-se o patrimônio (a propriedade continua privada, o 
contrato continua submetido ao pacta sunt servanda). Ele apenas agora tem como 
proteção precípua (fundamental) a dignidade humana. 
O direito civil antevê uma grande proteção da pessoa humana. 
Esse movimento inaugura uma nova era denominada de: Direito Civil Mínimo, 
que significa intervenção mínima do Estado na relação privada. O Estado só deve intervir 
na relação privada quando for necessário para garantir: dignidade, igualdade, 
solidariedade e liberdade. Se não há necessidade de preservar estes valores, vale a 
autonomia das partes (autonomia privada). 
É esse movimento de Direito Civil Mínimo, que faz com que o Estado intervenha 
para proteger a pessoa. 
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(XL Concurso MP/MP) Dissertação: Em poucas linhas, elabore dissertação, 
respondendo à seguinte pergunta: “O direito civil está em crise?” 
Para responder a esta questão temos que passar por todo o histórico do direito 
civil (Código de 1916 até 2002) e falar sobre o movimento de Constitucionalização. Crise 
pode ser tomada no sentido de mudança de paradigma, ocasião em que a resposta seria 
afirmativa. Se a palavra crise for tomada no sentido de extinção, a resposta seria negativa. 
A Constitucionalização do direito civil teria alterado a estrutura do Direito 
Civil? RESPOSTA: O direito civil é, foi e será para sempre ramo do direito privado. O 
direito civil cuida das relações privadas, indiscutivelmente. E a relação privada é 
propriedade, contrato e família. O que o direito civil sofreu foi uma modificação valorativa e 
não estruturante (a estrutura é a mesma, mas os valores foram modificados). Se os valores 
do Código de 1916 eram patrimonialismo e individualismo, a Constituição estabeleceu 
novos valores (liberdade, igualdade e solidariedade), passamos com isso a ter uma 
incompatibilidade no sistema. O Código Civil era incompatível com a Constituição. Assim, 
percebeu-se a necessidade da criação de um novo Código Civil (CC/2002). 
 
1. Código Civil de 2002 e os seus paradigmas (diretrizes): eticidade, 
operabilidade e socialidade (BOBBIO e da Estrutura à Função) 
 
O Código Civil de 2002 veio atender à circunstância de a Constituição ter trazidos 
novos valores. E assim sendo, o Código Civil de 2002 apresentou 3 valores, quais sejam: 
a) Eticidade 
b) Operabilidade 
c) Socialidade 
Então, podemos de certo modo dizer que o movimento de constitucionalização 
exigiu um novo Código com valores diferentes (e não os valores do individualismo e 
patrimonialismo, pois estes estavam em rota de colisão com a Constituição).Os paradigmas do novo Código permeiam todo o sistema jurídico de direito civil e 
de direito privado a partir da Constituição. 
A sistema jurídico do Direito Civil continua assemelhado a um sistema solar. Onde 
estava antes o Código Civil (em uma posição privilegiada) está hoje a Constituição. A 
Constituição é o grande astro rei. A Constituição tem preocupação com a dignidade 
humana. O Código Civil agora é uma das normas do direito privado, ao lado do Código de 
Defesa do Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Torcedor, Lei 
de Direitos Autorais, Estatuto do Idoso, etc. Todas essas normas do direito civil submetem-
se à Constituição. 
Por isso que o Código Civil novo precisava de valores que se adaptam-se à 
dignidade da pessoa humana. 
Como é que se organiza o direito civil? 
O Direito Civil divide-se em: 
a) Parte Geral: onde se estuda os elementos componentes de uma relação jurídica. 
Toda e qualquer relação jurídica possui: Sujeito (Pessoas), objeto (Bens) e 
vínculo (Fatos Jurídicos). 
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b) Parte Especial: onde se estuda os campos nos quais se projetam as atividades 
privadas, quais sejam: Trânsito jurídico (= circulação de riquezas. São os Direitos 
das Obrigações) Ex.: pagamento, cumprimento de contrato, indenização por um 
prejuízo etc.); titularidade (= propriedade. São os direitos Reais.); afetivas 
(relações de afeto. Ex.: direito de família. São os direitos de família e sucessões). 
 
Obs.: A Parte Geral do Código Civil não estuda as relações privadas, pois estas 
encontram-se na Parte Especial. A Parte Geral estuda a relação jurídica, e não a relação 
privada. A parte Geral do Direito Civil tem, portanto, aplicação universal. Exemplo: no 
direito do trabalho é preciso que o objeto seja lícito; no contrato administrativo é necessário 
que exista agente capaz. 
As obrigações (onde se insere o contrato), direitos reais e família precisam ser 
compreendidos de acordo com os valores da eticidade, operabilidade e socialidade. 
A eticidade significa compreensão ética de uma relação. 
Eticidade é um neologismo para dizer que todas as relações privadas precisam ser 
compreendidas conforme a ética. 
Ética não se confunde com a moral. Ética é coletiva, é aquilo que se espera de 
todos (não tem uma conotação moral). Exemplo de eticidade: boa-fé objetiva. Se um dia os 
contratos foram interpretados pelo pacta sunt servanda (contratou tem que cumprir! Morra, 
mas cumpra!), agora tem que ser interpretado conforme a ética (boa-fé objetiva – é a ética 
que se espera das relações contratuais). 
A socialidade é a compreensão dos institutos do direito civil com uma 
preocupação com a sua função social. Os institutos do direito civil precisam cumprir uma 
função social, não podendo o direito civil ter mais uma visão individualista (precisa ter 
compreensão social). É a função social do contrato, é a função social da propriedade. 
A operabilidade é a utilização dos institutos do direito civil de forma fácil. A 
utilização dos institutos não deve ser complexa, não deve ser com apego ao tecnicismo. O 
direito civil deve ser facilmente compreendido. Aqui serve o exemplo da distinção entre 
prescrição e decadência, em que o direito civil facilitou a compreensão destes institutos. 
NORBERTO BOBBIO, em sua obra “Da estrutura à função”, apresentou esses 
elementos que hoje foram incorporados ao nosso Código Civil, quais sejam: eticidade, 
socialidade e operabilidade. 
Na própria Exposição de Motivos do Código Civil escrita por MIGUEL REALE 
revela-se esses três paradigmas (eticidade, socialidade e operabilidade). 
 
2. Incidência dos Direitos Fundamentais nas relações privadas 
 
E aqueles direitos fundamentais tratados na Constituição incidem no Direito 
Civil (INCIDÊNCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS)? 
Incorporada esta ideai de constitucionalização do direito Civil (Direito Civil 
Constitucional), nós passamos a ter um segundo momento de reflexão, que veio por conta 
de debates doutrinários que terminaram por desembocar no Supremo Tribunal Federal. A 
discussão gravitou ao redor da seguinte questão: que o direito civil vai ser interpretado 
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conforme a Constituição é indiscutível (o contrato, a propriedade e família serão 
interpretados conforme a Constituição), mas a autonomia privada (a vontade das partes) 
teria o condão de afastar a incidência dos direitos fundamentais? Poderia A e B celebrar 
um contrato afastando um direito fundamental constitucional? É a ideia do direito civil 
mínimo (em que o Estado só deve intervir para respeitar a dignidade). Alguns autores 
primeiramente disseram que sim. Contudo, posteriormente surgiu a tese da aplicação 
direta dos direitos fundamentais (= eficácia horizontal dos direitos fundamentais). 
Esta foi a tese que prevaleceu na doutrina (a exemplo de LUIZ ROBERTO BARROSO, 
DANIEL SARMENTO, CRISTIANO CHAVES DE FARIA). 
O STF então foi exortado para discutir a matéria no leading case RE 201.819/RJ 
(rel. Ministro Gilmar Mendes). Leading case significa caso paradigmático ou caso líder, que 
é o precedente que inaugura uma orientação sobre determinada matéria. O entendimento 
do STF, consagrado neste leading case, foi no sentido que os direitos fundamentais não se 
aplicam somente nas relações verticais (administrador x administrado – de direito público), 
mas também nas relações horizontais (vinculam também as relações privadas). Era um 
caso envolvendo uma Associação de Compositores do Rio de Janeiro, e tinha um chato 
que todos os demais queriam expulsá-lo, o Estatuto da Associação (que é uma relação 
privada) dizia que para expulsá-lo só bastava colocar em votação. Convocou-se a 
Assembleia e todos quiseram expulsá-lo. O chato era tão chato, que ele foi para a Justiça 
exigindo que lhe fosse assegurado o contraditório e ampla defesa. E o STF mandou 
reintegrá-lo na Associação, dizendo que o Estatuto Associativo não pode afrontar os 
direitos fundamentais, pois estes vinculam as relações entre particulares. 
O movimento de constitucionalização do direito civil agregou a eficácia dos direitos 
fundamentais, vale dizer, os institutos do direito civil devem ser interpretados conforme a 
Constituição, e nenhuma relação privada pode afrontar os direitos fundamentais (que 
possuem eficácia horizontal). 
 
3. A aplicação direta dos direitos sociais nas relações privadas (Eficácia 
horizontal dos direitos sociais). 
Surge outra questão: Se os direitos fundamentais possuem uma eficácia 
horizontal, e os direitos sociais dos artigos 6º e 7º da Constituição também possuem 
eficácia horizontal (ex.: educação)? 
Alguns constitucionalistas no Brasil deflagraram o debate, e este ganhou fôlego, e 
hoje prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que os direitos sociais 
previstos na CF/88 (artigos 6º e 7º) possuem também eficácia horizontal. 
Os direitos sociais também têm aplicação direta nas relações entre particulares. 
Exemplos: 
STJ, 302 (Súmula): é abusiva (= nula) a cláusula contratual de plano de saúde que 
limita no tempo a internação hospitalar do segurado” (direito à saúde é um direito social, e 
um contrato não pode limitar o direito à saúde). 
STJ, 364 (Súmula): o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange 
também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas (pessoas sozinhas 
= singles). Embora as pessoas sozinhas não sejam família, elas possuem o direito social à 
moradia. Moradia é um direito social. 
 
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(MPF/05) Disserte sobre: Constitucionalização e personalização do direito 
civil. Esboço histórico e fontes. A eficácia privada dos direitos fundamentais. 
 
4. A incidência direta dos tratados e convenções internacionais no âmbito das 
relações privadas. Controlede convencionalidade do direito Civil 
(Convencionalização do Direito Civil). 
 
Os tratados e convenções internacionais também são vinculativos nas relações 
privadas? 
Precisamos primeiramente lembrar do § 3º, artigo 5º da CF/88 (com redação 
conferida pela EC n. 45). Este dispositivo estabelece que Tratados e Convenções 
Internacionais que versem sobre direitos humanos, e que seja incorporado por maioria 
qualificada no Congresso (maioria de 3/5 em 2 turnos de votação), terão status de 
norma constitucional. 
Para a boa compreensão do tema, vamos lembrar que o sistema normativo é 
piramidal. Temos no topo (ápice) a Constituição Federal de 1988, e abaixo encontram-se 
as normas infraconstitucionais. É a partir desta arquitetura piramidal é que o assunto vai 
ser resolvido. 
Os Tratados e Convenções internacionais que versem sobre direitos humanos 
(requisito material) e que foram aprovados na forma da EC n. 45 (requisito formal) serão 
incorporados em sede constitucional. Desta feita, como eles têm status constitucional, eles 
impõem ao tecido infraconstitucional o controle de constitucionalidade. Exemplo: A 
Convenção de Nova Iorque foi incorporada pelo Decreto Legislativo 186/2008. A 
Convenção de Nova Iorque trata da proteção da pessoa com deficiência. No nosso país, a 
proteção de pessoa com deficiência é norma constitucional. 
Já os Tratados e Convenções Internacionais que não versam sobre direitos 
humanos (não preenchem o requisito material) serão incorporados em sede 
infraconstitucional. Entram no sistema como qualquer outra norma infraconstitucional (em 
patamar de igualdade com o Código Civil, CDC, etc). Exemplo: Convenção de Varsóvia de 
1929 trata de transporte aéreo – tem status de norma infraconstitucional, é uma lei como 
outra qualquer. E se ela é uma lei como outra qualquer, eventual conflito entre a 
Convenção de Varsóvia e outro dispositivo interno, será resolvido pelo princípio da 
especialidade da norma. Na referida Convenção há um tabelamento para a companhia 
aérea que perde a bagagem do passageiro. Contudo, o CDC diz que toda e qualquer 
indenização por força de relação de consumo deve ser com reparação integral. O STJ 
entendeu que prevalece o CDC em razão do princípio da especialidade (REsp 
169.000/RJ). 
No que tange aos Tratados e convenções internacionais que versam sobre direitos 
humanos (preenchem o requisito material), mas não foram aprovados na forma da EC/45 
(não preenchem o requisito formal), o STF (no RE 466.343/SP e HC 87.585/TO) entendeu 
que serão incorporados no intermédio entre a norma Constitucional e a norma 
infraconstitucional, vale dizer, há uma eficácia supralegal. Não podem ter status 
constitucional, pois não preencheram o requisito formal. E não merecem ter eficácia 
infraconstitucional, pois versam sobre direitos humanos. Exemplo: Pacto de San Jose da 
Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos). É de 1969. O artigo 7º do 
referido Pacto estabelece que os países signatários do pacto não admitirão prisão civil por 
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dívida, exceto o do devedor de alimentos. O artigo 5º, LXVII da CF/88 estabelece que no 
Brasil admite-se a prisão por dívida de alimentos e do infiel depositário, na forma da lei. O 
artigo 652 do Código Civil diz como vai ser preso o depositário infiel (Art. 652. Seja o 
depósito voluntário ou necessário, o depositário que não o restituir quando exigido será 
compelido a fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos). O 
STF editou a súmula vinculante 25, que reza: “é ilícita a prisão civil de depositário infiel, 
qualquer que seja a modalidade do depósito”. A súmula 419 do STJ vai mais longe, 
dizendo que é ilícita a prisão do infiel depositário até mesmo com relação ao depósito 
judicia. As normas infraconstitucionais submetem-se, portanto, a um controle de 
convencionalidade. 
 
5. A interpretação das normas do Direito Civil (normas gerais) e a 
possibilidade de diálogo das fontes (diálogo de conexão ou de 
complementariedade). Afastamento episódico da prevalência da 
especialidade. 
 
Interpretar o direito civil é interpretar uma norma geral. E sempre que 
interpretamos uma norma geral, lembramos do princípio da especialidade. 
De acordo com o princípio da especialidade, norma especial sempre afasta norma 
geral. 
Entretanto, devemos perceber que o Código Civil aproximou-se do ideal 
constitucional. O Código Civil abeirou-se da Constituição, quer respirar os ares dos valores 
constitucionais. Exatamente por isso, e não raro, o Código Civil traz normas mais especiais 
e mais protetivas do que as próprias normas encontradas nas leis especiais. 
Aqui surge o chamado diálogo das fontes (diálogo de conexão ou 
complementariedade), tese concebida pelo professor alemão ERIK JAIME, e trazida pelo 
Brasil pela professora CLÁUDIA LIMA MARQUES (Rio Grande do Sul). 
O diálogo das fontes é a possibilidade de inversão episódica e casuística do 
princípio da especialidade, vale dizer, é possível aplicar a lei geral no lugar da lei especial 
sempre que a lei geral mostrar-se mais protetiva para o sujeito de direito a que se pretende 
proteger. Portanto, é possível aplicar o Código Civil (lei geral) no lugar de uma lei especial, 
quando o Código Civil for mais protetivo para determinado sujeito de direito. 
Os dois terrenos mais férteis para aplicação do diálogo das fontes são: o direito do 
trabalho e o direito do consumidor. 
O artigo 445, § 1º do Código Civil é mais favorável ao consumidor do que os 
artigos 26 e 27 do CDC ao estabelecer o prazo para reclamação de vícios redibitórios. 
Exemplo: Se comprou um produto com defeito (ex. celular), o prazo no CDC é de 30 ou 90 
dias (se durável ou não durável), contados da descoberta do vício. Já o artigo 445, § 1º do 
Código Civil diz que se o vício for de difícil constatação o prazo será de 180 dias se for 
móvel ou de 1 ano se for imóvel, a partir da constatação. Nestes casos a norma geral é 
mas protetiva e mais eficiente para o sujeito de direitos, permitindo-se o diálogo das fontes. 
 
6. Interpretação do direito civil: regras e princípios 
 
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Para falar dos mecanismos de interpretação do direito civil devemos falar de 
DWORKIN, ALEXY, CANOTILHO, BONAVIDES, LUIZ ROBERTO BARROSO, DIRLEY DA 
CUNHA JÚNIOR. 
O entendimento é praticamente universal no sentido de que a norma jurídica 
bifurca-se em dois campos: 
a) norma-regra; 
b) norma-princípio. 
A diferença entre elas não é de hierarquia. 
Norma-regra: é uma norma de conteúdo fechado e de solução apriorística (= é 
apriorística por ter grau de abstração reduzido). 
Norma-princípio: é uma norma de conteúdo aberto e de solução casuística, com 
elevado grau de abstração. 
Se houver colisão entre norma-regra e norma-princípio (norma-regra x norma-
princípio), a solução deve ser conforme a Constituição, prevalecendo-se a norma 
constitucional. 
Se há uma regra constitucional colidindo com um princípio infraconstitucional, 
prevalece a regra. 
Se tem regra e tem princípio, supõe-se que as regras são elaboradas a partir dos 
princípios. As regras têm, portanto, presunção de constitucionalidade. 
Se a regra for incompatível com o sistema, e não com a regra, daí é caso de 
controle de constitucionalidade, interpretação conforme a constituição (com ou sem 
redução de texto) etc. 
Se houver colisão entre norma-princípio e norma-princípio (norma-princípio x 
norma-princípio), a solução ocorre por meio da técnica de ponderação de interesses 
(que veio do direito alemão e desenvolvida no direito norte-americano). É uma técnica que 
utiliza a proporcionalidade como técnica de solução de conflitos. 
Ponderação de interesses e proporcionalidade não necessariamente são 
sinônimos. 
A proporcionalidade pode apresentar-se como: a)princípio interpretativo (= 
razoabilidade); b) técnica de solução de conflitos (= ponderação de interesses). 
Quando a proporcionalidade apresenta-se como princípio interpretativo ela ganha 
o nome de razoabilidade. Exemplo: Convenção de condomínio que proíbe de modo 
absoluto a entrada de animais deve ser interpretada de acordo com a proporcionalidade. O 
STJ entende que animais dóceis podem ingressar. Aqui é a utilização da proporcionalidade 
como razoabilidade. 
Quando a proporcionalidade apresenta-se como solução de conflitos entre 
princípios ela ganha o nome de ponderação de interesses. Dois princípios são colocados 
em uma balança imaginária para se descobrir qual deles em um caso concreto tem maior 
densidade. É isso que é a ponderação. A solução é sempre casuística, não importando em 
exclusão definitiva de um dos princípios conflitantes. Exemplo: STJ, Resp 226.436/PR 
(relativização da coisa julgada na ação de conhecimento de filho) – a coisa julgada é um 
princípio constitucional, e o direito à perfilhação também. Aquelas ações julgadas 
 Direito Civil 2016 11 
 
11 
 
improcedentes pelo fato de não terem feito DNA podem ser repropostas agora. Exemplo 2: 
Súmula 309 do STJ – “o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que 
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que vencerem 
no curso do processo”. 
Ponderação é o critério para dirimir conflitos principiológicos, portanto. 
Se houver colisão entre norma-regra e norma-regra (norma-regra x norma-
regra), utiliza-se os clássicos métodos hermenêuticos: I) norma superior afasta inferior; II) 
norma especial afasta a geral; III) norma posterior afasta a anterior. 
Uma regra prevalece em relação a outra, sem que esta outra seja eliminada. 
É preciso atentar-se a uma nova técnica (que vem do direito inglês – common law) 
de solução da colisão entre norma-regra e norma-regra, qual seja: derrotabilidade 
(defeseability). Alguns autores, como HUMBERTO ÁVILA, preferem denominar de 
Superabilidade. Trata-se de uma técnica excepcional de interpretação de regras. A 
derrotabilidade é a possibilidade de afastamento episódico de uma regra constitucional e 
válida, mas que se mostra incompatível com o caso concreto. A sua aplicação pode violar 
os valores que inspiraram a sua própria edição. Exemplo: artigo 1.521 do Código Civil, que 
trata da proibição do incesto. É proibido casar irmão com irmão. Justifica-se. Contudo, na 
Espanha dois irmãos descobriram que eram irmãos após 14 anos de casamento, tinham 4 
filhos sem qualquer deficiência. O Ministério Público ingressou com ação de anulação de 
casamento. A regra é válida, mas aplicar esta regra neste caso sacrifica os valores que a 
inspiraram: preservação do núcleo familiar. Apesar da regra ser boa e válida, ela será 
derrotada (é a derrotabilidade da regra no caso concreto). Essa derrotabilidade só pode ser 
pontual (episódica) No STF e no STJ já há precedentes admitindo toda a teoria, mas sem 
denominar de derrotabildiade. Exemplo: REsp 799.431/MG (reprovação de aluno como 
nota 7.955 ao invés de nota mínima 8.00 em concurso público. Ele ficou em 1º lugar em 
todas as primeiras provas, mas no teste físico tirou 7.955). O STJ derrotou a exigência de 
nota mínima de 8, e aprovou ele com 7.955. Exemplo 2: STF admitiu o sequestro de 
verbas públicas fora dos casos previstas na regra (RE AgREgRecl. 3034/PB). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Direito Civil 2016 12 
 
12 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
 
 
1 Ponto1 - Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. 
1.1 LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO 
1.1.1 NOÇÕES GERAIS 
A LICC, atual LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO (Lei 
12376/2010) é uma regra de superdireito ou sobredireito (E. ZITELMANN utiliza o termo, 
que é assimilado pelo direito hermenêutico). Ou seja, são normas que definem a aplicação 
de outras normas. 
As principais funções da Lei são: a) determinar o início da obrigatoriedade das leis (art 
1º) ; b) regular a vigência e eficácia das normas jurídicas (art 1º e 2º); c) impor a eficácia 
geral e abstrata da obrigatoriedade, inadmitindo a ignorância da lei vigente (art.3º); d) 
traçar os mecanismos de integração da norma legal, para a hipótese de lacuna na norma 
(art.4º); e) delimitar os critério de hermenêutica, de interpretação da lei (art.5º); f) 
regulamentar o direito intertemporal (art.6º); g) regulamentar o direito internacional privado 
no Brasil (art. 7º a 17), abarcando normas relacionadas à pessoa e à família (art.7º e 11), 
aos bens (art 8º), às obrigações (artigo 9º), à sucessão (art.10), à competência da 
autoridade judiciária brasileira (art. 12), à prova dos fatos ocorridos em pais estrangeiro 
(art.13), à prova da legislação de outros países (art. 14), à execução da sentença 
proferida por juiz estrangeiro (art. 15) à proibição do retorno (art. 16), aos limites da 
aplicação da lei e atos jurídica de outro pais no Brasil (art. 17) e, finalmente, aos atos civis 
praticados por autoridade consulares brasileiras praticados no estrangeiro (art. 18 e 19) 
(CRISTIANO CHAVES – TEORIA GERAL – 7º EDICAO) 
Recente alteração no texto da LINDB (Lei n° 12.874/2013): 
Art. 1° Esta Lei dispõe sobre a possibilidade de as autoridades consulares 
brasileiras celebrarem a separação consensual e o divórcio consensual de 
brasileiros no exterior, nas hipóteses que especifica. 
Art. 2° O art. 18 do Decreto-Lei no 4.657, de 4 de setembro de 1942, passa 
a vigorar acrescido dos seguintes §§ 1o e 2o: 
“Art. 18. ........................................................................ 
§ 1º As autoridades consulares brasileiras também poderão celebrar a 
separação consensual e o divórcio consensual de brasileiros, não havendo 
filhos menores ou incapazes do casal e observados os requisitos legais 
quanto aos prazos, devendo constar da respectiva escritura pública as 
disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns e à pensão 
alimentícia e, ainda, ao acordo quanto à retomada pelo cônjuge de seu 
nome de solteiro ou à manutenção do nome adotado quando se deu o 
casamento. 
§ 2° É indispensável a assistência de advogado, devidamente constituído, 
que se dará mediante a subscrição de petição, juntamente com ambas as 
 Direito Civil 2016 13 
 
13 
 
partes, ou com apenas uma delas, caso a outra constitua advogado 
próprio, não se fazendo necessário que a assinatura do advogado conste 
da escritura pública.” (NR) 
Art. 3° Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de 
sua publicação oficial. 
1.1.2 VALIDADE, VIGÊNCIA, VIGOR E EFICÁCIA DAS NORMAS JURÍDICAS 
A validade, cuja aferição determinará a sua compatibilidade ou não com o sistema 
jurídiconormativo, pode ser analisada sob os seguintes aspectos: 
a) FORMAL (observância das normas referentes ao processo de criação da lei, exemplo: 
artigo 60, 
§§ 1º e 2º CF); ou 
b) MATERIAL (verificação da matéria passível da codificação está sendo observada, 
exemplos: artigos 21 a 24, CF/88, artigos que estabelecem as matérias que podem ser 
objeto de regulação e por quem). 
A VIGÊNCIA é critério puramente temporal da norma. Trata-se do lapso temporal no qual 
a norma tem força obrigatória, vinculatividade (Rosenvald). O início da vigência, portanto, 
marca o começo de sua exigibilidade. 
* “VACATIO LEGIS”: período que medeia entre a publicação e o início de vigência da 
norma. Tratase de tempo necessário a que o texto normativo se torne efetivamente 
conhecido, e variará de acordo com a repercussão social da matéria. Assim dispõe o art. 
8º da Lei Complementar 95/1998: “A vigência da lei será indicada de forma expressa e 
de modo a contemplarprazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, 
reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de 
pequena repercussão”. 
* “VACATIO LEGIS INDIRETA”: “hipótese em que a lei, além do seu normal período de 
vacatio legis, em seu próprio corpo, prevê um outro prazo para que determinados 
dispositivos possam ter aplicação, a exemplo do que ocorreu com os arts. 30 e 32 da Lei 
nº.10.826 , de 22/12/2003 (Estatuto do Desarmamento)”. A jurisprudência do STJ associa 
a vacatio legis indireta estipulada no Estatuto do Desarmamento à abolitio criminis 
temporária de algumas infrações penais (vide REsp 1.311.408-RN). 
Os atos administrativos, como regra, entram em vigor na data de sua publicação (Decreto 
572/1980), não se lhes aplicando a regra prevista a LC 95/1998. 
As Emendas à CF, em regra, também tem vigência imediata. 
A lei que altera o processo eleitoral, embora tenha vigência imediata, só se aplica a 
disputas ocorridas depois de um ano de sua publicação (CF, art. 16). Hipótese de 
suspensão de eficácia. 
A EFICÁCIA refere-se à possibilidade de produção concreta de efeitos. A eficácia pode 
ser classificada pela ineficácia. Por sua vez, pode ser: 
a) SOCIAL (não se confunde com sua efetiva observância,) e 
b) TÉCNICA (a possibilidade de produção de efeitos em concreto, EXEMPLO: artigo 7º, 
I, CF/88, proteção contra a despedida arbitrária que deve ser regulada por Lei 
Complementar, a eficácia técnica está comprometida). 
 
Tércio Sampaio afirma que a eficácia possui graus, que podem ser verificados de 
acordo com as funções da eficácia no plano da realização normativa. São as 
funções eficaciais das normas: a) Função de bloqueio – normas punitivas e 
proibitivas. 
b) Função de programa – normas que visam à realização de um objetivo do 
legislador (artigo 218, CF/88). 
 Direito Civil 2016 14 
 
14 
 
c) Função de resguardo – normas que visam a assegurar uma conduta desejada 
(artigo 5º, XXVII, CF/88). 
O VIGOR está relacionado à realização efetiva e concreta da norma, está relacionado 
com o conceito da ULTRATIVIDADE, ou seja, uma norma que não está mais vigente, mas 
continua a reger todas as relações jurídicas consolidadas em sua vigência. EXEMPLO: 
alguns artigos do CC/16. 
 
1.1.3 APLICAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS 
Na aplicação das normas jurídicas o operador depara-se com as seguintes atividades: a 
INTERPRETAÇÃO e a INTEGRAÇÃO. 
 
- INTERPRETAÇÃO 
A finalidade interpretativa da norma é: a) revelar o sentido da norma e b) fixar o seu 
alcance. São métodos de interpretação (não são excludentes e nem exclusivas entre si) 
das normas: 
1. Literal ou gramatical – o exame de cada termo isolada e sintaticamente, na maioria 
das vezes, não é o melhor método; isoladamente nunca satisfaz. 
2. Lógico – utilização de raciocínios lógicos indutivos ou dedutivos. 
3. Sistemático – análise a partir do ordenamento jurídico no qual a norma se insere, a 
norma não será verificada isoladamente, será relacionada com o ordenamento jurídico. 
4. Histórico – verificação dos antecedentes históricos, verificando as circunstâncias 
fáticas e jurídicas, até mesmo o processo legislativo. Caio Mário afirma que esse método 
não existe, o que há é o elemento histórico invocado para coadjuvar o trabalho do 
intérprete. 
5. Finalístico ou teleológico – análise da norma tomando como parâmetro a sua 
finalidade declarada, adaptando-a às novas exigências sociais; não se analisam somente 
os aspectos históricos, mas também a própria finalidade. 
Quanto mais métodos forem aplicados, no exercício da interpretação, melhor resultado 
será obtido pelo intérprete. Não há hierarquia em relação aos critérios acima, e um não 
exclui o outro. 
 
 
 
– INTEGRAÇÃO 
Quando inexiste lei a ser aplicada diretamente ao caso, deve o magistrado se valer de 
outras fontes do Direito para encontrar a regra que efetivamente deve disciplinar à relação 
jurídica sujeita à sua apreciação, ou seja, para aplicar o Direito. A LICC permite a 
integração na hipótese de lacunas (falta de previsão legal sobre uma matéria), nos termos 
do artigo 4º (REGRA DE OURO para a integração das leis): 
Artigo 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a 
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
Essas são as fontes supletivas do direito, juntamente, com a DOUTRINA, a 
JURISPRUDÊNCIA e a EQÜIDADE, que são também métodos de integração da norma 
jurídica. 
A interpretação pode ocorrer sempre, mesmo que a lei seja clara (isso é um dogma). Já a 
integração depende da existência de LACUNAS que, por sua vez, podem ser: 
a. AUTÊNTICAS (PRÓPRIAS) – ocorrem quando o legislador não identificou uma 
hipótese 
 Direito Civil 2016 15 
 
15 
 
b. NÃO-AUTÊNTICAS (IMPRÓPRIAS) – o legislador previu, mas preferiu não tratar sobre 
o assunto. 
EXEMPLO: cabimento de embargos de declaração contra decisão interlocutória. 
Cabe mencionar classificação utilizada por Maria Helena Diniz: 
a) Lacuna normativa – ausência total de norma. 
b) Lacuna ontológica – presença de normas mas sem eficácia social. 
c) Lacuna axiológica – presença de norma cuja aplicação se mostra injustiça no 
caso concreto. d) Lacuna de conflito – antinomias. 
 
“SILÊNCIO ELOQÜENTE” – o legislador quis excluir a possibilidade, é a possibilidade de 
se restringir a aplicação da lei com base na LACUNA NÃO-AUTÊNCIA. Exemplo: 
competência constitucional da Justiça Federal não pode ser ampliada pelo legislador, sob 
a alegação de tratar-se de lacuna. Tratase de rol taxativo (numerus clausus). 
Aceita-se a integração das lacunas em razão do princípio que determina que o juiz não 
pode se eximir de julgar sob tal alegação (“Princípio do non liquet” que, no Direito 
Romano, permitia ao pretor eximir-se de julgar alegando que o caso não está 
suficientemente claro). 
Analogia pode ser dividida em: 
a. analogia legal – a relação da semelhança toma por base outra lei; 
b. analogia iuris – a relação de semelhança é estabelecida com base em outro caso 
concreto Há dificuldade de aplicação dos costumes, já que nosso direito não é costumeiro; 
a fonte primária, no Brasil, é a lei. Costume pode ser: 
a. secundum legem – sua eficácia obrigatória é reconhecida pela lei, como nos casos dos 
arts. 1297, 
§ 1º, 596 e 615 do CC 
b. praeter legem – tem caráter supletivo, complementar à lei. 
c. contra legem – de revogação total. Isso é complicado, já que costume é fonte 
secundária do direito e não pode revogar a lei. Mas existem exemplos que demonstram a 
aplicação do costume contra lei. Ex.: reconhecimento jurisprudencial da possibilidade de 
comprovação de contrato por testemunha no caso de venda de gado. Trata-se no máximo 
de perda da eficácia da lei e não da perda da sua validade (DESUSO) 
- APLICAÇÃO TEMPORAL DE NORMAS JURÍDICAS 
O princípio básico dessa matéria é o PRINCÍPIO DA NÃO-RETROATIVIDADE DAS LEIS 
(Tempus regit actum), ou seja, a idéia de que a lei nova não atinge os fatos anteriores ao 
início de sua vigência. Em consequência, os fatos anteriores à vigência da lei nova 
regulam-se não por ela, mas pela lei do tempo em que foram praticados. 
Porém, podem existir casos que se afastem dessa regra, impondo a retroatividade da lei 
nova, alcançando fatos pretéritos ou os seus efeitos. Para disciplinar essas hipóteses, a 
doutrina efetuou uma clássica distinção entre retroatividade máxima, média e mínima 
(MATOS PEIXOTO), porque a força retroativa da lei não tem sempre a mesma 
intensidade. 
 
 RETROATIVIDADE 
MÁXIMA OU RESTITUTÓRIA OU RESTITUTI VA MÉDIA 
a lei nova abrange a coisa julgada 
(sentença irrecorrível) ou os fatos 
jurídicos consumad 
 
os 
a lei nova atinge os direitos 
exigíveis mas não realizados 
antes de sua vigência 
 
 Direito Civil 2016 1616 
 
Dessa natureza constitucional do princípio da irretroatividade das leis no direito brasileiro 
surgem importantes consequências, como a aplicação deste a toda e qualquer lei 
infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito público e lei de direito 
privado ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. 
É princípio assente também, com base na natureza constitucional da irretroatividade, que 
a lei nova não alcança os efeitos futuros dos contratos celebrados anteriormente a ela, e 
que só atingirá os facta pendentia no que não contrariar DIREITO ADQUIRIDO. 
DIREITO ADQUIRIDO – direito já definitivamente incorporado ao patrimônio do particular. 
Posição jurídica já assegurada ao titular em razão do cumprimento dos requisitos 
previstos em lei vigente ao tempo da ocorrência dos pressupostos fáticos, que não pode 
ser afetada pela superveniência de norma que modifique as exigências para sua 
aquisição, mesmo que não exercida no tempo de vigência da norma anterior. Direito 
adquirido somente tem conteúdo patrimonial. Não existe direito adquirido de caráter 
personalíssimo. 
ATO JURÍDICO PERFEITO: ato já consumado ao tempo da lei anterior; ato que cumpriu 
integralmente as fases do seu ciclo de formação ao tempo da norma revogada, que não 
pode ser prejudicado pela alteração posterior do parâmetro normativo. 
Questão fundamental sobre a aplicação temporal das leis reside na REVOGAÇÃO, 
regulamentado pelo artigo 2º da LICC: A revogação pode ser: 1) Expressa 
2) Tácita – o artigo 9º da LC 95/98 não acabou com a hipótese de revogação tácita, 
porque mesmo que a nova lei não mencione expressamente a revogação dos dispositivos, 
o ordenamento jurídico não comporta a existência de duas leis antagônicas. PAMPLONA: 
não é possível esse entendimento, porque significaria a revogação da própria LICC, e a 
LC 95/98 (mesmo com a redação dada pela LC 107) não revogou a LICC, até porque 
também não foi expressa na revogação, assim, também não é válida nesse aspecto, 
porque desobedeceu a sua própria regra. 
1) Total = Ab-Rogação 
2) Parcial = Derrogação 
REPRISTINAÇÃO é a restauração da norma revogada pela revogação da norma 
revogadora. Há vedação de sua existência no ordenamento, por força do §2º do artigo 2º, 
da LICC. A lei revogada NÃO se restaura pela revogação da lei revogadora, SALVO se a 
nova lei revogadora disser que ocorre (§3º do artigo 2º). 
Não se confunde com EFEITO REPRISTINATÓRIO TACITO previsto expressamente no 
artigo 11,§2º da lei 9868/99. 
 
1.2 PESSOAS FISICAS ou NATURAIS: 
1.2.1 PERSONALIDADE 
A forma como o CC dispõe sobre a pessoa (art. 1º) indica que a característica desta é a 
possibilidade de ser sujeito de direito. PESSOA É O SER HUMANO OU ENTIDADE COM 
PERSONALIDADE, APTIDÃO PARA A TITULARIDADE DE DIREITOS E DEVERES. 
Percebe-se que o conceito de personalidade é construído segundo uma teoria clássica, 
que a identifica com CAPACIDADE DE DIREITO. Tal noção adequa-se não apenas aos 
homens, mas também às pessoas jurídicas (ou “entes morais”, nos dizeres de Caio 
Mário). Personalidade seria, então, o atributo “jurídico” do fato de ser pessoa, uma 
projeção social da personalidade psíquica. O segundo sentido de personalidade associa-
se ao ser humano e traduz-se como valor ético emanado do princípio da dignidade da 
pessoa humana e da consideração pelo direito civil do ser humano em sua complexidade, 
relacionando-se a direitos que tocam somente à pessoa natural (direitos da personalidade, 
segundo parcela da doutrina que exclui a PJ de seu âmbito). 
 Direito Civil 2016 17 
 
17 
 
Muito além da compreensão tradicional de representar aptidão para adquirir direitos e 
contrair obrigações, a personalidade jurídica, contemporaneamente, é categoria 
essencialmente relacionada à cláusula de tutela e promoção da dignidade da 
pessoa humana, pela qual se deve reconhecer ao ser humano, singular e 
concretamente considerado, um conjunto mínimo de atributos, direitos e garantias 
sem as quais não será possível a vida com dignidade (o direito à vida compreende, 
em verdade, o direito a uma vida digna). 
O conceito de capacidade, embora conexo à noção de personalidade, com esta não se 
confunde. “Enquanto a personalidade tende ao exercício de relações existenciais, a 
capacidade diz respeito ao exercício de relações patrimoniais. Exemplificando, ter 
personalidade é titularizar os direitos da personalidade, enquanto ter capacidade é 
poder concretizar relações obrigacionais, como o crédito e o débito. Nesse 
diapasão, exemplificando, uma criança ou adolescente tem personalidade (e, por 
conseguinte, direito a uma vida digna), mas não tem capacidade. Em sendo assim, 
poderá manifestar a sua vontade em relação à sua adoção por terceiro, por exemplo, mas 
não lhe é reconhecido o direito de celebrar um contrato de doação ou de arrendamento. 
Ou seja, relações existenciais podem ser titularizadas por quem tem personalidade, 
mesmo que não tenha plena capacidade” (Rosenvald). 
AQUISIÇÃO DE PERSONALIDADE: nos termos do art. 2º do CC, ocorre com o 
nascimento com vida, quando há a separação do ventre materno e o ar entra nos 
pulmões, fazendo com que a pessoa respire (o que é aferível pelo exame de docimasia 
hidrostática de Galeno). Mesmo que morra em seguida, há aquisição de personalidade e, 
consequentemente, possibilidade de ser sujeito de direitos que, com a morte, serão 
transmitidos aos herdeiros. Há divergência acerca da teoria adotada pelo NCC para início 
da personalidade. 
NASCITURO: é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. A 
discussão em torno de sua condição jurídica dá-se justamente em razão da delimitação do 
momento em que se inicia a existência humana, conforme exposto acima. A questão 
polêmica é que CC afirma que os direitos do nascituro estão a salvo desde a concepção. 
Ou seja, não são pessoas, mas têm proteção jurídica, ensejando dúvidas sobre o início da 
personalidade. 
Várias teorias tentam harmonizar essas regras: (1) NATALISTA (Caio Mário, Serpa Lopes, 
– despreza a existência da personalidade antes do nascimento com vida (esta, por sua 
vez, é considerada independentemente de viabilidade ou de forma humana). Assim, o 
nascituro tem mera expectativa de direito; (2) TEORIA DA PERSONALIDADE 
CONDICIONAL (Arnold Wald)– a personalidade existe desde a concepção, sob a 
condição de nascer com vida (condição suspensiva); (3) CONCEPCIONISTA (Bevilaqua, 
Teixeria de Freitas, Francisco Amaral) – o nascituro tem personalidade jurídica, ele é a 
pessoa que está por nascer; os direitos que teria, porém, seriam somente os 
personalíssimos e os da personalidade. 
Percebemos que aos poucos, a teoria concepcionista vai ganhando mais espaços nos 
tribunais, inclusive na própria legislação brasileira, a exemplo da lei de alimentos 
gravídicos (lei 11804/2008), e de recentes decisões do STJ que admitiram o dano moral 
ao nascituro (RESP 399028-SP) e até mesmo pagamento de DPVAT pela morte de 
nascituro (noticiário de 15.05.2011). Teoria adotada pelo CC/2002 
 
 Segundo Flavio Tartuce1, o Código Civil não deixou clara a corrente que seguiu, pois no 
seu art. 2º utiliza tanto o termo “nascimento” quanto o termo “concepção”. Contudo, 
 
1 Em artigo: A SITUAÇÃO JURÍDICA DO NASCITURO: UMA PÁGINA A SER VIRADA NO DIREITO BRASI- 
LEIRO, autor Flávio Tartuce. 
 Direito Civil 2016 18 
 
18 
 
segundo referido autor, a doutrina majoritária e o STJ vem adotando a Teoria 
Concepcionista ao reconhecer direitos ao nascituro. Nas palavras dele: “Se o art. 2º do 
Código Civil em vigor deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode 
afastar o reconhecimento desses direitos. Por isso, podemos reafirmar que prevalece 
entre nós a teoria concepcionista.”. 
 
* O nascituro pode receber doação e ser beneficiadopor legado ou herança. 
 
1.2.2 CAPACIDADE 
CAPACIDADE DE DIREITO OU DE GOZO: é a aptidão – em estado potencial – de ser 
titular de direitos patrimoniais e obrigações, tendo por termo inicial o nascimento e 
perdurando até a morte. Prevista no art. 1º do CC, atribui-se capacidade de direito 
também à PJ. O conceito de capacidade de direito se confunde com o de personalidade. 
A personalidade jurídica é uma aptidão genérica. Toda pessoa tem personalidade, e 
por consequência toda pessoa tem capacidade, seja um adulto, seja uma criança. 
Capacidade neste sentido se relacionaria com a personalidade como faces da mesma 
moeda. 
CAPACIDADE DE EXERCÍCIO OU DE FATO: é a aptidão para exercer PESSOALMENTE 
os direitos, de agir juridicamente, por atos próprios ou mediante representante voluntário, 
praticando atos da vida civil. Diferentemente da capacidade de direito, nem todas as 
pessoas a possuem. É o caso dos incapazes, cujos atos jurídicos são praticados por meio 
de representantes ou assistentes. A capacidade de fato é medida de proteção ao incapaz, 
que, destituído da plenitude de discernimento, necessita de auxílio para a prática dos atos 
da vida civil (representação ou assistência). 
A primeira é estática, a segunda, dinâmica. Reunidas as duas, fala-se em CAPACIDADE 
CIVIL PLENA. 
Ressalte-se que ambas diferenciam-se da LEGITIMAÇÃO ou LEGITIMIDADE. A 
legitimação consiste em se averiguar se uma pessoa, perante determinada situação 
jurídica, tem ou não capacidade para estabelecê-la. Assim é que o cego não pode fazer 
testamento particular, o juiz não pode comprar bens da hasta que presidir, o tutor não 
pode adquirir bens do tutelado, irmãos não podem se casar, ainda que dotados de 
capacidade civil plena. Portanto, a capacidade é a aptidão para a prática em geral dos 
atos jurídicos, enquanto a legitimidade é específica de determinado ato. 
INCAPACIDADE: A ausência da capacidade de fato (e não a capacidade de direito, que é 
genérica) gera a incapacidade civil. 
Esta incapacidade civil é também desdobrável em: 
a) Incapacidade civil absoluta (artigo 3º) 
b) Incapacidade civil relativa (artigo 4º) 
 INCAPACIDADE ABSOLUTA: atinge aqueles listados no art. 3º do CC: Os Incisos II e III 
do art. 3º do NCC (Inciso II - Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o 
necessário discernimento para a prática desses atos; III - Os que, mesmo por causa 
transitória, não puderem exprimir sua vontade) foram revogados pela Lei nº 13.146/2015, 
que Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa 
com Deficiência) (DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial), a qual 
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passou a tratar as hipóteses como incapacidade relativa, nos termos do art. 4º, II e III, do 
NCC (II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa 
transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade). Ademais, o inciso I do art. 
3º foi incorporado ao caput, passando-se a prever, como única hipótese de incapacidade 
civil absoluta, o menor de 16 anos. 
 Menores de 16 anos: presunção de imaturidade. No entanto, conforme previsão de 
enunciado formulado na III Jornada de Direito Civil do CJF, “a vontade dos absolutamente 
incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3o., é juridicamente relevante na concretização de 
situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento 
suficiente para tanto.” (importante para o direito de família) 
Os atos praticados pelos absolutamente incapazes são NULOS, não podendo ser 
ratificados, pois tal vício não convalesce, podendo o juiz assim declará-los de ofício. 
Protege-se, entretanto, a boa-fé de terceiros. Os atos civis de seu interesse deverão ser 
exercidos por seus representantes – pais, tutores ou curadores. 
Absolutamente incapazes devem ser REPRESENTADOS por quem de direito. 
* Mesmo em se cuidando de pessoas absolutamente incapazes, a ordem jurídica 
reconhece a possibilidade de que sua vontade seja considerada, nos casos em que 
envolvidas escolhas existenciais. 
CJF, Enunciado 138 – Art. 3º: “A vontade dos absolutamente incapazes, na 
hipótese do inc. I do art. 3o, é juridicamente relevante na concretização de 
situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem 
discernimento bastante para tanto”. 
INCAPACIDADE RELATIVA: zona intermediária entre a incapacidade absoluta e a 
capacidade plena, configurando apenas uma diferença quantitativa. A vontade dos 
relativamente capazes tem relevância jurídica, o que possibilita sua atuação direta nos 
atos civis, desde que acompanhados de ASSISTENTE, com algumas exceções (ser 
mandatário, testemunhar). É causa de anulabilidade dos atos jurídicos. Atinge aqueles 
arrolados no art. 4º: 
• I - Maiores de 16 e menores de 18: idade reduzida em relação ao antigo 
código (16 a 21). Estes incapazes não podem eximir-se de uma obrigação se 
dolosamente ocultaram sua idade quando inquiridos ou, ainda, declararam-se maiores. 
Assim, não lhe aproveitam a possibilidade de anulação do ato jurídico, em razão da 
proteção da boa-fé de terceiro. 
• II - Os ébrios habituais e os viciados em tóxico (Redação conferida pela 
Lei nº 13.146/2015, DOU 7.7.2015, em vigor após 180 dias de sua publicação oficial): 
para tais pessoas, será designado um curador, graduado conforme o comprometimento 
mental do agente. Se aniquilar a capacidade, e não apenas reduzir, a incapacidade é 
absoluta. 
 III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua 
vontade: (Redação conferida pela Lei nº 13.146/2015, DOU 7.7.2015, em vigor após 
180 dias de sua publicação oficial): Hipótese antes tratada no art. 3º, como causa de 
incapacidade civil absoluta. 
 IV - Pródigo: aquele que desordenadamente gasta e destrói o que é seu, reduzindo- 
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se à miséria por sua culpa. A restrição da validade de seus atos à anuência de um 
assistente referese apenas àqueles que importem disposição patrimonial e que 
extrapolem a mera administração de seus bens. Proteção que encontra fundamento na 
“teoria do estatuto jurídico do patrimônio mínimo” desenvolvida por Luiz Edison 
Fachin. 
Dispõe ainda o parágrafo único do artigo 4º do CC: 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação 
especial. 
 (Pablo Stolze Gagliano): A disciplina normativa dos silvícolas está, agora, na 
legislação especial. A Lei 6.001/73 considera-o, em princípio, “agente absolutamente 
incapaz, reputando nulos os atos por eles praticados sem a devida representação”. 
Ressalta a lei, todavia, a hipótese do índio demonstrar discernimento, aliado à inexistência 
de prejuízo em virtude do ato praticado, pelo que, aí, poderá ser considerado 
plenamente capaz para os atos da vida civil (...). 
EMANCIPAÇÃO: 
Prevista no artigo 5º do CC, é mecanismo que possibilita que o menor 
relativamente incapaz torne-se plenamente capaz. É, pois, uma antecipação da 
capacidade de fato (e não da maioridade!). Pode ser de 3 espécies: 
VOLUNTÁRIA, por ato unilateral dos pais, ou de um deles na falta do outro, sendo 
ato irrevogável – sempre em benefício do menor. Nesse caso, os pais continuam 
respondendo pelos atos ilícitos dos filhos. 
JUDICIAL, concedida pelo juiz, ouvido o tutor, desde que o menor tenha pelo 
menos 16 anos completos. 
LEGAL, em decorrência de situação inconciliável com a inaptidão para atos da vida 
civil, como: 1) casamento (a separação, a viuvez ou mesmo a anulação do casamento, 
para o cônjuge de boa-fé, não geram retorno à menoridade), inclusive daquele que não 
tem 16 anos (para evitar imposição de crime ou em caso de gravidez); 2) exercício de 
cargo ou emprego público efetivo; 3) colação de grau em curso de ensino superior; 4) 
estabelecimento civil ou comercialou existência de relação de emprego do maior de 16 
anos que gerem economia própria. 
CJF, Enunciado 397 - Art. 5º. A emancipação por concessão dos pais ou 
por sentença do juiz está sujeita a desconstituição por vício de vontade. 
 
 
 
 
EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE: 
Nos termos do artigo 6º, ocorre com a morte, exclusivamente (não há morte civil), 
evento que se caracteriza pela cessação de toda e qualquer atividade vital do indivíduo 
(para fins de transplante, considera-se suficiente a morte encefálica). 
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1.2.3 MORTE PRESUMIDA 
Ela pode ser, no entanto, PRESUMIDA, nos casos: 
a) de ausência, nas ocasiões em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva 
(art. 6º), e 
b) se for extremamente provável a morte para quem estava em perigo de vida e, se 
alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos 
após o término da guerra (art. 7º). Embora aqui se dispense a decretação da ausência, 
somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a 
sentença fixar a data provável do falecimento. Procede-se mediante JUSTIFICAÇÃO, 
segundo procedimento estabelecido na Lei de Registros Públicos, a fim de se promover o 
assento de óbito por meio de provas indiretas. COMORIÊNCIA: no caso de não se poder 
precisar a ordem cronológica das mortes dos comorientes (pessoas que morreram em 
uma mesma situação), a lei firmará a presunção de haverem falecido no mesmo instante. 
Em caso de serem parentes, não sucedem um ao outro, abrindo-se cadeias sucessórias 
distintas. 
1.2.4 AUSÊNCIA 
É o desaparecimento de uma pessoa de seu domicílio, sem dar notícias do lugar onde se 
encontra, nem deixar procurador para administrar seus bens, acarretando, por essa razão, 
dúvida a respeito de sua sobrevivência. Esse estado precisa ser declarado 
judicialmente. 
No CC/16, o ausente era considerado absolutamente incapaz, o que não foi repetido pelo 
NCC, afinal, só por estar desaparecida, a pessoa não deixa de ter capacidade para a vida 
civil onde esteja. 
O fato de ter um representante (curador) decorre da impossibilidade de administrar seus 
bens. 
No que diz respeito à tutela dos bens, o instituto da ausência é tratado em três etapas: 
Curadoria do ausente: inicia-se com a petição inicial de qualquer interessado (parentes 
sucessíveis, sócios, credores, pessoas que têm pretensão contra o ausente) ou do MP. O 
juiz deverá, em seguida, arrecadar os bens abandonados e nomear curador. Isso 
ocorrerá, ainda que o ausente tenha deixado procurador, se este não puder ou não quiser 
exercer o mandato. O curador será, em primeiro lugar, o cônjuge do ausente, desde que 
não separado judicialmente ou de fato, por mais dois anos. Subsidiariamente, serão 
nomeados os ascendentes e, em seguida, os descendentes. Não havendo nenhuma 
dessas pessoas, o juiz escolherá um curador. Este, nomeado, receberá do juiz poderes e 
obrigações especiais, ficando responsável pela administração e conservação do 
patrimônio do ausente, pelo que receberá uma gratificação e terá ressarcido o que gastou 
no exercício da curadoria. É vedado ao curador adquirir bens do ausente. Depois da 
arrecadação, serão publicados editais de dois em dois meses, durante um ano, para 
chamar o ausente a retomar seus bens, cessando a curadoria caso reapareça (1), caso 
compareça seu procurador (2) ou, ainda, haja notícia inequívoca de seu óbito (3). 
Sucessão provisória: Ocorre após 01 ano da arrecadação ou, caso o ausente tenha 
deixado procurador, passados 03 anos. Consiste em uma administração (não mero 
depósito) para preservar os bens do ausente, de modo que não sejam alterados mais do 
que o necessário, já que o desaparecido pode estar vivo. Depende de pedido dos 
interessados. Não havendo qualquer dos interessados mencionados, o MP pode requerer 
a sucessão provisória. A sentença que a determina produz efeitos depois de 180 dias de 
sua publicação; mas, tão logo transite em julgado, ocorre a abertura do testamento e do 
inventário, como se o ausente fosse falecido. Não comparecendo herdeiro ou 
interessado para requerer a abertura do inventário, após 30 dias do trânsito em 
julgado, a massa de bens do ausente será considerada como herança jacente. Os 
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herdeiros que se imitirem na posse dos bens devem prestar garantia pignoratícia ou 
hipotecária, com exceção do cônjuge, dos ascendentes e dos descendentes. Aqueles que 
não puderem ter a posse dos bens, por não prestarem a devida garantia, receberão a 
metade dos rendimentos da cota de seus bens. Cônjuges, ascendentes e descendentes 
receberão a integralidade dos frutos produzidos pelos bens que administram. Os outros 
herdeiros, a metade. Reaparecendo o ausente e provado que a ausência foi injustificada 
e voluntária, ele perderá os frutos em favor do sucessor. Não se poderá alienar os imóveis 
do ausente. 
Sucessão definitiva: após 10 anos do trânsito em julgado da sentença que concedeu a 
abertura da sucessão provisória. Na mesma oportunidade, levantam-se as garantias 
prestadas. Ela ocorre em menor prazo, caso o ausente tenha 80 anos e esteja sumido há, 
pelo menos, cinco anos. Após o trânsito em julgado da sentença que concede a 
sucessão definitiva dos bens, declara-se a morte presumida. Retornando o 
desaparecido ou algum de seus descendentes ou ascendentes, nos 10 anos seguintes à 
abertura da sucessão definitiva, receberá os bens nos estado em que se encontrarem, 
os sub-rogados em seu lugar ou o preço que os herdeiros houverem recebido. Efeitos 
familiares da ausência: se o ausente deixar filhos menores e outro cônjuge tiver falecido 
ou não tiver direito de exercer o pátrio poder, eles serão considerados órfãos. Se os pais 
estiverem ausentes, os menores devem ser postos em tutela. Após a declaração de morte 
presumida, o casamento resta dissolvido – consequência inovadora, não tratada no ACC 
nem tampouco admitida anteriormente pela doutrina. 
1.2.5 DIREITOS DA PERSONALIDADE 
Uma das principais inovações do NCC é a existência de um capítulo próprio dos direitos 
da personalidade. Retrata a mudança axiológica da codificação, de um código agrário e 
conservador (que só abarcava os direitos subjetivos reais e obrigacionais) para outro que 
se preocupa substancialmente com o indivíduo, em sintonia com CF/88. Sua 
localização, no NCC, mostra, ainda, que o ser humano é o protagonista do novo sistema. 
É o fenômeno da despatrimonialização ou repersonalização do direito privado. 
Conceito: são aqueles que têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da 
pessoa em si e em suas projeções sociais, com o fim de proteger a essência e a 
existência do ser humano. A idéia que norteia sua disciplina é a de uma esfera 
extrapatrimonial do indivíduo, tutelada pela ordem jurídica com respaldo em uma série 
de valores não redutíveis pecuniariamente, como a vida, a integridade física, a 
intimidade, a honra etc. Síntese: direitos relacionados aos atributos e prerrogativas 
considerados essenciais ao pleno desenvolvimento da pessoa humana, em todas 
as suas dimensões (física, psíquica e intelectual), capazes de individualizar o sujeito e 
lhe garantir vida digna, mediante uma segura e avançada tutela jurídica. 
CJF, enunciado 274 – Art. 11. “Os direitos da personalidade, regulados de 
maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral 
de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição 
(princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, 
como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da 
ponderação”. 
Direitos da personalidade vs Liberdade públicas. Os direitos da personalidade situam-
se acima do direito positivo, sendo considerados inerentes ao homem; as liberdades 
públicas, por sua vez, dependem necessariamentede positivação para assim serem 
consideradas. Quanto ao conteúdo, estas se inserem em categorias transindividuais 
(econômicas e sociais, por ex.), enquanto aqueles têm caráter individual. 
Natureza: trata-se de poderes que o homem exerce sobre sua própria pessoa. É um 
tertium genus de direito subjetivo, de índole fundamental (vide art. 5º, § 2º, e art. 1º, III, 
da CF). Diga-se, ainda, que o seu objeto não é a própria personalidade, mas sim as 
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MANIFESTAÇÕES ESPECIAIS DE SUAS PROJEÇÕES (físicas, psíquicas e morais), 
consideradas dignas de tutela jurídica, principalmente no sentido de que devem ser 
resguardadas de qualquer ofensa. 
Sobre seus fundamentos jurídicos, há duas correntes: a positivista (ou tipificadora), 
que identifica como direitos da personalidade somente aqueles reconhecidos pelo Estado, 
que lhes daria força jurídica, não aceitando, assim, a existência de direitos inatos à 
condição humana. A norma jurídica seria seu único fundamento, pois ética, religião, 
história, política, ideologia não passam de aspectos de uma mesma realidade. Por sua 
vez, a corrente jusnaturalista relaciona os direitos da personalidade às faculdades 
exercitadas naturalmente pelo homem, pois são atributos inerentes à condição humana. 
Titularidade: por excelência, é do ser humano, mas alcança também os nascituros, que, 
embora sem personalidade, têm direitos ressalvados desde a concepção. No tocante aos 
absolutamente incapazes, decidiu recentemente o STJ (Informativo nº 599/2015), que “O 
absolutamente incapaz, ainda quando impassível de detrimento anímico, pode 
sofrer dano moral”. As pessoas jurídicas também o são, no que diz respeito ao nome e à 
imagem, que acabam por atingir os valores societários. A CF não faz distinção entre 
pessoa natural e pessoa jurídica ao dispor sobre o direito à honra e à imagem, não 
podendo haver restrição na sua interpretação. A abrangência indistinta também ocorre no 
inciso V do art. 5º do texto constitucional (indenização por dano moral e à imagem). 
Assim, apesar de uma concepção originalmente antropocêntrica dos direitos da 
personalidade, são eles aplicáveis à PJ quanto aos atributos que lhe são 
reconhecidos (nome e outros sinais distintivos, segredo, criações intelectuais e outros). 
Tal entendimento já estava consagrado na jurisprudência, por Súmula do STJ (nº 18: “A 
pessoa jurídica pode sofrer dano moral”) e agora o NCC põe fim à polêmica, com o art. 
52: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da 
personalidade”. 
A corrente doutrinária divergente (Gustavo Tepedino, Cláudia Lima Marques) 
restringe a titularidade dos direitos da personalidade ao ser humano, por três 
motivos: (1) a origem de sua positivação está na Constituição Alemã, que dispõe 
expressamente que “a dignidade da pessoa humana é inviolável”; (2) a lesão a nome de 
PJ configura um dano patrimonial, não moral, pois ela só tem honra objetiva (externa ao 
sujeito – consiste no respeito, consideração, apreço) e o prejuízo é unicamente material; 
(3) estender os direitos da personalidade a ecossistema, animais e PJ significa 
desmerecê-los, desvalorizá-los. Tal corrente defende que, apesar de serem a pessoa 
natural e a PJ sujeitos de direito, seus fundamentos são diversos. Ademais, essa 
extensão não se adapta à trajetória e à função dos direitos da personalidade no 
ordenamento. 
CJF, Enunciado 286 – Art. 52. “Os direitos da personalidade são direitos 
inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, 
não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos”. 
Características: 
• Caráter absoluto: são oponíveis erga omnes. A pretensão é que será 
dirigida a certa(s) pessoa(s). Não quer dizer que são ilimitáveis. Nesse aspecto, eles são 
relativos, incidindo a razoabilidade, em caso de colisão. 
• Generalidade (caráter necessário dos dir. da personalidade): são outorgados 
a todas as pessoas, nunca podem faltar-lhes. 
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• Extrapatrimonialidade: ausência de conteúdo patrimonial direto, aferível 
objetiva- 
mente, ainda que sua lesão gere efeitos econômicos (dano moral) 
• Indisponibilidade: decorre de seu caráter essencial. Abrange tanto a 
INTRANSMISSIBILIDADE (não se admite a cessão do direito de um sujeito para outro) 
como a IRRENUNCIABILIDADE (ninguém pode dispor de sua vida, sua intimidade, sua 
imagem). No entanto esta indisponibilidade é relativa, já que o artigo 11 admite restrição 
voluntaria, desde que atendidas os seguintes requisitos: 1) não pode ser permanente; 2) 
não pode ser genérico; 3) não pode violar a dignidade do titular Enunciado da jornada de 
direito civil(dez/2004),: “Art. 11 - Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, 
ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de 
direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.” 
• Impenhorabilidade: A ausência de conteúdo econômico impede a penhora. 
Estes não podem ser penhorados, mas o crédito deles decorrentes sim. Da mesma 
forma, deve-se admitir a penhora dos créditos da cessão de uso do direito à imagem. 
• Vitaliciedade: os direito da personalidade se extinguem com a morte . O art. 
12, parágrafo único, do NCC prevê o dano reflexo aos direitos da personalidade dos 
membros da família, em caso de lesão ao que seriam os direitos da personalidade da 
pessoa morta. A verdade é que não se trata de sucessão, em exceção ao princípio da 
indisponibilidade, mas de proteção aos direitos da personalidade dos parentes, que são 
lesados indiretamente. Os legitimados para requerer o dano são, subsidiariamente: 
cônjuges e descendentes; ascendentes; colaterais. 
• Imprescritibilidade: não existe prazo para seu exercício, não se extinguindo 
pelo não-uso. 
 
Espécies: 
Os direitos personalíssimos não são enumeráveis, porém, entre os mais importantes, 
destacam-se: 
• VIDA: o mais precioso direito do ser humano. Trata-se de direito à vida e não sobre a 
vida, de modo que seu titular não pode cercear esse direito. 
• INTEGRIDADE FÍSICA: sobre esse direito, têm o CC as seguintes disposições: 
1. Princípio do consentimento informado (art. 15): o paciente tem direito de sa- 
ber qual é o tratamento ou a cirurgia recomendada pelo médico e quais são suas 
conseqüências, para que a opção seja feita com consciência. A responsabilidade do 
médico, assim, não é só quanto à técnica, mas também quanto à informação. 
CJF, Enunciado 402: “Art. 14, parágrafo único. O art. 14, parágrafo único, 
do Código Civil, fundado no consentimento informado, não dispensa o 
consentimento dos adolescentes para a doação de medula óssea prevista 
no art. 9º, § 6º, da Lei n. 9.434/1997 por aplicação analógica dos arts. 28, § 
2º (alterado pela Lei n. 
12.010/2009), e 45, § 2º, do ECA”. 
CJF, Enunciado 403: “Art. 15. O Direito à inviolabilidade de consciência e 
de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se 
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também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão 
de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta 
dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil 
plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) 
manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que 
diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante”. 
CJF, Enunciado 533: “O paciente plenamente capaz poderá deliberar 
sobre todos os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe 
causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de 
emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não 
possam ser interrompidos”. 
2. Limites à disposição do corpo: só pode haver a diminuição permanente da

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