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Este documento trata-se de uma tradução não-profissional do artigo “Movig Beyond ‘Shame is Bad’: How a Functional Emotion Can Become Problematic”, de Mikaela Cibich, Lydia Woodyatt e Michael Wenzel. A tradução foi realizada por Carlos Alberto Dorneles Nonnenmacher, psicólogo e psicoterapeuta cognitivo- comportamental. A tradução visa apenas a divulgação do conhecimento científico. Qualquer consideração: carlosdornelesn@gmail.com. Social and Personality Psychology Compass, 10/9, p. 471-483, 2016 INDO ALÉM DE “VERGONHA É RUIM”: COMO UMA EMOÇÃO FUNCIONAL PODE SE TORNAR PROBLEMÁTICA Mikaela Cibich, Lydia Woodyatt e Michael Wenzel Flinders University Resumo As pesquisas sobre a vergonha estão divididas. Atualmente, essa literatura pode ser brandamente dicotomizada em visões problemáticas ou funcionais. A vergonha é comumente associada, por exemplo, à agressão, saúde e bem-estar precários, e psicopatologias como o transtorno do estresse pós-traumático, transtornos alimentares e depressão. Alguns pesquisadores, contudo, sugerem que a vergonha é funcional, uma vez que serve para medir quando o self social é ameaçado, devido a uma perda de status ou vínculos sociais. Para resolver esse conflito, a vergonha tem sido redefinida de várias formas, em uma tentativa de diferenciar sua forma funcional da problemática. Contudo, as abordagens que criam conceitos mais restritos podem levar a uma definição que deixa de lado a complexidade da experiência vivida da vergonha. Nesta revisão, integramos as pesquisas conflitantes sobre a vergonha, examinando como ela, uma emoção que evoluiu para um propósito funcional, pode se tornar problemática. A evitação em resposta à vergonha pode transformá-la de um medidor funcional e social que motiva a reparação em uma emoção problemática, e a evitação é mais provável na medida que a vergonha é percebida como irreparável. Sendo assim, a compreensão dos fatores que impactam na reparabilidade percebida serão importantes na compreensão de como a vergonha pode se tornar problemática. Como nós nos vemos, vemos os outros, nossas ações e os custos da reparação são todos fatores prováveis de impactar se a vergonha será funcional ou problemática. A vergonha tem sido retratada como uma emoção negativa associada a resultados problemáticos ao bem-estar, uma inimiga da qual precisamos ser libertados. Essa visão, talvez mais popularizada pela famosa TED Talk de Brene Brown, “Ouvindo a Vergonha” (TED, Produtor, 2012), é atualmente compartilhada por muitos leigos, clínicos e pesquisadores. A noção foi reforçada por uma gama de pesquisas, particularmente aquelas apresentando associações entre vergonha e psicopatologias como depressão, ansiedade social e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Contudo, uma visão funcionalista das emoções aponta que elas evoluíram para servir a propósitos que historicamente auxiliavam na sobrevivência. Em vez de a vergonha ser uma emoção “feia” (Tangney, 1991, p. 600), os funcionalistas argumentam que ela evoluiu para proteger os vínculos sociais e o status social dos indivíduos, especificamente alertando quando seu pertencimento social está ameaçado (e.g., de Hooge, Zeelenberg & Breugelmans, 2011; Fessler, 2007; Gilbert, 2007). Essa perspectiva funcionalista está apoiada empiricamente por pesquisas que demonstram que tanto a vergonha individual quanto a coletiva podem levar a resultados benéficos, como tendências pró-sociais e um desejo de mudar o self para melhor (Ahmed & Braithwaite, 2006; de Hooge, Zeelenberg & Breugelmans, 2010, 2011; Lickel, Kushlev, Savalei, Matta, & Schmader, 2014; Menesini & Camodeca, 2008; Olthof, 2012). Isso nos deixa com uma dicotomia na literatura: enquanto existem pesquisas apoiando a noção da vergonha como uma emoção problemática, existe também uma teoria e evidências aparentemente contraditórias que sugerem que a vergonha é uma emoção funcional. Muitos tentaram abstrair essas contradições através de várias reconceitualizações de vergonha que separavam os componentes “funcionais” dos “problemáticos”. O resultado, contudo, levou a uma variedade de conceitualizações cada vez mais estreitas que podem limitar nossa compreensão da experiência vivida da vergonha. Em vez de continuarmos o debate sobre se a vergonha é problemática ou funcional, entendemos que é mais adequado e útil aceitarmos que ela, como muitas outras emoções, pode ser funcional e problemática. Por exemplo, a emoção de medo, sendo funcional para nos alertar às ameaças e nos motivar à ação para nos protegermos, pode também se tornar problemática quando a experiência é desproporcional à ameaça, ocorre sem uma causa ou é prolongada (Marks, 1987). Similarmente, para ampliarmos nossa compreensão da vergonha e de como os humanos processam a experiência de vergonha, precisamos identificar quando e por que ela, uma emoção funcional, pode se tornar problemática. Nesta revisão, fornecemos um panorama da pesquisa sobre a vergonha, sugerindo que ela é funcional, mas pode se tornar problemática quando motiva uma resposta evitativa. Como pesquisas recentes indicam que essa resposta evitativa é mais provável quando a causa da vergonha é percebida como irreparável (para uma meta-análise, veja Leach & Cidam, 2015), sugerimos fatores que podem influenciar a reparabilidade da vergonha e podem, por sua vez, ser dignos de consideração ao desenvolvermos estratégias de diminuição da vergonha problemática. Vergonha Problemática vs. Vergonha Funcional A vergonha é frequentemente compreendida como uma emoção negativa ou problemática. Diversos estudos apoiaram a visão de que ela é inútil ao bem-estar psicológico. Vergonha-estado (e.g., Experience of Shame Scale: Turner, 2014), vergonha-traço (e.g., Personal Feelings Questionnaire-2: Harder & Zalma, 1990), e propensão à vergonha (i.e., vulnerabilidade à vergonha por uma variedade de situações hipotéticas, mensurada pelo Test of Self Conscious Affect 3: Tangney, Dearing, Wagner, & Gramzow, 2000) foram associados a psicopatologias como ansiedade social (Gilbert, 2000; Matos, Pinto-Gouveia, & Gilbert, 2013), transtornos alimentares (Keith, Gillanders, & Simpson, 2009), transtorno de personalidade narcisista (Ritter et al., 2013), e depressão (Andrews, Qian, & Valentine, 2002; Cheung, Gilbert, & Irons, 2004; Gilbert, 2000; Kim, Thibodeau, & Jorgensen, 2011). Além disso, uma variedade de estudos demonstrou o papel tanto da vergonha aguda quanto prolongada no desenvolvimento e manutenção do TEPT (e.g., Andrews, Brewin, Rose, & Kirk, 2000; Budden, 2009; Feiring & Taska, 2005; La Bash & Papa, 2014; Oktedalen, Hoffart, & Langkaas, 2015). Além de ser problemática para a saúde psicológica do indivíduo, também foi demonstrado que a vergonha impede processos interpessoais. Tem sido sugerido que a experiência da vergonha e o alto sofrimento pessoal associado levam a um foco no self em vez de no comportamento vergonhoso ou naqueles afetados pelo comportamento (Leith & Baumeister 1998; Tangney, 1991). Os resultados também demonstraram que a propensão à vergonha está correlacionada positivamente com raiva, irritabilidade e externalização defensiva de culpabilização (Tangney, 1990; Tangney, Wagner, Fletcher, & Gramzow, 1992). Enquanto essas pesquisas podem sugerir que a vergonha é uma emoção disfuncional, essa posição parece estar desalinhada com as perspectivas funcionais ou evolucionistas das emoções. De acordo com essas teorias, as emoções evoluíram para servir propósitos funcionais, relacionados à sobrevivência (para um panorama, veja Keltner & Gross, 1999), e a sobrevivência para os humanos está intimamente relacionada ao pertencimento social (Baumeister & Leary,1995). Essas teorias sociofuncionais têm sido aplicadas à vergonha (Fessler, 2007; Gilbert, 2007; Muris & Meesters, 2014). De uma perspectiva evolucionista, é provável que a vergonha tenha evoluído pela seleção natural para servir uma função adaptativa (Fessler, 2007; Gilbert, 2007). Especificamente, tem sido sugerido que a vergonha surge quando o self social está ameaçado, por causa da perda de status social, vínculos sociais ou porque o self é percebido como indesejável aos outros (Gruenewald, Dickerson, & Kemeny, 2007; Scheff, 1988). Um número de pesquisadores sugeriu que a vergonha opera de uma maneira análoga à noção sociométrica da autoestima de Leary e Baumeister (2000); ou seja, como um medidor emocional agudo que indica ameaças ao self social (de Hooge, 2014; de Hooge et al., 2011; Ferguson, 2005; Gruenewald et al., 2007; Nelissen, Breugelmans, & Zeelenberg, 2013). Nesse sentido, a vergonha e a autoestima podem parecer similares, ambas envolvendo avaliações negativas do self em resposta a padrões sociais percebidos. Apesar das similaridades, vergonha e autoestima são distinguíveis, no sentido em que a vergonha é uma emoção distinta em resposta a um aspecto do self (ou um evento que implica um aspecto especifico do self), enquanto a autoestima é uma crença geral sobre o self que impacta em diversos aspectos do self. Mesmo assim, ambas servem ao objetivo de sobrevivência social, ajudando indivíduos a manter vínculos relacionais e status no grupo. Uma perspectiva funcionalista sugeriria que a vergonha ajuda os indivíduos a se focarem nas fontes da ameaça para repará-la. As pesquisas demonstram que a vergonha pode motivar as pessoas a se mobilizarem para corrigir seu status ou imagem social-moral ou seus vínculos com outros (Ahmed & Braithwaite, 2006; de Hooge et al., 2010, 2011; Menesini & Camodeca, 2008; Olthof, 2012). Por exemplo, em contextos intergrupais, se descobriu que a vergonha coletiva está positivamente relacionada ao apoio às políticas para eliminar os delitos intergrupais e começar reparações (Brown & Cehajic, 2008; Brown, Gonzalez, Zagefka, Manzi, & Cehajic, 2008; Iyer, Schmader, & Lickel, 2007). Similarmente, em um nível pessoal, os participantes que refletiram sobre experiências de vergonha demonstravam maior probabilidade para apoiar declarações como “Eu senti o ímpeto de ser uma pessoa melhor” (Lickel et al., 2014, p. 1052). Com relação ao funcionamento interpessoal, alguns pesquisadores argumentaram que a vergonha pode aumentar o comportamento pró-social. Crianças consideradas pró- sociais por seus pares e/ou professores experimentaram maiores níveis de vergonha em cenários hipotéticos, comparadas àquelas que eram consideradas “bullies” (Menesini & Camodeca 2008; Olthof, 2012). Em contraste, as crianças que não reconheciam vergonha (e.g., culpavam outras e se tornavam agressivas) tinham maiores chances de ser bullies do que aquelas que experimentavam e reconheciam sua vergonha (Ahmed & Braithwaite, 2004). Pesquisadores jurídicos argumentaram que a vergonha é um fator-chave no processamento de transgressões e está associada com a tomada de responsabilidade e reparações após as transgressões, enquanto aqueles que relatam pouca vergonha tendem mais a demonstrar padrões de repetição da transgressão (Ahmed, Harris, Braithwaite, & Braithwaite, 2001). De fato, entre infratores que tinham maior propensão à vergonha, ela esteve relacionada a baixas taxas de reincidência (ao controlarmos a externalização da culpa), um ano após o encarceramento (Tangney, Stuewig & Martinez, 2014). A vergonha também tem sido associada com reconciliação e autoperdão após transgressões interpessoais (Woodyatt & Wenzel, 2014). Esses resultados sugerem que a falta de vergonha é potencialmente problemática e que a vergonha pode assinalar adaptativamente que o comportamento precisa mudar no futuro. Como pode essa emoção desempenhar esses papéis duplos, por um lado estando ligada a muitos aspectos problemáticos do bem- estar psicológico, por outro lado desempenhando um papel importante no funcionamento social? Como Resultados Conflitantes Levaram a Redefinições Limitadas da Vergonha Em uma aparente tentativa de evitar a natureza contraditória da vergonha, têm havido sugestões para redefinir a vergonha genericamente em uma de duas maneiras. De um lado, a vergonha tem sido conceitualizada como problemática e, por sua vez, distinta de emoções mais funcionais (como a culpa). De outro lado, a vergonha tem sido conceitualizada como unanimemente funcional e, por sua vez, distinta de sentimentos ainda mais problemáticos (como o sentimento de inferioridade). Tangney e Dearing (2002) fornecem um exemplo comum de como a vergonha é definida como unicamente problemática; quando ela é definida em relação à culpa, a vergonha se torna a emoção problemática e culpa a emoção construtiva. Existem duas abordagens empíricas diferentes que levaram a essa conclusão. A primeira se caracteriza pelo exame da “culpa livre de vergonha” e “vergonha livre de culpa” (Tangney & Dearing, 2002). Nessa abordagem, se pede que os participantes avaliem sua vergonha em resposta a um cenário ou relembrem uma experiência vergonhosa. Os pesquisadores também medem a culpa da mesma maneira e, então utilizam correlações parciais para examinar a “culpa livre de vergonha” e a “vergonha livre de culpa”. Apesar de a vergonha e a culpa serem distinguíveis em um nível cognitivo (i.e., a culpa é uma avaliação negativa do comportamento, enquanto a vergonha é uma avaliação negativa de um aspecto do self: Lewis, 1971), existe uma alta correlação entre as emoções (Lickel et al., 2014; Tangney, Miller, Flicker, & Barlow, 1996). Como argumentado por Cohen, Wolf, Panter e Chester (2011), é questionável o que resta da vergonha que é “livre de culpa”. A linha entre as duas emoções é frequentemente difusa para os indivíduos que as experimentam em determinada situação, particularmente em um contexto clínico. A segunda abordagem que levou a vergonha a ser compreendida como problemática operacionalizou a vergonha e a culpa como comportamentos distintos. Baseado na conceitualização de Lewis (1971) da vergonha como um foco no self e da culpa como um foco no comportamento, Tangney e colegas (1996) sugerem que a vergonha motiva respostas evitativas por causa da natureza esmagadora da autoavaliação negativa, enquanto a culpa motiva respostas de reparação, uma vez que o comportamento é mais fácil de modificar do que o self. Essa conceitualização está refletida no TOSCA-3 (Tangney et al, 2000), um instrumento comum de propensão à vergonha. Nesse instrumento, os participantes são apresentados a cenários hipotéticos que detalham uma transgressão social e avaliam a probabilidade de responderem com quatro opções diferentes de reações. Considera-se que as respostas que indicam evitação e aproximação refletem a vergonha e a culpa, respectivamente. Essa conceitualização está também evidente na Experience of Shame Scale, onde a concordância com respostas evitativas (e.g., “Você evitou contato com alguém que sabia que você havia dito algo estúpido?”) sugere vergonha (Andrews et al, 2002, p. 41). Contudo, a mensuração de tendências evitativas como representações da vergonha pode levar à mensuração de apenas uma forma de vergonha (i.e., uma forma de vergonha que gera evitação). No desenvolvimento de uma nova Shame and Guilt Proneness Scale (GASP), Cohen e colegas (2011) demonstraram que autoavaliações negativas (e.g., aquelas indicativas de vergonha) não estavam associadas com respostas evitativas e que, em vez da vergonha, eram as respostas evitativas que estavam associadas com traços indesejáveis(e.g., agressão, Estudo 1). Assim, medidas de vergonha que a confundem com evitação (e a culpa com reparação) pode levar a raciocínios circulares, nos quais estudos apoiam a conceitualização de vergonha como problemática e de culpa como funcional, por causa da maneira como as escalas são construídas. Juntos, os dois aspectos metodológicos revisados resultam evidências confirmatórias, mas possivelmente errôneas, de que a vergonha é uma emoção unicamente problemática que sempre motiva tendências evitativas. Outros pesquisadores também afirmam que a vergonha tem sido confundida com outras emoções, mas, em contrapartida, argumentam que ela é funcional quando diferenciada de outras emoções ou cognições problemáticas. Gausel e Leach (2011), por exemplo, sugerem que a vergonha leva exclusivamente a comportamentos pró-sociais, uma vez que é diferenciada de sentimentos de rejeição e inferioridade. Nesse caso, a vergonha é definida como um intenso autocriticismo advindo de um risco à autoimagem, em oposição à imagem social. Sugere-se que ameaça à imagem social produz sentimentos de rejeição, que acarretam motivações autodefensivas de evitação. Apesar de algumas pesquisas terem demonstrado que a vergonha, sentimento de rejeição e sentimento de inferioridade são distinguíveis (veja Gausel, Leach, Vignoles, & Brown, 2012; Gausel, Vignoles, & Leach, 2015), outras pesquisas demonstraram uma alta correlação entre nossos valores sociais e pessoais: de as pessoas veem a si mesmas como inadequadas, é provável que esperem que os outros as vejam de uma maneira negativa parecida, e vice- versa (Goss, Gilbert, & Allan, 1994; Leary, Tambor, Terdal, & Downs, 1995). Em vez de fornecer diferenciações significativas entre a vergonha problemática e funcional, essas abordagens que cada vez mais customizam a definição de vergonha podem levar a uma perda de complexidade. No final das contas, é difícil imaginar uma vergonha livre de culpa ou uma experiência de vergonha sem nenhuma percepção de inferioridade. Em vez de continuar a debater se a vergonha é funcional ou problemática e continuamente reconceitualizá-la para que sirva a uma posição nesse debate, é razoável assimilar as duas visões opostas. As emoções per se não são disfuncionais, mas podem se tornar quando são experienciadas intensamente, frequentemente ou inapropriadamente em relação à situação (Clark & Watson, 1994; Fessler, 1999; Olthof, 2012). O medo, por exemplo, é sem dúvida essencial à sobrevivência, mas pode também ser experimentado muito intensamente, frequentemente e desproporcionalmente, como nos transtornos de ansiedade. Se esse raciocínio for ampliado à vergonha, ela pode ser teorizada como uma emoção funcional que pode se tornar problemática sob certas circunstâncias. Desafiando a dicotomia da culpa funcional e da vergonha problemática, Dost e Yagmurlu (2008) afirmam que “as emoções não podem ser inerentemente negativas; qualquer emoção pode ser tanto adaptativa e desadaptativa dependendo das circunstâncias” (p. 113). Henniger e Harris (2014) também argumentaram que as emoções não podem ser classificadas como boas-versus-más, e que a vergonha é um motivador eficiente, apesar do desconforto psicológico que induz. Avaliar a vergonha deste ponto de vista pode levar a avanços empíricos e teóricos que permitam aos pesquisadores e clínicos compreenderem como e por que a vergonha, uma emoção funcional, pode se tornar problemática, e como a vergonha problemática poderia retornar a um estado funcional. O Que Determina Se a Vergonha é Funcional ou Problemática? Perspectivas teóricas sobre a vergonha sugerem que as respostas à emoção podem desempenhar um importante papel em sua funcionalidade. Em particular, a evitação em resposta à vergonha pode ser prejudicial (Gausel & Leach, 2011; Gilbert, 2000; Muris & Meesters, 2014). Em seu Modelo de Avaliação Secundária (Secondary Appraisal Model) das emoções autoconscientes, Muris e Meesters (2014) sugerem que a vergonha motiva o comportamento submisso, que funciona como um sinal de apaziguamento, mas que ela se torna problemática quando essa resposta se torna dominante. O modelo também sugere que quando a vergonha motiva comportamentos de aproximação, como os comportamentos pró-sociais, não resulta em nenhuma psicopatologia. De maneira similar, Gilbert (2000) argumenta que a vergonha é adaptativa na medida que permite aos indivíduos se comportarem apropriadamente e de acordo com as regras e normas, mas, como ocorre com outras estratégias adaptativas, ela pode se tornar desadaptativa quando perpetua um ciclo de evitação social e comportamentos submissos. Correspondentemente, evidências empíricas da associação da vergonha com resultados problemáticos podem ser confundidas com a evitação como uma resposta à vergonha. A maioria da evidência em favor da visão negativa da vergonha vem de estudos examinando a propensão à vergonha (Gilbert, 2000; Leith & Baumeister, 1998; Lutwak, Panish, Ferrari, & Razzino, 2001; Tangney, 1990, 1992, 1995a, 1995b; Tangney et al., 1992). Como discutido anteriormente (veja também Cohen et al., 2011; Giner-Sorolla, Piazza, & Espinosa, 2011; Luyten, Fontaine, & Corveleyn, 2002), essa medida operacionaliza a vergonha como um afeto negativo autodirecionado, associado a uma tendência de evitar interações sociais e uma ausência de desejo em reparar a situação. Interessantemente, tem sido sugerido que as correlações entre a vergonha e os resultados problemáticos não são encontradas quando as medidas de vergonha estão livres dos itens relacionados à evitação comportamental. Estudos demonstraram que a propensão à vergonha estava correlacionada a psicopatologias, como a depressão e a disfunção social, enquanto experiências situacionais de vergonha que não incluem itens de evitação comportamental não estavam (Allan, Gilbert, & Goss, 1994). Além disso, ao analisar as correlações entre reações positivas e negativas à vergonha, foi descoberto que a evitação subsequente à vergonha estava negativamente correlacionada a resultados desejados (e.g., maior saúde) e positivamente correlacionada a resultados indesejáveis (e.g., raiva atual; Harris & Darby, 2009). Apesar da evitação poder ser adaptativa na medida que protege o self social de maiores danos (de Hooge et al., 2010), a evitação habitual após transgressões vergonhosas provavelmente leva a resultados problemáticos. Sendo assim, se baseando nas pesquisas atuais, parece razoável sugerir que a vergonha se torna problemática na medida em que é respondida com evitação, o que faz a vergonha persistir sem ser trabalhada. Além de evitar comportamentalmente a situação vergonhosa, as pessoas também podem evitar psicologicamente a experiência de vergonha. Os participantes que foram entrevistados sobre suas experiências passadas de vergonha se lembraram de tentar evitar a experiência emocional negando, ignorando e suprimindo o sentimento, utilizando táticas como uso de álcool ou minimização da significância do evento (Van Vliet, 2008). A evitação psicológica da vergonha tem implicações para a saúde mental. Apesar de algumas teorizações de que crianças negligenciadas estejam em risco de depressão por causa de experiências vergonhosas na infância (Bennett, Sullivan, & Lewis, 2010), as pesquisas demonstraram que não são as experiências de vergonha por si mesmas que impactam os sintomas depressivos, mas sim a tendência de evitar cognitivamente essas experiências (Carvalho, Dinis, Pinto-Gouveia, & Estanqueiro, 2015). A evitação dos pensamentos associados à vergonha tem sido pensada como um empecilho ao processamento emocional de eventos traumáticos, levando à manutenção do TEPT (Lee, Scragg,& Turner, 2001). Contudo, as reações à vergonha não estão limitadas à evitação e, de fato, podem variar. Apesar da vergonha ser amplamente definida como uma emoção que motiva comportamentos de retraimento e evitação (e.g., Bennett et al., 2010; Covert, Tangney, Maddux, & Heleno, 2003; Tangney & Dearing, 2002), o apoio empírico para essa definição é apenas fornecido por um punhado de estudos (Chao, Cheng, & Chiou, 2011; Ferguson, Stegge, & Damhuis, 1991; Frijda, Kuipers, & ter Schure, 1989; Roseman, Wiest, & Swartz, 1994; Sheikh & Janoff-Bulman, 2010). Além disso, existiram múltiplos estudos sugerindo que a vergonha também pode motivar os indivíduos a se aproximarem e repararem a situação, como indicado acima. Por que essas respostas à vergonha podem variar? De Hooge e colegas (2010, 2011) demonstraram que a reparabilidade percebida da vergonha determinava se participantes envergonhados estavam motivados a reparar seu self social através de comportamentos de aproximação ou proteger seu self social danificado através de comportamentos de retraimento. Os participantes receberam a oportunidade de reparar uma vergonha induzida e lhes foi dito que a tentativa de reparo teria uma influência pequena ou grande sobre o resultado. Aqueles que receberam a informação de que seu esforço para reparar teria pouca influência tendiam menos a tentar o reparo, quando comparados àqueles que recebiam a informação de que teriam uma grande influência (de Hooge et al., 2010). Em um estudo subsequente, os participantes com mais vergonha apresentaram mais comportamentos de aproximação e maiores motivações para proteger e reparar o self social, quando comparados àqueles no grupo controle. Porém, quando lhes foi dito que a tarefa de aproximação era difícil, isso diminuiu a probabilidade dos participantes envergonhados escolherem essa tarefa e suas motivações reparadoras correspondentes (de Hooge et al., 2011). Uma meta-análise recente de Leach e Cidam (2015) demonstrou que esses achados eram representativos da pesquisa mais ampla da vergonha, na qual a oportunidade para reparar a causa da vergonha era o moderador mais robusto na relação entre a vergonha e respostas de aproximação e evitação. Especificamente, a vergonha apresentou uma ligação positiva às tendências de aproximação (comportamentos ou intenções) quando a falha ou a imagem social eram mais reparáveis, e uma ligação negativa com as tendências de aproximação quando a falha era menos reparável. Quando essa pesquisa é considerada junto com a análise de que a evitação subsequente à vergonha é problemática, parece provável que a vergonha cumpra um papel funcional quando leva a comportamentos de aproximação e reparação, uma vez que isso facilita o conserto do self social. Quando a vergonha leva o indivíduo a evitar a experiência de vergonha, contudo, ela fica associada a resultados problemáticos (Figura 1). Dessa forma, as pesquisas sugerem que a vergonha per se não é problemática ou funcional, mas que depende de como os indivíduos respondem a ela. A evitação da vergonha ou da situação ativadora da vergonha é problemática porque deixa a vergonha essencialmente não-resolvida. Se os indivíduos evitam ou se aproximam depende da percepção de reparibilidade da situação. Figura 1. A reparabilidade modera a relação entre a vergonha e os comportamentos subsequentes de aproximação ou evitação (para uma revisão, Leach & Cidam, 2015). Subsequentemente, as reações à vergonha (i.e., aproximação ou evitação) mediam a relação entre a experiência da vergonha e os resultados subsequentes. O Que Torna a Vergonha Reparável? A síntese dessas pesquisas nos leva à próxima questão, nomeadamente o que determina se a vergonha é, ou é percebida como, reparável? Em sua meta-análise, Leach e Cidam (2015) codificaram a vergonha como reparável se os participantes tiverem a oportunidade de reparar a causa (i.e., através de automelhoramento) ou a consequência de suas falhas (i.e., através de pró-sociabilidade ou cooperação com as pessoas afetadas). Contudo, não está claro o que determina se um indivíduo escolherá ou não uma opção disponível de reparação ou ativamente buscará e criará oportunidades para a reparação. As pessoas podem ter múltiplas respostas às suas emoções, algumas das quais não são determinadas pelas opções que estão disponíveis. Para voltar ao exemplo do medo, tem sido demonstrado que a maneira como uma pessoa responde ao medo pode ser determinada por fatores intrapessoais como confiança e psicopatologia (Hare, Frazelle, & Cox, 1978; Parks & Hulbert, 1995). A respeito da vergonha, parece crucial que o indivíduo acredite que as opções disponíveis de reparação não apenas desfaçam ou compensem sua transgressão, mas possivelmente restaurem seu pertencimento social. Até certo ponto, uma percepção de reparabilidade pode ser aumentada se o indivíduo deixar de focar na preocupação sobre o self e focar em algo mais reparável, como um comportamento específico – como Tangney e Dearing (2002) apontaram. Contudo, devido à natureza Experiência de Vergonha Reparabilidade Evitação Aproximação Resultados psicológicos e interpessoais problemáticos Reparação do self social (i.e., status ou pertencimento) social e funcional da emoção, provavelmente existem outros fatores mais sociais que impactam se enxergamos ou não potencial em reparar nossa vergonha. Percepção de Estigma versus Aceitação pelos Outros O estigma comunica aos estigmatizados que os outros não os consideram membros dignos ou aceitáveis do grupo, tornando a reparação da vergonha e a restauração do self e da imagem social fútil. Em contraste, a aceitação pelos outros provavelmente abre a possibilidade à reparação da vergonha. Na medida que os outros nos respeitam, aceitam ou amam, eles tendem mais a demonstrar perdão, atribuir nossas ações negativas a intenções benignas e agir para nos ajudar (Kearns & Fincham, 2005). Isso, por sua vez, nos permite reconhecer nossa vergonha, tomar responsabilidade e tentar a reparação. Ahmed e Braithwaite (2006) demonstraram que as respostas dos outros (estigmatizantes ou respeitosas) podem impactar se um indivíduo reconhece sua vergonha ou não. Especificamente, eles descobriram que altos níveis de perdão parental e reconciliação percebidos fomentou a habilidade da criança reconhecer a vergonha e, por sua vez, reduzir o comportamento de bullying. De maneira parecida, Woodyatt e Wenzel (2013) descobriram que respostas respeitosas (versus estigmatizantes) de outros levavam os indivíduos a reconhecer sua vergonha após transgressões interpessoais. Quando a vergonha é reconhecida e sentida (em vez de evitada ou realocada através da raiva ou culpa; Ahmed et al., 2001; Bessant & Watts, 1995; Braithwaite, Ahmed, Morrison, & Reinhart, 2003), ela começa a diminuir através da reflexão, compreensão, mudança comportamental e reavaliações (Lewis, 1971; Lindstrom, Hamberg, & Johansson, 2011). À medida que as pessoas são capazes de formar relações significativas em comunidades de respeito (em suas vidas e no contexto de transgressões), elas tendem a perceber a vergonha como reparável. Isso é interessante para clínicos, pois as experiências de vergonha são frequentemente tratadas como experiências intrapsíquicas (veja Leary, Raimi, Jongman-Sereno & Diebels, 2015) quando, de fato, a resolução dessas experiências pode ser uma interação entre um indivíduo e a saúde de seus relacionamentos e identidades sociais. Percepção do Self como Maleável e Respondendo com Compaixão A medida na qual nós nos avaliamoscomo mutáveis provavelmente influenciará a percepção da reparabilidade da situação. Enquanto alguns encaram as qualidades pessoais (e.g., inteligência, gentileza e criatividade) como mutáveis durante o ciclo vital, outros encaram as qualidades pessoais como fixadas por toda a vida ou que algumas delas são mutáveis e outras não (Dweck & Molden, 2005). Como uma consequência, os indivíduos tendem a aceitar maior responsabilidade por uma transgressão quando o self é apresentado como maleável em vez de fixo (Schumann & Dweck, 2014). Em relação à vergonha, talvez seja mais provável que uma pessoa se esforce para reparar o aspecto vergonhoso de si (i.e., estar mais motivada para mudar para melhor) se acredita que esse aspecto vergonhoso é maleável. Assim, teorias sobre o self provavelmente impactarão a percepção pessoal sobre a habilidade de reparar a vergonha. Quanta aceitação um indivíduo tem pelas suas insuficiências e falhas provavelmente também impactará se o indivíduo reconhecerá e processará a experiência da vergonha. Como acontece com a aceitação demonstrada por outros, a medida na qual somos autoestigmatizadores versus aceitadores pode impactar nossa percepção da possibilidade de reparação. De fato, respostas compassivas e aceitadoras de outros podem ser internalizadas como uma resposta autocompassiva (Gilbert & Procter, 2006; Neff & Vonk, 2009). Aqueles que são compassivos consigo mesmos provavelmente estarão mais confortáveis aceitando e admitindo suas falhas, comparados àqueles que não são (Breines & Chen, 2012). A autocompaixão tende a auxiliar no processo de reparação, uma vez que foi demonstrado que ela propicia processos que encorajam respostas comportamentais de aproximação, em vez de respostas evitativas (Goetz, Keltner, & Simon-Thomas, 2010). Além disso, as terapias que buscam fomentar a autocompaixão e o processamento emocional se demonstraram úteis no processamento da vergonha (Gray et al., 2012; Luoma, Kohlenberg, Hayes, & Fletcher, 2012). Percepções da Impossibilidade de Reparação Devido a Valores Conflitantes Enquanto as reações dos outros e a autopercepção do indivíduo podem influenciar sua decisão de abordar ou evitar a vergonha, existem fatores contextuais mais amplos que podem também impactar suas decisões. Especificamente, o custo social que pode vir com a reparação da vergonha pode influenciar a decisão de realiza-la ou não. Uma vez que a vergonha surge para sinalizar que alguns aspectos do self são menos aceitáveis para outros, a reparação da vergonha geralmente envolverá ações custosas, pedidos de desculpas ou mudanças no comportamento. Em alguns contextos, a reparação de um conjunto de valores pode comprometer outros relacionamentos ou valores grupais. Esse provavelmente é o caso quando as pessoas possuem múltiplos grupos sociais com os quais se identificam, cujas normas e valores conflitam (Hirsh & Kang, 2015). Nesse caso, é provável que se uma pessoa tentar reparar seus laços sociais no grupo aderindo às normas daquele grupo, então ela provavelmente violará inadvertidamente as normas do grupo conflitante. Por exemplo, um militar pode experienciar um conflito de identidade se sentir que ser um “bom” soldado envolve fazer coisas desalinhadas com ser um “bom” pai, levando a uma percepção de dissonância e inabilidade de lidar com a vergonha que pode surgir ao aderir a uma identidade enquanto transgride a outra. Sendo assim, em situações de conflito de identidades, a reparação da vergonha dentro de um grupo social viria com um custo inaceitável à identificação com outro grupo, fazendo com que, assim, ações reparadoras pareçam impossíveis. Ainda assim, fatores previamente mencionados, como a autocompaixão, poderiam permitir o reconhecimento da vergonha e auxiliar no engajamento com estratégias de resolução de problemas. Elas podem incluir a revisão e priorização de valores pessoais para ajudar o indivíduo a agir em congruência com seus valores mais importantes (consistente com a Terapia de Aceitação e Compromisso: Hayes, Luoma, Bond, Masuda, & Lillis, 2006). Se a tarefa de priorização for difícil, isso por si só pode ser uma observação útil, uma vez que demonstra ao indivíduo que a aderência a todos esses valores simultaneamente é logicamente impossível, não tanto devido a alguma falha pessoal que merece vergonha. Conclusão A dicotomia na literatura atual deixa claro que a vergonha não é uma emoção apenas funcional ou problemática. Em vez disso, é uma emoção que pode se tornar problemática sob certas circunstâncias, especificamente quando a reparação da imagem social após um evento vergonhoso é difícil ou impossível. Nesses casos, é provável que a pessoa responda com evitação, através de comportamentos evitativos com aqueles envolvidos na experiência de vergonha e/ou evitação psicológica do sentimento doloroso. Se essa análise for correta, então o reconhecimento do que influencia a repabilidade da vergonha e, importantemente, como encorajar os indivíduos a reconhecer e reparar suas experiências vergonhosas serão aspectos instrumentais na compreensão de como retornar a vergonha problemática ao seu estado funcional. No momento, nossa compreensão é que a reparabilidade da vergonha pode envolver a habilidade de reconhecer ela, as respostas benevolentes de outros, a percepção do self como maleável e a resposta às próprias falhas e inadequações com autocompaixão. Contudo, para fortalecer e desenvolver essa análise, mais pesquisas direcionadas são necessárias, especificamente utilizando abordagens experimentais controladas (as quais são atualmente escassas) que permitam conclusões sobre a causalidade e peculiaridade dos efeitos da vergonha. Nós também entendemos que podem haver outros moderadores importantes que poderiam colaborar com nossa compreensão da “face de Janus”1 que é a vergonha. Por exemplo, a intensidade da experiência da vergonha pode desempenhar um papel, de maneira que níveis muito baixos ou muito altos são disfuncionais. Pode existir um “ponto ideal” nos níveis de vergonha, potente o suficiente para motivar a mudança comportamental ou reparação, mas não esmagadora e subjetivamente irreparável. Da mesma forma, é possível que a frequência da experiência da vergonha possa ter uma relação curvilínea parecida com seu valor adaptativo, e a adequação situacional da vergonha pode também ser explorada. Para isso, estudos com métodos de experience sampling podem ser beneficiais. Em resumo, as pesquisas futuras deveriam almejar uma investigação sistemática dos fatores que influenciam a reparabilidade da vergonha, bem como de outros fatores que podem influenciar na funcionalidade da vergonha. Esses esforços auxiliarão no desenvolvimento de intervenções direcionadas que ajudem indivíduos e grupos a cultivar as propriedades funcionais da vergonha na direção do crescimento pessoal, coesão social e reparação moral. Referências Ahmed, E., & Braithwaite, V. (2004). “What, me ashamed?” Shame management and school 1 Janus, ou Jano, é o deus romano das mudanças e transições. É conhecido por ser representado como um homem com duas ou mais faces, simbolizando dualidades. (N. do T.) bullying. Journal of Research in Crime and Delinquency, 41, 269–294. Ahmed, E., & Braithwaite, V. (2006). Forgiveness, reconciliation, and shame: Three key variables in reducing school bullying. Journal of Social Issues, 62, 347–370. Ahmed, E., Harris, N., Braithwaite, J., & Braithwaite, V. (2001). Shame Management Through Reintegration. Cambridge, UK: Cambridge University Press. Allan, S., Gilbert, P., & Goss, K. (1994).An exploration of shame measures-II: Psychopathology. 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