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Resenha Vigiar e Punir

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RESENHA VIGIAR E PUNIR DE MICHEL FOCAULT 
ALUNA: Camila Miotto Fagundes 
Michel Foucault escreveu Vigiar e Punir em 1975, o livro é dividido em quatro partes, a primeira tratando do suplício, a segunda da punição, a terceira da disciplina e a quarta da prisão. O objetivo do livro, segundo o autor é “uma história correlativa da alma moderna e de um novo poder de julgar; uma genealogia do atual complexo científico-judiciário onde o poder de punir se apoia, recebe suas justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara sua exorbitante singularidade”, a alma nesse caso se tratando da personalidade. 
O livro começa com Foucault, mostrando um exemplo de suplício e os artigos que regiam esse tipo de prática. Trata sobre o corpo dos condenados, sobre as penas dos crimes por meio da coerção e suplício, por meio de disciplina e do aprisionamento dos homens, mostra o carater social e político dessas formas de controle social que foram aplicados a diversas sociedades, que perdurou principalmente durante regimes monárquicos e durante o período inquisitório, cujo período o castigo da pena aplicado aos corpos dos condenados como um sofrimento físico brutal.
 Essa forma de punição era usada como meio de fazer a população ficar temerosa ao Estado e assim tornar-se submissa. O autor diz “o suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vítimas e a manifestação do poder que pune: não é absolutamente a exasperação de uma justiça que, esquecendo seus princípios, perdesse todo o controle. Nos “excessos” dos suplícios, se investe toda a economia do poder. O corpo supliciado se insere em primeiro lugar no cerimonial judiciário que deve trazer à luz a verdade do crime”. Ficando evidente assim, que essas práticas visavam buscar a “luz da verdade”, pois segundo acreditavam a dor os fariam contar a verdade, e assim levariam essa luz até os olhos do povo, trazendo a tona os crimes cometidos e buscariam justiça.
No entanto, devido as variadas críticas, esse tipo de punição começou a entrar em decadência, acredita-se que o desaparecimento do suplício tem a ver com a “tomada de consciência” dos contemporâneos em prol de uma “humanização” das penas, e assim incorporando outros tipos de punição . Já o autor afirma ainda “permanece, por conseguinte, um fundo “supliciante” nos modernos mecanismos da justiça criminal — fundo que não está inteiramente sob controle, mas envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporal” e também diz “a punição vai-se tornando, pois, a parte mais velada do processo penal, provocando várias consequências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime e não mais o abominável teatro; a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens”. Os protestos contra os suplícios vão se tornando cada vez mais frequentes e começam a ser encontrados em todas as partes na segunda metade do século XVII, vendo assim que a prática a torna-se rapidamente “intolerável”, visto na perspectiva do povo, pois revelava tirania, excesso e sede de vingança e o prazer de punir, daqueles que estavam no poder.
Vê-se então a necessidade de se criar novas leis criminais. Tais que seriam caracterizadas pela suavização das penas, com um código mais nítido, menos arbitrária, um consenso mais bem estabelecido sobre o poder de punição. A reforma tinha duas objetivações que era a do crime e a do criminoso, assim podendo conhecer os objetivos do crime, o porquê, conhecer o indivíduo e suas motivações. Assim, podendo tomar medidas mais rápidas e mais decisivas.
Essa nova reforma do sistema punitivo entra na percepção da noção em que a vantagem do crime possa ser anulada em desvantagem da pena, fazendo com que desestimule futuros contraventores e eliminando a reincidência. Assim, a punição não apareceria mais como um efeito de arbitrariedade do um poderio humano, e sim aparece como uma consequência dos atos criminosos. Desse novo modo, tenta fazer com que o desejo de cometer algum crime seja menos atraente devido ao fato de que o poder que pune agora é mais escondido. O objetivo da pena era chegar no corpo e na alma da pessoa, agora os meios de punição se baseavam em formas de coerção, limitações e diversos exercícios repetitivos, fazendo com que a pessoa se tonasse obediente e respeitasse regras e ordens impostas a elas.
 É que a partir de então o corpo torna-se o local de investimento de várias técnicas e mecanismos que pretendem fazer uma função de docilidade-utilidade, é uma forma de dominação, que tende a tornar a pessoa útil e obediente, não como escravidão ou a vassalidade, é mais como uma política de controle sobre o corpo, o controle de seus comportamentos, faz com que os corpos sejam submissos, que sejam “dóceis”. Um processo, o qual está presente, nas escolas, nos hospitais, no exército, embora tenha surgido nas igrejas.  Foucault discorre o porquê e como que são feitas essas docilidades do corpo, diz “pequenas astúcias dotadas de um grande poder de difusão, arranjos sutis, de aparência inocente, mas profundamente suspeitos. Dispositivos que obedecem a economias inconfessáveis, ou que procuram coerções sem grandeza”. O poder disciplinar é um poder que, ao invés de apenas se apropriar e de retirar os benefícios das pessoas, a disciplina na realidade os “adestra” para assim poder retirar e se apropriar ainda mais e melhor, ou seja, molda os indivíduos fazendo com que possam moldar as pessoas impondo-lhes processos sem que façam questionamentos. A disciplina ainda cria meios de gratificações e penas para classificar as condutas de cada pessoa e assim individualiza-las. Junto com esses mecanismos de adestramento das pessoas, ainda há o exame que torna cada indivíduo um caso, permitindo assim sua analise, sua normatização, e a constituição de saber sobre aquilo que está submetido ao exame, o autor diz “o exame está no centro dos processos que constituem o indivíduo como efeito e objeto de poder, como efeito e objeto de saber. É ele que, combinando vigilância hierárquica e sanção normalizadora, realiza as grandes funções disciplinares de repartição e classificação, de extração máxima das forças e do tempo, de acumulação genética contínua, de composição ótima das aptidões. Portanto, de fabricação da individualidade celular, orgânica, genética e combinatória. Com ele se ritualizam aquelas disciplinas que se pode caracterizar com uma palavra dizendo que são uma modalidade de poder para o qual a diferença individual é pertinente.”
Foucault ainda analisa o panóptico, o qual é um mecanismo de centralização e moralização. São as experiências com seres humanos torna o local de poder, também, uma instância de saber. O panóptico é o tipo de punição moderna ideal. O panóptico vigia o todo dos indivíduos, eles separados e isolados, sendo um tipo de poder que está em todos os lugares, de que tudo vê. Fazendo com que os que estavam sob esse sistema fossem dissuadidos de fazerem o “mal” ou perderem a vontade de faze-lo, ou seja, não poder faze-lo ou não querer.
Incorporando assim no lugar de correntes e trabalhos forçados, a prisão, a qual era considerada a modernização ideal de punição. Segundo Foucault, a prisão era “uma justiça que se diz ‘igual’, um aparelho judiciário que se pretende ‘autônomo’, mas que é investido pelas assimetrias das sujeições disciplinares, tal é a conjunção do nascimento da prisão, ‘pena das sociedades civilizadas’”. No entanto essa forma de punição já esteve presente muito antes nos mecanismos de poder que repartiam, fixavam, classificavam, extraiam forças, treinavam corpos e decidiam comportamentos, dos indivíduos. Então, a prisão surge para ser uma coação de educação total, para poder ter uma disciplina onipresente e assim transformar o indivíduo pervertido para melhor. Os reformadores pensavam em três princípios para a prisão,que eram o isolamento, o trabalho – para poder ter reparação útil para a sociedade, Foucault já acha que “a utilidade do trabalho penal? Não é um lucro; nem mesmo a formação de uma habilidade útil; mas a constituição de uma relação de poder, de uma forma econômica vazia, de um esquema da submissão individual e de seu ajustamento a um aparelho de produção.” – já o terceiro princípio é privação de liberdade.
Na concepção do que significa a prisão e como ela se tornou o sistema punitivo de hoje, Foucault faz a analise, que pode ser considerada a mais realista, ele diz “onde desapareceu o corpo marcado, recortado, queimado, aniquilado do supliciado, apareceu o corpo do prisioneiro, acompanhado pela individualidade do “delinquente”, pela pequena alma do criminoso, que o próprio aparelho do castigo fabricou como ponto de aplicação do poder de punir e como objeto do que ainda hoje se chama a ciência penitenciária. Dizem que a prisão fabrica delinquentes; é verdade que ela leva de novo, quase fatalmente, diante dos tribunais aqueles que lhe foram confiados. Mas ela os fabrica no outro sentido de que ela introduziu no jogo da lei e da infração, do juiz e do infrator, do condenado e do carrasco, a realidade incorpórea da delinquência que os liga uns aos outros e, há um século e meio, os pega todos juntos na mesma armadilha ... a prisão, essa região mais sombria do aparelho de justiça, é o local onde o poder de punir, que não ousa mais se exercer com o rosto descoberto, organiza silenciosamente um campo de objetividade em que o castigo poderá funcionar em plena luz como terapêutica e a sentença se inscrever entre os discursos do saber.”
A prisão apareceu cercada por críticas e desconfianças, ela não estava diminuindo a taxa de criminalidade, estava provocando cada vez mais a reincidência, fazia com que cada vez mais tivesse delinquentes, tanto por não trata-los de forma adequada como seres humanos como por abusarem do poder, uma exploração do trabalho penal, com venda de prisioneiros como escravos, os crimes começando a ser organizados, a solidariedade e hierarquia entre os criminosos, fora que havia ainda a corrupção, e incapacidade dos guardas de manterem a segurança. Sobre esse assunto Foucault analisa “se tal é a situação, a prisão, ao aparentemente “fracassar”, não erra seu objetivo; ao contrário, ela o atinge na medida em que suscita no meio das outras uma forma particular de ilegalidade, que ela permite separar, pôr em plena luz e organizar como um meio relativamente fechado, mas penetrável...” e sobre a delinquência que estava ocorrendo nas prisões, pelo modo como estava sendo tratado e como estava sendo gerida e coordenada a prisão ele diz “ela é antes um efeito da penalidade (e da penalidade de detenção) que permite diferenciar, arrumar e controlar as ilegalidades. Sem dúvida a delinquência é uma das formas da ilegalidade; em todo caso, tem suas raízes nela; mas é uma ilegalidade que o “sistema carcerário”, com todas as suas ramificações, investiu, recortou, penetrou, organizou, fechou num meio definido e ao qual deu um papel instrumental, em relação às outras ilegalidades”. Então deixando claro pela definição de Foucault que a delinquência é um tipo de vingança da prisão contra a justiça..
Foucault faz a descrição da criação do sistema carcerário da França com a inauguração de Mettray, o qual é um paradigma da técnica disciplinar para menores infratores. Nesse momento a modelagem do corpo dá lugar a um conhecimento do indivíduo, no aprendizado das técnicas que induz a modos de comportamento e a aquisição de aptidões se mistura com a fixação de relações de poder, eram tecnicamente controlados, formavam indivíduos submissos, e constituíam sobre eles um saber em que se pode confiar. O adestramento dos corpos não era mais apenas pela observação, e sim pela avaliação dos comportamentos, um conhecimento, o qual era apoiado em conhecimentos da medicina, da educação, da direção religiosa e do aprendizado em escolas.
Os efeitos desse sistema carcerário eram a propagação de poderes disciplinares na sociedade, recrutamento dos delinquentes, criação da legitimidade de punir e disciplinar, a criação de um saber que objetiva o comportamento humano, através da observação contínua como no panóptico, o que explica sua continuidade sólida diante do pretenso fracasso da prisão. 
É que a partir de então o corpo torna-se o local de investimento de várias técnicas e mecanismos que pretendem deixá-lo dócil, tornando, assim, as pessoas mais “úteis” além de mais obedientes, cria um sistema de recompensas e penalidades para individualizar e classificar comportamentos. Deixando claro assim, que o poder sobre o corpo nunca realmente deixou de existir, com a pena agora não se centralizando mais na dor do corpo, no sofrimento, e sim começando a se tratar de direitos e deveres diante ao corpo.
Deixando claro que, a disciplina mantida nas prisões é algo a moldar os corpos dos indivíduos, enquanto processo de docilização para deixa-los sujeitos a vontade, controle de quem está no poder. A prisão acaba se tornando regra na maioria dos países, apesar de sua eficácia duvidosa e diversos problemas do modelo de correção a partir aprisionamento que foi feito para reprimir e reduzir a criminalidade, selecionar e organizar a delinquência, mas na verdade acaba por contribuir com ela. 
 Foucault termina com uma interrogação que se no âmbito politico atual haveria possibilidades para uma alternativa-prisão ou algum modelo diferente, e deixa claro seu posicionamento de que por estar numa sociedade como a nossa a prisão, a qual é regida por um sistema panótico, não é modificável e sim dispensável. 
Bibliografia 
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009. 292 p.
Camila Miotto Fagundes- RGM: 011.4703
Acadêmica da Faculdade de Direito
Centro Universitário da Grande Dourados - UNIGRAN

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