Caso Damião Ximenes Lopes

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INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade que tem os valores baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, são os direitos fundamentais de todos os seres humanos e foi proclamada em 1948 pela Organização das Nações Unidas, e deve ser respeitada por todos os países.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os direitos humanos são “garantias jurídicas universais que protegem indivíduos e grupos contra ações ou omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana”. São exemplos de direitos humanos o direito à vida, direito à integridade física, direito à dignidade, entre outros.
Consta no Art. 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que "Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal." O caso que será tratado a seguir tinha como demanda decidir se o Estado tinha violado esse e outros artigos da Declaração Universal.
Este trabalho tem como objetivo discutir o Caso Damião Ximenes Lopes, que foi morto em 1999 em uma clínica psiquiátrica, devido a maus tratos sofridos. Damião tinha diagnóstico de “transtorno mental”, e estava internado no Hospital Psiquiátrico Casa de Repouso Guararapes, localizado no município de Sobral, estado do Ceará.
Esse caso levou a discussão sobre a saúde mental e Direitos Humanos, pois foi a primeira condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos Humanos por violação ao direito à vida, direito à integridade física, direito às garantias judiciais e direito à proteção judicial, discutiu-se a responsabilidade do Brasil na morte dele.
Após a morte de Damião ouve uma reviravolta na questão da saúde mental no Brasil, sobre o modo de pensar e agir da sociedade e do próprio estado que deveria garantir a pessoas que estão em estado vulnerável uma serie de Direitos. 
DESENVOLVIMENTO
Damião Ximenes Lopes nasceu em 25 de junho de 1969, no município de Santa Quitéria, cidade do interior do estado do Ceará, que esta localizada na região Nordeste. Mais tarde em 1975 a família mudou-se para Varjota, no mesmo estado. 
Com 17 anos Damião desenvolveu uma deficiência mental de origem orgânica, que levou ele a ser internado por diversas vezes. Sua ultima internação foi na Casa de Repouso Guararapes - a única clínica psiquiátrica da região de Sobral. Foi no dia 1º de outubro de 1999, ele não apresentava sinais de agressividade nem lesões corporais externas.
 Figura 01: Damião Ximenes Lopes
 Fonte: Matéria do G1.globo.com�
Apenas três dias apos sua internação especificamente dia 4 de outubro de 1999 Damião faleceu. O centro de tratamento onde ele estava internado era privado, mas atendia também pelo SUS( Sistema Único de Saúde), e cabe ao Estado dar garantias de e proteção as pessoas que se encontram internadas no SUS. No dia da morte de Damião a mãe dele, Albertina Viana foi ao Hospital para visitar o filho, não queriam a deixar entrar, porem não conseguiram evitar que ela encontrasse o filho, através de seus relatos na Demanda (Caso n° 12.237) enviada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ela conta que encontrou o filho em estado lastimável, todo machucado, sangrando, amarrado e pedindo socorro. (COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2004).
 Após se certificar que o filho tinha recebido atendimento de um medico, e dado instruções para que o filho recebesse cuidados e mãe saiu do Hospital para ir conversar com a família sobre o que estava acontecendo. 
 Horas depois da visita da mãe, Damião faleceu. Segundo as declarações presentes nos autos processuais, o medico plantonista atestou que a causa da morte de Damião foi parada cardiorrespiratória. A família de Ximenes não se conformou e levou o corpo para necropsia em Fortaleza. A causa apontada por esse laudo foi de “morte indeterminada”, o corpo estava com hematomas, que segundo os peritos foram causadas por objetos que causam lesões. 
 A família, principalmente a irmã Irene Ximenes Miranda, iniciou uma busca por justiça, denunciou o caso a todas as autoridades competentes como Polícia Civil, Ministério Público Federal e Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Ceará. Mas a falta de investigação e a demora levou a família a encaminhar uma denuncia no dia 22 de novembro de 1999 à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), a tramitação do processo iniciou com a petição numero 12.237, e a primeira solicitação da Comissão foi que o Brasil se manifestasse a respeito da denuncia. 
A investigação contou com outra denuncia anexada um tempo depois, sobre outro paciente que havia recebido maus tratos no mesmo hospital. Mesmo com mais esse adicional e a cobrança da Comissão exigindo esclarecimentos do Brasil, este, não se manifestou.
 A denuncia foi apurada com muita precisão pela Justiça Internacional, levando o Brasil a ser condenado no dia 4 de julho de 2006 por violação dos direitos humanos. Sentença conforme a Corte: 
 DESCIDE: 1. Admitir o reconhecimento parcial de responsabilidade internacional efetuado pelo Estado pela violação dos direitos à vida e à integridade pessoal consagrados nos artigos 4.1 e 5.1 e 5.2 da Convenção Americana, em relação com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos estabelecida no artigo 1.1 desse tratado, em detrimento do senhor Damião Ximenes Lopes, nos termos dos parágrafos 61 a 81 da presente Sentença. DECLARA, Por unanimidade, que: 2. O Estado violou, em detrimento do senhor Damião Ximenes Lopes, tal como o reconheceu, os direitos à vida e à integridade pessoal consagrados nos artigos 4.1 e 5.1 e 5.2 da Convenção Americana, em relação com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos estabelecida no artigo 1.1 desse tratado, nos termos dos parágrafos 119 a 150 da presente Sentença. 3. O Estado violou, em detrimento das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda e dos senhores Francisco Leopoldino Lopes e Cosme Ximenes Lopes, familiares do senhor Damião Ximenes Lopes, o direito à integridade pessoal consagrado no artigo 5° da Convenção Americana, em relação com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos estabelecida no artigo 1.1 desse tratado, nos termos dos parágrafos 155 a 163 da presente Sentença. 4. O Estado violou, em detrimento das senhoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, familiares do senhor Damião Ximenes Lopes, os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial consagrados nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, em relação com a obrigação geral de respeitar e garantir os direitos estabelecida no artigo 1.1 desse tratado, nos termos dos parágrafos 170 a 206 da presente Sentença 5. Esta Sentença constitui per se uma forma de reparação, nos termos do parágrafo 251 dessa mesma Sentença(CIDH. CASO XIMENES LOPES VS. BRASIL. SENTENÇA, 2006). �
 
Pontos da sentença:
A casa de Repouso Guararapes funcionava desde 1974, e integrava a rede de instituições privadas conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), e era única naquela região. Após a repercussão do caso, a casa foi descredenciada do SUS, não podendo mais prestar serviços ao SUS. E mais tarde conforme matéria no site G1.Globo.com, a casa fechou as portas, devido também a outras denuncias. 
 O estado foi responsabilizado pelo que aconteceu enquanto Damião estava na casa porque tinha convenio com a entidade, e nesse caso tinha o dever de fiscalizar e controlar o serviço que a clinica prestava. 
 A CIDH concluiu o estado não cumpriu com a obrigação de investigar o crime e violou o seu dever de respeitar e garantir os direitos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. E que o Brasil precisa adotar medidas para proteção de indivíduos. 
Quanto às indenizações, conforme sentença de quatro de julho de 2006, foi determinado pagamento de indenização pelos danos materiais e morais aos familiares de Damião. Pelos danos materiais o pagamento de US$ 11,5 mil aos familiares de Damião. E pelos gastos, a corte determinouque o Brasil pague US$ 10 mil a um familiar de Damião, como valor justo pelos gastos no acesso ao sistema interamericano.
A sentença também determinou prazos para o cumprimento das medidas. Inclusive o Brasil tinha seis meses para publicar no Diário Oficial os fatos provados na sentença. E também determinou que quem deveria investigar e punir os responsáveis pelas lesões e morte de Damião é o Estado Brasileiro. 
Alem de determinar que o Brasil desenvolva programas para capacitar profissionais que trabalham na área da saúde mental. 
 A lei nº 10.216/2001 que tramitava a doze anos no Congresso Nacional foi aprovada e pode–se dizer que o caso contribuiu para acelerar o processo. Levando em conta que o Brasil se obrigou a dar uma resposta. Essa Lei da Saúde Mental trata de uma reforma na saúde mental. Com mais investimentos, criação de programas de pos graduação para produzir pesquisas nessas áreas. 
Sobre a Condenação:
Somente houve a condenação depois de sete anos da morte de Damião. O Brasil foi condenado a primeira vez pela Organização dos Estados Americanos, por violação de direitos humanos. A punição representou uma vitória da insistência em se tentar manter viva a memória de Daniel. 
Mesmo a família tendo recebido indenização do governo brasileiro, a sentença, não foi cumprida totalmente pelo Brasil, a Casa de Repouso Guararapes, o médico Francisco Ivo de Vasconcelos e o diretor clínico, Sérgio Antunes Ferreira Gomes, foram condenados em ação cível, pela Justiça do Ceará a pagar R$ 150 mil de indenização aos familiares de Damião Ximenes, pagamento que ainda não foi realizado. O processo está em fase de efetivação, os pagamentos da dívida vão ser utilizados conforme forem identificados valores em contas bancarias e imóveis dos responsáveis. 
Os réus foram condenados na ação por lesão corporal com base no artigo 136 do Código Penal Brasileiro, que diz que em caso de lesão corporal grave que resulte em morte, a pena é de um a quatro anos de reclusão. Porém devido ter passado mais de quatro anos do recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória, A Corte do Tribunal de Justiça do Ceará decidiu-se pela extinção da punibilidade. Portanto ninguém foi preso no caso Damião Ximenes Lopes. 
CONCLUSÃO
A sentença do caso mostra que o Brasil ainda tem muitos problemas, nosso sistema judiciário falho, arrastando-se durante sete anos, precisando ultrapassar as barreiras nacionais, sendo levado ao um órgão internacional, para ser possível a família ter justiça. E mesmo assim, ate o momento o Brasil não cumpriu com algumas partes da mesma. 
Damião Ximenes Lopes sofreu maus-tratos por ter problemas de saúde mental. É um grupo que sofre muito com a discriminação. Com esse caso e a condenação, o Estado Brasileiro precisou repensar as políticas de saúde mental. A falta de profissionais qualificados ainda é um grande problema, mesmo o caso não sendo recente, o sistema público de saúde ainda arrasta os mesmos problemas. A saúde é um direito básico de todos, e mereceria esforços, recursos e atenção prioritária, que infelizmente o Poder Público ainda deixa a desejar. 
O caso também serve para pensarmos nos direitos humanos, e os órgãos no Brasil envolvidos na garantia dos mesmos. A negligencia por parte inclusive da nossa Justiça, que teve uma atitude apática em relação a um caso gravíssimo como o de Ximenes, nos deixa descrentes, o tempo que demorou para o desenrolar do caso, frustra quem dela espera um retorno satisfatório e imediato. 
O caso acende uma chama da indignação, e o que se espera, no futuro, que tais casos não se repitam.
REFERÊNCIAS
JURISPRUDENCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS AMERICANOS / SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA, COMISSÃO DE ANISTIA, CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. TRADUÇÃO DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Brasília: Ministério da Justiça. 2014
A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em < https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/declaracao/ >. Acesso em: 21mar. 2018.
CASO DAMIÃO: 1ª CONDENAÇÃO DO BRASIL NA OEA COMPLETA 10 ANOS. Disponível em 
<http://g1.globo.com/ceara/noticia/2016/08/caso-damiao-1-condenacao-do-brasil-na-oea-completa-10-anos.html> Acesso em 21 mar. 2018.
A CONDENAÇÃO DO BRASIL NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS NO CASO “XIMENES LOPES” E A POSTURA DO ESTADO BRASILEIRO NO PROCESSO DE GARANTIA DE DIREITOS HUMANOS. 2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/21056/a-condenacao-do-brasil-na-corte-interamericana-de-direitos-humanos-no-caso-ximenes-lopes-e-a-postura-do-estado-brasileiro-no-processo-de-garantia-de-direitos-humanos/2>. Acesso em 21 mar. de 2018.
RESOLUÇÃO DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA, 2010. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Resolução de 17 de maio de 2010. Supervisão de cumprimento de sentença. Disponível em:< http://www.corteidh.or.cr/docs/supervisiones/ximenes_17_05_10_%20por.pdf> Último acesso em: 22 mar. 2018.
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Sentença de 04 de junho de 2006. Mérito, Reparação e Custas. Disponível em <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf>. Último acesso em: 19 mar. de 2018. 
EMENTA E CONCLUSÃO DE ACÓRDÃO - 2ª Câmara Criminal. Processo Penal. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/diarios/43774418/djce-judiciario-30-11-2012-pg-64>. 2012. Acesso em: 22 mar. de 2018.
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� Disponível em <http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf>. Acesso em: 19 mar. de 2018.