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O ROUBO DA HISTÓRIA

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO BAIXO SÃO FRANCISCO 
DR. RAIMUNDO MARINHO
FACULDADE RAIMUNDO MARINHO
CURSO DE DIREITO
JOSÉ CARLOS NONATO DOS SANTOS COELHO
RESUMO ACADÊMICO: O ROUBO DA HISTÓRIA
MACEIÓ / AL
JULHO – 2018
JOSÉ CARLOS NONATO DOS SANTOS COELHO
RESUMO ACADÊMICO: O ROUBO DA HISTÓRIA
Resumo apresentado ao Curso de Direito, sob orientação do prof. Gilberto Geraldo Ferreira, como um dos pré-requisitos para avaliação da disciplina Sociologia Geral.
Maceió / AL – 06 de julho de 2018
DESENVVOLVIMENTO
Jack Goody é um verdadeiro cidadão planetário. E neste livro do título, “O Roubo da História", refere-se à dominação da história pelo Ocidente. Isto é, o passado é conceituado e apresentado de acordo com o que aconteceu na escala provincial da Europa, frequentemente da Europa ocidental, e então imposto ao resto do mundo. Esse continente pretendeu ter inventado uma série de instituições chave como "democracia", "capitalismo" mercantil, liberdade e individualismo. Entretanto, essas instituições são encontradas em muitas outras sociedades. Eu defendo que essa mesma pretensão se volta para emoções tais como o amor (ou o amor romântico) que é sempre visto como tendo aparecido apenas na Europa no século XII e sendo intrinsecamente constitutivo da modernização do Ocidente (na família urbana, por exemplo).
Seu interesse pela antropologia começou quando foi combatente na Segunda Guerra Mundial, lutando no deserto africano. Feito prisioneiro de guerra, passou por campos de internamento no Oriente Médio, Itália e Alemanha, travou contato com a diversidade humana, convivendo com beduínos, prisioneiros de guerra indianos, sul africanos, americanos e russos, com camponeses italianos, durante seis meses, numa de suas fugas. No campo de prisioneiros alemão de Eichsttat, que possuia uma biblioteca, Goody conheceu duas obras clássicas que marcariam sua formação intelectual: "O Ramo de Ouro" do antropólogo Sir James Frazer (1854-1941) e "O que aconteceu na História" do arqueólogo australiano V. Gordon Childe (1892-1957). Trabalhou com educação de adultos durante certo tempo. Este conjunto de experiências e leituras fizeram-no repensar seus interesses intelectuais. Com o fim da guerra, retornou à Universidade, trocando os estudos literários pela faculdade de arqueologia e antropologia. Foi aluno de Evans-Pritchard e Meyer Fortes, sucedendo este último como professor de antropologia em Cambridge. Estes dois mestres foram profundamente importantes para sua concepção de pesquisa antropológica indissociavelmente ligada à História, no caso de Pritchard. De Meyer Fortes veio o interesse pela dimensão psicológica da vida social, pela economia e o estudo do grupo doméstico e seu ciclo de desenvolvimento. Vale ressaltar o peso de Marx, Weber e Freud na constituição de seu pensamento.
Sua narração está dividida em três partes:
Na primeira parte "Uma Genealogia Sociocultural" o antropólogo estabelece quatro procedimentos para combater as visões etnocêntricas: 
1. Postura cética quanto a exclusividade européia na invenção de instituições e valores como a democracia ou liberdade.
2. Estudar a história a partie da base (e não do presente).
3. Dar a importância devida ao passado não europeu e.
4. Ter em mente "que até mesmo a espinha dorsal da historiografia - a localização dos fatos no tempo e no espaço - é variável, objeto de construção social, por isso sujeita a mudança." 
Goody discute as diferentes formas de calcular o tempo nas sociedades com (e também sem) escrita e a concepção de que o conceito linear seria criação da sociedade ocidental. Há que se diferenciar linearidade temporal de "progresso". Goody demonstra que existiam noções de linearidade em culturas orais, coexistindo junto com o tempo circular. Assim como as concepções de espaço e periodização histórica que também seguem padrões europeus. esta padronização foi-se estabelecendo com a conquista européia (processo de longa duração iniciado com as viagens de "descobrimento" e consolidada com a revolução industrial e o imperialismo do sec XIX). O noção de "Antiguidade" também deve ser revista e, possivelmente ampliada. O "etapismo" de sociedade arcaica, Antiguidade, Feudalismo, Renascença e Capitalismo foi apropriado pelos europeus, pois outras sociedades passaram por processos semelhantes . A partir do conceito de "Revolução Urbana" (de V. Gordon Childe) Jack Goody trata do desenvolvimento paralelo, comercial e cultural, das sociedades da Mesopotâmia, Egito, Crescente Fértil e China. Existiam intercâmbios culturais, comerciais, relações diplomáticas tanto dentro destas sociedades como entre elas. Discute os limites de análises influentes como a de Moses Finley quanto a economia e democracia gregas. Desse modo a primazia dos gregos como inventores da democracia fica abalada, o que não significa menosprezo ao seu legado.
A segunda parte: "Três Perspectivas Acadêmicas" dedica-se à leitura crítica das obras de três grandes cientistas sociais: o biólogo e historiador da ciência Joseph Needham, que possui uma obra monumental lamentavelmente inédita em português chamada Science e Civilization in China (1954); o sociólogo alemão Norbert Elias e o historiador francês Fernand Braudel. Respectivamente são abordadas o desenvolvimento paralelo da ciências na Europa e na China até que no século XVI o Velho Mundo tomou a dianteira, enquanto a China teria estagnado.
Em sua opinião os juízos mais severos foram direcionados para Norbert Elias. Goody pretende demonstrar que falta rigor teórico e metodológico nas análises do sociólogo em relação ao processo civilizatório, que seria específico da sociedade europeia de fins da Idade Média e Renascimento. Processo fundamentado no controle comportamental, formação e centralização do Estado (e consequente monopólio da violência). Elias desconhecia pesquisas sobre culturas africanas e asiáticas, impossibilitando um trabalho comparativo mais consistente. Goody observa que estas sociedades possuíam controles e interditos quanto à sexualidade, uso da violência, ou seja possuíam "regras de etiqueta" comparáveis aos europeus da Idade Moderna. O mais grave é que o sociólogo alemão estaria alicerçado numa concepção de civilização do século XIX europeu, com todas as suas mazelas que são objeto de crítica de Jack Goody.
A obra de Braudel padece das mesmas vicissitudes: o capitalismo estaria plenamente estruturado na Europa Ocidental, enquanto estaria "travado" na Ásia após período de florescimento. Embora a Revolução Industrial europeia estaria intimamente ligada aos desdobramentos da economia asiática, fatos que são muito obscurecidos. Numa argumentação provocativa Goody questiona se o termo "capitalismo" deveria continuar a ser usado 
Finalmente a terceira parte "Três Instituições e Valores" tratam das cidades, universidades, valores como igualdade, liberdade, individualismo e sentimentos como o amor. Naturalmente os europeus reivindicam exclusividade ou, na melhor das hipóteses, fizeram um "trabalho melhor" nestes campos. Novamente existem similitudes e, as cidades europeias possuem mais pontos de semelhança com as asiáticas do que pensa a vã filosofia. Algo parecido ocorre com as instituições de ensino superior, embora no Oriente pareça existir, em certas épocas, maior vigilância dos poderes religiosos quanto ao trabalho docente e liberdade de pensamento.
Quanto aos valores humanitários, individualismo, igualdade, liberdade, eles também estão presentes no pensamento muçulmano, hindu e budista. Evidentemente seguindo seus próprios parâmetros. Sociedades letradas, orais e não letradas da África e da Ásia promovem práticas que podemos considerar democráticas, onde existem participação e decisões compartilhadas em assembleias, rotatividade no poder etc. No tocante ao amor romântico, entendido como liberdade de escolha entre os parceiros, não foi uma invenção da Idade Média europeia, ele pode ser encontrado na poesia romana (Catuloentre outros), na poesia árabe, indiana, japonesa e chinesa. No entanto, etnocentrismos à parte, observo que a situação das mulheres no Oriente contemporâneo não parece estar longe do ideal. Algo observado não apenas por ocidentais(6). Há que se questionar se este amor foi plenamente realizado tanto no Ocidente como no Oriente, algo a ser pensado com mais cuidados.
Jack Goody faz menção a um "desejo universal por representação" que, à revelia das elites e pressão do grupo social, é inerente à condição humana. Uma necessidade de se fazer ouvir que ultrapassa configurações sociais, no tempo e no espaço. Ideia interessante mas que não é muito bem delineada neste livro. Seria interessante comparar os conceitos de razão e verdade empregados pelos filósofos do ocidente e suas semelhanças e diferenças com relação à contrapartida oriental. Entretanto a Filosofia não parece ser terreno muito firme para Jack Goody, tão erudito em outros campos. Igualmente, elementos de teologia e história das religiões deveriam ser mais apurados. Por fim, algumas reflexões sobre a história contemporânea mais imediata, sobremaneira questões relacionadas à situação do Oriente Médio, parecem reiterar alguns lugares-comuns da mídia e da academia, parecendo ter sido escritos no calor do momento, com pouco distanciamento crítico. Mas estas questões ficam para serem comentadas em outra oportunidade.
As principais influências intelectuais de Goody formam um painel bastante eclético, pois vai de marxistas a liberais, de evolucionistas a culturalistas, de católicos a budistas, gerando um erudito diálogo entre, Marx, Weber, Freud, Lévi-Strauss, Marshall Sahlins, Talcott Parsons, Edward Shils, Meyer Fortes, Eric Wolf, Gordon Childe, E. P. Thompson, Perry Anderson, Sidney Mintz e Edward Said, entre outros. Diante disto, é decepcionante constatar que a edição brasileira não apresenta nem índice remissivo, nem índice onomástico. 
O "roubo" (ou "apropriação") se deu com os europeus escrevendo sobre sua história e a do restante da humanidade a partir de seu ponto de vista, criando uma ênfase numa suposta excepcionalidade do Ocidente no tocante a criação de valores (democracia, liberdade, igualdade de direitos), instituições (universidades) e mesmo sentimentos ("amor romântico" e individualismo). Ao mostrar que democracia, capitalismo, liberdade e até o amor não são invenções especificamente ocidentais ou conquistas de um processo histórico supostamente exclusivo, que exclui o Oriente, denuncia-se os limites de confundir a trajetória da humanidade com a narrativa histórica criada pelo ponto de vista europeu. 
O objetivo do autor é relatar que a Europa encobre a história do mundo que não seja europeu, e devido a isso, não tem interpretado bem sua própria história, pois impôs seus conceitos e períodos históricos, comprometendo nossa visão da Ásia tanto acerca do passado quanto para o futuro. Goody ainda afirma que a ciência, a tecnologia e a economia do Japão, dos "tigres asiáticos", da China e da Índia talvez estejam perto de, novamente, retomar a hegemonia mundial. 
O etnocentrismo dos estudiosos ocidentais está em projetar no passado da Europa a atual superioridade ocidental, de modo que essa superioridade, que considerando a história como um todo não passa de conjuntural, pareça pertencer essencialmente à cultura ocidental. A Europa controla a história do mundo desde o século XIX, mas a China, os árabes e outros povos asiáticos também tiveram conquistas valiosas. 
Esse controle é nitidamente percebido nas concepções de tempo e espaço. Antes da escrita o tempo era contado através de fenômenos naturais, como a projeção do sol, as faces da lua e as quatro estações. O cálculo do tempo foi apropriado pelo Ocidente, no qual as datas são descritas antes e depois de Cristo. Nesse caso, as eras relativas à Hégira, aos hebreus e ao ano chinês não são mencionadas na historiografia acadêmica e muito menos usadas internacionalmente. 
Devido às representações gráficas, que surgiram junto com a escrita, as concepções de espaço seguiram as definições europeias. A projeção de Mercator, que coloca a Europa no centro do mundo, é uma das visões de superioridade da Europa, por exemplo. Sem dúvida, cada povo tem noções de espaço distintas, mas o fato é que tais concepções gráficas mapeiam de modo preciso os objetos no espaço, permitindo um estudo mais avançado do ponto de vista geopolítico. O mapeamento foi desenvolvido pelos homens babilônicos e mais tarde pelos gregos e romanos, embora tal conhecimento tenha desaparecido na Europa durante a idade das trevas. Apesar disso, muitos avanços continuaram ocorrendo no mundo árabe, na Pérsia, Índia e China. 
O “Roubo da história” não é somente de tempo e espaço, mas também dos períodos históricos. A ideia linear de contagem do tempo passou a dominar com a colonização europeia, mudando a cultura de muitos povos ao intitular a palavra progresso como sinal de educação e de cultura. A noção da linearidade está presente em todas as sociedades, mas a idéia de progresso é um conceito especificamente próprio da cultura europeia. Depois do advento do iluminismo, o mundo começa a ser regido pela ideia do progresso, inclusive no que tange à evolução histórica. A linha evolutiva Antiguidade feudalismo capitalismo, por exemplo, faz a história inclinar-se apenas para a Europa, tomando assim uma direção única. 
Um exemplo disso, segundo o autor, é que “nenhum historiador alegou até agora que o capitalismo industrial se desenvolveu espontaneamente em qualquer lugar exceto na Europa e sua extensão americana” (GOODY, 2008, p.109). A visão hegemônica privilegia a Europa, no sentido de que os europeus tiveram sua primazia econômica com o feudalismo, o que levou à Revolução Industrial. A questão central é saber quais processos levaram os eruditos europeus a considerarem o feudalismo europeu o único a levar ao desenvolvimento do capitalismo. Sem dúvida, o feudalismo europeu foi único, mas como são todas as formações sociais. Isso não dá à Europa o direito de dizer que foi o seu feudalismo que deu surgimento ao processo capitalista. No centro das discussões conceituais de Goody estão três grandes historiadores. 
O primeiro é Joseph Needham, que estudou a ciência da China e surpreendeu a muitos ao dizer que ela teria sido igual ou mesmo superior a do Ocidente, pelo menos até o século XVII. 
O outro é o alemão Norbert Elias, que disserta sobre o processo civilizatório. Por último, o francês Fernand Braudel, erudito que discorre em seus estudos sobre várias formas de capitalismo no mundo, mas acredita que foi somente na Europa que surgiu o desenvolvimento puramente verdadeiro do capitalismo. 
Segundo Goody, Needham errou quando disse que o renascimento aconteceu somente na Europa e foi restrito à esfera da arte. Needham passou muitos anos documentando o crescimento da ciência chinesa, mas seu maior objetivo foi tentar explicar que apesar de toda vantagem oriental sobre o Ocidente, quem realizou a ruptura para a ciência moderna foram os Ocidentais e não os orientais. Esse paradoxo é conhecido como o “problema de Needham”. Até a Renascença, para o historiador, os chineses e sua ciência estavam à frente da Europa Ocidental. Até meados de 400 da Era Cristã a Europa e a China estavam praticamente no mesmo patamar. Depois disso a Europa decaiu e a China continuou a crescer avançando até o século XV. Nesse mesmo século, a Europa deu um salto repentino, em função do nascimento da ciência moderna, que é vista como tendo surgido com a Renascença, a Reforma e a ascensão do capitalismo. 
Ao tratar da visão de Norbert Elias, Goody trata de como a história é sempre acompanhada das civilizações, sempre carregada de uma visão etnocêntrica, na qual a luta é ganha pelo Ocidente. A concepção de civilização de Elias está ligada a fatores sociais e psicológicos. Em seus estudos, ele mencionava que depois da Idade Média os homens começaram a censurar suas maneiras levando ao que ele considera “sociogênese dos sentimentos de vergonha e delicadezae de forma mais geral o comportamento civilizado” Com o passar do tempo, essa vergonha tornou-se culpa. Esse sentimento deu origem à passagem do feudalismo para o absolutismo. 
Mesmo havendo importantes mudanças direcionadas ao comportamento europeu na Renascença, não se deve desconsiderar outras sociedades, como, por exemplo, a China, que foi uma sociedade civilizada: 
“Lá também o desenvolvimento dos costumes, o uso de intermediário (pauzinho – hashi) entre a o alimento e a boca, os rituais complicados de saudação e limpeza corporal, as restrições da corte em contraste com a objetividade dos camponeses, como, por exemplo, na cerimônia do chá, tudo isso apresenta paralelo com a Europa da Renascença” 
No capítulo acerca de Norbert Elias, Goody volta à questão de que as concepções de Antiguidade, feudalismo e civilização tem sido apresentadas como sendo exclusividade da Europa, excluindo o resto do mundo do caminho para a modernidade e para o capitalismo. Algumas questões são levantadas, como: O que teria de fato acontecido na Europa para que ela tivesse inventado o capitalismo? Ou seria essa afirmação dos historiadores mais um exemplo do roubo da história? 
Braudel menciona, por exemplo, que um dos problemas da China ao não conseguir avançar mais, cedendo espaço para a Europa, foi que ela não possuía um sistema monetário complexo, que para ele era necessário para a produção e operação cambiais, enquanto a Europa possuía esse tipo de sistema. Essa alegação é intrigante por que as civilizações marítimas sempre tiveram fortes ligações umas com as outras. O Ocidente, dessa forma, ostenta possuir no saber científico, tecnológico e econômico uma superioridade sobre o resto do mundo. No entanto, estas “vantagens” são relativamente recentes, sendo discutível que tenham ocorrido antes do século XVII ou mesmo antes da Revolução Industrial. 
Assim, por exemplo, desde o início da Idade Média, na Europa, até o século XVI ou XVII, a China esteve à frente do Ocidente, no que diz respeito à tecnologia e à economia. Basta lembrar que foi do Oriente que vieram as inovações que Francis Bacon, no século XVI, considerava centrais para a sociedade moderna: a bússola, o papel, a pólvora, a prensa, a manufatura e mesmo a industrialização da seda e dos tecidos de algodão. 
Segundo o esquema conceitual marxista, foi a dissolução do escravagismo antigo que produziu as condições necessárias para o estabelecimento do feudalismo medieval e a dissolução deste que gerou as condições necessárias para o surgimento do capitalismo e da modernidade na Europa. De acordo com esse esquema, onde não se encontraram tais condições, o capitalismo não surgiu espontaneamente. É assim que, para os historiadores europeus, se pretende explicar por que a Ásia não teria conhecido o capitalismo, antes de ser presa do colonialismo e do imperialismo. A região teria ficado, por milênios, atolada na estagnação daquilo que Marx chamava de "modo de produção asiático". Ora, essa estagnação mesma jamais passou de um mito. 
Goody questiona, dessa forma, os historiadores que aplicaram a noção de feudalismo a realidades geográficas e históricas distintas da Europa Ocidental, mas apesar deste cuidado, ele próprio realiza alguns anacronismos quando interpreta como antiguidades, capitalismos, renascimentos e processos de modernização fenômenos que ocorreram em outras regiões do mundo e não apenas na Europa. Apesar disto, chama a atenção para as representações do chamado Oriente em discursos ocidentais. 
A ideia do relativismo cultural, desenvolvida principalmente pela Antropologia, é importante também para a História das Relações Internacionais. Pois se não podemos avaliar valores, é no mínimo prudente supor que toda cultura tem algo de único para contribuir ao fundo comum da sabedoria humana, tanto na moral quanto em outros campos, por mais difícil que seja de demonstrar. Assim, toda cultura contribui para a história do mundo, da humanidade e, por conseguinte, para a História das Relações Internacionais. Torna-se necessário superar a concepção de estrange ro, constituído enquanto outro, apenas como uma variante do “eu” (só há homens e não homens, europeus e não europeus, etc.).
Reconhecendo que o Ocidente tem ostentado uma inegável superioridade científica, tecnológica e econômica sobre o resto do mundo, Goody chama atenção, entretanto, para o fato de que essa vantagem é relativamente recente, sendo discutível que tenha ocorrido antes do século 17 ou mesmo antes da Revolução Industrial. Assim, por exemplo, desde o início da Idade Média na Europa até o século 16 ou 17, a China esteve à frente do Ocidente, no que diz respeito à tecnologia e à economia. Basta lembrar que foi do Oriente que vieram as inovações que Francis Bacon, no século 16, considerava centrais para a sociedade moderna, isto é, a bússola, o papel, a pólvora, a prensa, a manufatura e mesmo a industrialização da seda e dos tecidos de algodão.
Ademais, hoje em dia, a ciência, a tecnologia e a economia do Japão, dos "tigres asiáticos", da China e da Índia talvez estejam perto de, novamente, retomar a hegemonia mundial. O etnocentrismo dos estudiosos ocidentais está em projetar no passado da Europa a atual superioridade ocidental nas esferas mencionadas, de modo que essa superioridade -que, considerando-se a história como um todo, não passa de conjuntural- pareça pertencer essencialmente à cultura ocidental.
Tal é o resultado, por exemplo, do esquema conceitual marxista segundo o qual, na Europa, foi a dissolução do escravagismo antigo que produziu as condições necessárias para o estabelecimento do feudalismo medieval, e a dissolução deste que produziu as condições necessárias para o surgimento do capitalismo e da modernidade.
Segundo esse esquema, onde não se encontrem tais condições, o capitalismo não surge espontaneamente. É assim que se pretende explicar por que a Ásia não teria conhecido o capitalismo, antes de ser presa do colonialismo e do imperialismo: ela teria ficado, por milênios, atolada na estagnação daquilo que Marx chamava de "modo de produção asiático". Ora, Goody argumenta convincentemente que essa estagnação mesma jamais passou de um mito.
Nos últimos tempos, temos assistido à emergência econômica da China e da Índia no cenário mundial. Mais recentemente, temos observado a concentração de conflitos e “revoluções” no mundo islâmico. Quando, nesse contexto, procuramos compreender fenômenos e culturas que aos nossos olhos ocidentais parecem estranhos, não costumamos questionar se essa “estranheza” teria sido construída para que passássemos a nos ver como “únicos” em termos de civilização, ciência e cultura. Não paramos para pensar em até que ponto nos esquecemos de que a nossa jornada – a jornada da humanidade – teve atores com várias faces, desde que surgimos há aproximadamente 200.000 anos atrás.
China, Índia e Oriente Médio são regiões sobre os quais os ocidentais formulam concepções que abundam em desconhecimento, desprezo e preconceito. A obra de John (Jack) Rankine Goody (1919) ajuda-nos a refletir sobre a maneira como se deu a construção de uma identidade ocidental pela via do ocultamento dos processos de apropriação cultural de “valores” e das “invenções”. Para ele, o encobrimento do intenso intercâmbio entre ocidente e “oriente” configura um “roubo de história”.
RESUMO
Objetivo neste livro foi examinar o modo como a Europa roubou a história do Oriente, impondo suas próprias versões de tempo (amplamente cristão) e de espaço ao resto do mundo eurasiano. Pode-se talvez sustentar que uma história mundial demanda um único marco de tempo e espaço, que a Europa forneceu. Seu principal problema foram as tentativas de periodização feitas pelos historiadores, dividindo o tempo histórico em Antiguidade, Feudalismo, Renascença seguida pelo Capitalismo. Isso foi feito como se cada etapa levasse a outra em uma única transformação até o domínio do mundo conhecido pela Europa no século XIX, seguindo a Revolução Industrial que teria se iniciado na Inglaterra.Aqui, a questão dos conceitos impostos tem várias implicações teleológicas.
Dominação mundial ou colonial em qualquer forma implica um considerável perigo, bem como possíveis benefícios para o trabalho intelectual, não tanto nas ciências, como nas humanidades, em que o critério de "verdade" é menos definido. No presente caso, o Ocidente pressupõe uma superioridade (o que obviamente aconteceu em algumas esferas desde o século XIX) e projeta essa superioridade para o passado, criando uma história teleológica. O problema para o resto do mundo é que tais crenças são usadas para justificar o modo como os "outros" são tratados, uma vez que os "outros" são vistos como estáticos, ou seja, incapazes de mudança sem a ajuda de fora. Acontece que a história nos ensina que qualquer superioridade é um fator temporário e que temos de buscar alternância. A enorme
China parece estar tomando a liderança na economia, que pode ser a base do poder educacional, militar e cultural, como aconteceu antes na Europa, e depois nos EUA e mesmo na própria China ainda mais cedo. Essa mudançarecente foi liderada por um governo comunista, sem muita ajuda deliberada do Ocidente.
O antropólogo entende que o "roubo" ou, mais elegantemente, "apropriação", foi o fato dos europeus escreverem sobre sua história e a do restante da humanidade a partir de seu ponto de vista, que enfatiza a excepcionalidade do Ocidente no tocante a criação da valores como a democracia, a defesa da liberdade, a igualdade de direitos, bem como instituições como as universidades e mesmo sentimentos como o "amor romântico" e o individualismo. Dessa maneira os europeus afirmam sua superioridade cultural e dão pouca atenção às realizações de outras sociedades, mais precisamente da Ásia e Oriente Próximo, que também desenvolveram estes conceitos. Goody tem por objetivo derrubar esta muralha etnocêntrica e mostrar que a Europa e a Ásia possuem pontos em comum, entretanto, sem abdicar a constatação de diferenças e particularidades construídas ao longo do processo histórico.
Sua vasta obra se desdobra em estudos sobre os efeitos do processo de letramento sobre as sociedades humanas, através da abordagem comparativa entre a Grécia Antiga, Mesopotâmia e África do século XX. Esta análise comparativa dos impactos da cultura letrada se desenvolve então, através do estudo de quatro parâmetros: religião, economia, administração e direito. Também são fundamentais seus estudos sobre História da Herança e da Família, do casamento e do amor romântico, da arte culinária e os processos de estratificação social.
REFERÊNCIAS
O ROUBO DA HISTÓRIA
Goody. Jack. Editora Contexto 2008
SOBRE O “ROUBO DA HISTÓRIA.
Cicero, Antônio.
Site: http://antoniocicero.blogspot.com/2008/11/sobre-o-roubo-da-histria.html
LABIRINTO DO SER
Fonte: https://labirintosdoser.blogspot.com/2009/08/resenha-do-livro-o-roubo-da-historia-de.html
CONJUNTURA INTERNACIONAIS
Fonte: http://periodicos.pucminas.br/index.php/conjuntura/article/viewFile/5257/5221
HISTÓRIA: COMO PERCEBÊ-LA PARA COMPREENDERMOS O OUTRO?
Fonte: https://www.revistas.ufg.br/teoria/article/viewFile/28985/16154
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