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Cultura e socidade na modernidade livro

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Cultura e socidade na modernidade / Graciela Márcia Fochi. Indaial : Uniasselvi, 2013. 198 p. : il ISBN 978-85-7830-828-5
 1. Sociedade. 2. Cultura. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
III
apreSentação
Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina Cultura e Sociedade na Modernidade.
Estudar “Cultura e Sociedade na Modernidade” significa compreender um dos contextos e momentos mais complexos da história da humanidade. Foi o tempo quando foram colocadas em curso às mudanças e transformações responsáveis pela construção da sociedade contemporânea, ou seja, o momento histórico em que vivemos.
Para facilitar os estudos definiu-se a seguinte distribuição de temas:
Na Unidade 1 serão abordados os conceitos fundamentais de modernidade; posteriormente procura-se definir o período histórico no qual esta transcorreu; num terceiro momento reconstitui-se o contexto sociocultural em que a mesma ocorreu; por fim relacionam-se as principais técnicas, invenções e tecnologias que colaboraram para que a modernidade se instalasse e expandisse no interior da sociedade.
Na Unidade 2 será tratado como a modernidade foi recebida desde os modos e hábitos do cotidiano como nos espaços públicos e de convivência social; tendo em vista compreender como o meio urbano e industrial modificaram os comportamentos da população. Em seguida será analisado como a produção cultural da época acompanhou e se posicionou diante dos projetos de modernização; e por fim como se deu e transcorreu a experiência brasileira de modernidade.
A Unidade 3 apresenta reflexões sobre os custos e ganhos que a modernidade conferiu à sociedade, à cultura, às ciências, à economia e à política; bem como as expectativas de modernidade que ainda persistem e as possibilidades que ainda se encontram em aberto e por serem realizadas.
 
Caro(a) acadêmico(a)! Os conteúdos e temas de “sociedade e cultura da modernidade” fazem sentido se compreendidos num quadro maior de fatos, acontecimentos e movimentos históricos.
Para compor este quadro, vamos revisitar os conhecimentos que você já possui sobre a Idade Média, o Renascimento, a era das grandes navegações, a exploração e conquista das novas terras, a Revolução Francesa e Industrial, o Iluminismo, a independência dos Estados Unidos da América, as unificações dos países da Itália e da Alemanha, a prática do imperialismo em países africanos, chineses e indianos, entre outros.
 
IV
Portanto, iremos estudar o processo histórico que foi marcado pela substituição da produção artesanal e manual pela industrial; da migração da população do campo rumo às cidades, pelo enfraquecimento das explicações religiosas e o avanço das ideias racionais e científicas no interior da sociedade, e a diminuição/separação da presença da Igreja na composição do Estado/ governo. 
Estes processos ocorreram de forma mais acentuada no século XIX e nos países do continente europeu, e se estenderam em vários âmbitos da sociedade. O sentido que os homens e as mulheres modernas adquiriram e atribuíram a si mesmos, à sociedade e à cultura de seu tempo será a nossa maior preocupação a partir de agora. 
É necessário também mencionar que os conteúdos, temas, referências, abordagens que serão elencadas ao longo deste Caderno de Estudos, procuraram contemplar a ementa da disciplina, mas que também dizem respeito às escolhas e opções que são consideradas como fundamentais e relevantes ao estudo e reflexão do tema em questão. 
Este material também pode ser compreendido como um roteiro de estudos inicial, introdutório; outros olhares e abordagens podem e devem ser feitos, pois está longe de ser suficiente ou capaz de esgotar o tema e a discussão.
Desde já fazemos votos de uma provocativa jornada de estudos e reflexões pela frente!
Atenciosamente,
Profª. Graciela Márcia Fochi
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.   Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.   Bons estudos!
NOTA
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
SuMário
UNIDADE 1 – CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE ......................................1
TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA ....................................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................3 2 O QUE É MODERNIDADE? ...........................................................................................................4 3 O QUE É CULTURA? ........................................................................................................................8 4 O QUE É SOCIEDADE? ...................................................................................................................9 4.1 SOCIEDADE PRÉ-MODERNA OU FEUDAL................................................................10 4.2 A LENTA DESAGREGAÇÃO DO MUNDO FEUDAL ...............................................12 5 DEBATE HISTORIOGRÁFICO SOBRE A CRONOLOGIA DA MODERNIDADE ...........15 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................18 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................19
TÓPICO 2 – OS ANTECEDENTES DA MODERNIDADE ..........................................................21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................21 2 A NOVA CONCEPÇÃO DE TRABALHO ....................................................................................21 3 TROVADORISMO ............................................................................................................................22 4 A PRENSA DE TIPOS MÓVEIS .....................................................................................................25 LEITURA COMPLEMENTAR 1 .........................................................................................................28 5 NOÇÕES DE TEMPO E ESPAÇO ..................................................................................................29LEITURA COMPLEMENTAR 2 .........................................................................................................29 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................34
TÓPICO 3 – CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS .....................................................................................35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................35 1.1 NO MEIO RURAL ....................................................................................................................36 1.2 NOS ESPAÇOS URBANOS ...................................................................................................36 2 COLONIALISMO E O DESENVOLVIMENTO DA CARTOGRAFIA ...................................38 2.1 O NOVO MUNDO ...................................................................................................................39 3 A MANUFATURA .............................................................................................................................40 4 A SOCIEDADE OCIDENTAL DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL...........................................41 4.1 NO PRINCÍPIO ERA O VAPOR: AS MÁQUINAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA ......................................................................................................43 LEITURA COMPLEMENTAR 1 .........................................................................................................45 4.2 O TEAR MECÂNICO ..............................................................................................................47 4.3 AS MÁQUINAS DA SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: ENERGIA ELÉTRICA E TELÉGRAFO ...................................................................................................49 4.4 O TELEFONE .............................................................................................................................52 LEITURA COMPLEMENTAR 2 .........................................................................................................53 LEITURA COMPLEMENTAR 3 .........................................................................................................54 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................56 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................57
VIII
UNIDADE 2 – A RECEPÇÃO DA MODERNIDADE ....................................................................59
TÓPICO 1 – A ASSIMILAÇÃO DA MODERNIDADE ................................................................61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................61 2 NA CIDADE: URBANIZAÇÃO, VIGILÂNCIA E HIGIENIZAÇÃO DOS ESPAÇOS .......62 2.1 LONDRES ....................................................................................................................................66 2.2 PARIS ............................................................................................................................................70 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................75 3 DO COLETIVO AO PRIVADO.......................................................................................................77 4 AS PERFORMANCES DO FEMININO E DO MASCULINO ...................................................83 4.1 O FEMININO .............................................................................................................................83 4.2 O MASCULINO ........................................................................................................................87 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................90 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................92 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................93
TÓPICO 2 – OS MOVIMENTOS CULTURAIS E ARTÍSTICOS ................................................95 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................95 2 O MOVIMENTO DO ROMANTISMO ........................................................................................96 3 O DISCURSO CIENTÍFICO E O DISCURSO LITERÁRIO .....................................................97 4 A MÚSICA NA MODERNIDADE .................................................................................................103 5 A ARQUITETURA MODERNA......................................................................................................105 6 NAS ARTES PLÁSTICAS ................................................................................................................107 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................111 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................112
TÓPICO 3 – A EXPERIÊNCIA BRASILEIRA NA MODERNIDADE ........................................113 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................113 2 A ESTADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA NO BRASIL ...............................................114 3 A MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA ............................................................................................114 4 A INDÚSTRIA E A TECNOLOGIA ...............................................................................................116 5 A FORMAÇÃO DAS METRÓPOLES ...........................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................125 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................126
UNIDADE 3 – VERSO E REVERSO DA MODERNIDADE ........................................................127
TÓPICO 1 – CONQUISTAS E REALIZAÇÕES DA MODERNIDADE ....................................129 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................129 2 NA POLÍTICA E NA ECONOMIA ................................................................................................129 3 NA CIÊNCIA ......................................................................................................................................132 4 NA SOCIEDADE E NA CULTURA ...............................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 1.....................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................139
TÓPICO 2 – OS CUSTOS DA MODERNIDADE ..........................................................................141 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................141 2 NA ECONOMIA E NA POLÍTICA ................................................................................................1423 NAS RELAÇÕES HUMANAS E NA CULTURA ........................................................................146 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................149 4 NA CIÊNCIA E NO MEIO AMBIENTE ........................................................................................152
IX
RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................161
TÓPICO 3 – TEMPOS CONTEMPORÂNEOS ...............................................................................163 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................163 2 O MAL-ESTAR DA HUMANIDADE ............................................................................................164 3 A FRAGMENTAÇÃO DO COLETIVO .........................................................................................166 4 PERSPECTIVAS, POSSIBILIDADES E SENTIDOS ..................................................................168 4.1 NO CAMPO DA CIÊNCIA ....................................................................................................168 4.2 NOS ESPAÇOS URBANOS ...................................................................................................170 4.3 NO CAMPO DAS TECNOLOGIAS ...................................................................................171 4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................175 RESUMO DO TÓPICO 3.....................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................181
TÓPICO 4 – ASPECTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS À CULTURA E SOCIEDADE NA MODERNIDADE ...................................................................................................183 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................183 2 SUGESTÕES DIDÁTICAS ..............................................................................................................184 2.1 ABORDAGEM CONCEITUAL ...........................................................................................184 2.2 EXPOSIÇÃO DE OBJETOS ANTIGOS .............................................................................184 2.3 HISTÓRIA LOCAL E REGIONAL .....................................................................................184 2.4 TEXTOS PARADIDÁTICOS .................................................................................................185 3 MODERNIDADE: A ÉPOCA DAS IMAGENS ..........................................................................186 3.1 O USO DE FILMES/DOCUMENTÁRIOS .......................................................................187 RESUMO DO TÓPICO 4.....................................................................................................................190 AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................191 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................193
X
1
UNIDADE 1
CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• apresentar os principais conceitos que tratam da cultura e da sociedade ao longo da modernidade;
• definir os acordos cronológicos que delimitam o momento de início, desenvolvimento e declínio da modernidade;
• estudar aspectos e fatores representam os antecedentes favoráveis à realização da modernidade;
• estudar as mudanças e as transformações que a modernidade atribuiu aos contextos e grupos sociais e culturais;
• abordar os movimentos, as estruturas e as técnicas que colaboraram na realização dos projetos de modernidade.
Os objetivos de aprendizagem se encontram distribuídos em três tópicos. Ao longo da discussão dos temas nos interior dos tópicos, serão relacionadas sugestões de materiais alternativos que contemplam os conteúdos estudados. No final de cada tópico, estão relacionadas autoatividades que visam à fixação e a compreensão dos conteúdos estudados.
TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: CULTURA, SOCIEDADE, MODERNIDADE
TÓPICO 2 – ANTECEDENTES DA MODERNIDADE: TROVADORISMO, TRABALHO E PRENSA
TÓPICO 3 – CULTURA MATERIAL E MODERNIDADE: UMA HISTÓRIA DAS TÉCNICAS E DOS OBJETOS
Assista ao vídeo desta unidade.
2
3
TÓPICO 1UNIDADE 1
DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
1 INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a)! Antes de tudo, vamos iniciar uma discussão que é recorrente em nossa época sobre a noção de ‘moderno’. 
Na maioria das vezes encontram-se concepções que definem o momento presente como ‘moderno’ reconhecendo-o como dinâmico, arrojado e sofisticado; e, em contrapartida, encontram-se noções depreciativas para o que é passado ou de outras épocas, identificando-o como ingênuo e ultrapassado. Estas duas concepções não procuram compreender o que é ‘moderno’, logo atribuem juízo de valor, ou seja, fazem julgamentos de bom e mau, sendo que a primeira supervaloriza o momento presente como bom, e a segunda deprecia o passado como mau.
Aqui já se faz necessário que o senso crítico/reflexivo do professor de História esteja atento, no sentido que se reconheça as tecnologias e equipamentos do presente como realizações e possíveis a partir das experiências do passado. 
Outro aspecto a ser levado em consideração também é o da velocidade quando ocorrem as mudanças e transformações em nossa época. Estas serão responsáveis por, em pouco tempo, tornar o que existe neste exato momento de ‘novo’ em ‘antigo’, ultrapassado, superado.
Então se apresenta a provocação de que nós, mulheres e homens nascidos no século XX e/ou XXI, não somos os últimos e também não somos os que experimentam os tempos mais modernos possíveis de serem vividos. A humanidade é sempre surpreendida com o novo, outras invenções, de maiores aperfeiçoamentos, seguem por tempo indeterminado nesta trajetória. Imagine a surpresa que uma invenção como a imprensa causou aos homens e mulheres do século XV. Ou mesmo, o esplendor e expectativa do rádio ao tempo dos nossos avós? A TV colorida para os nossos pais, ou a internet e o telefone celular em nossos dias?
 
Diante disto chama-se atenção que a função dos profissionais da história, que é a despertar para outra consciência histórica, que discute as noções de “moderno” e “antigo” são indispensáveis à melhoria e superação das condições da sobrevivência do presente, que deve evitar julgamentos de qual destes conceitos ou momentos é o mais adequado ou conveniente. O tempo seguirá seu curso, somos meros mortais e não nos manteremos a salvo e ilesos neste processo, que é cada vez mais a técnico e por causa da tendem estar mais presentes.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
4
2 O QUE É MODERNIDADE? Feita esta ressalva inicial pode-se avançar no sentido de analisar os principais conceitos e marcos cronológicos que a modernidade reúne e conferir a importância e a especificidade desta época, bem como as fronteiras diante de outras épocas e momentos históricos. 
Mas se antecipa que se trata de fronteiras volúveis e conceitos um tanto imprecisos, por outro lado, reúnem também formulações contraditórias, ambiguidades e dualidades. Especialmente quando se admite que existam experiências de modernidade nas mais diversas sociedades e épocas históricas, mas que não receberam atenção que foi dada à experiência europeia.
Diante deste quadro de complexidades, procura-se arrolaralgumas formulações ao conceito de ‘modernidade’, pois este processo é perpassado por uma superposição “desordenada” e simultânea de transformações, mudanças, rupturas e/ou permanências que parecem seguir uma a outra numa sequência extremamente veloz; que se cruzam, chocam e seguem novamente seus caminhos, e que por sua vez provocam efeitos e interferem nas estruturas existentes no interior da cultura e na sociedade.
Na tentativa de relacionar a abrangência e a dimensão dos conceitos, procura-se reunir referências de diversos campos do conhecimento a fim de formular um pouco do “estado de coisas”, do contexto histórico e social do qual emergirá a necessidade de mudanças e transformações que irão favorecer a realização do projeto de modernidade. 
A relação entre estes dois conceitos é de tensão e superação, e o de moderno/modernidade surgirá diante da vontade de superação em relação ao de antigo. Mas de que antigo se está falando neste momento? Não é somente e simplesmente o que foi superado pelo novo e moderno. 
Como antigo compreende-se o pensamento clássico da Antiguidade greco-romana, dos tempos medievais e pré-modernos. Desde o Renascimento, existe uma espécie de disputa pela superioridade dos modernos em relação aos antigos (ABBAGNANO, 2007).
Sobre esta disputa, nos escritos de Giordano Bruno (1548-1600), é possível identificar noções como "somos mais velhos e temos mais idade do que nossos predecessores". Afirmação que por sua vez possibilita os homens de seu tempo sentirem-se melhores e mais experientes diante do passado, mais confiantes e seguros com relação ao seu tempo.
 Em especial a palavra progresso foi registrada na Itália, na obra Pensiere diversi (pensamentos diversos) de Alessandro Tassoni (1565-1635) e logo se expandiu a outras regiões. A noção, que é apresentada por Tassoni, é 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
5
encontrada novamente na obra “Diálogo dos mortos” de Fontenelle (1657-1757), e, posteriormente, utilizada e ampliada pelo historiador Giambattista Vico (16681774).
PROGRESSO A ideia de progresso, tanto na história, na filosofia, na cultura e na sociedade, encontra-se relacionada à visão de acúmulo e síntese do passado; e como profecia a se cumprir no futuro. A concepção de progresso interpreta a humanidade como uma grande estrutura que ao longo das eras e épocas caminha árdua e constantemente em direção a um desenvolvimento glorioso e triunfante e que para se cumprir precisa estar associada ao campo técnico e científico.
ATENCAO
O termo “moderno” foi utilizado pela primeira vez pelo estudioso suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). “A terminologia moderniste (modernista) ocorria antes ainda da Revolução Francesa e da independência americana; porém recebeu maior projeção com as reflexões feitas no campo da psicanálise e da democracia participativa ao longo dos séculos XIX e XX”. (BERMAN, 1986, p. 11).
A modernidade pode ser entendida como o equivalente ao "mundo industrializado" especialmente aos aspectos do uso de máquinas na extração das matérias-primas, nos meios de produção e elaboração da matéria-prima no interior das fábricas e nos processos de controle da natureza (GIDDENS, 2002).
Este processo representou um dos projetos mais impactantes da modernidade. O outro foi representado pela capitalização da economia, ou seja, a implantação do sistema de produção de mercadorias envolvendo tanto mercados competitivos de produtos (a livre concorrência) como a mercantilização da força de trabalho (o trabalho assalariado).
No campo da cultura a concepção de modernidade aparece nas análises do poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867), que é amplamente reconhecido como o profeta e um dos principais testemunhos daquele período. Baudelaire (1996), com sua sensibilidade poética, escreve que a modernidade é a união de duas partes, uma metade que representa o transitório, o efêmero, o contingente, sendo que a outra metade é composta pelo eterno e pelo imutável.
Ou seja, como modernidade pode-se entender a combinação de fatores e circunstâncias diferentes, novas, não duradouras, instantâneas e momentâneas; com as perguntas, expectativas e os sonhos que acompanham o homem desde as épocas mais antigas, que estavam presentes também no imaginário do homem da modernidade, e que por sua vez o provocavam a reagir com os pés no presente.
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
6
Na Figura 1 tem-se uma espécie de combinação da técnica de retrato com fotografia do poeta Charles Baudelaire e, na Figura 2, a capa de uma das edições brasileiras para o livro “Sobre a modernidade”, do qual foi extraída a definição de modernidade mencionada acima:
FIGURA 1 – CHARLES BAUDELAIRE 
FONTE: Disponível em: <http://paulofernandomonteiroferraz. blogspot.com.br/2010/05/embriague-se-charles-baudelaire. html>. Acesso em: 2 jun. 2013. 
FIGURA 2 – CAPA DO LIVRO SOBRE A MODERNIDADE
FONTE: Disponível em: <http://ebooksgratis.com.br/livros-ebooks-gratis/tecnicos-e-cientificos/historia-da-arte-charles-baudelaire-sobre-a-modernidade/>. Acesso em: 2 jun. 2013.
O conceito apresentado por Baudelaire pretende romper com as explicações que eram encontradas na antiguidade clássicas e nos tempos prémodernos (sociedade do antigo regime) que por sua vez dominavam a cultura e a sociedade francesa. 
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
7
“Os modelos pré-modernos se caracterizavam por imitar e reproduzir as construções nas suas formas de edificação e as teorias proferidas pelos antigos pensadores, e que eram responsáveis por esvaziar as potencialidades do presente e o que estas poderiam apresentar como originalidade e inovação”. (BERMAN, 1986, p. 131).
Deduz-se assim que a modernidade pretendia amenizar as obrigações com o passado em termos de moral, valores, cultura e tradições. A nova proposta foi a de perceber os eventos e o momento histórico presente, com novo e o inovador, no intuito de revestir e reconfigurar a cultura e a sociedade europeia da época.
Diante disto ser moderno e existir na modernidade significava que o homem deveria colocar-se diante do novo e do presente por inteiro, e isso exigia ruptura com as estruturas nas quais havia se sustentado até então; a partir disto, projetar-se na dimensão do momento e descobrir as possibilidades do novo, aventurar-se em direção ao desconhecido e do não explorado.
Como um estudante curioso e atento, você deve se perguntar: “mas que novo desconhecido e não explorado seriam estes”? Calma, aos poucos, cada aspecto destes será melhor discutido. Mas, conserve esta indagação, que servirá como âncora ao entendimento dos processos de modernidade que serão apresentados a seguir. 
Outro conceito que é pertinente aos estudos de cultura e sociedade na modernidade é o de belle époque. A belle époque se desenvolve do final do século XIX e no começo do século XX, em especial entre os anos de 1870 e 1914. Neste período, os resultados das políticas de progresso e modernização já eram bastante nítidos e já se encontravam assimilados pela população europeia, e era possível identificar com facilidade mudança nos comportamentos, nas posturas, na moral e nos estilos de vida da população (ROSSI, 2003).
Foi momento da expansão das forças produtivas, do consumo de artigos de luxo e pelo progresso material. Com as conquistas da industrialização, a evolução dos meios de transporte e das comunicações, a expansão dos mercados e o aumento populacional. Instaurou-se um tempo e espírito de euforia, uma espécie de joie de vivre (o entusiasmo de viver), que caracterizaria a vida cotidiana antes da crise que culminou com a Primeira Guerra Mundial. 
É comum também encontrar os conceitos de “modernização” e “modernismo”, porém ambos apresentam aplicações e usos distintos. 
A modernização é relacionada aos fenômenos do liberalismo econômico, que é marcado pelo recuo do poder do estado e do governo tanto na esfera da economia como da política. “Já o modernismo é associado ao movimento e escola que influenciou a produção das artes plásticase da cultura a partir dos anos de 1900 e transcorreu ao longo das primeiras décadas do século XX”. (BERMAN, 1986, p. 86).
UNIDADE 1 | CONCEITOS E CONTEXTOS DA MODERNIDADE
8
Portanto, para localizar a produção cultural e artística que corresponde mais precisamente o momento da modernidade, deve-se levar em conta o movimento do Romantismo. Por Romantismo entende-se o movimento filosófico, literário e artístico que iniciou nos últimos anos do século XVIII e que se fortaleceu ao longo do século XIX. 
Caro(a) acadêmico(a)! Tanto o tema da belle époque como o do Romantismo serão abordados e exemplificados com maior profundidade na Unidade 2 deste Caderno de Estudos. 
Como síntese deste debate teórico pontuam-se como conceito de modernidade os processos, os mecanismos, as instituições, os agentes que pretendiam superar a cultura religiosa católica cristã; a sociedade agrícola e servil; a política estamental e monárquica, e em seu lugar implantar uma cultura e sociedade urbana, democrática, secular, científica e industrial.
3 O QUE É CULTURA? A origem da palavra cultura é colo. Isto é, local do corpo feminino onde o bebê é amamentado. O termo colo, local onde se retira o alimento, se relaciona com a plantação, isto é, com a agricultura, com a terra que permite ao homem se alimentar. Da terra, que se retira o alimento, também é o local onde se enterram os mortos. Por isso, nas sociedades primitivas, se faziam os cultos aos mortos, através de rituais fúnebres que envolviam diversos aspectos das sociedades primitivas. Do culto aos antepassados, também surge o respeito e a utilização da sabedoria que estes deixavam para as comunidades (BOSI, 1992). 
O termo cultura no contexto da modernidade pode ser compreendido em duas dimensões complementares.
 
Uma que indica o aspecto da formação do homem, no que tange a seu refinamento e sofisticação, próximo do que o pensador inglês Francis Bacon (15611626), considerado o pai da ciência moderna, propõe uma concepção de cultura no sentido de representar o cultivo, elevação e o aprimoramento do espírito. 
E outra dimensão, a que trata dos hábitos e modos de viver no cotidiano e em sociedade, “que acaba por receber a terminologia de civilização, pois se refere a formas de viver, pensar, portar e manifestar no interior de um determinado grupo e sociedade”. (ABBAGNANO, 2007, p. 225).
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES CONCEITUAIS: MODERNIDADE, SOCIEDADE E CULTURA
9
4 O QUE É SOCIEDADE?
Sociedade é uma palavra que pode designar a maneira que determinado grupo humano interage com o meio ambiente, com a natureza e com o próximo. Isto é demonstrado através da diversidade dos grupos humanos. Podemos refletir, através da origem etimológica, que a palavra cultura é uma síntese de um longo processo humano. 
A sociedade na qual estamos inseridos resulta de um todo e processo continuum, que por um lado é marcada por permanências, rupturas e descontinuidades, que, muitas vezes, somente, recebe novas combinações roupagens e por outro lado também se apresenta como complexa, plural e híbrida, que pretende abarcar as mais novas expressões e manifestações dos sujeitos, grupos, produtores, atores e públicos no interior de uma dada sociedade.
Grande parte das explicações que se tem para as definições de sociedade converge à ideia de um todo coletivo que congrega as múltiplas ações de indivíduos, que por sua vez são reguladas por leis, regras e valores. Que transcorrem em diversas instâncias e âmbitos, que são legitimadas por instituições, governos, regimes e modelos. Que apresentam mudanças e alterações conforme as épocas, os momentos históricos, os contextos, as culturas, os locais e regiões.
Abaixo se procurou elaborar um quadro-síntese para as principais características que definem e diferenciam a sociedade pré-moderna/feudal da sociedade moderna:
SOCIEDADE PRÉ-MODERNA/FEUDAL 1) Mundo rural/agrícola 2) Sociedade de ordens/estamental 3) Trocas naturais, ausência de comércio e da moeda 4) Explicações religiosas para os fenômenos da natureza 5) Elaboração de produtos de forma artesanal 6) Descentralização do poder político dos senhores feudais 7) Centralização do poder religioso na figura do papa 8) Relações de trabalho não assalariado/servil.
SOCIEDADE MODERNA 1) Mundo urbano/cidades 2) Sociedade de classes 3) Trocas monetárias 4) Explicações científicas para os fenômenos da natureza 5) Elaboração de produtos de modo industrial 6) Centralização do poder político 7) Descentralização do poder religioso com a Reforma Protestante 8) O indivíduo é o centro do poder político (cidadão) 9) Relações de trabalho assalariadas – ideia de liberdade de escolha e iniciativa.
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4.1 SOCIEDADE PRÉ-MODERNA OU FEUDAL A sociedade europeia dos séculos XI-XIII era composta por uma população extremamente ligada às atividades rurais. Nestes séculos, que alguns historiadores denominam como Idade Média Central, tivemos o auge do feudalismo. O feudalismo é um sistema social baseado na unidade produtiva do feudo. Por feudo se compreende uma unidade de produção rural autossustentada (JÚNIOR, 1986). 
Nas unidades de produção rural, a elaboração de produtos e objetos era constituída no interior do próprio feudo. Roupas e utensílios para o trabalho ou lazer eram fabricados de modo rudimentar pelos próprios trabalhadores rurais. Ocorria uma pequena especialização do trabalho. Não havia a necessidade ou mesmo um incentivo para a produção do excedente, isto é, de se produzir e estocar mais alimentos de que se precisava. 
Tratava-se de uma sociedade composta por três ordens sociais. Oratores, Belattores e Laboratores, isto é, sacerdotes, guerreiros e servos. Tal composição social é classificada por historiadores e sociólogos de sociedade estamental. Isto porque as camadas sociais não eram classificadas pelo dinheiro que possuíam, mas, sim, pelos status que determinado indivíduo possuía na sociedade. Isto é, status, neste contexto específico, deve ser compreendido como a condição que o indivíduo possuía na sociedade. Estamento pode ser compreendido como um “grupo social, garantido por convenções e leis, mantido através da honra e de um estilo de vida específico” (WEBER, 1982). 
Neste sentido, as trocas comerciais não eram mediadas pelo dinheiro, mas pelas trocas naturais. Isto é, as trocas econômicas não eram mediadas por moedas, mas sim como troca de produto por produto: por exemplo, uma vaca por um cavalo. Assim, as relações de trabalho não eram assalariadas, mas vinculadas a um ideal de fidelidade. Isto é, a economia era funcional.
Cada ente social possuía uma função específica em relação ao corpo social. Os guerreiros protegiam a sociedade dos invasores, como os muçulmanos e os vikings. Os servos permitiam que a sociedade tivesse alimentos para a manutenção da vida. Os sacerdotes (os religiosos) rogavam a Deus que abençoasse aos demais membros do corpo social. 
Os sacerdotes tinham uma função importante para a sociedade, pois a igreja era a principal instituição política do mundo medieval. Os padres e monges eram considerados pontes que ligavam o ser humano até Deus. O papado possuiu no interior desta sociedade grande prestígio, ao ser considerado o Sumo Pontífice. Isto é, a principal ponte do homem e Deus. 
Muitas das guerras medievais tinham como mediadores os religiosos, a ponto do papado instituir a Trégua de Deus e a Paz de Deus, visando diminuir os conflitos na Europa Ocidental. Portanto, o poder que a Igreja possuía na 
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Idade Média não era apenas religioso, como também econômico, sendo a mesma detentora de uma grande quantidade de terras. Costuma-se afirmar que o papa possuía tanto o poder temporal quanto o poder espiritual. Era a denominada tese dos dois gládios, isto é, o papa era considerado Sacerdote e Rei concomitantemente. 
O poder político do papa demonstrava um grande processo de descentralização política na Europa. O Sacro Império Romano Germânico era um grupo formado por vários senhores feudais,porém, sem poder em uma grande extensão territorial. Tratava-se de uma sociedade onde o analfabetismo era constante, inclusive entre os nobres. Por isso, eram ausentes no cotidiano social os contratos escritos. 
Por isso, temos uma grande presença na mentalidade medieval da noção de fidelidade aos compromissos. Todos os indivíduos eram perpassados em uma série de deveres para com superiores na hierarquia social. Os servos deviam obrigações aos senhores, assim como os vassalos deveriam obedecer aos suseranos, os padres aos bispos. A hierarquia e as obrigações eram uma das características desta sociedade. 
A noção de hierarquia e fé também perpassava as explicações que os medievos ofertavam aos fenômenos da natureza. A magia fazia parte do cotidiano, assim como os temores pela presença do diabo. Assim, muitas das pessoas que possuam algumas formas de compreender a natureza de forma empírica, experimental, ou mesmo que conseguiam manipular plantas para a cura de doenças, eram acusadas do crime de bruxaria.
 
A natureza era explicada através da filosofia escolástica, que tinha como pressuposto um mundo plano, no qual o homem era o centro da criação e a terra era o centro do universo. O Universo, por sua vez, era compreendido de modo hierarquizado, assim como hierarquizada era a sociedade na qual os principais filósofos escolásticos, como São Tomás de Aquino, vivera.
Por explicação religiosa/mágica podemos compreender que Deus era considerado como a primeira causa dos fenômenos. Os santos também eram invocados. Assim, podemos entender que uma boa pesca, nos períodos prémodernos, era considerada como dádiva de Nossa Senhora dos Navegantes, de Iemanjá ou Janaína. 
Toda a natureza é encarada de modo encantado, mítico. Porém, como iremos observar a lenta desagregação do mundo feudal também acarretou uma alteração na mentalidade. Em grande parte, a técnica passa a ser o ponto central para explicar a natureza, algo que a ciência fez a partir da segunda metade do século XIX. 
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4.2 A LENTA DESAGREGAÇÃO DO MUNDO FEUDAL O mundo feudal entra em desagregação em um processo lento, que demorou séculos. Um dos principais motivos que possibilitou a desagregação do feudalismo foram As Cruzadas. O papa Urbano II, no Concílio de Clemont, conclamou a cristandade para as cruzadas. O preparo para As Cruzadas mobilizou grande parte da população europeia. Foram criadas ordens militares-religiosas. Entre estas, algumas se destacaram, como os Cavaleiros Teutônicos e a Ordem dos Templários. 
Neste período, a cristandade entra em contato com a cultura muçulmana, e por ela é extremamente influenciada. Assim, surge o gosto e o interesse pelas especiarias, isto é, pelos temperos que possibilitam melhorar o gosto das comidas, além da tapeçaria persa e de outros produtos que encantaram o mercado consumidor europeu, que ficava maravilhado com a presença de produtos com um grau tecnológico muito maior que a tecnologia desenvolvida na Europa feudal. Além disto, o Oriente vivia em uma economia organizada monetariamente. Isto é, ao invés de termos a presença de uma economia marcada por trocas naturais, temos a presença da moeda mediando às trocas de produtos e objetos. 
O interesse por estes produtos possibilitou o surgimento de feiras livres em algumas cidades europeias, que ficavam nos caminhos de peregrinação. Assim, algumas regiões, como é o caso de Champanhe, na França, foram beneficiadas como pontos específicos de intercâmbio de mercadorias. Além deste intercâmbio, podemos notar a presença de uma nova figura social: o burguês (PIRRENE, 1969). 
A burguesia era um grupo social cujo nome deriva de burgo. Os burgos eram castelos fortificados que ficavam nas fronteiras da cristandade latina e que serviam de postos militares para a defesa contra os inimigos. Por ser uma região com forte presença de soldados, esta proteção ofertava segurança para o comércio. Assim, podemos compreender que os burgueses se comportaram como uma classe de comerciantes. Porém, o mundo medieval a partir do século XIV acompanhou algumas novidades na civilização europeia. Uma das primeiras fora o chamado renascimento comercial e urbano. Por renascimento comercial e urbano, podemos relacionar um ressurgimento das cidades nos anos finais da Idade Média.
Uma das principais instituições criadas nas cidades do final da Idade Média foram as Corporações de Ofício. Tratava-se de instituições que de forma artesanal produziam objetos, como roupas e sapatos. Uma máxima medieval afirmava que o Ar da Cidade era o Ar da Liberdade. Isto porque nas cidades os indivíduos poderiam viver sem ter a presença opressora de um senhor feudal. 
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Com a presença das corporações e de um mundo urbano, em que as trocas eram monetárias, uma verdadeira revolução social ocorreu com a aplicação do assalariamento nas relações de trabalho. Com isso, temos uma nova disposição das formas das relações trabalhistas, pois não eram apenas mediadas por uma relação de fidelidade ou tradição, mas sim mediadas através de uma remuneração sistemática. 
Com a urbanização e o comércio em rotas de alcance intercontinental estiveram presentes na Europa, nos séculos finais da Idade Média, alguns problemas sociopolíticos, em especial, o problema da insegurança das rotas e caravanas ao longo da Europa, da África e da Ásia. 
Podemos lembrar Marco Polo, um aventureiro italiano que nos deixou os relatos de suas viagens para a Ásia. Era da antiga China que os europeus buscavam matérias-primas para algumas vestimentas, mais notadamente a seda. A famosa Rota da Seda, ao lado das rotas de especiarias, foi presença marcante na história das relações macroeconômicas da Europa, África e Ásia. 
Assim, podemos considerar que a diversidade de Estados na Europa feudal era um enorme entrave ao comércio. Isto porque os comerciantes não possuíam uma instituição que garantisse o monopólio da violência, fundamental para evitar ações de contrabando e o ataque de piratas ao longo do Mar Mediterrâneo, além de a cada aduana, os preços das mercadorias aumentarem devido à soma de diferentes impostos. 
Neste contexto de expansão comercial, o poderio do papado começa e ser relativizado. Em grande parte, pelo surgimento de uma nova entidade política na Europa feudal: o Estado. A insegurança das caravanas e a necessidade da unificação das moedas e dos impostos foi uma das principais motivações para o surgimento dos Estados, uma instituição que detém o monopólio do uso da violência em um território determinado por suas fronteiras (GUENEE, 1981). 
A necessidade de novas rotas para o comércio motivou que os então recentes países Espanha e Portugal se lançassem ao mar em busca de um caminho marítimo para as Índias, que não necessitasse passar pelas caravanas muçulmanas do norte da África. Uma necessidade que ficou maior após 1453, ano em que os turcos otomanos conquistaram a cidade de Constantinopla, a antiga capital do Império Bizantino. 
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Assim, ao se lançarem ao mar, em meados do século XV, se descobriram duas rotas navais que possibilitaram uma ampliação sem precedentes do comércio mundial, possibilitando uma melhor compreensão dos homens sobre a forma do globo, e sobre a extensão real do planeta terra. Do ponto de vista econômico, se formou um sistema mundial de trocas comerciais, porém, quando pensamos em um sistema de trocas, devemos ter claro que as trocas não se restringem às questões comerciais. Os conhecimentos de diversos povos, como os asiáticos, os africanos e as populações nativas da América, formaram a sociedade e a cultura da modernidade, a cultura em diálogo com a miscigenação. Em alguns lugares foi vista como positiva e em outros, negativa. E por fim, o colonialismo foi o ponto culminante da dominação europeia ao redor do mundo. 
O sistema de colonização durou muitos séculos. Iniciou-se em 1415, quando os portugueses tomaram Ceuta, uma cidade do norteda África. Esta cidade ainda hoje se mantém apesar do forte surto de descolonização que ocorreu na África e na Ásia após a Segunda Guerra Mundial. Uma das principais características dos colonialismos foi a transposição da cultura europeia para os demais povos do mundo. Processo que pode ser compreendido através do termo “ocidentalização”. Isto é, os demais povos do mundo se sujeitaram aos ditames europeus. 
A expansão europeia pelo mundo passou por dois momentos distintos. O primeiro foi o colonialismo, com uma primeira expansão, que durou dos séculos XV a XVIII. Nos séculos XVIII e XIX, as colônias europeias na América se tornaram independentes. O Neocolonialismo, ou Imperialismo, se pautou em uma nova corrida por territórios. Porém, o imperialismo dos séculos XIX e XX apresentou como novidade a presença de dois países não europeus: os Estados Unidos da América e o Japão. 
O colonialismo teve como principal motivação o lucro de produtos no comércio mundial. Teve como ideologia o cristianismo, e foi a América o principal continente alvo das investidas coloniais. No Neocolonialismo, a principal ideologia foi o nacionalismo. As principais áreas de ação foram a África e a Ásia. A economia foi movida por busca de matérias-primas e expansão do mercado consumidor dos produtos industrializados. 
Assim, aos poucos, os laços feudais existentes na Europa foram rompidos. Um dos principais símbolos do fim das relações estamentais na Europa foi a Revolução Francesa. Pois, a partir do Código Civil Napoleônico, todos os cidadãos passaram a ser considerados iguais perante a lei. Algo distinto do ideário legal do chamado Antigo Regime, no qual os seres humanos eram considerados naturalmente desiguais. 
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5 DEBATE HISTORIOGRÁFICO SOBRE A CRONOLOGIA DA MODERNIDADE Quando inicia ou termina a modernidade? Eis uma das perguntas difíceis de responder. Isto porque na maioria das vezes, as periodizações são impostas por diversos historiadores e visões de mundo distintas. Apresentamos alguns eventos que mostram o tipo ideal da sociedade pré-moderna e da sociedade moderna. Porém, não temos como precisar datas de quando um processo histórico inicia ou finda. Na história política, isto é, nas histórias dos países, as datações podem ser mais precisas.
Os Estados Unidos da América se transformaram em nação independente no dia 4 de julho de 1776. O Brasil se tornou independente do ponto de vista político em 7 de setembro de 1822. Porém, quando analisamos processos culturais, como fora a modernidade, não se tem a precisão de uma data, mas um debate aberto entre distintas escolas historiográficas. 
No rol da periodização oficial e tradicional da História ocidental, em especial na historiografia francesa, tem-se que a Idade Moderna se iniciou em 29 de maio de 1453, quando ocorreu a tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos otomanos; e o término a data de 14 de julho de 1798, quando a Bastilha foi tomada, que era constituída de uma fortaleza medieval utilizada como prisão, fato que passou a ser identificado como símbolo/marco da Revolução Francesa.
 
Durante o século XVIII, na Inglaterra, tivemos uma nova forma de produção fabril: a Revolução Industrial. Com ela, as relações sociais foram alteradas, pois, apesar do ideal de isonomia, isto é, todos devem ser regidos pelas mesmas leis. Assim temos uma profunda desigualdade no mundo moderno. Isto porque a concentração da renda na mão de poucos é uma constante nos países do sistema capitalista de produção. De um lado, temos os burgueses, donos do capital e dos meios de produção. De outro, o proletariado, isto é, a classe trabalhadora, que depende do salário pago pelos burgueses para a sua sobrevivência (HOBSBAWN, 2009). 
Esta sociedade, disciplinada pelos apitos das fábricas, composta de burgueses e proletários, em que a tecnologia tem uma importância vital para o desenvolvimento social, é o tipo ideal da sociedade moderna. 
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Entretanto, outras vertentes historiográficas mencionam o caso da Conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415, ou a viagem de Cristóvão Colombo ao continente americano em 1492, ou a viagem à Índia de Vasco da Gama em 1498, como marcos iniciais da época moderna.
De acordo com Gandillac (1995) foi em torno do início do século V ao início do século XVII quando progressivamente se construiu uma civilização “moderna”, ou seja, uma periodização de longa duração. Transcorreu na Europa Ocidental, nas margens do Mar Mediterrâneo e gradualmente se estendeu em direção às águas do Oceano Atlântico, em especial às novas terras.
Para Gumbrecht (1998) o início da Idade Moderna está relacionado aos acontecimentos da “descoberta do Novo Mundo, mas aponta que a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, por volta de 1450, foi outro grande marco”. 
No processo de constituição da modernidade, ocorreram duas fases: uma, situada no início do século XVI, na qual ocorre a experimentação e ambientação da vida moderna; e uma segunda, a partir de segunda metade do século XVIII, quando a sociedade é surpreendida com ondas revolucionárias e convulsivas de modernidade (representadas pela Revolução Francesa, Revolução Industrial e pela urbanização) (BERMAN, 1986).
O autor enfatiza também que ao longo do processo de modernização ocorreram percalços, sobressaltos e descaminhos, ao ponto que em pleno correr do século XIX, era possível encontrar grupos e regiões parcialmente caracterizados pelas formas de vida e tradições conforme ocorria na Idade Média. 
Através das referências encontradas percebe-se que existem desacordos entre os estudiosos e as abordagens que são os marcos que delimitam o início e o término da modernidade. Mesmo procurando levar em conta os diferentes momentos em que foram encontrados, tanto para o início como do término da modernidade, não conseguem atender às preocupações de uma periodização rígida e estanque.
Diante deste impasse, a título de organização dos estudos, estipula-se aproximadamente o tempo transcorrido entre os anos de 1820 e 1930; ou seja, os primórdios do século XIX como período aproximado do auge da modernidade; e as primeiras décadas do século XX como declínio/término.
Em vista desta grande gama de informações a respeito, definimos a modernidade como um período em que temos uma desagregação das relações feudais. Este processo de desagregação possuiu uma primeira fase, durante o período do Renascimento, e tem como auge o período que inicia no século XIX e vai até meados do século XX. 
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Neste período da história temos a construção de uma sociedade urbana, ligada às atividades industriais na produção de artefatos, e que tem nas trocas monetárias o padrão da economia, racionalização do pensamento e das mentalidades, e afastamento da Igreja das decisões políticas e dos cargos de

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