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Aula 10

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Aula 10 – A Independência da América Ibérica e Construção dos Estados Nacionais na América
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Depois de alcançada a independência, os novos Estados Latino-Americanos passavam por uma nova luta: obter o reconhecimento internacional, conseguir ajuda econômica para sua reconstrução, restabelecer os sistemas produtivos e comerciais e estabelecer internamente as novas fronteiras. Este foi um período problemático para todos os novos estados: caracterizado por lutas civis que, somado a outros fatores, levaram à instabilidade política.
Projeto Bolivariano
1821 ( Bolívar convoca todos os estados latino-americanos a criarem uma aliança contra a invasão ou ataque de qualquer outra potência em solo americano.
1823 ( A Grande Colômbia afirma a necessidade de se criar uma confederação com tal objetivo.
1824 ( Bolívar convoca todas as nações do continente a participar de um congresso no Panamá. O convite foi extensivo à Grã-Bretanha – que iria garantir a sobrevivência econômica e política dos novos países. Pensamento bolivariano: garantir as soberanias nacionais e a segurança do continente, obter reconhecimento internacional e alcançar igualdade entre seus integrantes. 
Congresso do Panamá em 1826 ( Com a participação da Grande Colômbia, Peru México e América Central. Ainda participaram observadores holandeses, americanos e britânicos.
Argentina, Chile, Paraguai, Bolívia, Brasil e Uruguai não participaram. Resultado do congresso do Panamá: Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua, pelo qual os países signatários se confederavam para a ajuda e proteção mútua em tempos de guerra ou paz. Apesar de todas as promessas de ajuda, de fato, era quase impossível efetivar o projeto de defesa conjunta, já que os novos estados mal conseguiam manter a unidade interna em seus solos. Entretanto, estes ideais ainda existem, e o Congresso do Panamá continua a ser referência para alguns líderes, que por alguma razão se apropriam da figura simbólica de Bolívar. Consequência imediata do Congresso do Panamá: reconhecimento dos novos países latino-americanos. Divisões regionais antes e depois das independências da América espanhola:
	Divisão Administrativa
	Ano de Criação
	Regiões Atuais
	Capitania da Guatemala
	1527
	Guatemala, Belize, El Salvador, Honduras Nicarágua e Costa Rica.
	Vice Reino da Nova Espanha
	1535
	Arizona, Califórnia, Colorado, Nevada, Nova México, Utah, México.
	Vice Reino do Peru
	1543
	Peru, parte da Bolívia e parte do Equador.
	Vice Reino de Nova Granada
	1717
	Colômbia, Panamá e parte do Equador.
	Capitania da Venezuela
	1773
	Venezuela
	Vice Reino do Rio da Prata
	1776
	Argentina, Uruguai, Paraguai e parte da Bolívia.
	Capitania de Cuba
	1777
	Caribe e Flórida.
	Capitania do Chile
	1778
	Chile
A Bacia do Rio da Prata
Os primeiros países a alcançarem a independência foram o Rio da Prata e o Paraguai. Eram regiões com boas comunicações e propícias ao comércio exterior, o que era garantido pelos rios navegáveis da região. O Paraguai tinha conexão direta com o mundo exterior através do Rio Paraguai, que se une ao Rio Paraná e atravessa a Argentina - o que se tornou, muitas vezes, motivo de conflitos. As regiões do Leste rio-pratense, banhadas pelos rios Paraná e Uruguai também tinham comunicação com o Atlântico, entretanto, estes rios desembocavam no Prata, exatamente onde se encontra a Cidade de Buenos Aires que, desta forma, controlava a entrada e saída de navios e, consequentemente, o comércio das demais províncias rio-pratenses e do Paraguai. E esse controle foi um dos principais motivos de conflitos na região.
O Paraguai
Com a chegada ao poder de José Gaspar Rodrigues da Francia, em 1814, o Paraguai optou por um isolamento do mundo, e essa escolha levou a economia do país a se tornar basicamente de subsistência, ficando sua política exterior basicamente reduzida ao controle de entrada e saída de estrangeiros. Francia, apesar de se considerar liberal, adaptou um modelo de Catecismo Pátrio ao novo estado Paraguaio: o seu poder absoluto se fazia necessário, já que o povo do seu país ainda não estava pronto para um governo participativo. Assim, a economia era controlada pelo estado e o comércio exterior se reduziu à comercialização regional da erva mate. E ainda, os investimentos em educação foram quase a zero, enquanto o de defesa era superior de 80%. Essa posição de isolamento do Paraguai assumida por Francia evitou um enfretamento maior com Buenos Aires. Ele não chegou a proclamar formalmente a independência do Paraguai, o que ocorreria apenas em 1842.
A Argentina
Já as províncias rio-pratenses que se encontravam próximas dos rios paraná e Uruguai, que eram chamadas de províncias litorâneas, requeriam uma situação diferente: que o comércio exterior fosse aberto, mas com políticas protecionistas. O interior argentino, que não tinha a presença de rios navegáveis, tinha as situações econômica e política agravadas com essas políticas dependentes do humor dos governantes de Buenos Aires. Muitos acordos interprovinciais foram assinados na tentativa de organizar o país: o pacto federal, de 1831, assinado entre Buenos Aires e as províncias litorâneas, foi o de maior relevância. Em oposição, as províncias do interior argentino formaram a Liga do Interior, que foi vencida e paulatinamente incorporada à hegemonia de Buenos Aires. Apenas em 1853, com a derrota de Rosas (Juan Manuel José Domingo Ortiz de Rozas y López de Osornio - Militar e político argentino que governou a província de Buenos Aires, com status de um presidente da república), responsável pela assinatura do pacto federal e da incorporação das províncias interioranas foi que finalmente tais províncias puderam se impor a Buenos Aires: convocaram um Congresso Constituinte, que teve como resultado a atual constituição Argentina. Entretanto, Buenos Aires não aceitou as novas condições e por quase dez anos existiram dois estados: a Confederação Argentina e Buenos Aires. Esses Estados só se uniram após a batalha de Pavón (1861).
O Uruguai
Em 1828, o Uruguai foi reconhecido independente pelo Brasil e pela Argentina, através de uma mediação da Inglaterra. O novo estado uruguaio freou as pretensões hegemônicas do estado Argentino e do Rio de Janeiro. Já em 1830, o Uruguai criou sua constituição, tendo como primeiros presidentes Frutuoso Riviera e Manuel Oribe. E foi em torno desses presidentes que se formou os dois grupos políticos influentes na história uruguaia: os colorados e os brancos, que tinham maior ou menor aproximação com as potências vizinhas. Apesar de já terem reconhecido a independência uruguaia, no decorrer de muitas décadas, Brasil e Argentina continuaram influenciando as decisões políticas de tal país.
Durante os anos de 1835-1836, quando o branco Oribe governava o Uruguai, o colorado Riviera, com o apoio dos vizinhos argentinos e estrangeiros do Rio Grande do Sul, levantaram as armas ao governo. Mas no final, Riviera foi derrotado. Com a queda de Oribe, em 1839, a Guerra Grande começou (1839-1852). Esta estava ligada diretamente com acontecimentos no território argentino. Logo após a independência, os países latino-americanos buscavam aprimorar sua economia na produção de matérias-primas, que eram vendidas para a Europa, principalmente a Inglaterra, e que depois voltavam ao continente americano manufaturadas. Por esta razão, os conflitos na região não eram benquistos pelos europeus, principalmente ingleses e franceses, que tinham interesses comerciais na região.
Vale destacar que o papel da Inglaterra na América hispânica não era somente comercial: o império britânico foi importante para o reconhecimento dos novos países, pois outorgou empréstimos que foram imprescindíveis para a reconstrução dessas nações e suas reorganizações políticas. Em troca, a Inglaterra tinha livre navegação nos rios argentinos e uruguaios. Os acontecimentos dentro do Uruguai durante a Grande Guerra tiveram influência direta dosrio-grandenses e dos argentinos, bem como dos ingleses e franceses. Na guerra, os colorados, liderados por Riviera, contavam com o apoio dos antirrositas argentinos, dos rio-grandenses, e da armada inglesa e francesa. Enquanto os braços de Oribe só contavam com o apoio da confederação rosita: a Argentina.
Por estar apoiando os novos estados, a Inglaterra teve um tratamento de nação favorecida, o que incomodou a França. Entre 1838 e 1840, como resultado da negação de Rosas à um tratamento igualitário entre a França e a Inglaterra, o porto de Buenos Aires foi fechado pela armada francesa, que só retirou o bloqueio após um tratado pelo qual seria considerada nação favorecida nas relações comerciais e a garantia de que a independência do Uruguai seria respeitada pela Argentina. As oposições entre Riviera/Oribe continuaram na década de 1840 com conflitos e pressões internacionais para que a independência uruguaia fosse reconhecida pelos rositas. E tal pressão foi tanta que, em meados de 1845, Buenos Aires sofreu um bloqueio anglo-francês.
Riviera percebeu que se não tivesse apoio internacional não conseguiria sobreviver politicamente, então encontrou outros aliados: o Brasil e o governador de Entre Rios, o caudilho Urquiza. Com o fortalecimento da ascendência brasileira, Rosas rompeu relações diplomáticas com o Império e em 1851 declarou guerra à aliança Brasil/Uruguai/Urquiza, sendo derrotado na batalha de Caseros e exilado na Inglaterra. A queda de Rosas, em 1852, significou o reconhecimento da independência uruguaia, o restabelecimento das relações diplomáticas entre Argentina e Brasil e, finalmente, a unificação da Argentina sob um governo constitucional.
A Região Andina
O Peru, que se tornou independente em 1824, assim como as novas nações da bacia do rio Prata, também passou por momentos de instabilidade política e econômica. O primeiro dirigente do novo país, escolhido pelo congresso, foi Bolívar, que por mantê-lo em constante recesso conquistou a inimizade de muitos grupos políticos, o que mais tarde o fez renunciar a presidência. Andrés de Souza Cruz, que sucedeu Bolívar, alimentava o sonho de ver o Peru e a Bolívia formar uma única nação. Mas, após conseguir sua independência, em 1825, a Bolívia se declarou autônoma do Peru e do Rio da Prata. Em 1826, foi aprovada a constituição boliviana, que deu ao estado a forma de república. Em 1829, após a renúncia do então presidente, Sucre, Andrés de Santa Cruz, ex-presidente do Peru, assumiu a presidência boliviana, e conferiu ao país dez anos de relativa estabilidade.
No governo da Bolívia, Santa Cruz retomou sua vontade de um estado peruano-boliviano, que entre 1836-1839 concretizou a unidade política dos atuais estados do Peru, Bolívia e Norte do Chile. A formação desse “estado andino” foi favorecida, em parte, pelas constantes disputas internas que aconteciam no Peru. Porém, esta nova formação não agradou muito aos vizinhos Chile e Argentina. E assim, junto com os conflitos internos e a desconfiança internacional, esse estado não teve uma “vida longa”. Diferente dos demais, o Chile, após superar as lutas iniciais de independência, teve um desenvolvimento estável politicamente, com governos centralizadores e domínio da capital sobre o interior. Isso fez deste país, junto com sua capacidade militar, o estado mais forte da região andina. A grande Colômbia – que era formada pela Venezuela, Equador e Nova Granada - se desintegrou, de vez, em 1830.
Este ambicioso projeto de agrupar nações andinas fracassou devido à imensa desigualdade econômica e social entre seus membros. E, mesmo dentro de cada um, as diferenças entre a capital e o interior, dificultavam a união e a convivência pacífica entre os membros. Já em 1829, o Peru e a Grande Colômbia tinham acertados suas fronteiras, com o Tratado de Guayaquil, mas, com a separação dos Estados que compunham Grande Colômbia, as fronteiras peruanas voltaram a ser motivos de conflitos, desta vez com o novo vizinho Equador. Durante o governo do General Flores, o Equador teve momentos de estabilidade política, que só foi abalada com as tentativas espanholas de retomar suas áreas de influência nas antigas colônias.
Esta iniciativa espanhola teve como consequência o Congresso Americano, sediado em Lima, com o propósito de formar uma liga defensivo-ofensiva dos países do pacífico, que não saiu do papel, já que manter a comunicação era uma tarefa complicada. Assim, com a dissolução da confederação peruano-boliviana e da Grande Colômbia, configuram-se as nações atuais da América do Sul.
A Confederação Centro-Americana    
Inicialmente, mesmo após a independência da Espanha, em 1821, os países da América central tentaram se manter unidos: para isso, uniram-se ao império do México em 1822, para em seguida se separarem e criarem a República Federal das províncias Unidas da América Central, sob a liderança da Guatemala. Entretanto, com o eminente domínio guatemalteco, as demais províncias iniciaram uma disputa política regional, que foi associada a partidos políticos e que levou à dissolução da confederação em 1839. Com a América Central dividida, a Inglaterra que já tinha interesse na região, tendo até um “país-colônia” por assim dizer, no território da atual Belize, começou a planejar um canal que ligasse os dois oceanos através do estado da Nicarágua. Insatisfeito com a influência inglesa, os Estados Unidos começaram a fortalecer sua influência na América Central, e logo após a iniciativa inglesa de construção do canal nicaraguense, os EUA propuseram ao Governo Colombiano a construção de um canal com o mesmo intuito na região do Panamá. Apesar de interesses conflitantes, os EUA e a Inglaterra acordaram uma convivência com equilíbrio de poder na região.
Caribe
Geograficamente, o domínio da região do Caribe era importante para a comunicação interoceânica. Cuba, a última joia do império espanhol na América, foi a mais cobiçada: além de politicamente estratégica, a ilha era a maior produtora de açúcar da região, o que potencializou sua cobiça. Por se assemelhar com as sociedades sulistas americanas, os Estados Unidos estudaram a possibilidade de anexar a ilha ao seu território, ainda mais depois da anexação do território mexicano. Entretanto, os tratados de amizade com a Espanha não permitiram a intromissão direta americana. Por outro lado, mais de uma vez, os EUA ofereceram boas quantias à Espanha pela ilha, e todas foram recusadas. A Espanha por sua vez, conseguiu resistir a todas as tentativas de independência da ilha, influenciada pelos revolucionários haitianos, e manteve a ilha sobre seu domínio por mais de meio século.
Texas, México e Estados Unidos
O México se tornou independente em 1821, e os Estados Unidos, pautados por interesses hegemônicos, reconheceu a independência mexicana, ratificando os limites entre ambos os estados, fixado em um tratado anteriormente estabelecido. Concomitantemente ao reconhecimento da independência mexicana, cidadãos americanos começaram a migrar para o novo território mexicano, e eram aceitos com a condição de respeitar as leis nacionais, entre elas a impossibilidade de se estabelecer o regime escravocrata. Entretanto, o novo estado ainda tinha inúmeros problemas para a fiscalização das normas, de maneira que os colonos americanos começaram a estabelecer as próprias normas e costumes entre eles.
A república mexicana, dividida em duas legislaturas – Coahuila e Texas - via necessidade de “mexicanizar” os colonos americanos, que mais se identificavam com os sulistas americanos do que com o resto do país. Diante disso, o governo norte-americano foi aconselhado a comprar o território texano do México. Em 1825, 1827 e 1829 propostas foram feitas, mas em todas elas o governo mexicano se recusou a vender. A colonização americana não cessava e a tentativa de mexicanização dos territórios texanos fracassou. Assim, em 1830, o então presidente mexicano Anastácio Bustamante limitou a migração americana e decretou a união da legislatura do Texas à de Coahuila.Os colonos texanos não aceitaram, e em 1831 começaram a surgir movimentos separatistas.
O Texas tornou-se independente do México e pediu para ser anexado aos EUA, que adiaram a decisão por cerca de dez anos. Enquanto isso, os líderes texanos se associaram à Europa, em particular à Inglaterra, e essa associação não foi bem-vista pelos EUA, que finalmente anexaram-no ao seu território. O vizinho México só tinha aceitado a independência texana livre de uma anexação americana, e quando isso aconteceu, o México reagiu. Os EUA ainda tentaram negociar a compra do território do Texas e mais alguns outros, mas o governo mexicano recusou. Assim em 1847, tropas norte-americanas dominaram a cidade do México e, em 1848, o México “aceitou” a venda dos territórios requeridos pelos EUA.
Este período de intensas lutas civis foi uma etapa extensa e marcada pela instabilidade política na região hispano-americana. As indefinições territoriais e o precário estabelecimento das relações comerciais com o resto do mundo foram modificados a partir do século XIX, quando os países latino-americanos começaram, finalmente, a se reconstruírem.
O Brasil
O evento da emancipação do Brasil merece algumas ressalvas por assumir certos traços específicos e peculiares em seu percurso histórico, o principal é a continuidade do processo de transição da colônia para o império. Ressalta-se, em seguida, o fato de a “independência”, isto é, o processo de separação política da metrópole (1822), não ter coincidido com o da consolidação da unidade nacional (1840-1850) nem ter sido marcada por um movimento propriamente nacionalista ou revolucionário e nos confrontamos com a conveniência de desvincular o estudo do processo de formação da nacionalidade brasileira no correr das primeiras décadas do século XIX da imagem tradicional da colônia em luta contra a metrópole.
Caio Prado Júnior, na obra Formação do Brasil Contemporâneo (1944), estuda a finalidade mercantil da colonização portuguesa, a sua organização meramente produtora e fiscal, os fatores geográficos de fragmentação do poder e a consequente falta de nexo moral que caracteriza o tipo de sociedade existente no final do século XVIII e XIX; contradições e conflitos sociais internos sem condições de gerar forças autônomas capazes de criar uma consciência nacional e um desenvolvimento revolucionário apto a reorganizar a sociedade e constituí-la em nação. O mesmo autor, num pequeno ensaio, Tamoio e a política dos Andradas, analisa as graves e profundas tensões sociais que vieram à tona quando a revolução liberal do Porto fez difundir na colônia as aspirações de liberalismo constitucional, suscitando desordem e um sentimento generalizado de insegurança social e acarretando de imediato a reação conservadora, característica principal dos acontecimentos que então se desenrolaram no Brasil.
Para os homens de ideais constitucionalistas, parecia imprescindível continuar unidos a Portugal, pois viam na monarquia dual os laços que os integravam à civilização europeia, fonte de seus valores cosmopolitas de renovação e progresso. Emília Viotti da Costa, em seu trabalho “Introdução ao estudo da emancipação política”, também analisa as contradições da política liberal de D. João e a pressão dos comerciantes portugueses prejudicados com a abertura dos portos e a concorrência inglesa forçando o monarca a adotar medidas protecionistas e mercantilistas destinadas a proteger seus interesses. Atribuem-se os motivos da separação ao conflito de interesses entre as classes agrárias, nativistas de tendência liberal e os comerciantes portugueses apegados à política protecionista e aos privilégios de monopólio.
O problema inerente ao amadurecimento do capitalismo industrial na Inglaterra é de âmbito amplo e define o quadro geral das transformações do mundo ocidental nesse período. A luta entre os interesses mercantilistas e o liberalismo econômico se processaria de forma intensiva na Inglaterra de 1815 a 1846, afetando drasticamente a política de todos os países coloniais diretamente relacionados com a expansão do Império britânico e do livre comércio. Ao perder o papel de intermediários do comércio do Brasil, restava aos comerciantes portugueses unirem-se às grandes famílias rurais e aos interesses da produção. Estes nem sempre estavam separados das atividades de comércio e transporte, como se constata no caso do Barão de Iguapé em São Paulo. A pressão do tráfico tenderia, por sua vez, a levantar a hostilidade dos interesses agrários contra o poder central.
Sérgio Buarque de Holanda refere-se mais objetivamente às lutas de independência como uma guerra civil entre portugueses desencadeada aqui pela Revolução do Porto e não por um processo autônomo de arregimentação dos nativos visando a reivindicações comuns contra a metrópole. O fato da separação do reino em 1822 não teria tanta importância na evolução da Colônia para Império. Já era fato consumado desde 1808, com a vinda da Corte e a abertura dos portos e por motivos alheios à vontade da colônia ou da metrópole. Por fim, efetivamente, a consumação formal da separação política foi provocada pelas dissidências internas de Portugal, expressa no programa dos revolucionários liberais do Porto e não afetaria o processo brasileiro já desencadeado com a vinda da Corte em 1808.
Consumada a separação política, que foi aceita, mas que de início não a quiseram, não pareciam brilhantes para os homens da geração da independência as perspectivas da colônia para transformar-se em nação moderna com base no princípio liberal do regime constitucionalista. Os políticos da época eram bem conscientes da insegurança das tensões internas, sociais, raciais, da fragmentação, dos regionalismos, da falta de unidade que não deram margem ao aparecimento de uma consciência nacional capaz de dar força a um movimento revolucionário disposto a reconstruir a sociedade. No entanto, a consciência propriamente “nacional” viria pela integração das diversas províncias e seria uma imposição da nova Corte no Rio de Janeiro (1840 – 1850), conseguida a duras penas por meio de luta pela centralização do poder e da “vontade de ser brasileiros”.
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