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Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 1 IV - HERANÇA MONOFATORIAL 1. LEI DA SEGREGAÇÃO OU 1a LEI DE MENDEL 1.1. Experimento Mendel utilizou ervilha de jardim (Pisum sativum), que é espécie de planta com 2n= 2X= 14 cromossomos, autógama, de fácil cultivo, ciclo curto, progênie abundante e que apresentava variedades contrastantes com relação a vários caracteres. Mendel estudou sete caracteres, tendo cruzado genitores PUROS que diferiam por um caráter. Os resultados obtidos com o caráter “cor dos cotilédones”, cujos fenótipos são “verde” e “amarelo”, apresentam-se a seguir. Pais) AMARELO X VERDE F1) 100% AMARELO ( amarelo dominante sobre verde) = autofecundação F2) FENÓTIPO: AMARELO VERDE Total Valores observados 6022 2001 8023 Valores esperados 6017,25 2005,75 8023 PF observada 0,7506 0,2494 1 PF observada 3,0024 0,9976 4 PF teórica ou esperada 3 1 4 Pureza*** 1/3 pura*:2/3 não- pura** 100% pura * Plantas que produziram descendentes F3 de cotilédones amarelos apenas. ** Plantas que produziram descentes F3 de cotilédones amarelos e verdes. *** PG teórica: 1/4 amarelo puro: 2/4 Amarelo não-puro: 1/4 verde puro 1.2. 1.ª Lei Mendel formulou uma hipótese que explicasse os resultados observados nas gerações segregantes de seus experimentos, resultantes do cruzamento entre genitores contrastantes com relação a um caráter. Portanto, é uma hipótese sobre como os caracteres são determinados e transmitidos de geração em geração, conforme apresentada a seguir. “Os caracteres são determinados por fatores (genes) que ocorrem aos pares em um indivíduo, mas que segregam um do outro na formação dos gametas, de modo que qualquer gameta recebe apenas um dos alelos pareados”. Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 2 Posteriormente, essa hipótese formulada por Mendel foi comprovada por outros pesquisadores e passou a ser conhecida como 1.ª Lei de Mendel ou Princípio da Segregação. Os valores “teóricos” ou “esperados” apresentados no quadro anterior são decorrentes dessa hipótese. 1.3. Representação do experimento de Mendel F2) Genótipos AA Aa aa Total Freqüência esperada- PG ¼ 2/4 1/4 1 Fenótipos Amarelo Verde - Freqüência esperada- PF 3/4 1/4 1 2. INTERAÇÃO ENTRE ALELOS DE UM GENE 2.1. Dominância completa Tipo de interação em que um alelo é capaz de suprimir a ação do outro quando em heterozigose, de tal modo que o fenótipo apresentado pelo heterozigoto é igual ao do homozigoto dominante. Alelo A1 A2 Genótipo A1A1 A2A2 A1A2 Efeito fenotípico Branco Preto Fenótipo Branco Preto Branco (ou preto) Aa x Aa PG= 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa e PF 3/4 dominante: 1/4 recessivo Alelo dominante: alelo que expressa seu efeito fenotípico mesmo quando em heterozigose Verde aa Amarelo AA Aa Amarela P) Gametas P) F1) A Gametas F1) A a a Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 3 Alelo recessivo: alelo cujo efeito fenotípico não é expresso no heterozigoto EXEMPLOS 1) ALBINISMO Alelo/ genótipo A a AA aa Aa Efeito fenotípico/ fenótipo Normal Albino Normal Albino Normal “a” é raro (mutante) e recessivo “A” é comum (selvagem) e dominante 2) ACONDROPLASIA Alelo/ genótipo B b BB bb Bb Efeito fenotípico/ fenótipo Nanismo Normal Letal ? Normal Nanismo “b” é comum (selvagem) e recessivo “B” é raro (mutante) e dominante 3) DOENÇA DE HUNTINGTON Alelo/ genótipo D d DD dd Dd Efeito fenotípico/ fenótipo Doença Normal - Normal Doença “d” é comum (selvagem) e recessivo “D” é raro (mutante) e dominante 2.2. Codominância Tipo de interação entre alelos de um gene em que ambos os alelos de um par se expressam inteiramente no heterozigoto, que exibe uma mistura de fenótipos dos dois homozigotos. Alelo A1 A2 Genótipo A1A1 A2A2 A1A2 Efeito fenotípico Branco Preto Fenótipo Branco Preto Branco e preto Aa x Aa PF= PG= 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 4 EXEMPLO: grupo sangüíneo MN Alelo/ genótipo L M L N L M L M L N L N L M L N Ef. fenotípico/ fenótipo Antig. M Antig. N Antig. M Antig. N Antig. M e N Fenótipo= grupo sang. - - M N MN 2.3. Ausência de dominância ou dominância incompleta Tipo de interação entre alelos de um gene em que ambos os alelos de um par se expressam em heterozigose, sendo o heterozigoto fenotipicamente intermediário entre os dois tipos de homozigotos. Alelo A1 A2 Genótipo A1A1 A2A2 A1A2 Efeito fenotípico Branco Preto Fenótipo Branco Preto Cinza Aa x Aa PF= PG= 1/4 AA: 2/4 Aa: 1/4 aa EXEMPLO: Cor de flores em “Boca de Leão” Alelo B1 B2 Genótipo B1B1 B2B2 B1B2 Efeito fenotípico Vermelha Branca Fenótipo Vermelha Branca Rosa 2.4. Sobredominância Tipo de interação entre os alelos de um gene em que o fenótipo do heterozigoto, medido quantitativamente, situa-se fora do intervalo estabelecido pelos fenótipos dos dois homozigotos. Alelo/ genótipo A a AA aa Aa Efeito fenotípico/ fenótipo 15 10 15 10 20 (ou 5) 2.5. Alelos letais Alelos letais são aqueles cuja manifestação fenotípica é a morte do indivíduo, seja na fase pré-natal ou pós-natal, anterior à maturidade sexual. Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 5 EXEMPLO- Doença de Tay-Sachs ou idiotia amaurótica infantil: deterioração mental e motora acompanhada de paralisia e de degeneração de retina, esta última levando a cegueira. O distúrbio culmina em morte, geralmente antes dos cinco anos. Não há tratamento. Os recém-nascidos normais exibem uma resposta de sobressalto, na qual enrijecem os braços e pernas ao ouvir um ruído súbito. A continuação desse sintoma além do dos quatro a seis meses de idade pode ser sintoma da doença. É uma doença autossômica recessiva resultante de uma deficiência da enzima hexosaminidase A. Alelo/ genótipo A a AA Aa aa Efeito fenotípico/ fenótipo Normal Doença Normal Normal Doença Freqüências aproximadas 000.1 999 000.1 1 500 499 500 1 000.000.1 1 Há alelos letais recessivos que afetam outro caráter, além do caráter “viabilidade”. Esse outro caráter está associado à PF 2:1, observada na progênie de cruzamentos entre indivíduos heterozigotos. EXEMPLO- “Viabilidade” e “cor da pelagem em camundongos”. Os camundongos podem apresentar pelagem escura (fenótipo selvagem) ou amarela (fenótipo mutante). A seguir apresentam-se resultados de cruzamentos e a conclusão sobre os genótipos dos indivíduos. Escuro (aa) x escuro (aa) → 100 % escuro (aa) Escuro (aa) x amarelo (Aa) → 1/2 escuro (aa), 1/2 amarelo (Aa) Amarelo (Aa) x amarelo (Aa) → 1/3 escuro (aa), 2/3 amarelo (Aa) Alelo/ genótipo A a AA Aa aa Efeito fenotípico/ fenótipo+ Letal Viável Morre* Viável Viável Efeito fenotípico/ fenótipo+ Amarelo Escuro - Amarelo Escuro PG entre os zigotos - - 1/4 2/41/4 PG entre os nativivos - - - 2/3 1/3 *Morre no desenvolvimento embrionário +A é dominante com relação à cor da pelagem (amarelo/ escuro) +A é recessivo com relação à viabilidade (letal/ viável) EXERCÍCIO- Considere o pedigree (relação sistemática dos ancestrais de um determinado indivíduo): Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 6 O defeito em questão é dominante ou é recessivo ? EXERCÍCIO- Considere que numa população de animais domésticos estejam presentes dois defeitos distintos, cada um deles determinado por um par de alelos. Um dos defeitos é determinado por um alelo recessivo de um gene e, o outro, por um alelo dominante de outro gene. Qual defeito seria eliminado mais facilmente da população, o dominante ou o recessivo? Recessivo: AA e Aa= normal e aa= anomalia no úbere Dominante: BB e Bb= entalhe na orelha e bb= normal 3. TIPOS DE CRUZAMENTOS 3.1. Teste de heterozigose Serve para determinar se um indivíduo de fenótipo dominante é homozigoto ou heterozigoto. 3.1.1. Cruzamento-teste (cruzamento do indivíduo com o homozigoto recessivo) EXEMPLO- Um indivíduo DOMINANTE, cujo genótipo deseja-se testar se é AA ou Aa, é cruzado com indivíduos de genótipo aa, produzindo “n” descendentes. Duas situações podem ocorrer entre os “n” descendentes: a) Situação 1: pelo um descendente com o fenótipo RECESSIVO. Nesse caso, concluir-se-ia que o indivíduo testado é heterozigoto, com 100% de certeza, uma vez que se ele fosse de genótipo AA não seria produzido nenhum descendente “aa”. b) Situação 2: todos os descendentes com fenótipo DOMINANTE. Nesse caso, concluir-se-ia que o indivíduo testado é homozigoto, mas a certeza associada a essa conclusão não é 100%, pois existe um erro correspondente à probabilidade de um indivíduo testado, sendo heterozigoto, proporcionar somente filhos normais. Esse erro e a certeza ao concluir estão mostrados no próximo quadro. Sexo masculino Sexo feminino Sexo não especificado Presença de um defeito Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 7 Seja X= número de descendentes com o fenótipo recessivo. Sob hipótese de que o indivíduo testado ser heterozigoto (H0), X é uma variável que tem a seguinte distribuição de probabilidades: X 0 1 ... n Probabilidade 0 2 1 n 2 1 1 2 1 1n 2 1 n ... n 2 1 0 2 1 Situação Todos normais (b) Pelo menos um descendente com o defeito (a) Probabilidade n 2 1 1Certeza n 2 1 1 EXERCÍCIO- Na espécie bovina, os animais são Normais (NN e Nn) ou apresentam nanismo (nn), um grave defeito, de modo que os touros heterozigotos não devem ser usados como reprodutores. Quantos descendentes de um cruzamento teste devem ser analisados para se ter pelo menos 99% de certeza a respeito do genótipo de um touro normal? Solução: n 2 1 1C n 2 1 199,0 n 2 1 01,0 n 2 1 log01,0log 2 1 logn01,0log 5,0log 01,0log n = 6,64 7 3.1.2. Teste de heterozigose com testador Aa. EXEMPLO- Um indivíduo DOMINANTE, cujo genótipo deseja-se testar se é AA ou Aa, é cruzado com indivíduos de genótipo Aa, produzindo “n” descendentes. Duas situações podem ocorrer entre os “n” descendentes: a) Situação 1: pelo um descendente com o fenótipo RECESSIVO. Nesse caso, concluir-se-ia que o indivíduo testado é heterozigoto, com 100% de certeza, uma vez que se ele fosse de genótipo AA não seria produzido nenhum descendente “aa”. b) Situação 2: todos os descendentes com fenótipo DOMINANTE. Nesse caso, concluir-se-ia que o indivíduo testado é homozigoto, mas a certeza associada a essa conclusão não é 100%, pois existe um erro correspondente à probabilidade de um Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 8 indivíduo testado, sendo heterozigoto, proporcionar somente filhos normais. Esse erro e a certeza ao concluir estão mostrados no próximo quadro. Seja X= número de descendentes com o fenótipo recessivo. Sob hipótese de que o indivíduo testado ser heterozigoto (H0), X é uma variável que tem a seguinte distribuição de probabilidades: X 0 1 ... n Probabilidade 0 4 1 n 4 3 1 4 1 1n 4 3 n ... n 4 1 0 4 3 Situação Todos normais (b) Pelo menos um descendente com o defeito (a) Probabilidade n 4 3 1Certeza n 4 3 1 EXERCÍCIO- Na espécie bovina, os animais são Normais (NN e Nn) ou apresentam nanismo (nn), um grave defeito, de modo que os touros heterozigotos não devem ser usados como reprodutores. Suponha que não existam vacas homozigotas recessivas para o cruzamento-teste, uma vez que os indivíduos desse genótipo morrem antes da maturidade sexual. Quantos descendentes do cruzamento do touro normal com vacas sabidamente heterozigotas devem ser analisados para se ter pelo menos 99% de certeza a respeito do seu genótipo? n 4 3 1C n 4 3 199,0 n 4 3 01,0 n 4 3 log01,0log 4 3 logn01,0log 75,0log 01,0log n = 16 3.2. Retrocruzamento É o cruzamento do descendente com qualquer um de seus genitores. - P1 x P2 → F1; F1 x P1 → RC1; RC1 x P1 → RC2; ...; RCn-1 x P1 → RCn - P1 x P2 → F1; F1 x P2 → RC1; RC1 x P2 → RC2; ...; RCn-1 x P2 → RCn Séries de retrocruzamentos são úteis na transferência de genes entre variedades. Roteiro de aula da disciplina “BIO 240 - Genética” /DBG/UFV. Professor: Marcos Ribeiro Furtado. “Herança monofatorial”. 9 EXEMPLO- Numa espécie autógama, as plantas podem ser RESISTENTES (A_) ou SUSCETÍVEIS (aa) a uma doença. Considere duas variedades: - Variedade R (recorrente)= variedade comercial, suscetível (aa) - Variedade D (doador)= variedade qualquer, resistente (AA) Com o objetivo de se obter uma variedade resistente (como a D) e com as mesmas características da variedade R, realiza-se cruzamento entre R e D e um série de retrocruzamentos das plantas resistes com R. O objetivo dos retrocruzamentos com R é recuperar as características originais dessa variedade, exceto a suscetibilidade a referida doença. CRUZAMENTO / RETROCRUZAMENTO GERAÇÃO Proporção dos genes oriundos de cada genitor D R Total R (aa) x D (AA) F1 (Aa) 2 1 2 1 1 R (aa) x F1(Aa) RC1 (Aa, aa) 4 1 = 2 2 1 4 3 = 1- 2 2 1 1 R (aa) x RC1 (Aa) RC2(Aa, aa) 8 1 = 3 2 1 8 7 = 1- 3 2 1 1 ... ... .... ... ... R (aa) x RC6 (Aa) RC7 (Aa, aa) 256 1 = 8 2 1 256 255 = 256 1 1 1 ... ... .... ... ... R(aa) x RCn-1 (Aa) RCn (Aa, aa) 1n 2 1 1n 2 1 1 1 Obtenção dos indivíduos homozigotos AA (nova variedade): RC7 Aa Autof. Resistente AA Autof. Só resistente (AA) = nova variedade (AA) Resistente Aa Resistente (A_) e suscetíveis (aa) Suscetível aa Retrocruzamentos das plantas Aa com R R (aa) x D (AA) F1 Aa ... R (AA)
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