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Curso de Sistemas de Liberação de Fármacos MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO IV NANOPARTÍCULAS MAGNÉTICAS A nanotecnologia está associada à manipulação da matéria em escala nanométrica, ou seja, uma escala tão pequena quanto a de um bilionésimo do metro. Na escala nanométrica, os átomos revelam características peculiares, podendo apresentar tolerância à temperatura, cores, reatividade química, condutividade elétrica, ou mesmo exibir força de intensidade extraordinária. Estas características explicam o interesse industrial pelos nanomateriais que já são fabricados para emprego em cosméticos, tintas, revestimentos, tecidos, catalisadores ou para proporcionar mais resistência aos materiais. Na área biomédica, a nanotecnologia (ou nanobiotecnologia) produzirá avanços importantes em diagnóstico, terapêutica e bioengenharia. Para tanto, questões básicas ainda devem ser resolvidas. As nanopartículas magnéticas devem atravessar a barreira endotelial e se acumular especificamente nas células-alvo, sem dano às células normais. Estas características podem ser atingidas por meio do recobrimento das partículas com um material biologicamente ativo, do controle de seus parâmetros físicos, tais como o tamanho da partícula, a suscetibilidade magnética da solução e o conhecimento do seu comportamento no organismo. Muitos sistemas nanoparticulados estão sendo usados atualmente, e os baseados em nanopartículas magnéticas assumem papel importante devido à propriedade de serem conduzidos e retirados em uma região específica do corpo por meio de gradiente de campo magnético externo. De forma geral, as nanopartículas magnéticas contidas em um fluido magnético ou incorporadas em lipossomos, têm recebido atenção especial por poderem ser guiadas ou localizadas em um alvo específico por campos magnéticos externos. Esta localização em um sítio preferencial por gradientes de campos magnéticos, sugeriu que magnetolipossomos e fluidos magnéticos, entre outros 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores sistemas magnéticos, se tornassem efetivos carreadores de fármacos com especificidade de sítio para a liberação controlada de agentes quimioterápicos. As nanopartículas magnéticas podem exibir propriedades superparamagnéticas, característica única em escala nanométrica, isto é, apresentam magnetização apenas na presença de um campo magnético sem, contudo, permanecerem magnéticas quando da remoção do mesmo. As nanopartículas magnéticas têm encontrado inúmeras aplicações nos campos da biomedicina, diagnóstico, biologia molecular, bioquímica, etc. Um campo que tem se destacado é o transporte de fármacos por estas nanopartículas, que superam os medicamentos já existentes por apresentarem seletividade no sistema biológico. Dentre os vários tipos de nanopartículas aplicadas nessas áreas de biotecnologia, as magnéticas ocupam um lugar de destaque e são utilizadas e testadas em vários campos de aplicação. Entre as aplicações importantes das nanopartículas magnéticas na bionanotecnologia podemos citar: carreadores de fármacos para áreas específicas do corpo, tratamento por magnetohipertermia (magnetotermocitólise), separação e seleção de moléculas específicas, melhoria da qualidade de imagens por ressonância magnética nuclear, etc. O carreamento de fármacos por sistemas nanoparticulados é considerado uma técnica valiosa para otimizar a liberação controlada de drogas. A miniaturização de um sistema carreador de fármacos até a escala nanométrica permite boa estabilidade, absorção e transferência tissular quantitativa excelente, e, assim, a esperada atividade farmacodinâmica. Além disso, os efeitos colaterais e as reações por corpo estranho podem ser evitados, simultaneamente à obtenção de tolerância local e sistêmica. Tais propósitos podem ser atingidos ao liberar a dose correta da droga especificamente nos tecidos ou nas células-alvo, sem sobrecarregar o organismo com doses massivas, o que é verdadeiro, sobretudo, para drogas com efeitos colaterais graves, como os quimioterápicos para câncer. Muitos sistemas nanoparticulados estão sendo usados atualmente e, entre eles, os baseados nas nanopartículas magnéticas assumem papel importante em virtude da propriedade de serem conduzidos e retidos em uma região específica do 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores corpo por meio de gradiente de campo magnético externo. Com o objetivo de aumentar a especificidade, o conjugado NPM (nanopartícula magnética)-fármaco pode ser associado com outra molécula capaz de reconhecer e se ligar especificamente ao sítio-alvo. Tais moléculas podem ser anticorpos, proteínas, lectinas e hormônios, entre outros. Dessa forma, uma administração sítio-dirigida do conjugado NPM-fármaco, associado ao anticorpo monoclonal específico, atingiria especificamente as células-alvo tumorais. Hipertermia é o procedimento terapêutico empregado para proporcionar aumento de temperatura em uma região do corpo que esteja afetada por uma neoplasia, com o objetivo de causar a lise das células cancerosas. Seu funcionamento se baseia no fato de que a temperatura de 41°C a 42°C tem o efeito de destruir diretamente as células tumorais, uma vez que estas são menos resistentes a aumentos bruscos de temperatura do que as células normais circunvizinhas. O aumento de temperatura requerido pela hipertermia pode ser atingido, entre outros métodos, pelo uso de nanopartículas magnéticas. Quando submetidas à ação de um campo magnético externo de freqüência alternada, as nanopartículas magnéticas são aquecidas. O uso de nanopartículas magnéticas é preferível às micropartículas porque as nanopartículas magnéticas respondem mais eficientemente a campos externos absorvendo destes mais energia. No processo de magneto-hipertermia, também conhecido como magnetotermocitólise, as nanopartículas magnéticas (NPM) biocompatíveis são associadas a anticorpos monoclonais (AcM) específicos para proteínas da membrana de células tumorais. O conjugado NPM-AcM, quando administrado, potencializa o contraste de imagens de ressonância magnética, possibilitando que metástases sejam localizadas de forma mais eficiente e precoce. Após absorção pelas células cancerígenas, as nanopartículas magnéticas são submetidas a um campo magnético, o que resulta na elevação local da temperatura e subseqüente lise da célula tumoral. Alternativamente, as nanopartículas magnéticas podem ser atraídas e retidas na região do tumor, pelo uso de gradientes de campo magnético externo ou, ainda, serem injetadas diretamente no tumor. Qualquer que seja a forma de condução das nanopartículas magnéticas ao tumor, é viável a localização do aquecimento ao tecido tumoral, minimizando danos aos tecidos normais circunvizinhos, o que faz da magneto-hipertermia uma técnicapromissora para tratamento de cânceres diversos. Figura 28. Esquema do processo de magneto-hipertermia utilizando nanopartículas magnéticas para fins terapêuticos (PAVON, OKAMOTO, 2007). Figura 29. Esquema do magnetolipossomo com nanopartículas de magnetita conjugado a anticorpos específicos (PAVON, OKAMOTO, 2007). 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Na Figura 30 são mostradas duas aplicações terapêuticas possíveis dos nanoímãs (nanopartículas magnéticas). Carregados pelo corpo com a ajuda de um campo magnético, eles poderiam ser levados até células cancerosas e agitados por alternações sucessivas no campo. O processo geraria calor e mataria as células doentes (no alto, à esquerda). Em outro cenário, eles seriam agregados a um pacote que contém um fármaco e uma capa de polímero biodegradável. O campo magnético serviria para carregá-los até as células doentes, as quais entregariam o fármaco com menor chance de erro (no alto, à direita). Figura 30. Desenho de duas aplicações terapêuticas dos nanopartículas magnéticas (nanoímãs) (CAMILO, 2006). Um bom exemplo de uso deste tipo de sistema de liberação de fármacos são as aplicações no programa de nanotecnologia para o tratamento do câncer, desenvolvido conjuntamente pelo Instituto Nacional do Câncer e pela NASA, nos 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Estados Unidos. O objetivo é produzir dispositivos de escala nanométrica capazes de diagnosticar, tratar e monitorar o progresso da terapia, em uma única seqüência clínica. SISTEMAS MATRICIAIS As matrizes são dispersões ou soluções de um fármaco em uma ou mais substâncias capazes de modular a sua liberação, geralmente polímeros de natureza hidrofílica ou inerte. Essas matrizes podem ser elaboradas sob as formas de comprimidos, como ilustrado nas Figuras 31 e 32, cápsulas gelatinosas, grânulos, pellets ou minicomprimidos. Nos sistemas matriciais, a liberação do fármaco pode envolver processos de intumescimento do polímero, difusão do fármaco e erosão da matriz. Em alguns casos, o fármaco pode estar ligado quimicamente à cadeia polimérica e ser liberado pela quebra hidrolítica ou enzimática dessa ligação. Um ou mais desses processos podem regular a liberação em uma mesma forma farmacêutica, dependendo do tipo de polímero empregado e das propriedades físico-químicas do fármaco. Nas matrizes insolúveis, constituídas por ceras (nesse caso, também denominadas matrizes hidrofóbicas) ou polímeros insolúveis em água (nesse caso, também denominadas matrizes inertes), o fármaco é liberado essencialmente por difusão, como ilustrado na Figura 31 (para matrizes hidrofóbicas, pode haver um mecanismo de erosão associado). Em decorrência de sua insolubilidade, a matriz ou parte dela pode ser eliminada nas fezes, mas isso não significa que não houve liberação total do fármaco no trato gastrointestinal. Nas matrizes hidrofílicas, a liberação é regulada pelos processos de intumescimento, difusão e erosão. Quando a forma farmacêutica entra em contato com os fluidos gastrintestinais, o polímero na sua superfície é hidratado e intumesce, formando uma camada gelificada. A camada gelificada é posteriormente dissolvida, promovendo a erosão do comprimido. Outras camadas de gel são formadas e dissolvidas sucessivamente na superfície da forma farmacêutica. O fármaco é liberado por difusão através dessas camadas gelificadas e/ou erosão da matriz, como representado na Figura 32. Figura 31. Matriz insolúvel: após a administração, a água presente nos fluidos do TGI penetra na forma farmacêutica (FF) e dissolve o fármaco. Como conseqüências são formados canais na estrutura da matriz, através dos quais o fármaco é gradualmente liberado por difusão (PEZZINI, SILVA, FERRAZ, 2007). Figura 32. Matriz hidrofílica: a água presente no TGI penetra na superfície da forma farmacêutica (FF), hidrata o polímero, que intumesce e forma uma camada gelificada. O fármaco contido nessa camada dissolve e difunde a partir da matriz ou é liberado quando ela sofre erosão. Quando a camada gelificada erode, expõe a superfície da FF novamente e o processo se repete (PEZZINI, SILVA, FERRAZ, 2007). 91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Em sistemas matriciais hidrofílicos a substância ativa é combinada com excipientes em grânulos que lentamente sofrem erosão nos fluidos corporais, liberando de forma progressiva o fármaco para absorção. Quando esses grânulos são misturados com grânulos de fármacos preparados sem o excipiente, aqueles que não contêm excipiente proporcionam efeito imediato, e aqueles que o contêm proporcionam a liberação prolongada. Polímeros celulósicos hidrofílicos são comumente usados como excipientes em sistemas matriciais. A eficácia desses sistemas matriciais hidrofílicos é baseada em processos sucessivos de hidratação do polímero celulósico, formação de uma camada de gel sobre a superfície, erosão do grânulo e a subseqüente liberação contínua do fármaco. Os grânulos formados podem ser formulados como comprimidos ou cápsulas para administração oral. A hidroxipropilmetilcelulose (HPMC), por exemplo, um pó que escoa livremente, é usada na preparação de matrizes hidrofílicas. Os comprimidos são preparados pela mistura de HPMC na formulação, preparação por granulação úmida ou compactação, e preparação dos comprimidos por compressão. Após a ingestão, o comprimido é molhado pelo fluido gástrico e o polímero começa a hidratar-se. Uma camada de gel forma-se ao redor do comprimido e uma quantidade inicial de fármaco é exposta e liberada. À medida que a água permeia, a espessura da camada de gel aumenta e o fármaco solúvel se difunde através do gel. Quando a camada externa se torna completamente hidratada, sofre erosão. Se o fármaco for insolúvel, será liberado como tal com a camada de gel que sofre erosão. Assim, a velocidade de liberação do medicamento é controlada pela difusão e erosão do comprimido. Para um sistema matricial hidrofílico ser bem sucedido, o polímero deve permitir a formação de uma camada de gel de modo rápido o suficiente para proteger o núcleo interno do comprimido da desintegração, após a ingestão. Quando a proporção do polímero em uma formulação aumenta, o mesmo ocorre com a viscosidade do gel, com a resultante redução na velocidade de difusão e liberação do fármaco. Entretanto, como para todas as formulações, os possíveis efeitos de 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores outros componentes da formulação, incluindo diluentes, aglutinantes e desintegrantes, devem ser levados em consideração. Quando formulações de matrizes hidrofílicas são usadas na preparação de cápsulas de liberação prolongada, o mesmo conceito é aplicado. Quando a cápsula é ingerida, a água penetra no invólucro da cápsula, entra em contato com oconteúdo, hidrata a camada externa de pó e forma uma camada de gel na qual o conteúdo de fármaco se difunde gradualmente à medida que a hidratação prossegue e a camada de gel se dissolve. Os fabricantes podem preparar comprimidos constituídos de duas camadas: uma delas contendo o fármaco sem o agente gelificante, para que ocorra liberação imediata, e outra tendo o fármaco embebido em uma matriz hidrofílica, para o prolongamento da liberação. BOMBAS OSMÓTICAS Bombas osmóticas são sistemas que utilizam pressão osmótica para modular a liberação do fármaco. A forma farmacêutica é constituída por um núcleo (comprimido, cápsula gelatinosa dura ou mole) revestido com uma membrana semipermeável, que possui um orifício feito a laser. O núcleo contém um agente osmótico, que pode ser a substância ativa ou outro material. Após a administração da forma farmacêutica, o solvente penetra no núcleo (atraído pelo agente osmótico), aumentando a pressão interna, o que resulta na liberação do fármaco dissolvido ou disperso, através do orifício na membrana. Alguns sistemas osmóticos possuem dois compartimentos: um contém a substância ativa e outro um polímero hidrofílico (agente osmótico). Quando o solvente penetra na forma farmacêutica, o polímero é hidratado e intumesce, impulsionando o fármaco junto com o solvente para fora, através do orifício no revestimento. Esses sistemas são chamados de “pushpull” e estão representados nas Figuras 33 e 34. Figura 33. Bomba-osmótica “push-pull”: a água penetra na forma farmacêutica por osmose, desintegra o núcleo e intumesce o polímero hidrofílico. A expansão da camada osmótica (polímero hidrofílico) promove a liberação do fármaco através do orifício no revestimento (PEZZINI, SILVA, FERRAZ, 2007). Figura 34. Representação esquemática de dispositivos e liberação por bomba osmótica (SILVA, 2006). 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 35. Esquema de um sistema de liberação que utiliza bombas osmóticas (FREIRE et al, 2006). Algumas formulações baseiam-se na tecnologia das bombas osmóticas para promover a liberação de princípios ativos no cólon. É o caso do sistema OROS-CT® (Figura 35) que pode ser formado por uma única unidade osmótica ou por um conjunto de 5 a 6 unidades que se encontram no interior de uma cápsula de gelatina. Este sistema é composto por um compartimento osmótico e por um compartimento que contém o princípio ativo, rodeados por uma membrana semipermeável. Existe um orifício na membrana semipermeável adjacente ao compartimento que encerra o fármaco. Este dispositivo é rodeado por uma membrana entérica. Uma vez em contacto com os fluídos do intestino delgado, a cobertura entérica dissolve-se, promovendo a entrada de água no sistema. Como conseqüência, o compartimento osmótico intumesce e força a saída do fármaco através do orifício, a uma velocidade controlada pela velocidade de transporte da água, através da membrana semipermeável. A liberação de fármacos a partir destes sistemas é independente de fatores fisiológicos do trato gastrointestinal. Ao modificar alguns fatores de formulação, como a solubilidade e pressão osmótica dos componentes do núcleo, o tamanho do orifício e a natureza da membrana que controla a entrada de água no sistema, podem obter-se diferentes tempos de latência. O OROS-CT® foi concebido para provocar um atraso pós- gástrico de 3 a 4 horas, evitando que a liberação ocorra no intestino delgado. 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 96 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SISTEMAS TRANSDÉRMICOS Os sistemas terapêuticos transdérmicos (TTSs – Trasdermal Drug Delivery Systems) facilitam a passagem de quantidades terapêuticas de fármacos através da pele, com o objetivo de atingir a circulação sangüínea, para exercer efeitos sistêmicos. Evidências da absorção cutânea: • Níveis sangüíneos quantificáveis do fármaco. • Excreção urinária detectável do fármaco e/ou seus metabólitos. • Resposta clínica do paciente à terapia. A pele, maior órgão do organismo, possui primariamente a função de proteção, garantindo a manutenção dos fluidos biológicos e do balanço eletrolítico graças a sua capacidade metabólica, imunológica e sensorial e impedindo a absorção de partículas prejudiciais e desnecessárias do ambiente externo. Recobre toda a superfície do corpo e é constituída por uma porção epitelial de origem ectodérmica, a epiderme, e uma porção conjuntiva de origem mesodérmica, a derme. A hipoderme está abaixo e em continuidade com a derme, porém não faz parte da pele, serve apenas de suporte e união com os órgãos subjacentes. A pele e a hipoderme constituem a unidade morfológica chamada tegumento, ilustrada na Figura 31. A epiderme é constituída por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado. É formada por diferentes tipos de células, como os queratinócitos, melanócitos, células de Langerhans e de Merkel. Suas espessura e estrutura variam de acordo com o local estudado. Vista da derme para a superfície, a epiderme apresenta cinco camadas: basal, espinhosa, granulosa, lúcida e córnea, relacionadas a seguir. A camada basal é a mais profunda das camadas da epiderme. É constituída por células basais, de forma cilíndrica, que se dispõem perpendicularmente à linha 97 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores formada pela junção derme-epiderme e por células denominadas melanócitos. Essa camada é essencialmente germinativa, em que se observa intensa atividade mitótica; assim, é responsável, juntamente com a camada espinhosa, pela constante renovação da pele. A camada espinhosa, também chamada camada malpighiana ou corpo mucoso de Malpighi, é formada por células cubóides ou ligeiramente achatadas, as quais contêm filamentos de queratina que se ligam às células vizinhas por meio de desmossomos (expansões citoplasmáticas). Os filamentos de queratina e os desmossomos são responsáveis pela manutenção da coesão entre as células da epiderme e pela resistência ao atrito. A camada granulosa é composta por 3-5 fileiras de células poligonais achatadas, com citoplasma repleto de grânulos basófilos (grânulos de querato- hialina) e grânulos lamelares. Esses grânulos têm função de impermeabilizante epidérmico; eles se fundem com a membrana plasmática e expulsam seu conteúdo para o espaço intercelular da camada granulosa, onde o material lipídico se deposita e forma a barreira contra a penetração. A camada lúcida, que é mais evidente na pele espessa, possui uma delgada camada de células achatadas, eosinófilas e translúcidas. Apresenta numerosos filamentos de queratina no citoplasma. A camada córnea tem espessura muito variável e é constituída por células achatadas, mortas e sem núcleo, com o citoplasma repleto de queratina. Logo abaixo da epiderme está a derme, que é formada de tecido conjuntivo e compreende um verdadeiro gel, rico em mucopolissacarídeos (substância fundamental) e material fibrilar de três tipos: fibras colágenas, fibras elásticas e fibras reticulares. Serve de apoio para a epiderme e une a pele ao tecido celular subcutâneo ou hipoderme. Sua espessura também varia de acordocom a região observada. Apresenta uma superfície externa irregular, na qual se observam saliências (chamadas de papilas dérmicas) que aumentam a área de contato entre a derme e a epiderme, reforçando a união das duas camadas. Além de vasos sangüíneos e linfáticos, são encontradas na derme estruturas derivadas da 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores epiderme, como folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas. A derme é composta por duas camadas: camada papilar e camada reticular. A camada papilar é delgada e de tecido conjuntivo frouxo que forma as papilas dérmicas. Contém fibras de colágeno (fibrinas), que ajudam na união da derme com a epiderme, fibras elásticas, numerosos fibroblastos e abundante substância fundamental. Estão presentes nessa camada os corpúsculos de Meissener, responsáveis pela sensibilidade tátil, e os corpúsculos de Ruffini e Paccini, órgãos terminais sensitivos. A camada reticular, mais espessa que a camada papilar, é constituída por tecido conjuntivo denso e contêm muitas fibras elásticas, feixes colágenos mais espessos e menor quantidade de substância fundamental e fibroblastos. A hipoderme, também chamada de tela subcutânea, é composta por tecido adiposo e conjuntivo frouxo que une a derme aos órgãos subjacentes. Dependendo da região e do grau de nutrição do organismo, pode ter uma camada variável de tecido adiposo. Funcionalmente, a hipoderme, além de depósito nutritivo de reserva, participa no isolamento térmico e na proteção mecânica do organismo às pressões e traumatismos externos e facilita a motilidade da pele em relação às estruturas subjacentes. A tela subcutânea compõe-se em geral de duas camadas, sendo chamada de areolar a mais superficial. Abaixo dela existe um septo de tecido conjuntivo, de desenvolvimento variável conforme a região, chamado fáscia superficial ou subcutânea. Esse septo separa a camada areolar da camada mais profunda, a lamelar, que aumenta de espessura quando acontece ganho de peso, com aumento do volume dos adipócitos. A proporção dessas camadas varia de acordo com diversos fatores, como espessura da pele (na pele espessa a camada areolar é preponderante sobre a lamelar, na pele fina ocorre o inverso), região do corpo, sexo (na mulher a camada areolar é mais espessa) e idade (a camada areolar é mais espessa no adulto). Figura 36. Estrutura do tegumento (LOURENÇO, 2006). Os estudos de permeabilidade cutânea são limitados pela camada ou estrato córneo localizado na epiderme, que é a maior barreira para a entrada de uma substância no corpo. Constituído de células mortas (corneócitos), água e lipídios, o estrato córneo comporta-se como uma membrana artificial semipermeável, e as moléculas dos medicamentos penetram por difusão passiva. Os fármacos podem permear o estrato córneo, atravessando as células da camada córnea (transcelular), entre elas (intercelular) ou através dos apêndices (glândulas sudoríparas ou sebáceas e folículos pilosos). Na Figura 37 estão esquematizadas as possíveis vias de penetração. Figura 37. Representação dos mecanismos de penetração de fármacos através do estrato córneo (Disponível em www.imagens.google.com.br). 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nos últimos anos, vários métodos têm sido investigados com a finalidade de vencer os problemas com relação à impermeabilidade da pele e à variabilidade biológica e também de aumentar o número de fármacos candidatos ao desenvolvimento de medicamentos transdérmicos (Figura 38). Dentre estes, estão a modificação físico-química de fármacos com capacidade de permeação fraca em pró-fármacos que permeiem a pele, com facilidade, o uso de tensoativos, lipossomas e microemulsões. Figura 38. Sistema transdérmico aplicado sobre a pele (Disponível em www.imagens.google.com.br). A absorção percutânea é um complexo processo físico-químico e biológico. Vários experimentos, in vitro e in vivo, são realizados a fim de se entender e/ou predizer a distribuição de fármacos da superfície da pele até o interior do corpo de animais e humanos. Na administração transdérmica, a concentração sangüínea necessária para alcançar a eficácia terapêutica pode ser determinada pela análise comparativa da resposta do paciente com os níveis sangüíneos do fármaco. Nesse tipo de administração é considerado ideal que o fármaco migre através da pele até a corrente sangüínea sem permanecer nas camadas dérmicas, diferentemente das formas farmacêuticas tópicas, nas quais a permanência do fármaco na pele, o órgão-alvo, é necessária. A absorção percutânea de um fármaco resulta da penetração direta através do estrato córneo. Este é composto de aproximadamente 40% de proteína (principalmente queratina) e 40% de água, com caráter lipídico, pela presença de triglicerídeos, ácidos graxos livres, colesterol e fosfolipídeos. Esse conteúdo lipídico está concentrado na fase extracelular do estrato córneo, sendo o componente majoritário da membrana celular. A principal via de administração de fármacos é 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores através dos canais intercelulares; portanto, o componente lipídico é considerado determinante na primeira etapa da absorção. Uma vez ultrapassado o estrato córneo, a molécula pode permear até a epiderme profunda e chegar à derme, que é um tecido vascularizado, tornando-se disponível para ser absorvida pela circulação geral. O estrato córneo, sendo um tecido queratinizado, comporta-se como uma membrana semipermeável artificial, na qual as moléculas penetram por difusão passiva, e é a principal barreira ao transporte transdérmico de fármacos. A velocidade de fluxo de uma molécula através do estrato córneo depende: • de sua concentração no veículo, • de sua solubilidade aquosa, • do coeficiente de partição óleo/água que se estabelece entre o estrato córneo e o veículo, • de seu peso molecular, • da constante de dissociação, • da natureza do veículo, • das condições da pele. Substâncias que apresentam simultaneamente solubilidade aquosa e lipídica são boas candidatas para difusão através do estrato córneo, epiderme e derme. Embora princípios gerais aplicáveis para todas as combinações possíveis de fármaco/veículo/condições da pele dificilmente possam ser estabelecidos, pode-se afirmar que: 1. A concentração do fármaco é um fator importante. Em geral, a quantidade absorvida por unidade de área superficial de contato da pele, por intervalo de tempo, aumenta com o aumento da concentração e fármaco no sistema transdérmico (ST). 2. Quanto maior a área de aplicação (tamanho do ST), maior a quantidade absorvida. 3. O fármaco deve apresentar maior afinidade físico-química pela pele do que pelo veiculo, de maneira a facilitar a saída das moléculas do veículo em favor 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores da pele. Certa solubilidade tanto em óleo quanto em água é essencial para a absorção percutânea eficaz. Em essência,enquanto a solubilidade aquosa de um fármaco determina a concentração presente no local de absorção, o coeficiente de absorção influencia a velocidade de transporte através do local e absorção. Os fármacos geralmente penetram com mais facilidade na forma não ionizada; as moléculas apolares atravessam a barreira celular nas regiões ricas em lipídeos (transporte transcelular), enquanto as moléculas polares penetram por entre as células (transporte intercelular). 4. Fármacos com peso molecular entre 100 e 800 e adequada solubilidade em lipídeos e em água podem permear a pele. Um peso molecular igual ou inferior a 400 é considerado ideal para administração transdérmica. 5. A hidratação da pele favorece a absorção percutânea. O adesivo transdérmico atua como uma barreira oclusiva, impedindo a passagem da umidade e do suor, aumentando a hidratação local. 6. A absorção percutânea é maior quando o ST é aplicado em regiões onde a camada córnea é mais fina. 7. De modo geral, quanto mais tempo o ST permanece aplicado sobre a pele, maior a quantidade total de fármaco absorvido. Esses princípios gerais são aplicados à pele em condições normais. A pele escoriada ou cortada permite que o fármaco tenha acesso diretamente aos tecidos subcutâneos e à rede capilar, o que contraria a função dos STs. Há grande interesse entre os farmacêuticos no desenvolvimento de promotores químicos de absorção e de métodos físicos capazes de incrementar a absorção percutânea de agentes terapêuticos. Promotores da absorção percutânea: 1. Promotores químicos Por definição, um promotor químico de penetração cutânea aumenta a permeabilidade da pele por induzir reversivelmente um dano ou uma alteração físico- química no estrato córneo, com a finalidade de reduzir sua resistência à difusão. 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Essas alterações podem ser causadas pelo aumento da hidratação do estrato córneo e/ou alterações na estrutura os lipídeos e lipoproteínas dos canais intercelulares, por meio da ação de solventes ou desnaturação ou ambas. Exemplos: acetona, dimetilacetamida, dimetilformamida, dimetilsulfóxido (DMSO), etanol, ácido oléico, polietilenoglicol, propilenoglicol, e laurilsulfato de sódio. A escolha de determinado promotor de penetração deve ser baseada não somente em sua eficácia em aumentar a permeação através da pele, mas também em sua toxicidade dérmica (que deve ser baixa) e sua compatibilidade físico-química e biológica com outros componentes do sistema. 2. Métodos físicos A iontoforese e a fonoforese são alguns dos métodos físicos capazes de aumentar a liberação e absorção percutânea de fármacos. A iontoforese envolve a liberação de compostos químicos carregados através da pele utilizando um campo elétrico. A liberação transdérmica incrementada pela iontoforese vem demonstrando um interessante potencial na administração de peptídeos e proteínas. A fonoforese ou sonoforese, ou ultra-som de alta freqüência, também vem sendo estudada como forma de aumentar a absorção transdérmica de fármacos. O método baseia-se no fato de o ultra-som de alta freqüência ser capaz de influenciar a integridade do estrato córneo e, assim, afetar sua penetrabilidade. Vantagens dos Sistemas Transdérmicos: 1. Evitam os problemas relacionados à absorção gastrintestinal, como pH, atividade enzimática e interação do fármaco com alimentos, bebidas ou outros fármacos administrados oralmente. 2. Substituem a administração oral quando essa via é inadequada, como nos episódios de vômito e diarréia. 104 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3. Evitam o efeito de primeira passagem, ou seja, suprimem a passagem inicial da substância pela circulação porta e sistêmica após absorção gastrintestinal, possivelmente evitando a inativação por enzimas digestivas ou hepáticas. 4. São sistemas não invasivos, evitando os inconvenientes da terapia parenteral. 5. Proporcionam uma terapia prolongada com aplicação única, o que resulta em maior adesão, comparados com outras formas farmacêuticas que requerem uma administração mais freqüente. 6. A atividade dos fármacos com meia vida curta é ampliada, devido à liberação controlada proporcionada pelo reservatório de fármaco do sistema. 7. A terapia pode ser interrompida de modo rápido por meio da remoção do sistema aplicado sobre a superfície da pele. 8. São rápida e facilmente identificados em emergências (i.e., pacientes que não respondem, inconscientes ou comatosos) devido a sua presença física, bem como as características específicas e marcas de identificação. Desvantagens dos sistemas transdérmicos: 1. Apenas fármacos relativamente potentes são bons candidatos à liberação transdérmica, devido aos limites naturais à entrada do fármaco, impostos pela impermeabilidade da pele. 2. Alguns pacientes desenvolvem dermatite de contato no local de aplicação, provocada por um ou mais componentes do sistema, sendo necessária a interrupção do tratamento. Estrutura dos sistemas e liberação transdérmica de fármacos Os STs (também chamados de patches transdérmicos) são desenhados para induzir a passagem de substâncias ativas através da superfície da pele e suas diversas camadas até atingir a circulação sistêmica. Tecnicamente podem ser classificados em dois tipos: 1. Sistemas monolíticos. 2. Sistemas controlados por membranas. 105 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Nos sistemas monolíticos, o fármaco é incorporado em uma camada matricial, localizada entre as camadas anterior e posterior. Essa matriz, na qual o fármaco está disperso, é composta de um material polimérico que controla a liberação do fármaco, tornando-o disponível para a absorção percutânea. Ela pode ser de dois tipos, com ou sem excesso de fármaco em relação à solubilidade e ao gradiente de concentração no estrato córneo, considerando o estado estacionário. Nos tipos em que não está em excesso, o fármaco está disponível para manter a saturação do estrato córneo somente enquanto o nível de fármaco no dispositivo exceder o limite de solubilidade nesse tecido. Quando a concentração de fármaco no dispositivo reduz abaixo do limite de saturação da pele, seu transporte do dispositivo para a pele diminui. Nos sistemas cuja matriz apresenta excesso de fármaco, a reserva presente assegura a continuidade da saturação do estrato córneo, e a velocidade de diminuição do fármaco é menor do que no tipo sem excesso de fármaco. Na preparação dos sistemas monolíticos, o fármaco e o polímero são dissolvidos ou misturados, formando uma matriz que é submetida a uma operação de secagem. A matriz gelificada pode ser produzida em forma laminar ou cilíndrica, cortada em unidades de dosagem individual e incorporada entre as camadas anterior e frontal. A maioria dos STs é projetada para conter excesso de fármaco e manter a capacidade de liberação além do tempo recomendado para a substituição do adesivo. Esse excesso assegura disponibilidade e absorção contínuas do fármaco a partir de um ST até que o mesmo seja substituído por um novo. Os STs controlados por membrana contêm um reservatório de fármaco, usualmente na forma líquida ou de gel, uma membrana que controla a velocidade de liberação e camadas anterior, adesiva e de proteção (Figura39). A vantagem dos sistemas controlados por membrana sobre os sistemas monolíticos é que a velocidade de liberação através da membrana de controle permanece constante, uma vez que a solução do fármaco no reservatório permanece saturada. Em sistemas com membranas, uma pequena quantidade de fármaco freqüentemente é adicionada à camada adesiva para dar início à absorção e ao aparecimento do efeito farmacoterapêutico tão logo seja aplicado sobre a pele. Os sistemas controlados por membrana podem ser preparados por meio da pré-construção da unidade de liberação, do enchimento do reservatório do fármaco e selagem ou por laminação, em um processo contínuo de construção, dosagem e selagem. Em resumo, tanto o dispositivo de liberação do fármaco como a pele, servem como mecanismos de controle sobre a velocidade de liberação. Se o fármaco for liberado no estrato córneo a uma velocidade inferior à capacidade de absorção, o dispositivo é o fator de controle; por outro lado, se ele for liberado em uma área onde ocorre saturação, a pele passa a exercer o controle da liberação. Assim, a velocidade de transporte do fármaco em todos os tipos de STs, monolíticos ou com membranas, é controlada por uma membrana artificial ou natural (a pele). Os sistemas de liberação transdérmica de fármaco podem ser construídos com diferentes números de camadas, incluindo: 1. Uma camada externa que protege o sistema do ambiente externo e de possíveis perdas de fármaco ou umidade da pele; 2. Um sistema matricial ou reservatório que armazena e libera o fármaco para a pele; 3. Uma lâmina protetora removível; 4. Uma camada adesiva para manter o contato com a pele após a aplicação. Cobertura oclusiva Material adesivo impregnado com o fármaco Fita removível Figura 39. Exemplo de Sistema Transdérmico (Disponível em www.imagens.google.com.br). 106 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 107 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A camada adesiva pode ser de dois tipos: na forma de uma borda periférica adesiva ou com toda a face adesiva. No tipo periférico, a formulação adesiva localiza-se nas bordas do ST, em geral como uma faixa larga circundando a porção ativa que contém o fármaco. A face adesiva, que recobre toda a superfície do ST, é muito comum. Os STs são acondicionados em embalagens individuais lacradas, para proteção e preservação até o uso. A camada externa deve ser oclusiva para reter a umidade da pele e hidratar o local de absorção, facilitando a penetração do fármaco. Os materiais preferencialmente utilizados apresentam uma espessura de cerca de 2 a 3mm e baixa razão de transmissão de vapor úmido, inferior a 20g/m2 em 24 horas. Filmes transparentes ou pigmentados de polipropileno, polietileno e poliolefina são utilizados como camada externa em STs. A camada adesiva deve ser sensível à pressão, suprindo a habilidade de aderir à pele com uma pressão mínima e permanecer no local durante o período requerido. O adesivo deve permitir a fácil remoção após o uso, não deve ser irritante, nem oferecer restrições ao fluxo do fármaco para a pele e ser compatível com todos os outros componentes do sistema. O material adesivo é submetido a testes de segurança quanto a sua compatibilidade com a pele, que incluem testes de irritação, sensibilidade e citotoxicidade. Em alguns STs a camada adesiva contém o fármaco. O polibutilacrilato costuma ser utilizado como agente adesivo, e as membranas de liberação do fármaco são normalmente preparadas a partir do polietileno, com estruturas microporosas de diferentes diâmetros e poro para garantir o ajuste às especificações requeridas para cada ST em particular. A estrutura de um ST deve ser planejada com base nos seguintes objetivos: 1. Liberar o fármaco na pele para absorção percutânea em níveis terapêuticos e com um fluxo ótimo. 2. Conter agentes medicinais com as características físico-químicas necessárias para a adequada liberação e partição favorável ao estrato córneo. 3. Ocluir a pele para garantir um fluxo unidirecional do fármaco ao sistema do estrato córneo. 4. Apresentar vantagens terapêuticas sobre outras formas farmacêuticas e sistemas de liberação de fármacos. 5. Não ser irritante ou sensibilizante para a pele. 6. Aderir bem à pele a apresentar tamanho, aparência e local indicado para o uso que facilitem a aceitação por parte o paciente. Figura 40. Sistema terapêutico transdérmico. O sistema é constituído de uma camada externa a prova d’água, um reservatório de fármaco, seguido de uma membrana semipermeável que controla de forma precisa e previsível a liberação do fármaco e de uma camada adesiva que fixa o sistema à pele. A camada adesiva também contém uma dose inicial de fármaco para assegurar uma imediata liberação e absorção do fármaco (ALLEN, POPOVICH, ANSEL, 2007). Lâmina externa Camada de fármaco/adesiva Lâmina de proteção Figura 41. Sistema transdérmico de liberação de fármacos em duas camadas. A lâmina de proteção deve ser retirada antes da aplicação. 108 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Figura 42. Exemplo de sistema terapêutico transdérmico (Disponível em www.imagens.google.com.br). Modelos de absorção percutânea A permeabilidade da pele e a absorção percutânea têm sido objeto de numerosos estudos para estabelecer os princípios básicos e otimizar a liberação transdérmica de fármacos. Embora muitos métodos experimentais e modelos tenham sido utilizados, podem ser classificados em duas categorias: estudos in vivo ou in vitro. Estudos in vivo Estudos de penetração cutânea in vivo são realizados quando se quer atingir um ou mais dos seguintes objetivos: 1. Verificar e quantificar a biodisponibilidade cutânea de fármacos aplicados topicamente; 2. Verificar e quantificar a biodisponibilidade sistêmica de um fármaco transdérmico; 3. Estabelecer a bioequivalência de diferentes formulações tópicas para um mesmo fármaco; 4. Determinar a incidência e o grau de riscos toxicológicos sistêmicos após a aplicação tópica de um fármaco ou formulação específicos; 5. Relacionar os níveis sangüíneos de fármaco com efeitos terapêuticos sistêmicos em humanos. Os estudos mais relevantes são realizados em humanos; entretanto, modelos animais podem ser usados, pois costumam ser muito efetivos como 109 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 110 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores preditores da resposta humana. Esses modelos incluem porcos recém desmamados, macacos Rhesus e ratos ou camundongos sem pêlos. As amostras biológicas utilizadas em estudos de penetração ou absorção do fármaco incluem pele, sangue venoso do local de aplicação, sangue da circulação sistêmica e excreções (urina, fezes e ar expirado). Estudos in vitro A permeação cutânea pode ser avaliada in vitro utilizando vários tipos de pele (pele intacta, derme ou epiderme humana ou animal) em célula de difusão. Estudos de penetração in vitro com pele humana são limitadospelas dificuldades de obtenção, armazenagem, custo e variabilidade na permeação. A pele retirada de animais também pode variar na qualidade e permeabilidade. Em geral, a pele animal é muito mais permeável do que a humana. Outra alternativa que se tem mostrado interessante é a pele da muda da serpente Elaphe obsoleta, que é um estrato córneo não vivo, puro, sem pêlos e semelhante à pele humana, apesar de um pouco menos permeável. Um produto chamado Living Skin Equivalent (LSE) (Equivalente de Pele Viva) foi desenvolvido como uma alternativa para estudos de absorção dérmica. Esse material é uma co-cultura organotípica de fibroblastos dérmicos humanos em uma matriz de colágeno e uma epiderme estratificada composta de queratinócitos da epiderme humana e pode ser utilizado em estudos de cultura de células ou em células de difusão. Os sistemas de células de difusão são empregados para quantificar a taxa de liberação in vitro de fármacos a partir de formulações tópicas. Nesses sistemas, pele ou membranas sintéticas podem ser empregadas como barreira ao fluxo do fármaco e do veiculo, para simular um sistema biológico. Uma célula de difusão típica é composta de dois compartimentos, um de cada lado da membrana; um compartimento contém uma solução de fármaco e o outro, uma solução receptora. A temperatura do sistema é controlada. A pele, quando utilizada como membrana, separa as duas soluções. A difusão do fármaco pode ser determinada pela quantificação do mesmo no compartimento receptor. O conteúdo de fármaco na pele 111 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores utilizada como membrana também pode ser analisado para demonstrar a taxa de permeação e/ou a retenção na pele. A USP – United States Pharmacopeia (Farmacopéia dos Estados Unidos) descreve equipamentos e procedimentos para determinar a dissolução (liberação) de fármacos a partir de um sistema de liberação transdérmica, bem como apresenta tabelas de valores aceitáveis de acordo com a monografia de cada substância. Alguns equipamentos comercialmente disponíveis usam células de difusão com coletor automático de amostras para determinar a taxa de liberação de fármacos a partir de sistemas transdérmicos. Considerações clínicas gerais sobre o uso de STs: O paciente deve ser orientado sobre cuidados gerais, durante o uso de adesivos transdérmicos: 1. A absorção percutânea pode variar de acordo com o local de aplicação. O lugar mais adequado para a aplicação está indicado na embalagem protetora de cada produto. O paciente deve ser orientado no sentido de utilizar a região recomendada, alternando o local a cada aplicação. Essa alternância é importante para permitir à pele em contato com o adesivo recuperar a permeabilidade normal após a oclusão e também para prevenir irritações cutâneas. O mesmo local pode ser reutilizado após o intervalo de uma semana. 2. O local selecionado para a aplicação do ST deve estar limpo, seco, relativamente livre de pêlos e não se apresentar oleoso, irritado, inflamado, cortado ou com calosidades. A pele úmida ou molhada acelera a permeação do fármaco além da velocidade pretendida. A oleosidade da pele dificulta a adesão do sistema. Se no local indicado para a aplicação do ST existirem pêlos, estes podem ser cuidadosamente cortados, mas nunca raspados ou eliminados com agentes depilatórios, pois esses procedimentos podem eliminar as camadas mais externas do estrato córneo e afetar a velocidade e a extensão da permeação do fármaco. 112 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 3. O uso de loções no local de aplicação deve ser evitado, pois esses produtos afetam o grau de hidratação e podem alterar o coeficiente de partição entre o fármaco e a pele. 4. O ST não deve ser cortado (como uma tentativa de reduzir a dose), uma vez que alterações físicas destroem a integridade do sistema. 5. O ST deve ser removido de sua embalagem externa com cuidado para não danificar ou cortar o sistema. A camada protetora deve ser removida para expor a camada adesiva, evitando o contato da superfície adesiva (a qual algumas vezes contém o fármaco) com as pontas dos dedos. O ST é pressionado firmemente com a palma da mão contra a pele por cerca de 10 segundos, para assegurar o contato uniforme e a adesão. 6. O ST deve ser aplicado em um local que não esteja sujeito ao atrito por roupas ou movimento (como a cintura). Ele pode descolar durante o banho ou ao andar. Se o adesivo descolar prematuramente, é possível tentar reaplicá-lo ou substituí-lo por um novo; nesse último caso, o adesivo deve permanecer pelo período integral antes da substituição. 7. O ST deve ser usado durante o período indicado nas instruções de uso; decorrido esse período, é removido e substituído por um novo sistema. 8. O paciente ou a pessoa que fará a aplicação deve ser instruído a lavar as mãos cuidadosamente antes e depois de aplicar o ST. Deve-se tomar cuidado para não tocar os olhos ou a boca durante o manuseio do disco. 9. Se o paciente apresentar sensibilidade, intolerância ao sistema ou se ocorrer irritação cutânea, o tratamento deve ser reavaliado. 10. Após a remoção, o ST usado deve ser dobrado ao meio pelo lado adesivo, de maneira que não possa ser reutilizado. O adesivo usado, que contém fármaco residual, deve ser recolocado na embalagem e descartado em local seguro para crianças e animais domésticos. ----------FIM DO MÓDULO IV----------- 113 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALLEN JR, L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL H. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de Fármacos. 8ª Ed. Editora Artmed, Porto Alegre, 2007. AZEVEDO, M. M. M. Nanoesferas e a liberação controlada de fármacos. Monografia disponível em http://lqes.iqm.unicamp.br, 2002. CAMILO, R. L. Síntese e caracterização de nanopartículas magnéticas de ferrita de cobalto recobertas por 3-aminopropiltrietoxissilano para uso como material híbrido em nanotecnologia. 2006. 209 f. Tese (Doutorado) – Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. FIALHO, S. L.; REGO, M. G. B.; CARDILLO, J. A.; SIQUEIRA, R. C.; JORGE, R.; CUNHA JUNIOR, A. D. Implantes biodegradáveis destinados à administração intra- ocular. Arq. Bras. Ogtalmol., v. 66, p. 891-896, 2003. FORMARIZ, T. P.; URBAN, M. C. C.; SILVA JUNIOR, A. A.; GREMIÃO, M. P. D.; OLIVEIRA, A. G. Microemulsões e fases líquidas cristalinas como sistemas de liberação de fármacos. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 41, n. 3, p. 301-313, 2005. FRANZINI, C. M. Estudo de microemulsões e subemulsões contendo anfotericina B para administração oral. 2006. 141 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2006. 114 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores FREIRE, A. C.; PODCZECK, F.; SOUZA, J.; VEIGA, F. Liberação específica de fármacos no cólon por via oral. II - Tipos de sistemas utilizados. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 42, n. 3, p. 337-355, 2006. HENKEL, E. P.; GOSMAM, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R.Farmacognosia: da planta ao medicamento. 3ª ed. UFSC/UFRGS, 2001. KLEIN, T. Desenvolvimento de sistemas micro e nanoestruturados estabilizados com álcool cetílico etoxilado e propoxilado contendo fluconazol potencialmente ativo contra esporotricose. 2007. 114 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2007. LACHMAN, L., LIEBERMAN, H. A.; KANIG, J. L. Teoria e Prática na Indústria Farmacêutica. 6ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v. 1, 2001. LONGO, D. P. Obtenção, caracterização e estudos de liberação in vitro e permeação in vivo de sistemas microestruturados contendo cafeína. 2006. 140 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2006. LOURENÇO, V. A. Desenvolvimento e avaliação de micropartículas de quitosana para a veiculação de dimetilaminoetanol (DMAE) na pele. 2006. 118 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2006. OLIVEIRA, L. C. Ciprofloxacino encapsulado em lipossomas revestidos com ácido poli láctico co-glicólico ou veiculados em gel de copolímero de bloco ‘Pluronic®F127’. 2006. 123 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2006. 115 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores OLIVEIRA, A. G.; SCARPA, M. V.; CORREA, M. A.; CERA, L. F. R.; FORMARIZ, T. P. Microemulsões: estrutura e aplicações como sistema de liberação de fármacos. Química Nova, v. 27, n. 1, p. 131-138, 2004. PAVON, L. F.; OKAMOTO, O. K. Aplicações de Recursos Nanobiotecnológicos em Câncer. Einstein, v. 5, n. 1, p. 74-77, 2007) PEZZINI, B. R.; SILVA, M. A. S.; FERRAZ, H. G. Formas farmacêuticas sólidas orais de liberação prolongada. Revista Brasileira de Ciências Farmacêutica, v. 43, n. 4, p. 491-502, 2007. REDESCHI, M. C. M. Preparação e caracterização de filmes a base de xiloglucana extraída de sementes de Hymenaea courbaril (jatobá). 2006. 113 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2006. SILVA, F. P. Síntese e caracterização de hidrogéis de Poli[(n- isopropilacrilamida)-co-(ácido Metacrílico)] e sua aplicação como sistemas de liberação controlada de medicamentos. 2006. 174 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. SILVA, C.; RIBEIRO, A.; FERREIRA, D.; VEIGA, F. Administração oral de peptídeos e proteínas: II. Aplicação de métodos de microencapsulação. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v. 39, n. 1, p. 1-20, 2003. -----------FIM DO CURSO!-----------
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