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NOVAS CONFIGURAÇÕES DE FAMÍLIA: COMO O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE PROMOVE A ASSISTÊNCIA DAS FAMILIAS TRANSGÊNERO NO QUE DIZ RESPEITO À MATERNIDADE?

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NOVAS CONFIGURAÇÕES DE FAMÍLIA: COMO O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE PROMOVE A ASSISTÊNCIA DAS FAMILIAS TRANSGÊNERO NO QUE DIZ RESPEITO À MATERNIDADE?
Bruna Pereira dos Santos¹.
Fª Anagela Carneiro Moreira¹.
Thaís Nogueira Gadelha¹.
Valdecio Mendes Pereira de Sousa¹.
RESUMO:
O presente artigo tem como finalidade promover esclarecimentos no que diz respeito as novas formações de família, sendo abordada as famílias transgênero, a questão da maternidade e a promoção de saúde fornecida a essas famílias pelo Sistema Único de Saúde. Será discutida o conceito e os tipos de família, desde os tempos primórdios até os dias atuais, com suas novas configurações até adentrarmos no devido tema. Discutiremos através entrevistas com pessoas trans, onde eles abordam suas perspectivas de vida, as dificuldades encontradas na questão da mudança, e suas opiniões sobre a assistência dada pelo SUS aos transgêneros na questão da formação da identidade. 
PALAVRAS-CHAVE: Trans; Saúde Pública; Maternidade; Assistência. 
INTRODUÇÃO:
	Entende-se que a família é o agrupamento humano mais antigo que se tem notícia, mas como todo conceito socio-histórico nem sempre possuiu o sentido que conhecemos atualmente. A palavra família vem do latim famulus e significa grupo de escravos ou servos pertencentes ao mesmo patrão. (AUGUSTO, 2018). 
	O fato é que, com o passar dos anos, a sociedade construiu vários padrões de família: patriarcal, onde o homem era o chefe da família e responsável pela tomada de decisões, e que o objetivo dessa família dizia muito mais respeito a condição econômica e social que o amor entre os cônjuges, pois casar era entendido como um negócio que servia para fortalecer a condição financeira e o status social, nesse contexto as moças eram praticamente vendidas por seus pais, muitas vezes casavam-se sem nunca ter visto o marido. 
	Posteriormente vemos nascer a família moderna, onde o imperativo categórico é a felicidade e o amor dos cônjuges, há também a presença da ideia de equidade entre os membros da família extinguindo-se a figura do chefe de família. Ceccarelli (2018) propõe que é dentro dessa mudança filosófica, no que diz respeito a família, que vemos surgir cada vez mais configurações de famílias: monoparentais, homoparentais, adotivas, recompostas, concubinato, temporárias, produções independentes, embriões congelados, procriação artificial, barriga de aluguel, doador de esperma anônimo e, até mesmo clonagem.
	Mas, apesar de percebermos as mudanças ocorridas dentro dos séculos, é bom que se frise que atualmente temos uma dificuldade imensa em definir o que é uma família, pois as mudanças não foram lineares, por isso temos uma variedade de definições sobre o tema, todas respaldadas por questões éticas, morais, ideológicas diferentes. Para o ordenamento jurídico atual, família é, de acordo com o artigo 226, §4º da Constituição Federal, expressada por: “entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por seus pais e seus descendentes.” Apesar de já existir jurisprudências que entendam que a família também/principalmente é formada pelos laços afetivos. Segundo o grupo Vida (2018), o conceito de família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento, parceria sexual, ou adopção. Qualquer grupo cujas ligações sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino comum, deve ser encarado como família.
	Diante disso, pretendemos abordar aqui a família transgênero dentro da sociedade atual, mais especificamente do conceito de maternidade dentro dessas famílias. Para isso, é necessário que entendamos o que é ser transgênero. Transgênero é, segundo o dicionário (2018), o sujeito cuja identidade de gênero (masculino e feminino) é incompatível com aquela atribuída à nascença, identificando-se como pertencentes ao sexo oposto do que possuem tendo sua construção psíquica diferente desta imposição biológica. Ou seja, é quando um indivíduo biologicamente homem, por exemplo, se identifica como mulher, se veste, fala, pensa e sente como tal. 
	Acontece, porém, que como qualquer outro sujeito, os transgêneros amam, namoram, casam e tem filhos. Sim, tem filhos! E dentro desse panorama queremos abordar a questão da maternidade dentro dessa configuração familiar. E para isso surge o questionamento, o que é ser mãe? De acordo com as pesquisadoras Moura e Araújo (2018), o conceito de maternidade é algo construído e não natural das mulheres, parafraseando Simone Beauvoir não se nasce mãe, torna-se mãe. Segundo Labaki (2018), dentro da analise freudiana, a maternidade é uma função que independe do biológico e diz respeito a construção psíquica do sujeito. Ou seja, a maternidade pode ser desempenhada por uma mulher transgênero sem prejuízo algum para a criança.
	Nesse sentido, entendemos que os sujeitos estão sempre atravessados pelo olhar da sociedade, Foucault (1979), em sua obra Microfísica do Poder vai comentar sobre a questão da biopolítica, que é justamente o controle, o olhar disciplinar sob a vida dos sujeitos, tentando enquadrá-los dentro de um padrão, e todo aquele que tenta fugir desse padrão, este é realocado, disciplinado. Então, por mais que essa sociedade tenha o interesse de tentar entender o outro, nós ainda estamos num processo de transição enquanto olhar para o outro, no caso o indivíduo trans.
O poder político da medicina consiste em distribuir os indivíduos uns ao lado dos outros, isolá−los, individualizá−los, vigiá−los um a um, constatar o estado de saúde de cada um, ver se está vivo ou morto e fixar, assim, a sociedade em um espaço esquadrinhado, dividido, inspecionado, percorrido por um olhar permanente e controlado por um registro, tanto quanto possível completo, de todos os fenômenos. (FOUCAULT, 1979).
Após esse aparato inicial, vamos adentrar no tema: promoção de saúde para as famílias transgêneros no que diz respeito à maternidade. Porém, quando falamos em saúde pública, faz-se necessário falar do Sistema Único de Saúde - SUS, que é o responsável pela promoção da saúde da população. Mas antes disso, vamos responder, o que é saúde? Segundo o site Medicina Tropical (2018), para a Organização Mundial da Saúde – OMS, é o mais completo estado biopsicossocial, ou seja, o sujeito é formado por um corpo biológico, um psiquismo e vive dentro de uma sociedade, e todas essas demandas são possíveis de causar adoecimento no sujeito. Além disso, Cueto (2015) explica que o Relatório Lalonde cita quatro fatores que são determinantes primordiais para a saúde da população: o corpo biológico, serviços de saúde, meio ambiente e estilo de vida. Desse modo percebemos que é necessário tratar o corpo dos transgêneros, o psiquismo e a sociedade a qual estes estão vinculados. 
	Dentro dessa análise, trazemos trechos de uma entrevista estruturada feita por meio de redes sociais, para maior comodidade dos entrevistados, de dois homens trans que exemplificam o processo de formação de identidade destes: 
João Theodoro Monteiro, 26 anos:
(...) desde que eu me entendi por gente, 6 anos de idade, eu já sabia que não era menina. Nasci um menino trans pensando hoje, na época que eu tinha essas certezas achava que era louco porque até então nunca tinha escutado falar sobre trans. Emocionalmente e fisicamente pode ser até dividido em 2 fases pra quem já está em transição física que é o meu caso. Antes da transição quando eu tive 100% certeza daquilo que eu era, mas não queria aceitar eu vivia sempre triste, não conseguia me relacionar bem com ninguém, era inseguro, tinha medo de falar com as pessoas, me isolava das pessoas, tinha ansiedade e depressão. (...) meu jeito sempre foi extremamente masculino, meu corpo nunca foi de mulher embora eu ainda não tivesse começado a transição (na época não sabia que era humanamente possível transicionar), um belo dia, vendo um programa de Tv, vi uma reportagem sobre Tarso Brant na Band, foi um choque de realidade, me encontrei ali. Foi a primeira vez que ouvi falar sobre transexuais/transgêneros depois disso comecei uma enorme pesquisa sobre o assunto e busqueio máximo de informação possível e como eu poderia fazer aquilo comigo também , preparei meu psicológico pra tudo que iria acontecer comigo depois, fiz pequenos testes para ter certeza de tudo, ano passado tomei a decisão de tornar isso público porque até então só eu sabia o que se passava , depois de trabalhar muito minha mente consegui externalizar. (...) um belo dia não aguentei mais e comprei hormônios de um cara aqui de Fortaleza que vendia e comecei minha transição física e aqui estou com 3 meses, é uma luta cada dose, sabe? A cada 15 dias tenho que tomar e pra quem toma por conta própria é muito caro! Tenho a sorte de trabalhar ainda. Depois que eu finalmente consegui tornar público isso e dei início ao tratamento hormonal com a T eu transformei minha vida literalmente. Eu consigo dormir, consigo ter uma estabilidade emocional comigo, larguei os vícios que eu tinha. (2018).
Leonardo Oliveira, 18 anos: 
“(...) passei a me reconhecer trans a partir do momento que eu conheci o que é ser trans, lá pros meus 14/15 anos. Até então eu sabia que era diferente de tudo que conhecia, mas não sabia ao certo o que era isso. (...) nesse período de se auto conhecer, eu comecei a observar o meu corpo de modo diferente, sabe? E mesmo com as curvas eu o via como um corpo de homem e ponto, também passei a me observar mais, ver diferenças com o passar do tempo, e por aí vai. E meu emocional que já era uma montanha russa só piorou depois disso, tinha dias que eu acordava me sentindo maravilhoso, outros que eu não queria nem levantar da cama... mas com o passar do tempo eu fui entendendo que meu corpo estranho nada tem a ver com o que dizem que é ser homem por aí e hoje lido muito melhor com essas questões, sinto uma liberdade maior até mesmo no meu modo de se vestir. (...) me sinto zero assistido pelo SUS, tanto que me hormonizo sozinho. (...) sobre a maternidade em famílias trans eu acho lindo demais! E admiro muito quem tem vontade e coragem pra isso. E pra ser sincero eu duvido que o SUS esteja preparado pra atender essa demanda, ele não atende nem mesmo nossas demandas mais básicas, mais baratas e etc. ” (2018).
	Uma entrevista coletada do jornal Portal 21, cujo tema fora “Casal de transgêneros dá à luz um filho em Porto Alegre” (2015), abordou suscintamente como se deu o nascimento de uma criança de pais transexuais, analisando como se deu o processo de atendimento médico e de registro do recém-nascido no cartório. O caso ocorreu em 2014, quando Helena Freitas, de 26 anos e Anderson Cunha, de 21, após 1 ano de relacionamento estável, tiveram um filho concebido naturalmente. 
	Helena relata ter sido bem acolhida no Hospital Fêmina, instituição pública escolhida pelo casal para o parto. “Fui muito bem recebida. No início, achei que não me deixariam assistir ao parto do meu filho, porque no dia a dia sempre temos que explicar o que somos, como somos e como nos relacionamos. No hospital, não precisou nada disso. Consegui ver tudo de perto. Foi emocionante. ”
	Porém, não é sempre que se vê uma boa assistência por parte dos órgãos púbicos, sobretudo o de saúde. Como foi visto na matéria de Mori (2018), a estudante técnica de Enfermagem Kauana Vitória da Silva, de 22 anos, sofria com dores no corpo e febre causados por complicações de uma prótese de silicone, colocada no seio há dois anos. Diagnosticada com mastite – infecção na mama –, ela, que é transexual, afirma ter sido constrangida por médicos e outros funcionários, que a chamavam de “ele” e recusavam-se de chama-la por seu nome social. 
Eles me trataram que nem bicho. Aliás, nem bicho a gente trata assim. Voltei para casa com febre e muitas dores no peito — conta Kauana, que relembra o constrangimento: — Sempre que me chamavam por Genivaldo as pessoas me olhavam e eu tinha que explicar. (MORI, 2018).
	Ademais, constata-se que o serviço público de saúde da família não acolhe em sua hegemonia pessoas trans, tendo casos de preconceito e desdém com o sujeito. A entrevista que fizemos com homens trans mostram que eles não se sentem representados pelo Sistema Único de Saúde, principalmente falando sobre questões de família e maternidade, tema esse que é tão pouco discutido na sociedade. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	Neste artigo foi abordado a questão da assistência da saúde pública as famílias transgênero com relação a maternidade, e foi percebido que, existe um aparato do governo, embora não seja acessível a todos precisando ser melhorada. Alguns médicos não possuem a sensibilidade de compreender a questão da maternidade nos transgêneros, onde por exemplo, um trans homem que toma hormônios, mas ao mesmo tempo possui o aparelho reprodutor feminino, podendo assim, gerar um feto, mas ao mesmo tempo ser o “pai social” dessa criança. Sendo assim, ainda há uma carência na assistência já que não abrange a todos de forma homogênea e em alguns casos, a falta de compreensão de alguns profissionais da área da saúde que não entendem ou não respeitam as decisões dessas pessoas gerando um desconforto e até mesmo um afastamento, resultando na falta de procura pela assistência pública por medo da humilhação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AUGUSTO, Luis Fernando. A evolução da ideia e do conceito de família. Disponível em: <https://advocaciatpa.jusbrasil.com.br/artigos/176611879/a-evolucao-da-ideia-e-do-conceito-de-familia>. Acesso em: 07 maio 2018.
CASAL DE TRANSGÊNEROS DÁ À LUZ UM FILHO EM PORTO ALEGRE. Caxias do Sul: Portal 21, 13 jul. 2015. Disponível em: <http://portal21.com.br/eventos/casal-de-transgeneros-da-a-luz-um-filho-em-porto-alegre/>. Acesso em: 08 maio 2018.
CECCARELLI, Paulo Roberto. Novas configurações familiares. Disponível em: <https://www.sescsp.org.br/online/artigo/9469_NOVAS+CONFIGURACOES+FAMILIARES>. Acesso em: 06 maio 2018.
CUETO, Marcos. Atenção rimária à saúde. In: CUETO, Marcos. Saúde Global: uma breve história. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2015. p. 53-75.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro, Graal, 1979.
LABAKI, Maria Elisa Pessoa. Ter filhos é o mesmo que ser mãe? Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352007000100006>. Acesso em: 06 maio 2018.
MORI, Daniel. Denúncia de negligência no SUS. Disponível em: <https://transexuaissp.com.br/tag/descaso/>. Acesso em: 08 maio 2018.
MOURA, Solange Maria Sobottka Rolim de; ARAÚJO, Maria de Fátima. A Maternidade na História e a História dos Cuidados Maternos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v24n1/v24n1a06.pdf>. Acesso em: 06 maio 2018.
PORTUGUÊS, Dicionário Online de. Significado de Transgênero. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/transgenero/>. Acesso em: 06 maio 2018.
TROPICAL, Medicina. Conceito de Saúde segundo a OMS. Disponível em: <http://www.alternativamedicina.com/medicina-tropical/conceito-saude>. Acesso em: 06 maio 2018.
VIDA, Grupo de Trabalho da Violência Ao Longo do Ciclo de. Família como Sistema. Disponível em: <http://www2.arsalgarve.min-saude.pt/saudeeviolencia/exemplo/images/conteudos/2_2_1_pdf1_familia_como_sistema.pdf>. Acesso em: 06 maio 2018.
¹ Aluno (a) de Psicologia do Centro Universitário 7 de Setembro – UNI7, 3º semestre.

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