Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE À DISTÂNCIA PAULA CRISTINA HADAS DE OLIVEIRA RODRIGUES DESENVOLVIMENTO E MUDANÇAS NO ESTADO BRASILEIRO Desenvolvimentismo no Governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira CRUZEIRO DO OESTE/PR 2018 2 Capítulo 1 1.1. Introdução O presente capítulo visa contextualizar historicamente os principais fatos ocorridos durante o Governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, traz os objetivos que permeiam este estudo, sua justificativa, aspectos inerentes à metodologia de estudo conforme segue. Em 31 de janeiro de 1956, tomava posse na presidência do Brasil Juscelino Kubitschek de Oliveira, com seu “Plano de Metas”, criado por um órgão encarregado de traçar a estratégia de desenvolvimento para ao país, o Conselho de Desenvolvimento, órgão diretamente subordinado ao presidente. O lema da campanha e da administração do governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK) era “50 anos em 5”, propondo um grande desenvolvimento do país (50 anos de progresso) em um curto período de tempo (05 anos de realizações, com pleno respeito às instituições democráticas). Ou seja, pretendia-se elevar o Brasil a categoria de país desenvolvido, apoiado, principalmente, em três setores essenciais da economia: indústria, transporte e energia. Para cumprir a promessa, foi elaborado o chamado Plano de Metas (30 metas), um programa de governo que previa a distribuição de investimentos para os setores considerados fundamentais. Na última hora o plano incluiu mais uma meta, a 31ª, chamada de meta-síntese: a construção de Brasília e a transferência da capital federal, o grande desafio de JK. As 30 metas setoriais foram agrupadas em cinco principais áreas: energia, transportes, alimentação, indústria de base e educação. “A diretriz da política econômica desenvolvimentista do Governo JK está voltada à consolidação da industrialização brasileira” (BRUM, 1991:95). 1.2. Tema da pesquisa Desenvolvimento e Mudanças no Estado Brasileiro - Desenvolvimentismo no Governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira. 1.3. O problema O problema central desta pesquisa é mostrar quais foram às consequências do Plano de Metas, dentre as cinco áreas supracitadas, o setor industrial e seu desenvolvimento na economia brasileira. 1.4. Objetivos 3 1.4.1. Objetivo Geral Identificar as consequências do Plano de Metas no setor industrial para o desenvolvimento da economia brasileira, tomando como base o período 1956/1961. 1.4.2. Objetivos Específicos - Explanar brevemente a situação da indústria brasileira no pós-guerra; - Relacionar a aplicação do Plano de Metas do governo JK e as consequências; - Com base no Plano de Metas, mostrar o desenvolvimento econômico brasileiro. Justificativa (Tema e Problema) Neste estudo buscou-se identificar as consequências da implantação do Plano de Metas no setor industrial durante o Governo JK. Capítulo 2 No referencial teórico, no que tange a doutrina econômica, citam-se as principais teorias econômicas entre os séculos XVIII e XIX. As diversas transformações que marcaram a Europa e o continente americano possibilitaram o surgimento de novas concepções preocupadas em dar sentido ou teorizar a rápida ascensão do sistema capitalista. Para tanto, vários pensadores buscaram negar, reformar ou legitimar as novas relações de ordem social, econômica e política que ganhavam fôlego no mundo. Observa-se que John Maynard Keynes, assim como Marx, marcará de modo mais acentuado a ciência econômica moderna, revelando os itens fundamentais acerca da acumulação de capital e do desenvolvimento proporcionado pelos diversos interesses das classes sociais. Nas décadas de 1950 e 1960, o sucesso da economia keynesiana foi tal relevância que quase todos os governos capitalistas adotaram suas recomendações. A influência na política econômica declinou a partir da década de 1970, quando o neoliberalismo colocou em dúvida a capacidade do Estado de regular a economia via políticas fiscais. No livro Keynes, crise e política fiscal (Editora Saraiva), Rodrigues Afonso mostra que, longe de ser um defensor da "gastança", Keynes defendeu o aumento do gasto público em investimento como a melhor alternativa e, recorreu ao Estado tanto para remediar a crise quanto para preveni-la. Reconhecendo mais tarde, que mesmo aquela saída emergencial era a melhor alternativa. 4 Segundo Keynes, quando algo provoca desequilíbrio no mercado, ocasionando a retração do nível de consumo e/ou investimento por parte dos agentes privados, o Estado deve intervir na economia em grau e em áreas tão diversas quanto necessário seja como forma de evitar o desemprego e garantir o estado de bem-estar social. Keynes propôs a intervenção do Estado como forma de defesa da livre iniciativa; defendia a maior atuação estatal nos assuntos da economia por entender que, em determinadas ocasiões, essa seria o único meio disponível para evitar a quebra do sistema capitalista e garantir o funcionamento da livre iniciativa. Aceitava a intervenção do governo tão somente como uma forma de suplementar a insuficiência conjuntural da demanda do setor privado, porém, rejeitava a propriedade estatal dos meios de produção e o Estado como agente produtor, quando afirmava que “não se vê nenhuma razão evidente que justifique um socialismo de Estado abrangendo a maior parte da vida econômica da Nação. Não é propriedade dos meios de produção que convém ao Estado assumir”. O economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) foi invocado, inclusive, como inspirador das políticas e medidas adotadas por vários governos – até mesmo no Brasil - no enfrentamento da crise econômica iniciada em 2008, especialmente as que envolveram intervenção direta na economia e maior regulação. A Escola Neoclássica; por sua vez, formada a partir da teoria de distribuição da renda, e preponderante a partir de 1970 e na Primeira Guerra Mundial, também conhecida como Escola Marginalista, fundamenta-se na oferta e demanda de cada fator de produção, que interage no mercado a fim de determinar o equilíbrio da produção, da renda e sua distribuição. A demanda dos fatores, por sua vez, incorpora a relação de produtividade marginal daquele fator no mercado dos fatores produtivos. A análise se aplica não só para capital e terras, mas também a distribuição de renda nos mercados de trabalho (Hicks, 1963). Numa economia perfeitamente competitiva, o equilíbrio de mercado resulta em eficiência de alocação no que tange ao mix de produção e em eficiência distributiva no mix mais barato de fatores de produção. O modelo de crescimento neoclássico fornece uma explicação de como a distribuição de renda entre capital e trabalho é determinada em mercados competitivos no nível macroeconômico ao longo do tempo com mudanças tecnológicas e mudanças no tamanho do estoque de capitais e força de trabalho. Desenvolvimentos mais recentes da distinção entre capital humano e capital físico e entre capital social e capital pessoal tem aprofundado a análise da distribuição. 5 Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Ignácio Rangel, Pedro Malan, José Serra, John Wells, dentre outros, desenvolveram uma rica discussão sobre a desaceleração do processo de substituição de importações, investigando a validade dos modelos de industrialização tardia, característicos dos países subdesenvolvidos na década de 50/60.Furtado e Rangel formularam propostas de políticas alternativas, enquanto os demais desenvolveram suas análises mais profundas após a retomada do crescimento econômico. Para Furtado, o desenvolvimento econômico experimentado pela importação de plantas industriais forjadas no primeiro mundo, não atendia aos interesses da população dos países importadores subdesenvolvidos. Segundo Bielschowski, Furtado contestou as interpretações convencionais sobre desequilíbrio externo, isto é, as teorias que identificam suas causas no processo inflacionário. Refutou também a ideia de que a constância do déficit externo em países subdesenvolvidos correspondia a uma contrapartida da pressão permanentemente excessiva de investimentos sobre poupança. Argumentava que, em estruturas subdesenvolvidas com amplo desemprego, era normal a ocorrência de déficits dissociados da inflação, uma vez que a capacidade para importar não se expandia de acordo com as exigências do desenvolvimento econômico. Para suprimir a tendência ao desequilíbrio monetário seria necessário praticar uma política desenvolvimentista que tornasse flexível a oferta. Por conta disso, considerava as políticas monetárias sem efeito porque o desequilíbrio se manifestaria a cada nova fase do crescimento do sistema e também por entender que as medidas recessivas diminuem investimentos estratégicos e provocam sobre capacidade na significativa parcela da economia que não sofre rigidez de oferta. Assim, para Bielschowski, Furtado acreditava que as preocupações com a estabilidade, embora fossem importantes, deveriam ficar subordinadas ao objetivo maior, que era o desenvolvimento econômico. Cabe agora falar da Corrente Neoliberal, que juntamente com a corrente desenvolvimentista nacionalista, foi a mais importante expressão do pensamento econômico brasileiro entre 1930 e início da década de 1960. Os economistas neoliberais eram favoráveis à defesa do sistema de mercado, tido como fórmula básica da eficiência de mercado. Segundo Bielschowski, esses economistas eram liberais, entretanto, o prefixo “neo” advém do reconhecimento de uma nova realidade pós-1930, marcada pela necessidade de alguma intervenção estatal para sanear as imperfeições de mercado que afetavam economias subdesenvolvidas como a brasileira. 6 A corrente neoliberal se caracterizava por três aspectos fundamentais: defendiam a redução da intervenção do Estado na economia do país; eram a favor de políticas de equilíbrio monetário e financeiro; e não propunham medidas de suporte ao projeto de industrialização, sendo contrários a essas medidas frequentemente. Os economistas mais influentes dessa corrente eram Eugênio Gudin, Daniel de Carvalho, Octávio Gouveia de Bulhões, Denio Nogueira e Alexandre Kafka. Apesar da caracterização da corrente pelos pontos citados acima, não havia consenso em relação ao grau mínimo de intervenção desejado. Entretanto, era praticamente consenso a necessidade de o governo exercer alguma forma de controle sobre o comércio exterior, por conta dos problemas decorrentes das características da oferta e demanda internacionais de produtos primários. Aceitavam também o apoio do governo a setores básicos da economia, como educação, saúde e assistência técnica à agricultura. Porém, não havia consenso sobre como o governo deveria suprir apoio financeiro às atividades econômicas de infraestrutura, concordando apenas que o governo não deveria realizar nenhum investimento direto nessa área. Para isso, concordavam que o capital estrangeiro era mais adequado. De maneira sucinta, de acordo com Bielschowski, Gudin afirmava que a política econômica necessária para acelerar o desenvolvimento econômico em países desenvolvidos como o Brasil residia em dois fatores: a defesa da estabilidade monetária e cambial e garantir o funcionamento dos mecanismos de mercado, a fim de que se possa conservar o sistema econômico no caminho da máxima eficiência; e, o reconhecimento das características estruturais do sistema que exigem alguma intervenção governamental para garantir a estabilidade e a eficiência desejadas. Para Eugênio Gudin o principal instrumento de desenvolvimento era a livre movimentação das forças de mercado. Para isso acontecer seria necessário preservar o equilíbrio monetário e cambial e evitar a intervenção estatal sobre o mecanismo de preços. Em relação à industrialização, acreditava que esta deveria ser lenta e progressiva, absorvendo a mão-de-obra que viesse a se tornar excedente em função do progresso técnico na agricultura. Segundo Gudin, apenas dois recursos legítimos para reforçar a capacidade corrente de investir: a estruturação de um sistema financeiro e atração de capitais estrangeiros. Dentre as opções, ele era bastante a favor do último, porém cético quanto à eficácia do primeiro. Sua preocupação, entretanto, se limitava à questão da política de controle monetário e cambial, não estudando a organização de um mercado de capitais. Acreditava que este mercado não teria sucesso por causa da inflação no país. 7 O capitalismo representou, no Brasil, uma ruptura nas antigas estruturas colônias, pois o capital industrial não possui a mesma lógica do capital comercial. Foram necessárias várias alterações na estrutura econômica nacional. Capítulo 3 3.1. Procedimentos Metodológicos O presente trabalho desenvolver-se-á através de uma abordagem qualitativa exploratória, com objetivos descritivos históricos. Para tanto, realizar-se-á uma análise econômica do Brasil e de temas relevantes acerca da problemática imposta. Para tanto, serão utilizados como base para a pesquisa, livros, periódicos, base de dados e outras fontes que contenham informações sobre o assunto. Estudaremos acerca do governo de JK, a situação econômica brasileira à época; bem assim, o Plano de Metas, evidenciando suas consequências para a industrialização brasileira no período que o sucede. No primeiro capítulo são apresentados os objetivos, justificativas e bases norteadoras do estudo com a proposta de descrever brevemente acerca do governo de JK. No capitulo dois, será demonstrada a situação econômica da indústria brasileira antes do Plano de Metas. No capitulo três, ratificará o objetivo geral deste trabalho acerca da industrialização brasileira dentro do Plano de Metas entre 1956 – 1961. O capítulo quatro, por sua vez, será apresentado o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. A recuperação do conteúdo deste projeto de pesquisa, do percurso realizado e das descobertas mais significativas, será o objeto da conclusão, apresentado no capítulo 5. Capítulo 4 4.1. Governo JK Apoiado pelo Partido Social Democrático (PSD) e pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o médico e político mineiro Juscelino Kubitschek venceu as eleições 8 de 1955, tomando posse em 31 de janeiro de 1956, se tornando o 20° Presidente da República do Brasil e, tendo como vice-presidente João Goulart, líder do PTB. Assim deu-se início a sua campanha presidencial, prometendo fazer o país crescer “50 anos em 5”. Esse ideal desenvolvimentista foi consolidado num conjunto de 30 objetivos a serem alcançados em diversos setores da economia, que se tornou conhecido como Programa ou Plano de Metas. O qual estudaremos de forma mais profunda no capítulo três desse trabalho. O programa de governos dos candidatos da chapa PSB-PTB, organizado com o auxílio de uma equipe de técnicos, foi batizado com o nome de Plano de Metas e representava um audacioso plano de desenvolvimento nacional, que acabou sendo cumprido à risca: eleitos, JK e Jango pretendiam imprimir ao Brasil, em cinco anos de mandato, umritmo de crescimento industrial equivalente há 50 anos. (COHEN, 2005:95) O apoio dos dois maiores partidos da época foi importante pelo fato de ter proporcionado uma estabilidade política talvez nunca antes vista até então e uma plena governabilidade, o que de fato foi essencial para a implementação de seus grandes projetos. O governo Juscelino foi marcado pela sua prioridade ao desenvolvimento econômico. Com o fim de acelerar a industrialização e dinamizar a economia brasileira, Juscelino procurou realizar uma série de investimentos em áreas estratégicas, como na construção de estradas, portos, hidrelétricas, siderúrgicas, aeroportos e outras obras de infraestrutura. Além disso, pensava que uma economia não se desenvolveria sem a participação do capital estrangeiro, fato que levou o governo a permitir a entrada de multinacionais e seus investimentos no mercado brasileiro, com destaque para as grandes montadoras de automóveis. O novo presidente criou uma agenda progressista baseada num programa de obras públicas, denominada de Plano de Metas. Durante o governo de JK o PIB brasileiro cresceu 47,5%, o que correspondia a uma média anual de 8,08%. Contudo, este bom desempenho da economia foi acompanhado de um forte crescimento da inflação e de um descontrole das contas públicas. Diante deste cenário, no final do governo, a inflação anual ultrapassou 30% e o déficit público superou 25% das receitas. Além do crescimento econômico, o governo de JK promoveu uma forte mudança na estrutura produtiva do país. No início do governo JK, o setor agropecuário 9 era responsável por 23,5% do PIB e o setor industrial por 25,6% do PIB. Ao fim do governo, a participação do setor industrial no PIB tinha subido para 32,2% e a do setor agropecuário havia recuado para 17,8%. Esses números mostravam que o Brasil passou por um forte processo de industrialização, durante os cinco anos de governo JK. O modelo que deu sustentação ao crescimento do setor industrial foi aquele proposto pelos membros da Escola Cepalina, qual seja: industrialização via substituição de importações, com financiamento externo e forte presença do setor público. No Brasil, o órgão que melhor incorporou o pensamento da Escola Cepalina foi o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em julho de 1955. A proposta nacional-desenvolvimentista, defendida pelo ISEB, foi amplamente utilizada nos discursos de JK. Uma das propostas do ISEB, incorporada pelo governo, foi a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em dezembro de 1959. O governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1964) elaborou como base de seu mandato o Plano de Metas. Em termos gerais eram 5 (cinco) grandes metas: transportes, energia, educação, indústria e alimentos. No setor industrial a ideia era realizar a substituição de importações com incentivos fiscais e tributários. Tal política governamental atraiu várias multinacionais europeias, estadunidenses e japonesas para se instalarem no Brasil. As indústrias de bens de consumo duráveis, como as automobilísticas, lideraram o processo de industrialização do mencionado período. Empresas como a Volkswagen, General Motors, Ford e Toyota começaram a produzir automóveis nacionais no Brasil. A industrialização brasileira se expandiu e se aprofundou. O governo de Juscelino Kubitschek criou as CDI’s (Comissões de Desenvolvimento das Indústrias) para estudar, analisar e demonstrar o real potencial industrial do Brasil. A conclusão de tal comissão foi amplamente positiva e favorável ao Brasil. Verificou-se que o Brasil possuía amplo potencial de crescimento industrial e de desenvolvimento de vários setores industriais. Assim, o governo de Juscelino Kubitschek decidiu criar um plano de incentivo para as exportações. 4.2. Situação Econômica da Indústria Brasileira antes do Plano de Metas 10 Para compreendermos como a economia brasileira se desenvolveu é importante entendermos a evolução econômica do Brasil nos períodos anteriores à década de 1950. A História do Brasil iniciou dentro da lógica de acumulação primitiva de capital, onde a economia brasileira era apenas uma extensão portuguesa na América. A ocupação portuguesa se deu através da exploração de produtos tropicais, num primeiro momento com a exploração e retirada do pau-brasil, depois desenvolvendo a economia açucareira. Até o século XVIII a forma de capital que dominou a economia mundial era o capital comercial, somente na virada para o século XIX o capital industrial se desenvolverá hegemonicamente. Havendo a quebra definitiva do Pacto Colonial, levando os Impérios Ibéricos ao declínio. As metrópoles tornam-se parasitas das colônias. Pois como afirmou Caio Prado Junior “o antigo sistema colonial, fundado naquilo que se convencionou chamar Pacto Colonial, e que representa o exclusivismo do comércio das colônias para as respectivas metrópoles, entra em declínio” (PRADO JUNIOR, 2006). Isso foi fundamental na ascensão da Inglaterra sobre o Brasil, os ingleses que se encontravam num estágio econômico bem mais avançado em relação aos portugueses, pois o mercantilismo português, uma forma de acumulação pré- capitalista, havia sido superado pelo capitalismo, sendo que a Inglaterra vivia o período de transição entre o capital comercial e o capital industrial. Os resultados destas mudanças não deixaram de contribuir para o desenvolvimento econômico brasileiro (PRADO JUNIOR, 2006). Com o advento do capital industrial foram necessárias mudanças nas estruturas econômicas coloniais, foi preciso estimular o comércio interno que só poderia existir com o surgimento de uma classe de trabalhadores livres, ou seja, não havia lugar para a mão-de-obra escrava ou servil no país. Tornava-se cada vez mais onerosa a imobilização de capitais representada pela aquisição de escravos e o surgimento de uma classe de trabalhadores livres era essencial para o desenvolvimento do capitalismo. Também era necessária a criação de um campesinato livre e de uma classe proletária, que garantissem a base para o surgimento no Brasil de uma burguesia nacional capaz de romper com a hegemonia oligárquica agroexportadora. Durante o Segundo Império o país se caracterizou pela ascensão da burguesia, surgiram e se consolidaram durante este século os ideais burgueses no Brasil. A grande transformação se deu na revolução da distribuição das atividades produtivas (PRADO JUNIOR, 2006). O renascimento agrícola que fora impulsionado pela 11 Abertura dos Portos e, posteriormente, pela emancipação política, desencadeou o processo de consolidação dos ideais liberais no Brasil. A crise do açúcar levou a decadência da força política das oligarquias do norte e nordeste. O sudeste foi favorecido com a cultura do café, artigo que encontrava grande mercado na Europa, os cafeicultores iniciaram um período de acumulação de capitais ainda não visto no país. Mas foi esta classe e com estes ideais que levaram a pressão pela abolição e a recrutar- se mão-de-obra na imigração europeia. Estas transformações elevaram o Estado de São Paulo à dianteira econômica nacional. O país entrou em franca prosperidade e ativação econômica. Esta nova aristocracia ao contrário das anteriores passou a reinvestir capitais, principalmente na nascente indústria brasileira, pois o café era o produto que permitiria ao país reintegrar-se nas correntes em expansão do comércio mundial. Celso Furtado afirma que quando foi concluída sua etapa de gestação, “a economia cafeeira encontrava-se em condições de autofinanciar sua extraordinária expansão subsequente, estavam formados os quadros danova classe dirigente que lideraria a grande expansão cafeeira”. (FURTADO). Os cafeicultores paulistas eram os principais responsáveis pelo desenvolvimento econômico nacional. Neste período a economia brasileira estava completamente dependente da renda da exportação do café. Os cafeicultores formavam uma nova elite nacional, responsável por um significativo acúmulo de capitais. Capitais estes que foram revertidos numa indústria de bens de consumo para trabalhadores. O investimento industrial dos cafeicultores foi principalmente na indústria têxtil (CATANI, 1984). A partir disto o Brasil passou a experimentar um grande surto industrial, onde o país se urbanizou. Foram instaladas centenas de fábricas, bancos, companhias de navegação e companhias ferroviárias. O financiamento em geral veio do capital cafeeiro e do capital financeiro internacional. O papel do Estado era o de fornecer a infraestrutura para tais investimentos. No inicio do século XX, a indústria nacional passou intensificou o processo de substituição das importações. Segundo o brasilianista Warren Dean, a origem da indústria brasileira se deu dentro do mercado importador e exportador, tanto os fazendeiros quando os importadores tornam-se os primeiros industriários brasileiros, porém sem deixarem sua atividade original. No caso dos fazendeiros, em geral, seus investimentos industriais se davam dentro do beneficiamento das matérias-primas que produziam nas fazendas, o que lhes garantia a valorização dos mesmos (DEAN, 1975, p. 268-269). Contribuiu para isso o fato de o alto custo do transporte marítimo, que 12 possibilitou a produção nacional de uma variedade de manufaturas para qual existiam matérias-primas: materiais de construção como telhas, tijolos, produzidos perto do local da construção. As fábricas de tecidos de algodão logo e tornaram um grande setor da indústria brasileira, como a de refrigerantes e cerveja engarrafados e a produção da própria garrafa (DEAN, 1975, p. 256). O capitalismo não se desenvolveu naturalmente no Brasil, antes foi imposto pela associação das classes dirigentes nacionais e o capitalismo internacional. Sendo que as classes dirigentes brasileiras sequer formavam uma burguesia nacional coesa, eram, na verdade, representantes de grandes oligarquias rurais que defendiam tão somente seus próprios interesses. A associação destes grupos nacionais se realizou com o capitalismo em sua fase imperialista, ou seja, tratava-se da associação da oligarquia brasileira com o capital industrial e o capital financeiro europeu. O país ficou imerso às regras deste novo modelo. O modelo de desenvolvimento imposto ao Brasil previa que o país passasse pelos mesmos estágios que os países de capitalismo adiantado já haviam passado. Na impossibilidade de se desenvolver autonomamente, coube ao Brasil queimar etapas, dando saltos desenvolvimentistas para acompanhar seus parceiros mais desenvolvidos. O país iniciou um oneroso processo de modernização e industrialização. Na condição de periferia do sistema mundial, coube ao Brasil somente uma forma de mudança das estruturas econômicas, estas modificações estruturais envolveram a necessidade de queimar etapas no processo de desenvolvimento da industrialização no país, para modernizar a economia nacional, o que se fez possível somente com o advento da República. Foram instaladas indústrias, construíram-se estradas de ferro, modernizaram-se os portos e fundaram-se bancos, porém, à custa de grande dívida contraída aos financistas europeus. A reestruturação tratou de apressar o processo de transformação, realizando a reforma estrutural necessária à economia brasileira, transformação inserida na nova realidade internacional, o país tornou-se definitivamente capitalista. O capitalismo representou, no Brasil, uma ruptura nas antigas estruturas colônias, pois o capital industrial não possui a mesma lógica do capital comercial. Foram necessárias várias alterações na estrutura econômica nacional. Em primeiro lugar a reestruturação teve que partir da alteração da mão-de-obra, como a viabilização e criação de um proletariado, o que inviabilizava a existência do trabalho servil. Este problema, como vimos, foi parcialmente resolvido com a abolição da escravatura e, posteriormente, com as imigrações europeias. 13 Arias Neto afirma que em sua maioria a população de ex-escravos não se viu na necessidade de transformar-se em força de trabalho, a solução foi buscada na imigração europeia (ARIAS NETO, 2003, p.201-202). Em segundo lugar, existe a necessidade de mercados consumidores. Problema que foi resolvido, em parte, com a quebra dos monopólios comerciais e com a restrição das importações, que foi possível com a implantação de uma indústria nacional de bens de consumo (CATANI, 1984). Estas alterações atingiram diretamente as antigas aristocracias, principalmente do norte e nordeste, que viram seu poder econômico reduzido, por isso tornaram-se, em grande parte, os opositores do novo sistema (PRADO JUNIOR, 2006). Porém, apesar das transformações ocorridas, a economia nacional manteve-se refém do mercado externo, tanto na necessidade de exportação, principalmente de bens primários como o café, como das importações de produtos sofisticados e da indústria pesada (CATANI, 1984). Nas palavras de Amado Luiz Cervo, o desenvolvimentismo foi de suma importância no Brasil. E assim o é, porque o desenvolvimento industrial brasileiro gerou em um grande êxodo rural, os centros urbanos cresceram enormemente, possibilitando o surgimento uma grande massa de trabalhadores assalariados. Nascendo, assim, nos centros urbanos, um grande exército de mão-de-obra de reserva. Estas transformações foram acompanhadas por novas demandas populares parcialmente sanadas com as Leis Trabalhistas de Vargas. A crise gerada pelo final da Segunda Guerra Mundial forjou “as forças e fatores renovadores que desvendam largas perspectivas, para a reestruturação da economia brasileira” (PRADO JUNIOR, 2006, p.342). A reestruturação trata de apressar o processo de transformação, realizando a reforma estrutural necessária a economia brasileira, transformação inserida na nova realidade internacional (PRADO JUNIOR, 2006). Para estas transformações serem possíveis foi imprescindível a participação do capital estatal, principalmente investindo em infraestrutura e na indústria de base. 4.3. Industrialização do Brasil Durante o governo JK, surgiram no Brasil, principalmente, indústrias de produção de bens de consumo básicos e, a industrialização ainda não era considerada forte uma vez que não existiam indústrias de bens de produção. 4.3.1. Origem 14 A industrialização iniciou-se como forma de efetivar a acumulação de capital, já que o recurso disponível seria abrir as portas do país para o investimento de capital estrangeiro. O período era favorável para este tipo de investimento, já que com o fim da Segunda Guerra Mundial os países voltavam a desenvolver e as empresas a se internacionalizar. O processo industrial trouxe ao Brasil não só uma capacidade produtiva capaz de atender às necessidades básicas da sociedade; mas também, criou um mercado complexo de consumo. O governo JK possibilitou um crescimento econômico acelerado; porém, contrariamente, criou disparidades regionais e elevados índices inflacionários, gerando insatisfação da população. 4.3.2. Desenvolvimento A prioridade dada pelo governo ao crescimento e desenvolvimento econômico do país recebeu apoio de importantes setores da sociedade, incluindo os militares, os empresários e sindicatos trabalhistas. O acelerado processo de industrializaçãoregistrado no período, porém, não deixou de acarretar uma série de problemas de longo prazo para a econômica brasileira. O governo realizava investimentos no setor industrial a partir da emissão monetária e da abertura da economia do capital estrangeiro. A emissão de papel moeda ocasionou um agravamento inflacionário, enquanto que a abertura da economia ao capital estrangeiro gerou uma progressiva desnacionalização econômica, porque as empresas estrangeiras (as chamadas multinacionais) passaram a controlar setores industriais estratégicos da economia nacional. O controle estrangeiro sobre a economia brasileira era preponderante nas indústrias automobilísticas, de cigarros, farmacêutica e mecânica. Em pouco tempo, as multinacionais começaram a remeter grandes remessas de lucros aos seus países de origem. Esse atitude era ilegal, mas as multinacionais burlavam as próprias leis locais. Portanto, se por um lado o Plano de Metas alcançou os resultados esperados, por outro, foi responsável pela consolidação do capitalismo extremamente dependente que sofreu muitas críticas e acirrou o debate em torno da política desenvolvimentista do governo de JK. 4.3.3. Crise 15 A política de JK, que era de base econômica desenvolvimentista, apresentou vários pontos positivos, mas também alguns negativos para o Brasil, como a entrada de grandes empresas, empregos foram gerados, contudo o país acabou ficando muito dependente do capital externo. A zona rural foi deixada de lado com o investimento na industrialização nas capitais, algo que prejudicou bastante os trabalhadores do campo e a produção agrícola. Brasília foi uma ótima ideia, contudo a dívida externa deixada por essa obra cresceu significativamente. Problemas com a migração e o êxodo rural descontrolados fizeram a pobreza e violência aumentarem consideravelmente. Nas palavras de SUZIGAN, relativamente ao desenvolvimento industrial brasileiro, pode-se interpretar a partir da base agrícola-exportadora. Assim, a teoria dos choques adversos argumenta que a industrialização começou como uma resposta às dificuldades impostas às importações pelos choques da Primeira Guerra Mundial, da Grande Depressão da década de 1930 e da Segunda Guerra Mundial. Por sua vez, a industrialização liderada pela expansão das exportações pressupõe a existência de uma relação linear entre a expansão do setor exportador (principalmente do café) e a industrialização; de acordo com essa interpretação, o crescimento industrial ocorria durante períodos de expansão dessas exportações e era interrompido pelas crises no setor exportador, as guerras e a Grande Depressão da década de 1930. Assim, a interpretação baseada no desenvolvimento do capitalismo no Brasil ou o “capitalismo tardio”, propõe que o crescimento industrial se deu como parte do processo de desenvolvimento do capitalismo em nosso país. De acordo com essa escola de pensamento, a acumulação de capital industrial ocorreu juntamente com a acumulação de capital no setor exportador de café, nos períodos de expansão das exportações. Segundo Baer (2003) um grande problema foi o aumento da inflação que por um momento desempenhou um papel positivo na realocação dos recursos a fim de apoiar o impulso da industrialização, suas taxas alcançaram níveis incontroláveis no início da década de 60 que, qualquer contribuição para o desenvolvimento por parte de um mecanismo de poupança compulsória era dominado pelos efeitos das distorções produzidas pela inflação. No início dos anos 60, era completa a predominância no Brasil do sistema monetário conjuntos dos ativos financeiros em poder do público não bancário. 16 Ineficiente o sistema financeiro, o aumento do crédito dependia basicamente da expansão primária dos meios de pagamento (SUZIGAN 1974, p. 171). 4.4. Plano de Metas O lema da campanha e da administração do governo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK) era “50 anos em 5”, propondo um grande desenvolvimento do país (50 anos de progresso) em um curto período de tempo (05 anos de realizações, com pleno respeito às instituições democráticas). Ou seja, pretendia-se elevar o Brasil a categoria de países desenvolvidos, apoiado, principalmente, em três setores essenciais da economia: indústria, transporte e energia. Para cumprir a promessa, foi elaborado o chamado Plano de Metas (30 metas), um programa de governo que previa a distribuição de investimentos para os setores considerados fundamentais. Na última hora o plano incluiu mais uma meta, a 31ª, chamada de meta-síntese: a construção de Brasília e a transferência da capital federal, o grande desafio de JK. O Plano de Metas tinha como principal objetivo o desenvolvimento econômico do Brasil, pautado em um conjunto de medidas que atingiria o desenvolvimento econômico de vários setores, priorizando a dinamização do processo de industrialização do Brasil. Mencionava cinco setores básicos da economia, abrangendo várias metas cada um, para os quais os investimentos públicos e privados deveriam ser canalizados. Os setores que mais recursos receberam foram energia, transportes e indústrias de base, num total de 93% dos recursos alocados. A divisão foi estabelecida da seguinte forma: o setor de energia recebeu 43% dos investimentos; transportes, 29%; indústrias de base, 21%; educação, 4%; e agricultura e pecuária, 3%. Esse percentual demonstra por si só que os outros dois setores incluídos no plano, alimentação e educação, não mereceram o mesmo tratamento dos primeiros. A construção de Brasília não integrava nenhum dos cinco setores. As metas eram audaciosas e, em sua maioria, alcançaram resultados considerados positivos. O crescimento das indústrias de base, fundamentais ao processo de industrialização, foi de praticamente 100% no quinquênio 1956-1961. Tecnologia e recursos financeiros foram obtidos junto a entidades e empresas estrangeiras. Para incentivar as multinacionais a investir no Brasil, o governo isentou-as do pagamento de impostos por dez anos, a contar de sua instalação, e concedeu-lhes o direito de enviarem para os países de origem a maior parte dos lucros. O Conselho tinha autonomia de 17 decisão suficiente para viabilizar a execução dos projetos, que contava com grupos executivos independentes para realizar os contatos com o setor privado. O mais conhecido desses grupos foi o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA). Para JK o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando riquezas e desenvolvendo a industrialização assim fortalecendo a economia. Para executar seu plano era necessário investimento estrangeiro na economia brasileira, com isso, instalaram-se aqui grandes marcas automobilísticas, como a Volkswagen, que estimularam o crescimento da indústria de autopeças. A prioridade de seu governo era o desenvolvimento nos setores de transportes e energia e na indústria de base, objetivando a substituição das importações. O governo construiu 20 mil quilômetros de rodovias, além de erguer indústrias siderúrgicas, como a Usiminas e a Cosipa, e hidrelétricas, como Três Marias e Furnas; e ainda, conseguiu que nosso parque industrial crescesse cerca de oitenta por cento. O governo JK foi o responsável pela implantação da indústria de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. O PIB aumentou a taxas de 7% ao ano e o crescimento da produção industrial foi da ordem de 80%. Para concretizar o Plano de Metas, houve necessidade de o governo recorrer a dinheiro estrangeiro: em 1980, os empréstimos norte-americanos totalizaram 587 milhões de dólares. Também foi preciso emitir moeda para sustentar os imensos gastosem obras públicas. Importante lembrar que nessa época o desenvolvimentismo não foi homogêneo em todas as regiões do país. A miséria e o atraso econômico de diversas regiões impulsionaram grandes fluxos migratórios de pessoas que buscavam melhores oportunidades na região Sudeste do Brasil. Foi por isso que, em 1959, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), órgão que deveria promover a industrialização e a agricultura nessa pobre região. A maior contribuição do Plano de Metas foi na área do planejamento. Com um cronograma rigoroso e um acompanhamento sistemático, a maioria das ações propostas pelo Plano foi realizada com bastante sucesso. FURTADO, observa que com reservas, essa participação estrangeira na economia brasileira, a qual já atingia 45% para o setor manufatureiro, já representava as maiores taxas de crescimento. "Se o setor moderno, em expansão, é em grande parte controlado por firmas estrangeiras, coloca-se de imediato um problema de balanço de pagamentos e de desnacionalização da economia. Basta que as firmas estrangeiras enviem para o exterior uma parcela 18 constante de seus lucros (50% ou 33%, por exemplo) para que uma parcela crescente de divisas seja absorvida por remessas de lucros e dividendos. As fontes de recursos para o financiamento do Plano de Metas previa que ao setor público caberia uma participação de 50% nos desembolsos, os fundos privados contribuiriam com 35% e o restante viria das agências públicas para os programas tanto públicos como privados. As necessidades de recursos externos não constavam do plano de uma forma explícita. Contudo, havia a previsão de um déficit decrescente no balanço de pagamentos, cuja meta era atingir o equilíbrio em 1961. Contrariamente aos objetivos contidos no Plano de Metas, enfrentamos déficits crescentes no balanço de pagamentos a partir de 1957. De 1955 em diante, portanto, um ano após a sua implementação, passamos a experimentar acentuadas quedas do fluxo líquido de recursos, explicado principalmente pela elevação dos compromissos com pagamentos de amortizações, as quais atingiram US$ 417 milhões em 1960, deteriorando-se 120% relativamente ao nível de 1956, conforme ilustrado na tabela abaixo. Esses problemas de fechamento do balanço de pagamentos passaram a representar risco efetivo de insolvência, no início dos anos 60 e posteriormente, tiveram que ser equacionados mediante recurso à renegociação da dívida existente, junto a organizações internacionais como o FMI. Ao final dos anos JK, o Brasil havia mudado. Muitos foram os avanços, e muitas foram às críticas à opção de JK pelo crescimento econômico com recurso ao capital estrangeiro, em detrimento de uma política de estabilidade monetária. Entretanto, o alcance de tantas benesses econômicas em um prazo tão curto de tempo teve graves consequências. Para realizar tantos investimentos, o governo de JK realizou pesadas emissões de papel moeda e abriu nossa economia para o capital estrangeiro. Assim, as consequências foram os crescimentos da divida externa – somava 4 bilhões de dólares em 1960 – e da inflação, que, combinados, fragilizaram as finanças do País. O crescimento econômico e a manutenção da estabilidade política, apesar do aumento da inflação e das consequências daí advindas, deram ao povo brasileiro o sentimento de que o subdesenvolvimento não deveria ser uma condição imutável. O ideal de cinquenta anos de desenvolvimento econômico em cinco anos de governo evidentemente não se concretizou; no entanto, era possível mudar, e o Brasil havia começado a fazê-lo. Capítulo 5 19 5.1. Considerações Finais Quando analisamos dados sobre a sociedade brasileira do período anterior ao governo JK, são nítidas as transformações operadas neste período da História do Brasil. Até a década de 1950, 60% da população brasileira vivia no campo e o proletário nacional era insignificante do ponto de vista das indústrias de grande porte estrangeiras. Somente isso já inviabilizaria o investimento pesado por parte destas empresas no país. A partir dessa análise, percebemos a importância do Governo Juscelino Kubitschek para a história econômica brasileira, a partir da influência principal da ideologia do “Desenvolvimentismo” na política econômica no período. A industrialização brasileira até a Primeira Guerra Mundial se desenvolveu principalmente por meio de: medidas protecionistas do governo vigente e importância do setor cafeeiro brasileiro. Apenas na década de 1920 experimentou maior diversificação industrial por causa dos reflexos da Primeira Guerra Mundial, ingresso de capital estrangeiro em setores não tradicionais e subsídios do governo. A Revolução de 1930 marcou o fim da primazia da economia agrário-exportadora, dominada pelos interesses dos cafeicultores e lançou as bases para um redirecionamento do desenvolvimento do país pautado na expansão da produção industrial. As décadas de 1930 e 1940, então se caracterizam pelo esboço do projeto desenvolvimentista. A década do pós-guerra, 1946-1955, experimentou grande desenvolvimento industrial. Em 1955, se inicia o governo JK, pautado pela ideologia desenvolvimentista e focado em acelerar o desenvolvimento econômico, através das políticas de industrialização, para transformar a estrutura do país, dada a transição de uma base econômica agrária para um futuro com viés mais industrializante e urbano. Vale ressaltar que não se pode analisar o período do Governo Juscelino Kubitschek sem levar em conta a influência do pensamento desenvolvimentista sobre o mesmo. Essa corrente de pensamento implantou na sociedade brasileira a necessidade de superação do atraso econômico em relação às potências industrializadas via a industrialização do país através do planejamento do governo. Juscelino conseguiu promover as transformações na sociedade brasileira de que se propusera fazer. O custo que representou estas transformações é que se torna um grande problema, pois os investimentos estatais que viabilizaram as transformações que ocorreram no período geraram um grande endividamento do país, assim como deixaram o Brasil a enfrentar um crescente processo inflacionário. Porém, ao final do governo Juscelino, a facção da sociedade brasileira composta pela burguesia e pela classe média 20 via na política de JK a ampliação do mercado e da abertura de novas oportunidades, enquanto isso, os militares sentiam que o crescimento do parque fabril reforçaria o poder econômico nacional e o das Forças Armadas em geral. A política econômica desenvolvimentista de Juscelino apresentou pontos positivos e negativos para o nosso país. A entrada de multinacionais gerou empregos, porém, deixou nosso país mais dependente do capital externo. O investimento na industrialização deixou de lado a zona rural, prejudicando o trabalhador do campo e a produção agrícola. O país ganhou uma nova capital, porém a dívida externa, contraída para esta obra, aumentou significativamente. A migração e o êxodo rural descontrolado fizeram aumentar a pobreza, a miséria e a violência nas grandes capitais do sudeste do país. Desequilíbrios macroeconômicos, gerados no governo JK deterioraram as bases do crescimento sustentável no longo prazo e, conforme alguns autores propiciaram a instabilidade política observada nos anos seguintes que culminou no Golpe Militar de 1964. Assim, indiscutivelmente, ao final dos anos JK, o Brasil havia mudado. Muitos foram os avanços, e muitas foram às críticas à opção de Juscelino pelo crescimento econômico com recursos do capital estrangeiro, em detrimento de uma política de estabilidade monetária. O crescimento econômicoe a manutenção da estabilidade política, apesar do aumento da inflação e das consequências daí geradas, deram ao povo brasileiro um sentimento de que o subdesenvolvimento estava se tornando coisa do passado. Porém, o principal legado de JK foi uma grave crise econômica provocada pela dívida externa e pela crescente inflação, situação que se tornou insustentável nos governos de Jânio e João Goulart e, que sem dúvida, desencadearam no golpe de 1964. Desse modo, o Governo Juscelino Kubitschek teve uma contribuição grande no sentido de aprofundar a industrialização no Brasil, entretanto, sua irresponsabilidade em relação ao equilíbrio dos fundamentos macroeconômicos teve consequências graves para os governos seguintes e estão refletidas até hoje na economia. Nesse ínterim, fica o alerta para próximas decisões de política econômica de que é necessário dosar com cautela o trade-off entre políticas expansionistas que geram benefícios do curto-prazo e popularidade com eleitores e políticas que prezam por maior crescimento sustentado da economia no longo-prazo. 21 Capítulo 6 6.1. Bibliografia AFONSO. José Roberto Rodrigues. Keynes, crise e política fiscal. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012. AMIN, Samir. Desenvolvimento Desigual: ensaio sobre as formações sociais do capitalismo periférico. São Paulo: Forense Universitária, 1976. ARIAS NETO, José Miguel. “Primeira República: economia cafeeira, urbanização e industrialização”. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida. O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente, vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. BIELSCHOWSKY, R. Pensamento econômico brasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimento. 5. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2004. CARVALHO, Leandro. "Governo Juscelino Kubitschek (JK)"; Brasil Escola. Disponível em <https://brasilescola.uol.com.br/historiab/juscelino- kubitschek.htm>. Acesso em 20 de junho de 2018. CATANI, Afrânio Mendes. O Que é Capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. CERVO, Amado Luiz. Política exterior e relações internacionais do Brasil: enfoque paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, ano/volume 46, n. 2, pp. 5-25, jul/dez 2003. _______. Relações internacionais do Brasil: um balanço da era Cardoso. Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, ano/vol. 45, n. 1, pp. 5-35, jan/jun 2002. DEAN, Warren. “Industrialização Durante a República Velha”. In: FAUSTO, Boris (org.) História geral da civilização brasileira. Tomo III “O Brasil Republicano”, São Paulo: DIFEL, 1975. FAUSTO, Boris (org.) História geral da civilização brasileira. Tomo III “O Brasil Republicano”, São Paulo: DIFEL, 1975. FAUSTO, Boris. “Expansão do Café e Política Cafeeira”. In: FAUSTO, Boris (org.) História geral da civilização brasileira. Tomo III “O Brasil Republicano”, São Paulo: DIFEL, 1975. FERNANDES, Florestan; PRADO JUNIOR, Caio. Clássicos sobre a Revolução Brasileira. 4a ed. São Paulo: Expressão Popular, 2005. 22 FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida. O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente, vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida. O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática – da democracia de 1945 ao golpe civil-militar de 1964, vol. 3. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 36ª ed. São Paulo: Cia. Das Letras, 2006. GIAMBIAGI, Fabio; Villela, André; Castro, Lavínia Barros de; Hermann, Jennifer. Economia Brasileira Contemporânea (1945-2004). Rio de Janeiro: Campus, 2005. GREMAUD, Amaury Patrick; Vasconcelos, Marco Antonio Sandoval; Toneto Júnior, Rudnei. Economia Brasileira Contemporânea. São Paulo: Atlas, 2009. GONÇALVES, Reinaldo; BAUMANN, Renato; CANUTO, Otaviano. A nova economia internacional: uma perspectiva brasileira. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998. “Juscelino Kubitschek”. Disponível em: <http://presidentes-do- brasil.info/presidentes-da-republica/juscelino-kubitschek.html>. Acesso em: 01 jun. 2018. “Juscelino Kubitschek”. Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/jk>. Acesso em: 01 jun. 018. “Juscelino Kubitschek”. Disponível em: <http://presidentes-do- brasil.info/presidentes-da-republica/juscelino-kubitschek.html>.Acesso em: 01 jun. 2018. LACERDA. Antônio Corrêa de. Economia Brasileira. 6ª ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. LESSA, C. quinze anos de política econômica. São Paulo: Brasiliense, 1981. REGO, José Márcio. Economia Brasileira. Editora Saraiva, 4ª ed. São Paulo, 2010. FAUSTO, Boris. História do Brasil. Editora USP, 14ª ed. São Paulo, 2012. HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital (1848 – 1875). 12ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007. HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do Pensamento Econômico. 20ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001. 23 PRADO JUNIOR. Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006. ______. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense/Pallotti, 1997. Suzigan. Wilson. Indústria Brasileira: origem e desenvolvimento. Brasiliense, 1986.
Compartilhar