Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Os juros legais são aqueles definidos em lei; os juros moratórios, aqueles que visam a compensar o retardamento ou o inadimplemento de uma obrigação; os compensatórios têm como escopo cobrir eventuais perdas e danos e lucros cessantes, ainda que potenciais; os remuneratórios são o próprio preço do dinheiro; os convencionais são os decorrentes da exteriorização da livre vontade das partes. Podemos afirmar, de conseguinte, que este é o conceito atual de "juros legais", a exemplo do que ocorria com o artigo 1.062 do Código Civil de 1916, cujo percentual era fixado em 6% (seis por cento) ao ano, se não convencionado outro percentual. O banimento do limite de juros de 12 % ao ano do texto constitucional veio a exasperar os debates acerca da possibilidade de utilização da taxa SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), em detrimento da taxa de juros de mora de 1% ao mês prevista no §1º do artigo 161 do Código Tributário Nacional. No entretanto, a despeito do afastamento do limite constitucional afeto aos juros, a aplicação da taxa SELIC que, vale lembrar, possui natureza anômala, pois também é composta por fatores de correção monetária, parece aproximar-se da insegurança jurídica, como lecionado pelos grandes doutrinadores pátrios, diante da impossibilidade de conhecimento prévio dos juros por contratantes ou litigantes, e mesmo por conta do caráter mutável do gênero. Os juros compensatórios são os frutos civis, rendimentos que se derivam de um empréstimo do capital (art. 591). Essa remuneração é devida àquele que ficou privado de seu capital por um certo tempo colocando-o à disposição de outra parte. É o “preço pago pelo empréstimo do dinheiro”. Nisso reside o caráter compensatório desse tipo de rendimento. Já os juros moratórios, que são os que ora nos interessam no estudo do inadimplemento das obrigações, não se constituem em compensação pelo empréstimo de capital. Com efeito, os juros moratórios não se tratam de remuneração e sim de uma sanção. São efetivamente uma pena para o devedor que entra em mora e não cumpre a sua obrigação com perfeição. Por isso, os juros de mora possuem uma função intimidatória para o devedor, eis que este é coagido a quitar seus débitos sob pena de sobre eles incidir esses juros moratórios. Destarte, é perfeitamente possível cumular os juros moratórios com a cláusula penal, porque esta tem caráter indenizatório (compensatório) enquanto aqueles têm uma função sancionatória. Maria Helena Diniz lista dois efeitos decorrentes dos juros moratórios: a) os juros moratórios serão devidos independentemente da alegação de prejuízo, decorrendo da própria mora, isto é, do atraso culposo na execução da obrigação; e b) os juros moratórios deverão ser pagos, seja qual for a natureza da prestação, pecuniária ou não (art. 407 do CC).[7] A atualização monetária é outra das parcelas a que o devedor moroso está sujeito a pagar. A atualização monetária pode ser concedida de ofício pelo juiz. Assim, mesmo que o credor em uma ação de cobrança não tenha se pronunciado sobre essa questão, a atualização monetária é devida por ser considerada um pedido implícito contido na petição inicial. A atualização monetária não passa de um acréscimo decorrente da desvalorização monetária. Quanto aos honorários advocatícios mencionados no art. 395 do Código Civil é importante não confundi-los com a verba de sucumbência prevista no art. 20 do Código de Processo Civil. Pelo Código Civil, o devedor além de pagar a prestação devida, perdas e danos, juros moratórios e atualização monetária, terá que pagar também honorários ao advogado do credor que intermediou o acordo. Essa verba se refere a honorários devidos em razão de acordo extrajudicial. A doutrina entende que um valor razoável a ser estipulado a título de honorários advocatícios para esses casos é o de 10% (dez por cento) sobre o valor da dívida. Um dos principais propósitos do legislador ao inserir no texto legal, presciência como a contida no artigo 406 é a de, garantindo ao credor a incidência de juros, já que, inexistindo estipulação expressa a lei encarrega-se de determinar o patamar de juros aplicável, evitar situações de falta de previsão, discussões sobre a justa taxa a ser utilizada ou imposições abusivas unilaterais, o que torna a utilização de qualquer espécie de taxa oscilante um verdadeiro despautério. O cerne é que, se é possível defender que a eliminação do limite máximo constitucional aplicável aos juros moratórios poderá, por exemplo, emprestar às partes maior flexibilização na estipulação de juros, ao menos no que tange aos contratos bilaterais paritários, com a conseqüente possibilidade de previsão de juros superiores aos de 1% ao mês em contrato, não se pode admitir que exatamente nos casos em que inexistir estipulação prévia de juros, restando ausente a convenção entre as partes sobre a taxa a ser utilizada, seja aplicado fator variável que impeça o conhecimento preliminar do possível gravame futuro. Dessa forma, a aplicação dos juros previstos no Código Tributário Nacional acolhe-se como absolutamente pertinente, não somente em função de sua natureza, que é essencialmente de juros, mas também diante da segurança proporcionada à contratante e litigantes em processo judicial. http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4475 http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/8821-8820-1-PB.htm
Compartilhar