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Pensamento Político - aula 03

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PENSAMENTO POLÍTICO
AULA 03 – Hobbes: O Medo e a Esperança
Objetivo desta aula: 
1. Reconhecer o contexto social e político no qual viveu Hobbes e a influência dessa realidade no seu pensamento;
2. Identificar as contribuições para a concepção moderna de Estado, no pensamento de Hobbes e na sua principal obra, O Leviatã;
3. Identificar as características da concepção de Estado, do fenômeno do poder e da ideia de propriedade no pensamento de Hobbes;
4. Refletir sobre como o pensamento de Hobbes pode ser utilizado para o entendimento da nossa realidade e das formas de organização da sociedade contemporânea.
Hobbes foi um contratualista, ou seja, um daqueles filósofos que entre o século XVI e o XVII  afirmaram que a origem da sociedade e/ou Estado está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras do convívio social e da subordinação política. 
A guerra se generaliza
“O homem natural de Hobbes não é um selvagem. É o mesmo homem que vive em sociedade.” Melhor dizendo, a natureza do homem não muda conforme o tempo, ou a história, ou a vida social. A natureza do homem é tal que, embora seja capaz de reconhecer em muitos outros maior inteligência, eloquência ou saber, dificilmente acredita que haja muitos tão sábios como ele próprio, pois vê sua sabedoria bem de perto e a dos outros a distância.
Rivalidade
A semelhança que existe entre os homens se constitui em rivalidade, pois cada um quer parecer superior em poder, inteligência e valor ao seu semelhante que, por sua vez, também deseja o mesmo. Como ambos têm um desejo em comum, duas de suas atitudes são a defesa e o ataque, onde cada qual espera receber o devido respeito que julga merecer, um causando dano ao outro.
Sendo assim, os homens viveriam em constante perigo, pois quem possui mais bens materiais que os outros, sentem- se ameaçado de privação das suas conquistas: bens, liberdade, conforto, enquanto que o outro, o invasor, teme ser apanhado.
"A primeira leva o homem a atacar os outros tendo em vista o lucro; a segunda , a segurança e a terceira, a reputação." (p.56) Portanto sem um poder comum, os homens viveriam em constante guerra, uns contra os outros. 
" Para Aristóteles, o homem naturalmente vive em sociedade, e só desenvolve as suas potencialidades dentro do estado" ( p. 57). Se o homem é sociável, parece estranho que ele tenha a capacidade de atacar e destruir ao outro. Na verdade o homem não conhece a si próprio.
Para Hobbes, um homem pode conhecer o seu semelhante lendo as suas ações e fará o possível para não encontrá-lo em si próprio, pois se julga melhor, mais perfeito e mais importante. Se este homem deseja governar seus semelhantes, deverá ler, antes de tudo, a si mesmo, para compreender as suas atitudes.
A teoria de Hobbes se fundamenta na realidade e na natureza do homem. 
O homem não vive em sociedade sem leis e regras que limitem seus desejos e atitudes. Sem isso, nenhum cidadão poderia viver em segurança ou em harmonia com o seu semelhante, entretanto, para Hobbes, o homem é um selvagem, mas se realmente fosse, ele não teria a capacidade de se reunir em assembleia em um determinado momento no qual julgasse necessário para escolher um chefe que os protegesse e para estabelecer regras que os organizasse. 
Como pôr termo a esse conflito
“Que um homem concorde, quando os outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar o seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação ao mesmo." ( p. 60) 
"… Porque, se há governo, é justamente para que vivamos em paz: sem governo, já vimos, nós nos matamos uns aos outros. Por isso o poder governante tem que ser ilimitado." (p. 63).
O Estado se constitui quando os homens em assembleia entram em um acordo de que uma determinada pessoa seja representante de todos eles, até mesmo de quem não o elegeu. A essa pessoa fica garantido o direito de soberania e se alguém desobedecê-lo ou ameaçar seu poder ou sua vida e for morto, será o autor do seu próprio castigo.
Igualdade e liberdade
Nesse Estado em que o poder é absoluto, a igualdade e a liberdade, valores respeitados por nós, tem segundo Hobbes, a capacidade de gerar entusiasmo, ambição, descontentamento e guerra.
A igualdade, como já vimos, é fator que leva a guerra a todos, pois dois homens podem querer a mesma coisa e, por isso, todos nós vivemos em constante competição.
Liberdade para Hobbes significa a ausência de oposição e não se aplica às criaturas irracionais e inanimadas menos do que às racionais.
Hobbes reduz a liberdade a uma determinação física, aplicável a qualquer corpo  e como o princípio pelo qual os homens lutam e morrem.
"… Um homem livre é aquele que, naquelas coisas que graças a sua força de engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer o que tem vontade de fazer." ( Pág. 67)
Quando o indivíduo abre mão de seu direito de natureza, firma o contrato social e contribui para proteger a própria vida.
Mas o indivíduo não perdeu a liberdade, ele deve obediência ao soberano. Caso ele seja ordenado, por exemplo, para matar-se ou confessar algum crime, tem plena liberdade para recusar-se.
" Ninguém tem a liberdade de resistir a espada do Estado, em defesa de outrem, seja culpado ou inocente. Porque essa liberdade priva a soberania dos meios para proteger-nos, sendo portanto, destrutiva a própria essência do Estado."(p. 70)
O soberano não perde a soberania se não atende aos caprichos de cada súdito. Mas se ele deixa de proteger a vida de um de seus cidadãos, este não lhe deve mais sujeição e obediência, porém outros não podem aliar-se a ele, pois ainda recebem proteção. Em outras palavras podemos dizer que se o governante não cumpre a sua obrigação, o súdito recupera a sua liberdade natural.  
O Estado, o medo e a liberdade
“O soberano governa pelo temor que infringe os seus súditos. Porque sem medo, ninguém abriria mão de toda a liberdade que tem naturalmente; se não temesse a morte violenta, que homem renunciaria ao direito que possui, por natureza, a todos os bens e corpos?" ( p. 71)
Para Hobbes, a lei é fundamental para que exista justiça entre o que "é meu" e o que "é teu". Seria impossível alguém deixar uma herança para seus descendentes, pois qualquer cidadão poderia apossar-se das propriedades. Assim, todos os súditos que tenham o direito à propriedade de suas terras ou seus bens podem excluir os outros súditos dessas terras ou bens. Só não podem excluir o governante.
"Compete ao soberano, a distribuição das terras do país, assim como a decisão sobre em que lugares, e com que mercadorias, os súditos estão autorizados a manter tráfico com o estrangeiro". (WEFFORT, 1998, P. 75).  
Hobbes foi um contratualista, ou seja, um daqueles filósofos que entre o século XVI e o XVII  afirmaram que a origem da sociedade e/ou Estado está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras do convívio social e da subordinação política.
Um pensador maldito
Hobbes é um dos pensadores mais “malditos” da História da Filosofia Política – pois, no século XVIII, o termo “hobbista” era quase tão ofensivo quanto “maquiavélico", não só porque apresenta o Estado como monstruoso e o homem como belicoso, mas porque subordina a religião à política, nega um direito natural ou sagrado do indivíduo à sua propriedade. O contrato produz dois resultados importantes:
►O homem é artífice de sua condição, de seu destino e não Deus ou a natureza.
►O homem pode conhecer tanto a sua presente condição miserável quanto os meios para alcançar a paz e a prosperidade.
Síntese da aula
Nesta aula, você:
Reconheceu o contexto social e político no qual viveu Hobbes e a influência dessa realidade no seu pensamento;Identificou as contribuições para a concepção moderna de Estado, a partir do pensamento de Hobbes e de sua principal obra, O Leviatã;
Identificou as características da concepção de Estado, do fenômeno do poder e da ideia de propriedade no pensamento hobbesiano.
Refletiu sobre como o pensamento de Thomas Hobbes pode ser utilizado para o entendimento da nossa realidade e das formas de organização da sociedade contemporânea. 
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
Identificar as contribuições para a concepção moderna de Estado, no pensamento dos contratualistas Locke e Rousseau;
Identificar as características das concepções de Estado, contrato social e propriedade nos pensamentos de Locke e de Rousseau;
Refletir sobre como os pensamentos de Locke e de Rousseau podem ser utilizados para o entendimento da nossa realidade cotidiana e das formas de organização da sociedade contemporânea.

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