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Hobbes - resumo

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Hobbes: O Medo e a Esperança 
Thomas Hobbes era um contratualista, e afirma, em seu pensamento sobre o estado 
de natureza, que a origem do Estado e da sociedade está em um contrato: os homens 
viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiria depois 
de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de 
subordinação política. Após o firmamento das concepções modernas da história e da 
ciência social, os contratualistas foram muito contestados. 
Sir Henry Maine acreditava ser impossível que selvagens sem contato social 
conseguiriam dominar a linguagem, ter conhecimentos jurídicos suficientes para 
firmarem um contrato, para que pudessem se reunir nas clareiras das florestas e 
fazerem um pacto social. Ele afirmava também que só era possível fazer um contrato 
depois de longas experiências de vida em sociedade. 
 
A guerra se generaliza 
Na concepção de Thomas Hobbes, o homem natural não é um selvagem, e a natureza 
do homem não muda conforme o tempo, a história ou a vida social. Ele acredita que a 
história não seja capaz de transformar o homem. 
De acordo com um texto de Levitã que se opõe a Hobbes, os homens são iguais o 
bastante para que nenhum possa triunfar de maneira total sobre o outro. Todo homem 
é opaco aos olhos de seu semelhante – eu não sei o que o outro deseja, e por isso 
tenho que fazer uma suposição de qual será a sua atitude mais prudente, mais 
razoável. Como ele também não sabe o que eu quero, também é forçado a supor o 
que eu farei. Conclui-se, com base nessas suposições, que o mais razoável para cada 
um é atacar o outro, ou para vencê-lo, ou simplesmente para evitar um ataque 
possível; desta forma a guerra se generaliza entre os homens. Portanto, a atitude mais 
razoável a ser adotada na ausência de um Estado que controle e oprima, é fazer a 
guerra. 
Para Hobbes, o direito de natureza é a liberdade que cada homem possuí de usar seu 
próprio poder, de maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou 
seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio 
julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim. Ou seja, Hobbes 
deduz que no estado de natureza, todo homem tem direito a tudo. 
 
Como pôr termo a esse conflito? 
O homem, para Hobbes, é o indivíduo. Ele não é, então, um homo oeconomicus, pois 
seu maior interesse não está em produzir riquezas, nem mesmo em pilhá-las. O mais 
importante para ele é ter os sinais de honra, entre os quais se inclui a própria riqueza. 
Isso significa que o homem vive basicamente de imaginação: imagina ter um poder, 
imagina ser respeitado ou ofendido pelos seus semelhantes, imagina o que o outro vai 
fazer. Desta imaginação decorrem os perigos, pois o homem pode fantasiar o que é 
irreal. O estado de natureza é uma condição de guerra, porque cada um se imagina 
poderoso, perseguido, traído. 
Hobbes define que a lei de natureza é uma regra geral, estabelecida pela razão, 
mediante a qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua vida ou 
privá-lo dos meios necessários para preservá-la. A condição do homem é de guerra de 
todos contra todos, cada um governado pela sua própria razão. Enquanto houver esse 
direito de cada homem a todas as coisas, não haverá segurança para ninguém. 
É uma regra geral da razão que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em 
que tenha esperança de consegui-la; a primeira parte dessa regra encerra a lei 
primeira e fundamental de natureza, isto é, procurar a paz, e segui-la. A segunda parte 
encerra a suma do direito de natureza, isto é, por todos os meios que pudermos, 
defendermo-nos a nós mesmos. 
Deriva dessa segunda regra que o homem concorde, quando os outros também o 
fizerem, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si 
mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos 
outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a 
si mesmo. 
O fundamento jurídico, porém, não é suficiente. É preciso que exista um Estado de 
poder pleno, dotado da espada, armado, para forçar os homens ao respeito. Desta 
maneira, a imaginação será melhor regulada, pois cada um receberá o que for 
determinado pelo soberano. 
A única maneira de instituir um poder comum é conferir toda sua força e poder a um 
homem ou uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, 
por pluralidade de votos a uma só vontade. Aquele que é portador de poder, é o 
soberano; todos os restantes são súditos. Hobbes fundiu a sociedade e o poder do 
Estado, pois o governo existe justamente para que os homens possam conviver em 
paz. Ele afirma que o poder do governante deve ser ilimitado, pois se para ele houver 
alguma limitação, não haverá quem julgar se o governante está sendo justo ou injusto. 
Para montar esse poder absoluto, Hobbes concebe o contrato sui generis. Este é 
firmado apenas pelos que vão se tornar súditos; o soberano surge devido a firmação 
deste contrato, e por isso ele se conserva fora dos compromissos, isento de qualquer 
obrigação. 
 
Igualdade e liberdade 
A igualdade é o fator que leva à guerra de todos. Dizendo que os homens são iguais, 
Hobbes não faz uma proclamação revolucionária contra o Antigo Regime, ele 
simplesmente afirma que dois ou mais homens podem querer a mesma coisa, e por 
isso todos vivemos em competição. A liberdade é definida como ausência de 
oposição. Um homem livre é aquele que, naquelas coisas que graças a sua força e 
engenho é capaz de fazer, não é impedido de fazer suas vontades. 
Quando o indivíduo firmou o contrato social, renunciou ao seu direito de natureza, ao 
fundamento da guerra de todos. É que, neste direito, o meio (fazer tudo o que 
quisesse) contradizia o fim (preservar a própria vida). O homem percebeu que, como 
todos tinham esse direito tanto quanto ele, o resultado só podia ser a guerra. Mas, 
dando poderes ao soberano, a gim de instaurar a paz, o homem só abriu mão de seu 
direito para proteger a sua própria vida. Se esse fim não for atendido pelo soberano, o 
súdito não lhe deve mais obediência – não porque o soberano violou algum 
compromisso, mas simplesmente porque desapareceu a razão que levava o súdito a 
obedecer. Está é a verdadeira liberdade do súdito. Todo súdito tem liberdade em todas 
aquelas coisas cujo direito não pode ser transferido por um pacto. Por exemplo, se um 
soberano ordenar a alguém que se mate, se fira ou se mutile a si mesmo, esse alguém 
tem a liberdade de desobedecer. 
Ninguém tem a liberdade de resistir à espada do Estado, em defesa de outrem, seja 
culpado ou inocente. Porque essa liberdade priva a soberania dos meios para 
proteger-nos, sendo portanto destrutiva da própria essência do Estado. 
 
O Estado, o medo e a propriedade 
No Estado absoluto de Hobbes, o indivíduo conserva um direito à vida. Hobbes diz 
que o soberano governa pelo temos que inflige a seus súditos, porque, sem medo, 
ninguém abriria mão de toda a liberdade que tem naturalmente. O terror existe no 
estado de natureza, quando vivo no pavor de que meu suposto amigo me mate. Já o 
poder soberano apenas me mantém temerosos aos súditos, que agora conhecem as 
linhas gerais do que devem seguir para não correr na ira do governante, o indivíduo 
bem comportado, dificilmente terá problemas com o soberano. Se entramos no Estado 
é também com uma esperança de ter uma vida melhor e mais confortável, o conforto, 
em grande parte, deve-se à propriedade. 
Na distribuição das terras, o próprio Estado pode ter uma porção, possuindo e 
melhorando a mesma através de seu representante. E essa porção pode ser de molde 
a tornar-se suficiente para sustentar todas as despesas necessárias para a paz e 
defesa comum. Além do mais, dado que não é suficiente para o sustento do Estado 
que cada indivíduo tenha a propriedade de uma porção de terra, é necessário que os 
homens distribuam o que são capazes de poupar, transferindo essa propriedade 
mutuamenteuns aos outros, através da troca e de contratos mútuos. Compete 
portanto ao Estado, determinar de que maneira devem fazer-se entre os súditos todas 
as espécies de contrato e mediante que palavras e sinais esses contratos devem ser 
considerados válidos. 
 
Um pensador maldito 
O termo “hobbista” é quase tão ofensivo quanto “maquiavélico”. Não é só porque 
Hobbes apresenta o Estado como monstruoso e o homem como belicoso. Não é só 
porque subordina a religião ao poder político. Mas é, também, porque nega um direito 
natural do indivíduo à sua propriedade. 
No tempo de Hobbes, o modelo para a ciência estava nas matemáticas. Assim, 
entendemos o papel do contrato. Na matemática, podemos conhecer porque as 
figuras geométricas foram concebidas, feitas, por nós. Da mesma forma na ciência 
política: se existe Estado, é porque o homem o criou. Mas, como só vivemos em 
sociedade devido ao contrato, somos nós os autores da sociedade e do Estado, e 
podemos conhecê-los tão bem quanto as figuras geométricas. O contrato produz dois 
resultados importantes, o primeiro, o homem é o artífice de sua condição, de seu 
destino, e não Deus ou a natureza; o segundo, o homem pode conhecer tanto a sua 
presente condição miserável quanto os meios de alcançar a paz e a prosperidade.

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