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SP3.”SUFOCO” PROBLEMAS Uma das pacientes, D. Florentina, estava com muita tosse seca por causa do tempo seco; O Sr. Florípedes apresentava febre baixa e tosse; A Sra. Gumercinda, procurava o médico para estresse emocional e apresentava febre alta, cansaço e tosse com secreção esverdeada; Administração de medicamento para febre e medicamento com ação sobre bactérias extracelulares e intracelulares, de acordo com resultado da hemocultura. Necessidade de administração de vacina anti-pneumocócica (7-valente ou 23-valente) HIPÓTESES A imunodepressão pelo estresse emocional predispõe infecção por agentes etiológicos (bactérias) que causam a pneumonia e os sintomas relacionados; O tempo seco causa ressecamento das mucosas que possuem contato com o meio externo, propiciando tosse seca e maior predisposição à infecção por agentes biológicos; O processo inflamatório (inato) e seus mediadores podem estimular o hipotálamo à desencadear um quadro febril fisiológico ou patológico (febre alta), afim de tornar o meio desfavorável para sobrevivência e proliferação bacteriana. A hemocultura identifica o tipo de bactéria presente no organismo e ajuda à selecionar o antibiótico mais eficaz para combatê-la; A vacina anti-pneumocócica, por meio da imunização ativa, favorece o desenvolvimento de células de defesa e memória contra este antígeno. PERGUNTAS 1. Compreender as estruturas, tipos, reprodução e classificação das bactérias intra e extracelulares. (probióticas e patogênicas) (Gram positivo e negativo) Os agentes de doenças infecciosas humanas pertencem a cinco principais grupos de organismos: bactérias, fungos, protozoários, helmintos e vírus. As bactérias pertencem ao reino dos procariotos, os fundos e os protozoários são do reino protista, e os helmintos são classificados do reino animal. Os protistas diferem dos animais e vegetais por serem organismos unicelulares relativamente simples. Por outro lado, os helmintos são organismos multicelulares complexos. Em conjunto, os helmintos e os protozoários são denominados parasitas. Os vírus são muito distintos dos demais organismos – não exibem natureza celular, mas se multiplicam somente dentro das células. As células evoluíram em dois tipos fundamentais distintos, eucarióticas e procarióticas, podendo ser diferenciadas com base na sua estrutura e na complexidade de sua organização. Os fungos e protozoários são eucarióticos, enquanto as bactérias são procarióticas. (1) A célula procariótica possui um núcleo verdadeiro que contém múltiplos cromossomos, sendo circundado por uma membrana nuclear, e utiliza um aparato mitótico para garantir a alocação equitativa dos cromossomos da progênie celular. (2) O nucleoide de uma célula procariótica consiste em uma única molécula circular de DNA organizada frouxamente, desprovida de membrana nuclear e de aparato mitótico. Além dos diferentes tipos de núcleos, as duas classes celulares se distinguem por várias outras características: (1) As células eucariótica contêm organelas, como mitocôndrias e lisossomos, assim como ribossomos maiores (80S), enquanto as procarióticas não apresentam organelas e exibem ribossomos menores (70S). (2) A maioria dos procariotos apresenta uma parede celular rígida, contendo peptideoglicano, um polímero de aminoácido e açúcares, como seu componente estrutural exclusivo. As células de eucariotos, ao contrário, não contêm peptídeoglicano. Elas são envoltas por uma membrana celular flexível ou, no caso dos fundos, apresentam uma parede celular rígida contendo quitina, um homopolímero de N-acetilglicosamina, geralmente formando seu arcabouço. (3) A membrana da células eucariótica contêm esteróis, enquanto nenhum procarioto contém esteróis em suas membranas. As bactérias são classificadas em três grupos básicos, de acordo com sua forma: cocos, bacilos e espiroquetas. Os cocos são esféricos, os bacilos exibem forma de bastonete, e os espiroquetas são espiralados. Algumas bactérias variam quanto a forma, sendo referidas como pleomórficas. A forma de uma bactérias é determinada pela sua parede celular rígida. Além de suas formas características, o arranjo das bactérias é importante. Por exemplo, alguns cocos se organizam em pares, alguns em cadeia, e outros em agrupamentos semelhantes à cachos de uvas. Esses arranjos são determinados pela orientação e pelo grau de ligação das bactérias quando da divisão celular. Abaixo, está a estrutura de uma bactéria típica. Abaixo, consta uma tabela de estruturas bacterianas. A estrutura, composição química e espessura da parede celular diferem em bactérias gram- positivas e gram-negativas. (1) A camada de peptideoglicano é muito mais espessa em bactérias gram-positivas que em gram-negativas. Algumas bactérias gram-positivas também apresentam fibras de ácido teicoico que se projetam para fora do peptideoglicano, fato não observado em bactérias gram- negativas. (2) Contrariamente, os organismos gram-negativos possuem uma camada externa complexa, consistindo em polissacarídeos, lipoproteínas e fosfolipídeos. Situado entre a camada da membrana externa e a membrana citoplasmática encontra-se o espaço periplasmático, que, em algumas espécies, corresponde ao sítio de enzimas denominadas β- lactamases, as quais degradam penicilinas e outros fármacos β-lactâmicos. A parede celular exibe várias outras propriedades importantes: (1) Em organismos gram-negativos, esta contém a endotoxina, um lipopolissacarídeo. (2) Seus polissacarídeos e proteínas são antígenos úteis na identificação laboratorial. (3) Suas proteínas porinas desempenham papel na regulação da passagem de moléculas pequenas e hidrofílicas ao interior da célula. As porinas da membrana externa formam um trímero que atua, geralmente de modo inespecífico, como um canal que permite a entrada de substâncias essenciais, como açúcares, aminoácidos e metais, assim como vários fármacos antimicrobianos, como as penicilinas. Os transposons transferem o DNA de um sítio do cromossomo bacteriano a outro, ou para um plasmídeo. Realizam o processo por meio da síntese de uma cópia de seu DNA e inserção da cópia em outro sítio do cromossomo bacteriano ou do plasmídeo. A transferência de um transposon para um plasmídeo e a subsequente transferência do plasmídeo para outra bactéria por conjugação contribuem significativamente para a disseminação da resistência a antibióticos. A transferência de DNA no interior de bactérias também ocorre por rearranjos programados. Esses rearranjos gênicos são responsáveis por muitas das alterações antigênicas observadas em Neisseria gonorrhoeae e Borrelia recurrentis, a causa da febre recorrente. Um rearranjo programado consiste na movimentação de um gene a partir de um sítio silencioso de armazenamento, em que o gene não é expresso, para um sítio ativo onde ocorrem a transcrição e a tradução. Existem muitos genes silenciosos que codificam variantes dos antígenos, e a inserção de um novo gene no sítio ativo de maneira sequencial, repetida e programada consiste na fonte da variação antigênica consistente. Essas movimentações não são induzidas por uma resposta imune, mas têm como efeito permitir que os organismos dela evadam. A transferência de informação genética de uma célula a outra pode ocorrer por três métodos: conjugação, transdução, e transformação. Do ponto de vista médico, a consequência mais importante da transferência de DNA é o fato dos genes de resistência a antibióticos serem disseminados de uma bactéria a outra por estes processos. A conjugação corresponde ao “acasalamento” de duas células bacterianas, durante a qual o DNAé transferido da célula doadora à receptora. Esse processo de acasalamento é controlado por um plasmídeo F (fertilidade) (fator F), que carreia os genes das proteínas necessárias à conjugação. Uma das proteínas mais importantes corresponde à pilina, a qual forma o pilus sexual (tubo de conjugação). O acasalamento é iniciado quando o pilus da bactéria macho doadora, que carreia o fator F (F+), liga-se a um receptor da superfície da bactéria fêmea receptora, que não contém um fator F (F-). As células então estabelecem contato direto pela “retração” do pilus. Após uma clivagem enzimática do DNA do fator F, uma fita é transferida através da ponte de conjugação ao interior da célula receptora. O processo é completado pela síntese da fita complementar, originando um plasmídeo de fita dupla com o fator F, tanto na célula doadora como na receptora. A célula receptora torna-se uma célula F+ masculina, capaz de transmitir o plasmídeo. Observe que, nessa circunstância, somente o fator F, e não o cromossomo bacteriano, foi transferido. Algumas células F+ apresentam seu plasmídeo F integrado ao DNA bacteriano e, portanto, adquirem a capacidade de transferir o cromossomo para outra célula. Essas células são denominadas células Hfr (do inglês, high-frequency recombination – alta frequência de recombinação). Durante essa transferência, a fita simples de DNA que penetra na célula F– receptora contém um segmento do fator F na extremidade líder, seguido pelo cromossomo bacteriano e, em seguida, pelo restante do fator F. O tempo necessário à transferência completa do DNA bacteriano é de aproximadamente 100 minutos. A maioria dos acasalamentos resulta na transferência de apenas uma porção do cromossomo do doador, uma vez que a ligação entre as duas células pode se romper. Os genes da célula doadora que são transferidos variam, uma vez que o plasmídeo F pode integrar-se em vários sítios distintos do DNA bacteriano. Os genes bacterianos adjacentes à porção líder do fator F são os primeiros e, portanto, os mais frequentemente transferidos. O DNA recém-adquirido pode recombinar-se com o DNA do receptor, tornando-se um componente estável de seu material genético. A transdução consiste na transferência de DNA celular por meio de um vírus bacteriano (bacteriófago, fago). Durante o crescimento do vírus no interior da célula, uma porção do DNA bacteriano é incorporada na partícula viral, sendo transferido para a célula receptora durante a infecção. No interior da célula receptora, o DNA do fago pode integrar-se ao DNA celular e a célula pode adquirir uma nova característica, processo denominado conversão lisogênica. Esse processo pode transformar um organismo não patogênico em patogênico. As toxinas diftérica, botulínica, colérica e eritrogênica (Streptococcus pyogenes) são codificadas por bacteriófagos e podem ser transferidas por transdução. Existem dois tipos de transdução, generalizada e especializada. O tipo generalizado ocorre quando o vírus carreia um segmento derivado de qualquer região do cromossomo bacteriano. Isso ocorre porque o DNA celular é fragmentado após a infecção pelo fago e porções do DNA celular de mesmo tamanho que o DNA viral são incorporadas à partícula viral com uma frequência de cerca de uma a cada 1000 partículas virais. O tipo especializado ocorre quando o DNA do vírus bacteriano, que foi integrado ao DNA celular, é excisado e carreia uma porção do DNA celular adjacente. Uma vez que a maioria dos fagos lisogênicos (temperados) integra-se em sítios específicos no DNA bacteriano, os genes celulares adjacentes transduzidos geralmente são específicos daquele vírus. A transformação consiste na transferência do próprio DNA de uma célula a outra. Isso ocorre por um dos dois métodos seguintes. Na natureza, bactérias em processo de morte podem liberar seu DNA, o qual pode ser captado por células receptoras. Existem poucas evidências indicando que esse processo natural desempenhe papel significativo na doença. Em laboratório, um pesquisador pode extrair DNA de um tipo bacteriano e introduzi-lo em bactérias geneticamente distintas. Quando um DNA purificado é injetado no núcleo de uma célula eucariótica, o processo é denominado transfecção. A transfecção é frequentemente utilizada emprocedimentos de engenharia genética. O uso experimental da transformação revelou importantes informações sobre o DNA. Em 1944, demonstrou-se que o DNA extraído de pneumococos capsulados lisos era capaz de transformar pneumococos acapsulados rugosos em organismos capsulados lisos. Essa demonstração de que o princípio de transformação correspondia ao DNA consistiu na primeira evidência de que o DNA correspondia ao material genético. Microbiota normal é o termo utilizado para descrever as várias bactérias e fungos que são residentes permanentes de determinados sítios corporais, especialmente a pele, a orofaringe, o cólon e a vagina. Os vírus e parasitas, que correspondem aos dois outros importantes grupos de micro-organismos, geralmente não são considerados membros da microbiota normal, embora possam estar presentes em indivíduos assintomáticos. Os membros da microbiota normal variam de um sítio a outro quanto ao número e ao tipo. Embora a microbiota normal seja encontrada povoando intensamente várias regiões do corpo, os órgãos internos habitualmente são estéreis. Regiões como o sistema nervoso central, o sangue, os brônquios inferiores e alvéolos, o fígado, o baço, os rins e a bexiga são desprovidas de organismos, exceto por aqueles organismos transientes. Existe também uma distinção entre a presença desses organismos e o estado de portador. Sob determinados aspectos, somos todos portadores de micro-organismos, porém este não corresponde ao uso habitual do termo no contexto médico. O termo “portador” implica o fato de um indivíduo albergar um patógeno em potencial e, portanto, poder representar uma fonte de infecção de terceiros. Esse termo é mais frequentemente utilizado em referência a uma pessoa que apresenta infecção assintomática ou a um indivíduo que se recuperou de uma doença, mas ainda carreia o organismo, podendo albergá-lo por um longo período. Deve-se também realizar uma distinção entre os membros da microbiota normal, que são residentes permanentes, e a colonização do indivíduo por um novo organismo. Em um contexto, somos todos colonizados pelos organismos da microbiota normal; entretanto, o termo “colonização” refere-se tipicamente à aquisição de um novo organismo. Após a colonização por um novo organismo (isto é, adesão e crescimento, geralmente em uma membrana mucosa), esse organismo pode causar uma doença infecciosa ou pode ser eliminado por nossas defesas. Além disso, o indivíduo colonizado por um novo organismo pode transmitir aquele organismo a outros, isto é, atuar como um reservatório de infecção para terceiros. Os membros da microbiota normal desempenham papel na manutenção da saúde, bem como na promoção de doenças, de três maneiras significativas: (1) Podem causar doenças, especialmente em indivíduos imunocomprometidos ou debilitados. Embora esses organismos não sejam patogênicos em sua localização anatômica usual, podem ser patogênicos em outras regiões do corpo. (2) Constituem um mecanismo de defesa protetor. As bactérias residentes não patogênicas ocupam sítios de adesão na pele e mucosa, podendo interferir na colonização por bactérias patogênicas. A capacidade dos membros da microbiota normal limitarem o crescimento de patógenos é denominada resistência à colonização. Quando a microbiota normal é suprimida, os patógenos podem crescer e causar doenças. Por exemplo, os antibióticos podem reduzir amicrobiota normal do cólon, permitindo que Clostridium difficile, organismo resistente a antibióticos, cresça em abundância, causando uma colite pseudomembranosa. (3) Podem desempenhar uma função nutricional. As bactérias intestinais produzem grande quantidade de vitamina B e vitamina K. Indivíduos malnutridos, quando submetidos ao tratamento com antibióticos orais, podem apresentar deficiências vitamínicas como resultado da redução da microbiota normal. Todavia, uma vez que animais livres de germes exibem bom estado nutricional, a microbiota normal não é essencial à nutrição adequada. O organismo predominante é o Staphylococcus epidermidis, que não é patogênico quando situado na pele, porém pode causar doenças quando atinge determinados sítios, como válvulas cardíacas artificiais ou articulações prostéticas. É encontrado na pele com frequência muito superior que o organismo patogênico relacionado, Staphylococcus aureus. Há cerca de 103-104 organismos/cm2 de pele. A maioria localiza-se superficialmente no estrato córneo, porém alguns encontram-se nos folículos pilosos e atuam como reservatório para substituir a microbiota superficial após a lavagem das mãos. Organismos anaeróbios, como Propionibacterium e Peptococcus, estão situados em folículos mais profundos da derme, onde a tensão de oxigênio é baixa. Propionibacterium acnes é um organismo anaeróbio comum da pele, implicado na patogênese da acne. A levedura Candida albicans é também um membro da microbiota normal da pele. Pode atingir a corrente sanguínea de um indivíduo quando a pele é perfurada por agulhas (por exemplo, em pacientes em uso de cateteres intravenosos, ou indivíduos que fazem uso de fármacos intravenosos). Ela é uma importante causa de infecções sistêmicas em pacientes que apresentam baixa imunidade mediada por células. Um amplo espectro de organismos coloniza o nariz, a garganta e a boca, porém os brônquios inferiores e alvéolos tipicamente contêm poucos organismos, ou nenhum. O nariz é colonizado por uma variedade de espécies estreptocóccicas e estafilocóccicas, das quais a mais importante corresponde ao patógeno S. aureus. Surtos ocasionais de doença devido a esse organismo, particularmente em berçários, podem ser associados a profissionais de saúde portadores do organismo no nariz, na pele ou na região perianal. A garganta contém uma variedade de estreptococos do grupo viridans, espécies de Neisseria e S. epidermidi. Esses organismos não patogênicos ocupam os sítios de adesão da mucosa da faringe, impedindo o crescimento dos patógenos Streptococcus pyogenes, Neisseria meningitidis e S. aureus, respectivamente. Os estreptococos do grupo viridans correspondem a cerca de metade das bactérias encontradas na cavidade oral. Streptococcus mutans, um membro do grupo viridans, tem interesse especial por estar presente em grande número (1010/g) na placa dental, a precursora da cárie. A placa presente na superfície do esmalte é composta por glicanos gelatinosos de alta massa molecular secretados pelas bactérias. As bactérias aprisionadas produzem grande quantidade de ácido, o qual promove a desmineralização do esmalte, iniciando a formação da cárie. Os estreptococos viridantes são também a principal causa da endocardite bacteriana (infecciosa) subaguda. Esses organismos podem atingir a corrente sanguínea durante cirurgias odontológicas, aderindo-se a válvulas cardíacas danificadas. Eikenella corrodens, também componente da microbiota oral normal, causa infecções de pele e de tecidos moles associadas às mordeduras humanas e lesões por “socos”, ou seja, lesões que ocorrem nas mãos durante lutas com as mãos em punho. Bactérias anaeróbias, como espécies de Bacteroides, Prevotella, Fusobacterium, Clostridium e Peptostreptococcus, são encontradas nos sulcos gengivais, onde a concentração de oxigênio é muito baixa. Quando aspirados, esses organismos podem causar abscessos pulmonares, especialmente em pacientes debilitados e com má higiene dental. Além disso, os sulcos gengivais correspondem ao hábitat natural de Actinomyces israelii, um actinomiceto anaeróbio, que pode causar abscessos na mandíbula, nos pulmões ou no abdômen. Em indivíduos com dieta normal, o estômago contém poucos organismos devido a seu baixo pH e suas enzimas. O intestino delgado habitualmente contém pequeno número de estreptococos, lactobacilos e leveduras, particularmente C. albicans. Grandes números destes organismos são encontrados na porção terminal do íleo. O cólon corresponde à principal localização das bactérias no corpo. Cerca de 20% das fezes consistem em bactérias, aproximadamente 1011 organismos/g. A microbiota normal do trato intestinal desempenha importante papel nas doenças extraintestinais. Por exemplo, Escherichia coli corresponde à principal causa de infecções do trato urinário, enquanto Bacteroides fragilis é uma importante causa de peritonite associada à perfuração da parede intestinal por trauma, apendicite ou diverticulite. Outros organismos incluem Enterococcus faecalis, responsável por infecções do trato urinário e endocardite, e Pseudomonas aeruginosa, que pode causar diversas infecções, particularmente em pacientes hospitalizados e com as defesas comprometidas. P. aeruginosa encontra-se presente em 10% das fezes normais, bem como no solo e água. A terapia antibiótica com clindamicina, por exemplo, pode suprimir a microbiota normal predominante, permitindo, assim, que um organismo raro, como Clostridium difficile produtor de toxina, cresça em abundância e cause colite severa. A administração oral de certos antibióticos, como a neomicina, previamente à cirurgia gastrintestinal para “esterilizar” o intestino, leva uma redução significativa da microbiota normal por vários dias, seguida de um retorno gradativo aos níveis normais. A microbiota vaginal de mulheres adultas contém principalmente espécies de Lactobacillus. Os lactobacilos são responsáveis pela produção do ácido que mantém baixo o pH da vagina da mulher adulta. Antes da puberdade e após a menopausa, quando os níveis de estrógeno são baixos, os lactobacilos são raros e o pH vaginal é alto. Aparentemente, os lactobacilos impedem o crescimento de potenciais patógenos, uma vez que sua supressão por meio de antibióticos pode levar ao crescimento abundante de C. albicans. O crescimento excessivo dessa levedura pode resultar em vaginite por Candida. A vagina situa-se próximo ao ânus, podendo ser colonizada por membros da microbiota fecal. Por exemplo, mulheres propensas a infecções recorrentes do trato urinário albergam organismos como E. coli e Enterobacter no introito.Cerca de 15-20% das mulheres em idade fértil apresentam estreptococos do grupo B na vagina. Esse organismo é uma importante causa de sépsis e meningite em recém-nascidos, sendo adquirido durante a passagem pelo canal de parto. Em aproximadamente 5% das mulheres, a vagina é colonizada por S. aureus, implicando em uma predisposição à síndrome do choque tóxico. Em indivíduos sadios, a urina, quando na bexiga, é estéril. Contudo, durante a passagem pelas porções mais distais da uretra, a urina sofre contaminação por S. epidermidis, coliformes, difteroides e estreptococos não hemolíticos. A região ao redor da uretra feminina e de homens não circuncisados contêm secreções que apresentam Mycobacterium smegmatis, um organismo acidorresistente. A pele que reveste o trato genitourinário corresponde ao sítio de Staphylococcus saprophyticus, uma causa de infecções do trato urinário em mulheres. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: LEVINSON, Warren. Microbiologia Médica e Imunologia. 12. ed. Porto Alegre: Amgh, 2014. 2. Qual o mecanismo de ação das bactérias intrae extracelular no desenvolvimento da doença? Os micro-organismos podem penetrar no hospedeiro através de inalação, ingestão, transmissão sexual, picadas de insetos ou outros animais, ou através de injeção. As primeiras defesas contra infecções são a pele e as superfícies mucosas intactas, as quais proporcionam barreiras físicas e produzem substâncias antimicrobianas. Em geral, infecções dos tratos respiratório, gastrointestinal ou genitourinário que ocorrem em pessoas saudáveis são causadas por micro-organismos relativamente virulentos, que são capazes de danificar as ou penetrar em barreiras epiteliais intactas. Em contraste, a maioria das infecções cutâneas em pessoas saudáveis é causada por organismos menos virulentos, que penetram na pele através de locais danificados (cortes e queimaduras). Pele. A camada externa queratinizada e densa da pele é uma barreira natural à infecção, e o baixo pH da pele (∼5,5) e a presença de ácidos graxos inibem o crescimento de micro- organismos, com exceção da flora normal residente. A pele humana é normalmente habitada por uma variedade de espécies de bactérias e fungos, incluindo algumas oportunistas potenciais, como S. epidermidis e Candida albicans. Apesar de a pele ser usualmente uma barreira eficaz, alguns tipos de fungos (dermatófitos) podem infectar o estrato córneo, cabelo e unhas, e um número pequeno de micro-organismos é capaz de atravessar a pele intacta. Por exemplo, as formas larvares de Schistosoma liberadas de caramujos de água doce penetram na pele de nadadores através da liberação de colagenase, elastase e outras enzimas que dissolvem a matriz extracelular. Entretanto, a maioria dos microorganismos penetra através de lesões na pele, incluindo orifícios superficiais (infecções fúngicas), feridas (estafilococos), queimaduras (Pseudomonas aeruginosa) e feridas nos pés relacionadas ao diabetes e à pressão (infecções multibacterianas). Cateteres intravenosos em pacientes hospitalizados podem produzir infecções locais ou sistêmicas (bacteremia). Picadas de agulha podem expor o receptor a sangue potencialmente infectado e podem transmitir HBV, vírus da hepatite C (HCV) ou HIV. Alguns patógenos penetram na pele via picada de inseto ou de animal. Por exemplo, picadas de pulgas, carrapatos, mosquitos, ácaros e piolhos lesionam a pele e transmitem arbovírus (que causam a febre amarela e encefalites), riquétsias (febre maculosa das Montanhas Rochosas [FMMR]), bactérias (peste, doença de Lyme) protozoários (malária, leishmaniose) e helmintos (filaríases). Mordidas de animais podem levar a infecções por bactérias ou alguns vírus, como a raiva. Trato Gastrointestinal. A maioria dos patógenos gastrointestinais é transmitida por alimentos ou água contaminados por material fecal. Onde há falha nas condições de higiene, as doenças diarreicas se tornam exuberantes. Secreções gástricas ácidas são importantes defesas no trato gastrointestinal e são letais para muitos patógenos gastrointestinais. Voluntários saudáveis não se infectam por Vibrio cholerae a menos que sejam alimentados com 1011 organismos, enquanto voluntários que receberam V. cholerae e bicarbonato de sódio tiveram um aumento de 10.000 vezes na susceptibilidade à cólera. Em contraste, alguns agentes ingeridos, como a Shigella e os cistos de Giardia, são relativamente resistentes ao ácido gástrico; portanto, tão pouco quanto 100 organismos de cada são suficientes para causar doença. Outras defesas normais do trato gastrointestinal incluem (1) a camada de muco viscoso que recobre o epitélio intestinal, (2) enzimas pancreáticas líticas e detergentes biliares, (3) peptídeos antimicrobianos de mucosa denominados defensinas, (4) a flora normal e (5) anticorpos IgA secretados. Os anticorpos IgA são produzidos pelos plasmócitos localizados em tecidos linfoides associados à mucosa (MALT). Esses agregados linfoides são recobertos por uma camada única de células epiteliais especializadas, denominadas células M. As células M são importantes para o transporte de antígenos para os tecidos linfoides associados à mucosa e para a ligação e absorção de numerosos patógenos intestinais, incluindo poliovírus, Escherichia coli enteropática, V. cholerae, Salmonella typhi e Shigella flexneri. As infecções via trato gastrointestinal ocorrem quando as defesas locais são enfraquecidas ou os organismos desenvolvem estratégias para superar estas defesas. As defesas do hospedeiro são enfraquecidas por baixa acidez gástrica, por antibióticos que alteram a fl ora bacteriana normal (p. ex., na colite pseudomembranosa), ou quando ocorre redução da peristalse ou obstrução mecânica (p. ex., na síndrome da alça cega). A maioria dos virus envelopados são inativados pela bile e enzimas digestivas, mas os vírus não envelopados podem ser resistentes (p. ex., o vírus da hepatite A, rotavírus, reovírus, e norovírus). As bactérias enteropatogênicas provocam doença gastrointestinal por meio de uma variedade de mecanismos: Enquanto crescem em alimentos contaminados, algumas cepas de estafilococos liberam poderosas enterotoxinas que causam envenenamento alimentar sem qualquer multiplicação bacteriana no intestino. V. cholerae e E. coli toxigênica se multiplicam no interior da camada mucosa que recobre o epitélio intestinal e liberam exotoxinas, que fazem com que o epitélio intestinal secrete grandes volumes de fluido, resultando em diarreia aquosa. Shigella, Salmonella e Campylobacter invadem e danificam a mucosa intestinal e lâmina própria e, portanto, causam ulceração, inflamação e hemorragia que são clinicamente manifestadas como disenteria. A Salmonella typhi passa da mucosa danificada, através das placas de Peyer e linfonodos mesentéricos, para alcançar a corrente sanguínea, resultando em uma infecção sistêmica. A infecção fúngica do trato gastrointestinal ocorre principalmente em indivíduos imunologicamente comprometidos. A Candida, que faz parte da flora gastrointestinal normal, demonstra uma predileção pelo epitélio escamoso estratificado, causando candidíase oral ou esofagite membranosa, mas também pode se espalhar para o estômago, trato gastrointestinal inferior e órgãos sistêmicos. As formas císticas dos protozoários intestinais são essenciais para sua transmissão, pois estes cistos resistem ao ácido estomacal. No intestino, os cistos se transformam em trofozoítas móveis e se ligam a açúcares no epitélio intestinal através de lectinas de superfície. O que acontece a seguir difere entre os patógenos. A Giardia lamblia fi a-se à borda em escova epitelial, enquanto os criptosporídeos são internalizados por enterócitos, nos quais eles formam gametas e esporos. A E. histolytica causa citólise mediada por contato através de uma proteína de poro formadora de canal e, portanto, ulcera e invade a mucosa colônica. Os helmintos intestinais, via de regra, causam doença apenas quando estão presentes em grandes números ou em locais ectópicos, por exemplo, através da obstrução do intestino ou invadindo e destruindo os ductos biliares (Ascaris lumbricoides). Os ancilostomídeos podem causar anemia por deficiência de ferro devido à perda crônica de sangue ingerido a partir das vilosidades intestinais; a tênia do peixe Diphyllobothrium latum pode depletar seu hospedeiro de vitamina B12, dando origem a uma doença que se assemelha à anemia perniciosa. Finalmente, as larvas de diversos helmintos atravessam o intestino brevemente em sua migração para outros órgãos; por exemplo, as larvas de Trichinella spiralis encistam-se preferencialmente na musculatura, as formas larvares de espécies de Echinococcus se localizam no fígado ou pulmão. Trato Respiratório. Um grande número de micro-organismos,incluindo vírus, bactérias e fungos, é inalado diariamente por cada habitante de uma cidade. Em muitos casos, os micro- organismos são inalados em partículas de poeira ou aerossóis. A distância que estas partículas viajam no sistema respiratório é inversamente proporcional ao seu tamanho. Partículas grandes são retidas na cobertura mucociliar que recobre o nariz e o trato respiratório superior. Os micro- organismos inalados são retidos no muco secretado pelas células caliciformes e são então transportados pela ação ciliar para o fundo da garganta, onde eles são deglutidos e eliminados. Partículas menores de 5 µm viajam diretamente para os alvéolos, onde elas são fagocitadas por macrófagos alveolares ou por neutrófilos recrutados para os pulmões por citocinas. Os micro-organismos que invadem o trato respiratório saudável normal desenvolveram mecanismos específicos para superar as defesas mucociliares ou evitar a destruição por macrófagos alveolares. Alguns patógenos respiratórios bem-sucedidos evadem essas defesas através da ligação a células epiteliais no trato respiratório inferior e faringe. Por exemplo, os vírus influenza possuem proteínas hemaglutininas que se projetam da superfície do vírus e se ligam ao ácido siálico na superfície das células epiteliais. Essa ligação induz a célula do hospedeiro a internalizar o vírus, levando a entrada e replicação viral na célula hospedeira. Entretanto, o ácido siálico também interfere na liberação de vírus recém-sintetizados da célula do hospedeiro. Os vírus influenza possuem uma outra proteína de superfície celular, neuraminidase, a qual cliva o ácido siálico e permite que os vírus sejam liberados da célula do hospedeiro. A neuraminidase também reduz a viscosidade do muco e facilita o trânsito viral no trato respiratório. Interessantemente, algumas drogas antiinfluenza são análogas do ácido siálico, as quais inibem a neuraminidase e evitam a liberação viral da célula hospedeira. Certos patógenos respiratórios bacterianos podem prejudicar a atividade ciliar. Por exemplo, Haemophilus influenzae e Bordetella pertussis produzem toxinas que paralisam os cílios da mucosa; P. aeruginosa, uma causa de infecção respiratória intensa em pessoas com fibrose cística, e M. pneumoniae produzem substâncias ciliostáticas. Algumas bactérias como Streptococcus pneumoniae ou espécies de Staphylococcus não possuem fatores de aderência específi cos, e frequentemente ganham acesso após uma infecção viral causar perda de epitélio ciliado, tornando os indivíduos com infecção respiratória viral mais susceptíveis a estas superinfecções bacterianas secundárias. O dano crônico aos mecanismos de defesa mucociliares ocorre em tabagistas e pessoas com fibrose cística, enquanto injúria aguda ocorre em pacientes intubados e naqueles que aspiraram ácido gástrico. Alguns patógenos respiratórios evitam a fagocitose ou destruição após a fagocitose. O M. tuberculosis, por exemplo, ganha sua posição segura no alvéolo normal porque ele é capaz de escapar da morte no interior dos fagolisossomos dos macrófagos. Fungos oportunistas infectam os pulmões quando a imunidade celular é deprimida ou quando os leucócitos estão reduzidos em número (p. ex., P. jiroveci em pacientes com Aids e espécies de Aspergillus após a quimioterapia). Trato Urogenital. O trato urinário é quase sempre invadido do exterior via uretra. A lavagem regular do trato urinário com urina serve como uma defesa contra micro-organismos invasores. A urina na bexiga é normalmente estéril, e patógenos eficientes (p. ex., N. gonorrhoeae, E. coli) se aderem ao epitélio urinário. A anatomia desempenha um papel importante na infecção. As mulheres possuem 10 vezes mais infecções do trato urinário do que os homens, pois a distância entre a bexiga urinária e a pele (i.e., a extensão da uretra) é de 5 cm nas mulheres, em contraste com 20 cm nos homens. A obstrução do fluxo urinário e/ou refluxo podem comprometer as defesas normais e aumentar a susceptibilidade a infecções do trato urinário. As infecções do trato urinário podem se espalhar retrogradamente da bexiga para os rins e causar uma pielonefrite aguda e crônica, a qual é a principal causa evitável de insufi ciência renal. Da puberdade até a menopausa a vagina é protegida de patógenos por um pH baixo resultante do catabolismo de glicogênio no epitélio normal pelos lactobacilos. Os antibióticos podem destruir os lactobacilos e tornar a vagina susceptível à infecção. Patógenos sexualmente transmissíveis desenvolveram mecanismos específicos para se fixar à mucosa vaginal ou cervical, ou penetram via lesões locais na mucosa durante o ato sexual (HIV, HPV, Treponema pallidum). Alguns micro-organismos proliferam-se localmente, no sítio da infecção, enquanto outros penetram a barreira epitelial e se disseminam para locais distantes via linfáticos, sangue ou nervos. Patógenos que causam infecções superficiais permanecem confinados ao lúmem de vísceras ocas (p. ex., Vibrio cholerae), ou aderem a ou se proliferam exclusivamente dentro ou sobre as células epiteliais (p. ex., papilomavírus, dermatófitos). Uma variedade de bactérias patogênicas, fungos e helmintos são invasivos devido à sua motilidade ou à habilidade de secretar enzimas líticas (p. ex., estreptococos e estafilococos secretam hialuronidase, a qual degrada a matriz extracelular entre as células do hospedeiro). A dispersão microbiana inicialmente segue os planos teciduais de menor resistência e para locais drenados por linfáticos regionais. Por exemplo, as infecções estafilocócicas podem progredir de abscessos localizados ou furúnculos para linfonodos regionais. Isto pode, algumas vezes, levar a bacteremia e colonização de órgãos distantes (coração, fígado, cérebro, rim, osso). No sangue, os micro- organismos podem ser transportados livremente ou no interior de células hospedeiras. Alguns vírus (p. ex., poliovírus e HBV), a maioria das bactérias e fungos, e alguns protozoários (p. ex., tripanossomos africanos) e todos os helmintos são transportados livremente no plasma. Os leucócitos podem carrear herpesvírus, HIV, micobactérias e organismos dos gêneros Leishmania e Toxoplasma. Alguns vírus (p. ex., vírus da febre do carrapato do Colorado) e parasitos (Plasmodium e Babesia) são carreados por eritrócitos. A maioria dos vírus dissemina-se de célula a célula através de replicação e liberação de virions infecciosos, mas outros podem se propagar de célula a célula por fusão ou transporte no interior de nervos (p. ex., vírus da raiva). Focos infecciosos semeados pelo sangue são denominados de focos secundários. Eles podem ser únicos e grandes (um abscesso solitário ou tuberculoma) ou múltiplos e pequenos (p. ex., tuberculose miliar ou microabscessos por Candida em muitos tecidos). A invasão esporádica da corrente sanguínea por micro-organismos pouco virulentos ou não virulentos (p. ex., durante a escovação dentária) é comum, mas é rapidamente controlada pelas defesas normais do hospedeiro. Em contraste, a viremia, bacteremia, fungemia, ou parasitemia disseminadas por patógenos virulentos são um insulto sério e se manifestampor febre, hipotensão, e múltiplos outros sinais e sintomas sistêmicos de sepse. A invasão maciça da corrente sanguínea por bactérias ou suas endotoxinas pode rapidamente se tornar fatal, mesmo para indivíduos previamente saudáveis. As principais manifestações da doença infecciosa podem aparecer em locais distantes do ponto de entrada do micro-organismo. Por exemplo, os vírus da catapora e do sarampo penetram por via respiratória, mas causam exantemas na pele; o poliovírus penetra através do intestino, mas destrói neurônios motores. O parasito Schistosoma mansoni penetrapela pele, mas eventual mente se localiza nos vasos sanguíneos do sistema porta e mesentério, danificando o fígado e o intestino. Por outro lado, o Schistosoma haematobium se localiza na bexiga urinária e causa cistite. O vírus da raiva viaja para o cérebro de forma retrógrada através dos nervos, enquanto o vírus varicela-zoster (VZV) se esconde no gânglio da raiz dorsal, e sob reativação, viaja ao longo dos nervos para causar o herpes zoster. A via transplacentária é um importante mecanismo de transmissão. Quando organismos infecciosos alcançam o útero grávido através do orifício cervical ou da corrente sanguínea e são capazes de atravessar a placenta, podem resultar em danos severos ao feto. A placentite bacteriana ou por micoplasma pode causar parto prematuro ou natimorto. Infecções virais podem causar malformações do feto, com a infecção que ocorre no início da gestão resultando em doenças mais severas. A infecção pela rubéola durante o primeiro trimestre pode causar doença cardíaca congênita, retardo mental, catarata ou surdez no bebê, enquanto pouco dano é causado pela infecção por rubéola durante o terceiro trimestre. A transmissão de treponemas leva à sífilis congênita apenas quando T. pallidum infecta a mãe tardiamente no segundo trimestre, mas então causa osteocondrite e periostite fetal intensa que levam a múltiplas lesões ósseas. A infecção também pode ocorrer durante a passagem através do canal do parto (p. ex., conjuntivite gonocócica ou clamidial) ou através do leite materno (p. ex., CMV, HBV, vírus da leucemia de células T humano-1 [HTLV-1]). A transmissão materna do HIV é a principal causa de Aids em crianças. A transmissão materna de HBV pode tardiamente causar hepatite crônica ou câncer hepático. Agentes infecciosos estabelecem infecção e danificam tecidos por meio de três mecanismos: Eles podem contatar as ou penetrar nas células do hospedeiro e causar diretamente a morte celular. Eles podem liberar toxinas que destroem as células a distância, liberam enzimas que degradam componentes teciduais, ou danificar os vasos sanguíneos e causar necrose isquêmica. Eles podem induzir a resposta imune do hospedeiro que, apesar de direcionada contra o invasor, causa dano tecidual adicional. As respostas defensivas do hospedeiro constituem uma faca de dois gumes: elas são necessárias para superar a infecção, mas, ao mesmo tempo, podem contribuir diretamente para o dano tecidual. Virulência Bacteriana. O dano bacteriano aos tecidos do hospedeiro depende da habilidade da bactéria de se aderir às células do hospedeiro, invadir células e tecidos, ou gerar toxinas. Bactérias patogênicas possuem genes de virulência que codificam proteínas que conferem estas propriedades. Os genes de virulência são frequentemente encontrados agrupados juntos, em conjuntos denominados ilhas de patogenicidade. Todas as cepas de Salmonella que infectam humanos são proximamente relacionadas o suficiente para formar uma única espécie, o que significa que elas compartilham muitos genes housekeeping. Diferenças em um número relativamente pequeno de genes de patogenicidade determinam se um isolado de Salmonella pode causar febre tifoide ameaçadora à vida ou enterite autolimitante. Plasmídeos e bacteriófagos (vírus) são elementos genéticos móveis que se disseminam entre as bactérias e podem codificar fatores de virulência (p. ex., toxinas, ou enzimas que conferem resistência a antibióticos). Os bacteriófagos ou plasmídeos podem converter bactérias anteriormente não patogênicas em virulentas. A troca destes elementos entre bactérias pode favorecer a receptora com uma vantagem de sobrevivência, com a capacidade de causar doença, ou ambas. Os plasmídeos ou transposons codificadores de resistência a antibióticos podem converter uma bactéria susceptível a um antibiótico em uma resistente, tornando a terapia difícil (p. ex., enterococos resistentes à vancomicina e estafilococos resistentes à meticilina são endêmicos em muitos hospitais). Muitas bactérias regulam a expressão de genes coordenadamente em uma grande população de organismos através da percepção de quórum. Por exemplo, bactérias podem induzir a expressão de fatores de virulência à medida que sua concentração no tecido aumenta. Isto pode permitir o crescimento de bactérias em locais discretos do hospedeiro, como em um abscesso ou pneumonia consolidada, para superar as defesas do hospedeiro. O S. aureus regula fatores de virulência de forma coordenada através da secreção de peptídeos autoindutores. À medida que as bactérias crescem a concentrações elevadas, o nível de peptídeos autoindutores aumenta, estimulando a produção de toxina. Dentre a população, algumas bactérias produzem o peptídeo autoindutor e outras respondem a este através da secreção de toxinas. Portanto, devido a percepção do quórum, bactérias unicelulares adquirem algumas das propriedades mais complexas dos organismos multicelulares, nas quais células diferentes realizam funções diferentes. Comunidades de bactérias podem formar biofilmes nos quais os organismos vivem em uma camada viscosa de polissacarídeos extracelulares, que aderem aos tecidos do hospedeiro ou dispositivos, como cateteres intravasculares e articulações artificiais. Além de melhorar a aderência aos tecidos do hospedeiro, os biofilmes aumentam a virulência das bactérias por torná- las inacessíveis aos mecanismos efetores imunes, e aumentam sua resistência a drogas antimicrobianas. A formação de biofilmes parece ser importante na persistência e recidiva de infecções como endocardite bacteriana, infecções em articulações artificiais, e infecções respiratórias em pessoas com fibrose cística. Aderência Bacteriana às Células Hospedeiras. As adesinas são moléculas de superfície bacteriana que se ligam às células hospedeiras ou matriz extracelular. As adesinas bacterianas que ligam bactérias às células hospedeiras são limitadas em tipos estruturais, mas possuem um amplo espectro de especificidade da célula hospedeira. O Streptococcus pyogenes é uma bactéria Gram-positiva que se adere aos tecidos do hospedeiro por meio da projeção da proteína F e ácido teicoico da parede celular bacteriana e ligação à fibronectina na superfície das células hospedeiras e na matriz extracelular. Os pili são proteínas filamentosas na superfície de bactérias. As hastes dos pili são compostas de subunidades repetidas conservadas, enquanto os aminoácidos variáveis nas pontas do pili determinam a especificidade de ligação das bactérias. Cepas de E. coli que causam infecções do trato urinário unicamente expressam um tipo de pilus P específico, o qual se liga a um motifgal(α1-4)gal expresso nas células uroepiteliais. Os pili nas bactérias N. gonorrhoeae medeiam a aderência da bactéria às células hospedeiras, e também são alvos da resposta de anticorpos contra N. gonorrhoeae. A variação no tipo de pili expresso é um mecanismo importante no qual a N. gonorrhoeae escapa da resposta imune. Virulência de Bactérias Intracelulares. Bactérias intracelulares facultativas infectam células epiteliais (Shigella e E. coli enteroinvasiva), macrófagos (M. tuberculosis, M. leprae), ou ambos (S. typhi). O crescimento de bactérias em células pode permitir que a bactéria escape de certos mecanismos efetores da resposta imune (p. ex., anticorpos), ou isto pode facilitar a dis persão da bactéria, já que a migração dos macrófagos carreia bactérias M. tuberculosis do pulmão para outros locais. As bactérias possuem uma variedade de mecanismos para penetrar nas células hospedeiras. Algumas bactérias utilizam a resposta imune do hospedeiro para penetrar nos macrófagos. A cobertura da bactéria com anticorpos ou com aproteína C3b do complemento (opsonização) normalmente resulta em fagocitose da bactéria por macrófagos. Da mesma forma que muitas bactérias, o M. tuberculosis ativa a via alternativa do complemento, resultando em opsonização pelo C3b. Uma vez recoberto pelo C3b, o M. tuberculosis se liga ao receptor CR3 do complemento nos macrófagos e sofre endocitose para dentro da célula. Bactérias Gram- negativas utilizam um sistema complexo de secreção para penetrar em células epiteliais. Esse sistema consiste em estruturas semelhantes a agulhas que se projetam da superfície bacteriana e se ligam às células do hospedeiro, formando poros na membrana celular da célula hospedeira, e então injetam proteínas que medeiam o rearranjo do citoesqueleto celular, facilitando a entrada bacteriana. Bactérias como a Listeria monocytogenes podem manipular o citoesqueleto celular para se disseminar diretamente de célula a célula, talvez permitindo que a bactéria escape de mecanismos efetores imunes. Uma vez no citoplasma, as bactérias possuem diferentes estratégias para interagir com a célula hospedeira. Shigella e E. coli inibem a síntese de proteína do hospedeiro, replicam-se rapidamente, e lisam a célula hospedeira dentro de 6 horas. No interior de macrófagos, a maioria das bactérias é morta quando o fagossomo se fusiona a um lisossomo ácido para formar o fagolisossomo, mas certas bactérias enganam esta defesa do hospedeiro. Por exemplo, M. tuberculosis bloqueia a fusão do lisossomo com o fagossomo, permitindo que este se prolifere de forma incontrolada no interior do macrófago. Outras bactérias evitam a destruição nos macrófagos escapando do fagossomo. A L. monocytogenes produz uma proteína formadora de poro, denominada de listeriolisina O, e duas fosfolipases que degradam a membrana do fagossomo, permitindo que a bactéria escape para o citoplasma. Toxinas Bacterianas. Qualquer substância bacteriana que contribui para doença pode ser considerada uma toxina. As toxinas são classificadas como endotoxinas, as quais são componentes da célula bacteriana, e exotoxinas, as quais são proteínas secretadas pela bactéria. A endotoxina bacteriana é um lipopolissacarídeo (LPS) que é um grande componente da membrana externa das bactérias Gram-negativas. O LPS é composto de uma âncora de ácidos graxos de cadeia longa (lipídio A) conectada a uma cadeia de açúcar central, ambas as quais são muito semelhantes em todas as bactérias Gram-negativas. Aderida ao açúcar central existe uma cadeia de carboidrato variável (antígeno O), a qual é utilizada de forma diagnóstica para sorotipar e discriminar entre diferentes cepas de bactérias. A resposta ao LPS bacteriano pode ser tanto benéfica como maléfica ao hospedeiro. A resposta é benéfica quando o LPS ativa a imunidade protetora de diversas formas, incluindo a indução de citocinas e quimioatrativos (quimiocinas) importantes do sistema imune, assim como o aumento da expressão de moléculas coestimulatórias, as quais potencializam a ativação de linfócitos T. Entretanto, acredita-se que altos níveis de LPS desempenham um papel importante no choque séptico, coagulação intravascular disseminada (CID), e síndrome da angústia respiratória do adulto, principalmente através da indução de níveis excessivos de citocinas como TNF, IL-1 e IL-12. O LPS se liga ao receptor de superfície celular CD14, e o complexo então se liga ao receptor Toll-like 4 (TLR4), o qual é um receptor de reconhecimento padrão do sistema imune inato e transmite sinais que levam à resposta celular. As exotoxinas são proteínas secretadas que causam injúria celular e doença. Elas podem ser classificadas em categorias amplas através de seu local e mecanismo de ação. Estas são brevemente descritas posteriormente e discutidas em mais detalhes nas seções específicas sobre cada tipo de bactéria. Enzimas. As bactérias secretam uma variedade de enzimas (proteases, hialuronidases, coagulases, fibrinolisinas) que atuam em seus respectivos substratos in vitro, mas o papel de apenas algumas destas nas doenças é entendido. Por exemplo, certas proteases produzidas por S. aureus degradam proteínas que mantêm os queratinócitos juntos, fazendo com que a epiderme se destaque da pele profunda. Toxinas que alteram a sinalização intracelular ou vias regulatórias. A maioria dessas toxinas possui uma subunidade ativa (A) com atividade enzimática e uma subunidade ligante (B) que se liga a receptores na superfície celular e levam a subunidade A para o citoplasma celular. O efeito dessas toxinas depende da especificidade de ligação do domínio B e das vias celulares afetadas pelo domínio A. As toxinas A-B são produzidas por muitas bactérias, incluindo o Bacillus anthracis, V. cholerae, e algumas cepas de E. coli. Neurotoxinas produzidas por Clostridium botulinum e Clostridium tetani inibem a liberação de neurotransmissores, resultando em paralisia. Essas toxinas não destroem neurônios; em vez disso, os domínios A interagem especificamente com proteínas envolvidas na secreção de neurotransmissores na junção sináptica. Tanto o tétano como o botulismo podem resultar em morte por insuficiência respiratória devido a paralisia dos músculos torácicos e diafragmáticos. Os superantígenos são toxinas bacterianas que estimulam um grande número de linfócitos T através da ligação a porções conservadas do receptor da célula T, levando a uma proliferação maciça de linfócitos T e liberação de citocina. Os altos níveis de citocinas podem levar a extravasamento capilar e choque. Os superantígenos produzidos por S. aureus e S. pyogenes causam a síndrome do choque tóxico (SCT). REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: KUMAR, Vinay et al. Robins & Cotran PATOLOGIA: Bases Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 3. Como o sistema imune combate a infecção bacteriana? (manifestações clínicas gerais, infecção e barreiras físicas do corpo humano) O desfecho da infecção é determinado pela habilidade do microorganismo de infectar, colonizar e danificar os tecidos do hospedeiro, e pela habilidade dos mecanismos de defesa do hospedeiro de erradicar a infecção. As barreiras do hospedeiro à infecção impedem a entrada de micro-organismos no corpo e consistem em defesas imunes inatas e adaptativas. Os mecanismos de defesa imune inata existem antes da infecção e respondem rapidamente aos micro- organismos. Esses mecanismos incluem barreiras físicas à infecção, células fagocíticas, células natural killer (NK), e proteínas plasmáticas, incluindo as proteínas do sistema complemento e outros mediadores das respostas inflamatórias (citocinas, colectinas, reativos de fase aguda). As respostas imunes adaptativas são estimuladas pela exposição aos micro-organismos e aumentam em magnitude, velocidade e eficácia com exposições sucessivas aos micro- organismos. A imunidade adaptativa é mediada por linfócitos T e B e seus produtos. Os micro-organismos e o sistema imune têm se engajado em uma batalha evolucionária, na qual cada um tenta sobrepujar o outro. O sistema imune é capaz de efetivamente combater muitas infecções, mas micro-organismos diferentes desenvolveram formas de evadir as defesas do hospedeiro (discutido posteriormente). Em algumas infecções, um equilíbrio é alcançado entre o micro-organismo e o hospedeiro, de forma que a infecção persiste em um estado de latência, mas não causa patologia significativa. Em tais situações, o declínio de respostas imunes pode resultar em rápida reativação da infecção e manifestações patológicas intensas. Tal reativação é vista em infecções virais latentes (p. ex., EBV) e algumas infecções bacterianas (p. ex., tuberculose). Embora as reações de defesa antimicrobiana do hospedeirosejam numerosas e variadas, existem algumas importantes características gerais de imunidade aos microrganismos. A defesa contra microrganismos é mediada pelos mecanismos efetores da imunidade inata e adaptativa. O sistema imune inato fornece a defesa inicial e o sistema imune adaptativo proporciona uma resposta mais forte e sustentada. Muitos microrganismos patogênicos evoluíram para resistir à imunidade inata e a proteção contra essas infecções é criticamente dependente das respostas imunes adaptativas. Nas respostas adaptativas, um grande número de células efetoras e de moléculas de anticorpos são gerados a fim de eliminar os microrganismos e células de memória que protegem o indivíduo de infecções repetidas. O sistema imunológico responde de maneira especializada e distinta a diferentes tipos de microrganismos para combater esses agentes infecciosos da forma mais eficaz possível. Diferentes microrganismos requerem diferentes mecanismos de eliminação, e o sistema imune adaptativo evoluiu para responder contra microrganismos da melhor forma. A geração dos subgrupos de células T CD4+ efetoras TH1, TH2 e TH17 e a produção de diferentes isotipos de anticorpos são excelentes exemplos da especialização da imunidade adaptativa. A sobrevivência e a patogenicidade dos microrganismos em um hospedeiro são criticamente influenciadas pela capacidade dos microrganismos para evadir-se ou resistir aos mecanismos efetores da imunidade. Os microrganismos infecciosos e o sistema imunológico coevoluíram e estão engajados em uma luta constante para a sobrevivência. O equilíbrio entre a resposta imune do hospedeiro e estratégias microbianas para resistir à imunidade frequentemente determina o resultado de infecções. Os microrganismos desenvolveram uma variedade de mecanismos para sobrevivência em face das poderosas defesas imunológicas Muitos microrganismos estabelecem infecções latentes ou persistentes, nas quais a resposta imune controla, mas não elimina o microrganismo e, o microrganismo sobrevive sem propagar a infecção. A latência é uma característica de infecções por vários vírus, especialmente vírus de DNA das famílias herpes e poxvírus e algumas bactérias intracelulares. Nas infecções virais latentes, o DNA viral pode ser integrado ao DNA das células infectadas, mas nenhum vírus infectante é produzido. Nas infecções bacterianas persistentes, tais como tuberculose, as bactérias podem sobreviver dentro das vesículas endossomais de células infectadas. Em todas essas situações, se o sistema imunológico do hospedeiro torna-se deficiente por qualquer motivo (p. ex., câncer ou tratamento de câncer, imunossupressão para o tratamento de rejeição de transplantes, ou infecção por HIV), o microrganismo latente pode ser reativado, resultando numa infecção que causa problemas clínicos significativos. Defeitos hereditários e adquiridos na imunidade inata e adaptativa são importantes causas de susceptibilidade a infecções. Muitos deles são bem conhecidos, incluindo distúrbios como a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), e outras síndromes de imunodeficiência hereditárias menos comuns. Além disso, defeitos sutis e mal definidos em defesas do hospedeiro podem ser a base de muitas infecções comuns. Imunidade a bactérias extracelulares. As bactérias extracelulares são capazes de se replicar fora das células hospedeiras por exemplo, no sangue, em tecidos conjuntivos, e nos espaços teciduais, como os lumens das vias aéreas e do trato gastrintestinal. Muitas espécies diferentes de bactérias extracelulares são patogênicas, e a doença pode ser causada por dois mecanismos principais. Em primeiro lugar, essas bactérias induzem inflamação, o que resulta na destruição dos tecidos no local da infecção. Em segundo lugar, as bactérias produzem toxinas, que têm diversos efeitos patológicos. As toxinas pode ser endotoxinas, que são componentes da parede celular bacteriana, ou exotoxinas, que são secretadas pelas bactérias. A endotoxina de bactérias Gram-negativas, também chamada de lipopolissacarídeo (LPS), é um potente ativador de macrófagos, células dendríticas e células endoteliais. Muitas exotoxinas são citotóxicas e outras causam doença por vários mecanismos. Por exemplo, a toxina da difteria desliga a síntese de proteínas em células infectadas, a toxina da cólera interfere no transporte de íons e de água, a toxina do tétano inibe a transmissão neuromuscular, e a toxina antraz interrompe várias vias bioquímicas de sinalização essenciais nas células infectadas. Outras exotoxinas interferem nas funções celulares normais sem destruir as células, outras exotoxinas ainda estimulam a produção de citocinas que podem causar doença. Imunidade Inata contra bactérias extracelulares. Os principais mecanismos de imunidade inata contra bactérias extracelulares são a ativação do complemento, a fagocitose e a resposta inflamatória. Ativação do complemento. Os peptideoglicanos na parede celular das bactérias Gram- positivas e o LPS em bactérias Gram-negativas ativam o complemento da via alternativa (Cap. 13). As bactérias que expressam manose na sua superfície, podem se ligar à lectina de ligação a manose, que ativa complemento pela via das lectinas. Um resultado da ativação do complemento é opsonização e fagocitose aumentada de bactérias. Além disso, o complexo de ataque à membrana gerado pela ativação do complemento leva à lise de bactérias, em especial das espécies Neisseria que são particularmente suscetíveis à lise porque possui paredes celulares finas, e os subprodutos do complemento estimulam a resposta inflamatória, recrutando e ativando os leucócitos. Ativação de fagócitos e inflamação. Fagócitos (neutrófilos e macrófagos) utilizam receptores de superfície, incluindo os receptores de manose e receptores scavenger para reconhecer as bactérias extracelulares, e eles utilizam receptores Fc e receptores de complemento para reconhecer bactérias opsonizadas com anticorpos e proteínas do complemento, respectivamente. Os produtos microbianos ativam receptores do tipo Toll (TLRs) e vários sensores citoplasmáticos em fagócitos e em outras células. Alguns desses receptores funcionam principalmente para promover a fagocitose dos microrganismos (p. ex., receptores de manose, receptores scavenger); outros estimulam as atividades microbicidas dos fagócitos (principalmente os TLRs); e outros ainda promovem tanto a fagocitose quanto a ativação dos fagócitos (Fc e receptores de complemento). Em adição, as células dendríticas e os fagócitos que são ativadas pelos microrganismos secretam citocinas que induzem a infiltração leucocitária nos locais de infecção (inflamação). Os leucócitos recrutados ingerem e destroem as bactérias. A Imunidade Adaptativa contra Bactérias Extracelulares. A imunidade humoral é uma importante resposta imunológica protetora contra bactérias extracelulares, funciona para bloquear a infecção, para eliminar os microrganismos e para neutralizar suas toxinas. As respostas dos anticorpos contra bactérias extracelulares são dirigidas contra antígenos de parede celular e toxinas segregadas e associados às células, que podem ser polissacarídeos ou proteínas. Os polissacarídeos são antígenos prototípicos T-independentes e a imunidade humoral é o principal mecanismo de defesa contra bactérias encapsuladas ricas em polissacarídeo. Os mecanismos efetores utilizados pelos anticorpos para combater essas infecções incluem neutralização, opsonização e fagocitose e ativação do complemento pela via clássica (Cap. 13). A neutralização é mediada pela alta afinidade dos isotipos IgG, IgM, IgA, esta últimaprincipalmente nos lumens dos órgãos das mucosas. A opsonização é mediada por algumas subclasses de IgG e a ativação do complemento é iniciada pela produção de IgM e subclasses de IgG. Os antígenos proteicos de bactérias extracelulares também ativam as células T CD4+ auxiliares, que produzem citocinas que induzem inflamação local, aumentam as atividades fagocíticas e microbicidas de macrófagos e neutrófilos e estimulam a produção de anticorpos. As respostas TH17 induzidas por estes microrganismos recrutam neutrófilos e monócitos e, assim, promovem a inflamação local em locais de infecção bacteriana. Defeitos genéticos no desenvolvimento TH17 e pacientes que produzem autoanticorpos neutralizantes específicos para a interleucina-17 (IL-17) têm aumentado a susceptibilidade a infecções bacterianas e fúngicas, com a formação de múltiplos abscessos na pele. As bactérias também induzem respostas TH1, e o interferon-γ (IFN-γ) produzido pelas células TH1 ativa os macrófagos para destruir os microrganismos fagocitados. Esta citocina também pode estimular a produção de isotipos de anticorpos opsonizantes e de ligação ao complemento. Efeitos Prejudiciais das Respostas Imunes a Bactérias Extracelulares. As principais consequências prejudiciais da resposta do hospedeiro contra as bactérias extracelulares são a inflamação e choque séptico. As mesmas reações de neutrófilos e macrófagos que agem para erradicar a infecção também causam danos teciduais através da produção local de espécies reativas de oxigênio e enzimas lisossomais. Estas reações inflamatórias geralmente são autolimitadas e controladas. As citocinas secretadas por leucócitos em resposta a produtos bacterianos também estimulam a produção de proteínas de fase aguda e causam as manifestações sistêmicas da infecção. O choque séptico é uma consequência patológica grave da infecção disseminada por algumas bactérias Gram-negativas e bactérias Gram-positivas. É uma síndrome caracterizada pelo colapso circulatório e coagulação intravascular disseminada. A fase inicial do choque séptico é causada pelas citocinas produzidas por macrófagos, que são ativados pelos componentes da parede celular bacteriana, incluindo LPS e os peptideoglicanos. O fator de necrose tumoral (TNF), a IL-6 e IL-1 são as principais citocinas mediadoras de choque séptico, mas o IFN-γ e a IL-12 também podem contribuir. Esta explosão inicial de uma grande quantidade de citocinas, por vezes, é chamada de tempestade de citocinas. Há alguma evidência de que a progressão do choque séptico está associada às respostas imunológicas defeituosas, talvez relacionada à depleção ou supressão das células T, resultando em uma disseminação microbiana não controlada. Determinadas toxinas bacterianas estimulam todas as células T num indivíduo que expressa genes para uma família particular de Vβ do receptor de células T (TCR). Essas toxinas são chamadas de superantígenos porque se assemelham a antígenos na medida em que eles se ligam aos TCRs e às moléculas MHC de classe II (embora não às fendas de ligação ao peptídio), mas ativam muito mais células T do que antígenos peptídicos convencionais. A sua importância reside na sua capacidade para ativar muitas células T, com a produção subsequente de grandes quantidades de citocinas que também podem causar uma síndrome inflamatória sistêmica. Uma complicação tardia da resposta imune humoral contra a infecção bacteriana pode ser a geração de anticorpos produtores de doenças. Os exemplos mais definidos são duas sequelas raras de infecções estreptocócicas da garganta ou da pele que se manifestam semanas ou mesmo meses após as infecções serem controladas. A febre reumática é uma sequela da infecção faríngea com alguns tipos sorológicos de estreptococos β-hemolíticos. A infecção leva à produção de anticorpos contra uma proteína da parede celular bacteriana (proteína M). Alguns destes anticorpos reagem cruzadamente com proteínas do miocárdio e são depositadas no coração, onde eles causam inflamação (cardite). A glomerulonefrite pósestreptocócica é uma sequela de infecção da pele ou da garganta com outros sorotipos de estreptococos β-hemolíticos. Os anticorpos produzidos contra essas bactérias formam complexos com o antígeno bacteriano, que pode ser depositado nos glomérulos renais e causar a nefrite. Evasão da Resposta Imunológica por Bactérias Extracelulares. A virulência de bactérias extracelulares tem sido associada a um número de mecanismos que possibilita aos microrganismos resistir à imunidade inata. As bactérias com cápsulas ricas em polissacarídeos resistem à fagocitose e são, por conseguinte, muito mais virulentas do que cepas homólogas que não possuem a cápsula. As cápsulas de muitas bactérias patogênicas Gram-positivas e Gram- negativas contêm resíduos de ácido siálico que inibem a ativação do complemento pela via alternativa. Um mecanismo utilizado por bactérias para evadir a imunidade humoral é a variação de antígenos de superfície. Alguns antígenos de superfície das bactérias, tais como gonococos e Escherichia coli estão contidos em sua pili, que são as estruturas responsáveis pela adesão bacteriana às células do hospedeiro. O principal antígeno da pili é uma proteína chamada pilina. Os genes da pilina de gonococos são submetidos a extensa conversão gênica, porque a progênie de um organismo pode produzir até moléculas de pilina antigenicamente distintas. Esta capacidade para alterar antígenos ajuda a evasão das bactérias ao ataque por anticorpos específicos para pilina, embora seu principal significado para as bactérias possam ser a seleção dos pili que sejam mais aderentes às células hospedeiras, tornando as bactérias mais virulentas. Alterações na produção de glicosidases levam a alterações químicas na superfície do LPS e de outros polissacarídeos que possibilita às bactérias escapar das respostas imunes humorais contra estes antígenos. As bactérias também podem alterar a produção dos antígenos de superfície ao longo do tempo, ou liberar estes antígenos em vesículas de membrana. Imunidade contra bactérias intracelulares. Uma característica de bactérias intracelulares facultativas é a sua capacidade de sobreviver e até mesmo de se replicar dentro de fagócitos. Uma vez que esses microrganismos são capazes de encontrar um nicho onde eles são inacessíveis a anticorpos circulantes, sua eliminação requer mecanismos de imunidade mediada pela célula. Como discutiremos mais adiante nesta seção, em muitas infecções bacterianas intracelulares, a resposta do hospedeiro também causa lesão tecidual. Imunidade Inata contra Bactérias Intracelulares. A resposta imune inata contra bactérias intracelulares é mediada principalmente por fagócitos e células natural killer (NK). Fagócitos, inicialmente neutrófilos e posteriormente macrófagos, ingerem e tentam destruir esses microrganismos, mas as bactérias intracelulares patogênicas são resistentes à degradação dentro de fagócitos. Os produtos destas bactérias são reconhecidos por TLR e por proteínas citoplasmáticas da família dos receptores do tipo NOD (NLR), resultando na ativação dos fagócitos. O DNA bacteriano no citosol estimula as respostas do interferon tipo I através da via STING. As bactérias intracelulares ativam as células NK por induzir a expressão de ligantes de ativação de células NK em células infectadas e pela estimulação da produção de IL-12 e IL-15 pelas células dendríticas e macrófagos e ambas são citocinas ativadoras da célula NK. As células NK produzem IFN-γ, que por sua vez ativa os macrófagos e promove a morte da bactéria fagocitada. Assim, as células NK proporcionam uma defesa inicial contraestes microrganismos, antes do desenvolvimento da imunidade adaptativa. De fato, camundongos com severa imunodeficiência combinada, que apresentam deficiência de células T e B, são capazes de controlar transitoriamente a infecção pela bactéria intracelular Listeria monocytogenes pela produção de IFN-γ derivado de células NK. No entanto, a imunidade inata geralmente não erradica essas infecções e a erradicação requer a imunidade adaptativa mediada por células. A Imunidade Adaptativa contra Bactérias Intracelulares. A principal resposta imunológica protetora contra bactérias intracelulares é o recrutamento e ativação de fagócitos mediados por células T (imunidade mediada por células). Indivíduos com deficiência na imunidade mediada por células, tais como pacientes com AIDS, são extremamente suscetíveis a infecções por bactérias intracelulares (bem como fungos e vírus intracelulares). Muitas das características importantes da imunidade mediada por células foram estabelecidas na década de 1950 com base nos estudos das respostas imunológicas da bactéria intracelular Listeria monocytogenes em camundongos. Essa forma de imunidade poderia ser transferida adotivamente para animais imaturos com células linfoides, mas não com soro de animais infectados ou imunizados. As células T fornecem defesa contra infecções por dois tipos de reações: células T CD4+ ativam fagócitos através das ações do ligante de CD40 e IFN-γ, resultando na morte de microrganismos que são ingeridos e sobrevivem dentro de fagócitos, e os linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTLs) que destroem células infectadas, eliminam microrganismos que escapam aos mecanismos de morte dos fagócitos. Células T CD4+ diferenciam-se em efetoras TH1 sob a influência da IL-12, que é produzida por macrófagos e células dendríticas. As células T expressam o ligante de CD40 e secretam IFN-γ, e esses dois estímulos ativam macrófagos, induzindo a produção de várias substâncias microbicidas, incluindo espécies reativas de oxigênio, o óxido nítrico e enzimas lisossomais. Em camundongos, o IFN-γ também estimula a produção de isotipos de anticorpos que ativam o complemento e opsonizam bactérias para fagocitose, auxiliando nas funções efetoras dos macrófagos. Os estímulos para a produção desses anticorpos em seres humanos não são tão bem definidos. A importância da IL-12 e IFN-γ na imunidade contra bactérias intracelulares foi demonstrada em modelos experimentais e em imunodeficiências congênitas. Por exemplo, indivíduos com mutações hereditárias em receptores para IFN-γ ou IL-12 são altamente susceptíveis às infecções por micobactérias atípicas. As bactérias fagocitadas estimulam respostas de células T CD8+ se os antígenos bacterianos forem transportados a partir de fagossomos para o citosol ou se as bactérias escaparem dos fagossomos e entrarem no citoplasma das células infectadas. No citosol, os microrganismos não são mais suscetíveis aos mecanismos microbicidas de fagócitos, e para a erradicação da infecção, as células infectadas devem ser destruídas pelos CTLs. Assim, os efetores da imunidade mediada por células, isto é, células T CD4+ que ativam macrófagos e CTLs CD8+, funcionam de forma cooperativa na defesa contra bactérias intracelulares. A ativação dos macrófagos, que ocorre em resposta aos microrganismos intracelulares é capaz de causar lesão tecidual. Esta lesão pode ser resultado de reações de hipersensibilidade do tipo tardia (DTH) aos antígenos de proteína microbiana. Devido à evolução das bactérias intracelulares para resistir à destruição dentro de fagócitos elas muitas vezes persistem por longos períodos e causam estimulação antigênica crônica e a ativação das células T e de macrófagos, o que pode resultar na formação de granulomas em torno dos microrganismos. A característica histológica da infecção por algumas bactérias intracelulares é a inflamação granulomatosa. Este tipo de reação pode servir para localizar e impedir a propagação dos microrganismos, mas está também associada ao comprometimento funcional grave causado pela necrose do tecido e pela fibrose. A tuberculose é um exemplo de uma infecção por uma bactéria intracelular em que a imunidade protetora e a hipersensibilidade patológica coexistem e a resposta do hospedeiro contribui significativamente para a patologia. Em uma infecção primária por M. tuberculosis, os bacilos se multiplicam lentamente nos pulmões e causam apenas uma inflamação leve. A infecção é contida por macrófagos alveolares (e provavelmente células dendríticas). Mais de 90%dos pacientes infectados permanecem assintomáticos, mas as bactérias sobrevivem nos pulmões, principalmente em macrófagos. Cerca de 6 a 8 semanas após a infecção, os macrófagos atingiram os linfonodos de drenagem e as células T CD4+ são ativadas; as células T CD8+ podem também ser ativadas mais tarde. Essas células T produzem IFN-γ, que ativa macrófagos e aumenta a sua capacidade de destruir bacilos fagocitados. O TNF produzido pelas células T e macrófagos também desempenha um papel na inflamação local e na ativação de macrófagos. A reação das células T é adequada para controlar a disseminação bacteriana. No entanto, o M. tuberculosis é capaz de sobreviver no interior dos macrófagos, pois os componentes de sua parede celular inibem a fusão dos vacúolos fagocíticos com os lisossomos. Como resultado, as bactérias continuam a provocar as respostas das células T. A ativação prolongada das células T leva à formação de granulomas, que podem cercar as bactérias e são frequentemente associados a necrose central, chamado de necrose caseosa, que é causada por produtos de macrófagos tais como enzimas lisossomais e espécies reativas de oxigênio. Os granulomas necrosantes e a fibrose (cicatrizes) que acompanham a inflamação granulomatosa são importantes causas de lesão tecidual e doença clínica na tuberculose. Pessoas previamente infectadas apresentam reações cutâneas de DTH ao desafio cutâneo com uma preparação de antígeno bacteriano (derivado proteico purificado, ou PPD). Os bacilos podem sobreviver durante muitos anos e estão contidos sem quaisquer consequências patológicas, mas podem ser reativados a qualquer momento, especialmente se a resposta imunológica se torna incapaz de controlar a infecção. As diferenças entre indivíduos nos padrões de respostas das células T a microrganismos intracelulares são determinantes importantes da progressão da doença e da evolução clínica. O papel das citocinas derivadas de TH1 e TH2 na determinação do resultado de infecção tem sido mais claramente demonstrado na infecção pelo protozoário Leishmania major em diferentes linhagens de camundongos isogênicos. Um exemplo desta relação entre o tipo de resposta das células T e a evolução da doença em seres humanos é a lepra, que é causada pelo Mycobacterium leprae. Existem duas formas polares da hanseníase, as formas lepromatosa e a tuberculoide, embora muitos pacientes caiam em grupos intermediários menos definidos. Na hanseníase lepromatosa, os pacientes têm alta titulação de anticorpos específicos, mas fracas respostas mediadas por células aos antígenos de M. leprae. As micobactérias proliferam no interior dos macrófagos e são detectáveis em grandes números. O crescimento bacteriano e a persistente, mas inadequada ativação dos macrófagos resulta em lesões destrutivas na pele e no tecido subjacente. Em contraste, os pacientes com hanseníase tuberculoide têm uma forte imunidade mediada por células, mas níveis baixos de anticorpos. Este padrão de imunidade se reflete em granulomas que se formam em torno dos nervos e produzem defeitos nos nervos sensoriais periféricos e lesões traumáticas secundárias da pele,
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