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Tutoria 2 - Mecanismos de Agressão e Defesa

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Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
1 
 
TUTORIA 2 
+ Discutir aspectos biológicos das bactérias (morfologia, estrutura, classificação e 
replicação); 
 
+ Discutir os mecanismos de patogenicidade das bactérias intra e extra-celulares 
(porta de entrada, virulência, infecções líticas e lisogênicas); 
 
+ Conceituar microbiota normal e transitória, e localizá-la; 
 
+ Identificar os fatores que interferem no funcionamento da microbiota; 
 
+ Descrever os mecanismos de resposta inata, especificando em bactérias intra e 
extracelulares – Impressão I 
 
+ Citar as barreiras naturais do organismo às infecções bacterianas; 
 
+ Descrever o sistema complemento, e explicar seu papel na defesa contra 
infecções – Impressão II 
 
+ Descrever o mecanismo de agressão e evasão de bactérias intra e extracelulares; 
 
+ Caracterizar os mecanismos de defesa do organismo à agressão por bactérias; 
 
+ Caracterizar os sinais clínicos sugestivos de infecções bacterianas; 
 
+ Caracterizar os mecanismos envolvidos na imunização ativa e passiva, e sua 
importância; 
 
+ Conhecer os principais agentes causadores de doenças bacterianas em 
ambientes hospitalares, nas infecções no trato urinário e respiratório, nas 
infecções alimentares e na sepse. 
 
 
 
 
 1) DISCUTIR ASPECTOS BIOLÓGICOS DAS BACTÉRIAS (MORFOLOGIA, 
ESTRUTURA, CLASSIFICAÇÃO E REPLICAÇÃO); 
 
As bactérias apresentam uma estrutura relativamente simples. São 
organismos procariotos — organismos simples unicelulares, que não 
apresentam membrana nuclear, mitocôndria, complexo de Golgi, ou 
retículo endoplasmático — que se reproduzem por divisão assexuada. A 
parede bacteriana é complexa, consistindo em uma entre duas formas 
básicas: uma parede celular com uma camada espessa de peptidoglicano, 
em bactérias gram-positivas, e uma parede celular com uma camada fina 
de peptidoglicano e uma membrana externa sobreposta, em bactérias 
gram-negativas. Algumas bactérias não apresentam essa estrutura de 
parede celular e compensam sua falta sobrevivendo somente no interior 
da célula hospedeira ou em um ambiente hipertônico. O tamanho (1 a 20 
μm ou maior), a forma (esferas, bastões, espirais), e o arranjo espacial 
(células únicas, cadeias, aglomerados) das células são utilizados para a 
classificação preliminar das bactérias, e as propriedades fenotípicas e 
genotípicas constituem a base para a classificação definitiva. O corpo 
humano é habitado por milhares de diferentes espécies bacterianas — 
algumas vivendo de forma transitória, outras numa relação parasítica 
permanente. Do mesmo modo, as bactérias estão presentes no ambiente 
que nos cerca, incluindo o ar que respiramos, a água que bebemos, e a 
comida que comemos, sendo que muitas dessas bactérias são 
relativamente não virulentas, mas outras são capazes de causar doenças 
que ameaçam a vida. A doença pode resultar do efeito tóxico de produtos 
bacterianos (p. ex., toxinas) ou quando a bactéria invade sítios anatômicos 
que são normalmente estéreis. 
 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
2 
 
As bactérias classificam-se morfologicamente de acordo com a forma da 
célula e com o grau de agregação: 
 Quanto à forma 
o Coco: De forma esférica ou subesférica (do género Coccus); 
o Bacilo: Em forma de bastonete (do género Bacillus). Podem 
apresentar extremidades em ângulo reto (Bacillus anthracis); 
o Vibrião: Em forma de vírgula (do género 
Vibrio); 
o Espirilo: de forma espiral/ondulada (do género Spirillum); 
o Espiroqueta: Em forma acentuada de espiral. 
 
 Quanto ao grau de agregação (Apenas os Bacilos e os cocos 
formam colônias). 
o Diplococo: De forma esférica ou subesférica e agrupadas aos 
pares (do género Diplococcus); 
o Estreptococos: Assemelha-se a um "colar de cocos"; 
o Estafilococos: Uma forma desorganizada de agrupamento; 
o Sarcina: De forma cúbica, formado por 4 ou 8 cocos 
simetricamente postos. 
o Diplobacilos: Bacilos reunidos dois a dois; 
o Estreptobacilos: Bacilos alinhados em cadeia. 
 
o Estruturas bacterianas e funções 
A estrutura da célula bacteriana é a de uma célula procariótica, sem 
organelas ligados à membrana celular, tais como mitocôndrias ou plastos, 
sem um núcleo rodeado por uma cariomembrana e sem DNA organizado 
em verdadeiros cromossomas, como os das células eucariotas. 
As principais estruturas da célula procariota incluem: nucleoide, 
plasmídeos, hialoplasma, membrana celular, mesossomo, parede celular, 
cápsulas, fimbrias e flagelos. 
 
Nucleoide 
O nucleoide não é um verdadeiro núcleo, já que não está delimitado do 
resto da célula por membrana lipídica própria. O nucleoide consiste em 
fibrilas de DNA dupla hélice na forma de uma única molécula. O seu 
tamanho varia de espécie para espécie. Na Escherichia coli, uma bactéria 
típica, o genoma tem quase 5 milhões de pares de bases e vários milhares 
de genes codificando mais de 4000 proteínas (o genoma humano tem 3 mil 
milhões de pares de bases e cerca de 40.000 proteínas). Tem como função 
carregar informações genéticas da bactéria. 
 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coco_%28bact%C3%A9ria%29
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Coccus&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bacilo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bacilo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vibri%C3%A3o
http://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrgula
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vibrio
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espirilo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiral
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Spirillum&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiroqueta
http://pt.wikipedia.org/wiki/Espiral
http://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%B3nia_%28biologia%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diplococo
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Diplococcus&action=edit&redlink=1
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estreptococos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estafilococos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sarcina
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diplobacilos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Estreptobacilos
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
3 
 
 
Plasmídeos 
Os plasmídeos são pequenas moléculas de DNA circulares que coexistem 
com o nucleoide, ou seja, é um DNA extra-cromossômico situado no 
citoplasma da bactéria. São comumente trocadas na reprodução sexuada. 
Os plasmideos têm genes, incluindo frequentemente aqueles que protegem 
a célula contra os antibióticos. 
Estes elementos são capazes de autoduplicação independente da 
replicação cromossômica e podem existir em número variável. Ex de 
plasmídios: fatores sexuais (fator-F), fatores de resistência a antibióticos 
(fator-R), plasmídio de fixação de N2, etc. 
 
Hialoplasma 
O hialoplasma é um líquido com consistência de gel, semelhante ao dos 
eucariotas, com sais, glicose e outros açúcares, proteínas funcionais e 
várias outras moléculas orgânicas. Contém também RNA da transcrição 
gênica, e cerca de 20 mil ribossomas. Os ribossomas procariotas são 
bastante diferentes dos eucariotas (essas diferenças foram usadas para 
desenvolver antibióticos usados para só afetar os ribossomas das 
bactérias). 
 
Membrana celular 
A membrana celular é uma dupla camada de fosfolípidos, com proteínas 
importantes (na permeabilidade a nutrientes e outras substâncias, defesa, 
e na cadeia respiratória e produção de energia). É composta de 60% de 
proteínas imersas em uma bicamada lipídica(40%). Além das interações 
hidrofóbicas e pontes de hidrogênio, cátions como Mg2+ e Ca2+ são 
responsáveis pela manutenção da integridade da membrana. Tem como 
funções: 
 Transporte de solutos: a membrana plasmática atua como uma 
barreira altamente seletiva (mecanismo de difusão facilitada e 
transporte ativo), impedindo a passagem livre de moléculas e 
íons. Moléculas hidrofílicas polares como ácidos orgânicos, 
aminoácidos e sais minerias não conseguem passar livremente 
pela membrana e, por isso, devem ser especificamente 
transportadas; 
 Produção de energia por transporte de elétrons e fosforilação 
oxidativa: a presença de citocromos e de enzimas da cadeia de 
transporte de elétrons na membrana plasmática lhe confere uma 
função análoga à da membrana interna das mitocondrias em 
células eucarióticas; 
 Biossíntese: as enzimas de síntese de lipídios da membrana e de 
várias classes de macromoléculas componentes de outras 
estruturas externas à membrana (peptidoglicano, ácidos 
teicoicos, lipopolissacarídios e polissacarídios extracelulares) 
estão ligadas à membrana citoplasmática; 
http://pt.wikipedia.org/wiki/RNA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ribossoma
http://pt.wikipedia.org/wiki/Membrana_celular
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
4 
 
 Duplicação do DNA: algumas das proteínas do complexo de 
duplicação de DNA estão localizadas na membrana plasmática; 
 Secreção: macromoléculas como toxinas, bacteriocinas, 
penicilinases podem também ser secretadas através da 
membrana plasmática. 
 
OBS1: Algumas espécies de bactérias têm uma camada externa de 
polissacarídeos que protege contra desidratação e pode garantir 
resistência à antimicrobianos, chamada de cápsula. 
 
Mesossomo 
A membrana citoplasmática bacteriana pode apresentar invaginações 
multiplas que formam estruturas especializadas denominadas de 
mesossomos. Existem dois tipos: 
 Septal: desempenha papel importante na divisão celular, pois, 
após a duplicação do DNA, ao qual se encontra ligado, atua como 
o fuso no processo de divisão na célula eucariótica, separando os 
dois cromossomos e conduzindo-os para os pólos da célula. 
 Lateral: encontrado em determinadas bactérias e parece ter 
como função concentrar enzimas envolvidas no transporte 
eletrônico, conferindo à célula maior atividade respiratória ou 
fotossintética. 
 
Parede celular 
A parede celular bacteriana é uma estrutura rígida que recobre a 
membrana citoplasmática e confere forma às bactérias. É uma estrutura 
complexa composta por peptidoglicanos, polímeros de carboidratos 
ligados a proteínas como a mureína, com funções protetoras. A parede 
celular é o alvo de muitos antibióticos. Ela contém em algumas espécies 
infecciosas a endotóxina lipopolissacarídeo (LPS) uma substância que leva 
a reação excessiva do sistema imunitário, podendo causar morte no 
hóspede devido a choque séptico. 
É por meio da parede celular e da Técnica de Coloração Gram (nome em 
homenagem a Christian Gram) que se pode classificar o tipo de bactéria. 
As paredes de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas apresentam 
diferenças marcantes. Bactérias Gram-negativas possuem uma parede 
composta de várias camadas que diferem na sua composição quimica e, 
consequentemente, é mais complexa que a parede das Gram-positivas que, 
apesar de ser mais espessa, apresenta predominantemente um único tipo 
de macromolécula. O conhecimento das diferenças entre as paredes de 
bactérias Gram-positivas e Gram- negativas é da mais alta relevância para 
o estudo dos mecanismos de ação dos quimioterápicos, de patogenicidade 
e de outros tantos assuntos que estarão relacionados diretamente à 
composição química e estrutura da parede bacteriana. 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mure%C3%ADna
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
5 
 
 
Na maioria das bactérias, a parede celular deve a sua rigidez a uma 
camada composta por uma substância somente encontrada em 
procariotos e que recebe diferentes denominações como: mureína, 
mucopeptídeo, mucocomplexo, peptidoglicano ou glicopeptídeo. O 
peptidoglicano representa a maior parte da parede das bactérias Gram-
positivas, atingindo de 15% a 50% da massa seca da bactéria, ao passo que 
nas Gram-negativas não ultrapassa 5%. Trata-se de uma macromolécula 
formada por um arcabouço composto de uma alternância de N-acetil-
glicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM). A este ultimo, 
encontram-se ligadas, covalentemente, cadeias laterais de tetrapeptídeos 
(L-alanina, D-glutamato, mesodiaminopimelato e D-alanina). O número de 
interligações entre as cadeias laterais de tetrapeptídeos em bactérias 
Gram-positivas é bem superior ao encontrado em bactérias Gram-
negativas. Embora as ligações glicosídicas entre NAG e NAM sejam 
ligações fortes, apenas estas cadeias não são capazes de prover toda a 
rigidez que esta estrutura proporciona. A total rigidez do peptidoglicano é 
atingida quando estas cadeias são interligadas pelos aminoácidos. A forma 
de cada célula é determinada pelo comprimento das cadeias de 
peptidoglicano e pela quantidade de interligações existentes entre essas 
cadeias. 
Em contrapartida, a Gram-negativa apresenta uma dupla camada externa 
de lipopolissacarídeos (fosfolipídios e proteínas), ao passo que as Gram-
positivas apresentam apenas uma fina camada de lipopolissacarídeos 
envolvendo a sua espessa camada de mucopeptídeo. Esta camada, nas 
Gram-positivas, geralmente é ausente. 
Tendo conhecimento das estruturas da parede celular de cada tipo de 
bactéria, pode-se fazer uso da Técnica Gram de Coloração. Faz-se uso de 
substancias na seguinte ordem: violeta (corante roxo) e lugol (juntos, 
formam o “complexo iodopararronilina” ou “complexo violeta-iodo”); trata-
se a lâmina com álcool; em seguida, aplica a fucsina (corante 
avermelhado). 
As células Gram-positivas e Gram-negativas absorvem o complexo 
iodopararronilina, devido a ligação iônica entre os grupos básicos do 
corante e os grupos ácidos constituintes da parede celular. O iodo, em 
solução, penetra nos dois tipos de células e forma com o corante um 
complexo violeta-iodo. Ao fazer uso do alcool como substância descorante, 
nas células Gram-negativas, o mesmo dissolve o complexo corante-iodo 
(assim como as camadas externas de lipopolissacarídeos), elimina-o e 
deixa a célula incolor, a qual, ao ser corada com a fucsina, adquire a 
coloração avermelhada. Já nas células Gram-positivas, o álcool penetra 
com dificuldade na espessa camada de mucopeptídeo. A maior parte do 
complexo violeta-iodo permanece na célula, que retém assim, a sua 
coloração azulada. 
 Bactérias Gram-positivas (parede celular espessa) Violeta + 
Lugol + Alcool + Fucsina Coloração Azulada 
 Bactérias Gram-negativas (parede celular fina) Violeta + 
Lugol + Acool + Fucsina Coloração Avermelhada 
 
OBS2: A lisozima (enzima presente na lágrima e secreções lubrificantes do 
olho) quebra a ponte de ligação entre a NAG e a NAM, apresentando ação 
bactericida, quebrando a parede celular. 
 
Cápsula 
O termo cápsula é restrito a uma camada de polissacarídeos que fica ligada 
à parede celular como um revestimento externo da extenção limitada e 
estrutura definida. Nem toda bactéria apresenta cápsula, mas as que 
apresentam, usam-na para as seguintes funções: 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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 Reservatóriode água e nutrientes: visto serem formadas por 
macromoléculas muito hidratadas, servem como proteção contra 
dessecação do meio e podem ser fonte de nutrientes; 
 Aumento da capacidade invasiva de bactérias patogênicas: 
as bactérias encapsuladas são escorregadias e escapam à ação 
dos fagócitos; 
 Aderência: as cápsulas possuem receptores que servem como 
sítios de ligação com outras superfícies. Ex: bactérias 
formadoras de cáries (Streptococcus mutans) produzem um 
polissacarídio extracelular que se liga ao esmalte do dente e 
promove o acúmulo de outros micro-organismos. Quanto maior 
o número de bactérias aderidas, maior a produção de ácido pela 
fermentação microbiana da sacarose, resultanto na 
desmineralização do esmalte do dente. Ex²: Formação de 
biofilmes: bactérias podem produzir o chamado biofilme capaz de 
aderir a diferentes superfícies, inclusive tubulações, que podem 
trazer prejuízos adversos às indústrias por causa de vazamentos 
por perfuração. 
 
Pili ou fímbrias 
Os pili são microfibrilas proteicas que se estendem da parede celular em 
muitas espécies Gram-negativas. Têm funções de ancoramento da bactéria 
ao seu meio e são importantes na patogénese. Um tipo especial de pilus é 
o pilus sexual, estrutura oca que serve para ligar duas bactérias, de modo 
a trocarem plasmídeos. (Pilus vem do Latim, que significa pêlo, cabelo. Pili 
- Plural; Pilus - Singular). 
Muitas bactérias Gram-negativas são dotadas desses apêndices 
filamentosos proteicos que não podem ser confundidos com flagelos. Tais 
apêndices – as fímbrias 
 
 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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(pili ou pelo) – são menores, mais curtos e mais numerosos que os flagelos 
e não formam ondas regulares. Suas funções são: 
 Não desempenham papel relativo a mobilidade; 
 Fímbria sexual: serve como porta de entrada de material 
genético durante a conjugação bacteriana; 
 Outros tipos funcionam como sítios receptores de 
bacteriófagos; 
 Servem como estruturas de aderência às células de 
mamíferos e a outras superfícies. 
 
Flagelo 
O flagelo é uma estrutura proteica que roda como uma hélice. Muitas 
espécies de bactérias movem-se com o auxílio de flagelos. Os flagelos 
bacterianos são muito simples e completamente diferentes dos flagelos 
dos eucariotas (como, no homem, os dos espermatozoides). Nem toda 
bactéria possui flagelo. 
O flagelo bacteriano confere movimento à celula e é formado de uma 
estrutura basal, um gancho e um longo filamento externo à membrana, 
sendo formado, predominantemente, pela proteína flagelina. Suas funções 
estão relacionadas com: 
 Movimentação 
da célula: o 
movimeno que 
algumas 
bactérias 
realizam, 
estimuladas 
por fatores 
físicos ou 
quimicos, é 
chamada taxia 
(fototaxia: 
estimulado pela 
luz; 
quimiotaxia: 
estimulado por 
agente 
químico); 
 Classificação 
de acordo com 
a quantidade de 
flagelos. 
 
 
o Componentes citoplasmáticos 
O citoplasma da célula bacteriana é uma solução aquosa limitada pela 
membrana plasmática. Imersas no citoplasma existem partículas 
insolúveis, algumas essenciais (ribossomos e nucleoide) e outras 
encontradas apenas em alguns grupos de bactérias, nos quais exercem 
funções especializadas como os grânulos e vacúolos gasosos. 
 
Ribossomos 
Partículas citoplasmáticas responsáveis pela síntese proteica, compostas 
de RNA (60%) e proteína (40%). Em procariotos, possuem coeficiente de 
sedimentação de 70S e são compostos de duas subunidades: uma maior 
(50S) e outra menos (30S) 
 
 
 
 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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Esporos bacterianos 
Algumas bactérias podem enquistar, formando um esporo, com um 
invólucro de polissacáridos mais espesso e ficando em estado de vida 
latente quando as condições ambientais forem desfavoráveis. 
Os endosporos são estruturas formadas por algumas espécies de 
bactérias Gram-positivas, sobretudo dos gêneros Clostridium e Bacillus, 
quando o meio se torna carente de água ou de nutrientes essenciais. 
Assim, a formação do esporo em procariotos é um tipo de diferenciação 
celular que ocorre como resposta a uma situação desfavorável do meio 
ambiente. 
O processo de formação do esporo dentro de uma célula vegetativa é 
chamado esporogênese. O pré-esporo desidratado (forma de esporo nos 
primeiros estágios da esporogênese, já com a maior parte da água do 
citoplasma eliminada) contém apenas DNA, RNA, ribossomos, enzimas e 
algumas quantidades de ácido dipícolínico, junto com grandes quantidades 
de íons cálcio. 
 
OBS3: Os vacúolos não são verdadeiros vacúolos já que não são delimitados 
por dupla membrana lipídica como os das plantas. São antes grânulos de 
substâncias de reserva, como açúcares complexos. 
 
Replicação do DNA 
A replicação do genoma bacteriano é desencadeada por uma cascata de 
eventos ligada à taxa de crescimento das células. A replicação do DNA 
bacteriano é iniciada em uma sequência específica do cromossomo 
chamada oriC. O processo de replicação necessita de uma série de 
enzimas, incluindo uma (helicase) capaz de desenrolar o DNA na origem 
de replicação e expor o mesmo; outra (primase) para sintetizar iniciadores 
necessários para o começo do processo; e a enzima ou as enzimas (DNA 
polimerases DNA-dependentes) que sintetizam a cópia do DNA, desde que 
haja uma sequência iniciadora a qual seja possível adicionar nucleotídeos 
e apenas na direção 5′ a 3′. O novo DNA é sintetizado de forma 
semiconservativa, utilizando-se ambas as fitas do DNA parental como 
moldes. A síntese do novo DNA acontece em forquilhas de replicação e se 
desenvolve bidirecionalmente. Uma fita (a fita líder) é copiada 
continuamente na direção 5′ a 3′, enquanto a outra fita (fita tardia) deve ser 
sintetizada na forma de diversas porções de DNA utilizando vários 
iniciadores de RNA (fragmentos de Okazaki). A fita tardia deve ser 
estendida na direção 5′ a 3′ conforme seu molde vai se tornando disponível. 
As peças então são conectadas pela enzima DNA ligase (Fig. 13-10). Para 
manter o elevado grau de exatidão exigido pela replicação, a DNA 
polimerase possui funções de revisão, as quais permitem à enzima 
confirmar que o nucleotídeo adequado foi adicionado e corrigir quaisquer 
erros que tenham sido cometidos. Durante a fase log de crescimento em 
um meio de cultura rico, diversas iniciações da replicação cromossômica 
podem ocorrer antes da divisão celular. Esse processo gera uma série de 
novelos (nested bubbles) dos novos cromossomos-filhos, cada um com 
seu par de forquilhas de replicação. A polimerase se move ao longo da fita 
de DNA, incorporando o nucletídeo apropriado (complementar) em cada 
posição. A replicação é completada quando as duas forquilhas de 
replicação se encontram a 180° da origem. O processo de replicação do 
DNA cria grande tensão de torção no cromossomo circular de DNA; essa 
tensão é aliviada pelas topoisomerases (p. ex., girase), que superenovelam 
o DNA. As topoisomerases são essenciais para as bactérias e são o alvo 
dos antibióticos da classe das quinolonas. 
 
 
 
 
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Polissac%C3%A1rido
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 2) DISCUTIR OS MECANISMOS DE PATOGENICIDADE DAS BACTÉRIAS 
INTRA E EXTRA-CELULARES (PORTA DE ENTRADA, VIRULÊNCIA, 
INFECÇÕES LÍTICAS E LISOGÊNICAS); 
 
Entrada no corpo humanoPara uma infecção se estabelecer, a bactéria 
precisa primeiramente ganhar acesso ao interior do corpo . Os 
mecanismos de defesa e barreiras naturais, tais como pele, mucosa, 
epitélio ciliar e secreções, contêm substâncias antibacterianas (p. ex., 
lisozima, defensinas) que tornam difícil a penetração da bactéria no interior 
do corpo. No entanto, essas barreiras às vezes são quebradas (p. ex., um 
arranhão na pele, um tumor ou úlcera no intestino), promovendo um portal 
de entrada para a bactéria, ou a bactéria deve ter os meios para 
comprometer a barreira e invadir o corpo. Na invasão a bactéria pode se 
disseminar através do fluxo sanguíneo para outros sítios do corpo. 
 
A pele possui uma camada espessa e rígida (camada córnea) de células 
mortas que protegem o corpo da infecção. No entanto, cortes na pele, 
produzidos acidentalmente ou cirurgicamente ou mantidos abertos por 
cateteres ou outros dispositivos cirúrgicos, provêm meios de a bactéria 
ganhar acesso ao tecido suscetível subjacente mais profundo. Por 
exemplo, Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis, os quais 
são parte da microbiota normal na pele, podem entrar no corpo através de 
rupturas na pele e causar um problema maior para pessoas com cateteres 
permanentes ou outras linhas intravenosas. A boca, o nariz, o trato 
respiratório, os ouvidos, os olhos, o trato urogenital e o ânus são sítios 
através dos quais a bactéria pode entrar no corpo. Essas aberturas 
naturais da pele e as cavidades corporais associadas são protegidas por 
defesas naturais tais quais o muco e o epitélio ciliar que limitam o trato 
respiratório superior, a lisozima e outras secreções antibacterianas na 
lágrima e no muco, e o ácido e a bile no trato GI. No entanto, muitas 
bactérias não são afetadas ou têm meios de evasão dessas defesas. Por 
exemplo, a membrana externa das bactérias Gram-negativas torna essas 
bactérias mais resistentes a lisozima, ácido e bile. Assim, as 
enterobactérias são também capazes de colonizar o trato GI. Um 
rompimento na barreira natural pode permitir a entrada dessas bactérias 
endógenas em sítios do corpo normalmente estéreis, tais como o peritônio 
e a corrente sanguínea, para causar doença. 
Colonização, adesão e invasão 
Bactérias diferentes colonizam partes diferentes do corpo. Essa 
colonização pode ocorrer na proximidade do local de entrada ou devido à 
presença de condições ótimas de crescimento do sítio. Por exemplo, 
Legionella é inalada e cresce nos pulmões, mas não se dissemina 
prontamente porque não tolera altas temperaturas (p. ex., 35 °C). A 
colonização de sítios que são normalmente estéreis implica a existência de 
um defeito nos mecanismos naturais de defesa ou uma nova porta de 
entrada. Pacientes com fibrose cística têm tais defeitos por causa da 
redução da função ciliar mucoepitelial e secreções mucosas alteradas; 
como resultado, seus pulmões são colonizados por S. aureus e P. 
aeruginosa. Em alguns casos a colonização requer estruturas e funções 
especiais para permanecer no sítio, sobreviver e obter alimento. As 
bactérias podem utilizar mecanismos especiais para aderir e colonizar 
diferentes superfícies do corpo. Se as bactérias puderem aderir às 
camadas de células epiteliais e endoteliais da bexiga, intestino e vasos 
sanguíneos, elas não poderão ser removidas, e essa aderência as permite 
colonizar o tecido. Por exemplo, a função natural da bexiga elimina 
qualquer bactéria não fixada na parede da bexiga. Escherichia coli e outras 
bactérias possuem adesinas que se ligam a receptores específicos na 
superfície do tecido e protegem os organismos de serem removidos. 
Muitas dessas proteínas adesinas estão presentes nas pontas das fímbrias 
(pili) e ligam-se firmemente a açúcares no tecido-alvo; essa atividade de 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
10 
 
ligação ao açúcar define essas proteínas como lectinas. Por exemplo, a 
maioria das cepas de E. coli que causam pielonefrite produzem uma 
adesina fimbrial denominada fímbria P. Essa adesina pode se ligar a 
α-D-galactosil-β-D-galactosídeo (Gal-Gal), que é parte da estrutura de 
antígenos do grupo P do sangue em eritrócitos humanos e células 
uroepiteliais. Pili de Neisseria gonorrhoeae são importantes fatores de 
virulência; eles se ligam a receptores oligossacarídeos em células 
epiteliais. Espécies de Yersinia, Bordetella pertussis e Mycoplasma 
pneumoniae expressam proteínas adesinas que não são fímbrias. 
Streptococcus pyogenes usa ácido lipoteicoico e proteína F (liga-se à 
fibronectina) para ligar-se às células epiteliais. 
 
o Ações patogênicas das bactérias 
 
Destruição do Tecido 
Subprodutos do crescimento bacteriano, especialmente fermentação, 
incluem ácidos, gás e outras substâncias que são tóxicas ao tecido. Em 
adição, muitas bactérias liberam enzimas degradativas para romper o 
tecido, proporcionando nutrientes para o crescimento dos organismos e 
promovendo a disseminação da bactéria. Por exemplo, organismos de 
Clostridium perfrigens são parte da microbiota normal do trato GI mas 
também são patógenos oportunistas que podem estabelecer infecção em 
tecidos desprovidos de oxigênio e causar gangrena gasosa. Essas 
bactérias anaeróbias produzem enzimas (p. ex., fosfolipase C, colagenase, 
protease, hialuronidase), diversas toxinas, ácidos e gases provenientes do 
metabolismo bacteriano, que destroem o tecido. Estafilococos produzem 
muitas enzimas diferentes que modificam o ambiente do tecido. Essas 
enzimas incluem hialuronidase, fibrinolisina e lipase. Estreptococos 
também produzem enzimas, incluindo estreptolisinas S e O, hialuronidase, 
DNAses e estreptoquinases. 
 
Toxinas 
Toxinas são produtos bacterianos que prejudicam diretamente o tecido ou 
desencadeiam atividades biológicas destrutivas. Toxinas e substâncias 
com atividade tipo toxinas são enzimas degradativas que causam a lise 
celular ou de proteínas específicas que se ligam a receptores, e assim 
iniciam reações tóxicas num tecido-alvo específico. Em adição, 
endotoxinas (porção lipídica A do polissacarídeo) e proteínas 
superantígenos promovem estimulação excessiva ou inapropriada das 
respostas inata ou imune. Em muitos casos, a toxina é completamente 
responsável por causar os sintomas característicos da doença. Por 
exemplo, a toxina pré- formada presente em alimentos é responsável pela 
intoxicação alimentar por S. aureus e Bacillus cereus e o botulismo 
causado por Clostridium botulinum. Os sintomas causados pela toxina 
pré-formada ocorre mais cedo do que em outras formas de 
gastroenterites, porque o efeito é como ingerir veneno, e a bactéria não 
necessita crescer para os sintomas ocorrerem. Devido à toxina poder se 
disseminar sistematicamente pela corrente sanguínea, sintomas podem 
aparecer em sítios distantes do sítio de infecção, tal como ocorre no tétano, 
que é causado por Clostridium tetani. 
 
Exotoxinas 
Exotoxinas são proteínas que podem ser produzidas por bactérias 
Gram-positivas e Gram-negativas e incluem enzimas citolíticas e 
receptores de proteínas que alteram a função ou destroem a célula. Em 
muitos casos, o gene da toxina é codificado no plasmídeo (toxina tetânica 
de C. tetani, toxinas termolábeis [TL] ou termorresistentes [TR] de E. coli 
enterotoxigência), ou fago lisogênico (Corynebacterium diphteriae e C. 
botulinum). Toxinas citolíticas incluem enzimas que rompem as 
membranas, tais como α-toxina (fosfolipase C) produzida por C. 
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perfringens, as quais rompemesfingomielina e outras membranas 
fosfolipídicas. Hemolisinas se inserem e rompem eritrócitos e outras 
membranas celulares. Toxinas formadoras de poros, incluindo 
estreptolisina O, podem promover vazamento de íons e água da célula e 
alterar as funções celulares ou causar lise da célula. Muitas toxinas são 
diméricas com subunidades A e B (toxinas A-B). A porção B da toxina A-B 
liga-se a receptores específicos da superfície celular, e depois a 
subunidade A é transferida para o interior da célula, onde ela age 
promovendo danos à célula (B de binding e A de action). Os tecidos-alvo 
dessas toxinas são bem definidos e limitados (Fig. 14-2; Tabela 14-3). Os 
alvos bioquímicos para toxinas A-B incluem ribossomos, mecanismos de 
transporte e sinalizadores intracelulares (produção de monofosfato de 
adenosina cíclico [AMPc], função de proteína G), com efeitos variando de 
diarreia até a perda de funções neurológicas e morte. As propriedades 
funcionais das toxinas citolíticas e outras exotoxinas são discutidas em 
maiores detalhes em capítulos que tratam da doença específica envolvida. 
 
Obs.: Superantígenos são um grupo especial de toxinas (Fig. 14-3). Essas 
moléculas ativam as células T ligando-se simultaneamente ao receptor de 
célula T e a uma molécula do complexo principal de histocompatibilidade 
classe II (MHC II) numa célula apresentadora de antígeno sem requerer o 
antígeno. Superantígenos ativam uma grande quantidade de células T, o 
que libera uma quantidade maior de interleucinas (tempestade de 
citocinas), incluindo IL-1, TNF, a IL-2, causando risco de morte por resposta 
autoimune. Essas estimulações por superantígenos da célula T podem 
também levar à morte células T ativadas, resultando em perda de clones 
de células T específicos e de suas respostas imunes. Os superantígenos 
incluem a toxina da síndrome do choque tóxico de S. aureus, as 
enterotoxinas estafilocócicas e as toxinas enterogênicas A ou C de S. 
pyogenes. 
 
Endotoxina e Outros Componentes da Parede Celular 
A presença de componentes da parede celular bacteriana age como um 
sinal de infecção que promove um multialarme poderoso avisando o corpo 
para ativar os sistemas de proteção do hospedeiro. Os padrões 
moleculares nessas estruturas (padrões moleculares associados a 
patógenos [PAMP]) ligam-se a receptores Toll-like (TLR) e a outras 
moléculas e estimulam a produção de citocinas (Caps. 8 e 10). Em alguns 
casos, a resposta hospedeira é excessiva e pode até apresentar risco à 
vida. A fração do lipídio A do lipopolissacarídeo (LPS) produzida por 
bactérias Gram-negativas é um ativador poderoso de fase aguda e reações 
inflamatórias, sendo denominada de endotoxina. É importante notar que 
endotoxina não é o mesmo que exotoxina e que apenas bactérias 
Gram-negativas produzem endotoxina. De forma mais fraca, respostas 
semelhantes às da endotoxina podem ocorrer devido a estruturas 
bacterianas de bactérias Gram-positivas, incluindo ácido teicoico e 
lipoteicoico. Bactérias Gram-negativas liberam endotoxina durante a 
infecção. A endotoxina liga-se a receptores específicos (CD14 e TLR4) em 
macrófagos, células B e outras, e estimula a produção e liberação de 
citocinas de fase aguda, tais como IL-1, TNF-α, IL-6 e prostaglandinas (Fig. 
14-4). A endotoxina também estimula o crescimento (mitogênico) de 
células B. 
 
Em baixas concentrações, a endotoxina estimula o desenvolvimento de 
respostas protetoras, tais como febre, vasodilatação e a ativação de 
resposta imune e inflamatória (Quadro 14-3). No entanto, os níveis de 
endotoxina no sangue de pacientes com sepse devido a bactérias 
Gram-negativas (bactérias no sangue) podem ser muito altos, e a resposta 
sistêmica para isso pode ser avassaladora, resultando em choque e 
possível morte. Altas concentrações de endotoxina também podem ativar 
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um caminho alternativo de complemento e produção de anafilatoxinas 
(C3a, C5a), contribuindo para vasodilatação e extravasamento capilar. Em 
combinação com TNF-α e IL-1, isso pode levar a hipotensão e choque. 
Coagulação intravascular disseminada (CID) pode também resultar da 
ativação das vias de coagulação sanguínea. Febre alta, petéquias (manchas 
na pele resultantes de extravasamento capilar) e potenciais sintomas de 
choque (resultantes do aumento da permeabilidade capilar) associados à 
infecção por Neisseria meningitidis podem estar relacionados a grandes 
quantidades de endotoxina liberadas durante a infecção. 
 
Imunopatogênese 
Em muitos casos, os sintomas de infecção bacteriana são produzidos por 
respostas imune, inata e inflamatória excessivas deflagradas pela 
infecção. Quando limitada e controlada, a resposta de fase aguda aos 
componentes da parede celular é uma resposta antibacteriana protetora. 
No entanto, essas respostas também causam febre e mal-estar, e quando 
sistêmicas e fora de controle, a resposta de fase aguda e a inflamação 
podem causar sintomas associados a sepse e meningite com risco à vida 
(Fig. 14-4). Neutrófilos ativados, macrófago e complemento podem causar 
dano nos sítios de infecção. A ativação do complemento também podem 
causar liberação de anafilatoxinas que iniciam a permeabilidade vascular 
e o extravasamento capilar. A tempestade de citocinas geradas pelos 
superantígenos e endotoxina pode causar choque e interrupção da função 
corpórea. Formação de granuloma induzido por células T CD4 e 
macrófagos em resposta a Mycobacterium tuberculosis também pode 
levar à destruição do tecido. Respostas autoimunes podem ser deflagradas 
por proteínas bacterianas, tais como a proteína M de S. pyogenes, a qual 
antigenicamente imita o tecido do coração. Os anticorpos antiproteína M 
reagem cruzadamente e podem iniciar dano ao coração para causar febre 
reumática. Complexos imunes depositados no glomérulo do rim causam 
glomerulonefrite pós-estreptocócica. Para Chlamydia, Treponema (sífilis), 
Borrelia (doença de Lyme) e outras bactérias, a resposta imune do 
hospedeiro é a principal causa de sintomas de doença em pacientes. 
 
Mecanismos de Escape às Defesas do Hospedeiro 
Bactéria são parasitas, e a evasão às respostas protetoras do hospedeiro 
é uma vantagem seletiva. Logicamente, quanto mais a infecção bacteriana 
permanece no hospedeiro, mais tempo a bactéria tem para crescer e 
causar dano. Portanto, bactérias que podem evadir-se ou incapacitar as 
defesas do hospedeiro têm um potencial maior para causar doença. 
Bactérias evitam o reconhecimento e morte pelas células fagocíticas, 
inativam ou evitam o sistema do complemento e anticorpos, e até crescem 
dentro das células para se protegerem das respostas do hospedeiro 
(Quadro 14-4). 
 
A cápsula é um dos fatores de virulência mais importantes (Quadro 14-5). 
Essas camadas viscosas funcionam protegendo as bactérias de respostas 
imunes e fagocitárias. As cápsulas são normalmente constituídas de 
polissacarídeos, que apresentam baixa imunogenicidade. A cápsula de S. 
pyogenes, por exemplo, é feita de ácido hialurônico, que mimetiza o tecido 
conjuntivo humano, portanto mascarando a bactéria e mantendo-a sem 
que seja reconhecida pelo sistema imune. A cápsula também atua como 
uma cobertura escorregadia que é difícil de ser agarrada e que se rompe 
quando é capturada por um fagócito. A cápsula também protege a bactéria 
da destruição dentro do fagolisossomo de um macrófago ou leucócito. 
Todas essas propriedades podem estender o tempo da bactéria no sangue 
(bacteremia) antes de ela ser eliminada pelas respostas do hospedeiro. 
Cepas mutantes que perdem a capacidade de produzir cápsula, de 
bactérias que normalmente apresentam cápsula, também perdem sua 
virulência; exemplos de taisbactérias são o Streptococcus pneumoniae e 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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13 
 
a N. meningitidis. O biofilme, que é feito de material capsular, pode evitar 
que o anticorpo e o complemento capturem a bactéria. 
 
Bactérias podem evitar a resposta dos antibióticos pela variação 
antigênica, pela inativação de anticorpos ou pelo crescimento intracelular. 
N. gonorrhoeae pode variar a estrutura da superfície de antígenos para 
evitar as respostas de anticorpos e também produz uma protease que 
degrada imunoglobulina A (IgA). S. aureus produz uma proteína IgG ligante, 
proteína A, que evita que o anticorpo ative o complemento ou uma opsonina 
e mascara a bactéria contra detecção. Bactérias que crescem 
intracelularmente incluem micobactéria, francisellae, brucela, clamídia e 
riquétsia (Quadro 14-6). Diferentemente de muitas bactérias, o controle 
dessas infecções requer respostas imunes de células T para ativar 
macrófagos para destruir ou criar uma parede (granuloma) ao redor das 
células infectadas (como para M. tuberculosis) 
 
Bactérias evitam a ação do complemento prevenindo acesso de 
componentes à membrana, mascarando elas mesmas, e inibindo a ativação 
da cascata. Um espesso peptidoglicano nas bactérias Gram-positivas e o 
longo antígeno O do LPS da maioria das bactérias Gram-negativas (não as 
espécies de Neisseria) fazem com que o complemento não tenha acesso e 
protegem a membrana bacteriana de ser danificada. Pela degradação do 
componente C5 do complemento, S. pyogenes pode limitar a quimiotaxia de 
leucócitos no sítio da infecção. Para compensar a falta de antígeno O, N. 
gonorrhoeae une o ácido siálico ao seu lipo-oligossacarídeo (LOS) para 
inibir a ativação do complemento. Fagócitos (neutrófilo, macrófago) são as 
mais importantes defesas antibacterianas, mas muitas bactérias podem 
evitar a morte por fagocitose de várias maneiras. Elas podem produzir 
enzimas capazes de promover a lise das células fagocitárias (p. ex., a 
estreptolisina produzida por S. pyogenes ou a α-toxina produzida pela C. 
perfringens). Elas podem inibir fagocitose (p. ex., os efeitos da cápsula e da 
proteína M produzidas por S. pyogenes) ou bloquear a morte intracelular. 
Mecanismos bacterianos para proteção de morte intracelular incluem 
bloqueio de fusão de fagolisossoma para prevenir contato com seus 
conteúdos bactericidas (espécies de Mycobacterium), resistência 
enzimática ou mediada pela cápsula às enzimas lisossômicas ou 
substâncias bacterianas, e a habilidade de sair do fagossomo dentro do 
citoplasma do hospedeiro antes de ser exposto às enzimas lisossômicas 
(Tabela 14-4 e Fig. 14-5). Produção de catalase por estafilococos pode 
quebrar o peróxido de hidrogênio pelo sistema da mieloperoxidase. Muitas 
bactérias que são internalizadas mas sobrevivem à fagocitose podem usar 
a célula para se abrigar para o crescimento e assim evitar a resposta 
imune; além disso, a capacidade de internalização permite que as bactérias 
se disseminem pelo corpo. 
 
 3) CONCEITUAR MICROBIOTA NORMAL E TRANSITÓRIA, E LOCALIZÁ-
LA & 
4) IDENTIFICAR OS FATORES QUE INTERFEREM NO FUNCIONAMENTO 
DA MICROBIOTA; 
 
Entende-se por microbiota do organismo a presença de micro-organismos 
que estabelecem residência permanente ou não, sem causar infecções ou 
nenhum outro dano ao hospedeiro em situações normais. No corpo 
humano a microbiota distribui-se pelas partes do corpo que estão em 
contato com o meio externo como pele e mucosas. A colonização destas 
regiões do organismo não ocorre de maneira homogênea, sendo que cada 
sítio possui uma microbiota com características próprias. A microbiota 
pode ser dividida em i) transitória ou alóctone, compreendendo os micro-
organismos que permanecem por pouco tempo no organismo, sem 
estabelecer uma colonização significativa; ou ii) residente ou autóctone, 
compreendendo os micro-organismos que colonizam o organismo em 
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condições de simbiose com o hospedeiro, por período de tempo 
indeterminado, em situações normais. São vários os benefícios observados 
entre essa relação de simbiose entre hospedeiro e micro-organismo, tendo 
destaque para o antagonismo microbiano, em que a microbiota protege o 
hospedeiro impedindo a colonização por micro-organismos 
potencialmente patogênicos, através da competição por nutrientes, sítios 
de adesão, produção de substâncias nocivas aos patógenos e alterações 
das condições ambientais, como alteração de pH local e disponibilidade de 
oxigênio. Qualquer alteração na microbiota, portanto, pode resultar no 
desenvolvimento de doenças causadas por micro- -organismos 
patogênicos. Além disso, é importante ressaltar que a microbiota de um 
determinado sitio do hospedeiro pode causar infecções quando, em 
situações anormais, atingem outros sítios, originariamente estéreis ou 
compostos por uma microbiota diversa. A instalação desta microbiota 
ainda é um assunto em estudo. Durante a gestação, o ambiente uterino é 
estéril e o recém-nascido passa a ser colonizado ainda no canal vaginal 
materno, durante o parto normal. Crianças nascidas de parto cesáreo 
passam a ser colonizadas logo após o nascimento, por micro-organismos 
maternos, do ambiente local e da equipe médica que o manipula. 
Recentemente foi publicado um estudo com evidências de colonização 
intrauterina por bactérias simbiontes da microbiota materna, porém, ainda 
não há dados que expliquem o mecanismo de translocação destas 
bactérias para o útero materno, nem a passagem dos mesmos pela 
barreira placentária. Com poucos dias de vida, o recém-nascido já se 
encontra totalmente colonizado, porém, o tempo que a microbiota 
residente leva para se estabelecer pode variar, levando até dois anos para 
se estabilizar, como é o caso da microbiota intestinal. A evolução da 
instalação da microbiota ainda não é totalmente conhecida, porém, sabe-
se que alguns fatores são fundamentais na primeira infância da criança, 
como por exemplo, condições socioeconômicas, sanitárias, alimentares e 
interferência medicamentosa. A seguir estão listados os diferentes sítios 
do organismo humano colonizados e os principais micro-organismos 
encontrados. 
 
Pele 
A pele apresenta uma microbiota residente bem definida e mais 
concentrada na região das axilas e períneos, apresentando cerca de 106 
bact./cm2 . Nas outras regiões, a concentração bacteriana é de cerca de 
104 bact./cm2 . A pele está regular e frequentemente em contato com as 
bactérias no meio ambiente, porém, as condições para colonizar uma pele 
saudável estão limitadas aos sítios anatômicos onde a umidade, a 
temperatura e a presença de nutrientes (como suor e sebo) permitem a 
sobrevivência das bactérias. A microbiota da pele encontra-se aderida à 
superfície do extrato córneo e no interior do folículo piloso. Uma vez que a 
microbiota do extrato córneo é removida por processos mecânicos ou 
químicos, a microbiota do folículo piloso é a responsável pela 
recolonização da pele, e em até 8 horas, a microbiota já está restabelecida. 
A população bacteriana da pele inclui principalmente bactérias Gram-
positivas aeróbias obrigatórias, como Micrococcus, anaeróbias 
facultativas, como Staphylococcus e Corynebacterium, e anaeróbias 
estritas como Propionibacterium. 
 
O gênero Staphylococcus é um dos principais colonizadores da pele 
humana. S. epidermidis está presente como principal componente da 
microbiota da pele em 90% da população; já S. aureus é encontrado em 
torno de 10 e 40%. As mulheres, porém,apresentam altos índices de 
colonização na região da vulva por este micro-organismo, cerca de 60% da 
população feminina em idade fértil. De 50 a 70% dos profissionais de saúde 
que trabalham em hospitais apresentam as fossas nasais colonizadas por 
S. aureus. S. saprophyticus está presente como colonizador da vulva, e tem 
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papel importante na Infecção no Trato Urinário (ITU) em mulheres jovens. 
As regiões do ouvido externo e ouvido médio apresentam a microbiota 
semelhante à da pele. A conjuntiva é normalmente estéril, porém, pode ser 
colonizada por Corynebacterium xerosis e S. epidermidis. 
 
Vias Aéreas 
As fossas nasais são colonizadas predominantemente por Staphylococcus 
e Corynebacterium. Há indivíduos que após receberem antibióticos β-
lactâmicos passam a serem colonizados por Klebsiella pneumoniae, E. coli 
e P. aeruginosa, devido à supressão ou redução da microbiota da região. 
Esse fato tem especial importância em indivíduos que trabalham na área 
da saúde. Na faringe e traqueia encontramos Streptococcus alfa- -
hemolíticos e não hemolíticos, Neisseria, Staphylococcus, difteróides, 
Haemophilus e Mycoplasma. Os bronquíolos e alvéolos são normalmente 
estéreis. Trato Genital Feminino A composição da microbiota do Trato 
Genital feminino varia com a idade, pH, secreção hormonal, ciclo 
menstrual, uso de anticoncepcional e atividade sexual. Quando a menina 
nasce, o nível de estrogênio materno presente no organismo estimula a 
proliferação de Lactobacillus, gênero dominante nos primeiros seis meses 
de vida. A presença de Lactobacillus em mulheres saudáveis é importante 
na manutenção do equilíbrio da microbiota, uma vez que as bactérias deste 
gênero fermentam o glicogênio presente na vagina, diminuindo o valor do 
pH local, criando, assim, um ambiente desfavorável às bactérias com 
crescimento em pH neutro. Estudos recentes utilizando metodologias 
moleculares mostram que a microbiota vaginal em mulheres em idade 
reprodutiva é composta por cerca 85% de Lactobacillus, além de 
Gardnerella e Atopodium. Devido à contaminação com a microbiota da pele 
e do Trato Gastrointestinal, a microbiota da região externa da vagina pode 
apresentar os gêneros Staphylococcus coagulase negativo, S. 
saprophyticus e E. coli. Durante a pré-menarca e a menopausa, o valor do 
pH vaginal aumenta e a população de Lactobacillus já não é mais tão 
abundante, coexistindo com Corynebacterium, Staphylococcus e 
Escherichia. 
 
Trato Genital Masculino 
A microbiota da uretra é composta basicamente por Staphylococcus 
epidermidis, Corynebacterium, Streptococcus e E. coli. Cavidade Bucal A 
cavidade bucal possui uma microbiota muito diversificada, estendendo-se 
à superfície dos dentes, mucosas e gengiva. Estima-se que mais de 700 
espécies bacterianas habitam a cavidade bucal, e mais da metade deste 
número são bactérias que não podem ser cultivadas, evidenciando a 
complexidade desta comunidade. A saliva contém 108 bactérias/ml e as 
placas dentais contém 1011 bactérias/cm. Os gêneros predominantes na 
cavidade bucal são Staphylococcus, Streptococcus, Neisseria, Bacteroides, 
Actinomyces, Prevotella, Porphyromonas, Treponema, e Mycoplasma. O 
esôfago não apresenta microbiota própria e as bactérias presentes são 
originadas da cavidade oral, do trato respiratório superior ou dos alimentos 
ingeridos. A microbiota bucal tem grande importância médica e 
odontológica, uma vez que algumas doenças como cárie, periodontites, 
actinomicoses e endocardites subagudas são causadas por membros da 
microbiota oral. 
 
Trato Gastrointestinal 
O trato gastrointestinal (TGI) alberga o maior número e a maior diversidade 
de coleções bacterianas que colonizam o corpo humano. Embora as 
bactérias possam ser encontradas em todo TGI, maior número de bactérias 
residem no cólon e ceco. A população microbiana do TGI seria da ordem de 
1011 a 1012 UFC/ml de conteúdo intestinal, e estima-se a existência de 
aproximadamente 700 diferentes espécies de micro-organismos, a maioria 
bactérias. O estômago é caracterizado pelo pH baixo em adultos saudáveis, 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
16 
 
limitando o nível de colonização da microbiota a 103 UFC/ml de suco 
gástrico. Neste ponto do TGI, os micro-organismos usualmente presentes 
são Lactobacillus, Streptococcus e Candida albicans e um alto percentual 
de pessoas são colonizados por Helicobacter pylori, porém, o 
reconhecimento de H. pylori como membro da microbiota estomacal ainda 
é discutido. O duodeno é composto por uma microbiota semelhante ao 
estômago e no jejuno, é observada uma colonização de 105 a 107 UFC/ml. 
A microbiota consiste principalmente de Streptococcus, Lactobacillus, 
Haemophilus, Veillonella, Bacteroides, Corynebacterium e Actinomyces. No 
íleo a população de bactérias é representada por 107 a 108 UFC/ml e a 
microbiota é composta por anaeróbios facultativos, Enterobactérias e 
anaeróbios obrigatórios tais como, Bacteroides, Veilonella, Clostridium, 
Lactobacillus e Enterococcus. O cólon apresenta a maior densidade e 
diversidade de micro-organismos no corpo humano, na ordem de 1010 e 
1011 UFC/ml e os gêneros mais frequentemente encontrados são 
Bacteroides, Bifidobacterium, Escherichia coli, Clostridium, Eubacterium, 
Bacillus, Peptostreptococcus, Fusobacterium e Ruminococcus. De uma 
maneira geral, as bactérias anaeróbias facultativas como E. coli, 
Enterococos faecalis e E. faecium são as primeiras bactérias a colonizarem 
o TGI do recém-nascido, devido ao elevado teor de oxigênio que existe 
inicialmente. À medida que estas bactérias consomem o oxigênio, o meio 
se torna mais adequado para as bactérias anaeróbias estritas, como 
Bifidobacterium, Bacteriodes e Clostridium. Depois disso, pouco se 
conhece sobre quem são e como e quando se dá a entrada dos outros 
componentes do ecossistema digestivo. Devido a presença de produtos 
ácidos, originados de processos fermentativos, o valor do pH luminal é, 
aproximadamente, 5,5. Este ambiente levemente acidificado permite a 
competição entre as bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta 
(AGCC), e bactérias que utilizam carboidratos, como Bacteroides spp., além 
de estimular a produção de butirato. A diminuição desse valor do pH, 
dificulta a permanência de bactérias do gênero Eubacterium, utilizadoras 
de lactato, e com isso, permitem acúmulo de ácido láctico. A presença de 
butirato no cólon intestinal é responsável por modificações da microbiota. 
Os substratos butirogênicos levam a modulação da população microbiana 
colônica, induzindo a multiplicação de espécies produtoras de butirato e 
permitindo um equilíbrio entre a presença de Eubacterium spp. e 
Bifidobacterium spp. Bactérias produtoras de butirato são capazes de 
fermentar produtos do metabolismo de oligossacarídeos produzidos por 
bifidobactérias. Produtos intermediários de processos fermentativos de 
bifidobactérias da microbiota, como lactato, por exemplo, são encontrados 
em baixas concentrações em indivíduos saudáveis, pois são metabolizados 
por Eubacterium spp. O equilíbrio da diversidade na microbiota intestinal é 
mediado por interações bacterianas que modula a composição da 
microbiota controlando a densidade celular. Essas interações são 
observadas tanto na produção de AGCC como visto acima, como também 
no controle de expressão gênica por “quorum sensing” (ver capítulo 18). 
Bactérias benéficas controlam via “quorum sensing” a densidade 
polulacional de bactérias patogênicas presentesna microbiota, como 
Clostridium, por exemplo. A microbiota intestinal, adquirida no período 
pós- -natal é composta por uma grande diversidade de bactérias e 
desempenha diferentes funções no hospedeiro humano. O conteúdo 
bacteriano intestinal, ainda não totalmente conhecido, é influenciado por 
fatores internos e principalmente externos que, portanto modulam sua 
composição e função. Componentes específicos da microbiota intestinal, 
com destaque principalmente para as bifidobactérias, foram associados a 
efeitos benéficos para o hospedeiro como modulação imune e antagonismo 
contra patógenos, contribuindo ainda no processo de nutrição e 
metabolismo. Existem, em contrapartida, evidências do envolvimento da 
microbiota (ou da desregulação da mesma) em certos estados patológicos 
como a doença inflamatória intestinal e o câncer colônico. Maior destaque 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
17 
 
tem sido dado à microbiota intestinal nas últimas décadas devido a 
resultados promissores, tanto preventivos como terapêuticos, com o uso 
dos pré e probióticos, produtos que visam modular de maneira benéfica a 
microbiota intestinal. A microbiota bacteriana intestinal normal tem papel 
fundamental na proteção ecológica do hospedeiro impedindo o 
estabelecimento de bactéria patogênica no TGI. Este fenômeno é conhecido 
como “resistência à colonização”, “interferência microbiana” ou “efeito 
barreira”. Entre os mecanismos usados pelas bactérias fala-se na 
produção de substratos que inibiriam o crescimento das bactérias 
patogênicas (antagonismo), competição por nutrientes e competição por 
sítios de adesão. A mucosa intestinal humana é a principal interface entre 
o sistema imunológico e o ambiente externo. O intestino é considerado o 
maior órgão imunológico do corpo humano, abrigando cerca de 80% das 
células imunológicas e é responsável pela produção de um terço de 
anticorpos, necessários ao Sistema Imunológico Inato e Adaptativo, além 
de modular as funções digestivas, imunológicas, metabólicas, endócrinas 
e o tropismo intestinal. A microbiota tem efeito estimulante no 
desenvolvimento do sistema imunológico do hospedeiro. A presença 
destas bactérias na luz intestinal não existe de forma “silenciosa” para o 
sistema imunológico, uma vez que os linfócitos B locais produzem 
continuamente anticorpos contra diversos componentes bacterianos. O 
padrão de produção de anticorpos pelos linfócitos B intestinais é diferente 
do sistema imunológico sistêmico, de maneira que o isótipo de 
imunoglobulina produzido preferencialmente é a IgA, que possui várias 
funções importantes na proteção das superfícies mucosas. São produzidos 
dímeros de IgA ligadas a um componente secretório, sendo o complexo 
molecular chamado IgA secretória, diferente daquela encontrada no 
sangue. Esta IgA secretória alcança o lúmen intestinal e reage com 
antígenos específicos, impedindo a interação física dos agentes nocivos 
com a superfície da mucosa. O efeito estimulante da microbiota no tecido 
imunológico do hospedeiro está envolvido em aspectos da resistência que 
são importantes nos estágios inicias das infecções pelos patógenos. No TGI 
existe um estado de modulação imunológica constante. Ao mesmo tempo 
em que o sistema imunológico está pronto para reagir contra bactérias 
patogênicas, é capaz também de se manter tolerante em relação à 
microbiota, sendo esta capacidade chamada de tolerância oral, que é um 
processo ativamente mantido. Uma terceira função atribuída à microbiota 
intestinal está relacionada à sua contribuição para a nutrição e 
metabolismo do hospedeiro. Esta contribuição pode ser evidenciada pela 
sua capacidade de interferir no valor do pH do intestino e na motilidade 
intestinal, favorecendo a absorção de íons e água e na diferenciação de 
células da mucosa. A microbiota ainda exerce atividade bioquímica 
produzindo vitamina K e outras vitaminas. Algumas diferenças são 
observadas na composição e no processo de colonização da microbiota 
dependendo do ftipo de parto. A microbiota da criança que nasce por parto 
vaginal é derivada inicialmente da microbiota fecal materna que contamina 
o canal de parto. Mais tarde a criança adquire bactérias presentes nos 
alimentos e no meio ambiente. Na criança que nasce por meio de parto 
cesáreo, não há participação da microbiota fecal materna, e o 
estabelecimento da microbiota intestinal normal é mais tardio. As crianças 
amamentadas com leite materno têm mais bifidobactérias e estafilococos 
na microbiota intestinal, em relação às que tomam mamadeira que têm 
maior número de enterococos e clostrídeos. O leite materno favorece o 
crescimento de alguns grupos bacterianos de importância para a saúde do 
hospedeiro como as bifidobacterias cujo crescimento é favorecido pelos 
fatores bifidi. A baixa capacidade tamponante do leite humano permite 
também uma melhor atuação das bactérias produtoras de ácido lático pela 
redução do valor do pH intestinal desfavorável ao crescimento de vários 
micro-organismos patogênicos. As crianças amamentadas ao seio, quando 
comparadas com as alimentadas artificialmente, são menos colonizadas 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
18 
 
por enterobactérias, como E. coli e Klebsiella, sendo ainda menor o número 
de sorotipos de E. coli enteropatogênicos. Quando o desmame inicia, as 
crianças são expostas, pela primeira vez, a muitos carboidratos, diferentes 
e complexos. Uma quantidade significativa destes carboidratos vai escapar 
da digestão no intestino delgado e chegar ao cólon, assim como toda fonte 
de fibra dietética. Sabe-se que esses produtos servem de substratos 
alimentares para as bactérias colônicas e, possivelmente, influenciariam a 
composição da microbiota intestinal das crianças neste período de vida. 
Segundo estudos experimentais, o impacto da introdução de alimentos não 
lácteos, provavelmente persistirá até a vida adulta. O uso de antibiótico 
pode afetar o padrão de colonização do TGI na criança. Os agentes 
antimicrobianos têm efeitos específicos em componentes individuais da 
microbiota ao invés de uma supressão geral e não específica e o perfil 
microbiano resultante influencia a população que emerge após a parada do 
tratamento. Algumas características fazem com que determinadas 
bactérias sejam consideradas benéficas para os seres humanos. As 
bifidobactérias e os lactobacilos talvez sejam os principais representantes 
entre as bactérias benéficas. São micro-organismos que não apresentam 
nenhum fator de patogenicidade para o homem e nunca foram envolvidas 
em episódios infecciosos no trato gastrointestinal. Alguns fatores 
favorecem a implantação destas bactérias no TGI dos recém-nascidos 
como o “fator bífido”, nutriente presente no leite materno que favorece 
especificamente a instalação e atuação destas bactérias, além de 
características próprias deste gênero bacteriano com uma alta capacidade 
de adaptação destas ao trato gastrointestinal humano. A otimização da 
microbiota intestinal pelo uso de pré e probióticos durante o período de 
colonização intestinal tem sido sugerida, entretanto, ressalta-se a 
importância de se conhecer mais profundamente como ocorre a instalação 
da microbiota e quais as consequências, em longo prazo, de possíveis 
intervenções neste processo. As técnicas moleculares têm revelado uma 
grande diversidade da microbiota nas amostras analisadas. Análises 
filogenéticas baseadas em sequências de DNA têm sido utilizadas para 
caracterizar microbiota de fezes humana. A biblioteca de 16SrRNA (RNA 
ribossomais) vem demonstrando uma ótima técnica molecular para 
evidenciar a composição da microbiota intestinal. A alta especificidade e a 
natureza cumulativa dos bancos de dados de sequências de DNA de RNA 
ribossômicos têm incentivado a descoberta e o reconhecimento desta 
biodiversidade. As moléculas de rRNA são excelentes para a medida da 
inter-relação evolucionária. Em contraste com a taxonomia tradicional que 
é baseada nos traços fenotípicos, este tipo de taxonomia reflete a inter-
relação evolucionária natural entre os organismos. Utilizando-se a 
sequência de ácidos nucléicos derivados diretamente da comunidade 
microbiana, combinado com reação de polimerase em cadeia (PCR) e 
clonagem, inúmeros micro-organismos, inclusive os não cultiváveis, 
tornam-se acessíveis para caracterização e identificação. Com o uso de 
técnicas moleculares avançadas, nas quais se podem examinar múltiplos 
organismos de múltiplos doadores, uma descrição exata da complexidade 
destas comunidades bacterianas pode ser obtida. 
 
Probióticos 
Apesar de todos os efeitos benéficos, existem evidências do envolvimento 
da microbiota (ou da desregulação da mesma, chamada disbiose) em 
certos estados patológicos, como processos alérgicos, obesidade, doença 
inflamatória intestinal e o câncer colônico, entre outros. Com o objetivo de 
tentar corrigir esses efeitos danosos da disbiose, os probióticos, 
prebióticos e simbióticos vem sendo estudados. Os prebióticos são 
substâncias não digeríveis, presentes nos alimentos, que estimulam 
seletivamente o crescimento e atividade de bactérias no cólon, trazendo 
efeitos benéficos ao hospedeiro. Além de favorecer o crescimento de 
bactérias benéficas para o hospedeiro, os prebióticos exercem efeito direto 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
 UCVI – Mecanismos de Agressão e Defesa 
 
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sobre a saúde do hospedeiro. Inulina e oligofrutose (ou fruto-
oligossacarídeos - FOS), galacto-oligossacarídeos (GOS) e lactose, são os 
principais compostos prebióticos. Estes compostos estão presentes 
naturalmente em alimentos como a cebola, o alho, chicória e o leite. No 
leite materno existe a presença de oligossacarídeos não absorvíveis, 
conhecidos como fatores bifidogênicos. Eles são substâncias prebióticas e 
favorecem a implantação destas bactérias no TGI dos recém-nascidos. Os 
prebióticos também podem ser encontrados em produtos farmacêuticos e 
fórmulas infantis. Estes compostos, quando fermentados pelas bactérias 
colônicas, levam a produção de AGCC, principalmente o acetato, o 
propionato e o butirato (efeito butirogênico). A maioria dos AGCC é 
absorvida pelo organismo humano sob a forma de energia. O butirato é 
oxidado e utilizado pelo próprio epitélio colônico e é considerado o AGCC 
com maior impacto sobre saúde epitélio intestinal. Ele cria um ambiente 
mais ácido, que protege contra a colonização por patógenos, possui efeito 
trófico no epitélio, favorece a diferenciação do enterócito, inibindo a 
proliferação (efeito anticarcinogênico) e possui atividade anti-inflamatória. 
Os probióticos são definidos como organismos vivos que proveem 
benefícios ao hospedeiro, quando inoculadas em quantidades adequadas. 
Os probióticos devem possuir pré-requisitos básicos para serem utilizados 
no ser humano, incluindo: ausência de propriedade virulenta, capacidade 
de sobreviver no ambiente gastrointestinal, capacidade de aderir às 
superfícies mucosas e células epiteliais e ação inibidora de patógenos. 
Entre os anaeróbios, alguns bacilos Gram-positivos, como Bifidobacterium 
spp. e Lactobacillus spp., representam as principais bactérias simbiontes 
benéficas, sendo algumas espécies possuem os pré-requisitos para 
probióticas. Deve ficar claro, portanto que, nem toda bactéria simbionte 
pode ser considerada probiótica. A levedura Saccharomyces boulardii 
também tem seus efeitos benéficos e probióticos comprovados. O potencial 
probiótico difere entre cepas. Cada cepa bacteriana tem sítios de aderência 
definidos e efeitos específicos, portanto, para cada situação clínica, 
existiria um, ou um conjunto de micro-organismos, com potencial efeito 
benéfico. Deve-se ressaltar o benefício transitório do uso do probiótico 
uma vez que, os probióticos utilizados atualmente, não colonizam de forma 
permanente o trato gastrointestinal, exercendo seu efeito apenas enquanto 
estão sendo consumidos pelo organismo humano. Os mecanismos através 
do quais os probióticos exercem seus efeitos benéficos não são totalmente 
conhecidos e são possivelmente multifatoriais (Figura 12.1). Estudos 
indicam que o uso de probióticos pode aumentar a expressão de genes 
envolvidos na sinalização de proteínas das junções firmes, prevenindo a 
ruptura da barreira intestinal e também favorecendo sua recuperação após 
dano. Além disso, a capacidade de adesão tem sido uma das principais 
características buscada nos novos probióticos. Essa propriedade é 
importante para que interajam com as células epiteliais e células imunes 
do hospedeiro, e também para que estes atuem como antagonistas da 
adesão de patógenos. Algumas cepas de probióticos, como Lactobacillus 
reuteri, Lactobacillus plantarum, Bifidobacterium lactis, Bifidobacterium 
bifidum e Bifidobacterium longum produzem e secretam proteínas 
adesinas de muco, denominadas MUB (mucus-binding protein) que ficam 
ancoradas na parede celular, permitindo a adesão a estruturas específicas 
da mucosa intestinal humana. A competição pelos sítios de adesão nas 
células epiteliais e na camada de muco também é um efeito benéfico das 
bactérias probióticas, assim como das bactérias simbiontes. Lactobacilos 
e bifidobacterias demonstraram inibir a adesão de uma variedade de 
patógenos, incluindo E. coli, Salmonella, Helicobacter pylori, Listeria 
monocytogenes e rotavírus. Algumas bifidobacterias e lactobacilos 
compartilham os mesmos receptores de adesão de certos 
enteropatógenos, o que justificaria a competição pelos sítios de adesão na 
mucosa do hospedeiro. Alguns probióticos são capazes de sintetizar ácidos 
orgânicos e substâncias antibacterianas denominadas bacteriocinas. Os 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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ácidos orgânicos, particularmente o ácido acético e o ácido lático, têm um 
forte efeito inibitório sobre bactérias Gram-negativas, e têm sido 
considerados os principais compostos antibacterianos responsáveis pela 
atividade inibitória dos probióticos sobre patógenos. Quando penetram a 
célula bacteriana, eles causam a redução do valor do pH intracelular ou o 
acúmulo de ácidos orgânicos ionizados, levando a morte bacteriana pela 
formação de poros e/ou inibição da síntese da parede celular. Foi 
demonstrado que determinados lactobacilos e bifidobacterias probióticas 
são capazes de matar diretamente a Salmonella typhimurium, in vitro. 
Além disto, alguns probióticos, principalmente lactobacilos, seriam 
capazes de produzir substancias inibidoras do crescimento de fungos. Os 
probióticos são capazes de interagir com o sistema imune do hospedeiro 
através de vários mecanismos. Bactérias probióticas têm demonstrado 
aumentar os níveis de IgA total e específica contra patógenos em vigência 
de infecção, sem induzir a produção de IgA contra o próprio probiótico. 
Micro-organismos simbiontes e probióticos podem induzir um estado de 
tolerância imunológica mediado pela ativação dos receptores do tipo Toll 
(TLR) na superfície das células dendríticas. Após ativação pelas bactérias 
probióticas, as células dendríticas iniciam uma resposta apropriada, 
induzindo a diferenciação do linfócitoTho em Treg, que tem um efeito 
inibitório sobre a resposta inflamatória Th1, Th2 e Th17. Lactobacillus 
induzem a diferentes perfis de secreção de citocinas pró e anti-
inflamatória. Vários estudos têm demonstrado a importância da sinalização 
de probióticos através do TLR 2, como uma via importante para que alguns 
lactobacilos e bifidobaterias probióticas exerçam seu efeito 
imunomodulador, ora induzindo a síntese de citocinas de defesa, ora 
inibindo a síntese de citocinas pró-inflamatória ou induzindo a síntese de 
citocinas anti-inflamatórias. A utilização de algumas cepas de lactobacilos 
parece ter papel importante na indução de resposta de defesa contra 
patógenos invasores, através da sinalização do TLR 4. A sinalização 
através do receptor TLR 9 também parece ser uma via para obtenção de 
uma resposta anti-inflamatória induzida pelo probiótico. 
 
Probióticos e doenças intestinais 
Ao lado da terapia de reidratação oral, o uso de probióticos para diarreia 
aguda parece reduzir a frequência evacuatória e a duração da diarreia em 
1 dia (efeito observado principalmente em países em desenvolvimento). 
Estudos utilizando S. boulardii, L. rhamnosus GG e outras cepas, 
registraram redução na ocorrência de diarreia nosocomial, redução na 
diarreia associada ao uso de antibiótico e redução na diarreia por 
Clostridium difficile. A síndrome do intestino irritável (SII) é uma das 
desordens gastrointestinais mais comuns dos países desenvolvidos e em 
desenvolvimento, afetando 10% a 15% da população. Ocorrem episódios 
recorrentes de dor abdominal, associada a distúrbios do hábito intestinal, 
na ausência de doença orgânica. Tal distúrbio está relacionado a alterações 
da motilidade intestinal e na sensibilidade visceral. Estudos sugerem a 
ocorrência de alteração na composição da microbiota intestinal destes 
indivíduos, não estando claro se esta alteração é primária ou secundária à 
dismotilidade intestinal. Estudos atuais ainda sugerem que os probióticos 
podem ser benéficos na SII através de diversos mecanismos: redução da 
hipersensibilidade visceral, efeito benéfico sobre a motilidade 
gastrointestinal, diminuição da permeabilidade intestinal, combate a 
disbiose e melhor resposta imune. Várias cepas de probióticos isoladas (L. 
rhamnosus GG, B. infatis, B. lactis, B. bifidum) ou em associação 
demonstraram efeitos benéficos diversos, embora não reprodutíveis com 
outros tipos de probióticos. Porém, o tipo de probiótico utilizado deve ser 
escolhido de acordo com a sintomatologia específica do paciente. Apesar 
de muita expectativa, o uso dos probióticos na doença inflamatória 
intestinal (DII) ainda não alcançou os resultados esperados. Nenhum feito 
consistente foi observado na prevenção ou tratamento da doença de Crohn. 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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Já na retocolite ulcerativa benefícios foram observados com o uso de 
mistura de probióticos na indução e na manutenção da remissão de doença. 
O impacto do Lactobacillus GG e do VSL#3, na prevenção primária e 
redução na recorrência de bolsite também estão bem estabelecidos. 
Existem evidências de que alteração na microbiota de recém-nascidos 
prematuros pode atuar como um dos fatores de predisposição para a 
enterocolite necrosante. O intestino imaturo do bebê prematuro é propenso 
à inflamação e perda da integridade epitelial. Os probióticos teriam o 
potencial de interferir neste processo. Estudo de meta-análise indica que 
o uso de determinados probióticos (Bifidobacterium, Lactobacillus, 
Saccharomyces e S. thermophilus) em prematuros, reduz a frequência e a 
mortalidade por enterocolite necrosante. Ainda assim a Academia 
Americana de Pediatria recomenda que sejam realizados mais estudos 
para que se estabeleça a dose e a cepa específica de probiótico que deve 
ser recomendada. Mudanças nos hábitos de higiene das sociedades 
modernas levaram a mudanças na composição da microbiota, favo- 107 
recendo a maior indução de indivíduos alérgicos (chamada hipótese da 
higiene expandida). O uso dos probióticos tem sido sugerido como uma 
intervenção capaz de prevenir ou atenuar o curso das doenças alérgicas. 
O uso de algumas cepas de probióticos (Lactobacillus GG e B. lactis) no 
período neonatal pode reduzir a ocorrência de eczema, por exemplo. 
 
 5) DESCREVER OS MECANISMOS DE RESPOSTA INATA, 
ESPECIFICANDO EM BACTÉRIAS INTRA E EXTRACELULARES – 
Impressão I (extra) 
 
Imunidade a bactérias extracelulares 
As bactérias extracelulares são capazes de se replicar fora das células 
hospedeiras, por exemplo, no sangue, em tecidos conjuntivos, e nos 
espaços teciduais, como os lumens das vias aéreas e do trato 
gastrintestinal. Muitas espécies diferentes de bactérias extracelulares são 
patogênicas, e a doença pode ser causada por dois mecanismos principais. 
Em primeiro lugar, essas bactérias induzem inflamação, o que resulta na 
destruição dos tecidos no local da infecção. Em segundo lugar, as bactérias 
produzem toxinas, que têm diversos efeitos patológicos. As toxinas pode 
ser endotoxinas, que são componentes da parede celular bacteriana, ou 
exotoxinas, que são secretadas pelas bactérias. A endotoxina de bactérias 
Gram-negativas, também chamada de lipopolissacarídeo (LPS), foi 
mencionada no Capítulo 4, como um potente ativador de macrófagos, 
células dendríticas e células endoteliais. Muitas exotoxinas são citotóxicas 
e outras causam doença por vários mecanismos. Por exemplo, a toxina da 
difteria desliga a síntese de proteínas em células infectadas, a toxina da 
cólera interfere no transporte de íons e de água, a toxina do tétano inibe a 
transmissão neuromuscular, e a toxina antraz interrompe várias vias 
bioquímicas de sinalização essenciais nas células infectadas. Outras 
exotoxinas interferem nas funções celulares normais sem destruir as 
células, outras exotoxinas ainda estimulam a produção de citocinas que 
podem causar doença. 
 
Imunidade Inata contra Bactérias Extracelulares 
Os principais mecanismos de imunidade inata contra bactérias 
extracelulares são a ativação do complemento, a fagocitose e a resposta 
inflamatória. • Ativação do complemento. Os peptideoglicanos na parede 
celular das bactérias Gram-positivas e o LPS em bactérias Gram-
negativas ativam o complemento da via alternativa (Cap. 13). As bactérias 
que expressam manose na sua superfície, podem se ligar à lectina de 
ligação a manose, que ativa complemento pela via das lectinas. Um 
resultado da ativação do complemento é opsonização e fagocitose 
aumentada de bactérias. Além disso, o complexo de ataque à membrana 
gerado pela ativação do complemento leva à lise de bactérias, em especial 
das espécies Neisseria que são particularmente suscetíveis à lise porque 
Pâmela Brandão da Silva – Medicina UniFG 2020.2 (Semestre II) 
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possui paredes celulares finas, e os subprodutos do complemento 
estimulam a resposta inflamatória, recrutando e ativando os leucócitos. • 
Ativação de fagócitos e inflamação. Fagócitos (neutrófilos e macrófagos) 
utilizam receptores de superfície, incluindo os receptores de manose e 
receptores scavenger para reconhecer as bactérias extracelulares, e eles 
utilizam receptores Fc e receptores de complemento para reconhecer 
bactérias opsonizadas com anticorpos e proteínas do complemento, 
respectivamente. Os produtos microbianos ativam receptores do tipo Toll 
(TLRs) e vários sensores citoplasmáticos em fagócitos e em outras células. 
Alguns desses receptores funcionam principalmente para promover a 
fagocitose dos microrganismos (p. ex., receptores

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