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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE NACIONAL DE DIREITO Disciplina: Direito das Obrigações Professor: Filipe Garcia Monitora: Gabriela Pedroso Introdução 1. Histórico Império Romano (XII Tábuas): responsabilidade pessoal. Nessa época, o devedor cumpria a dívida com o próprio corpo ou, em casos mais extremos, com a própria vida. Lex Poetelia Papiria (326 A.C.): responsabilidade patrimonial. Foi a partir deste momento que o patrimônio do devedor passou a responder pelo débito, não mais seu corpo. Liberalismo: dogma da vontade. Você poderia escolher se obrigar ao que quisesse, não havia restrições. Neoconstitucionalismo e o Estado Social (século XX - XXI): influência dos princípios constitucionais. Art. 1º, III, CF. Dignidade da pessoa humana e o arremesso de anões. Art. 3º, I, CF. Solidariedade e o caso Zeca Pagodinho. - Arremesso de anões: exemplo da impossibilidade de se obrigar irrestritivamente. Um anão fez um contrato em que ele seria lançado por canhão de um lado a outro para entreter uma plateia na França. O Estado entendeu ser isto uma grave ameaça aos direitos da personalidade do anão e, por serem os mesmos mais importante que a própria vontade dele de se submeter a tal, o anão foi impedido de fazê-lo. - Caso Zeca Pagodinho: o cantor assinou um contrato de exclusividade com a Schin. Algumas semanas depois, a Brahma (Ambev) o contratou opara fazer outra propagando, contrariando a anterior e oferecendo muito mais dinheiro. Na segunda, o cantor dizia que voltara para a cerveja que preferia. Não se trata de um ato solidário, pois feriu a boa-fé. A Brahma agiu de má-fé, visando o prejuízo da Schin. Esta, por sua vez, processou Zeca Pagodinho e a própria Brahma, pedindo danos morais e materiais. 2. Noções de Obrigações A) Conceito “Obrigação é a relação jurídica transitória que estabelece vínculos jurídicos entre duas diferentes partes (denominadas credor e devedor), cujo objetivo é uma prestação pessoal positiva ou negativa em que se garante o cumprimento sob pena de coerção judicial.” – Chaves e Rosenvald B) Características Caráter Transeunte: não existe dívida eterna Vínculo jurídico: coerção estatal Caráter patrimonial: art. 391 CC Prestação pessoal: toda obrigação envolve uma conduta, a qual pode ser: - Dar - Fazer - Não fazer C) Execução de uma obrigação Execução: cumprimento = pagamento Execução espontânea: voluntária Execução forçada: inadimplemento Pacto são José da Costa Rica: somente dívidas alimentares 3. Distinção entre Direito Obrigacional e Direito Real A) Conceito “O Direito Real é aquele que afeta a coisa direta e imediatamente e a segue em poder de quem quer que a detenha. O Direito Obrigacional é o direito contra determinada pessoa.” B) Distinções Direito das Obrigações Direito real Relação entre sujeitos Credor x Devedor Sujeito x coisa Direitos Direito a uma prestação Direito sobre a coisa Faz surgir Exigência de um comportamento do devedor Direito de sequela (direito de perseguir a coisa onde é que ela esteja) Eficácia Inter partes Erga omnes Situação Transitória Permanente Objeto Prestação Coisa 4. Figuras Híbridas Obrigações reais (propster rem): só surgem por conta de um direito real. - Ex.: IPTU. A obrigação de pagar o imposto só surge por conta de um direito real, que é a propriedade de um imóvel. Obrigações com eficácia real: um direito real que só surge por conta de uma obrigação. - Ex.: CRI (Contrato de Registro de Imóveis). Tem efeito erga omnes, logo é um direito real e pode ser feito por conta de uma obrigação, como um contrato de locação (que possui uma obrigação). 5. Obrigação, Dever, Sujeição e Ônus Obrigação: é uma relação jurídica específica Dever jurídico: relação jurídica genérica. - Ex.: não causar o mal Sujeição: aquele que se encontra num estado de sujeição não desenvolve qualquer conduta, pois se encontra a mercê da atuação voluntária ou judicial do titular do direito potestativo. - Ex.: rescisão contratual Ônus jurídico: corresponde à necessidade de uma conduta, não pela imposição de norma, mas para a defesa de um interesse própria. Não gera sanção jurídica. 6. Obrigação e Responsabilidade Civil Obrigação (schuld) é o direito de exigir uma prestação (um crédito). É um dever originário. Responsabilidade (Raf Tung) é aquilo que surge ante o inadimplemento de uma obrigação. É um dever sucessivo. Estrutura das Obrigações 1. Generalidades Toda obrigação possui três elementos: - Subjetivo: devedor e credor - Objetivo: prestação - Imaterial: vínculo jurídico OBS: o vínculo jurídico é o reconhecimento do Estado. Serve também como coerção estatal para quando o devedor não cumprir a obrigação. Relação jurídica complexa: - Tem-se no mesmo sujeito a figura do devedor e do credor. - Ex.: contrato de compra e venda 2. Elemento Subjetivo Credor (sujeito ativo): direito de exigir a prestação Devedor (sujeito passivo): direito de cumprir a obrigação Os sujeitos podem ser: - Determinados - Indeterminados (ex.: doação para um nascituro) 3. Elemento objetivo A prestação. A relação obrigacional tem dois objetivos: - Imediato: a prestação, a conduta do devedor - Mediato: bem jurídico pretendido Modalidades da prestação: - Positiva: dar e/ou fazer - Negativa: não fazer (proibir algo) Características da prestação: - Licitude: tem limites morais - Possibilidade: física (tem de ser possível fisicamente) e jurídica (tem de ser possível juridicamente, vide art. 426 CC) - Determinada: individualizada, especificada e concentrada - Determinável: pelo gênero e quantidade. 4. Elemento imaterial O vínculo jurídico. Confere coercibilidade à obrigação, pois há o reconhecimento do Estado. Exceção: obrigação natural - Ex.: dívida prescrita OBS: os direitos da personalidade não podem ser oferecidos como prestação, com a exceção da imagem, a qual pode ser cedida somente temporariamente. Fonte das Obrigações 1. Negócios Jurídicos É o instrumento da vontade, a expressão máxima da vontade(s). Pode ser: - Negócio jurídico bilateral: acordo de vontades. Ex.: contratos - Negócio jurídico unilateral: emanação de uma vontade. Ex.: testamento OBS: a doação NÃO é um negócio jurídico unilateral, pois há o acordo entre aquele que quer doar e aquele que aceitou a doação. Portanto, não é a emanação de uma única vontade. 2. Responsabilidade Civil Condutas que geral a obrigação de reparar um dano (indenização): - Descumprir uma obrigação: art. 389 CC - Cometer ato ilícito: art. 186 CC - Abuso de direito: art. 187 CC - Atividade de risco: art. 927, p.ú., CC 3. A lei Alimentos (pensão alimentícia): art. 1696 CC 4. Títulos de Crédito Cheques, duplicatas, nota provisória e letra de câmbio. Classificação das Obrigações 1. Obrigação de Dar Objeto: prestação da coisa Dar pode significar: - Sentido estrito: transferir propriedade (ex.: compra e venda) - Entregar: transferir posse (ex.: aluguel. Relação do dono para com o inquilino) - Restituir: devolver posse (ex.: aluguel. Relação do inquilino para com o dono) 1.1 Obrigação de dar coisa certa Art. 233 ao 242 CC; Certa: coisa determinada pela quantidade, gênero e espécie; Dar outra coisa: art. 313 CC (credor não é obrigado a aceitar) Acessório e principal: art. 233 CC (dar coisa certa indica dar também seus acessórios,mesmo quando não mencionados. Pertença é exceção.) Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal. Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. Regra do “res perit domni” ou “a coisa perece para o dono”: a) Perecimento da coisa: dano total à coisa, ela perde sua validade, sua serventia. Pode ser sem ou com culpa do devedor. Art. 234 CC. Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. a.1) Sem culpa do devedor: o efeito é o retorno das partes ao “status quo ante” ou “estado em que se encontravam antes”. - Ex.: compra e venda de um carro, que é roubado. A entrega o dinheiro para B e este, quando leva o carro para o primeiro, tem o mesmo roubado. Efeito de acordo com a regra do “res perit domni”, tem-se o retorno ao “status quo ante”, onde B devolve o dinheiro para A e arca com o prejuízo do carro roubado. a.2) Com culpa do devedor: o efeito é responder o devedor pelo equivalente ao perecimento da coisa, mais perdas e danos. - Ex.: compra e venda de um carro, que tem perda total. A entrega o dinheiro para B e este, quando leva o carro para o primeiro, avança um sinal vermelho e causa sinistro que perece a coisa. B tem de devolver o dinheiro para A e responder por perdas e danos (pagar indenização). b) Deterioração da coisa: perda parcial, na qual há redução da qualidade de coisa ou do seu valor econômico. Pode ser sem ou com culpa do devedor. b.1) Sem culpa do devedor: art. 235 CC. O efeito é poder o credor exigir a resolução da obrigação (retorno ao “status quo ante”) ou aceitar o bem com abatimento (o valor da coisa após a deterioração). b.2) Com culpa do devedor: art. 236 CC. O efeito é poder o credor exigir a resolução da obrigação (com ou sem perdas e danos) ou aceitar o bem com abatimento (com ou sem perdas e danos). Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos. OBS: perdas e danos = danos morais + danos materiais + lucro cessante. Ver 402 CC. OBS2: da mesma forma que “a coisa perece para o dono”, os seus melhoramentos e acrescidos também são para o dono. Isto quer dizer que, até o momento da tradição da coisa, esta pertence ao devedor e caso haja algum melhoramento ou acrescidos, o devedor pode exigir aumento no preço. Se o credor não anuir, o devedor pode resolver a obrigação. Ver art. 237 CC. c) Sobre a obrigação de restituir: c.1) Perda da coisa sem culpa do devedor: art. 238 CC. O efeito é de acordo com a regra do “res perit domni”, que, neste caso, não é o devedor. O dono da coisa aqui é o credor, o qual a emprestou ao devedor, tendo este a obrigação de restituir. Portanto, se a coisa se perde ou perece, ela perece para o dono, que é o credor. c.2) Perda da coisa com culpa do devedor: art. 239 CC. O efeito é poder o credor exigir ao devedor o pagamento do valor da coisa e a indenização por perdas e danos. c.3) Deterioração da coisa sem culpa do devedor: art. 240 CC. O efeito é ter o credor de receber a coisa no estado em que se acha, sem direito a perdas e danos. c.4) Deterioração da coisa com culpa do devedor: art. 240 CC (observar o disposto no 239). O efeito é poder o credor exigir ao devedor o pagamento do valor da coisa e a indenização por perdas e danos. Art. 238. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Art. 239. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos. Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239. OBS: na obrigação de restituir, quando há melhoramento ou acréscimo à coisa (sem despesa ou trabalho do devedor), quem lucra é o credor sem ter de indenizar o primeiro. Art. 241 CC. Se, para haver o melhoramento ou acréscimo, o devedor teve despesa ou trabalho, observa-se o disposto no art. 242 CC sobre benfeitorias. c.5) Benfeitorias: bens acessórios ao bem principal Boa-fé: o possuidor de boa-fé tem permissão para usar o bem. Ele tem direito aos valores das benfeitorias realizadas. Art. 1219 CC. - Benfeitorias necessárias (conservar) e úteis (aumentar a serventia) geram direito de retenção do bem caso o credor não as pague; - Benfeitorias voluptuárias (embelezar) geram direito de levantamento (retirada do bem). Má-fé: o possuidor de má-fé só terá direito aos valores das benfeitorias necessárias. Art. 1220 CC. - Não há aqui o direito de retenção ou de levantamento. OBS: se o levantamento prejudica o bem principal ou não for possível de ser executado, o devedor perde tal direito. Ex.: uma piscina (benfeitoria voluptuária), a qual, ao ser retirada, causaria danos ao terreno do imóvel. OBS2: descrição de benfeitorias no art. 96 CC. Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. § 1o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. § 2o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. § 3o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. c.6) Frutos: são utilidades que a coisa produz periodicamente sem causar destruição total ou parcial. Boa-fé: o possuidor de boa-fé tem o direito de colher os frutos. Art. 1214 CC. Má-fé: o possuidor não tem o direito aos frutos e responde por aqueles colhidos, pelos que colher antecipadamente e pelos que deixou de colher por culpa. Art. 1214, p.ú., CC e art. 1216 CC. 1.2 Obrigação de dar coisa incerta Incerteza: a coisa é indicada, ao menos, quanto ao gênero e quantidade Art. 243 CC. Especificação/concentração: momento até o pagamento Gênero: quem escolhe é o devedor. Art. 244 CC. Quantidade: o devedor não pode dar a pior nem é obrigado a dar a melhor. A coisa incerta NÃO perece. A coisa só pode se perder ou deteriorar quando é determinada. Art. 246 CC. Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. Obrigações quase-genéricas: aquelas cujo gênero é limitado, quer porque a quantidade é limitada, quer porque faz referência à coisa que se acha num certo local ou que pertence à certa pessoa. - Ex.: A tem a obrigação de dar um dos cavalos de sua fazenda para B. Se, num caso fortuito ou força maior, toda a fazenda for tomada por uma praga, a qual mata todos os animais da mesma, A pode alegar o perecimento da coisa. Isto porque é uma obrigação quase-genérica, a qual teve seu objeto especificado pelo local (um doscavalos de sua fazenda). Diferente seria se A tivesse a obrigação de dar um cavalo para B (sem especificar local ou gênero). 1.3 Obrigação de dar dinheiro (prestação pecuniária) É um modo de pagamento que deve se realizar, em princípio, em moeda corrente no lugar do cumprimento da obrigação. Ex.: prestação alimentar, prestação entre um inquilino e o locador etc. Via de regra, o pagamento é feito em moeda nacional. Exceção: contratos internacionais OBS: princípio do nominalismo – é válido o valor estipulado no contrato. Art. 315 CC. Quando há inflação, usa-se a cláusula de escala móvel, na qual se admite a atualização anual do valor nominal de tempos em tempos. Tal atualização é de acordo com a tabela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado). 1.4 Execução da obrigação de dar Descumprimento da obrigação de dar coisa certa pode gerar astreinte (multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação). Art. 621, p.ú., CPC. Descumprimento da obrigação de dar coisa certa pode gerar a intimação do devedor para concentrar o débito e depois entregá-lo. Se o devedor não fizer a concentração, o credor poderá fazê-lo a sua maneira. Art. 629 CPC. 2. Obrigação de Fazer Noções: Objeto – comportamento/atividade laboral 2.1 Modalidades Fungível - Pode ser executado por terceiro - Ex.: construir um muro - Descumprimento: a) Quando a prestação não mais interessa ao credor (art. 248). Pode ser: > Sem culpa – resolve-se sem perdas e danos > Com culpa – perdas e danos b) Quando a prestação ainda interessa ao credor (art. 249 CC e 63 CPC) > Culpa do devedor – o credor pode mandar terceiro executado (por autorização judicial), mas, em caso de urgência, é descartada a autorização judicial. Infungível (personalíssima) - Interessa da conduta de uma pessoa específica - Espécies: a) Por expressa vontade – credor expressa sua vontade de que somente determinada pessoa poderá cumprir a obrigação. b) Pela natureza da obrigação – quando um famoso se obriga a prestar alguma obrigação, não podendo ser substituído. - Descumprimento: a) Sem culpa – resolve-se sem perdas e danos b) Com culpa – perdas e danos OBS: tutela jurídica segundo CPC – tutela ou execução específica da obrigação. É possível fixar astreinte. Art. 461 CPC. 2.2 Conclusão Se for impossível o cumprimento da obrigação por culpa do devedor, converte-se a obrigação em perdas e danos. Se for possível o cumprimento da obrigação, pode-se pedir a tutela específica (sendo a obrigação fungível e havendo culpa no descumprimento, pode o credor mandar terceiro executar a obrigação). 3. Obrigação de Não Fazer Conceito: uma obrigação que tem por objetivo uma prestação negativa, uma omissão do devedor (comportamento omissivo). Descumprimento: o devedor realiza o ato que deveria se abster. Quando a pessoa realiza o ato que não deveria fazer, torna-se inadimplente. Espécies: - Instantânea: quando há o descumprimento uma única vez, faz tornar irreversível. Não é possível voltar ao “status quo ante”. Ex.: obrigação de não divulgar um segredo profissional. - Permanentes: quando há o descumprimento, ainda permitem a recomposição da situação. Ex.: obrigação de não construir um muro. Efeitos do descumprimento: - Sem culpa: resolve-se sem perdas e danos, retorno ao “status quo ante” (quando for possível). - Com culpa: perdas e danos + recomposição da situação Classificação Especial das Obrigações 1. Introdução As obrigações podem ser simples (1 prestação, 1 credor e 1 devedor) ou compostas (mais de um em qualquer polo). Podem ser simples/compostas quanto ao objeto: a prestação. Podem ser simples/compostas quanto aos sujeitos: devedor e credor. 2. Obrigações compostas objetivas A) Obrigação cumulativa Identificação: partícula “e” indicando acumulação de prestações O devedor deve cumprir todas as prestações acumuladas Ex.: art. 610 CC B) Obrigação alternativa Identificação: partícula “ou” / “salvo” O devedor cumpre uma das prestações. A escolha na obrigação alternativa da prestação cabe ao devedor. Art. 252 CC Ex.: 534 CC OBS: a obrigação alternativa difere da obrigação incerta, pois esta não concentra espécie e é simples. OBS2: obrigações periódicas são aquelas que têm de ser cumpridas de tempo em tempo. A escolha da obrigação ainda cabe ao devedor, porém aqui há a possibilidade de esta ser renovada em cada período. Art. 252, §2º, CC. Ex.: aluguel de um apartamento no valor de 1.000 reais, o qual é pago todo mês durante um ano. Neste caso, há a obrigação alternativa periódica compactuada entre credor e devedor, pois no contrato diz poder o segundo pagar via prestação pecuniária ou por uma obrigação de dar coisa certa (joia no mesmo valor). Assim, a cada mês, o devedor escolhe qual das prestações irá cumprir (joia ou dinheiro). B.1) Descumprimento da obrigação alternativa Perecimento de uma das prestações: - Sem culpa do devedor: art. 253 CC - Por culpa do devedor, cabendo a ele a escolha: art. 253 CC - Por culpa do devedor, cabendo ao credor a escolha: art. 255 CC (prestação subsistente + perdas e danos OU prestação perecida + perdas e danos) Perecimento de todas as prestações: - Sem culpa do devedor: art. 256 CC (retorno ao “status quo ante”) - Por culpa do devedor, cabendo a ele a escolha: art. 234 CC - Por culpa do devedor, cabendo ao credor a escolha: art. 255 CC (segunda parte) B.2) Diferença das obrigações facultativas Há apenas uma prestação: só obrigações simples Caberá substituição da prestação pelo devedor (direito potestativo). O credor não poderá exigir a facultativa. Esta tem de estar expressa no contrato. Obrigação facultativa é uma criação doutrinária, nem sequer existe sua previsão no CC. Descumprimento da obrigação facultativa: - Prestação se perde sem culpa do devedor: resolução da obrigação - Prestação se perde por culpa do devedor: credor exige o valor da prestação que se perdeu + perdas e danos. 3. Obrigações divisíveis e indivisíveis A) Divisíveis Aquela que pode ser fracionada. Art. 257 CC B) Indivisíveis Aquela em que a prestação tem por objeto uma coisa ou fato não suscetível de divisão. Pode ser por: - Natureza (indivisibilidade natural); - Lei (indivisibilidade legal) art. 1.386 CC; - Vontade das partes (indivisibilidade convencional, onde as partes mudam a natureza da obrigação) B.1) Pluralidade de devedores Art. 259 CC Ex.: A e B devem cavalo para C. Internamente, entre A e B, a obrigação é divisível sempre. Externamente, em relação a C, é indivisível. Assim, há a sub- rogação do que pagou. Se A entregou o cavalo para C, A se sub-roga em relação a B. A se torna credor de B. Se houver fiador, este persiste. B.2) Pluralidade de credores Qualquer credor pode exigir a dívida inteira. Tem direito a coisa (prestação) o credor que demandar primeiro. O devedor só se desobrigará quando: - Pagar conjuntamente para todos os credores; - Entregar a prestação para um dos credores. Ex.: A deve cavalo para B e C. A entrega o cavalo para B e este emite um recibo de quitação que, ao ser apresentado a C (o outro credor que não recebeu a prestação), o faz assinar uma calção de ratificação (documento cujo conteúdo reconhece o pagamento feito ao outro credor). OBS: se, no caso de pluralidade de credores, um destes perdoa a dívida do devedor (remissão de dívida), não se extingue a dívida para com os demais credores.Contudo, estes só a poderão exigir descontada a quota do credor remitente (que perdoou). Art. 262 CC. B.3) Descumprimento culposo Deixa de ser indivisível: art. 263 CC Por culpa de todos os devedores: perdas e danos rateado Por culpa de um devedor: só ele paga perdas e danos 4. Obrigações compostas subjetivas A) Obrigações solidárias Solidariedade existe quando, na mesma obrigação, concorrem uma pluralidade de credores, cada um com direito a dívida toda ou uma pluralidade de devedores, cada um obrigado a dívida por inteiro. Não precisa de recibo de quitação, nem calção de ratificação. Objetivo: facilitar o pagamento A solidariedade NÃO se presume. Art. 265 CC. A.1) Solidariedade passiva (entre devedores) Relação externa: qualquer devedor poderá cumprir Relação interna: sub-rogação do devedor que pagou (art. 349). Sub- rogação é diferente de reembolso. Pagamento parcial: enunciado 348, CJF Ex.: A, B e C devem 3 mil reais para D. D pode cobrar os 3 mil reais de qualquer um dos devedores, pois estes são vistos como um único devedor. Modalidades de solidariedade passiva: - Legal: art. 585 (contrato de comodato/empréstimo) - Convencional: por vontade das partes Impossibilidade de cumprimento por um dos devedores: art. 279 CC. Persiste a solidariedade. Os demais devedores arcarão com a impossibilidade do outro (se esta for por culposa, os demais devedores também arcarão com a indenização ao credor por perdas e danos). Remissão: abatimento (da cota-parte daquele devedor cuja dívida foi remida) do valor total. Renúncia: desfazimento do vínculo solidário (diferente de remissão). Insolvência de um dos devedores: é quando o passivo (a dívida) supera o ativo (o crédito) do sujeito. A cota do insolvente é dividida entre os devedores solventes. Art. 283 CC. Morte de um dos devedores: a solidariedade NÃO se transmite aos herdeiros, SALVO se a obrigação for indivisível. Os herdeiros respondem até o limite de sua herança. Art. 276 CC. Indivisibilidade Solidariedade Cada devedor paga por inteiro em razão da impossibilidade técnica de se dividir a prestação Cada devedor paga por inteiro, pois deve por inteiro. Subsiste enquanto a prestação suportar. Cessa com morte de um dos devedores ou de um dos credores. NÂO se transmite aos herdeiros. Termina quando a obrigação se converte em perdas e danos (torna-se indivisível). Se a obrigação se converte em perdas e danos, continuará a solidariedade. O devedor que paga apenas um dos credores, deverá exigir dos demais calção de ratificação. O devedor que paga apenas um dos credores, não precisa exigir a calção de ratificação. É uma relação objetiva, pois assegura a unidade da prestação. É uma relação subjetiva, pois visa facilitar o pagamento. A.2) Solidariedade ativa (entre credores) Relação externa: qualquer credor pode exigir a dívida por inteiro. Relação interna: após o pagamento, há o direito dos credores às suas cotas-parte respectivas (direito de reembolso). Ex.: A deve 3 mil reais para E, F e G. A pode pagar para qualquer um dos credores, pois estes são vistos como um único credor. Modalidades de solidariedade ativa: - Origem legal: art. 2º lei 8.245/91 - Origem convencional: conta conjunta (pode ser ou não solidária) Falecimento do credor: - A solidariedade NÃO se transmite aos herdeiros. Art. 270 CC. Os herdeiros não podem exigir a dívida por inteiro. - No caso de obrigação indivisível, os herdeiros tem o direito à cota- parte respectiva ao credor que faleceu. Impossibilidade de cumprimento por culpa do devedor: art. 271 CC. Não cessa a solidariedade. Remissão: credor perdoa somente a sua cota-parte. Art. 272 CC. Defesas do devedor (em caso de este entrar com uma ação): - Defesa pessoal: direcionada contra a pessoa do credor. Se acatada, não atinge os outros credores. Seu efeito é o fato de a dívida permanecer integral e solidária. O devedor paga aos credores de boa-fé e cobra perdas e danos daquele de má-fé. - Defesa objetiva: defesa do crédito. Se acatada, atinge os demais credores. Ex.: prescrição, remissão e novação. 5. Obrigação quanto ao conteúdo A) Obrigação de meio O devedor se compromete com a atividade e não com o resultado. Ex.: advogado (não garante a sentença favorável ao seu cliente) e médicos (não garantes a cura do problema). O devedor será inadimplente quando agir com CULPA em sua atitude. Ex.: pedir danos estéticos ao invés de danos morais (caso de um advogado) B) Obrigação de resultado Há inadimplemento quando o resultado esperado não é obtido/alcançado conforma prometido. Em casos de cirurgia estética, tem de se observar o resultado baseado em elementos objetivos, aqueles que incorporam os procedimentos cirúrgicos (isto é considerado pela jurisprudência majoritária). Obrigações Naturais 1. Noções Conceito: é um débito em que não se pode exigir judicialmente a responsabilização do devedor, mas que, sendo pago, configura adimplemento eficaz. Há obrigações sem responsabilidade Fundamento: dever de consciência Natureza jurídica: obrigação imperfeita - Estrutura: partes + prestação - Não há vínculo jurídico OBS: dever de consciência é diferente de dever moral. O primeiro se assenta no Direito. O segundo, não se assenta no Direito. 2. Classificação das obrigações naturais 2.1 Originárias Nascem naturais (imperfeitas) Ex.: dívida de jogo tolerado 2.2 Derivados Nascem perfeitas e, como tempo, tonam-se naturais. Ex.: dívida prescrita. Art. 324 OBS: jogos permitidos – obrigação perfeita Jogos proibidos – obrigação nula Jogos tolerados – obrigação natural 3. Disciplina das obrigações naturais Previsões esparsas: art. 882 e 814 Irrepetibilidade: - O pagamento é eficaz (não tem direito à repetição do valor = devolução do valor) - Erro quando à não exigência Perdas e Danos 1. Noções Conceito: pagar perdas e danos significa indenizar aquele que experimentou um prejuízo, uma lesão em seu patrimônio material/moral, por força do comportamento ilícito do transgressor da norma. Descumprimento da obrigação faz surgir o direito à indenização (tem de haver culpa no descumprimento). Distinções: - Pagamento do equivalente: restituição/devolução do valor pago; - Perdas e danos: todo tipo de prejuízo material ou moral que não se inclui no pagamento do equivalente. 2. Abrangência 2.1 Danos materiais ou patrimoniais Art. 402 Conceito: constitui um prejuízo que atinge um patrimônio corpóreo de uma pessoa (não os incorpóreos, como a honra). Englobam os lucros cessantes e os danos emergentes. Dano suscetível de apreciação econômica. 2.2 Lucros Cessantes Conceito: é um bem ou interesse futuro que foi lesado. Consiste na perda de ganho esperável. Baseia-se na probabilidade. 2.3 Danos emergentes Conceito: importa na efetiva diminuição do patrimônio da vítima. Baseia-se na certeza. 2.4 Danos Morais Conceito: é toda e qualquer circunstância que atinge o ser humano em sua condição, que pretenda tê-lo como objeto, que negue sua qualidade de pessoa, será automaticamente considerada violadora de sua personalidade e se concretiza causadora de danos morais. Consequência: tristeza, humilhação, vergonha etc. Danos morais englobam os direitos da personalidade (art. 11 ao 21 CC) + direitos fundamentais (art. 5º CF). OBS: danos são diferentesde transtornos. O primeiro envolve os direitos da personalidade e os direitos fundamentais. O segundo envolve atrasos, quabra de contratos, críticas às personalidades públicas (dependendo do caso, pode-se recorrer à área penal com calúnia, injúria e difamação). OBS2: quando o nome da pessoa vai indevidamente para o SPS ou CERASA, pode- se cobrar danos morais.
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