Buscar

Sobre a desconstrução das teorias linguísticas Pecheux

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

SOBRE A (DES-)CONSTRUÇÃO
DAS TEORIAS LINGüíSTICAS
Michel Pêcheux
Resumo:Nesteensaio,Michel Pêcheuxfazaproximaçõesentrediferen-
tesmomentosepistemológicosda Lingüística,mostrandoqueos traços
queunemedistanciamasaliançasteóricasquecaracterizamessesmo-
mentostêmsuaorigemnoprocessohistóricodeconstituiçãodaprópria
disciplina.O autormostraqueocortesaussureanocontinuaevanescente:
emrelaçãoa eleasdiferentesteoriaslingüísticasproduzemafastamen-
tose retornos.A partir da consideraçãodo equívococomoconstitutivo
da linguagem,Pêcheuxdefendequea pesquisalingüísticadevecons-
truirprocedimentoscapazesdeabordareste"fatoestruturalimplicado
pela ordemsimbólica".
ABSTRACT: /n thisessay,Michel Pêcheuxbringsdose to oneanother
dijferentepistemologicalmomentsinLinguistics,showingthatthefeatures
which bring togetherand breakapart the theoreticalallianceswhich
characterizethesemomentshavetheirorigin in thehistoricalprocess'of
constitutionofthedisciplineitself Theauthorshowsthatthesaussurean
cut is still {!V(//Iescent:i1lrelationto it thedifferentlinguistictheories
pmd/lCl's{!paratiollsmul rel/lms,JJy takillgintoaccounttheequivoque
a,l' cllllslitllliveo/Iallguage,f1êcheuxdefelldsthatIillguisticresearchmust
Imildpmc{'dure.\'capahleo/dealillg withthis "structuralfactentailedin
111/' sYl/lhlllicalOIr/U".
ESTE TEXTO éumuversãomodificadadeumaexposiçãoapresentada
no scmim1riodo DRLA V. O títulopropostoinicialmenteera;"Considera-
çõcscpistcmológicussobreos processosde constituiçãodasteoriasIin-
gilfsticas",Devoconfessardeimediatoquenãotrateido assunto..,
- emprimeirolugar,porqueo termoepistemologia,outrorasuspeitode
terrorismofilosófico-polfÚco,veiculaatualmentea reconfortanteidéiade
uma"intervenção"especializadanacolocaçãodeescudos,alertasfilosófi-
cos,levantamentodeprecauçõesmetodológicas,eestabelecimentodeum
7
illslrulllClllalcOllceitualcom pretensõesdeadaptar-seà interpretaçãoe à
avaliaç,10formaldasteorias.Nãotenhopossibilidade,nemvontadede me
dedicara essaespéciedeexercício;
- mas,sohreludo,porqueaexpressãoprocessodeconstituição,aplica-
daaoespal':odasteoriaslingüísticasnocontextoatualmecausaoestranho
elcilodeumaantífraseirônica:daíaidéia,umpoucoprovocadora,deapre-
sentaralgumasobservaçõessobreastendênciasà desconstruçãodasteo-
rias 1/0 campolingüístico.
O procedimentoconsisteemtentar(emtornodealgumasreferências:
(Saussure/anos20/anos50/o período1960-1975/o início dosanos80)
aproximaçõesentrepontosdehistóriaepistemológicadadisciplinalingüís-
tica,ealgunstraçosdoprocessohistóricodeconjuntonoqualestahistória
seinscreve:a idéiaéa dequeestainscriçãopodecontribuirparaexplicar
asmudançasde afinidadeepistemológicada Lingüística,as transforma-
çõesqueafetaramsuarededealiançasteóricas,nocampodasdisciplinas
"exatas"e "humanas"e "sociais",atéasituaçãoatual.
1."E Saussureficousozinhocomseusproblemas..." (Benveniste)
O quetemosaquinadamaiséqueumlevantamentobastanteesquemático
de alguns pontos sensíveis retirados da história epistemológicada
Lingüístical•
1.1Ao finaldeumaconferênciapronunciadaemGenebranodia22de
fevereiro de 1963,em comemoraçãoao cinqüentenáriode mortede
FcrdinanddeSaussure,Émile Benvenisteevocoupudicamenteaobserva-
çãonostálgicadeMeillet (Saussureemvidanãoteria"cumpridotodoo seu
destino")econcluiu:
"Abarcandocomo olharessemeioséculojá decorrido,podemosdizer
queSaussurecertamentecumpriuseudestino.Alémdesuavidaterrestre,
.\'Uasidéias irradiammuitomais longedo quepoderia ter imaginado,e
estedestinopóstumotornou-se umasegundavida, que se confunde
doravantecoma nossa"(1966:45).
A frasedeBenvenisteé umaagulhadano corpoacadêmicodaciência
lingilísticadosanos80;vinteanosdepois,elatocaemqualquerlingüista-
pois "não há lingüistaatualmenteque não lhe devaalgo" (Benveniste,
1966:32)- a feridaaparentementeinseflsível:o pontoinauguralda Lin-
8
güísticaenquantodisciplinaautônoma.
"No quediz respeitoà língua,(Saussure)existemcertaspropriedades
quenãosãoencontradasemqualquerlugar.Como quequerquesecom-
pare,a línguaaparecesemprecomoalgodiferente.Mas noqueelaédife-
rente?Considerandoestaatividade,a linguagem,emquetantosfatores
sãoassociados,biológicos,físicosepsíquicos,individuaisesociais,histó-
ricos,estéticos,pragmáticos,elesepergunta:ondeestáo próprioda lín-
gua?" (Benveniste,1966:33).
Atravésdestaquestão,Saussurepôs-seapensarcontraseutempo,rom-
pendocomumasériedeinterrogaçõespré-lingüísticassobrea origemda
linguagemesuasdeterminaçõesbiológicas,lógicas,sócio-históricasoufi-
losóficas(cf. osváriosprojetosdegramáticasuniversais,osdebatessobre
aunidadeorigináriadaslínguasesuadivisão,osempreendimentosdagra-
máticacomparadae asquerelassobrea relaçãoentrea línguae "a vida"
dosindivíduose dospovos).
Ora,o quemostrao estadoatualdaLingüísticaéqueo pontoinaugural
permaneceevanescente,equearupturaporelesupostanuncaéefetuada:
contraa proclamaçãotriunfantede Benveniste,queafirmavaquea Lin-
güísticaeradoravanteconstituídaemsuaidentificaçãoteóricacomseufe-
liz fundadorequedeveapenasreconhecereexplorarseudomíniopróprio
(oprópriodalíngua,seurealnosentidodadoporI.C. Milner aestetermo),
observa-sequeo destinodaLingüísticasaussureananãosecumpriu(nova-
ment~"umdestinofunesto"?)2
O efeito-Saussurenãoconstitui,emhipótesealguma,umpontodenão-
retorno:aprovaéo pequenonúmerodelingüistasparaquemo empreendi-
mentosaussureanorepresentahojealgomaisqueumaesperançarenegada,
umprojetonãorealizado,ouatéumamorteóricotransformadoemódio.A
maior parte das forças da Lingüística pensanestemomento"contra
Saussure",assemelhadaà legislaçãodeumdiretor-de-escola-atrás-de-sua
escrivaninha),edebandaparaasociologia,a lógica,aestética,apragmáti-
caoua psicologia...
Com efeito,o evento/adventodaciêncialingüística(que,comoqual-
quergrandeevento,chegava"empezinhosdepomba"(Nietzsche,citado
porBenveniste(1966:45))nãoparou,desdeaorigem,desenegaratravés
deumaalternânciadediásporasreaisedereunificaçõesenganadoras,re-
metendo,talvez,nopensamentodo Genebrino,à tendênciainternadeseu
9
auto-encobrimento.3
1.2A primeiradiásporaaparecenosanos20:aLingüísticasaussureana
vaivagardocírculodeMoscou(ondeéintroduzidadesde1915 porlakobson
e Karcevski)atéo círculodePraga,depoisvaiparaVienae Copenhague.
Nestepercurso,seproduzumaespéciededifraçãoepistemológicaquedis-
tribui,deumlugaraooutro,diferentesinterpretaçõessociologistas,logicistas
ou psicologistasdas intuiçõessaussureanas:em Moscou,os inícios do
fonualismoestrutural,mastambémo iníciode umasociologiadalingua-
gemdeinspiraçãoplekhanoviana;emPraga,a fundaçãoda[onologiae o
desenvolvimentodeinvestigaçõesabertasàescritaliterária,mastambémo
contatocomopsicologismodasteoriasdaGestalt;emCopenhague,enfim,
o projetoexplícitodeconstruçãodeumalógicasemiótieadosigno.
1.3Os anos50 dãoa aparênciade umareunifieaç~ío,naquala teoria
saussureanateriafinalmenteencontradoseucaminho:a"segundavida"de
SaussurepareceseconfundircomadaLingüísticaenquantodisciplinaaci-
ma de qualquer suspeita: do funcionalismo de Martinct às tcorias
behavioristasdacomunicação,o pensamentodeSaussureseestendeatéo
estruturalismodistribucionaldeBloomficld:
"Talvezsejaútil situarnestepontodevistaumadasescolasestrutura-
listasqueeraa maiscaracterísticanacionalmente,ouseja,11 escolaameri-
canadeBloomfield.PoucossabemqucBloomfieldhaviaescritonoCours
de LinguistiqueGénéraleumaresenhaelogiosu,na qual, enallecendo
Saussurepela distinçãoentrelallguecparo/e, eleooncluÍa:"hchasgiven
usthetheoreticalbasisfor ascience01'hum<lIlspeech"(ModernI,anguage
loumal, 1924:8).Por maisquea LingÜíslicaamericanatenhasetornado
diferente,nãodeixadeterumaligaçãocomSaussure"(Benvenisle,J 966:43).
Efetivamente,deBloomfieldatéHarris,edcsteatéosprimeirostraba-
lhosdeChomsky,aherançadoestruturalismosaussureanopareciasediri-
gir parasuasmelhorescondiçõesderealização,atravésdaespetacularre-
tomada,no nível sintático,dos fundamentosteóricosqueSaussurehavia
formuladonoplanofonológicoe morfológico;o momento"galileano"do
cortesaussureano(cf.Haroche,Henry,Pêcheux,1971)pareciadesembo-car (sob a formade umatomadade construçãoformal da sintaxe)na
reunificaçãomatemática"newtoniana",.reunificaçãodianteda qual o
behaviorismofuncionalistapendiaprogressivamenteparaumirremediável
10
desequilíbrio.
1.4Ora,estaunidadeacadêmicadalingÜística pós-saussureanaia no
vamenteesfacelar-senoinício dosanos60,sobo efeitodedoisproccssos
aprioriindependentes,masquesedesenvolviamsimultaneamente,durante
cercade quinzeanos:
_ o desenvolvimentoda hegemoniateóricada GramáticaGeralivo-
Transformacional(GGT), diantedasposiçõesinstituciolluisadquiridas110
períodoanteriorpelasdiferentestendênciasfuncionalistas(protcgidas011
nãopelaetiquetadoestruturalismolingüístico,elascontinuarama"collser-
vaI'o território",tantonosEUA quantonaEuropa);
_ o aparecimento na França de uma nova corrente filosófica,
epistemológicae politicamentebastanteheterogênea,masquecOllslituiu
seuespaçopelareferênciaatrêsnomesfundadorese à (re-)Ieituradesuas
obras:Marx, Freude...Saussure.
A propriadesignaçãodestanovacorrentepelonomedeestruturalis/l/o
manifestaaposição-chavequeo novomaterialismodaestruturaatribuíaii
Lingüísticaenquanto"ciência-piloto".
A (re-)leiturade Saussurefoi um dosprincipaismotoresdestemovi-
mento.A apostalingüísticanãoerapequena:tratava-sededestacara l,ill
güísticadofuncionalismosócio-psicologista,apoiando-senotadamenteIIOS
trabalhosdeJakobsonedeBenveniste.
Do pontodevistafilosóficoresulta,sobretudo,aproduçãodeUlllaiIl\ .
pressionantesériedefilosofemas(taiscomoasnoçõesdesignificanle.de
estruturacombinatória,de sistemasincrônicode diferençassemlermos
positivos,de distribuiçãode posições,funçõese lugares,de causalidade
estruturalpresentenasériedeseusefeitosetc.).OstrabalhosdeLévi-Strauss.
deLacan,deAlthusser,deFoucault,deDerrida...materializaramdedife-
rentesfonuasosefeitosdestenovodispositivofilosófico.
No própriocampodalinguagem,emsuarelaçãocomalíngua,o textol'
a fala,o efeitodestesedistribuiu,comdiversasconseqüências,entreuma
reflexão"semiológica"sobreo espaçoliterário(Barthes,Kristeva...) e lam-
bém.aconstituiçãodeposiçõesoriginaisno campoinstitucionaldaspes··
quisaslingüísticas:dentreestasposições,a de A. Culioli, se referindoà
lógicadeFrege(cf. emparticularCulioli, 1968)paraconfrontaras tradi-
çõeslingüísticasfrancesas(Tesniere,Guillaume,Benveniste...) COlllnovos
II
de~àfiosdaGGT, edesembocandonaelaboraçãodeumateoriaformalda
gramáticacapazde construir os fenômenosenunciativos(ao invés de
constatá-los,comentá-los indefinidamente);e a deJ.C. Milner, levandoa
umareflexãosingularmaispróximada GGT, sededicandoa discerniro
que,dointeriordestateoria,resisteàsuaderívaepistemológicainterna,ea
estaopacificaçãodo fato inconscienteda "lalangue"4soba construção
racionaldagramáticadeumalíngua.
Nestasériedeefeitos,inscreve-setambéma emergênciaproblemática
doqueseconvencionouchamara análisedodiscursodetipofrancês,ini-
cialmenteengajadapelostrabalhosdeJ. Dubois:estadisciplinatransversal
emformaçãofoi fortementemarcadapelaconjunturaepistemológicaqueacabadeserlembrada.
O paralelismodestesdoisacontecimentos(aGGT nosEUA enaEuro-
pa/o estruturalismofilosóficonaFrança)duroutodaa décadade60e até
meadosdaseguinte.Ele explicasemdúvida,porumlado,aresistênciados
lingüistasfrancesesemrelaçãoaochomskismo:por umentrecruzamento
derazõescontraditórias,a GGT nãoultrapassounaFrançao níveldevul-
garizaçãouniversitáriadesuperfície,duplicadaporummisteriosofuncio-
namentodeseitadeiniciadoS.5
As tentativasde inscrevero conceitode transformaçãono espaçodo
movimentoestruturalistacontinuaram,salvoexceções,noestágiodojogo
depalavrasfilosófico,eLacantriunfouao"apontar"queo famosoenunci-
ado"Colorlessgreenideassleepfuriously"6constituía,atravésdaaparên-
cia absurdadasuasemânticaliteral,umaboadefiniçãodosprocessosin-
conscientes!DiantedasubversãoteóricadaTrípliceAliançaEstruturalista
(Marx - Freud- Saussure),quecolocavaaantropologia,ahistória,apolíti-
ca,a escritaliteráriae a poesiaao ladoda LingüísticaedaPsicanálise,as
minuciosasargumentaçõesdaGGT nãotinhampeso...
Por suavez,asaplicaçõespsicolingüísticasaí embasadas(osexperi-
mentosquecontrolavamcomumcronômetroastransformaçõesdasárvo-
res sintáticasno cérebrodos "sujeitos"...) constituíamum exemplo_
caricaturalmentebehaviorísta- destasmetodologiasempiristascomasquais
o "materialismoestrutural"tinhadecididoromperemtodososcampos.
Enfim, os diferentesfuncionalismossócio-psicologistas,inscritosna
linhagemdas"sociologiasdalinguagem",tenhamconservadoposiçõesbas-
tantesólidasparafornecerargumentospolíticosparaumanti-chomskismo
12
"deesquerda",não hesitandoem associaro estruturalismo,Saussuree
Chomskynomesmoódioteórico.
1.5O início dosanos80 aparecemarcadopor umanovamudançano
regimedaspesquisaslingüísticas.No decorrerdosúltimosanos,diversos
signossemultiplicaram,manifestandosimultaneamenteo finaldomateria-
lismoestruturalà francesa(decompostoatravésdesuasúltimasrepercus-
sõescontraditórías)e o do chomskismotalcomosedesenvolveudurante
cercadequinzeanos(cf. Grüning,1981).
Scríamaisdoqueumacoincidência?Estasimultaneidadeentreo esgo-
tamentodo efeitoSaussure,pelo qual a Lingüísticaperdeuprogressiva-
menteseusaresdeciência-pilotonocampodasCiênciasHumanase Soci-
ais,e o bloqueiodaspesquisasteóricasconduzidaspelaGGT (essencial-
menteno domíniodasintaxe)justifica,dequalquermaneira,a formação,
entr!-los lingüistas, de um largo consenso anti-saussureanoe anti-
cholllskiatlo,repousandona idéia(simples,porémeficaz!)de quea Lin-
güísticaformal-eapesquisasobreosformalismossintáticosemparticular
- é falaciosae inútil,equeémaisdoqueurgenteseocupardeoutracoisa.
O fatodequeo próprioitineráriodaGGT tenhapodidocontribuir,na
basedeumcertoencobrimentointernodaespecificidadedosfatossintáti-
cos,paradeslocarcadavezmaiso pontodeaplicaçãodareflexãoemdire-
çãoà semânticae à lógica,depoisparaa pragmática,nãoconstituifacea
csteconsensosenãoumaprovasuplementar:a homenagemforçada,pelo
víciq formalista,àsvirtudesdeumpensamento"abertopara o exterior"!
Sem interrogarmaisa relaçãorealentreSaussuree Chomsky- esta
relaçãopermaneceumimpensadofundamentaldaLingüística- nãosepode
deixardesublinharqueelespartilharampelomenosamesmapreocupação
obsessivadedeterminar"ondeestáo própriodalíngua",aopassoquehoje
estaobsessãopareceincomodarmaisdeumlingüista.O amorpelalíngua
conduziraSaussurearecusar"osquadroseasnoçõesqueviaseremempre-
gadosemqualquerparteporquelhepareciamestranhosàpróprianatureza
dalíngua"(Benveniste1966:39).Nãoseria,aocontrário,umacertavergo-
nha(umaaversãoinconsciente?)noquediz respeitoaopróprio da língua
quelevahojevárioslingüistasa seprecipitaremparaos quadrose asno-
çõesquevêemserempregados?
Um novoconsensonãoestariasereconstituindonabasedeumaunida-
u
denegativa,desembocandoemumanovadiásporaintelectual,quetendea
mergulharaLingüísticaemquestõesdebiologia,delógicaedepsicologia
(individualousocial)?
ComoseascondiçõesdeautonomiaepistemológicadaLingÜísticaen-
quantociênciaseencontrassemmaisumavezhistoricamentecomprometi-
das...Comose,novamente,Saussureficassesozinhocomseusproblemas!
2. "Que estranhodestinoo dasidéias..." (novamenteBcnvenistc!).
É realmenteestranhaestasériederetomadasqueman:aa históriadas
idéiaslingüísticas,atravésdesuasrelaçõescomoutrasciências(constitu-
indoseumeioespecífico,sçu"exterior"epistemollÍgico)c tambématravés
dainserçãoemumprocessomaisvasto,uIlrapassandoo ccnÚriodospuros
fatoscientíficos.
Este"estranhodestino"contradizaomesmolelllpll a concepção,com
aparênciaracionalista,quesupõeumdesenvolvilllenlllaUI{)nolllo,retilíneo
e cumulativode umnúcleodeconhecimentosdo ohjclo língua,e a visão
cética (oportunistaoupragmática)quereduziriaa histÓriadaLingüística
aoconfrontodealgumasindividualidadesouà oscilaçãoarbitrÚriademo-
dasintelectuais:é precisosuporqueestadisciplinaeSlâ,deumamaneira
quelheéprópria,expostadeseuprópriointerioraosefeitoscomplexosdo
processoconjunturalhistóricoepolíticoqueconstituioespw,:onoqualsuahistóriaseproduz.
Mas, ao tentarpensara Lingüística"foradesi mesma"(ef.Gadet&
Pêcheux,1980),nahistória,nãocorremoso riscodeperderdevistao real
próprio aoqual,comoacabamosdeafirmar,elaestârelacionada'!
As posiçõesdefendidasemLa LangueIntrouvableconstituemurnaten-
tativadecontornarestaaporia,mostrandoquea questãodo "próprio"da
Lingüística(daespecificidadedeseureal)é indissociáveldaquestãodas
escolhasdeembasamentoatravésdasquaisseconstituie setransformaa
rede'desuasalianças.
Tentarhipóteses(do tipo dasque são apresentadasadiante)no que
concerneàs determinaçõeshistóricasquevêm"assinalar"as sucessivas
redesdeafinidadesdaLingÜística- desdeosanos50atéo períodoatualé,
então,também,(nãoadiantadissimular)seposicionaremrelaçãoaoreal
próprioentãoàLingüísticaenquantorealda língua.As trêspropostasse-
14
guinteslimitam-seaevocar,deumamaneiranecessariamenteultra-rápida
e alusiva, os feixes de indícios históricos, pontos sensíveis onde se
entrecruzamdiferentesníveis.
2.10 momentodeaparenteunificaçãodaLingüísticados anos50,na
formadominantedofuncionalismo,coincidecomaretomadadodesenvol-
vimentoindustrialdopós-guerra,queprecisadodesenvolvimentoedadi-
fusãode novosprocedimentostecnológicos,nasesferasda produção,da
formaçãoprofissional,daeducaçãoedasaúde.
O problemadas"comunicações"(quese tornaria,por deslocamento
metafórico,o temaprincipal'dasideologiasdo consenso)foi inicialmente
umquebra-cabeçaparaosengenheirosdatelefonia:ateoriadainformação
(ShannoneWeaver)seconstituinesteterreno,emqueo emissoreo recep-
torsãoinstrumentos,antesdeseremossujeitosfalantesqueosutilizam.
Simultaneamente,ostrabalhosdevonNeumannconfrontamosmode-
los matemáticos,neuropsicológicoseeconômicosdacomunicação(i.e.a
transmissãode informaçãoentrepares),e desembocam,em associação
comMorgenstern,na"teoriadosjogos" (quesequerumateoriageraldas
interações,concebidascomotrocadeinformações)(cf. Plon, 1976).A no-
çãodehomeostasiaemerge,destaforma,enquantocategoriainterdisciplinar,
visandodarconta,emtermosdecircuitosdeinformação,deregulamentos
comportamentaissuscetíveisdecaracterizartantoumamáquinaquantoum
animal ou um grupo social: a psicologia behaviorista(skinnerianae
pavlo,viana)adotao esquemada "caixapreta"comomodeloadequado~s
suasteoriasde aprendizagem(enquantoregulageminstrumentaldo jogo
das"entradas"edas"saídas"estruturandoo comportamento- eemparti-
cularo "comportamentoverbal");a cibernéticadesenvolvemecanismos
auto-reguláveis(ohomeostatodeAshby,operceptrondeSeymourPapefte
as tartarugaseletrônicasde Grey Walter...), simulandodiversostiposde
comportamentos"normais"ou "patológicos";a matemáticadesenvolve,
aomesmotempo,modelosestatísticoseprobabilistasdestinadosatrataras
"mensagens"enquantofluxo de informação,e teoriasformais(derivadas
dos trabalhosdeTuring),autorizandoa programaçãodecálculoslógicos
(osprimeiroscomputadoresà válvulanecessitavamde váriosandaresde
umprédioparaefetuaro queummicro-processadorcondensahojeemal-
gunsmm3!):nohorizonte,vislumbram-seosprojetosiniciaisdetradução
automática- queiamdesembocarnaestruturanão-markovianadasintaxe,
e asprimeirastentativasde simulaçãode inteligência(a noçãode inlelic
1."1
gênciaartificialapareceuem 1956),visandoà construçãodedispositivos
capazesderaciocínio.7
Nestatramadeaproximaçõesinterdisciplinaresquemarcouaconjuntu-
radosanos50,transparecia,noestadoembrionário,umdesejoutópicode
"dominaro mundo",associadoa estehumanismopolíticode boasinten-
çõesque,porexemplo,a UNESCO, desdesuacriaçãoem 1946,sepôsa
difundir:aidéiadeumaregulaçãopsico-bio-cibernéticadoscomportamentos
humanos,individuaisesociais,atravésdaergonomia,damedicinae _so-
bretudo- daeducaçãoaparececomoaúltimarepercussãodoesquemafun-
cionaldacomunicaçãolingüística,projetadaemummeio"científico"em
funçãodasafinidadeseletivasqueacabamdeserlembradas.Essedesejo
sistêmico-funcionalnão dispunhana épocade condições(biológicas,
neurofisiológicas,cibernéticase informáticas)necessáriasà suarealiza-
ção,maso projetoestavatraçado;quantoaosetordasdisciplinasfilosófi-
case literárias(dominadopelafenomenologiae pelohumanismoexisten-
da!), nãohaviaoutra"relação"comtalprojetoa nãosera não-relaçãoda
ignorânciadistante,aderrisãoestetizante,eareivindicaçãodosdireitosdo
"vivido", do "autêntico",edo "poético"...diantedaciência.
Apesardos esforçosexcepcionaisde lingüistascomoJakobsonpara
darcontadatarefa,e fazervalero estatutopoéticodalinguagemhumana,
levandoa argumentaçãoparao terrenodo funcionalismoH, a Lingüística
dosanos50continuoupresanesteimagináriointerdisciplinardacomuni-
caçãocomoregulaçãofuncional controlada:elao haviapreviamentede
formaindiretaautorizado,senãosuscitado,aodenominar-se"funcionalista".
2.2O períodode 1960-1975secaracteriza,pelomenosnoquediz res-
peito à Françae a umapartedo espaçodas culturaslatinas,por uma
reestruturaçãoglobaldarededeafinidadesdisciplinaresemtornodaLin-
güística.Foi lembradoacimaqueestarestruturação,queapareceudeuma
formabastantebrusca,haviaseorganizadoatravésdoeventoestruturalista
que marcou o fim da hegemoniafilosófica da fenomenologiae do
existencialismo(Husserl,Heidegger,Sartre...) eredistribuiucompletamente
asrelaçõesentreas"ciências"eas"letras":o aparecimentodaantropolo-
gia estrutural,a renovaçãoda epistemologiae da históriadasciências,a
organizaçãoanti-psicologistado campopsicanalítico,o aparecimentode
novasformasdeexperimentaçãonaescritaliterária,earetomadadateoria
marxistatraduziamsimultaneamenteestamudançadeconjuntura,abalan-
16
doosistemadasaliançasfeitasemtornodaLingÜfstil:lI,queIIplln'l'lill'Olllll
agarantiajá parcialmenterealizadadeumaCiênciaPormaldoSiglliticlIlIlI'
Conceitostaiscomoosdemetáforae metonfmia,declldcillsíglliliCIIIIIl',
efeitode sentidosetc.tornavam-sea baseteóricacomumdl: IOllllldllsdI'
construçãocrítica,abalandoasevidênciasliteráriasdalIulelltil:idlldcVIVI
daeascertezascientíficasdopositivismobio-psico-funcionlll.
"O fundamentalfoi o desafiointelectual,políticoc pcssoalqtll'SIIIglll
quandoas trêsteorias(psicanalítica,marxista,lingüística/anlropolúglCill
coincidiram,duranteumbreveperíodo"(Turkle I9H2:10):o deito StlhV1'1
sivodestedesafiointelectualtraziaapromessadeumarevohlçlllll'tllI\Ilal,
colocandoemcausaasevidênciasdaordemhumanaCOIllOordeml'sllilu
mentebio-social.Restituiralgodotrabalhoespecíficodaletra,dIl S11111111111,
dotraço,eracomeçaraabrirumabrechanoblococompactodaspcdugllgl
as,dastecnologias(industriaisebio-médicas),doshumanismoslIIomliWIIII'~;
oureligiosos:eraquestionaressebloco,estaarticulaçãodualda/lia/l/gll'o
como social, emqueo simbólicoé excluído,e o "sujeilo psicolÓgico",
surdoao significantequefundatal articulação(comoa glândulapilll'ul
cartesianaconcedeaohomema substânciapensantee a substância~~XII'1I
sa).Designarestabrechacomoefeitoirredutívelda ordemsimbÓlical'm
golpearo narcisismo(individuale coletivo)daconsciênciahumalla,qll\'
nãopáraderenegociarsua"articulação"entreo nadadainconsciclIl'iahi
ológicae a gestãocontratualdo eu (soi) (comosenhor/escravode Sl'IIS
gestos,palavrase pensamentos,em suarelaçãocom o outro-eu(I'alltll'
soi». '
Resumindo:arevoluçãoculturalestruturalistanãoeliminouasllspl'itu,
totalmenteexplícita,emrelaçãoaoregistrodopsicológico(eàsP,\';c%gi
as- docomportamento,doeu(moi),oudo"sujeitoepistêmico" '1111'pll'
tendemsera teoriadisso),Portanto,estasuspeitanãoé engendradapelo
ódiodahumanidadequefreqüentementeatribuiu-seaoestruluralislllo;dll
traduzo reconhecimentodeumfatoestruturalprópriodaordelllI1l1l11allll:o
dacastraçãosimbólica9,
No contextopolíticodaFrançadosanos60,o efeitosubversivo~'Stl'lltll
ralistaultrapassourapidamenteo quadrouniversitárioda"produçi1oldlli
ca" e o dasrevistasliteráriasespecializadas;a teoriae a IiteraluratOllla
vam-se lugares de intervençãoideológica, suscetfveisde ufclal, l'lIl
contrapartida,o conjuntodo camposócio-político:quarentaunosdl'pois
do engajamentodos formalistasrussosno movimentorcvolucionlÍl'iodl~
17
Outubro,a mesmaquestãoressurgia(comnovasformas)deumtrabalho
dosigniftcantenoregistropolítico,visandoaumaoutramaneiradeouvira
políticalO•
Sabemoscomo,no decorrerdadécadaposteriora maiode 1968,esta
repetiçãoda"cenaprimitiva"revolucionáriadosanos20vaiscdesmoro-
nar progressivamente:o fim do "Iacanismo",a "criscdo marxismo"e a
irrupçãoda"novafilosofia"marcaramanovareviravoltada ideologiali'an-
cesa,.Asevidênciasinduzidaspeloqucpoderíamoschamardca I'{,l-'o/uçÜo
culturalabortadadosanos60vêmafetaro dispositivointl'leetuuldasCi-
ênciasHumanaseSociais;o esgotamentodosefeitosdo llIovimentoestru-
turalistaacarrela,paraa disciplinaqucdeuseu1I01l1e11 t'sll'IIlllvillWlIlo,
ulIlareconfiguraçãodeseudispositivodeelllhasllllll'ultlSl'pisll'IIIOIÔ~ic(ls,
23 O paradoxodesteiníciodos1I110SHO éque(I slIfoClIlIIl'lItodoesllu
turalismopolílico fl'llncês'l(que,110Clltlllllo,l'lllllílllllllll'lodll/.ir efeitos,
sobretudo,110espaçolutilloumericlIIlD),coilll'idl'COIUIIIIIC1l'Sl'llIll'lIlodll
relcpçàodos trabalhosde I ,IICUII,/lurthes,Ikrridu t' POlll'uulI110ClIIUpO
anglo·saxÔllico,tllUtolia IlIgllllcrraqUllllto1111t\kUlIl/lhll l' IIOSI':sllldos
Ullidos, DesseIlIodo,alravésde UIIIeslrallhoefeitodt'deslol'lIllIl'1I10,110
exalo II/omelllo em ql/e LI AII1l5ricadescohre o eslfutufulislllOI!. u
illtelcclualidadcfra/ll:esll"vira IIIH~gilla",desenvolwlldoulIIfCSSClltiIllCII-
to maciçocom relaçãoàs teorias,dasquuisse suspeitade que ICllhlllll
pretendidofalaremnomedasmassas,produzindoumalongasériedcgcs-
tossimbólicosineficazeseperfonnativospolíticosinfelizes.Estcressenti-
mentoéumefeÍlodemassavindo"debaixo":umaespéciedecontra-golpe
ideológicoqueforçaà reflexão,equenãopodeserconfundidocomo alí-
vio negligentede muitosintelectuaisquereagemdescobrindosó depois
que"aTeoria"oshavia"intimidado"!
A grandeforçadestarevisãocríticaécolocar,impiedosamenteemques-
tãoas alturasteóricasno nível dasquaiso estruturalismopolítico tinha
pretendidoconstruirsuarelaçãocomo Estado(e, singularmente,com o
Partido-Estadodarevolução!),e obrigarosolharesa vero querealmente
acontece"embaixo",nosespaçosinfraéticosqueconstituemocomumdas
massas,lá onde,de modoparticularmenteaguçadoem períodode crise
econômica,circulaalinguagemdaurgência:"Ohomem,durantemilênios,
permaneceuo queeraparaAristóteles:umanimalvivoealémdissocapaz
deterumaexistênciapolftica;o homemmodernoé umanimalnapolftica
18
cujavidade servivo estáemquestão"(Foucault1976:188).
Em história,emsociologia,nosprópriosestudosliterários,aparececada
vezmaisexplicitamenteapreocupaçãoemsehabilitaraouvirestediscur-
so,namaioriadasvezessilencioso,daurgênciadesedominarosmecanis-
mosda sobrevivência:trata-se,paraalémda leiturados GrandesTextos
(daCiência,do Direito,do Estado)desecolocarà escutadascirculações
cotidianastomadasno comumdo sentido(cf., por exemplo,de Certeau,
1980).
Simultaneamente,o riscoquecomportaestemesmomovimentoébem
evidente:éo queconsisteemseguiralinhadamaiorinclinaçãoideológica
eemconceberesteregistrodo comumdosentidocomoumfatodenature-
za P.l';('o-!Jio/ágica, allteriora qualquerordemsimbólica,e independente
dcla,
I~sohrcl~stailldinaçf\oquc,emnomedasuperaçãodeFreud,deSaussure
c doestruturalismo,cnguia-sehojeumaparteda intelIigentsia"moderna"
liascil'llciushumallnsesociuisnomOlllelltoemque(arecepçãodosestru-
ItlntlisUIOS('SllíajudandolIisso,dentreoutrosfatores)lima- pequena- bre-
cha(,lIln~lIhrcsenohdlllviorismofuncionaldaideologiacientíficainterna-
dOllllllllCllledOlllilllllllc,Sob u press:lode umllespéciede populismoda
lII'gr.lIl'ia,o (lcsdO depl'dllgogiasedetccnologiuseficazesrenasce,contor-
nandoo 1'1110 cslnlluralda l'IlSlnl(~fiosimhÓlica,e soldandonovamenteo
hlocohio socialdo lInillllll humllnidade,
Com o J'cllpaJ'ecimcntotriunflllltedaglfindulapinealpsicológica,écla-
ro: "No infcio dos 1I110S60, Alain Resnais,com L'Année derniere à
Marie/lblld, articulavaUJll filme sobrcmclMorastais comoespelhosno
interiordeespelhose amanipulaçãosimbólico-matemáticadefósforos.O
título destefilme tornou-sesinÔnimode umaconcepçãodo homemque
enfatizavaacomplexidadedo simbólico,e nãoasimplicidadedo instinto.
Vinteanosmaistarde,emMOII o/lde d'Amérique,ametáforacentraléado
ratode laboratóriocomcomportamentopré-programado,condicionadoe
condicionável.Nestefilme, a "voz da autoridade"é a do biólogoHenri
Laborit.A versãoqueeleapresentadasócio-biologianãoapenasrejeitao
simbólicoemfavordeumacausalidademaisbiológica,masvaimuitomais
alémedesembocaemumateoriaanálogaàpsicologiadoeu(moi):comum
esforçoconsciente,podemosusarnossoconhecimentodosprocessosins-
tintivos a fim de dominá-Ios. O círculo está fechado, voltamos ao
19
voluntarismo.E esseéapenasumpequenoexemplodentreoutros"(Turkle
1982:11).
Dessemodo,porum"estranhodestinodasidéias",1980repetiria1950,
como1960repetiraI 920?Defato,aidéiadeumsimplesloopil/g histÓrico
reconduzindohojeaconfiguraçãoepistemológicadosanos50,éprofunda-
menteinadequada:aevoluçãotecnológicaacelerada,nasÚreasdaeletrôni-
ca,da informáticae da cibernética,sustentadapelaelllergênciade novas
"demandassociais"(darobóticaaosbancosdedados),os reeentesdesen-
volvimentosda pesquisabio-médica- partieulan\J(:nteda genétieae da
neurofisiologia,a reorientação"cognitivisla"da psicologiaexperimental
(apassagemprogressivadeSkinnera Piagct)e Sl:lIemhasamentonosde-
senvolvimentos"sofisticados"dalÓgicafll/'lIIal,contrihllemparaestrutural',
atravésdetrocasde"modelos"entreos eSJleci,llistasemcérebro,osteóri-
cosdossistemaseosconstrutoreslll: roh(ls,11111 (',I,/ItIÇO muitomaiscoeren-
tedo queem (1)50,e no qualos funlasnlllsdc domíniohio·socialpodem
desabrochar,ullrapassandoo nívelelllhrion;'Íriodosprojetosutópicos.
'l1l11toquea pressàopOJlulislada urgCncia.queaeahade serevocada,
fO/'lleeenessemOll\l:ntoumahaseideológicaeulllajustificutiva"democrá-
tica"paraos fanlasmasenlqueslilo".Seacreseelllanllosque,porseulado,
a pesquisafilosMiea fralleesaparece/"inallllenlelevarlisérioaexistência
doempirislllolÓgico,doqualelasempresemanteve1\ distâneia(deBergson
aSartre,etambémnuesquerdalllarxista,a ignorÜnciaeraargumento!)cal-
culamoso quantoasitUlll;i1olIludou:cmtomodosprogramasdepesquisas
interdisciplinares,em inlcligllnciaartificiale em lratalllentoda informa-
ção,umnovosistemadealiançasestlíformando-se,noqualumaeertacon-
cepçãodaLingüísticaéconvidadaalomarseulugar,eomaúnicacondição
deaceitartrataro simbólicocomoumsinalea linguagemeomouminstru-
mentológico.Ou seja,nofl!ndo,comacondiçuodeaLingüísticareconhe-
cera Psicologiacomoa novaciência-pilolOdo selor,epislemológicaepo-
liticamenteacimadequalquersuspeita.
Ora,umatalconcepçãodaLingüísticaexiste;elaatéganhoumuitafor-
çajuntoadiversoslingüistas,apartirdomomentoemqueaepistemologia
chomskianaexplicitouseuspressupostosiniciaissustentandoquea língua
é"umórgãomental"eque,conseqüentemente,aLingüísticaéumramoda
Psicologia (ver a respeitodisto J. C. Milner, "Linguistique,biolo~ie,
20
psychologie",emMilner 1982:302-317).
Dissoresultaparaapesquisalingüísticaumrecalquetendencialdaor-
demsimbólica(no sentidoem queo materialismoestruturalesforçou-se
paraconstruiro conceito),que nãoimpedeninguémdedormir!14 Aliás, é
precisoreconhecerque o eventoestruturalista,por diferentesrazõesjá
evocadas,teveapenaspoucosou nenhumefeitosobreo desenvolvimento
efetivoda Lingüística após 1960,e da GGT em particular.Apesar da
redistribuiçãodasaliançasteóricas,queprivilegiaareferênciaàmatemáti-
caemrelaçãoà física e à biologia,e contornandono própriointeriorda
matemáticao quepodemoschamarde"matemáticadeserviço"(asestatís-
ticasquantitativas,porexemplo)paraaproximar-sedasescritasalgébri-
cas,lógicas ou topológicas,as "lógicasdo significante"inspiradaspelo
materialismoestruturalnãotiverammuitainfluênciasobrea evoluçãoda
teoriasintáticagerativo-transformacional,derivandocadavezmaispara
urnainterpretaçãopsico-Iógicadasemântica,daenunciaçãoedapragmáti-
ca:comosesetratassesemprede"restabelecernaplenitudedeseusdirei-
tose deveresumsujeitodonodesi mesmoou,aomenos,responsávelporsuasescolhas.O universopodeentãodançarconformea músicadasesfe-
ras,entreasmãosdo gênerohumano,curadoda inqualificávelferidaque
podiaconstituirasuposiçãodequea língua,ouqualquercoisadela,esca-
pa-lhe"(Milner, 1982:126-7).
3. "A linguagemérealmenteo quehá demaisparadoxalno mundo,e
infeliZessãoosquenãoo vêem"(novamenteBenveniste!)
Falardeumatendênciaà"desconstruçãodasteoriaslingüísticas"supõe
aadoçãoumcertopontodevista,do tipodoqueaquisustentamos,
Se,pelocontrário,considerarmosqueo episódioestruturalistanãofez
muitomaisdoquedesviarapesquisalingÜísticadeseusobjetivos(particu-
larmentenaFrança),éagoraqueadisciplinaestáemplenafasedeexpan-
sãoe de construção:o incidenteestáencerrado,estamosnovamenteno
caminhocerto... mais um esforçoparaatingiro nível internacionaldo
positivismobio-psico-funcional!
Mas, mesmodestepontodevista,diversos"roteiros"epistemológicos
mostram-sepossíveis,segundoapressupostarelaçãoentreo biológicoe o
2']
social:aLingüísticapodeescolherentreo esfacelamentoeaintegração.
3.1 No limite, o roteiro do esfacelamentoimplica a dissociação
institucionalentreumaLingüísticadocérebroeumaLingüística~ocial.
As atuaisconexõesda.biologia- coma psicologiaexperimental(atra-
vésdaneurobiologia,daneurofisiologia,dapsicofisiologiaedaetologia,a
análisee a sínteseda voz, a psicolingüísticae as construçõesde lógica
natural),coma inteligênciaartificial(cibernética,robótica,estudodo "di-
álogohomem-máquina",análisedecenas)ecomasciênciasdotratamento
dainformação- tendemaformarumespaçoderecepçãoparaumaLingüís-
ticadocérebrosegundoaqualo sistemanervosohumano,munidodesuas
"entradas"(auditivase visuais)e desuas"saídas"(fonatóriase gestuais),
representao hardware- a basematerial- deumsistemamultifuncionalno
interiordo qualaslínguasnaturaisconstituiriamumaclassedeprogramas
entreoutras.Estaposiçãoextremista,quenãodeixadeterapoionaUniver-
sidadee noCNRS, acabarianormalmentepor incorporaraLingüísticado
cérebrono setordasCiênciasdaVida,deixandoparaosdiferentesramos
dasdescriçõeslingüísticasdecampo,dassociolingüísticasedassociologi-
asda linguagem,todaa liberdadedeseconsagraraoestudodosaspectos
dalinguagemdo"tecidosocial",noespaçodasciênciashumanasesociais.
3.2Mas asrepercussõesprevisíveisdessadissociação,colocandoaLin-
güísticasocialemumaposiçãodominadae marginal,tornamfinalmente
esteprimeiroroteiropoucoplausível:a idéiade umaintegraçãoda Lin-
güísticasocialcomumaLingüísticadocérebro,resultandoemumateoria
bio-socialde funçõesde comunicação,podeseduzirmaisemvirtudede
suaaparênciadecompromissoepistemológico;paratantobastasupor,como
toda a tradição funcionalista sugere, a presença maravilhosa, no
entrecrul.amentodo espaçosócio-políticoe do universodasmáquinasde
retro-açao,da"glândulapinealpsicológica",ou seja,dosujeitosenhorde
si mesllloeresponsávelporsuasescolhas,adaptadoaulIll11undobio-social
normal'j •
Os atuaisdesenvolvimentosdasteoriaspragmáticllsemdircl,"ãoa uma
sociologiadasinteraçilcs,qucSUPllcatosdc lingullgcnlindirl'los,cúkulos
de infcrênciae utili/,ll(,:ãodemáximasdellpll~L'Ía~:ííoc de!li,ÜO, ni\ose ins-
crcveulllIassiVlllllcntenestaleudência'?
"- Porquevocêvolloulão tardcontclllà noitc'!"lançouMagpicbrutal-
22
mente.
"_Fui aoboliche",respondeuScoURobertson,seumarido,indiferente
àprovocação.
Magpierecomeçou,pérfida:
,,_Penseiquevocêtivessehorrordeboliche...••
"- Não quandoestoucomcompanhia...••
"- Por acasoeunãosoucompanhia?"
Scoudefendeu-sepachorrentamente:
"- Não é a mesmacoisa."
,,_É claro,porquevocênãopodeencontrarmulheresemcasa!"
A brigadecasalteriasidodasmaisclássicasseestaamericanaciumen-
tanãotivessea fria fisionomiadeumterminaldecomputador,aindapor
cimamudo.
Magpieé umprogramadecomputadorquefaz o papeldeumaesposa
desagradávelquequerdominarseusupostomarido...16
Daanálisedastrocasverbaisimplicadasnoritualdarefeiçãonorestau-
rante,atéàtransformaçãodasfábulasdeLa Footaineemroteirosactanciais
(cf.Sabah,Rady,Soquier,Berthelin,1981),o projetodeumaincorporação
das"funçõesde comunicação"a umasemio-lógicainteracionaldeveser
totalmentelevadoasério:elejá estáscndorealizado.
3.3A conseqüênciacvidentedas duashipótesesque acabamde ser
evocadasé que- sejaláqualfor arelaçãoentrcaLingüísticado cérebroe
a Lingüística social - a própriaidéiade qucstionaro estatutoda ordem
simbólicaedacastraçãoCOIllOfatoestruturalpareceaíestritamenteincon-
gruente.Esla incongruênciallIarcao lugardeixadoemtalperspectivapara
ullIare("lcxÜoqucprctendefal.ervaler,noespaçodapesquisalingüística,o
jogo lIlullul'lIlcunodos significantes,a incidênciainconscientedo Witz
(chiste)edetudoo que,dalíngua,escapaaosujeitofalante:o lugardeum
entrc-utosengraçadodcntroda seriedadedaciência,umaespéciede do-
mingopoéticodo pensamento.
O registrodo literárioe do poéticoseria,assim.(novamente)o que
nuncadeixoude seraosolhosde alguns,apesarassim,dos trabalhosde
23
Jakobson,de Benveniste,de Barthes,de Kristevae dealgunsoutros:um
luxoaristocráticoparaos temposdepaz,quedevesaberapagar-sediante
dapressãológicadaurgência.
Que"o própriodalíngua"possa,assim,tornar-seumobjetoresidualda
pesquisalingüísticadáumsentidoprecisoànoçãodedesconstruçãoteóri-
ca talcomoelaécolocadaaqui.
Ninguémpensaem negarque existamdiversassériesde universos
discursivoslogicamenteestabilizados,inscritosnoespaçodamatemáticae
dasciênciasdanatureza,nodastecnologiasindustriaisebio-médicas,ena
esferasocialdosdispositivosdegestão-controleadministrativos.É claro
queaconstruçãohistóricadetaisuniversossó foi possívelapoiando-seem
certas propriedadesdas línguas naturais,autorizandooperaçõesde
esquematização,dedicotomização,decálculológicoctc..., epermitindoa
manipulaçãodemetalínguasaptasarepresentardemaneiranão-ambíguao
conjuntode"estadosdecoisa"possíveis,inerentesaomicrolnundosupos-
to por tal manipulação:emtaisuniversosdiscursivos,todaambigüidade
comporta,defato,umrisco"mortal",eéprecisamenteaexistênciadestes
múIiiplosespaçosdaurgência(acarretandoumaumeIHodepedagogiasde
todasasespécies),quegarantemaciçamenteoatualembasamcntodarelle-
xãolingüísticaemconceitoslógicos,semânticose pragm<Íticos,importa-
dosdestasériedeuniversos.
Mas - a nãoserqueseconsiderea funcionalidadehio-socialcomoum
fatouniversalmenterealizado- é necessárioreconhecerquequalquerlín-
guanaturalé também,e antesde maisnada,a condiçãodeexistênciade
universosdiscursivosnão-estabilizadoslogicamente,própriosao espaço
sócio-históricodosrituaisideológicos,dosdiscursosfilosóficos,dosenun-
ciadospolíticos,daexpressãoculturale estética.Nestasegundacategoria
deuniversosdiscursivos,a ambigüidadeeo equívococonstituemumfato
estruturalincontornável:ojogodasdiferenças,alterações,contradiçõesnão
podeaíserconcebidocomoo amolecimentodeumnúcleodurológico:"A
heterogeneidadeconstitutiva"dalínguanãoseconfundecomamanipula-
çãoostentatóriada"heterogeneidademostrada"(cf. sobreestaquestãoos
trabalhosde1.Authier,particularmenteAuthier-Revuz,1982).
Portanto:nãoabrirmãodessesdoisartigos(de"fé racional")enuncia-
24
porJ. C. Milner,quaissejam:
"- nadadapoesiaéestranhoà língua;
- nenhumalínguapodeserpensadacompletamente,se a ela nãose
integraa possibilidadedesuapoesia"(l.C. Milner, "RomanJakobson,ou
lebonheurparIa symétrie"1n:Milner, 1982:336)
impõeàpesquisalingüísticaaconstruçãodeprocedimentos(modosdein-
terrogaçãodedadose formasderaciocínio)capazesdeabordarexplicita-
menteo fato lingüísticodoequívococomofato estruturalimplicadopela
ordemsimbólica,ouseja,trabalharno pontoemqueacabaa consistência
darepresentaçãológicainscritanoespaçodos"mundosnormais".
O objetodaLingüística(o própriodalíngua)apareceassimatravessa-
do por umadivisãodiscursivaentredois espaços:o da manipulaçãode
significaçõesestabilizadas,normatizadasporumahigienepedagógicado
pensamento,eo dastransformaçõesdosentido,escapandoà todanormaa
priori, deumtrabalhodosentidosobreo sentido,tomadono lanceindcl'i-
nidodasinterpretaçõesI? •
A fronteiraentreosdoisespaçosé tãodifícildedeterminarqueexiste
todaumazona intermediáriade processosdiscursivos(concernenlesao
jurídico,aoadministrativoeàsconvençõesdavidacotidiana)queoscilam
emtornodestafronteira:eo queasseguraaeficáciadissoéprecisamentea
possibilidadequeelasoferecemdesejogarcomasaparênciaslógicas,para
melhor"fazerpassar"osdeslizamentosdosentido.
3.4Estecaráteroscilanteeparadoxaldoregistrodocomumdosentido,
emqueos dois espaçosse interpenetram,pareceterescapadocompleta-
menteà intuiçãofilosóficado movimentoestruturalista:designar,desdeo
início,"a sociedade","a ideologia",asformasdo"empirismoprático"etc.
comoo ponto-cegodeumapurareproduçãodosentido,eraaomesmotem-
po autorizara idéiadequeo momentodesuatransformaçãonojogo dos
deslocamentossimbólicoséummomentoexcepcional- o momentoherÓi-
co solitáriodo teóricoou do poético(Marx/MaIlarmé)comotrabalhoex-
traordináriodosignificarite.
Estaconcepçãoaristocrática,apropriando-se,defato, domonopÓliodo
segundoespaço(odasdiscursividadesnão-estabilizadaslogicamente),per-
manecepresa,mesmoatravésdesuaadesão"proletÜria",navelhacertew
elitistaquepretendequeasclassesdominadasnuncainventemnada,por-
1."1
· ,
queelasestãodemasiadamenteabsorvidaspelaslógicasdo cotidiano:no
limite,osproletários,asmassas,o povo...teriamumatalnecessidadevital
de universoslogicamenteestabilizadosqueosjogos daordemsimbólica
nãolhesdizemrespeito!
Nesteponto,a posiçãoteórico-poéticado movimentoestruturalistaé
insuportável.Por nãoterdiscernidonoqueo humoreo traçopoéticonão
sãoo domingodopensamento,maspertencemàscompetênciasfundamen-
taisdainteligênciapolíticae teórica,elatinha,deantemão,cedidodiante
do argumentopopulistada urgência,já quepartilhavaimplicitamenteo
pressupostoessencial.
Sabe-sequeasdiversascorrentesestruturalistasnegligenciaram,quase
quecomplet~mente,aspesquisasanglo-saxônicassobrea linguagemordi-
nária,osproblemaslevantadospelaanálisedasconversaçõese,emgeral,
dosacontecimentosdiscursivos"cotidianos",sobo pretextodequeosteó-
ricos queos abordaram(na linhagemdos trabalhosde J.L. Austin) não
pararamde manifestarumanotávelindiferençapor tudoo quetangeao
registrodo inconsciente.Mas nadaprovaquesetratassedeumaimplica-
çãonecessária:pesquisasrecentessãomesmobrilhantestestemunhasdo
contrário- porexemploo trabalhodeShoshanaFclman(1980)queaborda
seriamenteas relaçõesentrea teoriados atosde falae a psicanálise,de
FreudaLaean.As perspectivasabertasà reflexãolingüísticapelareleitura
pós-estruturalistade Wittgensteincaminhamno mesmosentido:o da
desconstruçãodasevidênciasdosujeitopsicológico,nocall1poemqueelas
estãomaisbeminstaladas.
Evocar,comofoi feitoaqui,o riscodeuma"des-construçãodasteorias
lingüísticas"nãovisa,portanto,fazerplanarumasuspeitageralsobreo
fatodequemuitoslingüistasconcentramhojeemdiaseusesforçosnaprag-
máticaenaenunciação(aliás,comquedireitoestasuspeita?),massomente
interrogaramodalidadedominantesobaqualdesenvolve-seestenovoin-
teresse:seemtaisassuntos,o lingüistacededeantemãotudoàpsicologia
dosujeitodonodesi eresponsávelporsuasescolhas,o querestadorealda
línguaenquantoele"fazirrupçãopelorealdeumafalta"(Milner,1982:337)'1
"O queé,então,esteobjeto,queSaussureerigesobreumatábularasa
detodasasnoçõesantesreconhecidas?Tocamosaquinoquehádeprimor-
dial nadoutrinasaussuriana...esteprincípioé quea linguagem,sobqual-
querpontode vistaestudado,é sempreumobjetoduplo..." (Benveniste,
26
1966:40).
Princípio simétrico de dualidade ou desdobramento equívoco
assimetrisante,a noçãodeduplooscilaentre"a felicidadepelasimetria"
paraaqualtendeuJakobson,eo dramadaaberturadecadapalavraquenão
paroude perturbarBenveniste.J.C. Milner caracterizaestaoscilaçãono
casodaenunciação:
"OndeBenvenistevia comoqueos estigmatasnalínguado quelheé
radicalmente"outro"- pronomespessoais,temposverbais,performativos-
Jakobsonconstruiuumateoriados"embrayeurs",emquetudoseconstitui
emquadrosimétrico,dedutívelde umapropriedadeprevisível.Paraisto,
bastaqueà subjetividadequeBenvenisteinstituicomoumaaberturanão
simetrizávelnalíngua,substitua-seo termomensagem,tomadocomoopo-
siçãoregularaotermocódigo(Milner, 1982:336).
É aí queMilner, aproximandoBenvenistede Saussure,comentaeste
medo,já evocado,quetomao genebrinodiantedesuasprópriasdescober-
tas:
"Ainda maissingularmente,Saussurepensouterperdidosuareputação
desábiopor teracreditadoreconheceranagramas.Jakobsonosencontrae
osadaptadetalmodoquenadanelesseleiaa nãoserasviaselegantesde
umarazãopoética"(Milner, 1982:336).
Entre a simetria(atravésda qual o outroaparececomo o reflexodo
mesmo,porumaregradeconversão)eo equívoco(noqualaidentidadedo
mesmose desregula,sealteraa partirdo interior),o paradoxoda língua
tocaduasvezesnaordemdaregra:pelojogo nasregras,e pelojogo sobre
asregras18•
Pensara línguacomosimplesjogo nasregrasapresentasempreriscos
decobriro espaçoprópriodoqueregulamentao realdalíngua,substituin-
do-oporregras(bio)-lógicasdeengendramentodasarborescênciassintáti-
cas, constrangidas pela semânticade "sistemas de conhecimento"
(discursivamenteestabilizadosem relaçõestemáticase em formaslógi-
cas),ou por regrasdejogos de linguagemtranslingüísticosa partirdas
quaiso registrosocialdopragmáticoe do enunciativoescapariaao"pró-
priodalíngua",desmascarando,dessemodo,o estatutofictício desteúlti-
mo.
Tentarpensara línguacomoespaçoderegrasintrinsecamentecapazes
27
dejogo, comojogo sobreas regras,ésupornalínguaumaordemderegra
quenãoénemlógica,nemsocial:é fazerahipótesedequeasintaxe,como
espaçoespecificamentelingüístico,nãoé nemumamáquinalógica(um
sistemaformalautônomo,exterioraolexical,aosemântico,aopragmático
eaoenunciativo),nemumaconstruçãofictíciadenaturezametalingüística
(redutívela efeitosdepoderinscritosemumdomínioque,supostamente,
governao discursoescrito).
Nestaperspectiva,asintaxeseria,aocontrário,oquetocademaisperto
no próprio da língua enquantoordemsimbólica, com a condiçãode
dissimetrizar o corpo de regrassintáticas,construindoaí os efeitos
discursivosque o atravessam,os jogos internosdestes"espelhamentos"
léxico-sintáticosatravésdosquaistodaconstruçãosintáticaécapazdedei-
xar aparecerumaoutra,no momentoemqueumapalavradeslizasobre
outrapalavra'9.
Mais do quecelebrarou lamentara volatilizaçãodo realda língua,
tratar-se-iaentãode pensá-Iacomoumcorpoatravessadopor falhas,ou
seja,submissoà irrupçãointernadafalta.
Tradução:Cekne M. CruzeClémenceJouet-Pastré
Notas
1 Uma apresentaçãomaisextensadessatentativade "acupuntura"no corpohistóricoda
Lingüísticaencontra-seemGadete Pêcheux(1981).
2Éo títulodeumaobradeF.Roustang,dedicadaaumareflexãosobreaconjunturalacaniana
e pós-Iacanianaem'psicanálise.
3 •••••Saussurepensouter perdidosua reputaçãode sábio por ter acreditadoreconhecer
anagramas",observaMilner (1982:336).
, No L' amourde Ia langue,J.C. Milner reelaboraestetermolacaniano,atravésde uma
reflexão sobre o statusda disciplina lingüística, tomada"anfibiologicamente"entre as
representaçõesinscritíveisna"ciênciauniversaldossimbolismospossíveis,emoutraspalavras,
a lógica"e a insistêncianalínguado "pontodepoesia"comoefeitodo inconsiente.La lallgue
illtrouvablese apóia na reflexãode Milner paratrabalhar,contraas idéiaspré-concebidas,
estefatoinauguraldaGGT: aprimeirateoriasintáticaasuporumacontinuidadedogramatical
e do a-gramatical,na medidaem que ela constróio gramaticalpor outravia que não em
relaçãoàquiloqueapresentaerro,vaii.açãooudesvioanormal.Na mesmaocasião,demonstrou-
28
sequeChornskye oschomskianosnãoparáramdeencobrirestadesclllll'l'rlllllll'd(·"'lIl1l'1ll1.('
quechegarama seusfins...
S Ao contrário,os efeitosdo estruturalismofrancêsnosEUA, naAlemanha,1IIIIIll!IalnlllllRII
ultrapassaram,durantetodoesteperíodo,o círculouniversitáriodosdeparlalllclllllh.11'1111111'1',
e de filosofia, e o de algunsgrupospolíticos de esquerda,prevenidos· alb:llmllsVell', ,Ir
maneiraextremamenteprecisa- da existênciadasteorias"parisÍl:nses".1'111'I'lIlOI'S1IIl,'.IlII111·
evidentes,a "recepção"foi muitomaioremaispolíticaempaísescomoa IlÚliae lia A1111'1"'li
Latina.
•Sabe-sequeesteexemplocanônicodaGGT foi declarado"agramatical"a partirtia I"'" 111
propostaemAspects,enquantoem SyntacticStructures,Chomskysemosll'Oonlais1"11111'1111'
ef. sobreesteaspectoGadete Pêcheux(1981:168-9).
7 Em particularNewell e Simon,nademonstraçãoautomáticade teoremasIIIaIClIllílil'U'.
8 O ideal de Roman Jakobson foi o de integraro lodo da Lingüística (se 11:11111111111111
Lingüística).J.C. Milner ("A Roman Jakobson,ou le bonheurpar Ia symétrie"in: MillI'"
(1982:329-327»mostraquenestedesejodaEnciclopédia"trata-sede algodiferenleti•.III1I1l
vontadede planejamento- mesmose,sob o pesodastecnologiaspróximas,Jakllllslln p(\tI•..
longeda Europa,parecerquecediaa isso" (p.335).
9 Enquantoa psicanálisequestionaa noçãodeumeuvoluntaristae unitárill,slIa11i,01(111111111
adeumaidéiasubversivaengajadaemumalutacontraa normalização.E a tellslIlI•.1110•.1111111
concepçãodoeu"centrada"e outra"descentrada"estevequasesemprenoceme.11111111ai1111(I
conflitoentreLacane os psicólogosdo euconduziuestalutaa seupontode illullllk ••, ~lId"
Lacan mobilizou em duasoutrasconcepçõesdo pensamento,inependcnlcsd" )lsinlllllll",'.
mas,comoela, ligadasa umanoçãodescentradadoeu;refiro-me,é claro,noCSIIIIIII,,,li',IIIOr
aomarxismo"(Turkle, 1982:9).
10 Nas primeiraspáginasdeLer o Capital,L. Althussertocavaexplicitamcntc'11'.,1"'I"I'!.ll1o
política,nos seguintestermos:"A partirde Freud,começamosa suspeitardo lI"C CMIII",. "
portantodoquefalar(ecalar-se)querdizer;queeste"quer-dizer"do falaredOI:SCII'",cI,'"n,IIIl'.
sob a inocênciada palavrae da escuta,a profundidadeassinalávelde 1111I.111)11••III1Hlo.o
"quer-dizer"dodiscursodoinconsciente- esteduplofundosobreoquala l.iIlV.lIfs1ic:a'"0dl'lll".
nosmecanismosda linguagem,pensaos efeitose ascondiçõesformais"((1.14I~)
" O termo"estruturalismopolítico" designaaqui,especialmente,a retolllatlllllllllllSM'1illll"
na teoria marxista,mas não pretendelocalizar ao mesmotempoo polfl;m; o III0VIIIIl'1I10
estruturalista,comoumtodo,contribuiuparao alargamentodo polltico: se"Indo t' pollll•.••...
as questõesexplicitamelltepolíticas (particularmenteas que se forlllulullI no I'NllIl~O.1"••
estratégiasdeconquistaou demanutençãode Estado)devemcederuosprivil~IlION
(2 Vinte anospassaram-seentreo fenômenoe sua"recepção"IIOSEstil(losUnidos' 1I'IIIpO
paraqueafontedofenômenoparedeseagitar,paratomar-seumobjetointdcl'lnnlUlIINllnllvd'/
Estejá tinhasidoo casoda fenomenologiahusserlianae do exbtcnciulislllO,"n',relllllo,,''li,"
E~~ a partirdosanos60.
Haveriaespaçoparaelucidarasquestõescomplexasentreoredllciollislnodelltistll(1111111I1110
o serhumanQcomoo animalmaiscomplexo),asideologiasdo cotidiullopnítlw,' lI" .IIVI'I"II',
raízeshistóricasdo populismo,cujaemergênciaatualconstituiullltl'unfo )lollliUl '"111"1
I'Sobre a existênciado simbólicocomolocal deumapanilhll cntreentll~IlI.inlltll.lkll t' 11
Psicologia,vertambémGadet,Haroche,Henrye Pêcheux(no prelo).
15Paralocalizar-seentreasmáquinaseletrônicase os mecanismosSOdllis,pOlll'".' "1'1111"1'
recorrerà normacomportamentalcomo critériodelieional:elU um UniVI'INOIll) 111hnltt~lllI"
que não correspondemmais à definição clássica do objeto (já que "lululII" I' ,,111111111111
JW
"emoções"),as criançassãoobrigadasa traçarnovasfronteirasparadefinir suaidentidade:
"as pessoas,são os que vão ao restaurantee têmumafamília" acaboupor responderuma
meninaamericanaem umarecenteenquetesociológicado MIT.
16 Retiradode"L' intelligenceartiticielleestdéjànée",rubrica"Sciences"do nO2-8 Abril
de 1982da revistaI'Express,p.1OI.
"Esta divisãorepercutenonfveldavontadepolftica;noprimeiroespaço,odesenvolvimento
dasnovastecnologias(informática,engenhariabio-médica,telecomunicações)constituium
dosmaiorestrunfosdaestratégiaeconômicagovernamentalparasairdacrise:comreservasa
um controle dos efeitos neotaylorianosdesta"revolução tecnológica",os objetivos são
politicamenteclarosesocialmentepoucocontestáveis.Mas,comreferênciaaosegundoespaço,
emergetambém,face ao "impcrialismo financeiroe cultural" das grandesindústriasda
comunicação,a vontadcpolíticade umarcsistênciaà uniformizaçãodos modosde vida,das
formasdc pensamentoe deexpressão(cf. recentementea declaraçãodo ministroJ. Lang da
UNESCO e,em umoutroplano,a decisãodecriarumCol/egell/Iemaliol/aldePhilosophie).
Em cada um destesdois espaços,a vontadepolítica temexcelentesrazões;masnão se
tratamdemundosst:parados,comomostra,porext:mplo,a questãodotratamentodos"dados
texlUais",constitnindoumdoscasos-limitesemqueaLingüfsticaencontra-seimplicada.Seo
inevitávelcontatoentreos dois espaçosdeveriaunir-sepor uma"transferênciatecnológica"
dosconceitos,softwares,metalinguaslógicase procedimentosdo primeiroespaçoemdireção
ao segundo,que lugarrestàriaà incôntornávelambigüidadedaslfnguasnaturais,aoslimites
de transparênciade todopensamento,ao surgimentodo sentidoCOlllO eventoimprevisívele
não-reprodutfvel?
Retiraro desafiosupõenãocederao "próprioda língua" - dando-se,senecessário,meios
de confrontar-secom as tecnologiasoriundasdo primeiroespaço,paratrabalhara fim de
deslocá-Ias,paraarriscar,tambémnestecampo,novasviasqueresistamà inclinaçãonatural
. datransferênciateenológieadominante.Limitar-me-eiaevocaro casoqueconheçoumpouco
melhor:o da construçãode algoritmosinformatizudosno campoda análisedo discurso.
Certamentehaveriamuitosoutrosexemplos.
18 RetomoaquiasformulaçõesdeF. Gadet,inscritasem umareflexãosobreu línguacomo
espaçoderegrasatravessadoporfalhas.Cf., porexemplo,"enganara língua"(Gadet,1981:117-
126),em queela propõeconcebera regracomo"comportandoem seupróprioprincípioum
espaçodejogo: no sentidode umjogo de criançaou de sociedade,mastambém,talvez,do
jogo deum músculoou dojogo deummecanismo"(p.214).
19 A noçãode"espelhamento"léxico-sintáticofoi introduzidaemAnálisedo Discursopor
J.M. Marandin.Cf. "Linguistiqueet algorithmestextuels",comunicaçãofeitano Colloque
Internationald' InfoffilatiqueetSciencesHumaines,Liege, novembrode 1981.
BIBLIOGRAFIA:
ALTHUSSER, L. (1965)Lire Le Capital.Paris:Maspero,Traduçãobrasi-
leira:Ler O Capital.Rio deJaneiro,RJ: Zahar,1979/1980.
AUTHIER-REVUZ, J. (1982)"Hétérogénéitémontréeet hétérogénéité
constitutive:élémentspouruneapprochede I'autredansle discours"
Dans:DRLAV, RevuedeLinguistique26(pp.91-151).
30
BENVENISTE, E. (1966) "Saussure apres un demi-siec1e".Dans:
BENVENISTE, E. Problemes de Linguistique Générale. Paris:
Gallimard.Traduçãobrasileira:"Saussureapósmeio século"In: Pro-
blemas de Lingüística Geral 1. Campinas, SP: Pontes/Editora da
UNICAMP, 1991,pp.34-49.
CERTEAU, M. de.(1980)L'inventionduquotidien:UGE (=10/18.1363).
Traduçãobrasileira:A invençãodocotidiano:arlesdefazer.
Petrópolis,RJ: Vozes,1996.
CULIOLI, A. (1968)"La formalisationenlinguistique".Cahierspour
l'analyse9 (pp.l06-117).
fELMAN, S. (1980)Le scandaleducorpsparlanl,Don Juan avecAustin
ouIa séduclionendeuxlangues.Paris:Seuil.
FOUCAULT, M. (1976)La volontédesavoir.Paris:Gallimard.
GADET, F. (1981)"TricherIa langue"Dans:Matérialitésdiscursives.éd.
parCONEIN, B. etaI..LiJle: PUL, pp. 117-126.
GADET, F., HAROCHE, CL., HENRY, P., PÊCHEUX, M. "Note SUl' Ia
questiondulangageetdusymbolismecnpsychologie".(àparaí'lredans:
FundamentaScientiae).
GADET, F.& PÊCHEUX, M. (1981)La langucintrouvable.Paris:Maspero.
TraduçãobrasileiradeMARIANI, B., noprelo.
GADET, F. &PÊCHEUX, M. "La IinguistiquehorsJ'elle-même;I'hisloire
absolutement",L'hisloiredesscienceshumaines,pourquoiecomment?
Nanterre,1980(Ronéo,1981)
GRUNIG, B.-N. (1981) "La c1ôturcchomskyenne".Paris: Centre de
recherchesdeI'universilédeParisVIIl. =DRLAY. RevuedeIinguislique
24.
HAROCHE, Cl., HENRY, P.,PÊCHEUX, M. (1971)"La sémantiqueell~
coupuresaussurienne:langue,langage,discours.Langages24,pp.93-
106.
MARANDIN, J.M. "Linguislique et algorilhmeslextuels". (CoIloque
Internationald' InformatiqueetSciencesHumaines,Liêge, Novembre
1981.À paraí'tre),
MILNER,J .C. (1976)L'amourde Ia langue.Paris,Seuil.Traduçãobrasi-
leira:O amordalíngua.PortoAlegre,RS: ArtesMédicas,1987-,(1982)
Ordresetraisonsdelangue.Paris,Seuil.
PLON, M. (1976)La théoriede jeux: une politique imaginaire.Paris:
Maspero.
31
SABAH, G., RADY, M. SOQUlER, L., BERTHELIN, 1.B. (1981),"Un
systememodulairedecomprehénsiond'histoiresracontéesenfrançais".
T.A. Informations22,2, pp.3-33.
TURKLE, S. (1982)La Francefreudienne.Paris:Grasset.
32
LA ACADEMIA ESPANOLA Y LA HISTORIA
DE LA GRAMÁTICA
Carlos Rafael Luis
CONICET e InstitutodeLingüística(FacuItaddeFilosofía y Letras,UBA)
Resumo:A Real AcademiaEspanolapublicousuas Gramáticasentre
1771e 1931,como intuitodemanterumanormauniformeemtodosos
.territóriosOfldeo espanholéfalado. Essestextostiveraminfluênciano
ensinoda língua,apesardoaparecimentodeoutrasgramáticasdemai-
or qualidadena Espanhae na Américaduranteo séculoX1X.O texto
acadêmico- publicadocompequenasalteraçõesao longo destes160
anos- recebe/lcríticasdiversas,relacionadasprincipalmenteà suade-
pendênciadagramtÍticalatina.Na segundametadedesteséculo,apare-
ceramnovosmateriaiscomalgumasnovidadesquantoà consideração
deoutrasvariedadesdo castelhano,coincidentescomumaconcepção
diversada autoriaeumaatitudemaisatentaàsnovascontribuiçõesda
lingüístiClJ.
Abstract:111eRealAcademiaEspanolapublisheditsGrammarsbetween
1771and 11)31,withtheaimofkeepinga uniformliguisticnormin aU
territorie.vwltereSpanisltisspoken.Thosegrammarsstronglyinfluenced
the teaclting(~lSpanish ill spite of other bettergrammars' having
appeare'dil/ Spail/alldAmericaduringtheX1Xcentury.TheAcademic
textwhichlUIS beenpubli'~'hedwithslightchangesin these160yearshas
comeill j(Jr variouscriticisms,mainlyconcerningits dependenceupon
Latin gral/ll/lU1:111 thesecolldhalI of thiscentury,theAcademiaissued
newmateriaIswhichpresentedcertaininnovationswithregardtotaking
into accountothervarietiesof Castilianwhichwerecoincidentwitha
newconceptianaf authorshipanda moreattentiveauitudetowardsthe
newcOlltributionsof Linguistics.
LA REAL AcademiaEspanoladeIaLengua(RAE) fuecreadaen1713.
Ya en su actade fundaciónse declarabael propósito normativo:sus
miembroshandeser"capacesdeespeculary discernirlos erroresconque
sehalIaviciadoel idiomaespanol",La primeraobrarealizadaporelcuerpo
33

Continue navegando