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Notas Eletromagnetismo – Parte II R. Bufalo ∗ Departamento de Fı´sica, Universidade Federal de Lavras, Caixa Postal 3037, 37200-000 Lavras, MG, Brazil 13 de junho de 2017 Resumo Nesta nota de aula encontra-se um resumo dos to´picos discutidos na aula do curso de Fı´sica C, referente a` segunda avaliac¸a˜o. ∗E-mail: rodrigo.bufalo@dfi.ufla.br 1 Suma´rio I Potencial ele´trico 4 1 Potencial ele´trico 4 1.1 Energia potencial eletrosta´tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.1.1 Potencial e campos ele´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.2 Superfı´cies equipotenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.3 Potencial devido a cargas puntiformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 1.4 Ca´lculo do campo ele´trico a partir do potencial . . . . . . . . . . . . . . 15 1.5 Ca´lculo do potencial para distribuic¸o˜es contı´nuas de carga . . . . . . . . 17 1.5.1 Potencial no eixo de um anel carregado . . . . . . . . . . . . . . 17 1.5.2 Potencial de uma linha de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 1.5.3 Potencial e campo ele´trico de um disco carregado . . . . . . . . . 19 1.5.4 Potencial devido a um plano infinito de cargas . . . . . . . . . . . 21 1.5.5 Potencial de uma casca esfe´rica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.5.6 Potencial de uma esfera carregada uniformemente . . . . . . . . 24 1.5.7 Potencial de uma casca esfe´rica oca . . . . . . . . . . . . . . . . 25 1.6 Energia potencial eletrosta´tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.6.1 Ruptura diele´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 II Capacitaˆncia 32 2 Capacitores 33 2.1 Capacitaˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 2.1.1 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.1.2 Capacitor de placas paralelas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.1.3 Capacitores cilı´ndricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 2.2 Armazenamento de energia ele´trica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 2.2.1 Energia do campo eletrosta´tico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.3 Capacitores, bateria e circuitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 2.3.1 Associac¸a˜o de capacitores em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.3.2 Associac¸a˜o de capacitores em se´rie . . . . . . . . . . . . . . . . 45 2 2.4 Diele´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 2.5 Visa˜o molecular de um diele´trico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 III Corrente ele´trica e circuitos 60 3 Corrente ele´trica e circuitos de corrente contı´nua 60 3.1 Corrente e o movimento de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.2 Densidade de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 3.3 Resisteˆncia e lei de Ohm . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 3.4 Energia e poteˆncia em circuitos ele´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 3.5 Trabalho, energia e Fem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 3.6 Combinac¸a˜o de resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 3.6.1 Resistores em se´rie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 3.6.2 Resistores em paralelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 3.7 Leis de Kirchhoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 3.7.1 Circuitos de malhas simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 3.7.2 Circuitos de mu´ltiplas malhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 3.8 Circuitos RC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 3.8.1 Descarregando um capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 3.8.2 Carregando um capacitor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 3.8.3 Conservac¸a˜o de energia durante a carga de um capacitor . . . . . 103 3 Parte I Potencial ele´trico 1 Potencial ele´trico Neste capı´tulo estabeleceremos a relac¸a˜o entre o campo ele´trico e o potencial ele´trico, e calcularemos o potencial ele´trico para algumas distribuic¸o˜es contı´nuas de carga. • Como o potencial ele´trico e´ um campo escalar, em muitas circunstaˆncias e´ mais fa´cil calcula´-lo do que o campo ele´trico (um vetor). Ademais, representa um pode- roso auxı´lio conceitual e computacional. Os conceitos de energia potencial ele´trica e potencial ele´trico sera˜o ferramentas essenciais na ana´lise de circuitos ele´tricos (capacitaˆncia e resisteˆncia), que sera´ desenvolvido nos capı´tulos a seguir. 1.1 Energia potencial eletrosta´tica Podemos introduzir o conceito de energia potencial eletrosta´tica da mesma forma que discutimos a energia potencial gravitacional, ao movimentarmos uma partı´cula massiva sob efeito de um campo gravitacional externo. Da mesma forma, podemos definir a diferenc¸a de energia potencial ele´trica de uma carga teste q0 quando ela se move de um ponto inicial i para um ponto final f num campo ele´trico • Desloquemos uma carga teste de um ponto para outro num campo ele´trico. A diferenc¸a de energia potencial ele´trica da carga teste entre esses pontos e´ o negativo do trabalho realizado pela forc¸a eletrosta´tica, atrave´s do campo ele´trico, sobre esta carga, durante seu movimento ∆U =U f −Ui =−Wi f (1.1) Como a forc¸a eletrosta´tica realiza trabalho sobre a carga, por meio do campo ele´trico, costuma-se dizer que o campo realiza trabalho sobre a carga. 4 A diferenc¸a de energia potencial ele´trica da carga teste entre dois pontos e´ indepen- dente da trajeto´ria seguida entre esses pontos. Isto e´, a forc¸a eletrosta´tica, assim como a gravitacional, e´ uma forc¸a conservativa. Definiremos o potencial ele´trico de tal forma que ele dependa apenas da carga fonte, e na˜o da carga teste q0; sendo assim uma caracterı´stica exclusiva do campo ele´trico em estudo. De fato, define-se o potencial ele´trico como a energia potencial por unidade de carga. Disto segue a definic¸a˜o de que a diferenc¸a de potencial entre dois pontos quaisquer (num campo ele´trico) e´ ∆V =V f −Vi = ∆Uq0 =− Wi f q0 (1.2) Agora, a partir do conhecimento do vetor campo ele´trico em todos os pontos ao longo da trajeto´ria ligando os pontos, podemos calcular a diferenc¸a de potencial entre dois pontos quaisquer num campo ele´trico. Para isto, determinamos primeiramente o diferencial de trabalho realizado pelo campo 5 sobre uma carga teste, quando ela sofre um deslocamento d~`: dW = ~F .d~`= q0~E.d~` (1.3) disto segue que a diferenc¸a de potencial pode ser escrita como dV = dU q0 =−dW q0 =−~E.d~` (1.4) e para um deslocamento finito entre dois pontos, a diferenc¸a de potencial e´ V f −Vi =− Wi f q0 =− ∫ f i ~E.d~` (1.5) A func¸a˜o V e´ denominada potencial ele´trico; ademais, ele e´ frequentemente referido como o potencial. • Assim como o campo ele´trico, o potencial V e´ uma func¸a˜o da posic¸a˜o. • Diferentemente do campo ele´trico, V e´ uma func¸a˜o escalar, enquanto ~E e´ uma func¸a˜o vetorial. 6 • Assim como a energia potencial U , apenas diferenc¸as no potencial V teˆm signifi- cado fı´sico. Somos livres para escolher o potencial como zero em qualquer ponto conveniente; es- colhemos enta˜o o potencial ele´trico e a energia potencial de uma carga teste como zero num ponto arbitrariamente distante (ra→ ∞), assim Va = Ua = 0. Sob esta condic¸a˜o, escrevemos V = U q0 =−W∞ f q0 (1.6) Como o potencial ele´trico e´ a energia potencial por unidade de carga, a unidade para o potencial e para a diferenc¸a de potencial no SI e´ o joule por coulomb, denominada volt 1V = 1J/C (1.7) A diferenc¸a de potencial entre dois pontos e´ comumente chamada de voltagem entre os dois pontos. Das equac¸o˜es acima, vemos que as dimenso˜es do potencial tambe´m sa˜o aquelas para oproduto do campo ele´trico pela distaˆncia. Portanto, a unidade do campo ele´trico e´ igual a um volt por metro 1N/C = 1J/m (1.8) Na fı´sica atoˆmica e nuclear, frequentemente temos partı´culas que teˆm cargas de magni- tude e, tais como ele´trons e pro´tons, movendo-se atrave´s de ddps de va´rios milhares ou milho˜es de volts. Como energia tem dimenso˜es de carga ele´trica multiplicada por poten- cial ele´trico, uma unidade de energia e´ definida como o produto da unidade fundamental de carga e e um volt. Esta unidade particularmente u´til e´ denominada ele´tron-volt (eV). Esta unidade e´ uma unidade conveniente para processos atoˆmicos e moleculares 1eV = 1,60×10−19C.V = 1,60×10−19J 1.1.1 Potencial e campos ele´tricos Se colocarmos uma carga positiva q0 em um campo ele´trico ~E e a soltarmos, ela sera´ acelerada na direc¸a˜o e sentido deste campo. Como a energia cine´tica da carga aumenta, sua energia potencial diminui. A carga, portanto, e´ acelerada em direc¸a˜o a` regia˜o onde sua energia potencial ele´trica e´ menor. 7 Ademais, a energia potencial U e´ relacionada ao potencial ele´trico V por U = q0V , assim para uma carga teste positiva, a regia˜o onde a carga tem menor energia potencial e´ tambe´m a regia˜o de menor potencial ele´trico. Resumindo, O campo ele´trico ~E aponta na direc¸a˜o e sentido no qual o potencial V diminui mais rapidamente. Exemplo: Vamos calcular a diferenc¸a de potencial de uma partı´cula teste positiva em movimento num campo ele´trico uniforme entre dois pontos i e f que esta˜o separados por uma distaˆncia d. a) Se o deslocamento da carga e´ paralela a` direc¸a˜o do campo temos que o desloca- mento diferencial d~` aponta no mesmo sentido do campo ele´trico ~E, logo V f −Vi =− ∫ f i ~E.d~`=− ∫ f i E (cos0)d`=− ∫ f i Ed` (1.9) 8 ademais, como o campo e´ uniforme, E e´ constante em todos os pontos da trajeto´ria, assim V f −Vi =−E ∫ f i d`=−Ed (1.10) Este sinal negativo mostra que o potencial no ponto f e´ menor que o potencial no ponto i. E isto e´ um resultado geral: o potencial sempre decresce ao longo de uma trajeto´ria que se estende na direc¸a˜o em que apontam as linhas do campo. b) Consideremos agora a carga segue a trajeto´ria ic f como mostra a figura. Qual e´ a ddp experimentada pela carga? Veja que em todos os pontos da linha ic o deslocamento diferencial d~` e´ perpendicular ao campo ele´trico ~E, enquanto na trajeto´ria c f temos que eles fazem um aˆngulo de 45o, desta forma V f −Vi =− ∫ f i ~E.d~`=− ∫ c i ~E.d~`− ∫ f c ~E.d~` (1.11) =− ∫ f i E (cos90o)d`− ∫ f i E (cos45o)d` (1.12) =− E√ 2 ∫ f i d`=− E√ 2 d′ (1.13) todavia sin45o = d d′ → d′ = d sin45o = √ 2d assim V f −Vi =− E√ 2 d′ =−Ed (1.14) Trata-se do mesmo resultado obtido no item a), como deve ser, pois como discutimos anteriormente a diferenc¸a de potencial entre dois pontos na˜o depende da trajeto´ria que os une. (forc¸a conservativa). 9 1.2 Superfı´cies equipotenciais O local geome´trico em que pontos possuem o mesmo potencial tem um nome especial, e e´ chamado de superfı´cie equipotencial. De maneira similar a`s linhas de campo, pode-se utilizar superfı´cies equipotenciais para representar o campo ele´trico numa certa regia˜o. Ademais, o campo ele´trico na˜o realiza nenhum trabalho sobre uma carga quando ela se move entre dois pontos sobre uma mesma superfı´cie equipotencial, como se conclui a partir de V f −Vi =−Wi fq0 . Por simetria, as superfı´cies equipotenciais para uma carga puntiforme ou uma distribuic¸a˜o de carga esfericamente sime´trica constituem uma famı´lia de esferas conceˆntricas. A partir do exemplo anterior, vimos que para trajeto´rias perpendiculares a`s linhas de campo ele´trico o potencial e´ zero (trajeto´ria ic), i.e. o trabalho realizado e´ nulo. E este e´ um resultado geral, pois superfı´cies equipotenciais sa˜o sempre perpendiculares a`s linhas de campo ele´trico. Assim, se o campo na˜o fosse perpendicular a uma superfı´cie equipotencial (trajeto´ria c f ), ele realizaria trabalho sobre a carga e assim esta na˜o seria de fato uma superfı´cie equipotencial. Desta forma, para assegurarmos um valor constante para o potencial e assim defi- nir uma superı´cie equipotencial, e´ necessa´rio que o campo ele´trico seja perpendicular a` superfı´cie. 10 1.3 Potencial devido a cargas puntiformes O potencial ele´trico em um ponto P a uma distaˆncia r de uma carga puntiforme q localizada na origem pode ser calculado a partir de VP−Vre f =− ∫ P re f ~E.d~` (1.15) Como discutimos anteriormente, escolhemos o ponto de refereˆncia tal que o potencial seja nulo, i.e. Vre f = 0. Ademais, o campo ele´trico devido a` carga puntiforme e´ ~E = kq r2 rˆ, assim VP−0 =− ∫ P re f ~E.d~`=− ∫ P re f kq r2 ( rˆ.d~` ) =− ∫ P re f kq r2 dr (1.16) sendo que dr = rˆ.d~` e´ a varic¸a˜o na distaˆncia r associada ao deslocamento d~` na direc¸a˜o rˆ. Temos enta˜o VP =−kq ∫ P re f 1 r2 dr = kq ( 1 rp − 1 rre f ) (1.17) Este e´ o potencial devido a uma carga puntiforme. Novamente, como temos a liberdade de escolher a locac¸a˜o do ponto de refereˆncia, podemos escolheˆ-lo de tal forma a termos uma forma alge´brica mais simples para o potencial; e isto e´ condizente com o fato do potencial tambe´m ser nulo, e um ponto que satisfaz estas condic¸o˜es e´ rre f →∞. Portanto, denotamos por potencial de Coulomb a seguinte expressa˜o V = kq r (1.18) a carga nesta expressa˜o pode ser positiva ou negativa, i.e. q = Q ou q =−Q. Podemos ainda escrever a expressa˜o para a energia potencial de uma carga puntiforme q′ localizada a uma distaˆncia r da carga q como U = q′V = kqq′ r (1.19) Exemplo: Energia potencial de um a´tomo de hidrogeˆnio a) Qual e´ o potencial ele´trico a uma distaˆncia r0 = 0,529×10−10m de um pro´ton? b) Qual e´ a energia potencial ele´trica de um ele´tron e de um pro´ton a esta separac¸a˜o? 11 Calculamos o potencial devido a` carga no pro´ton como V = kq r = ke r0 = ( 8,99×109Nm2/C2)(1,6×10−19C) 0,529×10−10m (1.20) = (8,99)(1,6) 0,529 Nm/C = 27,2Nm/C = 27,2V (1.21) enquanto a energia potencial segue para q′ =−e, assim U = q′V = (−e)(27,2V ) =−27,2eV Veja a discussa˜o no livro sobre energia de ionizac¸a˜o (energia necessa´ria para remover um ele´tron de um a´tomo)!! Tipler pa´ginas 76 e 77. Por fim, podemos determinar o potencial lı´quido criado por um grupo de cargas pun- tiformes num ponto qualquer com o auxı´lio do princı´pio da superposic¸a˜o. Encontramos enta˜o para n cargas temos que o potencial lı´quido num ponto P qualquer devido a essas cargas e´ V = n ∑ i=1 Vi = n ∑ i=1 kqi ri (1.22) aqui qi e´ o valor da i-e´sima carga e ri e´ a distaˆncia radial desta carga ao ponto em questa˜o. Veja que a soma acima e´ alge´brica e na˜o vetorial como no caso do ca´lculo do campo ele´trico. Esta e´ uma vantagem importante, do ponto de vista de ca´lculos a favor do po- tencial: e´ muito mais simples somar va´rias grandezas escalares do que va´rias grandezas vetoriais, cujas direc¸o˜es e sentidos devem ser considerados. Exemplo 1: Duas cargas puntiformes de +5,0nC esta˜o no eixo x, uma na origem e a outra em x = 8,0cm. Determine o potencial a) no ponto P1 = (4,0cm,0) e b) no ponto P2 = (0,6,0cm). a) Calculamos o potencial resultante no ponto P1 = (4,0cm,0) atrave´s de V = 2 ∑ i=1 Vi = kq1 r1 + kq2 r2 (1.23) 12 neste primeiro caso r1 = r2 = 0,04m = r (1.24) q1 = q2 =+5,0nC = q portanto V = kq r + kq r = 2 kq r = 2 ( 8,99×109Nm2/C2)(5,0×10−9C) 0,04m = 2247V = 2,2kV (1.25) Observe que neste ponto o campo ele´trico resultante e´ zero (no ponto me´dio entre as cargas), todavia o potencial na˜o e´. b) Ja´no ponto P2 = (0,6,0cm), temos que r2 = √ 82 +62cm = 10cm (1.26) 13 enta˜o V = kq r1 + kq r2 = ( 8,99×109Nm2/C2)(5,0×10−9C) 0,06m + ( 8,99×109Nm2/C2)(5,0×10−9C) 0,10m = 749V +450V = 1,2kV (1.27) Exemplo 2: Um dipolo ele´trico consiste de uma carga puntiforme positiva +q no eixo x em x =+`/2 e uma carga netativa −q tambe´m no eixo x no ponto x =−`/2. Determine o potencial no eixo x num ponto P = x > `/2 em termos do momento de dipolo ~p = q`iˆ. A configurac¸a˜o do sistema e´ O potencial resultante no ponto P = x e´ V = 2 ∑ i=1 Vi = kq1 r1 + kq2 r2 (1.28) sendo que r1 = x− `/2, r2 = x+ `/2 (1.29) q1 =−q2 = q portanto V = kq r1 − kq r2 = kq ( 1 x− `/2− 1 x+ `/2 ) = kq ( ` x2− `2/4 ) = kp x2− `2/4 (1.30) 14 Por fim, para pontos distantes, tal que x� `/2, encontramos V = kp x2− `2/4 = kp x2 ( 1− `24x2 ) ≈ kp x2 (1.31) Um dipolo tem uma carga total nula e portanto esperamos que a grandes distaˆncias, o potencial deve decrescer com o aumento da distaˆncia ao dipolo mais rapidamente que para uma configurac¸a˜o de cargas em a carga lı´quida e´ na˜o-nula, e isto de fato e´ verdade pois aqui temos um decre´scimo de 1/x2, enquanto para uma configurac¸a˜o com carga lı´quida na˜o-nula temos 1/x que decresce mais lentamente. 1.4 Ca´lculo do campo ele´trico a partir do potencial Ate´ agora usamos o conhecimento sobre o campo ele´trico para calcular o potencial ele´trico dV =−~E.d~` (1.32) Todavia, a situac¸a˜o pode ser vista de um ponto de vista oposto, e usarmos o conhecimento da func¸a˜o potencial para calcular o campo ele´trico. Por simplicidade podemos considerar inicialmente o caso unidimensional em que o potencial depende apenas de x; temos assim que d~`= dxiˆ (1.33) e encontramos dV =−~E.d~`=− ( ~E.iˆ ) dx =−Exdx enta˜o Ex =−dV (x)dx (1.34) Podemos agora considerar um caso geral em que o deslocamento pode ser escrito como d~`= dxiˆ+dy jˆ+dzkˆ (1.35) e calcular o campo ele´trico resultante. Todavia, a partir da discussa˜o anterior, podemos usar o fato de que um vetor que aponta na direc¸a˜o e sentido da variac¸a˜o ma´xima de uma 15 func¸a˜o escalar e que tem mo´dulo igual a` derivada desta func¸a˜o com relac¸a˜o a` distaˆncia naquela direc¸a˜o e´ denominado o gradiente da func¸a˜o. Portanto, vemos que o campo ele´trico e´ o negativo do gradiente do potencial V ~E =−~∇V (1.36) ou em componentes cartesianas ~E =−~∇V =− ( ∂V ∂x iˆ+ ∂V ∂y jˆ+ ∂V ∂ z kˆ ) (1.37) Isto e´, a direc¸a˜o e o sentido do campo ele´trico sa˜o os mesmos que a direc¸a˜o e o sentido da ma´xima taxa de decre´scimo da func¸a˜o potencial com relac¸a˜o a` distaˆncia. De maneira geral, podemos mostrar o resultado acima como dV =−~E.d~`=−(E cosθ)d`=−E`d` sendo que E` = E cosθ e´ a componente do campo ~E ao longo do deslocamento d~`, temos assim E` =−∂V∂` (1.38) Um caso de particular interesse e´ para uma distribuic¸a˜o esfericamente sime´trica de carga centrada na origem, um potencial pode enta˜o ser uma func¸a˜o apenas da coordenada radial r. Neste caso um deslocamento na direc¸a˜o radial e´ escrito como d~` = drrˆ. Lembre que deslocamentos perpendiculares a` direc¸a˜o radial na˜o provocam variac¸a˜o em V (r). Por- tanto, temos que dV =−~E.d~`=− ( ~E.rˆ ) dr =−Erdr enta˜o Er =−dV (r)dr (1.39) 16 1.5 Ca´lculo do potencial para distribuic¸o˜es contı´nuas de carga Quando uma distribuic¸a˜o de carga e´ contı´nua (por exemplo, uma barra ou disco car- regado), escolhemos um elemento de carga dq, a fim de determinar o potencial dV em P. Enta˜o, ao inve´s de termos uma somato´ria, temos enta˜o uma integral dV = n ∑ i=1 kdqi ri →V = lim dq→0 ∞ ∑ i=1 kdqi ri = ∫ kdq r (1.40) Esta resultado considera que V = 0 a uma distaˆncia infinita das cargas. Por isso, podemos usar a fo´rmula acima apenas para distribuic¸o˜es de carga finitas, e na˜o sendo va´lida por exemplo para uma linhas infinita de cargas ou um plano infinito de cargas. 1.5.1 Potencial no eixo de um anel carregado Consideremos um anel uniformemente carregado de raio a e carga Q no plano z = 0 e centrado na origem. Qual e´ o potencial ele´trico num ponto no eixo do anel P = z > 0? Temos V = ∫ kdq r 17 a distaˆncia de um elemento de carga dq ao ponto P e´ r = √ a2 + z2 (constante), assim V = ∫ kdq r = k r ∫ dq = kQ r = kQ√ a2 + z2 (1.41) Observe que, quando |z|� a, o potencial tende a mesma expressa˜o que o potencial devido a uma carga puntiforme Q na origem. Calcule Ez =−dVdz e compare. 1.5.2 Potencial de uma linha de carga Consideremos uma barra fina de pla´stico de comprimento ` e com uma densidade li- near de carga uniforme λ . Qual e´ o potencial ele´trico num ponto P = a> 0 (perpendicular a` barra, e encontra-se a` esquerda da barra)? Temos que o elemento de carga e´ dq = λdx, enquanto a distaˆncia deste elemento de carga ate´ o ponto P e´ r = √ a2 + x2. Logo, escrevemos o potencial dV como dV = kdq r = kλ√ a2 + x2 dx (1.42) 18 obtemos o potencial ao integrarmos V = ∫ ` 0 kλ√ a2 + x2 dx = kλ ∫ ` 0 dx√ a2 + x2 (1.43) podemos usar o resultado da integral∫ dx√ a2 + x2 = ln ( x+ √ a2 + x2 ) e obter V = kλ ( ln ( `+ √ a2 + `2 ) − ln (√ a2 )) = kλ ln [ `+ √ a2 + `2 a ] (1.44) 1.5.3 Potencial e campo ele´trico de um disco carregado Vamos agora determinar o potencial no eixo de um disco de raio a que conte´m uma carga total Q distribuı´da uniformemente em sua superfı´cie. Consideremos que o eixo do disco e´ o eixo x e como anteriormente trataremos o disco como um conjunto de ane´is carregados. O anel de raio r e espessura dr tem uma a´rea infinitesimal 2pirdr. Desta forma temos que o elemento de carga e´ dq = σdA = σ (2pir)dr em que σ = Q/pia2 e´ a densidade superficial de carga. 19 O potencial no ponto P = x > 0 dvido a` carga deste anel e´ dado por dV = kdq r′ = kσ (2pir)√ r2 + x2 dr (1.45) agora, integrando a expressa˜o acima, temos V = ∫ dV = ∫ a 0 kσ (2pir)√ r2 + x2 dr = pikσ ∫ a 0 2rdr√ r2 + x2 = pikσ ∫ a2+x2 x2 du√ u em que fizemos a mudanc¸a de varia´veis u = r2 + x2, assim V = pikσ ( u 1 2 1 2 ) a2+x2 x2 = 2pikσ (√ a2 + x2− √ x2 ) = 2pikσ |x| (√ 1+ a2 x2 −1 ) (1.46) Observe que, quando |x|� a, o potencial tende a mesma expressa˜o que o potencial devido a uma carga puntiforme Q na origem. Podemos ainda calcular o campo ele´trico atrave´s da diferenciac¸a˜o direta atrave´s de Ex = −dV/dx, e as outras componentes sa˜o nulas devido a simetria da distribuic¸a˜o de carga Ey = Ez = 0. Assim Ex =−dVdx =− d dx ( 2pikσ (√ a2 + x2−|x| )) =−2pikσ ( d dx √ a2 + x2− d |x| dx ) =−2pikσ ( 1 2 √ a2 + x2 2x− sign(x) ) = 2pikσsign(x) 1− 1√ 1+ a 2 x2 (1.47) onde usarmos sign(x) = x/ |x|. Este resultado reproduz exatamente a expressa˜o calculada anteriormente para Ex. 20 1.5.4 Potencial devido a um plano infinito de cargas A priori se considerarmos a muito grande, nosso disco uniforme carregado se apro- ximara´ de um plano infinito. Todavia, na˜o podemos utilizar a expressa˜o calculada acima para o disco, pois uma das condic¸o˜es utilizadas no ca´lculo foi de que V = 0 no infinito, e dessa forma terı´amos uma contradic¸a˜o. Para distribuic¸o˜es de carga com dimenso˜es infinitas, na˜o podemos escolher V = 0 em um ponto a uma distaˆncia infinita das cargas. Em vez disso, primeiro determinamos o campo ele´trico ~E, e enta˜o calculamos o potencial V a partir de dV =−~E.d~`. No caso particular de um plano infinito de car uniforme com densidade σ no plano x = 0,o campo ele´trico na regia˜o x > 0 e´ ~E = σ 2ε0 iˆ = 2pikσ iˆ (1.48) Para um deslocamento arbitra´rio d~`= dxiˆ+dy jˆ+dzkˆ, temos enta˜o que dV =−~E.d~`=−(2pikσ iˆ) .(dxiˆ+dy jˆ+dzkˆ)=−2pikσdx integrando ambos lados, temos V =−2pikσx+V0 (1.49) Por outro lado, o campo ele´trico na regia˜o x < 0 e´ ~E =−2pikσ iˆ, temos assim V = 2pikσx+V0 =−2pikσ |x|+V0 (1.50) Portanto, para valores positivos e negativos de x, o potencial pode ser escrito como V =−2pikσ |x|+V0 (1.51) i.e. V =V0 quando x = 0. 21 1.5.5 Potencial de uma casca esfe´rica Vamos determinar o potencial devido a uma fina casca esfe´rica que tem raio R e carga Q uniformemente distribuı´da na sua superfı´cie. Como o campo ele´trico para esta distribuic¸a˜o de carga e´ facilmente obtido pela lei de Gauss, E = kQr2 , r ≥ R0, r ≤ R (1.52) vamos calcular o potencial a partir do campo ele´trico conhecido a partir de dV =−~E.d~`. Do lado de fora da casca esfe´rica, o campo ele´trico e´ o mesmo que se carga a Q fosse puntiforme e estivesse na origem ~E = kQ r2 rˆ (1.53) assim dV =−~E.d~`=− ( kQ r2 rˆ ) .d~`=−kQ r2 dr (1.54) em que dr = rˆ.d~` e´ a componente de d~` na direc¸a˜o radial. Da mesma forma que fizemos no ca´lculo do potencial para uma carga puntiforme, tomamos o ponto de refereˆncia como rre f = ∞ (potencial zero no infinito), assim a integrac¸a˜o segue V = ∫ dV =− ∫ rp ∞ kQ r2 dr = kQ rp (1.55) em que P e´ um ponto arbitra´rio na regia˜o rp ≥ R. Dentro da casca esfe´rica, o campo ele´trico e´ igual a zero em todos os pontos. Inte- grando novamente do ponto de refereˆncia ao infinito, sendo que rp ≤ R, assim V = ∫ dV =− ∫ rp ∞ ~E.d~`=− ∫ R ∞ kQ r2 dr− ∫ rp R (0)dr = kQ R (1.56) Vemos assim que o potencial em todos os pontos dentro da casca e´ constante com valor 22 kQ/R. Portanto, por convenieˆncia escrevemos rp = r, enta˜o V = kQr , r ≥ RkQ R , r ≤ R (1.57) A superfı´cie de um condutor carregado em equilı´brio eletrosta´tico e´ uma superfı´cie equi- potencial. Um erro comum e´ pensar que o potencial deveria ser zero no interior da casca esfe´rica, uma vez que o campo ele´trico e´ zero naquela regia˜o. 23 1.5.6 Potencial de uma esfera carregada uniformemente Utilizamos novamente o resultado do campo ele´trico conhecido calculado anterior- mente para determinar o potencial ele´trico de uma esfera de raio R. Fora da esfera, o campo ele´trico e´ o mesmo que o de uma carga puntiforme. Assim, o potencial segue para r ≥ R V = ∫ dV =− ∫ rp ∞ kQ r2 dr = kQ rp (1.58) agora, dentro da esfera, r ≤ R, temos que o campo ele´trico e´ dado por ~E = kQr R3 rˆ temos assim que V = ∫ dV =− ∫ rp ∞ ~E.d~`=− ∫ R ∞ kQ r2 dr− ∫ rp R kQr R3 dr (1.59) = kQ R − kQ R3 1 2 ( r2p−R2 ) (1.60) = kQ 2R ( 3− r 2 p R2 ) (1.61) Portanto V = kQ r , r ≥ R kQ 2R ( 3− r2R2 ) , r ≤ R kQ R , r = R (1.62) Note que em r = 0, o potencial e´ V0 = 3/2 kQ R = 3/2Vs, e este resultado esta´ condizente com o fato do campo ele´trico apontar no sentido que o potencial diminui. Questa˜o: Como ficariam as expresso˜es para o potencial de uma esfera, se consideras- semos o ponto de refereˆncia em que V = 0 em r = R? 24 1.5.7 Potencial de uma casca esfe´rica oca Uma casca esfe´rica condutora, na˜o carregada e oca, tem raio interno a e raio externo b. Uma carga puntiforme positiva +q esta´ localizada no centro da casca. a) Determine a carga em cada uma das superfı´cies do condutor. b) Determine o potencial V em todas as regio˜es, considerando V = 0 em r = ∞. a) A fim de determinar as cargas nas superfı´cies deste condutor, e´ conveniente fazer 25 uso i) da lei de Gauss, ii) todo o excesso de carga em um condutor encontra-se em sua superfı´cie, e iii) de que o campo ele´trico dentro de um condutor e´ nulo. Como a casca e´ neutra, temos que Qa +Qb = 0→ Qa =−Qb (1.63) Agora, ao considerarmos uma superfı´cie gaussiana no interior do material a ≤ r ≤ b, temos a partir da lei de Gauss Φ= Q ε0 = ∮ EndA→ Qa +qε0 = ∮ (En = 0)dA→ Qa =−q ou seja, a presenc¸a de uma carga no centro da casca condutora induz uma carga −q na superfı´cie de raio r = a, de tal forma a assegura que o campo ele´trico resultante dentro do material seja nulo (i.e. pela lei de Gauss que a carga lı´quida seja nula). Assim Qa =−Qb =−q b) O potencial em qualquer ponto e´ a soma dos potenciais devidos a`s cargas individuais (princı´pio de superposic¸a˜o). Anteriormente calculamos que o potencial devido a uma casca esfe´rica e´ V = kQr , r ≥ RkQ R , r ≤ R (1.64) Para pontos r≥ b, o potencial resultante e´ devido somente a` carga (uma vez que o condu- tor e´ neutro) V = kq r (1.65) Agora, em pontos a≤ r ≤ b, temos V = kq r + kQa r + kQb rb = kq r − kq r + kq b = kq b (1.66) e por fim em pontos 0 < r ≤ a V = kq r + kQa ra + kQb rb = kq r − kq a + kq b (1.67) 26 Portanto V = kq r , r ≥ b kq b , a≤ r ≤ b kq r − kqa + kqb , 0 < r ≤ a (1.68) Observe que o potencial V (r) e´ contı´nuo em todas as regio˜es, inclusive em r = a e r = b. O campo ele´trico todavia e´ descontı´nuo nas superfı´cies do condutor, o que se reflete na descontinuidade da declividade de V (r) em r = a e r = b. 1.6 Energia potencial eletrosta´tica Suponhamos que exista uma carga puntiforme q1 no ponto 1. Para trazer uma segunda carga puntiforme q2 do repouso no infinito para o repouso no ponto 2, a uma distaˆncia r12 do ponto 1, e´ necessa´rio realizar o seguinte trabalho W2 = q2V2 = kq1q2 r12 (1.69) 27 em que V2 e´ o potencial no ponto 2 devido a` presenc¸a da carga q1. Eliminamos o sinal negativo anterior pois estamos interessados no trabalho que no´s realizamos em trazer as cargas do infinito, e na˜o o trabalho realizado pelo campo ele´trico. (trabalho negativo retira energia do sistema, trabalho positiva adiciona energia ao sistema). Agora, o potencial num outro ponto, ponto 3, a uma distaˆncia r13 de q1 e a uma distaˆncia r23 de q2, e´ dado por V3 = kq1 r13 + kq2 r23 (1.70) e portanto para trazer uma carga puntiforme adicional q3 do repouso no infinito para o repouso no ponto 3 e´ necessa´rio realizar um trabalho adicional W3 = q3V3 = kq1q3 r13 + kq2q3 r23 (1.71) Concluı´mos desta forma que o trabalho total necessa´rio para agrupar as treˆs cargas e´ a energia potencial eletrosta´tica do sistema de treˆs cargas puntiformes Wtotal =U = kq1q2 r12 + kq1q3 r13 + kq2q3 r23 Em geral, podemos enunciar • A energia potencial eletrosta´tica de um sistema de cargas puntiformes e´ o trabalho necessa´rio para trazeˆ-las desde uma separac¸a˜o infinita ate´ suas posic¸o˜es finais. Podemos generalizar a expressa˜o para energia potencial para um sistema de n cargas puntiformes tal que U = 1 2 n ∑ i=1 qiVi (1.72) o fator nume´rico 1/2 e´ para retirarmos a contagem dupla, proveniente por exemplo do potencial no ponto 2 devido a carga q1 com o potencial no ponto 1 devido a` carga q2 que contribuem com o mesmo trabalho/energia U = 1 2 2 ∑ i=1 qiVi = 1 2 (q1V1 +q2V2i) = 1 2 ( q1 kq2 r21 +q2 kq1 r12 ) = kq1q2 r12 28 1.6.1 Ruptura diele´trica • Muitos materiais ficam ionizados em campos ele´tricos muito intensos e se tornam condutores. • Este fenoˆmeno, conhecido como ruptura diele´trica, ocorre no ar com um campo ele´trico cuja intensidade e´ Em ≈ 3×106V/m. • Alguns dos ı´ons existeste no ar sa˜o acelerados, atingindo altos nı´veis de energia cine´tica antes de colidirem com mole´culas vizinhas. • A ruptura diele´trica ocorre quando esses ı´onssa˜o acelerados ate´ atingirem energias cine´ticas capazes de propiciar o crescimento da concentrac¸a˜o de ı´ons devido a`s coliso˜es com mole´culas vizinhas. • A intensidade do capmo ele´trico na qual ocorre a ruptura diele´trica no material e´ chamada de resisteˆncia diele´trica daquele material. • O choque ele´trico que voceˆ sente quando toca na mac¸aneta meta´lica de uma porta apo´s caminhar sobre um tapete em um dia seco e´ um exemplo comum de arco ele´trico (descarga ele´trica). Exemplo 1 Um condutor esfe´rico tem um raio de 30cm. (a) Qual e´ a carga ma´xima que pode ser colocada sobre a esfera antes de ocorrer a ruptura diele´trica do ar em suas vizinhanc¸as. (b) Qual e´ o potencial ma´ximo da esfera? (a) Podemos relacionar o campo ele´trico e a densidade superficial de um condutor a partir de E = σ ε0 → Em = σmε0 ademais, a carga ma´xima e´ relacionada com a densidade σm atrave´s de σm = Qm 4piR2 logo Qm = 4piR2σm = 4piR2 (ε0Em) = R2Em k = (0,3m)2 ( 3×106V/m) (8,99×109N.C2/m2) = 3×10 −5C (1.73) 29 (b) O potencial ma´ximo segue de Vm = kQm R = k R ( R2Em k ) = REm = (0,3m) ( 3×106V/m ) = 9×105V (1.74) Exemplo 2 Dois condutores esfe´ricos carregados com raios R1 = 6cm e R2 = 2cm sa˜o separados de uma distaˆncia muito maior que 6cm e conectados por um longo fio condutor fino. Uma carga total Q = +80nC e´ colocada em uma das esferas. (a) Qual e´ a carga em cada esferas? (b) Qual e´ o campo ele´trico pro´ximo a` superfı´cie de cada esfera? (c) Qual e´ o potencial ele´trico de cada esfera? (a carga do fio e´ desprezı´vel.) A carga ficara´ distribuı´da na esfera 1 Q1 e na esfera 2 com Q2 tal que as duas fiquem sobre o mesmo potencial. (a) Uma vez que as esferas esta˜o suficientemente afastadas, V = kQ/R, logo V1 =V2→ kQ1R1 = kQ2 R2 → Q1 = R1R2 Q2 e da conservac¸a˜o da carga Q = Q1 +Q2 assim Q1 = R1 R2 (Q−Q1)→ ( 1+ R2 R1 ) Q1 = Q→ Q1 = Q( 1+ R2R1 ) = ( R1 R1 +R2 ) Q e Q1 = ( 6cm 6cm+2cm ) (80nC) = 60nC e Q2 = Q−Q1 = 80nC−60nC = 20nC 30 (b) Pro´ximo a` superfı´cie, o campo ele´trico e´ E = kq/R2, assim E1 = kQ1 R21 = ( 8,99×109N.C2/m2)(60nC) (0,06m)2 = 150kN/C E2 = kQ2 R22 = ( 8,99×109N.C2/m2)(20nC) (0,02m)2 = 450kN/C (c) Por fim, o potencial comum das esferas e´ V = kQ1 R1 = kQ2 R2 = ( 8,99×109N.C2/m2)(60nC) (0,06m) = 8,99kV Efeito de pontas • Quando a carga e´ colocada em um condutor de forma na˜o-esfe´rica, como o mos- trado abaixo, a superfı´cie do condutor sera´ uma superfı´cie equipotencial, pore´m a densidade de carga e o campo ele´trico na superfı´cie externa do condutor variara˜o ponto a ponto. 31 • Nas proximidades de um ponto onde o raio de curvatura e´ pequeno, como o ponto A na figura acima, a densidade superficial de carga e o campo ele´trico sera˜o grandes, enquando nas proximidades de um ponto onde o raio de curvatura e´ grande, como o ponto B na figura, o campo e a densidade superficial de carga sera˜o pequenos. • Pode-se compreender essa condic¸a˜o qualitativamente considerando as extremidades do condutor como sendo esferas de raios distintos. Seja σ a densidade superficial de carga. O potencial na superfı´cie de uma esfera de raio R e´ V = kQ R A carga total de uma esfera esta´ relacionada a` densidade de carga pela expressa˜o Q = 4piR2σ . Logo V = kQ R = k ( 4piR2σ ) R = Rσ ε0 → σ = ε0V R (1.75) • Como ambas esferas esta˜o sujeitas ao mesmo potencial, a esfera com o menor raio deve possuir a maior densidade de carga. E sendo E = σ/ε0 nas proximidades da superfı´cie de um condutor, o campo ele´trico e´ ma´ximo nos pontos do condutor onde o raio de curvatura e´ menor. • Se o condutor possui pontos agudos com raios de curvatura muito pequenos, a ruptura diele´trica ocorera´ a potenciais relativamente pequenos. • Os pa´ra-raios no topo de pre´dios conseguem atrair as cargas ele´tricas presentes nas proximidades das nuvens antes que o potencial atinja altos valores e produza descargas ele´tricas de cara´ter destrutivo. 32 Parte II Capacitaˆncia 2 Capacitores Nos capı´tulos anteriores discutimos a relac¸a˜o entre campos ele´tricos e cargas e como a relac¸a˜o entre as cargas se traduz em energia potencial ele´trica. Mostraremos agora usando o conceito de capacitaˆncia, que a energia potencial pode ser armazenada e liberada e a consequeˆncia em circuitos eletroˆnicos. Encontramos capacitores (dispositivos que armazenam energia potencial ele´trica) numa grande variedade de circuitos ele´tricos (basicamente em todos dispositivos eletroˆnicos, e.g. flash de ma´quinas fotogra´ficas). Um capacitor consiste de dois condutores (de formato arbitra´rio/placas) separados por um isolante (diele´trico). Quando carregado por uma bateria, as placas de um capacitor adquirem cargas iguais, mas de sinais opostos (a carga lı´quida e´ zero). Uma vez que as placas sa˜o condutoras, elas constituem superfı´cies equipotenciais: todos os pontos sobre uma placa teˆm o mesmo potencial ele´trico. 2.1 Capacitaˆncia O potencial V de um condutor isolado devido a` sua carga Q e´ proporcional a Q e de- pende do tamanho e da forma do condutor. Tipicamente, quanto maior e´ a a´rea superficial de um condutor, mais carga ele pode armazenar para um dado potencial. Por exemplo, se o potencial e´ escolhido como zero no infinito, o potencial de um condutor esfe´rico de raio R e carga Q e´ V = kQ R A raza˜o Q/V da carga em relac¸a˜o ao potencial de um condutor isolado e´ denominada autocapacitaˆncia C. Um capacitor e´ um dispositivo que consiste em dois condutores, um com carga Q e o outro com carga −Q. 33 Assim, definimos a capacitaˆncia de um capacitor como a raza˜o da carga Q pela diferenc¸a de potencial ∆V entre dois condutores C = Q ∆V (2.1) Capacitaˆncia e´ uma medida da capacidade de armazenar carga para uma dada diferenc¸a de potencial. A capacitaˆncia de um condutor esfe´rico e´ C = Q V = Q kQ R = R k = 4piε0R (2.2) De fato, o resultando que a capacitaˆncia na˜o depende da carga Q ou potencial V na˜o e´ exclusivo para um condutor esfe´ricos, mas de fato uma conclusa˜o geral para qualquer geometria das placas, pois a capacitaˆncia depende somente do tamanho, forma das placas e da posic¸a˜o relativa entre os condutores. A unidade de capaciteˆncia no SI e´ coulomb por volt, que e´ chamado de farad (F) 1F = 1C/V (2.3) 2.1.1 Capacitores O processo de carga de um capacitor geralmente envolve a transfereˆncia de carga Q de um condutor para o outro, deixando um deles com uma carga +Q e o outro com carga −Q. Para calcular a capacitaˆncia, colocamos cargas iguais com sinais opostos nos condu- tores e, enta˜o, encontramos a diferenc¸a de potencial ∆V primeiro calculando o campo ele´trico ~E devido a`s cargas e, depois, calculando a ddp a partir do campo. 2.1.2 Capacitor de placas paralelas Um capacitor comum e´ o capacitor de placas paralelas, que utiliza duas placas condutores paralelas. Na pra´tica, as placas sa˜o geralmente final folhas meta´licas sepa- radas e isoladas uma da outra por um fino filme pla´stico (diele´trico). 34 • Seja A a a´rea da superfı´cie da placa e d a distaˆncia de separac¸a˜o, que e´ muito pequena comparada ao comprimento e a` largura das placas. • Colocamos uma carga +Q em uma das placas e−Q na outra. Estas cargas se atraem e se distribuem uniformemente nas superfı´cies internas das placas. • Como as placas esta˜o muito pro´ximas, o campo ele´trico entre elas e´ uniforme e pode ser calculado pela lei de gauss (ao trac¸armos uma superfı´cie gaussiana na placa +Q), e tem mo´dulo E = σ/ε0. Como o campo e´ uniforme entre as placas, a diferenc¸a de potencial entre elas e´ igual a` magnitude do campo ele´trico E multiplicada pela separac¸a˜oentre as placas d ∆V = Ed = σd ε0 = Qd Aε0 →C = Q ∆V = Aε0 d (2.4) e assim obtemos a capacitaˆncia de um capacitor de placas paralelas. • Para um capacitor de placas paralelas, a capacitaˆncia e´ proporcional a` a´rea das placas e e´ inversamente proporcional ao espac¸amento. • Em geral, a capacitaˆncia na˜o depende de Q nem de ∆V , mas sim depende do tama- nho, da forma e do arranjo geome´trico dos condutores. Como veremos a seguir, ela tambe´m depende das propriedades do meio isolante entre os condutores. 2.1.3 Capacitores cilı´ndricos Um capacitor cilı´ndrico consiste em um longo cilindro condutor de raio R1 e uma casca cilı´ndrica condutora, conceˆntrico, de raio R2. Os cilindros teˆm o mesmo compri- 35 mento L. • Um cabo coaxial, como os utilizados em televisa˜o a cabo, pode ser pensado como um capacitor cilı´ndrico. A capacitaˆncia por unidade de comprimento de um cabo coaxial e´ importante para determinar as caracterı´sticas de transmissa˜o do cabo. Um cabo coaxial e´ um longo capacitor cilı´ndrico que tem um fio so´lido como condu- tor interno e uma blindagem de fio tranc¸ado como condutor externo. A blindagem de fio tranc¸ado bloqueia o condutor interno dos campos ele´tricos do ambiente, pois este condu- tor conduz informac¸o˜es de interesse (sinais de audio e vı´deo). E como veremos a seguir os diele´tricos aumentam a capacitaˆncia de um capacitor. Vamos determinar agora a expressa˜o para a capacitaˆncia para o sistema de cilindros descrito acima. Colocamos uma carga +Q no condutor interno e uma carga −Q no ex- terno, e assim calcularemos o campo ele´trico a partir da lei de Gauss para em seguida determinar a ddp. Consideremos uma superfı´cie gaussiana cilı´ndrica de raio R e comprimento `, sendo que R1 < R < R2 e `� L. Desta forma, temos pela lei de Gauss Φ= ∮ ~E.nˆdA = Qint ε0 (2.5) sendo que a integral de superfı´cie pode ser decomposta em outras treˆs, nas duas bases e 36 ao longo do comprimento do cilindro,∮ ~E.nˆdA = ∫ b1 ~E.nˆdA+ ∫ comp ~E.nˆdA+ ∫ b2 ~E.nˆdA = 0+ ∫ comp ERdA+0 = ER ∫ comp dA = ER (2piR`) (2.6) temos dessa forma que ER (2piR`) = Qint ε0 → ER = 12piε0 Qint R` (2.7) todavia, considerando que a densidade linear de carga e´ uniforme, temos que λ = Q L = Qint ` desta forma podemos resolver o campo ele´trico em termos da carga total ER = 1 2piε0 Q RL (2.8) 37 Por fim, podemos determinar a ddp a partir da integral ∆V = ∫ VR2 VR1 dV =− ∫ R2 R1 ERdR =− ∫ R2 R1 ( 1 2piε0 Q RL ) dR =− 1 2piε0 Q L ∫ R2 R1 q R dR =− 1 2piε0 Q L ln ( R2 R1 ) e ∆V = |VR2−VR1|= 1 2piε0 Q L ln ( R2 R1 ) (2.9) Portanto, determinamos a capacitaˆncia como C = Q ∆V = 2piε0L ln ( R2 R1 ) (2.10) 2.2 Armazenamento de energia ele´trica Quando um capacitor esta´ sendo carregado, ele´trons (ou cargas positivas) sa˜o trans- feridos do condutor positivamente (negativamente) carregado para o condutor negativa- mente (positivamente) carregado. De qualquer forma, deve ser realizado trabalho para carregar o capacitor e, pelo menos parte deste trabalho, e´ armazenado como energia po- tencial eletrosta´tica. Consideremos dois condutores descarregados posicionados a dada separac¸a˜o. Seja q a carga positiva que foi transferida durante os esta´gios iniciais do processo de carga (e.g. bateria). Mas se agora uma incremento de carga positiva dq seja transferido do condutor nega- tivo para o positivo atrave´s de um aumento de potencial, temos uma quantidade adicional de trabalho dW = dU =V dq = q C dq (2.11) O aumento total na energia potencial e´ a integral de dU quando q aumento desde zero ate´ seu valor final Q U = ∫ dU = ∫ Q 0 q C dq = Q2 2C (2.12) 38 Esta energia potencial e´ a energia armazenada no capacitor. Alternativamente, podemos expressa´-la em termos Q, C e V U = 1 2 Q2 C = 1 2 QV = 1 2 CV 2 (2.13) Exemplo: Um capacitor de placas paralelas com placas quadradas, cada uma com lado de 14cm, separadas por 2,0mm, e´ conectado a uma bateria e carregado com 12V . a) Qual e´ a carga no capacitor? b) Quanta energia e´ armazenada no capacitor? b A bateria e´, enta˜o, desconectada do capacitor e as placas sa˜o afastadas ate´ que a separac¸a˜o entre elas aumente para 3,5mm. Qual e´ a variac¸a˜o da energia armazenada quando a separac¸a˜o entre as placas aumenta de 2,0mm para 3,5mm? a) Podemos calcular a carga no capacitor a partir da capacitaˆncia Q =CV sendo que no caso de um capacitor de placas paralelas a capacitaˆncia e´ dada por C = ε0A/d, logo Q =C0V0 = ε0AV0 d0 = ( 8,85×10−12C2/N.m2)(14×10−2m)2 (12V ) (2×10−3m) = 10,4×103×10−13C = 1,04nC (2.14) 39 b) A energia armazenada nas placas do capacitor e´ U0 = 1 2 QV0 = 1 2 (1,04nC)(12V ) = 6,2nJ (2.15) c) como queremos a variac¸a˜o da energia, calculamos ∆U =U−U0 = 12QV − 1 2 QV0 = 1 2 Q(V −V0) (2.16) Logo a variac¸a˜o na energia e´ proporcional a` variac¸a˜o na tensa˜o. Todavia, lembremos que na superfı´cie do condutor, E = σ/ε0; ademais, mas como σ e´ constante antes e depois do capacitor ser desconectado da bateria, o campo ele´trico permanece constante, portanto E = E0, o que implica em E = E0→ Vd = V0 d0 →V = d d0 V0 (2.17) Desta forma encontramos enta˜o ∆U = 1 2 Q(V −V0) = 12Q ( d0 d V0−V0 ) = ( d d0 −1 )( 1 2 QV0 ) (2.18) = ( d0 d −1 ) U0 = ( (3,5mm) (2mm) −1 ) (6,2nJ) (2.19) = 4,7nJ (2.20) Um aumento na energia potencial provocado por um aumento na separac¸a˜o entre as cargas e´ esperado. Isto e´ verificado pela necessidade de se realizar trabalho para separar as placas que possuem sinais opostos e se atraem mutuamente. Este trabalho realizado nas placas resulta em um aumento na energia potencial do sistema. Um exemplo pra´tico da variac¸a˜o da capacitaˆncia sa˜o as teclas de um teclado de com- putador. Uma placa meta´lica e´ presa a cada uma das teclas e atua como a placa superior de um capacitor (e a inferior tambe´m e´ fixa). Ao pressionarmos alguma tecla, diminuı´mos a separac¸a˜o entre as placas superior e inferior, o que dispara o circuito eletroˆnico do com- putador para reconhecimento da tecla. 40 2.2.1 Energia do campo eletrosta´tico Durante o processo de carga de um capacitor, um campo ele´trico e´ produzido entre as placas. • Portanto, por um segundo ponto de vista, o trabalho necessa´rio para carregar o capacitor pode ser entendido como o trabalho necessa´rio para estabelecer o campo ele´trico. • Isto e´, podemos pensar na energia armazenada no capacitor como sendo a energia armazenada no campo ele´trico, denominada energia do campo eletrosta´tico. Por exemplo, consideremos um capacitor de placas paralelas; podemos relacionar a ener- gia armazenada no capacitor a` intensidade do campo ele´trico entre as placas. A ddp entre as placas e´ V = Ed, enqando a capacitaˆncia e´ dada por C = ε0A/d, logo a energia arma- zenada e´ escrita U = 1 2 CV 2 = 1 2 ( ε0A d ) (Ed)2 = 1 2 ε0E2 (Ad) (2.21) a quantidade Ad e´ o volume do espac¸o entre as placas do capacitor (e consequentemente e´ o volume da regia˜o que conte´m o campo ele´trico). Podemos enta˜o introduzir uma den- sidade de energia em um campo ele´trico como ue = energia volume = 1 2 ε0E2 (2.22) • Apesar do resultado acima ter sido obtido num caso especial de um campo ele´trico entre as placas de um capacitor de placas paralelas, de fato ele tem natureza geral e se aplica a qualquer campo ele´trico. Portanto, a energia por unidade de volume do campo eletrosta´tico e´ proporcional ao quadrado da magnitude do campo ele´trico. 2.3 Capacitores, bateria e circuitos A diferenc¸a de potencialentre os dois terminais de uma bateria e´ chamada de tensa˜o. • Os terminais de uma bateria sa˜o conectados a condutores diferentes chamados de eletrodos, e, no interior da bateria, os eletrodos esta˜o separados por uma lı´quido condutor ou por uma pasta chamada de eletro´lito. 41 • Devido a`s reac¸o˜es quı´micas na bateria, ocorre transfereˆncia de carga de um eletro- dos para o outro. • Isto deixa um dos eletrodos da bateria (anodo) positivamente carregado, enquanto o outro eletrodo (catodo), negativamente carregado; esta separac¸a˜o de carga e´ man- tida por reac¸o˜es quı´micas no interior da bateria. • Quando as placas de um capacitor descarregado sa˜o conectadas aos terminais da bateria, o eletrodo negativo compartilha sua carga negativa com a placa conectada a ele e o terminal positivo da bateria compartilha sua carga positiva com a placa conectada a ele. • Este compartilhamento de carga momentaneamente reduz a quantidade de carga em cada um dos eletrodos da bateria e, portanto, diminui a diferenc¸a de potencial entre eles. • Esta diminuic¸a˜o na tensa˜o dispara as reac¸o˜es quı´micas no interior da bateria e ocorre transfereˆncia de carga de um eletrodo para o outro em um esforc¸o para recu- perar o nı´vel inicial da tensa˜o, que e´ chamada de tensa˜o de circuito aberto. • Estas reac¸o˜es quı´micas cessam quando a bateria transferiu suficiente carga de uma das placas do capacitor para a outra, a ponto de aumentar a ddp entre elas ate´ o valor da tensa˜o de circuito aberto da bateria. Basicamente, o que precisamos saber sobre baterias e´ que sa˜o um dispositivo que armazenam energia, fornecem energia ele´trica e bombeiam carga em um esforc¸o para recuperar a ddp entre seus terminais ate´ atingir o valor da tensa˜o de circuito aberto. 42 Usamos diagramas de circuitos como uma representac¸a˜o picto´rica simbolizada do cir- cuito real. Temos que o sı´mbolo que representa um capacitor, uma bateria (linha mais longa e´ o terminal positivo, enquanto a linha menor e´ o terminal negativo) e uma chave sa˜o Quando existe uma combinac¸a˜o de capacitores num circuito, podemos, algumas ve- zes, substituı´-la por um capacitor equivalente, i.e. um u´nico capacitor que tenha a mesma capacitaˆncia que a combinac¸a˜o real dos capacitores. Existem dois tipos de associac¸o˜es de 43 capacitores: • Associac¸a˜o em paralelo; • Associac¸a˜o em se´rie. 2.3.1 Associac¸a˜o de capacitores em paralelo • Dizemos que capacitores combinados esta˜o ligados em paralelo quando uma ddp aplicada atrave´s da combinac¸a˜o resulta na mesma ddp atrave´s de cada capacitor. • Vemos isto ao perceber que as duas placas dos dois capacitores conectados a um fio condutor e, portanto, em um potencial comum, e as placas inferiores tambe´m conectadas entre e em um potencial comum. • A carga e´ dividida nas placas. A carga total armazenada nos capacitores e´ Q = Q1 +Q2 (2.23) 44 Se as capacitaˆncia sa˜o C1 e C2, temos que as seguintes cargas sa˜o armazenadasQ1 =C1∆VQ2 =C2∆V (2.24) Dizemos enta˜o que uma capacitaˆncia equivalente e´ aquela que a mesma carga Q flui atrave´s da bateria enquando este capacitor e´ carregado. Assim, a capacitaˆncia equivalente de dois capacitores em paralelo e´ Ceq = Q ∆V = Q1 +Q2 ∆V = C1∆V +C2∆V ∆V =C1 +C2 (2.25) Portanto, para dois capacitores associados em paralelo, Ceq e´ a soma das capacitaˆnciais individuais. O mesmo raciocı´nio pode ser estendido a treˆs ou mais capacitores conectados em paralelo Ceq =C1 +C2 + ...+Cn = n ∑ i=i Ci (2.26) • A capacitaˆncia equivalente de uma combinac¸a˜o em paralelo de capacitores e´ a soma alge´brica das capacitaˆncias individuais e e´ maior do que qualquer uma delas. 2.3.2 Associac¸a˜o de capacitores em se´rie • Dizemos que capacitores combinados esta˜o ligados em se´rie, quando uma ddp apli- cada atrave´s da combinac¸a˜o e´ a soma das ddp atrave´s de cada capacitor; • Mas a carga em cada um deles e´ a mesma. A diferenc¸a de potencial para a combinac¸a˜o em se´rie e´ ∆V = ∆V1 +∆V2 = Q ( 1 C1 + 1 C2 ) sendo Q a carga que passa pela bateria durante o processo de carga. Assim, a capacitaˆncia equivalente de dois capacitores em se´rie e´ Ceq = Q ∆V = 1 1 C1 + 1C2 → 1 Ceq = 1 C1 + 1 C2 (2.27) 45 O mesmo raciocı´nio pode ser estendido a treˆs ou mais capacitores conectados em se´rie 1 Ceq = 1 C1 + 1 C2 + ...+ 1 Cn = n ∑ i=i 1 Ci (2.28) • A capacitaˆncia equivalente de uma combinac¸a˜o em se´rie de capacitores e´ a soma dos inversos das capacitaˆncias individuais e e´ sempre inferior a` menor delas. E´ importante notar, todavia, que as variac¸o˜es no potencial em qualquer circuito fechado sa˜o sempre nulas. Somar as variac¸o˜es no potencial ao longo de um circuito fechado e igualar a soma a zero e´ um procedimento muito u´til para a ana´lise de circuitos ele´tricos. Conhecida como lei das malhas de Kirchhoff, ela e´ uma consequeˆncia do fato que a ddp entre quaisquer dois pontos na˜o depende da trajeto´ria desde um ponto ate´ o outro. • A soma das variac¸o˜es no potencial em qualquer trajeto´ria fechada e´ sempre igual a zero. Lei das malhas de Kirchhoff. 46 Exemplo 24-5: dois capacitores em se´rie, com capacitaˆncia C1 = 12µF e C2 = 6µF , sa˜o ligados a uma bateria de 12V , podemos mostrar que a carga acumulada em cada um capacitores e´ de Q = 48µC, logo a ddp no capacitor 1 e´ V1 = 8V enquanto no capacitor 2 e´ V2 = 4V . Logo a soma das variac¸o˜es no potencial somam zero. Uma outra caracterı´stica de circuitos e´ a junc¸a˜o que e´ um ponto em um fio onde ele se divide em dois ou mais fios. E podemos utilizar o conceito de junc¸a˜o para concluir que dois capacitores esta˜o conectados em se´rie se a placa de um deles estiver conectada a` placa do segundo por um fio que na˜o conte´m nenhuma juntc¸a˜o. Exemplo 24-7: Considere os capacitores mostrados na figura abaixo. Identifique todas as combinac¸o˜es de capacitores em paralelo e em se´rie. Os capacitores 4 e 7 esta˜o associados em paralelo (a mesma ddp nas duas placas), enquanto os capacitores 8 e 9 esta˜o associados em se´rie (nenhuma junc¸a˜o no fio conector). Exemplo 2: Determine a capacitaˆncia equivalente para a seguinte associac¸a˜o de capa- citores. Consideremos primeiramente a associac¸a˜o em paralelo, como destacado na figura a):C (1) eq =C (1) 1 +C (1) 2 = 1µF +3µF = 4µF C(2)eq =C (2) 1 +C (2) 2 = 6µF +2µF = 8µF (2.29) 47 em seguida, consideremos a associac¸a˜o em se´rie, como destacado na figura b): 1 C(3)eq = 1 C(3)1 + 1 C(3)2 = 14µF + 1 4µF = 1 2µF →C (3) eq = 2µF 1 C(4)eq = 1 C(4)1 + 1 C(4)2 = 18µF + 1 8µF = 1 4µF →C (3) eq = 4µF (2.30) por fim, consideremos a associac¸a˜o em paralelo, como destacado na figura c):{ C(5)eq =C (5) 1 +C (5) 2 = 2µF +4µF = 6µF (2.31) Exemplo 3: Considere treˆs capacitores com capacitaˆncias C1 = 3µF , C2 = 6µF e C3 = 12µF . Calcule a capacitaˆncia equivalente quando elas esta˜o associadas a) em paralelo, e b) em se´rie. a) O ca´lculo para a associac¸a˜o em paralelo segue C(1)eq =C (1) 1 +C (1) 2 +C (1) 3 = 3µF +6µF +12µF = 21µF (2.32) b) Enquanto o ca´lculo para a associac¸a˜o em se´rie segue 1 C(2)eq = 1 C(2)1 + 1 C(2)2 + 1 C(2)3 = 1 3µF + 1 6µF + 1 12µF = 7 12µF →C(2)eq = 127 µF ≈ 1,7µF (2.33) Exemplo 4: Dois capacitores com capacitaˆncia C1 e C2 (C1 > C2) esta˜o carregados a` mesma diferenc¸a de potencial ∆Vi, mas com polarizac¸a˜o oposta. Os capacitores carre- 48 gados sa˜o separados da bateria e suas placas sa˜o conectadas como mostra a figura. As chaves S1 e S2 sa˜o, enta˜o, fechadas e ha´ uma nova redistribuic¸a˜o das cargas entre os pon- tos a e b. Determine a energiaarmazenada nos capacitores antes e depois das chaves serem fechadas, e a raza˜o entre a energia final e inicial. Das treˆs formas que a energia armazenada em capacitores U = 1 2 Q2 C = 1 2 QV = 1 2 CV 2 (2.34) a fo´rmula mais conveniente para expressar a energia dos capacitores antes e depois das chaves serem fechadas e´ Ui = 12 Q(i)21 C1 + 12 Q(i)22 C2 U f = 12 Q( f )21 C1 + 12 Q( f )22 C2 (2.35) A fim de calcular cada uma dessas energias, e´ conveniente notar que inicialmente, a carga total dos capacitores e´ (bateria e associac¸a˜o em paralelo) Q = Q(i)1 +Q (i) 2 (2.36) sendo que, dado que as placas teˆm polaridade oposta, e escolhendo as placas do lado esquerdo como refereˆncia, temos queQ (i) 1 =C1∆Vi Q(i)2 =−C2∆Vi (2.37) 49 Logo, a raza˜o entre essas duas cargas e´ Q(i)1 Q(i)2 =−C1∆Vi C2∆Vi → Q(i)1 =− C1 C2 Q(i)2 (2.38) Assim, podemos reescrever cada uma dessas cargas em termos da carga total dos capaci- toresQ = Q (i) 1 +Q (i) 2 =−C1C2 Q (i) 2 +Q (i) 2 = ( 1− C1C2 ) Q(i)2 → Q(i)2 =− C2C1−C2 Q Q = Q(i)1 +Q (i) 2 = Q (i) 1 − C2C1 Q (i) 1 = ( 1− C2C1 ) Q(i)1 → Q(i)1 = C1C1−C2 Q (2.39) Agora, apo´s as chaves serem fechadas, temos queQ ( f ) 1 =C1∆V f Q( f )2 =C2∆V f (2.40) Mesmo apo´s as chaves serem fechadas a carga total no sistema continua a mesma, ha´ somente uma redistribuic¸a˜o de cargas entre os capacitores, assim Q = Q( f )1 +Q ( f ) 2 (2.41) e procedendo como anteriormente, encontramos que as cargas finais podem ser escritas em termo da carga totalQ = Q ( f ) 1 +Q ( f ) 2 = C1 C2 Q( f )2 +Q ( f ) 2 = ( 1+ C1C2 ) Q( f )2 → Q( f )2 = C2C1+C2 Q Q = Q( f )1 +Q ( f ) 2 = Q ( f ) 1 − C2C1 Q ( f ) 1 = ( 1− C2C1 ) Q( f )1 → Q( f )1 = C1C1+C2 Q (2.42) Encontramos finalmenteUi = 1 2 Q(i)21 C1 + 12 Q(i)22 C2 = 12 1 C1 ( C1 C1−C2 Q )2 + 12 1 C2 ( C2 C1−C2 Q )2 U f = 12 Q( f )21 C1 + 12 Q( f )22 C2 = 12 1 C1 ( C1 C1+C2 Q )2 + 12 1 C2 ( C2 C1+C2 Q )2 (2.43) 50 e Ui = 1 2 C1Q2 (C1−C2)2 + 1 2 C2Q2 (C1−C2)2 = 1 2 (C1+C2)Q2 (C1−C2)2 U f = 12 C1Q2 (C1+C2) 2 + 1 2 C2Q2 (C1+C2) 2 = 1 2 Q2 (C1+C2) (2.44) Logo a raza˜o entre a energia final e inicial e´ U f Ui = 1 2 Q2 (C1+C2) 1 2 (C1+C2)Q2 (C1−C2)2 = 1 (C1 +C2) (C1−C2)2 (C1 +C2) = ( C1−C2 C1 +C2 )2 < 1 (2.45) Esta raza˜o e´ menor que a unidade, o que indica que a energia final e´ menor do que a energia inicial. A priori, podemos pensar que a lei da conservac¸a˜o da energia e´ violada, mas a energia “perdida” e´ radiada na forma de ondas eletromagne´ticas, como veremos adiante. 2.4 Diele´tricos Um material isolante (na˜o-condutor, e.g. ar, vidro, papel, etc) e´ chamado de diele´trico. • Quando o espac¸o entre os dois condutores de um capacitor e´ ocupado por um diele´trico, a capacitaˆncia aumenta por um fator que e´ caracterı´stico do diele´trico, um fato descoberto experimentalmente por M. Faraday. • A raza˜o para este aumento e´ que o campo ele´trico entre as placas de um capacitor diminui na presenc¸a do diele´trico. • Assim, pra uma dada carga nas placas (capacitor carregado e em seguida desligado da bateria antes da inserc¸a˜o do diele´trico), a diferenc¸a de potencial ∆V e´ reduzida e a capacitaˆncia aumenta. Isto tambe´m pode ser visto atrave´s da medida da ddp atrave´s de um multı´metro nas situac¸o˜es antes e depois da inserc¸a˜o do diele´trico. Formalizando a discussa˜o acima. Consideremos novamente um capacitor carregado, isolado (desligado da bateria), sem um diele´trico entre suas placas. Uma laˆmica diele´trica e´, enta˜o, inserida entre as placas, preenchendo completamente o espac¸o entre elas. 51 Se a intensidade do campo ele´trico era E0 antes de inserirmos o diele´trico, depois da inserc¸a˜o a intensidade do campo e´ E = E0 κ (2.46) em que κ e´ o fator de aumento da capacitaˆncia pela inserc¸a˜o de um diele´trico (dependente do material), chamada de constante diele´trica. Para um capacitor de placas paralelas com uma separac¸a˜o d, a ddp entre as placas e´ ∆V = Ed = E0 κ d = ∆V0 κ (2.47) Finalmente, a nova capacitaˆncia e´ enta˜o C = Q ∆V = Q ∆V0 κ = κ Q ∆V0 →C = κC0 (2.48) • Todo material diele´trico possui uma rigidez diele´trica caracterı´stica, que e´ a inten- sidade ma´xima do campo ele´trico que ele pode suportar sem sofrer ruptura (e.g.a rigidez diele´trico do ar e´ 3× 106V/m, em que ele torna-se ionizado e comec¸a a conduzir). • Existe uma ddp ma´xima (que se excedido o material rompera´, originando um cami- nho condutor entre as placas). 52 Por fim, no caso de capacitores de placas paralelas preenchido com um diele´trico de constanta κ temos que sua capacitaˆncia e´ C = κ ε0A d = εA d (2.49) em que introduzimos ε = κε0 como a permissividade do diele´trico. Para o va´cuo κ = 1, enquanto para o ar κ = 1,00059. Desta forma, para situac¸o˜es ordina´rias na˜o precisamos fazer diferenc¸a entre o ar e o va´cuo, todavia para situac¸o˜es que demandam uma maior precisa˜o, e.g. desenvolvimento tecnolo´gico, etc, e´ sim necessa´rio levar em conta toda a precisa˜o disponı´vel. • E´ importante notar que como discutimos inicialmente, o capacitor e´ carregado e enta˜o desconectado da bateria, ou seja na˜o ha´ mudanc¸a na quantidade de carga nas placas do capacitor quando o diele´trico e´ introduzido. • Todavia, a situac¸a˜o e´ distinta se o capacitor ainda estivesse conectado a uma bateria quando fosse inserido. Neste caso, a bateria bombearia carga adicional a fim de manter a ddp original. A carga total nas placas seria enta˜o Q = κQ0. • Em ambos os casos, a capacitaˆncia resultante apo´s a inserc¸a˜o do diele´trico aumen- taria por um fator κ . Neste caso, a densidade de energia em um campo ele´trico e´ tambe´m modificada como ue = energia volume = 1 2 κε0E2 = 1 2 εE2 (2.50) Parte desta energia e´ a energia associada ao campo ele´trico, e o restante e´ a energia asso- ciada com o estresse mecaˆnico associado com a polarizac¸a˜o do diele´trico. Exemplo 1: Um capacitor de placas paralelas tem placas quadradas de lados de 10cm de comprimento e uma separac¸a˜o d = 4,0mm. Uma laˆmina diele´trica de constante κ = 2,0 tem dimenso˜es de 10cm× 10cm× 4mm. a) Qual e´ a capacitaˆncia sem o diele´trico? b) Qual e´ a capacitaˆncia se o diele´trico preencher o espac¸o entre as placas? c) Qual sera´ a capacitaˆncia se um diele´trico com dimenso˜es 10cm×10cm×3mm for inserida no espac¸amento de 4,0mm? 53 a) Se na˜o ha´ diele´trico, a capacitaˆncia e´ C0 = ε0A d = ( 8,85×10−12C2/N.m2)(0,10m)2 (0,0040m) = 22×10−12F = 22pF (2.51) b) Agora, quando o capacitor e´ preenchido com um material com constante diele´trica κ , a sua capacitaˆncia aumenta para C = κC0 = (2,0)(22pF) = 44pF (2.52) c) Para esta nova configurac¸a˜o, assumindo que o capacitor esta´ eletricamente isolado, mantendo a carga constante, precisamos determinar a ddp entre as placas. Note que a ddp resultante e´ composta de duas contribuic¸o˜es, a da parte com o diele´trico e a parte vazia, i.e. ∆V = ∆Vdie +∆Vvaz = Edie ( 3 4 d ) +Evaz ( 1 4 d ) (2.53) Podemos ainda dizer que a intensidade do campo ele´trico no vazio e´ Evaz = E0 (quando na˜o existe diele´trico), logo, a parte com o diele´trico tem o seguinte campo Edie = Evaz κ = E0 κ , substituindo estes resultados acima, encontramos ∆V =Edie ( 3 4 d ) +Evaz ( 1 4 d ) = E0 κ ( 3 4 d ) +E0 ( 1 4 d ) =(E0d) ( 3 4κ + 1 4 ) =∆V0 ( 3+κ 4κ ) (2.54) Por fim, a nova capacitaˆncia e´ C = Q0∆V = Q0 ∆V0 (3+κ 4κ ) = Q0 ∆V0 ( 4κ 3+κ ) =C0 ( 4κ 3+κ ) (2.55) 54 substituindo os valores C = (22pF) ( 4∗2 3+2 ) = (22pF) ( 4∗2 3+2 ) = 35pF (2.56) Um cheque que podemos fazer e´ que na auseˆncia do diele´trico temos κ = 1; e substituindo este valor na expressa˜o da capacitaˆncia acima encontramos que C =C0. Exemplo 2: Uma combinac¸a˜o em paralelo de dois capacitores de placas paralelas con- tendo ar entre as placas, cada um com capacitaˆncia 2,00µF , e´ conectada a uma bateria de 12,0V . A bateria e´ desconectada da combinac¸a˜o e enta˜o um diele´trico κ = 2,50 e´ inserido entre as placas de um dos capacitores, preenchendo completamente o espac¸amento. Antes de a laˆmina ser inserida, determine a) a carga e a energia armazenada em cada capacitor, e b) a energia total armazenada nos capacitores. Apo´s a laˆmina ser inserida, determine c) a ddp em cada capacitor, d) a carga em cada capacitor, e e) a energia total armazenada nos capacitores. a) Como os capacitores esta˜o associados em paralelo, a tensa˜o em cada um deles e´ a mesma. Desta forma, a carga deles pode ser calculada a partir da ddp e capacitaˆncia C1,2 = Q1,2 ∆V → Q1,2 =C1,2∆V = (2µF)(12V ) = 24µC (2.57) b) A energia em cada um dos capacitores e´ U1 =U2 = Q∆V 2 = (24µC)(12V ) 2 = 144µJ (2.58) logo a energia potencial total e´ a soma da energia de cada um dos capacitores U =U1 +U2 = 2U1 = 288µJ (2.59) c) Como a capacitaˆncia equivalente esta´ relacionada com a ddp e a carga total, temos Ceq = Qtot ∆V ′ → ∆V = Qtot Ceq 55 e apo´s introduzir o diele´trico, temos Ceq =C1 +C′2 =C1 +κC2 = (2µF)+(2,5)(2µF) = 7µF (2.60) a carga total continua sendo a mesma (pois na˜o houve adic¸a˜o de carga/ligac¸a˜o bateria) Qtot = 48µC, calculamos assim a ddp entre as placas apo´s a inserc¸a˜o do diele´trico ∆V ′ = 48µC 7µF = 6,86V (2.61) d) Agora, a carga em cada um dos capacitores e´Q′1 =C1∆V ′ = (2µF)(6,86V ) = 13,7µCQ′2 =C′2∆V ′ = (5µF)(6,86V ) = 34,3µC (2.62) e) Por fim, a energia total armazenada nos capacitores apo´s a inserc¸a˜o do diele´trico e´ U =U ′1 +U ′ 2 = Q′1∆V ′ 2 + Q′2∆V ′ 2 = ( Q′1 +Q ′ 2 ) ∆V ′ 2 = (13,7µC+34,3µC) (6,86V ) 2 = 165µJ (2.63) • A diferenc¸a entre a energia calculada no item b) e e) e´ devido a atrac¸a˜o do diele´trico pelas cargas nas placas e, portanto, ele deve ser contido apra na˜o sofrer acelerac¸a˜o no espac¸amento entre as placas. • Durante este processo, −123µJ de trabalho e´ realizado sobre o diele´trico pelas forc¸as de contenc¸a˜o. • Para remover o diele´trico do espac¸o entre as placas, +123µJ deve ser realizado sobre ele e este trabalho e´ armazenado como energia potencial nos capacitores. Exemplo 3: Se consideramos o mesmo sistema do item anterior, so´ que agora o diele´trico e´ inserido lentamente em um dos capacitores enquanto a bateria permanece conectada. Determine a) a carga em cada capacitor, e b) a energia total armazenada nos capacitores, e c) o trabalho realizado pela bateria durante o processo de inserc¸a˜o. 56 a) Como a bateria continua conectada, com a inserc¸a˜o do diele´trico a ddp nos capaci- tores permanece 12V . Logo, as cargas nos capacitores sa˜oQ′1 =C1∆V = (2µF)(12V ) = 24µCQ′2 =C′2∆V = (5µF)(12V ) = 60µC (2.64) b) A energia total armazenada nos capacitores apo´s a inserc¸a˜o do diele´trico e´ U =U ′1 +U ′ 2 = Q′1∆V 2 + Q′2∆V 2 = ( Q′1 +Q ′ 2 ) ∆V 2 = (24µC+60µC) (12V ) 2 = 504µJ (2.65) c) O trabalho realizado pela bateria durante o processo de insera˜o e´ a tensa˜o da bateria multiplicada pela carga que passa atrave´s da bateria (durante este processo) ∆V = W Q →W = ∆Q∆V = (12V )(60µC−24µC) = 432µJ (2.66) 2.5 Visa˜o molecular de um diele´trico Um diele´trico enfraquece a intensidade do campo ele´trico entre as placas de um ca- pacitor. Isto acontece porque as mole´culas polarizadas do diele´trico produzem um campo ele´trico no interior do material em um sentido oposto ao campo produzido pelas cargas nas placas. O campo ele´trico produzido pelo diele´trico e´ devido aos momentos de dipolo ele´trico das mole´culas do material. 57 Quando um diele´trico e´ colocado num campo externo (por exemplo no campo de um capacitor carregado), suas mole´culas sa˜o polarizadas de forma tal que ha´ um momento de dipolo resultante paralelo ao campo. • Se as mole´culas sa˜o polares, seus momentos de dipolo, orientados de forma aleato´ria, tendem a se alinhar devido ao torque exercido pelo campo (aula 03). • Se as mole´culas sa˜o apolares, o campo induz momentos de dipolo que sa˜o paralelos ao campo. Em ambos os casos, as mole´culas no diele´trico esta˜o polarizadas na direc¸a˜o do campo externo. • O efeito resultante da polarizac¸a˜o de um diele´trico homogeˆneo em um capacitor de placas paralelas e´ a criac¸a˜o de cargas na superfı´cie das faces do diele´trico pro´ximas a`s placas. • A carga na superfı´cie de um diele´trico e´ chamada de carga ligada, pois ela e´ ligada a`s mole´culas da superfı´cie do diele´trico e na˜o pode se mover como a carga livre nas placas condutoras do capacitor. Esta carga induz um campo ele´trico, com sentido oposto ao campo externo. • Esta carga ligada produz um campo ele´trico com sentido oposto ao campo ele´trico produzido pela carga livre nos condutores. 58 • Assim, o campo ele´trico resultante entre as placas diminui. A densidade de carga ligada σi nas superfı´cies do diele´trico esta´ relacionada a` cons- tante diele´trica e a` densidade de carga livre σ nas superfı´cies das placas. Se o diele´trico e´ uma laˆmina fina entre as placas que esta˜o pro´ximas, o campo ele´trico no interior do diele´trico devido a`s densidade de carga ligada, +σi a` direita e −σi a` es- querda, e´ simplesmente o campo devido a`s densidades de carga de dois planos infinitos. Assim, este campo tem mo´dulo Ei = σi ε0 (2.67) Este campo esta´ dirigido para a esquerda e e´ subtraı´do do campo ele´trico E0 devido a` 59 densidade de cargas do capacitor, que tem mo´dulo E0 = σ ε0 (2.68) Podemos enta˜o calcular a intensidade do campo resultante E = E0/κ como a diferenc¸a E = E0−Ei = E0κ (2.69) ou ainda Ei = ( 1− 1 κ ) E0→ σi = ( 1− 1 κ ) σ (2.70) A densidade de carga ligada σi e´ sempre menor ou igual a` densidade de carga σ nas placas do capacitor, e e´ zero se κ = 1, que e´ o caso quando na˜o ha´ diele´trico. Parte III Corrente ele´trica e circuitos 3 Corrente ele´trica e circuitos de corrente contı´nua Nos capı´tulos anteriores, tratamos da eletrosta´tica, i.e. cargas em repouso. Neste capı´tulo, iniciamos o estudo de correntes ele´tricas, i.e. de cargas em movimento. Embora uma corrente ele´trica seja um fluxo de cargas em movimento, nem todas as cargas em movimento consituem uma corrente ele´trica. Quando dizemos que uma corrente ele´trica passa atrave´s de uma determinada su- perfı´cie, e´ porque deve existir um fluxo lı´quido de cargas atrave´s daquela superfı´cie. Podemos esclarecer isto a partir de: • Os ele´trons de conduc¸a˜o num pedac¸o de fio de cobre isolado esta˜o em movimento cao´tico com rapidez da ordem de 106m/s. Se passamos um plano hipote´tico atrave´s do fio, os ele´trons de conduc¸a˜o passara˜o atrave´s dele em ambos os sentidos numa taxa de muitos bilho˜es por segundo. Contudo, na˜o havera´ transporte lı´quido de carga, e assim, na˜o havera´ corrente. 60 • Mas se ligarmos as extremidades do fio a uma bateria, conduziremos o fluxo num sentido, de modo que havera´ enta˜o um transporte lı´quido de carga e consequente- mente uma corrente ele´trica. 3.1 Corrente e o movimento de cargas Corrente ele´trica e´ a taxa de fluxo de carga atrave´s de uma superfı´cie – tipicamente a sec¸a˜o transversal de um fio condutor. Se ∆Q e´ a cargaque flui atrave´s da a´rea da sec¸a˜o transversal A, no tempo ∆t , a corrente (ou corrente me´dia) e´ definida como a carga nesta a´rea por unidade de tempo I = ∆Q ∆t (3.1) Agora, se a raza˜o na qual o fluxo de carga varia com o tempo, enta˜o a corrente tambe´m varia com o tempo; portanto definimos a corrente instantaˆnea Iins como o limite diferencial da corrente me´dia Iint = dQ dt (3.2) Todavia, vamos considerar neste desenvolvimento a condic¸a˜o de estado estaciona´rio (i.e. a corrente na˜o e´ uma func¸a˜o do tempo). Sob esta condic¸a˜o de estado estaciona´rio, a cada ele´tron que entrar no condutor por uma extremidade, outro ele´tron deve sair pela outra extremidade, tal que tenhamos um fluxo constante ou ainda que a carga lı´quida seja conservada. A unidade de corrente no SI e´ o ampe´re (A) 1A = 1C/s (3.3) 61 Embora a corrente seja um escalar, representamos uma corrente num fio por uma seta para indicar o sentido em que as cargas esta˜o se movendo. Em geral desenhamos o sentido da corrente obedecendo a` seguinte convenc¸a˜o histo´rica: a seta da corrente e´ desenhada no sentido em que se moveriam os portadores positivos. Por convenc¸a˜o: • o sinal da corrente e´ positivo se a corrente e´ devida a cargas positivas se movendo no sentido positivo, ou a cargas negativas se movendo no sentido negativo. • a corrente e´ negativa se ela e´ devida a cargas positivas se movendo no sentido nega- tivo ou a cargas negativas se movendo no sentido positivo (i.e. a direc¸a˜o da corrente e´ oposta a` direc¸a˜o do fluxo de ele´trons). 3.2 Densidade de corrente Em um fio meta´lico, o movimento de ele´trons livres e´ bastante complexo. • Quando na˜o ha´ campo ele´trico no fio, os ele´trons livres se movem em sentidos aleato´rios com velocidades (relativamente grandes) da ordem de 106m/s. • Como os vetores velocidades dos ele´trons esta˜o orientados aleatoriamente, a velo- cidade me´dia e´ zero. • Agora, quando um campo ele´trico aplicado, o campo exerce uma forc¸a −e~E em cada ele´tron livre, variando sua velocidade no sentido oposto ao do campo. • O resultado lı´quido da acelerac¸a˜o e dissipac¸a˜o de energia (por coliso˜es dos ele´trons com os ı´ons da rede no fio) e´ que os ele´trons deslocam-se ao longo do fio com uma pequena velocidade me´dia, dirigida no sentido oposto ao do campo ele´trico, chamada de velocidade de deriva. Seja n : • a densidade de nu´mero de portadores de carga (por unidade de volume em um fio condutor de sec¸a˜o transversal A). 62 Considere que cada partı´cula tenha uma carga q e se mova no sentido positivo com uma ra- pidez de deriva vd. Durante o intervalo de tempo ∆t, as partı´culas percorrem uma distaˆncia vd∆t, logo todas as partı´culas no volume Avd∆t passam pelo elemento de a´rea. Logo, nu´mero de partı´culas neste volume e´ nAvd∆t e a carga total no volume e´ ∆Q = qnAvd∆t (3.4) e a corrente e´ portanto I = ∆Q ∆t = qnAvd (3.5) • Esta equac¸a˜o pode ser usada para determinar a corrente devida ao fluxo de qualquer espe´cie de partı´cula carregada. • Se a corrente e´ o resultado do movimento de mais de uma espe´cie de carga mo´vel, enta˜o a corrente total e´ a soma das correntes para cada uma das espe´cies individuais de cargas mo´veis. 63 Algumas vezes, estamos interessados na corrente I de um condutor particular (informac¸a˜o global). Em outras ocasio˜es, nosso interesse se volta para o fluxo de carga em um ponto particular no interior de um condutor (informac¸a˜o local). Um portador de carga (positiva) num determinado ponto fluira´ no sentido do campo ele´trico ~E naquele ponto. A fim de descrever esse fluxo, introduzimos a densidade de corrente ~J, uma grandeza vetorial cuja intensidade e´ a corrente por unidade de a´rea, J = I A → ~J = qn~vd (3.6) A corrente atrave´s de uma superfı´cie S e´ definida como o fluxo do vetor densidade de corrente atrave´s da superfı´cie, i.e. I = ∫ S ~J.nˆdA (3.7) No caso particular de uma superfı´cie plana e em que a densidade de corrente ~J e´ uniforme, enta˜o a corrente/fluxo pode ser expresso por I = ∫ S ~J.nˆdA = JAcosθ (3.8) 64 Enta˜o se θ < 90◦,a corrente I e´ positivase θ > 90◦,a corrente I e´ negativa A seta com o sinal positivo pro´ximo a cada fio na figura indica a escolha para o sentido de nˆ nas superfı´cies transversais. Exemplo 1: O fio usado para experimentos em laborato´rios para estudantes e´ geral- mente feito de cobre e tem raio de 0,815mm. a) Estime a carga total dos ele´trons livres em cada metro deste fio conduzindo uma corrente que tem mo´dulo igual a 1,0A. Con- sidere que haja um ele´trons livre por a´tomo. b) Calcule a rapidez de deriva dos ele´trons livres. a) Se ha´ um ele´tron livre por a´tomo, a densidade de nu´mero de ele´trons livre n e´ igual a` de a´tomos, i.e. n = na. A densidade de nu´mero de a´tomos na esta´ relacionada a` densidade de massa ρm, ao nu´mero de avogrado NA e a` massa molar M na = ρmNA M (3.9) Para o cobre, temos que ρm = 8,93g/cm3 e M = 63,5g/mol, logo na = ρmNA M = ( 8,93g/cm3 )( 6,02×1023a´tomos/mol) (63,5g/mol) = 8,47×1028a´tomos/m3 (3.10) 65 A densidade de carga dos ele´trons livres e´ igual a` densidade de nu´mero de ele´trons mul- tiplicada pela carga ρe =−en =−ena =− ( 1,6×10−19C )( 8,47×10281/m3 ) =−1,36×1010C/m3 (3.11) Por fim, a carga e´ a densidade de carga multiplicada pela volume Q = ρeV = ρeLA→ Q/L = ρeA = ρepir2 = ( −1,36×1010C/m3 ) pi ( 8,15×10−4m )2 (3.12) =−2,8×104C/m (3.13) b) A fim de calcular a velocidade de deriva usamos I = qnAvd→ vd = IqnA =− I enA = I Q/L = (−1,0C/s) (−2,8×104C/m) = 3,5×10 −2mm/s (3.14) O sinal negativo da corrente nos diz que as cargas negativas esta˜o se movimentado da esquerda pra direita, sentido que daria uma corrente positiva se as cargas fossem positivas. Exemplo 2: A rapidez de deriva dos ele´trons mo´veis no fio no exemplo anterior e´ muitı´ssima pequena. Se os ele´trons se movem ao longo dos fios com uma rapidez ta˜o baixa, por que a luz de uma laˆmpada no teto acende instantaneamente quando algue´m aciona o interruptor na parede? • Sempre ha´ um nu´mero muito grande de ele´trons de conduc¸a˜o atrave´s de um fio meta´lico. • Portanto, eles comec¸am a se mover ao longo de todo o comprimento do fio quase imediatamente quando o interruptor e´ acionado. • O transporte de uma quantidade significativa de ele´trons em um fio e´ feito na˜o por poucos ele´trons se movimentando rapidamente no fio, mas por um nu´mero muito grande de ele´trons se movendo lentamente no fio. • Cargas superficiais sa˜o estabelecidas nos fios e elas produzem um campo ele´trico. E´ este campo ele´trico produzido por estas cargas que guia os ele´trons de conduc¸a˜o 66 atrave´s do fio. Exemplo 3: Em certo acelerador de partı´culas, uma corrente de 0,50mA e´ conduzida por uma feixe de pro´tons de energia 5,0MeV que tem um raio igual a 1,5mm. a) Deter- mine a densidade de nu´mero de pro´tons no feixe. b) Se o feixe atinge um algo, quantos pro´tons o atingem em 1,0s? a) A densidade de nu´mero de pro´tons esta´ relacionada com I = qnAvd→ np = IqAvd podemos determinar a rapidez dos pro´tons a partir de sua energia cine´tica K = mpv2d 2 → vd = √ 2K mp = √ 2 ( 5,0×106eV) (1,67×10−27kg) (1,6×10−19J) (1eV ) = 3,09×107m/s (3.15) por fim, a densidade de nu´mero de pro´tons e´ np = I qAvd = ( 0,50×10−3A) (1,6×10−19C)pi (1,5×10−3m)2 (3,09×107m/s) = 1,4×1013pro´tons/m3 (3.16) b) O nu´mero de pro´tons N que atinge o alvo em 1,0s pode ser calculado a partir da carga que atinge o alvo em um intervalo de tempo ∆t e´ a corrente multiplicada pelo tempo: ∆Q = I∆t. Ademais, sabemos que a carga total ∆Q pode ser escrita em termos do nu´mero N e a carga de cada pro´ton q como ∆Q =
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