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Petição inicial Constitucional

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ... VARA CÍVEL DA COMARCA DE MACAPÁ/AP
 
 
 GAMA LTDA, pessoa jurídica de direito privado, Inscrição Estadual nº. 1111111, CNPJ nº. 03.222.222/0001-22, com sede à Rua Santos Dumont, Buritizal, Macapá/AP, CEP 68900-000, neste ato representado por João Maria Gama, portador do RG n.º 232323 e do CPF n.º 005.005.005.42, por intermédio de seu advogado e bastante procurador (procuração em anexo – doc. 01), com escritório profissional sito à Rua FAB, nº 23, Bairro CENTRO, nesta cidade de Macapá/AP, onde recebe notificações e intimações, vem, com fulcro nos artigos 5°, XI e XXII da Constituição Federal de 1988, artigo 927 e seguintes e artigo 1210, caput do Código Civil, requer a presente 
 AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE COM PEDIDO DE LIMINAR “INAUDITA ALTERA PARTES” CUMULADA COM PERDAS E DANOS
 PROCEDIMENTO ESPECIAL
 
 DESCONHECIDOS, posto que o autor não teve condições de identificar, face a hostilidade com que foi recebido, todos os invasores de sua propriedade, qual seja Fazenda Casa Azul, localizada no ramal do Amber, km 50, setor rural.
 
 I - DOS FATOS
 
 O autor é proprietário e possuidor de um imóvel rural localizado no ramal do Amber, Km 50, setor rural, na cidade de Macapá, e matriculado junto ao Registro de Imóveis Jucá, sob o registro n.º 2323. Ocorre que em 23 de fevereiro do ano de 2015, o referido imóvel foi invadido por terceiros, todos desconhecidos, sendo impossível a indicação dos nomes e da qualificação dessas pessoas. A ocupação da área ocasionou a destruição de uma plantação de soja existente no local, bem como foi erguido um galpão no imóvel, de 300 m². Prontamente, ao saber do ocorrido, deslocou-se, até o local, e verificou tratar-se realmente de uma invasão. Tentou de diversas formas fazer com que os invasores deixassem o local, sem sucesso. Com o acontecido, dirigiu-se até o Plantão Centralizado da Polícia Civil, onde comunicou o fato. (Doc. 02).
 
 II – DA DESNECESSIDADE DE INDIVIDUALIZAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DOS INVASORES
 
  Devido às características da demanda, convém registrar que, em se tratando de área invadida, não é necessário, além de frequentemente não ser possível, qualificar e discriminar todos e cada um dos que dela se apossem, razão por que doutrina e jurisprudência dispensam o proprietário de fazê-lo, cabendo ao oficial de justiça promover a citação de quem quer que sobre a fração do imóvel acima descrita se encontre.
 Vejamos o que diz a doutrina:
 Aspecto importante refere-se aos casos de impossibilidade de se identificar os réus, especialmente nas invasões coletivas de áreas desocupadas pelos proprietários. Há, muitas vezes, uma inviabilidade física ou material de encontrar ou discriminar os invasores. A solução, para tais situações, é ditada por uma jurisprudência já não recente, mas bastante pragmática: Na reivindicatória, havendo pluralidade de réus de identidades desconhecidas, exigir-se que sejam todos qualificados na inicial seria cercear o direito do proprietário de reivindicar sua propriedade. Far-se-á, portanto, a citação de quantos forem encontrados na área, especificando-se na certidão do oficial de justiça a identificação dos citados, para que haja um exame de cada caso por ocasião do despacho saneador, já que se cuida de pluralidade de ocupantes, respondendo cada um, isoladamente, pela ocupação". No voto que inspirou a ementa, encontra-se: "Em ações dessa natureza, temos, portanto, quando há pluralidade de réus, de identidade desconhecida, seria cercear o direito do proprietário de reivindicar sua propriedade exigir-se fossem todos os réus qualificados na inicial. Quase sempre suas identidades são desconhecidas. São pessoas que do dia para a noite se apossam de áreas de terras e ali se estabelecem, levantando barracos. Portanto, nada há de inusitado sejam mencionados os desconhecidos e se requeira a citação de tantos quanto forem encontrados na área. Arnaldo Rizzardo, Direito das Coisas, n.10.13.4.3, Ed. Forense, 3ª ed, 2007. Ultrapassado este introito, passaremos a análise do direito.
 
 III – DO DIREITO
 
 O Boletim de Ocorrência (Doc. 02), demonstra claramente o esbulho que o Autor está sofrendo, caracterizando-se, assim, a impossibilidade do exercício dos direitos inerentes à posse e à propriedade, nos terrenos invadidos. Tem, assim, o direito de ser restituído na posse do terreno, conforme preceituam os artigos 1210 do Novo Código Civil e art. 926 do CPC. Não havendo possibilidade do Autor resistir à invasão por seus próprios meios, cabe, agora, valer-se da tutela do Poder Judiciário, para ver restituída a sua posse.
 O Art. 927 do CPC determina que incumbe ao Autor provar “I – a sua posse;II – a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;III – a data da turbação ou do esbulho;IV – [...]; a perda da posse, na ação de reintegração.”
 É isso o que faz o autor nos itens que seguem.
 A posse do autor, conforme a lição da doutrina a seguir, está consubstanciada pela certidão do Registro de Imóveis dando conta de que o requerente é proprietário do bem objeto da lide, sendo prova suficiente de sua posse. 
 Como já verificado, os réus não usufruem de qualquer direito inerente a posse violenta e clandestina que exercem sobre os terrenos do Autor. Portanto, configurado está o esbulho, ensejando a concessão da medida de reintegração de posse liminar. Necessário ainda, comentar que o esbulho não passa de ano e dia, conforme se verifica no Boletim de Ocorrência (Doc. 02) que instrui esta peça. Na realidade a invasão ocorreu no dia 23 de fevereiro de 2015. Por consequência, impera a concessão da medida liminar de reintegração de posse em favor do Autor, conforme lhe assegura o disposto no art. 928, 1ª parte, do CPC abaixo transcrito: "Art. 928. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição de mandado liminar de manutenção ou reintegração".
 
NESTE SENTIDO, POSICIONA-SE A JURISPRUDÊNCIA:
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. INVASÃO DE LOTE RURAL. CLANDESTINIDADE. POSSE NOVA. JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA REALIZADA. RETOMADA ORDENADA. MANUTENÇÃO.
 Comprovada através de audiência de justificação prévia que a posse dos requeridos é nova e clandestina, é cabível a concessão de liminar para determinar a imediata desocupação da área e sua devolução à posseira primeva. (TJRO - AI 0013340-42.2011.8.22.0000; Rel. Des. Moreira Chagas; Julg. 27/03/2012; DJERO 03/04/2012; Pág. 74)
 Como bem destaca o doutrinador Nelson Nery Júnior em sua obra (Código de Processo Civil Comentado Comentado, 5ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 2001, p. 1297): "As possessórias se caracterizam pelo pedido de posse com fundamento no fato jurídico posse. O que determina o caráter possessório de uma ação não é só o pedido, como à primeira vista poderia parecer, mas sim a causa petendi, os fundamentos do pedido do autor".
 Para a professora Maria Helena Diniz a posse segundo Ihering é a exteriorização ou visibilidade do domínio, ou seja, a relação exterior intencional existente normalmente entre a pessoa e a coisa, tendo em vista a função econômica desta (Código civil anotado. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 751). No mesmo sentido, Rubens Limongi França conceitua a posse como o conjunto dos atos, não defesos em lei (posse justa), exercidos sobre a coisa pelo sujeito, ou por terceiro em seu nome (fâmulos da posse), tal como se dela fosse proprietário, ou titular de algum respectivo direito real (quase posse) (A posse no Código Civil: noções fundamentais. São Paulo: Bushatsky,1964, p. 13).
 Logo é fato público o notório o atendimento a função social da propriedade, uma vez que esta é produtiva, porém, caso não atendesse a sua função social, não seria objeto da discussão em sede de tutela possessória. Incontroverso também o esbulho, uma vez que este encontra-se cabalmente provado, logo estão presentes os requisitos da medida assim requerida. Ressalta-se, por oportuno, que o próprio legislador assevera que a posse é o conjunto de atos nãodefesos em lei,
ao revés, não atendido este requisito principal, não se pode falar em posse justa, muito menos em direito adquirido em relação ao bem.
 DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE CUMULADA COM PERDAS E DANOSMATERIAIS - CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRÊNCIA.
 
O julgamento antecipado da lide não provoca o cerceamento de defesa, quando presentes os seus requisitos. O juiz é o destinatário da prova e deve decidir quais provas são relevantes à formação de sua convicção. Acresça-se a isso, o fato de que, no caso em tela, a documentação constante dos autos foi suficiente para formar o convencimento do M.M. Juiz, não havendo que se falar em maior dilação probatória. RECURSO IMPROVIDO. 
 Emerge, destarte, a cristalina fundamentação da causa de pedir.
 
 IV – DA INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS
 
  O réu não apenas privou o autor do uso e gozo do imóvel, como também vem usando-o e gozando-o gratuitamente. É, portanto, mister que seja o requerido condenado a indenizar o proprietário, em montante correspondente ao que estaria lucrando com o devido plantio da soja, o que está impedido de fazer por culpa do invasor.
 
 V - DA INEXISTÊNCIA DE DIREITO À INDENIZAÇÃO POR ACESSÕES INDUSTRIAIS E BENFEITORIAS.
 
 Estando o imóvel devidamente registrado em nome do autor, a falta de justo título e a violência do réu na invasão do imóvel caracteriza a má-fé da posse, acarretando a inexistência de direito à indenização por acessões industriais (“construções”) e benfeitorias porventura realizadas.
 Sobre o tema, vejamos:
 
 APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REIVINDICATÓRIA - DIREITO DE RETENÇÃO POR BENFEITORIAS - IMPOSSIBILIDADE - POSSE DE MÁ-FÉ - EXEGESE DOS ARTS. 1219 E 1220 DO CÓDIGO CIVIL - DECISÃO MONOCRÁTICA REFORMADA NESTA PARTE - RECURSO PROVIDO.
 (TJPR - 17ª C.Cível - AC 424113-2 - Foro Regional de Piraquara da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Paulo Roberto Hapner - Unânime - J. 19.09.2007)
 Do voto do eminente relator, transcreve-se:
 “No caso dos autos, é certo que os apelados sempre souberam que o imóvel ocupado por eles não lhes pertencia, inclusive não comprovaram a tentativa de regularização do mesmo, o que evidencia a ciência de que a posse exercida era ilegal e maculada de má-fé.
 Isto porque, consoante entendimento de J. M. Carvalho Santos em "Código Civil Brasileiro Interpretado" (vol. II, pág. 43, Ed. Freitas Bastos), "a boa-fé é a firme convicção do possuidor de que a coisa possuída realmente lhe pertence".”
 
 Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização.
 
 Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
	 Destarte, tecidas tais considerações, passa-se ao que se pede.
 VI – DO PEDIDO
 
 Ante o exposto, requer-se a Vossa Excelência:
 A citação, por oficial de justiça, dos requeridos e de todos quantos estejam sobre a área supra delimitada para, querendo, apresentar resposta, sob pena de revelia.
 A procedência, ao final, da presente para os fins de:
 ordenar ao réu a restituição da área e a imissão do autor na posse, expedindo-se para tanto o competente mandado;
 condenar o réu a indenizar o autor, em decorrência da ocupação do imóvel, em montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais);
 declarar, ante a má-fé da posse, a perda das construções eventualmente erigidas, e a inexistência de obrigação do autor de ressarcir o invasor quanto às benfeitorias porventura realizadas;
 condenar o réu ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios;
 Oficie-se o Ministério Público para se manifestar acerca do interesse nesta demanda.
 
 VII – DAS PROVAS
 
 Requer-se, por fim, a produção de todos os meios de prova admissíveis, especialmente a documental, a testemunhal, a pericial e o depoimento pessoal do réu.
 Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)
 Termos em que pede,
 e espera deferimento.
 
 Estado/Cidade, dia de mês ano.
 
 _________________________ 
 Nome Adovogado
 OAB-XXXX
 
 Documentos em anexo:
 PROCURAÇÃO
 BO
 REGISTRO NO CARTÓRIO DE IMÓVEIS
 NOTAS FICAIS RELATIVAS AO PREJUÍZO SOFRIDO

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