Buscar

Erro Médico

Prévia do material em texto

1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM – PARÁ 
OUTUBRO/2009 
2 
 
 
Sumário 
 
RESUMO ......................................................................................................................... 3 
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 4 
2. ERRO MÉDICO NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA) .................... 4 
2. ERRO MÉDICO NO BRASIL .................................................................................. 6 
3. CAUSAS DO ERRO MÉDICO ................................................................................. 8 
4. COMO REAGIR AO ERRO MÉDICO ................................................................. 10 
5. PREVENÇÃO DE ERROS MÉDICOS ................................................................. 11 
6. ASPECTOS JURÍDICOS DO ERRO MÉDICO ................................................... 13 
7. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 14 
REFERÊNCIAS............................................................................................................ 14 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
RESUMO 
 
A prática da medicina é realizada desde os primórdios da humanidade em que o 
homem buscava entender seu corpo em busca de conhecer suas potencialidades e 
limitações. A busca por tratamento também foi alvo da apreciação da humanidade, mas 
algumas vezes a ocorrência de certos sintomas pode confundir ou camuflar o diagnóstico 
ou mesmo fazer com que o médico cometa um equívoco. Para evitar este tipo de 
acontecimento é defendido com Código de Ética Médica (CEM) que o profissional de 
saúde, no caso o médico, deve estar continuamente em busca de atualizações e reciclagens 
para acompanhar o avanço tecnológico e das novas descobertas científicas quanto a saúde 
humana, de modo a oferecer a seus pacientes o melhor tratamento possível, sem colocar 
em risco a saúde do mesmo. Mas até o excesso de tecnologia se mostra danosa para a 
relação médico-paciente, tornando-a impessoal e defensiva para o profissional da saúde. 
O erro médico tem também fatores que potencializam a ocorrência dos mesmo, sendo 
muitas vezes o erro resultante de um acúmulo de situações e estados fisiológicos que 
favorecem a falta de atenção médica. Desde o aprendizado acadêmico o profissional 
possui sua formação centrada na ausência de equívocos, o que o torna de certa forma mais 
vulnerável a inobservância do ocorrido, sendo necessária uma alteração quanto a 
ideologia do aprendizado da ciência da saúde voltada para um maior monitoramento do 
próprio profissional reconhecendo que este é passível de erros como outros profissionais. 
As reações diante do ocorrido são diversas, interferindo principalmente na vida 
profissional e acarretando ações jurídicas diversas que dificilmente, no Brasil, chegam a 
esfera judicial visto que quando ocorrentes visam ressarcimento financeiro do mal 
causado. Os estabelecimentos de saúde não estão isentos de responderem pelos danos 
causados aos seus usuários. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O CEM em seu Capítulo III que trata da responsabilidade profissional, artigo 1° 
veda ao médico: 
“Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como 
imperícia, imprudência ou negligência.” 
 Mesmo com todos os avanços da medicina o problema do erro médico continua a 
persiste na prática médica, podendo resultar em tragédias, prolongamento do tempo de 
internação e aumento dos custos hospitalares (CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
 Deve-se entender como erro médico não apenas o fato de o profissional de saúde 
fornecer um laudo errôneo, mas também realizar atitudes que não condizem com a prática 
médica. Uma das atitudes mais ocorrentes é a encaminhação de pacientes sem a 
necessidade de tal procedimento para especialistas expondo assim o paciente a ambientes 
hospitalares expondo o paciente a diversas possibilidades de contaminação por doenças 
infecciosas e oneramento do serviço ao paciente além de criar uma sobrecarga nos 
serviços de saúde. 
 O erro presumido é uma das acusações mais freqüentes nas ações judiciais. Os 
doentes também incluem a falta de consentimento para que o médico realize as 
intervenções, mesmo quando a operação se apresenta dentro das exigências técnicas e 
legais (MINOSSI & SILVA, 2005). 
 Atualmente levantamento da ocorrência de erros médicos em muitas regiões do 
planeta é ausente ou quando ocorrente é ineficiente, o que não demonstra a real dimensão 
deste problema. Os poucos casos mostrados na mídia atentam a população para este tipo 
de ocorrência, mas muitas vezes os pacientes não são informados quando tal fato os 
atinge, sendo a ocultação uma prática abusiva por parte do profissional de saúde que a faz 
por diversas finalidades. 
 Este trabalho objetiva a realização de levantamento bibliográfico quanto a 
ocorrência, conseqüências e modos de prevenção de erro médico. 
 
2. ERRO MÉDICO NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA) 
 
 A incidência de erros médicos é, diferente do imaginado pela população, bastante 
elevado atingindo nos EUA cerca de um milhão de pacientes por ano vítimas de erros 
5 
 
 
médicos e eventos adversos com drogas. Sendo a quarta causa de morte nos EUA. Em 
unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica, nas quais é grande a complexidade e 
a freqüência de procedimentos, a ocorrência de erros é maior (15%) acontecendo 
principalmente no período noturno e envolve administração incorreta de droga (35%) e 
erro na interpretação da prescrição (26%). 
 Nos EUA, cerca de um milhão de pacientes por ano são vítimas de eventos 
adversos com drogas (administradas por profissionais de saúde). Destes, 140.000 morrem 
anualmente (ROBERTSON, 1995). 
 Recente estatística demonstra que a probabilidade de morte decorrente de evento 
adverso com drogas em pacientes hospitalizados (390/dia) é 3 vezes maior do que as 
decorrentes por acidentes automobilísticos (125/dia), e infinitamente maior do que a 
chance de morrer em um acidente aéreo (0,27/ 1 milhão de decolagens) (BERLIN et al., 
1998). 
 Em 1991 das 30.121 admissões em 51 hospitais de Nova Iorque, foi encontrada 
uma taxa de 3,7% de eventos adversos com drogas, que levaram ao prolongamento da 
estadia hospitalar ou produziram seqüelas nos pacientes. Destes, 69% foram causados por 
erro médico (BRENNAN et al., 1991). Taxas bem maiores foram evidenciadas 
recentemente nos EUA prolongando em o tempo de internação em dois a quatro dias e 
geraram um custo adicional de 4.500 dólares por paciente (CLASSEN et al., 1997; 
BATES et al., 1995). 
 A reação adversa às drogas causada por erros médicos é recentemente considerada 
a quarta principal causa de morte nos EUA (10) (Tab. 1). 
Tabela 1 – Causas de morte nos EUA no ano de 1994. 
Doença N° absoluto mortes/ano 
1° Doenças cardiovasculares 743.460 
2° Câncer 529.904 
3° Acidente vascular cerebral 150.108 
4° Reação adversa a drogas 106.00 
5° Doenças pulmonares 101.077 
6° Acidentes 90.523 
7° Pneumonia 75.719 
8° Diabetes 53.894 
Modificado de Lazarou et al., 1998. 
6 
 
 
 
 Os médicos que mais erram são os mais novos, principalmente os que estão nos 
primeiros anos de treinamento sendo devido a erros de prescrição (56%) e os de 
administração (24%) (WEINGART, 2000). Os principais fatores relacionados ao erro 
médicossão a idade do paciente (pediátricos e idosos) e procedimentos cirúrgicos 
complexos. 
 Os valores descritos na literatura apesar de elevados são subestimados, visto que 
os métodos de pesquisa não são normatizados, as definições do tipo de erro não são 
uniformes, e os próprios profissionais de saúde relutam em admitir seus erros 
(CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
 
2. ERRO MÉDICO NO BRASIL 
 
Não existem estatísticas oficiais sobre a totalidade de processos por erro médico 
no Brasil, sendo que o número de causas judiciais por erro médico, no entanto, vem 
aumentando no Brasil, não se podendo afastar que em breve tenhamos uma realidade 
completamente diferente da observada hoje (MINOSSI, 2009). Atualmente o cliente se 
sente com direitos iguais, enquanto o médico ainda assume posturas arrogantes baseadas 
na detenção do conhecimento e no status de sua profissão. E a relação se torna desigual, 
pois os direitos são iguais, mas os deveres não se distribuem de forma equitativa. Tal 
relação de poder transforma o resultado insatisfatório decorrente de um ato médico em 
uma insatisfação que afeta gravemente o indivíduo, levando-o ao desespero. Tal situação 
aumenta o número de queixas formalizadas contra atitudes médicas, como manifestação 
da impotência da população diante dos agravos à saúde e diante da qualidade dos serviços 
que lhe são prestados. (FUJITA & SANTOS, 2009). 
 No Brasil Fujita & Santos (2009) realizaram levantamento de informações de 
processo de erro médico em Goiás e os resultados demonstraram que as denúncias foram 
mais ocorrentes nas especialidades de ginecobstetrícia (27), ortopedia (159) e plástica 
(139) (Tab. 2). 
 
 
 
7 
 
 
Tabela 2 – Estratificação percentual das denúncias segundo agrupamento de 
especialidades. 
Especialidade Especialistas Denúncias % 
Plástica 743.460 139 64,0 
Ortopedia 529.904 159 58,7 
Neuro e psquiatria 150.108 104 43,7 
Ginecobstetrícia 106.00 270 40,5 
Oftalmologia 101.077 96 35,3 
Pneumologia 90.523 13 33,3 
Oncologia 75.719 24 31,6 
Gastroenterologia 53.894 36 31,0 
Pediatria 371 83 22,4 
Cardiologia 397 82 20,6 
Modificado de Fujita & Santos (2009) 
 
Em estudo similar realizado na Bahia no período de 2000 a 2004 Bitencourt et al 
(2007). Neste estudo dos 372 médicos processados no Conselho Regional de Medicina 
da Bahia (CREMEB) 42,7% (n = 159) foram denunciados no artigo 29 (erro médico). 
Destes, a maioria (78,6%) era do gênero masculino, e a idade média era de 44 anos. As 
especialidades mais freqüentes foram: Ginecologia-Obstetrícia (24,8%), Cirurgia Geral 
(9,4%) e Anestesia (7,4%). A maioria das denúncias de erro médico se deu em 
atendimento público (80,1%, n = 109) e relacionada a atos cirúrgicos (66%, n = 97). Foi 
identificada negligência em 67,3% (n = 107) das denúncias, imprudência em 23,3% (n = 
37) e imperícia em 8,8% (n = 14). Apenas 23,9% (n = 38) foram considerados culpados, 
enquanto 31,4% (n = 50) foram absolvidos por falta de provas e 44% (n = 70) por 
comprovada inocência. 
Com o aumento do número de pressupostos erros médicos no Brasil, tem se 
observado uma situação inusitada, que é a consolidação da medicina defensiva, onde o 
médico facultativo na tentativa de se proteger exagera no pedido de exames subsidiários 
mais sofisticados, se omite nos procedimentos de alto risco e, por vezes, recusa pacientes 
graves, com doenças complexas e com maior potencial de complicações ou seqüelas 
(MINOSSI, 2009). 
 
8 
 
 
3. CAUSAS DO ERRO MÉDICO 
 
Muitas vezes a causa do erro médico é o desgaste psicológico (tédio, ansiedade, 
estresse), fatores ambientais (barulho, calor) e fisiológicos (fadiga, sono). Após um 
plantão de 24 horas, sem dormir, o desempenho psicomotor de um profissional de saúde 
é semelhante ao de um indivíduo legalmente bêbado (nível sérico alcoólico maior ou igual 
a 0,08%). Este fato nos faz atentar para o que prescreve o CEM sobre o profissional de 
saúde possuir vários empregos o que compromete sua capacidade fisiológica e, por 
conseguinte, sua capacidade profissional. 
 Para melhor classificação dos erros médicos de acordo com suas características 
foram propostas as seguintes conceituações segundo Carvalho & Vieira (2002): 
 Erro medicamentoso: qualquer erro que ocorra, desde a prescrição até a 
administração da droga ao paciente. 
Erro de prescrição: escolha incorreta da droga, erro de cálculo na dose, via de 
administração, concentração, velocidade de infusão ou prescrições ilegíveis. 
Erro de preparação: diluição incorreta, reconstituição inapropriada, mistura de 
drogas que são fisicamente e quimicamente incompatíveis, medicamento fora do prazo 
de validade. 
Erro de administração: procedimento ou técnica inapropriada de administração 
de medicamento, incluindo: via errada; via correta, porém em local errado (ex.: deveria 
ser administrado no olho esquerdo e foi administrado no olho direito); erro na velocidade 
de administração; intervalo diferente do prescrito; omissão (não administração do 
medicamento prescrito) e doses extras. Incluem-se, também, neste grupo, erros por 
semelhança na aparência e/ou nome do medicamento. 
Evento adverso da droga: injúria causada pelo uso de uma droga, podendo variar 
desde uma simples manifestação cutânea até a morte. Pode ser de dois tipos: os causados 
por erros e os inerentes à droga. Os causados por erros são chamados evitáveis, e os 
inerentes ao próprio medicamento, portanto não evitáveis, são chamados de reações 
adversas. 
 Uma das explicações para um grande número de erros observados na prática 
médica é justamente a ausência de mecanismos que diminuam a sua ocorrência, ou que 
interceptem o erro antes de chegar ao consumidor final (o paciente). Ou seja, trabalha-se 
com a premissa de que o profissional de saúde não comete erros e, portanto, não se criam 
9 
 
 
mecanismos de prevenção e correção. Este fator é ocorrente desde as escolas e 
treinamentos práticos que estimula um esforço constante e reforça um imaginário que 
preconiza a realização de trabalho livre de erros com grande ênfase em perfeição, tanto 
no diagnóstico quanto no tratamento (CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
 Os fatores fisiológicos, ambientais e psicológicos também contribuem para a 
ocorrência de erros. Em estresse o indivíduo tende, frente a um problema, tende a utilizar 
um modelo a que ele esteja mais familiarizado (mesmo que inapropriado) do que lançar 
mão de modelos recentemente aprendidos e mais adequados à situação (ibid). 
 O erro médico provém da ocorrência de vários fatores que confluem para a sua 
ocorrência (Fig. 2). 
 
Figura 1 - Principais fatores que interferem na ocorrência de erros (Fonte: Carvalho & 
Vieira, 2002). 
 
Outra causa do erro médico levantado por Minossi e Silva (2005) é a relação quase 
impessoal médico-paciente e a especialização transformado o médico num técnico 
altamente adestrado e impessoal, que cada vez mais tem dificuldade de conciliar os 
conhecimentos milenares da Medicina tradicional, com os enormes avanços tecnológicos 
e instrumentais da Medicina moderna. Com o avanço da medicina o grande arsenal 
tecnológico beneficia em muito o ser humano, mas se tornou mais invasiva com maiores 
riscos e danos ao paciente (MINOSSI, 2009). 
 Sendo assim, os efeitos danosos verificados durante o exercício da Medicina, não 
podem mais ser atribuídos somente ao binômio médico-paciente, e sim, à coletividade 
como um todo, já que é também beneficiária desse avanço (ibid). 
10 
 
 
 
4. COMO REAGIR AO ERRO MÉDICO 
 
 A dificuldade em se aceitar o erro impede a ação de tomada de consciência em 
relação ao problema. Erros são ocorrentes, porém minimizá-losrequer, primeiramente, a 
aceitação de sua existência. O impacto emocional é sempre grande (medo, culpa, raiva, 
vergonha e humilhação) sendo, na maioria das vezes, vivenciado de forma solitária. O 
aprendizado individual resultante de um erro, se houver, será sempre particular, 
impossibilitando uma avaliação externa ampla para melhoria da prática como um todo 
(CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
 A possibilidade de ser taxado como relapso e incompetente, de sofrer censuras ou 
aumento de vigilância, estimula a prática de se encobrir e negar os erros, ao invés de 
admiti-los (ibid). 
 A maioria das instituições gerencia de forma inadequada as tentativas de controle 
e prevenção de erros na prática médica, portanto seu controle e prevenção baseiam-se em 
maior vigilância, censuras e punições. 
 A partir da aceitação de que errar é humano uma postura mais sistêmica, uma 
visão mais ampliada das situações ou do conjunto de falhas que permitiram a eclosão do 
erro, seria a maneira mais eficiente de preveni-lo e evitá-lo. 
 Os erros médicos não são comentados pelo profissional ao paciente e dentre as 
razões apresentadas pelos profissionais de saúde para este fato, destacam-se: evitar o 
aumento de ansiedade no paciente, evitar a diminuição da confiança do paciente no seu 
médico, além da possibilidade de enfrentarem um processo legal e mesmo em casos em 
que o erro gera tratamento médico adicional, monitorização, risco de vida e 
acompanhamento médico futuro, os médicos ainda se sentem inclinados a não revelarem 
seus erros (GREELY, 1999). O médico continua sendo o que mais reporta esse tipo de 
erro, quando comparado aos enfermeiros e aos próprios pacientes (VAN DEN BEMT, 
1999). 
 Rosner (2000) em seu artigo discute o envolvimento ético-profissional dessa 
questão e concluiu que é obrigação do médico que lesa seu paciente revelar o ocorrido 
com honestidade. Este fato inclui um pedido formal de desculpas, e, em alguns casos, 
recompensa material. Honestidade e desculpas são obrigatórios. Admitir os erros para os 
11 
 
 
pacientes não deve ser somente uma questão ética, porém um pré-requisito prático para 
prevenções futuras de erros. 
 Willman et al. (1996) apud Carvalho & Vieira (2002) em sua pesquisa encontrou 
que de 149 pacientes investigados, 98% se posicionaram a favor de saberem sobre erros 
médicos que aconteceram em seus tratamentos, 14% destes pacientes trocariam de 
médico após um erro pequeno, e 65% após um erro de gravidade moderada. Os pacientes 
levariam em conta se o erro fosse revelado pelo próprio médico ou por outros, na hora de 
decidir se iriam ou não processá-lo, em casos de erro com gravidade moderada. Doze por 
cento desses pacientes processariam mesmo se fosse o médico que revelasse o erro, porém 
este percentual aumentaria para 20% caso soubessem do erro por outras pessoas. O estudo 
concluiu que os pacientes querem ser informados sobre erros que tenham incidido sobre 
eles durante seus tratamentos médicos, e este fato pode, inclusive, diminuir o número de 
processos e ações punitivas, enfatizando ainda a importância da comunicação honesta e 
clara entre os médios e seus pacientes. 
 
5. PREVENÇÃO DE ERROS MÉDICOS 
 
 As atividades médicas implicam em interação entre pessoas. Assume-se, portanto, 
que a boa prática médica se caracteriza pelo equilíbrio entre o conhecimento científico, a 
tecnologia disponível e o relacionamento entre médico e paciente (FUJITA & SANTOS, 
2009). 
A abordagem atual, focada no indivíduo, deve ser trocada por uma visão mais 
sistêmica do problema (REASON, 2000). Atualmente o erro médico é visto como uma 
falha pessoal, desatenção, esquecimento, no qual o profissional precisa ser identificado e 
punido. Na visão sistêmica, defendida pela maioria dos autores, o erro é conseqüência de 
uma série de fatores, e tenta-se construir mecanismos de defesa para evitá-lo ou diminuir 
seu impacto, quando ele ocorre (GLAUBER et al., 2000) (Fig. 3). 
 
12 
 
 
 
Figura 3 - Comparação entre as visões individualizada e sistêmica do erro médico (Fonte: 
Carvalho & Vieira, 2002). 
 
 A prevenção de erros deve basear-se na busca de causas reais, que geralmente 
incluem erros no sistema de organização e implementação do serviço (CARVALHO & 
VIEIRA, 2002). Deve-se tratar o erro médico como parte integrante de um sistema, 
criando-se mecanismos de investigação ampla que permitam o conhecimento da real 
dimensão do problema, e formas eficazes de abordá-lo. É importante, também, estimular 
a mudança da cultura de formação nas universidades para que o erro seja encarado com 
maturidade, dando condições para que o profissional envolvido reporte seus próprios 
erros (PIETRO at al., 2000). 
 O antigo estilo de combate aos erros, com aumento de vigilância e identificação 
dos indivíduos fora de linha, deve ser rejeitado e entendido como contraproducente 
(NOLAN, 2000). Além de induzirem a novos erros, por aumento do estresse no ambiente 
de trabalho, encorajam a desonestidade técnica e intelectual, artifícios usados para 
imputar a outros a responsabilidade dos erros, ou a tentativa de escondê-los, mesmo que 
isso leve a sérios prejuízos (BARACH & SAMALL, 2000). 
 Treinamentos contínuos previnem a ocorrência de erros em técnicas e 
procedimentos médicos, aplicação de testes de performance e educação continuada, 
direcionada para as necessidades dos setores em questão, e tendo em foco a criação de 
rotinas para os procedimentos envolvidos (CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
A atualização técnica também é fator para a diminuição da ocorrência de erros 
médicos, pois o profissional de saúde poderá utilizar novas técnicas de atenção a saúde 
13 
 
 
em seus pacientes, fornecendo a estes melhores serviços. A busca por atualização 
profissional é defendida no CEM em seu capítulo I, inciso V: 
“Compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e 
usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente.” 
 A prescrição das receitas de forma eletrônica diminuem erros e eventos adversos 
com drogas em até 80% (BATES, 2000) devido a legibilidade do documento. 
No futuro, médicos prescreverão on-line, tendo retorno imediato sobre problemas 
como alergias, interações medicamentosas e auxílio na escolha do melhor tratamento 
(CARVALHO & VIEIRA, 2002). 
 
6. ASPECTOS JURÍDICOS DO ERRO MÉDICO 
 
 O erro médico pode ser argüido sob duas formas de responsabilidade: a legal e a 
moral. A responsabilidade moral é da competência dos Conselhos de Medicina, através 
de processos ético-disciplinares. A responsabilidade legal é atribuída pelos tribunais, 
podendo comportar, entre outras, as ações penais e civis (MINOSSI, 2009). 
Segundo Minossi (2009) a responsabilidade penal do médico é regulada 
principalmente pelo Código Penal, que está em vigor desde 1940, mas teve a parte geral 
reformada pela Lei n° 7.209/84, além de outras leis específicas como a Lei dos Juizados 
Especiais Civis e Penais, a Lei n° 9.099/95. 
Não é comum que o médico seja processado criminalmente, mas sim civilmente, 
pois o que se deseja é, de um modo geral, a reparação financeira do dano (MINOSSI, 
2009). 
Atualmente, no Brasil, a responsabilidade civil por erro médico é disciplinada pelo 
Código de Defesa do Consumidor e pelo novo Código Civil, que dispõem sobre a natureza 
da responsabilidade do profissional e dos prestadores de serviço de saúde, as modalidades 
de indenização cabíveis, o ônus da prova, entre outros aspectos. A legislação aplicável é 
relativamente recente, já que a vigência do Código de Defesa do Consumidor data de 11 
de março de 1991, e a do novo Código Civil, de 11 de janeiro de 2003 (MANSUR & 
AYER DE OLIVEIRA, 2006). 
A responsabilidadecivil gira em torno de duas teorias: a subjetiva e a objetiva 
(PIMENTA & MENDES, 2004). 
14 
 
 
A teoria subjetiva tem na culpa seu fundamento basilar. Argüi-se a 
responsabilidade do autor quando existe culpa, o dano e o nexo causal (MINOSSI, 2009). 
Na teoria objetiva da responsabilidade, que tem no risco sua viga mestra, o 
responsável pelo dano indenizará simplesmente por existir um prejuízo, não se cogitando 
da existência de sua culpabilidade, bastando a causalidade entre o ato e o dano, para 
obrigar a reparação (ibid). 
Atualmente, mesmo com as mudanças ocorridas no Código de Defesa do 
Consumidor e no novo Código Civil, em relação ao regime de responsabilidade civil, os 
médicos (e demais profissionais liberais), respondem, perante o paciente, somente 
mediante a comprovação de sua culpa (negligência, imprudência ou imperícia) (ibid). 
Os estabelecimentos de saúde respondem, de um modo geral, objetivamente pelos 
danos causados aos seus usuários. Fato semelhante ocorre na cirurgia plástica, onde os 
tribunais com freqüência aplicam a teoria objetiva na cirurgia embelezadora, alegando 
que nesses casos configura obrigação de resultados e não de meios (ibid). 
 
7. CONCLUSÃO 
 
O erro médico é um grande problema de saúde pública, necessitando de maior 
atenção, de um método eficaz de quantificar sua ocorrência para acompanhamento de sua 
evolução e a definição de ações que tratem a convivência médica com a sua ocorrência; 
Os profissionais de saúde devem reconhecer que são passíveis de erros e assim 
tomarem medidas de prevenção da ocorrência dos mesmos; 
Deve-se estabelecer método que, primeiramente, faça o levantamento e, 
posteriormente, reflexões e aprimoramentos quanto as conseqüências psicológicas do 
profissional de saúde e como minimizá-las para não interferir no aproveitamento 
profissional; 
A ocorrência de erro médico acarreta em ações nas diversas esferas do judiciário, 
mas visam principalmente o ressarcimento do mal causado. O estabelecimento de saúde 
também é passível de responsabilidade. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARACH, P.; SMALL, S. D. Reporting and preventing medical mishaps: lessons from 
non-medical near miss reporting systems. BMJ, v.320, p.759-63, 2000. 
15 
 
 
 
BATES, D. W. Using information technology to reduce rates of medication errors in 
hospitals. BMJ, v.320, p.788-91, 2000. 
 
BATES, D. W.; CULLEN, D. J.; LAIRD, N.; PETERSON, L. A.; SMALL, S. D.; SERVI, 
D.; et al. Incidence of adverse drug events and potential adverse drug events – 
implications for prevention. JAMA, v.274, p.29-34, 1995. 
 
BERLIN, C. M.; MCCARVER, D. G.; NOTTERMAN, D. A.; WARD, R. M.; 
WEISMANN, D. N.; WILSON, G. S.; et al. Prevention of medication errors in the 
pediatric inpatient setting. Pediatrics, v.102, p.428-30, 1998. 
 
BITENCOURT, A. G. V.; NEVES, N. M. B. C.; NEVES, F. B. C. S.; BRASIL, I. S. P. 
S.; SANTOS, L. S. C. Análise do Erro Médico em Processos Ético-Profissionais: 
Implicações na Educação Médica. Revista Brasileira de Educação Médica, v.31, n.3, 
p.223-228, 2007. 
 
BRENANN, T. A.; LEAPE, L. L.; LAIRD, N. M.; HEBERT, L.; LOCALIO, A. R.; 
LAWTHERS, A. G.; et al. Incidence of adverse events and negligence in hospitalized 
patients – results of the Harvard medical practice study I. N Engl J Med, v.324, p.370-6, 
1991. 
 
CARVALHO, M. & VIEIRA, A. A. Erro médico em pacientes hospitalizados. Jornal de 
Pediatria. v.78, n.4, p.267-268, 2002. 
 
CLASSEN, C. D.; PESTOTNIK, S. L.; EVANS, S.; LLOYD, J. F.; BURKE, J. P. 
Adverse drug events in hospitalized patients. JAMA, v.277, p.301-6, 1997. 
 
FUJITA, R. R.; SANTOS, I. C. Denúncias por erro médico em Goiás. Rev Assoc Med 
Bras, v.55, n.3, p.283-9, 2009. 
 
GLAUBER, J.; GOLDMANN, D. A.; HOMER, C. J.; BERWICK, D. M. Reducing 
medical error through systems improvement: the management of febrile infants. 
Pediatrics, v.105, p.1330-2, 2000. 
 
GREELY, H. T. Do physicians have a duty to disclose mistakes? West J Med, v.171, 
p.82-3, 1999. 
 
LAZAROU, J.; POMERANZ, B. H; COREY, P. N. Incidence of adverse drug reactions 
in hospitalized patients. JAMA, v.279, 1200-5, 1998. 
 
MANSUR, N.; AYER DE OLIVEIRA, R. O médico e a justiça. Conselho Regional de 
Medicina do Estado de São Paulo. 2006. 
 
MINOSSI, J. G. Prevenção de conflitos médico-legais no exercício da medicina. Rev. 
Col. Bras. Cir. v.36, n.1, p.090-095, 2009. 
 
MINOSSI, J. G.; SILVA, A. L. Aspectos médico-legais da cirurgia para hérnia inguinal. 
Rev Col Bras Cir. v.32, n.4, p.214-7, 2005. 
16 
 
 
 
NOLAN, T. W. System changes to improve patient safety. BMJ, v.320, p.771-3, 2000. 
 
PIETRO, D. A.; SHYAVITZ, L. J.; SMITH, R. A.; AUERBACH, B. S. Detecting and 
reporting medical errors: why the dilemma? BMJ, v.320, p.794-6, 2000. 
 
REASON, J. Human error: models and management. BMJ, v.320, p.768-70, 2000. 
 
ROBERTSON, W. O. Errors in prescribing. Am J Health Syst Pharm. v.52, p.382-385, 
1995. 
 
ROSNER, F.; BERGER J. T.; KARK P.; POTASH, J.; BENNETT, A. J. Disclosure and 
prevention of medical errors. Arch Intern Med, v.160, p.2089-92, 2000. 
 
VAN DEN BEMT, P. M. L. A.; EGBERTS, A. C. G.; LENDERINK, A. W.; VERZIJL, 
J. M.; SIMONS, K. A.; VAN DER POL, W. S. C. J. M.; et al. Adverse drug events in 
hospitalized patients – a comparison of doctors, nurses and patients as sources of reports. 
Eur J Pharmacol, v.55, p.:155-8, 1999. 
 
WEINGART, S. N.; WILSON, R. M.; GIBBERD, R. W. HARRISON B. Epidemiology 
of medical error. BMJ,v.320, p.774-7, 2000. 
	RESUMO
	1. INTRODUÇÃO
	2. ERRO MÉDICO NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA)
	2. ERRO MÉDICO NO BRASIL
	3. CAUSAS DO ERRO MÉDICO
	4. COMO REAGIR AO ERRO MÉDICO
	5. PREVENÇÃO DE ERROS MÉDICOS
	6. ASPECTOS JURÍDICOS DO ERRO MÉDICO
	7. conclusão
	REFERÊNCIAS

Continue navegando