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DIREITO PENAL CONSTITUCIONAL Conjunto de valores, princípios e regras de superior hierarquia dispostos em nossa Lei Fundamental, que servem de base à compreensão e ao estudo do Direito Penal. Os princípios não podem ser considerados apenas como meras aspirações ou vagas diretrizes, pois contêm inegável força normativa. O sistema jurídico compreende um conjunto de princípios e regras, equilibradamente distribuídos. Aos princípios incumbe servir como expressão primeira dos valores fundamentais incorporados em nossa sociedade por intermédio da Constituição. Às regras corresponde a tarefa de propiciar certeza e conferir segurança jurídica na atuação cotidiana do sistema. Diferenças entre princípios e regras: PRINCÍPIOS REGRAS São hierarquicamente superiores às regras1. São inferiores aos princípios, a eles se sujeitando. São a expressão de valores ou finalidades a serem atingidos.2 Descrevem condutas a serem observadas. Contêm enunciados e expressões de ideais.3 Contêm descrição de fato e atribuição de consequências.4 Os princípios são aplicados positivamente, como orientação a ser seguida, ou negativamente, para anular uma regra que o contradiga.5 As regras são aplicadas mediante subsunção.6 1 Exemplo: possível conflito entre o princípio da insignificância ou bagatela e o tipo penal descrito no art. 155 do CP. Se Lilian subtrai uma folha de papel de alguém, terá, sem dúvidas, praticado o comportamento descrito no tipo legal referido, sujeitando-se às penas nele cominadas. Seu ato será penalmente típico à luz da regra legal. Ocorre que o princípio mencionado considera atípica condutas causadoras de lesões insignificantes ao bem jurídico tutelado. O comportamento de Lilian é típico ou atípico? Sem dúvidas, atípico, pois o princípio se sobrepõe à regra, cuja incidência fica afastada. 2 A CF em seu art. 5º, XLVI determina: “a lei regulará a individualização da pena” e o CP, em seu art. 59 determina: “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”. A norma constitucional determina a diretriz a ser seguida, enquanto a norma legal cumpre-a, orientando como o magistrado deverá nortear-se na fixação da pena e lavratura da sentença. 3 “A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” (art. 5º, XL da CF). 4 “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos. Pena: reclusão de 8 a 15 anos” (art. 217-A do CP). 5 O princípio da dignidade da pessoa humana utilizado pela jurisprudência para conceder ao sentenciado o regime albergue-domiciliar (art. 117 da LEP) em razão de inexistência de casa de albergado na Comarca onde deveria cumprir a pena (aplicação positiva). Ou, Invalidação de uma sentença, com base no princípio da legalidade, cassando decisão judicial fundada em tipo penal incriminador analogicamente aplicado (aplicação negativa). 6 Se B, fazendo-se passar por “pai de santo”, aproveita-se da ingenuidade e da crença de uma mulher, para com ela praticar ato libidinoso, fica sujeito a uma pena de reclusão, de 2 a 6 anos, pois sua ação se subsume à regra legal consubstanciada no art. 215 do CP: “(...) praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude (...)”. Possuem superior grau de abstração e vagueza.7 As regras são dotadas de maior concreção. Têm baixa densidade normativa.8 Contêm maior densidade normativa. São dotados de plasticidade ou poliformia, pois se adaptam a diferentes situações e acompanham a evolução social.9 Não são revestidos de plasticidade ou poliformia, embora admitam alguma alteração interpretativa. Sua generalidade coloca-se no sentido de compreenderem uma série indefinida de aplicações (possuem maior leque de incidência). Sua generalidade corresponde à incidência a um número indeterminado de atos e fatos. O conflito entre princípios exige uma solução conciliadora (“pouco a pouco”), de modo a se verificar qual tem caráter preponderante no caso concreto, valendo-se o intérprete de uma ponderação (como ocorre, por exemplo, no fato de se permitir uma prova ilícita para provar a inocência do réu). O conflito entre regras impõe uma solução radical (“tudo ou nada”), que pode se dar de duas maneiras: considerando uma delas a regra e a outra a exceção ou aplicando-se uma e invalidando-se a outra. Os princípios têm função hermenêutica, limitadora da interpretação e eficácia impeditiva de retrocesso.10 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (CF, art. 1º, inc. III). PRINCÍPIOS BASILARES OU ESTRUTURANTES LEGALIDADE (CF, art. 5º, inc. XXXIX) CULPABILIDADE (CF, art. 5º, inc. LVII) 7 Dignidade do homem, princípio contido no art. 1º, III da CF, o qual impõe sejam todas as pessoas tratadas com respeito à sua condição de ser humano. Já as regras são mais concretas (ex: “o preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral”. Art. 38 do CP). 8 Comportam elevado número de possibilidades de interpretação. 9 O STF considerou, durante 16 anos (de 1990 a 2006) que o princípio da individualização da penal não impedia a fixação de regime prisional integralmente fechado em crimes hediondos e equiparados (cfme dispunha o art. 2, § 1º, da Lei 8072/90, antes da alteração promovia pela Lei 11.464/2007). 10 É o caso, por exemplo, da evolução jurisprudencial acerca do princípio da vedação de penas de caráter perpétuo, extensível, segundo o STF, às medidas de segurança, de tal modo que a elas deve se aplicar o limite de duração previsto no art. 75 do CP (30 anos). QUESTÕES 1. (88º Concurso de Ingresso à Carreira do MPSP – 2011) Assinale a alternativa que estiver totalmente correta: a) Em face do princípio da legalidade constitucional consagrado, a lei penal é sempre irretroativa, nunca podendo retroagir. b) Se entrar em vigor lei penal mais severa, ela será aplicável a fato cometido anteriormente a sua vigência, desde que não venha a criar figura típica inexistente. c) Sendo a lei penal mais favorável ao réu, aplica-se ao fato cometido sob a égide de lei anterior, desde que ele ainda não tenha sido decidido por sentença condenatória transitada em julgado. d) A lei penal não pode retroagir para alcançar fatos ocorridos anteriormente a sua vigência, salvo no caso de abolitio criminis ou de se tratar de lei que, de qualquer modo, favoreça o agente. e) Se a lei nova for mais favorável ao réu, deixando de considerar criminosa a sua conduta, ela retroagirá mesmo que o fato tenha sido definitivamente julgado, fazendo cessar os efeitos civis e penais da sentença condenatória. Resposta: D (CF, art. 5º, XL e CP, art. 2º. A lei não retroagirá, salvo para beneficiar o réu). 2. (Delegado de Polícia Civil/SP – 2011) A ideia de que o Direito Penal deve tutelar os valores considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos os bens jurídicos, sintetiza o princípio da: a) adequação social; b) culpabilidade; c) fragmentariedade; d) ofensividade; e) proporcionalidade. Resposta: C. O princípio da fragmentariedade prende-se à noção de que o direito penal deve se ocupar de uma tutela seletiva de bens jurídicos, optando por salvaguardarsomente uma pequena fração destes, quando se verificar uma lesão ou ameaça mais intensa àqueles de maior relevância. 3. (Procurador da República/2004) O princípio da insignificância: a) só é admissível para crimes de menor potencial ofensivo. b) diz respeito a irrelevante lesão do bem jurídico mesmo que o crime seja de médio potencial ofensivo. c) orienta-nos a aferir a conduta em relação à importância do bem juridicamente atingido. d) diz respeito aos comportamentos aceitos no meios social. Resposta: B. Aplica-se o princípio da insignificância ou da bagatela quando se mostra ínfima a lesão ao bem jurídico tutelado. 4. (Concurso Ingresso MPSP/2006) Em relação ao princípio da insignificância ou da bagatela, assinale a alternativa incorreta: a) seu reconhecimento exclui a tipicidade, constituindo-se em instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. b) somente pode ser invocado em relação a fatos que geraram mínima perturbação social. c) sua aplicação não é prevista no Código Penal, mas é amplamente admitida pela doutrina e jurisprudência. d) somente tem aplicabilidade em crimes contra o patrimônio. e) exige, para seu reconhecimento, que as consequências da conduta tenham sido de pequena relevância. Resposta: D. O princípio da insignificância pode ser aplicado a diversos crimes, não só aqueles que ofendem o patrimônio. Cite-se, por exemplo, a aplicação (polêmica) ao crime de peculato. 5. (Magistratura/2008) As proibições penais somente se justificam quando se referem a condutas que afetem gravemente a direito de terceiros; como consequência, não podem ser concebidas como respostas puramente éticas aos problemas que se apresentam senão como mecanismos de uso inevitável para que sejam assegurados os pactos que sustentam o ordenamento normativo, quando não existe outro modo de resolver o conflito. (Oscar Emílio Sarrule. In: La crisis de legitimidas del sistema jurídico penal (Aboluconismo o justificación). Buenos Aires: Editorial Universidade, 1998, p. 98). Em relação ao princípio da lesividade, tratado no texto acima, assinale a opção incorreta: a) De acordo com parte da doutrina, o tipo penal relativo ao uso de substância entorpecente viola apenas a saúde individual e não, a pública, em oposição ao que recomenda o princípio da lesividade. b) Exemplo de aplicação do princípio da lesividade foi a entrada em vigor da lei que aboliu o crime de adultério do ordenamento jurídico penal. c) Uma das vertentes do princípio da lesividade tem por objetivo impedir a aplicação do direito penal do autor, isto é, impedir que o agente seja punido pelo que é, e não pela conduta que praticou. d) Com base no princípio da lesividade, o suicídio não é uma figura típica no Brasil. Resposta: B. A descriminalização do adultério, decorrente da Lei nº 11.106/2005, inspirou-se no principio da intervenção mínima, isto é, na ideia segundo a qual o Direito Penal deve funcionar como ultima ratio. Nada tem haver, portanto, com o princípio da lesividade, segundo o qual não há crime sem a efetiva lesão ou perigo concreto a um bem juridicamente tutelado. 6. (Defensoria Pública/SP – 2006) Considerando a adoção do princípio da culpabilidade pelo Código Penal, é correto afirmar que a: a) análise da culpabilidade não é essencial para a individualização da pena. b) culpabilidade não interfere na medida da pena. c) culpabilidade se refere ao autor. d) culpabilidade se refere ao fato. e) análise da culpabilidade compete ao juiz do processo de conhecimento e ao juiz do processo de execução. Resposta: D. A pergunta refere-se ao princípio da culpabilidade, o qual determina, entre outras consequências, que o agente deve ser punido pelo que fez, e não por quem é. 7. (Defensoria Pública/SP – 2006) Considere as afirmações: I. No Estado democrático de direito é dada especial relevância à noção de que o direito penal tem como missão a proteção de bens jurídicos e se considera que o conceito de bem jurídico tem por função legitimar e delimitar o poder punitivo estatal. II. O poder legiferante penal independe dos bens jurídicos postos na Constituição Federal para determinar quais serão os bens tutelados. III. Só se legitima a intervenção penal nos casos em que a conduta possa colocar em grave risco ou lesionar bem jurídico relevante. Somente está correto o que se afirma em: a) II e III b) I e III c) III d) II e) I Resposta: B. As alternativas I e III estão corretas e representam orientação amplamente aceita pela doutrina. Correspondem aos princípios da dignidade da pessoa humana, da exclusiva proteção de bens jurídicos e da lesividade ou ofensividade. 8. (Defensoria Pública /SP – 2007) A corrente pós-positivista empresta caráter normativo aos princípios constitucionais penais. Estas normas, portanto, deixam de ser informadoras e assumem a natureza de direito positivo, possibilitando ao defensor público este manejo. Encontram-se na Constituição Federal os seguintes princípios constitucionais penais: a) legalidade dos delitos e das penas, culpabilidade, proporcionalidade, individualização da pena e da execução e personalidade da pena. b) legalidade dos delitos e das penas, proporcionalidade, individualização e presunção de inocência. c) anterioridade e irretroatividade da lei, individualização da pena e da execução, proporcionalidade e personalidade da pena. d) reserva legal, culpabilidade, imprescritibilidade, individualização e personalidade da pena. e) legalidade dos delitos e das penas, individualização da pena e da execução e personalidade da pena. Resposta: A. Uma das premissas do Estado Constitucional de Direito reside na força normativa da CF, de suas regras e princípios. Dentre as alternativas apresentadas, a letra A é a mais completa. As demais também poderiam ser consideradas verdadeiras, entretanto, menos abrangentes. Exceto a letra B que contém um princípio processual penal. 9. (Defensoria Pública/SP – 2009) Assinale a alternativa correta. a) A legitimação da intervenção penal se deve, também, à seletividade do sistema penal. b) Compete ao direito penal atender os anseios sociais de punição para pacificar conflitos. c) O recurso à pena no direito penal garantista está condicionado ao princípio da máxima intervenção, máximas garantias. d) Cabe ao direito penal limitar a violência da intervenção punitiva do Estado. e) O discurso jurídico-penal de justificação deve se pautar na ampla possibilidade de solução dos conflitos pelo direito penal. Respostas: D. As alternativas, de modo geral, contrariam o princípio da intervenção mínima, em que o Direito Penal ao deve ser a solução para todos os conflitos sociais, mas somente pode se utilizado em casos mais graves (como ultima ratio). A alternativa D, ainda, coaduna-se com o princípio da proporcionalidade, por meio da proibição do excesso. 10. (Magistratura/SP – 2006) Assinale a alternativa correta: a) O princípio da reserva legal pressupõe a existência de lei anterior, emanada do poder legislativo, definindo o crime e a pena, sendo lícito afirmar, então, que as medidas provisórias não podem definir crimes e impor penas. b) A analogia como forma de autointegração da lei, pode ser amplamente aplicada no âmbito do direito penal. c) O princípio da legalidade admite, por exceção, a revogação da lei pelo direito consuetudinário. d) O postulado da taxatividade, consequência do princípio da legalidade, que expressa a exigência de que a lei penal incriminadora seja clara, certa e precisa, torna ilegítimas as normas penais em branco. Resposta: A. A analogia pode ser utilizada in bonan partem. Costume não revoga lei penal. A taxatividade não éincompatível com as normas penais em branco. 11. (Magistratura/SP – 2007) Um profissional faz numa pessoa furo na orelha, ou coloca um piercing em parte do seu corpo, ou, ainda, faz-lhe uma tatuagem. Tais práticas, em tese, caracterizam lesão corporal, mas não são puníveis. Assinale a alternativa correta pela qual assim são consideradas. a) por força do princípio da insignificância b) pelo princípio da disponibilidade do direito à integridade física c) pelo princípio da adequação social d) por razão de política criminal Resposta: C. Fatos socialmente adequados devem ser considerados penalmente atípicos. Nossos tribunais já reconheceram, por diversos fundamentos, dentre eles o princípio da adequação social, a atipicidade das condutas mencionadas no enunciado. 12. (OAB/2011) Jeferson, segurança da mais famosa rede de supermercados do Brasil, percebeu que João escondera em suas vestes três sabonetes, de valor aproximado de R$ 12,00 (doze reais). Ao tentar sair do estabelecimento, entretanto, João é preso em flagrante delito pelo segurança, que chama a polícia. A esse respeito, assinale a alternativa correta: a) a conduta de João não constitui crime, uma vez que este agiu em estado de necessidade. b) a conduta de João não constitui crime, uma vez que o fato é materialmente atípico. c) a conduta de João constitui crime, uma vez que se enquadra no artigo 155 do Código Penal, não estando presente nenhuma das causas de exclusão da ilicitude ou culpabilidade, razão pela qual este deverá ser condenado. d) embora sua conduta constitua crime, João deverá ser absolvido, uma vez que a prisão em flagrante é nula, por ter sido realizada por um segurança particular. Resposta: B. A conduta é formalmente típica, pois se subsume ao artigo 155, caput, c/c art. 14, II do CP, mas é materialmente atípica, dada a insignificância da lesão ao patrimônio do sujeito passivo.
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