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Simulação Simulação é uma declaração falsa da vontade, visando aparentar negócio diverso do efetivamente desejado, é uma declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado. Simular significa, fingir, enganar. Negócio simulado, assim, é o que tem aparência contrária à realidade. A simulação é produto de um conluio entre os contratantes, visando obter efeito diverso daquele que o negócio aparenta conferir. Não é vício do consentimento, pois não atinge a vontade em sua formação. É uma desconformidade consciente da declaração, realizada de comum acordo com a pessoa a quem se destina, com o objetivo de enganar terceiros ou fraudar a lei. Trata-se, em realidade, de vício social. A causa simulandi tem as mais diversas procedências e finalidades. Ora visa burlar a lei, especialmente a de ordem pública, ora fraudar o Fisco, ora prejudicar a credores, ora até guardar em reserva determinado negócio. A multifária gama de situações que pode abranger e os seus nefastos efeitos levaram o legislador a deslocar a simulação do capítulo concernente aos defeitos do negócio jurídico para o da invalidade, como causa de nulidade. A simulação é em regra, negócio jurídico bilateral, sendo os contratos o seu campo natural. Resulta do acordo entre duas partes, para lesar terceiro ou fraudar a lei. Todavia, pode ocorrer também, embora ahipótese seja rara, nos negócios unilaterais, desde que se verifique ajuste simulatório entre o declarante e a pessoa que suporta os efeitos do negócio, como destinatária da declaração. De modo geral, podem ser objeto de simulação todos os negócios jurídicos bilaterais e unilaterais em que exista declaração receptícia de vontade, isto é, a que se dirige a determinadas pessoas, produzindo efeitos a partir de sua ciência. É sempre acordada com a outra parte ou com as pessoas a quem ela se destina. Difere do dolo, porque neste a vítima participa da avença, sendo, porém, induzida em erro. Na simulação, a vítima lhe é estranha. É chamada de vício social, porque objetiva iludir terceiros ou violar a lei. É uma declaração deliberadamente desconforme com a intenção. As partes maliciosamente disfarçam seu pensamento, apresentado sob aparência irreal ou fictícia. É realizada com o intuito de enganar terceiros ou fraudar a lei. A doutrina distingue as espécies de simulação em: Simulação absoluta, em que as partes, na realidade, não realizam nenhum negócio. Apenas fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem que na verdade desejem a realização do ato. Diz-se absoluta porque a declaração de vontade se destina a não produzir resultado, ou seja, deveria ela produzir um, mas essa não é a intenção do agente. Em geral, essa modalidade destina-se a prejudicarterceiro, subtraindo os bens do devedor à execução ou partilha. Simulação relativa, em que as partes pretendem realizar determinado negócio, prejudicial a terceiro ou em fraude à lei. Para escondê-lo ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro negócio. Compõe-se, pois, de dois negócios: um deles é o simulado, aparente, destinado a enganar; o outro é o dissimulado, oculto, mas verdadeiramente desejado. O negócio aparente, simulado, serve apenas para ocultar a efetiva intenção dos contratantes, ou seja, o negócio real Simulação não se confunde com dissimulação, embora em ambas haja o propósito de enganar. Na simulação, procura-se aparentar o que não existe, na dissimulação, oculta-se o que é verdadeiro. Na simulação, há o propósito de enganar sobre a existência de situação não verdadeira; na dissimulação, sobre a inexistência de situação real. Diz-se que a simulação é ad personam ou por interposição de pessoa quando o negócio é real, mas a parte é aparente, denominada testa de ferro, homem de palha ou presta-nome. O art. 103 do Código Civil revogado considerava inocente a simulação quando não houvesse intenção de prejudicar a terceiros ou de violar disposição de lei. No primeiro caso, não constituía defeito do negócio. Como não havia nenhum impedimento legal para essa doação, a concretização do ato sob a forma de venda era considerada simulação inocente, por nãoobjetivar a fraude à lei. Se inocente o fingimento, o negócio simulado prevalecia ainda que revelada a simulação. A simulação seria fraudulenta, e defeito do negócio jurídico, quando houvesse a intenção de prejudicar a terceiros ou de violar disposição de lei (art. 104). Não mais se faz essa distinção. Ao disciplinar a simulação, apartou-se o novo Código inteiramente do sistema observado pelo diploma de 1916. O Código Civil atual , afastou-se, ao disciplinar a simulação, do sistema observado pelo anterior, não mais a tratando como defeito ou vício social que acarreta a anulabilidade do negócio jurídico. No regime atual, a simulação, seja a relativa, seja a absoluta, acarreta a nulidade do negócio simulado. Se relativa, subsistirá o negócio dissimulado, se válido for na substância e na forma. Com efeito, dispõe o art. 167 do Código Civil: “Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.” A segunda parte do dispositivo refere-se à simulação relativa, também chamada de dissimulação; a primeira, à simulação absoluta. Assim, no exemplo da escritura pública lavrada por valor inferior ao real, anulado o valor aparente, subsistirá o real, dissimulado, porém lícito. Ressalvam-se, porém, “os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado” (art. 167, § 2º). Aexpressa proteção aos direitos de terceiros de boa-fé em face do negócio simulado constitui importante inovação, que era recomendada pela doutrina, como se pode verificar pela manifestação de Eduardo Espínola: “Pode afirmar-se que as legislações modernas, em sua universalidade, da mesma sorte que a doutrina contemporânea e os tribunais de todos os países civilizados, têm sancionado, com igual firmeza, o princípio da inoponibilidade do ato simulado aos terceiros de boa-fé” O art. 104 do Código Civil de 1916 não permitia ação de um simulador contra outro. Se, no primeiro exemplo sobre simulação absoluta retromencionado, os amigos a quem o marido simulou fazer dações em pagamento de bens do casal se negassem, depois de sua separação judicial, a lhe transferir os referidos bens, conforme haviam combinado, não teria este ação contra aqueles, entendendo-se que ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza Com efeito, se a simulação acarreta a nulidade do negócio jurídico e, portanto, deve ser decretada de ofício pelo juiz quando a encontrar provada (CC, art. 168, parágrafo único), a ação movida por um simulador contra o outro possibilitará que esse fato venha a ocorrer. Dispõe o § 1º do art. 167 do Código Civil: “Art. 167. (...) § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I — aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas àsquais realmente se conferem, ou transmitem; II — contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III — os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.” Em outras palavras, prescreve o aludido dispositivo que haverá simulação, por interposição de pessoa, em que aparece a figura do testa de ferro, não integrando a relação jurídica o real beneficiário da negociação por ocultação da verdade, na declaração (declaração de valor inferior, na escritura, ao real) e por falsidade de data. Tendo em vista a dificuldade para se provar o ardil, o expediente astucioso, admite- se a prova da simulação por indícios e presunções (CPC/39, art. 252; CPC/73,arts. 332 e 335). O novo Código Civil alterou substancialmente a disciplina desse instituto, sem, no entanto, desnaturar seus fundamentos básicos. Topograficamente, retirou a simulação do capítulo concernente aos defeitos do negócio jurídico, deslocando-a para o alusivo à invalidade, considerando-a causa de nulidade, e não de anulabilidade, como fazia o diploma de 1916. Dispõe, efetiva e expressamente, o art. 167 do Código de 2002, que “é nuloo negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. Desse modo, a simulação, no sistema inaugurado aos 11 de janeiro de 2003, acarreta a nulidade do negócio simulado. Porém, em caso de simulaçãorelativa, o negócio dissimulado poderá subsistir se for válido na substância e na forma. Jurisprudência: 1ª: AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. DOAÇÃO DE BENS. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DA PENHORA. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 5º, XXII, XXXVI , LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. NÃO PROVIMENTO. A Corte Regional consignou que a transmissão dos imóveis que pertenciam ao sócio da empresa executada às suas filhas, por meio de doação, com reserva de usufruto vitalício em favor do referido sócio, se deu de forma simulada, porquanto o suposto negócio jurídico teve como único propósito fraudar os créditos trabalhistas do reclamante. Decidiu, assim, manter a penhora sobre os referidos bens, por considerar nulo o negócio jurídico simulado, aplicando ao caso os termos dos artigos 167, § 1º, I, 168, parágrafo único, e 169 do Código Civil. Nesse contexto, a discussão acerca da caracterização ou não do referido negócio jurídico como ato jurídico perfeito (artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal), bem como sobre o direito de propriedade (artigo 5º, XXII, da Constituição Federal) ganha contorno nitidamente infraconstitucional, porquanto o egrégio Tribunal Regional decidiu a matéria à luz de dispositivos de lei, sendo que o artigo 896, § 2º, da CLT e a Súmula nº 266 exigem ofensa direta e literal ao texto constitucional para admissibilidade dorecurso de revista. Também não há falar em violação do artigo 5º, LIV e LV, da Constituição Federal, os quais asseguram o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, na medida em que as agravantes, mesmo não tendo figurado no processo de execução, tiveram oportunidade para opor embargos de terceiros, os quais foram devidamente apreciados pelas instâncias ordinárias. Também tiveram assegurado o direito de recorrer, inclusive para este Tribunal Superior, sendo certo que não configura afronta aos princípios constitucionais invocados o simples fato de o acórdão impugnado lhes ter sido desfavorável. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST - AIRR: 1361004220085040002 136100-42.2008.5.04.0002, Relator: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 06/09/2011, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 16/09/2011) 2ª: DIREITO CIVIL. NEGÓCIO JURÍDICO. SIMULAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. NÃO-CONFIGURAÇÃO. 1. Verificada a simulação, pois conferidos e transmitidos direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se pretendia conferir, ou transmitir, é nulo o negócio jurídico simulado, devendo o juiz fazer prevalecer as conseqüências do ato que se dissimulou, nos termos do artigo 167 do Código Civil. 2. Tendo o autor concorrido de forma consciente para o evento danoso, não lhe é dado beneficiar-se da própria torpeza, não havendofalar em indenização por danos morais. (TRF-4 - AC: 31759 RS 2006.71.00.031759-2, Relator: MARGA INGE BARTH TESSLER, Data de Julgamento: 01/12/2010, QUARTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 07/12/2010) 3ª: APELAÇÃO. SUCESSÕES. EMBARGOS DE TERCEIRO E AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. ESVAZIAMENTO DO PATRIMÔNIO DO FALECIDO POR MEIO DE COMPRA E VENDA SIMULADA DE BENS IMÓVEIS. PROCEDÊNCIA. EMBARGOS DESACOLHIDOS. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA. FIXAÇÃO DE ACORDO COM O PROVEITO ECONÔMICO DA DEMANDA. 1. É nula a compra e venda simulada de bem imóvel, feita com o único propósito de lesar o direito do herdeiro. 2. Os prazos prescricionais e decadenciais para o herdeiro, em ação que busque a nulidade de negócio envolvendo os bens da herança somente começam a fluir a partir da abertura da sucessão. 3. Os honorários de sucumbência devem ter como parâmetro o conteúdo econômico da demanda, que no caso dos autos é o valor dos bens revertidos em favor da sucessão. (TJ-RS - AC: 70045887098 RS , Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Data de Julgamento: 26/01/2012, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 31/01/2012) 4ª: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO DO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU QUE CONCEDE LIMINAR DE IMISSÃO NA POSSE. INDÍCIOS DE AGIOTAGEM. CONTRATO DE COMPRA E VENDA, CAUSA DEPEDIR DA AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE, QUE SERVIRIA COMO GARANTIA A MÚTUO. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. REVOGAÇÃO DA LIMINAR. I - No caso, há indícios de que o contrato de compra e venda, que funciona como causa de pedir da ação de imissão na posse, foi celebrado para dissimular garantia a um contrato de mútuo com juros abusivos (usura). II - Desse modo, o mandado de desocupação do imóvel no qual reside o agravante, ainda no início do processo e sem prévio contraditório, é medida desproporcional. Liminar de imissão na posse revogada. (TJ-PE - AI: 5559220128171280 PE 0011087-85.2012.8.17.0000, Relator: Bartolomeu Bueno, Data de Julgamento: 09/08/2012, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 151) 5ª: PROCESSO CIVIL. APELAÇAO CIVIL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. REGISTRO EM CARTÓRIO. NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO. SIMULAÇAO. APELAÇAO CONHECIDA E PROVIDA. 1 – Os negócios jurídicos relativos a bens imóveis, celebrados à luz do Código Civil de 1916, previam para a sua validade o devido registro do imóvel em cartório, adquirindo-se a propriedade tão somente após a transcrição do título de transferência, nos termos do artigo 530 do prefalado códex, não se valendo, para tanto, o compromisso de compra e venda do imóvel. 2 – Em sendo, no entanto, vislumbrada a hipótese de fraude no negócio, deve-se proceder à análise das provas colacionadas aos autos. 3 – Registro de Imóveislavrado em decorrência de acerto mútuo entre partes, não havendo o pagamento do valor constante no contrato, demonstrando a simulação com intuito de prejudicar terceiro de boa-fé, legítimo proprietário, resta aquele nulo de pleno direito, precipuamente ante a ilegitimidade do cessionário, que não possui direito real sobre o imóvel. 4 – Apelação conhecida e provida. (TJ-PI - AC: 201000010009483 PI , Relator: Des. Fernando Carvalho Mendes, Data de Julgamento: 28/07/2010, 1a. Câmara Especializada Cível) Referências: LENZA, PEDRO. Direito civil esquematizado. 13ª edição. São Paulo: Saraiva, 2009. Sites (Acessado em 02/05/2013): 1- http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20416910/agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-airr-1361004220085040002-136100-4220085040002 2- http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Neg%C3%B3cio+jur%C3%ADdico+simulado&p=3 3- http://trf-4.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18520123/apelacao-civel-ac-31759-rs-20067100031759-2-trf4 4- http://tj-pe.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22115452/agravo-de-instrumento-ai-5559220128171280-pe-0011087-8520128170000-tjpe Aluno: Lucas Toshiaki Mori Curso: Direito Turma: 1° B Disciplina: Teoria Geral do Direito Civil II 04/12/2013 Simulação