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Capítulo 36 – Hemostasia e Coagulação Sanguínea ➢ Hemostasia → constrição vascular, formação do tampão plaquetário, formação do coágulo sanguíneo e eventual crescimento de tecido fibroso no coágulo; Constrição Vascular ● O trauma da parede do vaso faz com que a musculatura lisa se contraia, reduzindo o fluxo sanguíneo; ● A contração resulta de espasmo miogênico, fatores autacoides dos tecidos traumatizados e das plaquetas e dos reflexos nervosos; ● Para vasos menores, as plaquetas são responsáveis por grande parte da vasoconstrição e por liberação do tromboxano A2 (vasoconstritor); ● Quanto maior o trauma, maior o espasmo vascular; → Se o corte no vaso for pequeno ele é selado com tampão plaquetário; Características das Plaquetas (Trombócitos) ● Formadas na medula a partir de megacariócitos (fragmentação); ● Características de células completas apesar de serem fragmentos e não se reproduzirem; ● No citoplasma das plaquetas existe: ◦ Actina e miosina; ◦ Trombostenina (contrátil); ◦ Resíduos do RE e do CG (síntese enzimática e armazenamento de cálcio); ◦ Mitocôndrias e enzimas capazes de formar ATP e ADP; ◦ Enzimas que produzem prostaglandinas; ◦ Fator estabilizador da fibrina (proteína) e fator de crescimento (faz com que células do endotélio, da camada muscular e fibroblastos se multipliquem e cresçam); ● Na membrana das plaquetas há uma camada de glicoproteínas que impede a aderência ao endotélio normal, favorecendo a aderência ao epitélio lesionado e qualquer colágeno exposto. A membrana também contém fosfolipídios que ativam estágios da coagulação; ● As plaquetas têm meia-vida de 8-12 dias e são retiradas da circulação por macrófagos (baço); Mecanismo de Tampão Plaquetário ● Quando em contato com a superfície lesada (principalmente colágeno), as plaquetas começam a se dilatar, assumem formas irregulares (pseudópodos) e há contração das proteínas (liberação de grânulos com fatores ativos); ● Os fatores ativos aderem ao colágeno e ao fator de von Willebrand que vaza para o plasma; ● Esses fatores secretam muito ADP e suas enzimas formam tromboxano A2; ● O ADP e o tromboxano atuam nas plaquetas vizinhas, ativando-as; ● A parede lesionada ativa um número cada vez maior de plaquetas que atraem cada vez mais plaquetas, formando o tampão plaquetário; ● Depois, são formados filamentos de fibrina, que prendem essas plaquetas; → Importante para o fechamento de rupturas pequenas que ocorrem muitas vezes durante o dia; Coagulação no Vaso Lesionado ● O coágulo começa a se desenvolver de 15-20s em lesão grave e de 1-2min em lesões menores; ● De 3-6 minutos após a lesão (abertura peq.) a extremidade aberta é ocupada pelo coágulo; ● Coágulo em Peq. Orifício → invadido por fibroblastos (promovido pelo fator de crescimento das plaquetas); ● Quando muito sangue vaza para os tecidos e os coágulos teciduais ocorrem onde não são necessários, substâncias no próprio coágulo são ativadas, que atuam como enzimas na sua dissolução; Mecanismo da Coagulação ● Coagulação ou não depende do balanceamento entre pró-coagulantes e anticoagulantes (predominam); ● Mecanismo Geral ◦ A coagulação ocorre em 3 estágios: 1. Em resposta à ruptura do vaso ou problemas sanguíneos ocorre uma cascata de reações que formam um complexo de substâncias ativadas (ativador da protrombina); 2. O ativador da protrombina catalisa a conversão de protrombina em trombina; 3. A trombina atua como uma enzima, convertendo fibrinogênio em fibras de fibrina; ● Conversão da Protrombina em Trombina ◦ O ativador da protrombina é formado como resultado da ruptura ou liberação de substâncias; ◦ O ativador da protrombina, na presença de cálcio suficiente, converte protrombina em trombina; ◦ A trombina causa polimerização do fibrinogênio, formando fibras de fibrina; → O fator limitador da coagulação é a formação do ativador de protrombina; ◦ As plaquetas têm papel importante na conversão de protrombina em trombina já que grande parte da protrombina fixa-se aos receptores presentes nas plaquetas ligadas ao tecido lesado; ◦ Protrombina → proteína instável que divide-se facilmente em compostos menores (trombina). É formada no fígado e utilizada em todo o organismo. A vitamina K é requerida pelo fígado para a ativação da protrombina e outros fatores de coagulação. Falta de vitamina K e doença hepática que comprometa a formação de protrombina podem resultar em tendência ao sangramento; ● Conervsão de Fibrinogênio em Fibrina ◦ O fibrinogênio é formado no fígado; ◦ Pouca quantidade de fibrinogênio saí do vaso para o interstício e, como o fibrinogênio é um dos fatores essencais da coagulação, líquidos interticiais não coagulam (normalmente); ● Ação da Trombina sobre o Fibrinogênio ◦ A trombina é uma enzima proteica com fraca capacidade proteolítica; ◦ Ela atua sobre o fibrinogênio fomando monômeros de fibrina, capazes de se polimerizar (retículo do coágulo); ◦ Um processo que fortalece o retículo de fibrina é a liberação do fator estabilizador da fibrina, liberada pelas plaquetas no coágulo; ◦ A mesma trombina que causa a formação da fibrina também ativa o fator estabilizador da fibrina; ◦ Esse ativador atua como enzima para criar ligações covalentes entre os monômeros; Coágulo Sanguíneo → composto por malhas de fibrina. Essas fibras aderem às superfícies lesadas permitindo que o coágulo fique aderido a qualquer abertura vascular, impedindo a perda de sangue; ● Retração do Coágulo ◦ Minutos após a formação do coágulo, ele começa a se contrair e expele grande parte do líquido interno para fora; ◦ O líquido eliminada é chamado de soro (fibrinogênio e outros fatores de coagulação foram removidos) → SORO NÃO COAGULA; ◦ As plaquetas são necessárias para retração do coágulo (falha na retração → poucas plaquetas); ◦ A ativação das proteínas contráteis da plaqueta contribui para a retração do coágulo; ◦ A contração é ativada e acelerada pela trombina e pelos íons cálcio; ◦ Com a retração, as bordas do coágulo são tracionadas, contribuindo ainda mais com a hemostasia; ● Feedback Positivo ◦ O coágulo sozinho desencadeia um ciclo vicisoso para promover mais coagulação; ◦ Uma das causas desse feedback positivo é o fato da ação proteolítica da trombina permitir que ela atue sobre outros fatores de coagulação além do fibrinogênio; ● Formação do Ativador da Protrombina ◦ Mecanismo que iniciam a coagulação são desencadeados por: ▪ Trauma da parede vascular e tecidos adjacentes; ▪ Trauma ao sangue; ▪ Contato do sangue com o endotélio lesionado ou colágeno e outros elementos de fora do vaso; ◦ Cada um desses casos leva à formação do ativador da protrombina; ◦ O ativador de protrombina é gerado por duas vias: ▪ pela via extrínseca (começa com o trauma); ▪ Pela via intrínseca (começa no sangue); ◦ Tanto na via intrínseca como na extrínseca os fatores de coagulação tem papel fundamental; ◦ Na maioria, esses fatores são formas inativas de enzimas proteolíticas; ● Via Extrínseca ◦ Começa com o trauma; ◦ Ocorre: 1. Liberação do Fator Tecidual (Tromboplastina Tecidual) → composto de fosfolipídios + complexo lipoproteico que atua como enzima proteolítica; 2. Ativação do Fator X → o complexo lipoproteico do fator tecidual, junto com cálcio, atua sobre o Fator X, formando Fator X ativado (Xa); 3. Efeito do Fator Xa → o Fator Xa combina-se com os fosfolipídios teciduais ou com fosfolipídios adicionais, liberados por plaquetas, junto com o Fator V para formar o complexo ativador da protrombina. Na presença de cálcio esse fator cliva a protrombina em trombina. ● Via Intrínseca ◦ Começa com o trauma ao sangue ou exposição do sangue ao colágeno; ◦ Ocorre: 1. Trauma Sanguíneo→ causa ativação do Fator XII e liberação de fosfolipídios das plaquetas. O trauma sanguíneo também lesa as plaquetas causando liberação de fosfolipídios plaquetários que contêm fator plaquetário 3 (lipoproteína); 2. Ativação do Fator XI → o Fator XIIa atua sobre o Fator XI, ativando-o. 3. Ativação do Fator IX pelo Fator XIa; 4. Ativação do Fator X → o Fator VIIIa ativa o Fator X. Na falta de Fator VIII ou plaquetas essa etapa é deficiente (Fator VIII → hemofilia clássica)(Plaquetas → trombocitopenia); 5. Ação do Fator Xa → o Fator Xa combina-se com o Fator V e com as plaquetas ou fosfolipídios teciduais para formar o complexo ativador da protrombina; → Íons cálcio são necessários para a promoção ou acelereação de todas as reações de coagulação; ● Interação – Vias Intrínseca e Extrínseca ◦ Após a ruptura, a coagulação ocorre de forma simultânea pelas 2 vias; ◦ O fator tecidual desencadeia a via extrínseca; ◦ O contato com o fator XII e das plaquetas com o colágeno desencadeia a via intrínseca; ◦ A via extrínseca pode ser explosiva. Sua velocidade até a formação do coágulo final só é limitada pela quantidade de fator tecidual liberado pelos tecidos traumatizados e pelas quantidades dos Fatores X, VII e V no sangue; ● Prevenção da Coagulação no Sistema Vascular Normal ◦ Fatores mais importantes para a prevenção da coagulação: 1. Uniformidade (smoothness) da superfície endotelial; 2. Camada do glicocálice (mucopolissacarídeo que repele fatores de coagulação e plaquetas) do endotélio; 3. Proteína ligada à membrana endotelial, trombomodulina, que liga a trombina; ◦ A ligação da trombina com a trombomodulina lentifica o processo de coagulação pela remoção da trombina e ativa a proteina C (anticoagulante); ● Ação Antitrombina da Fibrina e Antitrombina III ◦ Anticoagulantes mais importantes → removem as trombinas; ◦ Mais potentes: ▪ Fibras de fibrina; ▪ Antitrombina III ou co-fator antitrombina-heparina (alfa-globulina); ◦ 85% a 90% da trombina formada ficam adsorvidas às fibras de fibrina (ajuda a impedir a disseminação de trombina pelo sangue); ◦ A trombina que não é adsorvida combina-se com antitrombina III, que bloqueia ainda mais o efeito da trombina sobre o fibrinogênio; ● Heparina ◦ Potente anticoagulante; ◦ Concentração baixa no sangue (normalmente); ◦ Utilizada como agente farmacológico para prevenção de coagulação intravascular; ◦ Sozinha, tem pouca ou nenhuma atividade anticoagulante, mas quando combinada com a antitrombina III, a eficácia desta aumenta de 100x a 1000x; ◦ Heparina em excesso causa remoção da trombina pela antitrombina III quase instantâneamente; ◦ O complexo heparina-antitrombina III remove outros fatores de coagulação da corrente sanguínea; ◦ A heparina é produzida pelos mastócitos, no tecido conjuntivo pericapilar de todo o corpo; ◦ Mastócitos são abundantes em capilares pulmonares e hepáticos (muitos coágulos embólicos); ◦ Os basófilos do sangue também liberam heparina no sangue (pouca); ● Plasmina – Lise dos Coágulos ◦ Proteínas do plasma contêm plasminogênio ou pró-fibrinolisina (euglobulina) que ativa-se e forma plasmina ou fibrinolisina; ◦ Enzima proteolítica que digere fibras de fibrina e outras proteínas coagulantes (fibrinogênio); ◦ Sempre que formada, a plasmina causa lise do coágulo por destruição dos fatores de coagulação; ● Ativação do Plasminogênio ◦ Quando o coágulo é formado, grande quantidade de plasminogênio fca retida nele; ◦ Os tecidos lesados e o endotélio liberam ativador do plasminogênio tecidual (AP-t) que converte o plasminogênio em plasmina, esta removendo os restos do coágulo; ◦ Função Importante → remoção de milhares de pequenos coágulos formados diariamente; ● Condições que Causam Sangramento Excessivo ◦ Falta de Vitamina K ▪ A vitamina é fator essencial para a carboxilase hepática que atua sobre fatores de coagulação importantes: protrombina, Fatores VII, IX e X e proteína C; ▪ Na ausência de vitamina K ativa há deficiência desses fatores de coagulação; ▪ A vitamina K é continuamente produzida no intestino delgado por bactérias; ▪ Em decorrência de doença gastrointestinal, a deficiência de vitamina K dá-se pela ineficiência na absorção de gorduras; ▪ Uma das causas mais prevalentes é a falha do fígado em depositar bile no intestino delgado. A ausência de bile impede a absorção apropriada de gordura; ◦ Hemofilia ▪ Ocorre quase exclusivamente em homens; ▪ Sangramento nos grandes vasos; ▪ Em 85% dos casos é causada por anormalidade ou deficiência do Fator VIII (hemofilia A); ▪ O Fator VIII tem dois componentes ativos. O componente menor é mais importante para a via intrínseca, e a deficiência dessa parte causa a hemofilia A. Deficência do componente maior causa a Doença de von Willebrand, semelhante à hemofilia; ▪ Em 15% dos pacientes, a doença é causada por deficiência do Fator IX; ◦ Trombocitopenia ▪ Concentrações baixas de plaquetas; ▪ Tendência hemorrágica (hemofílicos), mas o sangramento ocorre em vênulas ou capilares; ▪ Várias pequenas hemorragias puntiformes em todo o corpo (púrpura trombocitopênica); ▪ Suspeita-se de trombocitopenia quando o sangue do paciente não se retrai; ▪ São formados, nessas pessoas, anticorpos que reagem contra as plaquetas, destruindo-as; ▪ A esplenectomia é útil, levando quase sempre à cura; ● Condições Tromboembólicas no Ser Humano ◦ Trombo = coágulo normal que se desenvolve no vaso sanguíneo; ◦ Êmbolo = coágulos que circulam livremente; ◦ Êmbolos originados nas grandes artérias/lado esquerdo do coração podem ir para a periferia e ocluir artérias e arteríolas no cérebro, rins etc. ◦ Êmbolos originados no sistema venoso/lado direito do coração causam embolia pulmonar; ● Coagulação Intravascular Disseminada ◦ Presença de grande quantidade de tecido traumatizado/necrótico, liberando muito fator tecidual; ◦ Ocorre em pacientes com septicemia disseminada; ◦ O paciente começa a sangrar, devido à remoção dos fatores de coagulação (utilizados em diversos coágulos disseminados no corpo), fazendo com que poucos pró-coagulantes permaneçam na circulação, insuficientes para a hemostasia; ● Cumarínicos Para Uso Clínico ◦ Quando aplicado num paciente, o cumarínico (varfarin) causa diminuição das quantidades de protrombina e de Fatores VII, IX e X (todos formados no fígado); ◦ O varfarin inibe a enzima redutase epóxia K-complexo 1 (VKORc1), reduzindo a disponibilidade da forma ativa de vitamina K nos tecidos, tornando os fatores de coagulação inativos; ◦ O processo de coagulação não é bloqueado imediatamente. Deve esperar pela degradação da protrombina ativa e de outros fatores afetados presentes no plasma;
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