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Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Cascata de coagulação A hemostasia consiste em eventos que envolvem os vasos sanguíneos, plaquetas, fatores de coagulação, anticoagulantes naturais, proteínas da fibrinólise e seus inibidores. • Hemostasia primaria: ocorre após uma lesão vascular e envolve o endotélio e plaquetas resultando na formação de um tampão plaquetário • Hemostasia secundaria: resulta da ativação de fatores de coagulação que produzem a trombina e fibrina • Hemostasia terciaria/fibrinólise: ativação de anticoagulantes naturais que limitam a produção de trombina e consequentemente fibrina excessiva. Células endoteliais Estruturas endoteliais A parede vascular é composta pelo endotélio, ML, tecido conectivo e fibroblastos, o endotélio fica sob contato íntimo com uma proteína (colágeno, laminina, fibronectina e trombospondina). No interior do endotélio possui o Fator de van Willebrand e P- selectina. Função do endotélio O sangue segue em fluxa laminar, após uma lesão vascular ou algum estimulo de citocinas inflamatórias o endotélio há alteração de fluxo laminar e começa a expressar fatores que modulam a função plaquetária, coagulação e fibrinólise (pró-coagulantes) Endotélio e regulação do tônus vascular e função plaquetária • Oxido nítrico: potente vasodilatador e inibidor da função plaquetária. A síntese do NO é estimulada pela ADP, bradicinina, substancia P, agonistas muscarínicos e por shear stress. • Prostaciclina PGI2: potente vasodilatador e inibidor da função plaquetária, é derivado do acido araquidônico sintetizado pelo endotélio. São agonistas da PGI2: trombina, histamina, bradicinina. • Fator de ativação plaquetária-PAF: fosfolipídio que promove a vasoconstrição e adesão de leucócitos ao endotélio • Endotelina: aumenta o tônus da ML resultando em vasocontrição Papel do endotélio na coagulação Anticoagulantes • Glicosaminoglicanos: produzidos pelo endotélio como Heparan sulfato, Dermatan sulfato. • Componentes da via da proteína C: A trombomodulina forma um complexo com a trombina e ativa a proteína C que inibe a formação da trombina, alem disso a proteína S atua junto com a C inativando cofatores Va e VIIIa. • Inibidor da via do fator tecidual: inibe a ativação de coagulação dependente do fator tecidual ao interagir inicialmente com o fator Xa. Pro-coagulantes As plaquetas circulantes não interagem com o endotélio, pois o fator tecidual localiza-se abaixo da camada endotelial. Quando o fator tecidual é exposto por uma lesão vascular inicia-se a formação de um trombo de modo que as plaquetas ativadas se aderem ao subendotelio por meio de proteínas de adesão como fator de V.W. e fibrinogênio. Papel do endotélio na fibrinólise O endotélio produz o ativador tecidual do plasminogênio que é ativado em plasmina a qual degrada a rede de fibrina. Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Plaquetas São fragmentos de megacariócitos anucleados com período de vida médio de 8 a 12 dias sendo degradadas pelo baço, figado e medula óssea. São ricas em glicoproteínas de superfície (GP Ia/IIa; GP Ib; GPIV; GPIIb/IIIa), possuem carga neutras externamente e negativas internamente, quando ativadas, a membrana externa torna-se negativa favorecendo os eventos da coagulação. Dentro das plaquetas possuem os grânulos alfa (FVW, fibrinogênio, fibronectina) e grânulos densos ( ADP e Ca),fatores de coagulação (V, XI e XIII) e inibidores da fibrinólise Função das plaquetas Formação do trombo Após a exposição dos componentes as plaquetas adequem ao subendotelio de modo que a ativação das plaquetas ocorra em cascata, aliado a isso a velocidade de fluxo sanguíneo é menor da periferia do vaso, assim ocorre o atrito entre as plaquetas ( shear stress) e interação do receptor plaquetário GPIb com o FVW que se liga ao colágeno exposto. Quando as plaquetas estão ativadas, elas expressão GPIIb/IIIa de modo que ocorra a agregação culminando com a formação do trombo plaquetário. Os principais agonistas plaquetários (ativam as plaquetas) são: • Trombina • ADP • tromboxano A2 • serotonina • colágeno • epinefrina Obs. Antagonistas da GPIIb/IIa: Abciximab, Eptifibatide e Tirofiban (inibem a função plaquetária) Quando o agonista se liga os receptor, ocorre a ativação da proteína G que ativa a fosfolipase C a qual produz o diacilglicerol a qual produz a proteinocinase C que permite a agregação plaquetária alem disso ocorre tambem a liberação de cálcio que ativa a fosfolipase A2 responsável pela cascata do ácido araquidônico e formação da tormboxano A2 pela via das cicloxigenases. Obs. A aspirina inibe a cicloxigenase inativando irreversivelmente a enzima- inibindo a função plaquetária. Inibição da ativação plaquetária A prostaciclina liberada pelo endotélio ativa a adenilciclase aumentado os níveis de AMPc que inibe a liberação de Ca impedindo a ação das enzimas que ativam as plaquetas. Fisiologia da coagulação • Coagulação: processo que leva a formação da fibrina • Hemostasia: coagulação fisiológica que ocorre após lesão vascular • Trombose: processo patologico da coagulação que pode ocluir o vaso • Fibrinolise: processo que atua sobre a fibrina, dissolvendo o coagulo Integrantes do processo de coagulação • Proteínas plasmáticas: zimogênio e cofatores • Células: plaquetas, endotélio e outras células sanguíneas • Ions: cálcio Os zimogênios devem ser ativados e as células possuem fosfolipídios que fazem a ancoragem e amplificação do processo de coagulação. Hemostasia primaria Iniciação- exposição do fator tecidual Após um dano vascular que expõe o subendotelio (colágeno), há uma vasoconstrição periférica reflexa com aumento de endotelina (estimula a adesão plaquetária) e diminuição de prostaciclina (vasodilatadora), ocorre a adesão das plaquetas por interação entre o Fator de Van Willebrand, colágeno vascular e glicoproteína plaquetária (GP IV e; Ia/IIa), dessa forma há ativação. (ADESÃO PLAQUETÁRIA- GP- Ib) Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina A agregação plaquetária envolve a GP IIb/IIIa Paralelamente, o fator tecidual no subendotelial se liga ao FVII no plasma que é ativado em FVIIa, este fator ativa os fatores IX e X em FIXa e FXa. • FXa se liga ao FVa (plaquetário) que converte a proteombina em trombina em pouca quantidade Amplificação- exercida pela trombina A trombina gerada na iniciação se liga a plaqueta via GpIb que sinaliza a amplificação da cascata e mudanças conformacionais das plaquetas para serem ativadas: • Mudança no citoesqueleto plaquetário • Degranulação das plaquetas com liberação dos granulo-alfa e denso ( ADP e Ca) • ADP ativa cascata do ácido araquidônico via fosfolipase A2 e produção da Tromboxano A2 (recruta as plaquetas) pela COX-1 (captação de plaquetas) • Serotonina • Glipoproteina IV • Exposição do fosfolipídio plaquetário Medicações que atuam na hemostasia primaria (antiagregantes) 1. ASS: acetila a COX-1 e COX-2 (sem Tromboxano A2) SEM AGREGAÇÃO 2. Clopidogrel: inibe o receptor de ADP na plaqueta e não ativa a fosfolipase A2- sem agregação 3. Bloqueador do receptor GP IIb/IIIa: A glicoproteína IIb/IIIa conecta uma plaqueta com a outra atraves do fibrinogênio liberado pelo granulo alfa na ativação da plaqueta. Propagação Os fatores VIII e V ativos favorecem a ancoragem de proteínas e formação de complexos. O fator IX ativado na iniciação liga-se as plaquetas de duas formas: Dependente de FVIII formando um complexo FVIIIa/FIXa ( tenase) que ativa o fator X plaquetário. O FXa forma com complexo com FVa (complexo proteombinase) que converte a protrombina em trombina.A trombina cliva o fibrinogênio em fibrina e alem disso a tormbina ativa do FXIII que torna o coagulo estável. Hemostasia secundaria Formação de uma rede de fibrina estabilizando o trombo, evitando ressangramento por deslocamento, o que auxilia na formação do coagulo Vias da cascata de coagulação São reações de proteólise que começa quando o sangue entra em contato com as cagas negativas das plaquetas que são ativadas (ativação por contato). A maioria dos fatores são produzidos no figado, exceto o fator VIII. Obs. Fatores de coagulação vitamina K dependente: 2,7,9,10 ancora o fosfolipídio plaquetário Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Via intrínseca 12,11,9,8 Essa via é ativada pelo contato do sangue com SUPERFÍCIES DE CARGA NEGATIVA (colágeno). Dessa forma o FXII é convertido em FXIIa que ativa o FXI em FXIa o qual ativa o fator IX e cofatores que ativa o fator X em FXa Há a participação de cofatores: cálcio, fosfolipidio plaquetário e fator VIIIa Obs. Coagulopatias que prejudicam a formação do Fator VIII são chamadas Hemofilia A (clássica); quando compromete o Fator IX Hemofilia B (doença de Christmas). Via extrínseca Via vitamina K dependente É a primeira a ocorrer, inicia-se com o contato do sangue com o FATOR TECIDUAL após a lesão endotelial fazendo com que o FVII entre em contato com fator tecidual que converte FVII em FVIIa o qual funciona como enzima que cliva o Fator X em Fator Xa. Via comum O fator Xa, Fator Va, cálcio e fosfolipídios de membrana converte a proteombina em trombina que catalisa a proteólise do fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel a qual adere as células sanguíneas formando um coagulo de elevada estabilidade e menor solubilidade. Obs. Bioquimicamente o complexo FT/FVII da via extrínseca pode tambem ativar a via intrínseca via Fator IX, pulando as reações iniciais induzidas pelo contato, dessa forma A ATIVAÇÃO DO COMPLEXO FT/FVII É O MAIOR EVENTO DESENCADEADOR DA HEMOSTASIA, alem disso as vias extrínseca e intrínseca não atuam de forma independente, elas atuam de forma integrada Fatores anti-coagulantes • Endotélio integro: sem exposição de colágeno e fator tecidual • Hemostasia primaria inibida por: NO, prostaciclinas que inibem os agonistas plaquetários • ADPase: inibe a iniciação • Trombomodulina: se liga a trombina e ativa a proteína C (degrada FVIIIa e FVa da via intrínseca e comum) • Produção de proteína S: inativa FVa FVIIIa, Xa • Sistema heparan sulfato: hidrolisa fatores vitamina K dependentes • Inibidor do fator tecidual: inibe via extrínseca Anticoagulantes Inibem diretamente a formação FXa interferindo a formação de trombina (anticoagulante e antiagregante) • Rivaroxabano • Odabigatrana Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Os antagonistas da vitamina K sofre influencia da dieta, são degradados pelo CYP 450 e não devem ser usados com amoxicilina Heparina • potencializando seu efeito anti-trombina plaquetária • 7,10,9 Inibidores do Xa • Atuam no FX ativado • Ribaroxabana Inibidores da trombina ( FIIa) • Dabigatrana Hemostasia terciaria Fibrinólise Processo que contrapõe a formação excessiva de coagulo evitando a formação de trombos assegurando a integridade vascular Consiste no processo de lise do coagulo, inicia-se quando o plasminogênio plasmático se liga ao coagulo ocorrendo a conversão de plasmina por meio do ativador do plasminogênio tecidual produzido pelo endotélio. Essa plasmina cliva as moléculas de fibrina gerando os produtores de degradação da fibrina como o D- dimero (COVID, TVP). Esse processo é regulado pelo Inibidor do ativador do plasminogênio-1, inibidores da plasmina. Há tambem a produção de heparina endógena que bloqueia a trombina. Regulação da coagulação • IVFT- essa via regula a fase inicial da coagulação, inativando o fator Xa • AT- atua como inibidor primário da tormbina,FXa, IXa, XIa e XIIa sua ação é acelerada pela heparina • PC- inibe os cofatores VA e VIIIa. Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina Coagulopatias congênitas Ocorre devido a perda do equilíbrio entre as substancia anticoagulantes e pró-coagulantes Consiste em anormalidades nos mecanismos de coagulação que se expressa por meio de manifestações hemorrágicas, trombóticas ou hemorrágicas e trombóticas podendo ser assintomáticas. Hemofilia A hemofilia A/hemofilia clássica e a hemofilia B/doença de Chrismas decorre da deficiencia quantitativa ou qualitativa dos fatores VIII e IX (ativam o fator X) respectivamente. Possuem alta prevalência no SEXO MASCULINO pois é ligada ao cromossomo X. O diagnostico baseia-se na quantificação da atividade coagulante dos fatores VIII e IX aliado a suspeita clinica e/ou antecedentes familiares. Porem o FVIII encontra-se ligado ao FVW, dessa forma é necessário dosar o fator VIII juntamente com o FVW para excluir deficiencia do fator de VW (doença de VW) Manifestações clinicas Ocorre o aparecimento de sangramento após traumatismo de mínima intensidade • Hemartrose- acomete os joelhos, cotovelo, tornozelo, ombros, coxofemoral, punhos. • Deformidades articulares • Hematomas musculares espontâneos ou após pequenos traumatismos • Sindrome de Volkmann- hematoma muscular no antebraço que com parasilia do nervo mediano ou ulnar • Sangramento espontâneo da língua ou garganta • Hematúria • Sangramento do TGI: hematoquezia ou melena, pode esta acompanhada de gastrite ou ulcera péptica • Sangramento no SNC Gravidade Depende do nível de comprometimento dos fatores: • Leve atividade de 5 a 25% • Moderada de 1 a 5% • Grave inferior a 1% Achados Avaliação da parte intrínseca da coagulação alterada (fatores VIII e IX) • Contagem das plaquetas normal • Tempo de sangramento normal • Tempo da protrombina TP normal • Tempo da tromboplastina parcial ativada TTPa anormal (alargamento do tempo) • Dosagem coagulometrica do fator alterada ou VII ou IX e dosar FVW Obs. O fator VIII está associado ao FVW Doença de Von Willebrand Doença hemorrágica hereditária causada por um déficit na concentração, estrutura ou função do FVW, este fator favorece a interação entre as plaquetas e os vasos de pequeno calibre de modo a provocar a agregação plaquetária. História familiar MULHER COM DISTURBIO DE COAGULAÇÃO Manifestações clinicas • Epistaxe • Menorragia • Hemorragia pós exodontia • Equimose • Sangramento após pequenos ferimentos • Gengivorragia • Sangramento pós operatório • Sangramento TGI Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina • Hemartrose A doença de VW pode ser adquirida espontaneamente ou em associação com outra doença como mieloma múltiplos, doença linfoproliferativa, doença mielo proliferativa Achados • Teste PFA-100 anormal (substitui o teste do tempo de sangramento) • Fator VIII baixo (solicitar dosagem da ligação VII/FVW) • TTPA prolongado • Níveis de FVW baixo • Função de ligação ao colágeno reduzida • Contagem das plaquetas geralmente normal Tormbofilias hereditárias Doença na qual há uma tendência genética em desenvolver trombos provocando o tromboembolismo venosos -TEV decorrente da obstrução do fluxo sanguíneo por um coagulo. Manifestações clinicas • Trombose venosa profunda • Embolia pulmonar Avaliação laboratorial da hemostasia Hemostasia primaria Envolve a interação da plaqueta com componentes do endotélio vascular e com proteínas plasmáticas com o fator de VW 1. Contagem das plaquetas: feitos com o EDTA avalia a distribuição do volume plaquetário e morfologia completa das plaquetas 2. Tempo de sangramento:medida da função plaquetária, perfura-se uma determinada região como lóbulo da orelha ou antebraço. Pode esta prolongado em trombocitopenias. 3. Estudo da agregação plaquetária: avalia a função da plaqueta (agregação após exposição a um agente agregante) como colágeno, ADP, adrenalina. 4. Citometria de fluxo: analisa determinadas glicoproteínas plaquetárias e sua deficiencia. Coagulação sanguínea Analisa a formação do coagulo de fibrina 1. Tempo da Protrombina TP: avalia o tempo de formação do coagulo de fibrina após adição do fator III e Ca, assim, analisa a via extrínseca e comum dependente de vitamina K. teste utilizado em pacientes que fazem o uso de anticoragulantes orais 2. Tempo de tromboplastina parcial ativado TTPA: avalia o tempo de coagulação do plasma após adição de um ativador de fase de contato sendo sensível para avaliar a via intrínseca e comum. Teste utilizado para monitorizar o uso de heparina 3. Tempo de trombina: avalia a adição de trombina em baixas concentrações no plasma puro de modo que o tempo é influenciado pela concentração de fibrinogênio e pelos inibidores da fibrina como a heparina 4. Anticoagulante lúpico: anticorpo dirigido contra proteínas que se ligam a fosfolipideos e costumam prolongar o TTPA 5. Fibrinogênio: pode ser medido por teste baseado no tempo de coagulação do plasma por alta concentração de trombina. Luís Felipe Rocha Anemias e Perda de Sangue Medicina 6. Dosagem de fatores: pode ser feito individualmente do fator que se deseja analisar Avaliação dos sistemas reguladores da coagulação Dosa as proteínas envolvidas nos sistemas inibitórios, útil para avaliação dos quadros de trombose venosa para identificar tormbofilia • Antitrombina: investiga trombofilia na qual apresenta níveis reduzidos sobretudo com o uso de heparina • Dosagem de proteína C: costuma prolongar o TTPA por inativar FVa e FVIIIa • Dosagem da proteína S: identifica anormalidades nessa proteína Avaliação da atividade fibrinolítica 1. Atividade fibrinolítica plasmática: medida por meio do tempo de lise do coagulo 2. Potencial fibrinolítico: avalia a capacidade de resposta do individuo em liberar ativadores do plasminogênio diante de exercício fisico, oclusão venosa, administração de drogas 3. Produtos da degradação da fibrina: ótimo marcador da atividade fibrinolítico, útil em casos de coagulação intravascular disseminada e trombose venosa. O mais utilizado é o D- dimero
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