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Aula online 1
O QUE É PATRIMONIO HISTÓRICO BRASILEIRO
Introdução
Nesta aula, identificaremos as alterações na concepção de patrimônio histórico, acompanhando a trajetória deste conceito não só no Brasil, como também no contexto mundial. Bons estudos!
Atualmente, é comum vermos, em jornais, revistas e programas de TV, inúmeras referências ao patrimônio histórico – desde e sua necessidade de preservação até a demanda para que algumas manifestações culturais sejam consideradas patrimônios.
Embora esteja na pauta do dia, as questões concernentes ao patrimônio histórico e cultural de uma nação ainda são nebulosas.
• Qual sua definição?
• Por que razão um determinado bem pode ser tombado e outro, não?
 • Por que existem cidades consideradas patrimônios da humanidade? 
• Estas são algumas questões que abordaremos nesta aula.
Definições de patrimônio histórico
Primeiro, vamos começar nos detendo sobre as definições de patrimônio histórico. Tradicionalmente, quando falamos em patrimônio, automaticamente pensamos em bens físicos: imóveis, museus, monumentos.
Hoje, porém, a definição de patrimônio é muito mais abrangente do que há cinquenta anos. Ela é fruto de um conjunto de saberes e não só da sua importância histórica.
A palavra patrimônio vem do latim patrimonium, e quer dizer, em sua essência, “herança paterna”.
De modo geral, o termo remete a legado, e desta maneira, podemos entender patrimônio, grosso modo, como bens – materiais, imateriais e ambientais – legados a uma civilização e que fazem parte da formação de uma identidade nacional.
Ainda que a preservação da memória tenha sido uma característica que remonta a civilizações da antiguidade, as práticas públicas para a preservação do patrimônio são relativamente recentes e ganham destaque na idade contemporânea, logo após a Revolução Francesa.
Definições de patrimônio histórico
Vamos marcar bem esta diferença: memória e patrimônio. É claro que um conceito está ligado a outro, mas são definições diferentes.
Sociedades antigas, como a grega e a romana, preservaram parte de sua memória, especialmente através de documentos escritos e monumentos.
Como exemplo de documentos, podemos citar os poemas Ilíada e Odisseia, de Homero, que recuperam fatos históricos e mitológicos da Grécia antiga e a Guerra do Peloponeso, de Tucídides, também sobre a Grécia clássica.
A descrição dessa guerra, suas táticas e avanços são, até hoje, estudadas por especialistas em estratégia militar e por pesquisadores do campo das relações internacionais.
Entretanto, embora a noção de memória seja antiga e considerada importante para o desenvolvimento de um povo, o mesmo não acontece com a noção de patrimônio.
Patrimônio histórico e cultural
Hoje, entendemos patrimônio como fundamental para o entendimento e a preservação da cultura de uma civilização. Daí as iniciativas para compreendê-lo, defini-lo e preservá-lo.
O entendimento tradicional de patrimônio teve como característica sua setorização: patrimônio arqueológico, patrimônio antropológico, histórico, ambiental e assim por diante. 
Estudos recentes, no entanto, tendem a mudar esta concepção, entendendo patrimônio como um conceito amplo e não setorizado. Por isso a noção global de patrimônio histórico e cultural, que engloba diversas áreas e setores de conhecimento.
Elementos do patrimônio cultural
Um dos mais importantes teóricos de nosso tempo, da área de museologia, Hugues de Varine Boham propõe que patrimônio cultural englobe três tipos de diferentes elementos, que irão compor sua definição:
ELEMENTOS NATURAIS- São aqueles referentes à natureza, clima e meio ambiente. Um rio, a vegetação, a fauna e a flora locais, todos estes fatores constituem elementos que compõem o patrimônio cultural.
Se hoje, no século XXI, há uma preocupação cada vez maior com a causa ecológica, nem sempre essa consciência existiu. Tantas expressões como energia renovável, sustentabilidade, reciclagem, entre outros, que fazem parte de nosso vocabulário corrente, são de fato práticas muito recentes.
Somente na década de 1980 podemos verificar a existência de uma preocupação real com o meio ambiente e com sua preservação e, portanto, com a compreensão de que o ambiente também é um fator determinante para a formação dos patrimônios culturais.
Vejamos alguns exemplos: o tipo de clima influencia no vestuário, nos hábitos alimentares e nos costumes sociais dos indivíduos. O acesso a outras cidades, a proximidade de mares e rios, a existência de serras, planaltos, planícies, o isolamento das cidades que se formam em vales, todos estes fatores constituem elementos naturais e, por influenciarem diretamente a sociedade, fazem parte de seu patrimônio cultural.
ELEMENTOS TÉCNICOS- São aqueles ligados ao conhecimento. Dos três pontos propostos por Varine Boham, este talvez seja o que requeira maior atenção e cuja extinção é verificada em muitos aspectos. Podemos citar como exemplo as práticas e o conhecimento das sociedades indígenas: medicina, artesanato, vestuário.
Muitas destas técnicas – na manipulação de ervas para fazer medicamentos, na maneira de misturar barro, argila e outros materiais para esculpir uma escultura, na elaboração de um tipo específico de tinta para pintar um painel ou um tecido – desapareceram com essas sociedades.
Daí a importância de preservar, hoje, técnicas que, devido à massificação e à produção em série de diversos artigos fundamentais, tendem a desaparecer.
ARTEFATOS- Segundo o arquiteto Calos A. C. Lemos:
O terceiro grupo de elementos é o mais importante de todos porque reúne os chamados bens culturais, que englobam toda sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer.
Aliás, a palavra artefato talvez devesse ser a única a ser empregada no caso, tanto designando um machado de pedra polida como um foguete interplanetário ou uma igreja ou a própria cidade em volta dessa igreja. (LEMOS, 2010, p. 10)
Ressalta-se: O resultado do elemento técnico, ou seja, o vaso, a escultura p. ex., é o que compõe o artefato.
CERÂMICA MARAJOARA (ARTEFATOS)
A ilha de Marajó – a maior ilha fluvial do mundo –, no estado do Pará, era habitada por indígenas que, desde o século V aproximadamente, desenvolveram técnicas de modelagem do barro para a criação de diversos artefatos: vasos, jarras, urnas funerárias, apitos, estatuas, bonecas e afins.
Para aumentar a resistência do barro, misturavam outras substâncias, como cascas de árvore e pó de conchas. O resultado é um trabalho riquíssimo, extremamente refinado, com diversos elementos decorativos únicos no mundo e que trazem consigo a história daquele povo.
A progressiva desagregação das tribos indígenas desta ilha fez com que o conhecimento para a elaboração deste tipo de cerâmica aos poucos fosse desaparecendo. Na década de 90, foi fundado o Liceu de Artes e Ofícios local, que busca a recuperação das técnicas de modelagem dessa cerâmica. Esta é uma iniciativa importante, não só para a recuperação do patrimônio cultural da população marajoara, mas para a cultura brasileira como um todo.
Patrimônio imaterial
É importante frisar que falamos até agora do patrimônio material, físico, que pode ser entendido e definido a partir das categorias que vimos. Mas há também o patrimônio imaterial, que veremos adiante.
O patrimônio imaterial é composto por elementos intangíveis, ou seja, que não são objetos. Pode ser desde uma técnica de produção artesanal – neste caso, o conhecimento – até festas ou manifestações culturais que dizem respeito à memória de um grupo ou de uma sociedade.
Atenção: o patrimônio imaterial é a técnica da produção do acarajé, e não o prato em si.
No Brasil, temos vários patrimônios imateriais, como as cavalhadas; a Festa do Divino, característica do estado de Goiás; e a copeira, que mescla dança e artes marciais, herança da cultura africana.
Também a culinária se destaca como patrimônio imaterial. As comidastípicas do estado da Bahia entram nesta classificação, como as técnicas para fazer o acarajé, um bolo frito e recheado, cujo principal ingrediente é o feijão fradinho.
Troca cultural: parte do patrimônio cultural brasileiro
As ciências humanas ocupam um papel privilegiado na definição de patrimônio. Dessa forma, cada patrimônio nacional é singular e único, fruto da experiência histórica de cada país ou nação.
Na América, as heranças coloniais permitiram o surgimento de novos modelos de sociedade que fazem parte do patrimônio cultural americano.
Ao chegarem às terras brasileiras, os portugueses encontraram diversas tribos indígenas, cada uma com um funcionamento próprio.
No Brasil, a partir do século XV, temos a presença portuguesa naquela que seria a maior colônia lusa, e por isso também chamada de América portuguesa.
É interessante comentar que os portugueses começaram a  escravizar os grupos indígenas de forma sistemática, entretanto tiveram muitos empecilhos; a oposição dos jesuítas, que os queriam catequizar e a dispersão dos índios pelo território bem conhecido, mas além disso, e principalmente, por não possuírem imunidade às doenças levadas pelos europeus, aos poucos os índios começavam a ficar doentes, incapacitados e morriam. Há relatos de que, por volta de 1562, duas epidemias dizimaram quase 60 mil índios. Assim, os portugueses sentiram a necessidade de  buscar outra mão de obra barata a sua colonização, começaram a traficar negros de diversas regiões para o Brasil.   
Há hoje um esforço para recuperar este patrimônio, seja na valorização da história do Brasil, seja buscando a reconstituição dos hábitos e modo de vida dos colonos, negros, índios, holandeses, franceses e todos que compuseram nossa rica miscigenação.
Podemos perceber mais apuradamente como funcionava a sociedade à época do Brasil-Colônia através das pinturas de Jean Baptiste Debret, produzidas durante a ‘Missão Artística Francesa’ (1816), que fundou, no Rio de Janeiro, uma academia de Artes e Ofícios, mais tarde Academia Imperial de Belas Artes, onde lecionou pintura.
A voltar à França, em 1831, publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-1839), documentando aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira no início do século XIX.
Uma de suas obras serviu como base para definir as cores e formas geométricas da atual bandeira republicana, adotada em 19 de novembro de 1889.
Novos patrimônios
Mas isto não quer dizer que bens ou artefatos históricos são apenas aqueles ligados a uma história secular, como é o caso do Brasil colônia.
Com a industrialização brasileira sendo retomada de forma sistemática pelo estado, a partir da Revolução de 1930, surgiram novos patrimônios. Trata-se dos patrimônios urbanos e arquitetônicos, como o Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, e a cidade de Brasília.
Podemos concluir, então, que patrimônio histórico e cultural são bens, manifestações e técnicas que representam um povo ou que constituem um elemento essencial na formação da identidade nacional.
Conceito de  cultura
Cultura: sistema complexo e vivo.
Em um mundo globalizado, estas noções têm caído em desuso e passam a ser desconsideradas como teoria válida para o entendimento cultural.
Porém, o caminho foi longo e ainda está sendo percorrido. De tempos e tempos, vemos nos jornais e revistas exemplos de preconceitos, sejam de origem, sejam de classe social ou etnia.
Embora as culturas das civilizações humanas sejam diferentes entre si, não existe uma hierarquia de culturas. Ou seja, umas culturas não são melhores ou piores que as outras. A valorização das técnicas de produção artesanal e seu entendimento como parte do patrimônio histórico e cultural são um exemplo disso.
Podemos juntar a elas as histórias contadas ao longo dos séculos, como os contos de fada, cuja origem é camponesa, mas que faz parte da tradição oral europeia e são conhecidos no mundo todo.
O que percebemos é que há uma sofisticação na definição de patrimônio, que passa do particular para o geral, deixa de ser regionalizado para se apresentar como nacional.
Por mais que a cerâmica marajoara esteja ligada a uma região brasileira específica, ela faz parte da cultura nacional, como nossa comida, danças folclóricas e músicas de todo o país.
Por muito tempo, apenas a cultura das classes dominantes foi valorizada. É por isso que é mais provável hoje encontrarmos resquícios da cultura portuguesa no Brasil, do colonizador europeu, do que das culturas indígena e afric
ana, consideradas culturas subalternas ou primitivas.
Há, neste sentido, um forte etnocentrismo nesta concepção. Os europeus viam nos indígenas e nos africanos uma cultura selvagem e primitiva, que deveria ser erradicada ou “civilizada” de acordo com os padrões europeus.
Preservação do patrimônio histórico
Agora, que já definimos e entendemos os elementos que compõem o patrimônio histórico, surge uma nova questão: como fazer para preservá-lo?
A industrialização crescente expandiu sobremaneira as cidades. Muitos prédios, tanto coloniais quanto imperiais, foram englobados e absorvidos por estas cidades.
Alguns foram recuperados e foram adequados a novos usos. É o caso das residências imperiais no Rio de Janeiro, o palácio da Quinta da Boa Vista e de Petrópolis, que hoje abrigam museus.
Outros simplesmente desapareceram, fruto do abandono e da especulação imobiliária, como diversos casarios do centro desta mesma cidade.
Precisamos atentar que a expansão urbana e a construção de novas habitações são necessárias, não sendo males em si. Mas a falta de políticas públicas efetivas é o maior responsável pelo desaparecimento de inúmeros bens culturais do país.
O Brasil não é um caso isolado.  Os problemas na conservação dos patrimônios históricos atingem todas as nações.
Alguns eventos tornam estes problemas mais evidentes, como foi o caso da I Guerra Mundial. Ao fim deste conflito, foi formada a Liga das Nações uma união de países que tinha, entre outros objetivos, evitar que uma nova guerra eclodisse na Europa.
Importância da Liga das Nações
A função primordial da Liga fracassou, já que em 1939 começou a II Guerra Mundial. Mas esta instituição deixou um legado fundamental para o nascimento de uma das mais importantes instituições de nosso tempo: a Organização das Nações Unidas – a ONU –, que viria a substituir a Liga das Nações.
Apesar de sua curta existência, a Liga das nações teceu uma série de iniciativas, não só políticas, mas também intelectuais, e foi fundamental para a concepção de preservação do patrimônio histórico.
Em 1921, é criada a Organização Internacional de Cooperação Intelectual (OICI). Sobre ela, Letícia Pumar Alves de Souza estabelece que:
Segundo os documentos oficiais, essa organização procurava “...desenvolver a colaboração dos povos nos domínios da inteligência, a fim de assegurar o bom  entendimento internacional para a salvaguarda da paz”, e era composta de uma  Comissão Internacional de Cooperação Intelectual (CICI), um Instituto Internacional de Cooperação Intelectual (IICI) e 45 Comissões Nacionais.
A CICI foi criada em 1921 e a primeira reunião foi realizada em outubro de 1922, em Genebra. Seus membros eram escolhidos pelo Conselho da Liga das Nações e eram responsáveis por dirigir os trabalhos e controlar todas as atividades referentes ao projeto de cooperação intelectual.
(SOUZA, Leticia Pumar Alves de, 2011)

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