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Princípios Processuais no processo penal

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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS
DIREITO PROCESSUAL PENAL I
Prof: Wanderson Gome de Oliveira
Turma: 5º período.
Disponibilizado aos alunos: 23/02/2017
PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS (continuação)
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO (art. 5º LV CF)
Direito de ser informado. Só podemos falar no exercício do contraditório se for informado.
O contraditório possibilita o exercício da defesa que deve e pode ser ampla.
Obs: Súmula 523 do STF: falta de defesa e defesa insuficiente. Ex: Advogado que não apresentou defesa. Processo nulo. Venceu pela prescrição.
Leitura dos art. 261, parágrafo único e 263 do CPP.
Obs: A denúncia deve narrar os fatos praticados claramente sob pena de inépcia do art. 41.
PRINCIPICIO DA PUBLICIDADE: (Art. 792 CPP)
Todos os atos processuais são públicos (art. 792 CPP), exceto quando decretados sigilosos.
Obs: O inquérito é sigiloso. Art. 20 CPP.
Advogado tem acesso ao processo sigiloso? E ao inquérito?
A matéria restou pacificada com a Lei 13.245/2016.
Redação anterior: 
	Lei 13.245/2016 (Altera o art. 7o da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994)
	Antes
	Depois
	Art. 7º São direitos do advogado:
[...]
XIV - examinar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de inquérito, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos;
	Art. 7º São direitos do advogado:
[...]
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;         (Redação dada pela Lei nº 13.245, de 2016)
Claro que o advogado tem acesso ao processo. Estatuto do Ordem Art. 7º , XIV e tem acesso ao I.P. (qualquer inquérito).
E se há provas sigilosas no I.P.? Sim. “...investigações de qualquer natureza...”.
Obs: Súmula vinculante nº 14 do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
PRINCIPIO DA IDENTIDADE FISICA DO JUIZ: (Lei 11.719/08) 
O Juiz que preside a instrução tem que ser o que sentencia? 
No Processo Penal isso não vigorava, o juiz que sentenciava podia ser outro que não participou da instrução criminal. Acabou com a nova lei (Art. 399, § 2º do CPP).
Veio ao encontro à nova sistemática, ou seja, jurisdição única.
Art. 399.  Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
[...]
§ 2o  O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ:
Seria a essência para um julgamento isento de forma que o juiz não possua qualquer vínculo subjetivo com o processo.
Obs: Tanto o impedimento quanto a suspeição devem ser reconhecidos de ofício pelo juiz e caso não se declarem as partes podem requerer (arts. 252 e 254 do CPP).
Art. 95 da CF: Garantias para que o juiz possa atuar com total isenção.
Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: 
I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; 
II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII; 
III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
 
PRINCIPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO:
Todo réu no crime tem direito ao duplo grau de jurisdição. É o direito de apelar. (art. 593 CPP).
Obs: Não está expresso na CF, mas sim no art. 8º, item 2, alínea “h”, da Convenção Americana de Direitos Humanos.
Artigo 8º - Garantias judiciais
[...]
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:
[...]
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
Exceção: A única exceção ainda vigente no STF são os casos de competência originária dos Tribunais.
Obs: O réu para apelar tem que ser recolhido a prisão?
O Art. 594 CPP, antes exigia prisão para apelar, salvo se primário e bons antecedentes. Este artigo foi revogado. A CADH é mais favorável, (Principio “pro homine”).
Quem falou isso foi o STF. H.C. 88420/PR
PRINCIPIO DA AMPLA DEFESA: Art. 5º, LV.
O Estado deve proporcionar a todo acusado a mais ampla defesa, seja pessoal (auto defesa), seja técnica (advogado) e prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (art. 5º, LXXIV).
Obs: Deve-se observar ordem do processo. Defesa deve se manifestar em ultimo lugar.
PRINCIPIO DA INDISPONIBILIDADE:
Prevalece no Processo Penal o principio da indisponibilidade ou obrigatoriedade. O Crime é uma lesão irreparável ao interesse coletivo. O Estado, então, deve punir. 
Decorre do mencionado principio que a autoridade policial não pode recusar a proceder investigações preliminares (art. 5º), não pode arquivar I.P. (art. 17), O MP não pode desistir da ação penal (art. 42), nem do recurso interposto (art. 576) - Regra de Irretratabilidade.
Obs: A CF admite abrandamento dessa regra. Ex. Transação Penal. (CF – art. 98, I, c/c a lei 9.099/95, art. 76).
PRINCIPIO DA OFICIALIDADE (a) E OFICIOSIDADE (b): 
“a” - Em decorrência do principio anterior os órgãos responsáveis pela “persecutio criminis” não podem ser privados . Da mesma forma exercida por agentes públicos.
Ex: 129, I e Policia Judiciária - art. 144, §4º da CF c/c art. 4º do CPP.
Obs: Admite exceção no caso de Ação Penal Privada.
“b” - As autoridades públicas incumbidas pela persecução penal devem agir de oficio.
PRINCIPIO DA VERDADE REAL:
O Juiz tem o dever de investigar como os fatos se passaram na realidade, não se contentando com a verdade formal dos autos. Para tanto: Art. 156, II CPP.
É diferente do Processo Civil onde o juiz se conforma com a verdade trazida aos autos, embora não seja mero espectador (art. 130 CPC).
Exceção ao principio da Verdade Real:
a) Art. 479 CPP. “Durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte”.
b) A inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito (Art. 5º, LVI CF e CPP 157 do CPP). 
c) Os limites para depor (art. 207)
d) Recusa de depor de parentes do acusado (art. 206)
e) Art. 156, I CPP – Questionável. A princípio prevê figura do juiz investigador. (Processo Inquisitivo). Estaria, portanto, impedido de proferir qualquer sentença ou decisão no processo criminal que vier a se instaurar (art. 252, II – caso de impedimento).
Obs. Art. 3º Caput, Lei Crimes Organizados (Lei 9034/95). Possibilidade juiz realizar deligências – STF, ADIN 1.570, declarou inconstitucional com base art. 129, I e VIII e §2º e 144, §§1º, I e IV e 4º da CF).
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR. REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE. COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA. FUNÇÕES DE INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei 9034/95. Superveniência da Lei Complementar 105/01. Revogação da disciplinacontida na legislação antecedente em relação aos sigilos bancário e financeiro na apuração das ações praticadas por organizações criminosas. Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre o acesso a dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e apreensão de documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo realizadas pessoalmente pelo magistrado. Comprometimento do princípio da imparcialidade e conseqüente violação ao devido processo legal. 3. Funções de investigador e inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I e IV, e § 4o). A realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia. Precedentes. Ação julgada procedente, em parte. 
Obs: Art. 156. Não se afasta a constitucionalidade de iniciativas do juiz de aprofundamento ou complementação.
PRINCIPIO DA LEGALIDADE
Os órgãos incumbidos da persecução penal não podem possuir poderes discricionários para apreciar conveniência e oportunidade.
Assim o Delegado nos crimes de ação publica é obrigado a proceder a investigação preliminar e o MP é obrigado a oferecer denuncia desde que verifique fato delituoso.
Exceções: Crimes de Ação Penal Pública Condicionada e Ação Penal Privada.
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA OU DA NÃO CULPA
- Constituição Federal:
Art. 5º.
[...]
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
- Convenção Americana de Direitos Humanos (ratificada pelo Brasil: Decreto nº 678/1992).
Artigo 8º - Garantias judiciais
[...]
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. 
Antes, então, de uma sentença penal condenatória transitada em julgado somos presumidamente inocentes. O cerceamento cautelar da liberdade somente em situações excepcionais e necessárias.
Atenção: Em 05 de outubro de 2016 o STF admitiu execução da pena após condenação em segunda instância
Por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o artigo 283 do Código de Processo Penal (CPP) não impede o início da execução da pena após condenação em segunda instância
Voto da Ministra Cármen Lúcia
A presidente do STF negou o pedido de cautelar nos pedidos. Ela relembrou, em seu voto, posicionamento proferido em 2010 sobre o mesmo tema, quando acentuou que, quando a Constituição Federal estabelece que ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado, não exclui a possibilidade de ter início a execução da pena – posição na linha de outros julgados do STF.
Para a presidente, uma vez havendo apreciação de provas e duas condenações, a prisão do condenado não tem aparência de arbítrio. Se de um lado há a presunção de inocência, do outro há a necessidade de preservação do sistema e de sua confiabilidade, que é a base das instituições democráticas. “A comunidade quer uma resposta, e quer obtê-la com uma duração razoável do processo”.
* Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.
PRINCIPIO DO “FAVOR REI”.
O princípio do favor rei, é também conhecido como princípio do favor inocentiae, favor libertatis, ou in dubio pro reo. Pode se dizer que decorre do princípio da presunção de inocência. 
Baseia-se na predominância do direito de liberdade do acusado quando colocado em confronto com o direito de punir do Estado, ou seja, na dúvida, sempre prevalece o interesse do réu. Na existência de duas interpretações antagônicas, deve-se escolher aquela que se apresenta mais favorável ao acusado. 
No processo penal, para que seja proferida uma sentença condenatória, é necessário que haja prova da existência de todos os elementos objetivos e subjetivos da norma penal e também da inexistência de qualquer elemento capaz de excluir a culpabilidade e a pena. 
A dúvida sempre beneficia o acusado. Na duvida absolve o réu (falta de prova). 
Art. 386, VII do CPP seria típica positivação do mencionado princípio.
Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
[...]
VII – não existir prova suficiente para a condenação. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Alguns recursos somente em favor do réu. Ex: Revisão Criminal.
Material utilizado:
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 8 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 19 ed., São Paulo: Saraiva, 2012.
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 10 ed., São Paulo: Saraiva, 2013.
MACHADO, Antônio Alberto. Curso de processo penal. 3 ed., São Paulo: Atlas, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal. 5 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. 18 ed., São Paulo: Atlas, 2014. 
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 20 ed., São Paulo: Atlas, 2012.
TAVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7 ed., Salvador: Jus Podivm, 2012.

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