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UNIDADE I – BASES DO DIREITO PENAL TEMA 1: INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL PLANO DE AULA 1ª AULA: CONCEITO, OBJETO E MÉTODO DO DIREITO PENAL. PREVISÃO: 6 DE AGOSTO DE 2014 – 21h10/22h50 BIBLIOGRAFIA: ESTEFAM, Tit. I, Cap. 4, p. 79 a 81 TEXTO DE APOIO ANEXO: Extraído de JACOB, p. 17 a 28. ROTEIRO DE AULA EXPOSITIVA CONCEITO PRELIMINAR DE DIREITO PENAL Ordenamento jurídico limitador do poder punitivo no Estado Democrático de Direito mediante normas que disciplinam a sua atuação na definição do crime e das medidas aplicáveis ao seu autor. PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO DO ESTADO Lesividade ou ofensividade Intervenção Mínima Legalidade dos delitos e das penas (Reserva Legal) Culpabilidade Dignidade Humana (Humanidade) OBJETO DO DIREITO PENAL PROTEÇÃO DO BEM JURÍDICO Exclusividade Fragmentariedade (seletividade) Subsidiariedade METODOLOGIA Determinação e estudo dos requisitos do crime Critérios de definição e aplicação da pena (retribuição e prevenção). UNIDADE I – BASES DO DIREITO PENAL TEMA 2: PRINCIPIOLOGIA. PRINCÍPIOS DA OFENSIVIDADE (OU LESIVIDADE) E INTERVENÇÃO MÍNIMA. MODELOS DE DIREITO PENAL PLANO DE AULA 2ª AULA: PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO DO ESTADO. LESIVIDADE (OFENSIVIDADE). INTERVENÇÃO MÍNIMA OBJETIVO: Enunciados os princípios da ofensividade e da intervenção mínima, explicar o caráter fragmentário ou seletivo e o caráter subsidiário do Direito Penal, conforme o modelo garantista. ROTEIRO DE AULA EXPOSITIVA PRINCÍPIO DA OFENSIVIDADE ENUNCIADO: O DIREITO PENAL SOMENTE ESTÁ LEGITIMADO A PUNIR AS CONDUTAS QUE IMPLICAM DANO OU AMEAÇA SIGNIFICATIVA AOS BENS JURÍDICOS CARECEDORES DE UMA AÇÃO PREVENTIVA ESPECIAL. A legitimação do Direito Penal. Princípio da exclusiva proteção do bem jurídico. O Bem jurídico é aquele cujo conteúdo de valor é reconhecido e protegido pelo Estado através de normas cuja desobediência implica sanção. O Bem Jurídico no Direito Penal. Caráter fragmentário. Sistema descontínuo de ilicitudes. Os limites: seleção de bens jurídicos e de violações. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA ENUNCIADO: A PROTEÇÃO DO DP SOMENTE DEVE SER INVOCADA EM ÚLTIMA INSTÂNCIA CASO NÃO SEJA SUFICIENTE A APLICAÇÃO DE OUTRAS REGRAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO. A pena como ultima ratio (recurso extremo). Proteção necessária e suficiente. Caráter subsidiário: onde bastem outros procedimentos mais suaves para preservar ou restaurar a ordem jurídica, o Direito Penal não está legitimado a intervir. Finalidades de pena: retribuição proporcional e prevenção especial. Evolução das ideias penais. Prevenção Geral (Positiva ou Negativa) e Prevenção Especial MODELO GARANTISTA DE DIREITO PENAL Modelos de Direito Penal A Constituição Federal e o Estado Democrático de Direito Características do Modelo Garantista de Direito Penal. CONCEITO DE DIREITO PENAL Ordenamento de proteção de bens jurídicos relevantes (objeto) contra violações significativas denominadas crimes importando uma modalidade de sanção particularmente grave (método), cuja imposição propõe-se a evitar que o autor cometa novas violações (finalidade social). TEXTO DE APOIO PRINCÍPIOS DA OFENSIVIDADE E DA INTERVENÇÃO MÍNIMA 1. - PRINCÍPIOS REITORES. O sistema punitivo de um Estado Democrático de Direito, e assim se constitui a República Federativa do Brasil (artigo 1º da Constituição Federal), rege-se a partir de alguns princípios que compõem a base da qual emergem os conceitos doutrinários, as categorias científicas, os institutos dogmáticos, enfim todos os critérios que fundamentam e limitam a sua aplicação. Orientados pela idéia de que o Estado Democrático de Direito é espaço de liberdade, esses princípios reitores correspondem à necessidade de proteger a sociedade das condutas que, de algum modo, implicam invasão aos direitos individuais, não só autorizando a intervenção punitiva, mas definindo com clareza quais as restrições dessa intervenção. Sua maturação política decorre do processo histórico evolutivo da sociedade civilizada e resulta de conquistas árduas e constantes da racionalidade humana. Esta filiação política revela-se não só pela sua inclusão explícita no texto constitucional, mas sobretudo pela transcendência da sua função, que não se limita à construção da ciência penal, mas alcança o caráter de condição programática mínima de um Direito Penal comprometido com a garantia da dignidade da pessoa humana. São cinco os princípios reitores do Direito Penal: lesividade (ou ofensividade), intervenção mínima, reserva legal (ou tipicidade), culpabilidade e dignidade humana (ou humanidade). 2. - PRINCÍPIO DA LESIVIDADE. O princípio reitor da lesividade, ou ofensividade, denota a função de proteção do bem jurídico como marco legitimador da intervenção punitiva. Seu enunciado é o seguinte: o Direito Penal somente está legitimado pela necessidade de evitar danos sociais relevantes aos bens jurídicos essenciais para a coexistência. Dito de outro modo, a conduta humana somente pode ser injusto punível se lesiva ou ofensiva a um bem jurídico. Todo bem jurídico é, por si, importante para a coexistência, tanto que se tornou credor da tutela do Estado. Entretanto, bens jurídicos há que são essenciais para a sociedade humana. Esses bens, portanto, carecem de proteção especial, diferenciada, proporcional à sua essencialidade. O ordenamento jurídico dispõe, então, de um sistema normativo severo, de um complexo de regras de conduta cuja desobediência conduz à imposição coerciva das sanções mais graves que podem ser concebidas pelo Direito. Esse sistema é o Direito Penal. É a expressão mais severa do ordenamento jurídico porque a exigência de proteção aos bens jurídicos essenciais para a coexistência humana (seu fundamento) legitima-o a proibir ou obrigar condutas, associando à conduta oposta uma privação de bem jurídico, impondo ao desobediente, desta forma, um sofrimento ético, uma aflição moral ou mesmo um padecimento físico. Como se observa, o Direito Penal tem uma aspiração ética, uma meta ideal, em certa medida utópica e transcendental: evitar (= prevenir) a ocorrência de danos ou ameaças aos bens jurídicos essenciais para a coexistência e carecedores de uma proteção especial. A prevenção dessas ofensas constitui sua razão de ser, sua justificativa última, sua fundamentação elementar. Identificada a possibilidade de lesão ao bem jurídico essencial, intervém com rigor, prometendo e aplicando penas. Comprometido com a realização integral da pessoa humana, o Direito Penal, embora severo, não existe para castigar o ofensor, para "fazê-lo sofrer", mas para prevenir as ofensas socialmente relevantes. É correto afirmar que o Direito Penal tem caráter repressivo, na medida em que castiga condutas ofensivas ao bem jurídico. Mas é predominante seu caráter preventivo, porquanto, castigando-as, quer evitar que ocorram condutas semelhantes no futuro. 3. – CARÁTER FRAGMENTÁRIO DO DIREITO PENAL. Entendido o fundamento do Direito Penal (necessidade de proteção ao bem jurídico carecedor de proteção especial), dele decorrem duas conclusões: 1) se é necessária a proteção, então as ofensas ao bem jurídico devem ser evitadas. Ora, por duas vias previnem-se ofensas ao bem jurídico, a saber, proibindo condutas ofensivas, ou obrigando condutas protetivas. Quando o Direito Penal proíbe matar, está atento ao primeiro aspecto; quando obriga a prestar socorro, está cuidando do segundo aspecto. 2) se o bem jurídico que assim se protege é o essencial, então urge estabelecer quais, entre tantos, carecem de especial proteção. É preciso, nesse caso, formular constantes juízos valorativos, apreciações, qualificações, de modo que os bens jurídicos sejam identificados, conhecidos e respeitados. A identificação e o conhecimento da vida enquanto bem jurídico essencial implica a apreciação do seu valor e do seusignificado para a coexistência, convencendo as pessoas a respeitá-la. Emerge desta ordem de considerações o caráter fragmentário, limitado ou seletivo. O Direito Penal avalia as realidades sociais e culturais, conforme normas próprias de valoração, conferindo-lhes significado, identificando-as como situações dignas de proteção especial. Ao mesmo tempo, define regras de comportamento comprometidas, exclusivamente, com a plena realização da sua aspiração ética. Sendo assim, o Direito Penal reserva as realidades sociais e culturais que deve proteger. Através da atenta observação dos acontecimentos no espaço social, seleciona os bens jurídicos essenciais para a coexistência e que se revelam carecedores de uma proteção mais eficaz, mais rigorosa. Por outro lado, exerce a mesma seletividade em relação às condutas sobre as quais deve impor suas normas de proibição ou de obrigação, limitando-as àquelas cujo conteúdo de desvalor sejam relevantes, e mantendo-se afastado das que, embora possam ser ofensivas a bens jurídicos, não necessitem do mesmo rigor protetivo. Este duplo filtro de bens e ofensas restringe as regras do Direito Penal à proteção do mínimo indispensável para a convivência social, autorizando-o a intervir segundo um rigoroso controle de eficácia, proibindo ou obrigando fragmentariamente aquelas condutas (= ofensas relevantes) com referência a alguns bens jurídicos (= essenciais e carecedores de proteção especial). Esta característica do Direito Penal - a fragmentária ou seletiva - está na base de todo o sistema, permitindo a sua operacionalidade em regime de absoluta garantia e autorizando a construção dos institutos mais importantes da sua dogmática. 4. Princípio da Intervenção Mínima. A natureza aflitiva da coerção penal enquanto privação ou restrição de bens jurídicos do autor da conduta ofensiva, e a concessão ao Estado do monopólio do poder punitivo, obrigam a delimitar o conteúdo e abrangência da proteção que o Direito Penal deve conferir à ordem social. O problema fere não apenas o fundamento jurídico do Direito Penal, mas atinge até mesmo sua justificação política no Estado Democrático de Direito, convertendo-se em critério último de formação e aplicação das regras incriminadoras. Cuida-se de saber em que medida e dentro de que limite está o ordenamento jurídico autorizado a interferir na vida social, editando normas de conduta cuja desobediência implica sanção. A tendência que se acolhe é a minimalista, qual seja, a que reconhece no Direito Penal um sistema de proteção mínima ao bem jurídico essencial para a coexistência ou que careça de proteção eficaz de outro ramo do ordenamento jurídico. A idéia de proteção mínima é resultado do reconhecimento de que a coerção penal é, por definição, ingerência grave no espaço de liberdade das pessoas, justificada pela necessidade de prevenir o crime enquanto ofensa significativa aos bens jurídicos imprescindíveis para a convivência humana. Por isso, a legitimidade do exercício do poder punitivo do Estado condiciona-se pelo critério da limitação ao mínimo necessário para assegurar tal convivência. Para atender a essa condição, o Direito Penal mínimo extrai todas as consequências teóricas e práticas decorrentes das suas características fragmentárias e seletivas. Proteção mínima significa, em primeiro lugar, conceituação clara do bem jurídico a ser protegido, identificando sua real importância para a sociedade. A orientação axiológica primária do Direito Penal mínimo é o conteúdo da Constituição Federal, que arrola em vários dispositivos os bens que a ordem social considera fundamentais. O critério constitucional é, pois, suporte elementar para a estrutura do ordenamento jurídico-penal. Em segundo lugar, proteção mínima é proteção reservada (= proteção subsidiária), quer dizer, confere-se se e enquanto o bem jurídico não estiver satisfatoriamente assegurado por outra instância normativa, se e enquanto a conduta ofensiva traduza dano social relevante, se e enquanto a pena corresponder a uma exigência ética de preservação da ordem social. Em terceiro lugar, a proteção mínima é garantia mínima quanto ao núcleo de direitos do cidadão ante as regras incriminadoras e apenadoras que o Estado está autorizado a impor. A proteção da dignidade da pessoa humana obtém-se, assim, pela dupla via da proteção do bem jurídico pelo Direito Penal e da proteção do bem jurídico contra o Direito Penal. Esta concepção ajusta-se através de critérios normativos de incorporação da tutela de determinados bens jurídicos e pela eliminação de outros cuja tutela se tenha reconhecido como desnecessária, pela criminalização ou descriminalização de condutas, pela exclusão de penas cruéis ou degradantes, pela pesquisa de respostas penais alternativas ou substitutivas, pela humanização do sistema penitenciário, pela adoção de princípios de garantia na redação das normas penais incriminadoras, pelo reconhecimento da culpabilidade como requisito indispensável para a apenação, pela proibição de excessos punitivos, pelo respeito à liberdade geral de atuação do indivíduo na ordem social. O Direito Penal mínimo cresce em eficácia quando despreza a insignificância, dedicando-se ao que é necessário proteger.
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