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direito penal 1

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Indaial – 2019
Direito Penal i
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
L788d
Lixa, Ivone Fernandes Morcilo
Direito penal I. / Ivone Fernandes Morcilo Lixa. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
197 p.; il.
ISBN 978-85-515-0370-6
1. Direito penal. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 341.43
III
aPresentação
Caro, acadêmico, a punição e castigo é um dos grandes dilemas que 
envolve a existência humana. Ao longo da história, nas diversas culturas e 
textos sagrados, encontramos explicações e justificativas para o controle das 
condutas consideradas desviantes/indesejáveis e/ou criminosas. Crime e 
punição estão no cerne da moral, da religião e dos debates filosóficos buscando 
valorar condutas humanas e enaltecendo ou condenando ações e sentimentos. 
Várias são as compreensões acerca do que é crime: legal (comportamento 
punido pelo código penal); moral (quando o comportamento é ofensivo aos valores 
sociais); política (quando o poder instituído, através dos que dele se apropriam, 
viola direitos a fim de ser mantido); entre outras. Entretanto, no contexto de 
nossa disciplina, vamos nos central na questão jurídica penal, ou seja, a definição 
de crime, seus elementos caracterizadores e punibilidade sob a perspectiva do 
Direito. Portanto, nosso estudo será de um dos campos do Direito que é o Direito 
Penal, composto por um conjunto de normas que descrevem (tipificam) os crimes 
e estabelece sanções (penas) pela sua infração. Como se observa, trata-se de um 
campo específico do Direito que trata do crime e da pena. 
Delimitando nosso campo de estudo, nosso objetivo será o estudo 
do Direito Penal Parte Geral prevista no “Código Penal” – expressão mais 
utilizada para nominar o Decreto-lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940, que 
tem por título “Código Penal brasileiro”. Mais especificamente, nosso estudo 
se limitará aos arts. 1º ao 31 do referido Código e terá como temáticas centrais: 
Introdução ao Direito Penal, Teoria da Norma Penal e Teoria do Crime. 
Para tanto organizamos o estudo em três unidades. A Unidade 1 tem 
como objeto principal a análise e discussão acerca dos fundamentos do Direito 
Penal, cujos objetivos são os de compreender e identificar os conceitos de 
Direito Penal relacionando-o com os demais campos do saber jurídico. São 
objetivos desta unidade também individualizar e conceituar os princípios 
gerais do Direito Penal; compreender e discutir as fontes do Direito Penal; 
discutir a especificidade da norma penal. Ela está dividida em três tópicos, 
quais sejam: Tópico 1: conceito, objeto e características do Direito Penal; Tópico 
2: os princípios do Direito Penal e Tópico 3: a norma penal no tempo e espaço. 
Na Unidade 2 o estudo centra-se na Teoria do Crime objetivando-se 
compreender o crime como fato jurídico e teorias penais da ação criminosa; 
identificar, conceituar e classificar os diferentes tipos de crime e sujeitos 
envolvidos (autor e vítima), bem como os aspectos subjetivos do crime, quais 
sejam, dolo e culpa. Para atingirmos tais objetivos, dividimos a unidade em 
três tópicos. O Tópico 1: analisa e problematiza o conceito de crime, as teorias 
acerca do crime e elementos caracterizadores. Tópico 2: analisa os sujeitos do 
crime – autor e vítima – e tipo de crime. No Tópico 3: apresenta especificamente 
a discussão acerca dos elementos subjetivos do delito – dolo e culpa – 
diferenciando-os e analisando as implicações na imputação e penalização. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Finalmente, na Unidade 3, estudaremos os conceitos e características 
da antijuridicidade e concurso de pessoas na prática de delitos. Para 
explorarmos melhor os temas, dividimos nossa discussão em três tópicos. 
Tópico 1: Antijuridicidade – conceitos, excludentes de ilicitude, estado de 
necessidade e legítima defesa. Tópico 2: concurso de pessoas – conceito e 
teorias. Finalmente, no Tópico 3: A coautoria – analisando conceito e distintas 
espécies de participação na prática do delito. 
A proposta desse livro é contribuir para sua formação acadêmica, 
possibilitando o desenvolvimento de habilidades e competências que 
auxiliem em sua atuação profissional. 
Estaremos sempre juntos nessa jornada!
Bons estudos!
Prof.a Ivone Fernandes Morcilo Lixa
V
VI
VII
UNIDADE 1 – FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL .............................................................. 1
TÓPICO 1 – CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL ................ 3
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 3
2 DELIMITAÇÃO CONCEITUAL ..................................................................................................... 4
2.1 DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO ............................................ 5
2.2 DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E DIREITO PENAL ADJETIVO ..................................... 6
2.3 DIREITO PENAL COMUM E DIREITO PENAL ESPECIAL ................................................. 7
3 RELAÇÃO DO DIREITO PENAL COM OUTROS RAMOS JURÍDICOS ........................... 7
3.1 DIREITO PENAL E DIREITO CONSTITUCIONAL ............................................................... 8
3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL E DIREITO PENAL ........................................................... 10
3.3 DIREITO PRIVADO E DIREITO PENAL .................................................................................. 11
3.4 DIREITO PENAL E DIREITO ADMINISTRATIVO ................................................................ 12
4 CRIMINOLOGIA E A FUNÇÃO ÉTICA DO DIREITO PENAL ............................................. 13
4.1 CRIMINOLOGIA E DIREITO PENAL ..................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 18
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 19
TÓPICO 2 – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL ................................................................... 21
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................21
2 COMPREENDENDO PRINCÍPIOS E REGRAS ......................................................................... 21
3 AS DIFERENÇAS ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS ................................................................. 23
3.1 DIFERENÇAS QUANTO À HIERARQUIA ............................................................................. 23
3.2 DIFERENÇAS QUANTO AO CONTEÚDO ............................................................................. 24
3.3 DIFERENÇA QUANTO À ESTRUTURA FORMAL ............................................................... 24
3.4 DIFERENÇA QUANTO À APLICAÇÃO ................................................................................. 25
3.5 DIFERENÇAS QUANTO AO IMPEDIMENTO DO RETROCESSO ..................................... 25
4 PRINCÍPIOS BASILARES DO DIREITO PENAL ...................................................................... 26
4.1 O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA ............................................................................ 27
4.2 O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE .............................................................................................. 29
4.3 O PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE ....................................................................................... 31
5 PRINCÍPIOS DECORRENTES ....................................................................................................... 32
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 39
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40
TÓPICO 3 – NORMA PENAL NO TEMPO E ESPAÇO ................................................................ 43
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43
2 AS NORMAS PENAIS ...................................................................................................................... 43
3 CARACTERÍSTICAS DA NORMA PENAL ................................................................................ 46
3.1 LEI PENAL NO TEMPO .............................................................................................................. 47
3.1.1 Conflitos de Leis Penais no Tempo (Conflito Intertemporal) ........................................ 49
3.1.2 Eficácia das Leis Penais Temporárias e Excepcionais ..................................................... 49
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 54
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 56
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 57
sumário
VIII
UNIDADE 2 – TEORIA DO CRIME ................................................................................................. 59
TÓPICO 1 – CONCEITO: CRIME, TEORIAS E ELEMENTOS ................................................... 61
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61
2 CONCEITO ......................................................................................................................................... 61
3 CONDUTA .......................................................................................................................................... 64
4 TEORIAS DA AÇÃO ........................................................................................................................ 67
4.1 TEORIA FINALISTA DA AÇÃO ................................................................................................ 69
4.2 TEORIA SOCIAL DA AÇÃO ...................................................................................................... 70
5 AÇÃO E ILICITUDE ......................................................................................................................... 71
5.1 CONSCIÊNCIA E ILICITUDE .................................................................................................... 71
5.2 EMBRIAGUEZ ............................................................................................................................. 73
5.3 CULPABILIDADE DIMINUÍDA ................................................................................................ 74
5.4 INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA ........................................................................ 75
5.5 ERRO DE PROIBIÇÃO ................................................................................................................ 76
5.6 CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR ....................................................................................... 77
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 78
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 79
TÓPICO 2 – SUJEITO, OBJETO E TIPOS DE CRIME .................................................................. 81
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81
2 SUJEITOS DA CONDUTA TÍPICA ............................................................................................... 81
2.1 OBJETO DO CRIME ..................................................................................................................... 83
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ............................................................................................... 84
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 93
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 94
TÓPICO 3 – ASPECTOS SUBJETIVOS DO CRIME – DOLO E CULPA................................... 97
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97
2 DO CRIME DOLOSO ....................................................................................................................... 97
2.1 AS TEORIAS SOBRE O DOLO ................................................................................................... 99
2.2 ESPÉCIES DE DOLO .................................................................................................................... 100
2.3 DO CRIME CULPOSO ................................................................................................................. 102
2.4 A PREVISIBILIDADE ................................................................................................................... 104
2.5 FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA CULPA: IMPRUDÊNCIA, 
NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA ................................................................................................... 106
2.6 ESPÉCIES DE CULPA .................................................................................................................. 106
3 CRIME QUALIFICADO PELO RESULTADO ............................................................................. 109
3.1 CRIME PRETERDOLOSO ........................................................................................................... 109
3.2 DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE ......................................................................... 110
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 112
AUTOATIVIDADE ..............................................................................................................................113
TÓPICO 4 – DESCRIMINANTES PUTATIVAS: ERRO DE TIPO E 
ERRO DE PROIBIÇÃO................................................................................................. 115
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 115
2 DISTINÇÃO ENTRE ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO .......................................... 116
3 FORMAS DE ERRO DE TIPO ......................................................................................................... 117
3.1 ERRO DE TIPO ESSENCIAL ...................................................................................................... 118
3.2 ERRO DE TIPO ACIDENTAL .................................................................................................... 119
3.3 ERRO DE PROIBIÇÃO ................................................................................................................ 120
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 122
RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 124
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 125
IX
UNIDADE 3 – ANTIJURIDICIDADE, CULPABILIDADE E CONCURSO DE PESSOAS .......127
TÓPICO 1 – ANTIJURIDICIDADE ...................................................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
2 CONCEITO DE ANTIJURIDICIDADE ........................................................................................129
2.1 CLASSIFICAÇÃO ..........................................................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136
TÓPICO 2 – EXCLUDENTES DE ILICITUDE .................................................................................139
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................139
2 CONCEITO DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE .............................................................................139
2.1 EXCESSO PUNÍVEL ......................................................................................................................145
3 ESTADO DE NECESSIDADE ..........................................................................................................148
3.1 ATUALIDADE DO PERIGO ........................................................................................................148
3.2 INEVITABILIDADE DO PERIGO E INEVITABILIDADE DA LESÃO .................................149
3.3 INVOLUNTARIEDADE NA CAUSA DO PERIGO .................................................................149
3.4 INEXIGIBILIDADE DO SACRIFÍCIO DO BEM AMEAÇADO .............................................150
3.5 CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO JUSTIFICADORA DA CONDUTA .............................150
4 EXCLUSÃO DO ESTADO DE NECESSIDADE ...........................................................................151
5 LEGÍTIMA DEFESA...........................................................................................................................153
5.1 REQUISITOS DA LEGÍTIMA DEFESA ......................................................................................154
5.1.1 Agressão injusta, atual ou iminente ...................................................................................154
5.1.2 Moderação dos meios necessários ......................................................................................157
5.2 CLASSIFICAÇÃO DA LEGÍTIMA DEFESA .............................................................................159
5.3 OFENDÍCULOS .............................................................................................................................161
6 EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO E ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL ....161
6.1 INTERVENÇÕES MÉDICAS E CIRÚRGICAS ..........................................................................162
6.2 VIOLÊNCIA ESPORTIVA ............................................................................................................163
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................165
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................166
TÓPICO 3 – CONCURSO DE PESSOAS ..........................................................................................167
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167
2 CONCEITO DE CONCURSO ..........................................................................................................167
3 TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS ........................................................................170
3.1 TEORIA MONISTA OU UNITÁRIA DA PARTICIPAÇÃO ................................................170
3.2 TEORIA DUALISTA ......................................................................................................................171
3.3 TEORIA PLURALISTA .................................................................................................................172
3.4 TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO ................................................172
4 ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO ......................................................................................................174
5 REQUISITOS PARA O CONCURSO DE PESSOAS ...................................................................175
6 AUTORIA .............................................................................................................................................176
6.1 TEORIA UNITÁRIA ......................................................................................................................177
6.2 TEORIA RESTRITIVA ...................................................................................................................178
6.3 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO .............................................................................................178
6.4 TEORIA EXTENSIVA ....................................................................................................................178
7 AUTORIA MEDIATA ........................................................................................................................179
7.1 CONCURSO DE PESSOAS OU CONCURSO DE AGENTES .................................................180
7.2 TIPOS DE AUTORIA .....................................................................................................................181
7.3 REQUISITOS PARA O CONCURSO DE PESSOAS .................................................................181
7.4 FORMAS DE PARTICIPAÇÃO ....................................................................................................181
7.5 ALGUMAS DIFERENCIAÇÕES IMPORTANTES....................................................................182
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................183
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................192
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................193REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................195
X
1
UNIDADE 1
FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender e identificar os conceitos fundamentais do Direito Penal; 
• relacionar o Direito Penal com os demais campos do conhecimento 
jurídico;
• individualizar e conceituar os princípios do Direito Penal;
• identificar as fontes do Direito Penal;
• interpretar a norma penal;
• aplicar a lei penal no tempo e espaço.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
TÓPICO 2 – OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
TÓPICO 3 – NORMA PENAL NO TEMPO E ESPAÇO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciarmos o estudo em qualquer área do conhecimento o ponto de 
partida é compreendermos o que exatamente vamos estudar, ou seja, qual é nosso 
objeto de reflexão e análise e é exatamente isto que faremos nessa primeira unidade. 
Desde o conceito de Direito Penal, compreendendo-o como um sistema 
normativo, compreenderemos os elementos centrais que compõe o Direito 
Penal, buscando responder às seguintes questões: o que é Direito Penal? Qual 
sua função? Qual sua relação com os demais campos do Direito? Quais seus 
fundamentos e princípios basilares? Quando e como pode ser aplicado? Estas são 
algumas das questões que vamos compreender e discutir nesta primeira unidade 
e momento inicial de estudo. Veremos nesta unidade que o Direito Penal é um 
sistema normativo de controle formal, composto por regras e princípios jurídicos 
que constituem um campo específico do Direito Público. Essencialmente o Direito 
Penal estabelece as ações consideradas como crimes e a elas, como consequência, 
imputa uma pena ou medida de segurança. 
Concebendo o Direito como um sistema normativo, ou seja, como um 
todo coerente e harmônico e não um emaranhado de normas desconexas, há que 
se compreender o Direito Penal em sua interrelação com os demais campos do 
Direito, particularizando e caracterizando a norma penal. Analisaremos a norma 
penal desde uma perspectiva contemporânea, considerando o Direito Penal em 
sintonia com os princípios e fundamentos éticos do Estado Democrático de Direito.
Aprofundando o conceito de crime, desde uma perspectiva causal-explicativa, 
encontraremos na Criminologia, uma fonte de compreensão crítica e analítica das 
condições de criminalização e as funções do sistema punitivo. Verificaremos que o 
Direito Penal seria um saber inócuo e abstrato, sem condições de por si só, responder 
de maneira efetiva a complexa questão do crime e criminalidade. Por essa razão, 
apenas analisando o sistema normativo penal à luz da Política Criminal e Poder 
Judiciário, é que visualizaremos o que é “Direito Penal”. 
Vamos lá!
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
4
2 DELIMITAÇÃO CONCEITUAL
O Direito Penal é definido como o ramo do Direito Público composto 
por um conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado. 
Ocupa-se em estudar: os valores fundamentais sobre os quais se assentam as bases 
de convivência social (bens jurídicos), os fatos e/ou condutas que os violam e as 
normas jurídicas (princípios e regras jurídicas) destinadas a proteger e garantir 
tais valores através da imposição de penas e medidas de segurança.
Há um certo consenso entre os penalistas acerca da conceituação de 
Direito Penal. Para Bitencourt (2008), Direito Penal apresenta-se como um 
conjunto de normas jurídicas que determinam que ações são consideradas como 
crimes e lhes imputa a pena – esta como consequência do crime –, ou a medida de 
segurança. Já para Luiz Régis Prado (2008), é o setor ou parcela do ordenamento 
jurídico público que estabelece as ações ou omissões delitivas, cominando-
lhes determinadas consequências jurídicas – penas ou medidas de segurança. 
Enquanto sistema normativo, integra-se por normas jurídicas (mandamentos e 
proibições) que criam o injusto penal e suas respectivas consequências. Nucci 
(2008) assevera que o Direito Penal é o corpo de normas jurídicas voltadas à 
fixação dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo as infrações penais e 
as sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação. 
Em síntese, o Direito Penal ou Direito Criminal, como preferem alguns, 
define as infrações penais (crimes, delitos e contravenções), cominando pena na 
hipótese de descumprimento dos preceitos estabelecidos. 
Como Direito Público, sua atuação independe da vontade do ofendido, 
constituindo dever e função do Estado intervir e impor sanção, cabendo somente 
ao Estado a penalização.
DICAS
• Sendo ramo do Direito Público, o Direito Penal tutela valores que interessam à coletividade 
e são indisponíveis. Portanto, não pode o sujeito particular ofendido dispor da ação penal, 
desistindo ou mesmo perdoando o autor de um delito.
• Possui caráter primário ou constitutivo (não acessório) e autônomo e não meramente 
sancionatório. 
• É de caráter positivo, sendo sua principal fonte o jus positum – Direito positivo.
• É valorativo e imperativo, ou seja, valora condutas e impõe ao agente a obrigação de fazer 
ou deixar de fazer algo. 
• É sancionatório, porque reage com uma sanção, pena, àquele que violou o preceito legal.
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
5
É o Direito Penal um sistema de controle social formalizado, constituído 
por um conjunto de regras e princípios que formam um campo específico do 
ordenamento jurídico destinado a proteger bens jurídicos relevantes, e é a forma 
mais dura de intervenção do Estado na vida coletiva e individual, e por esta razão, 
apenas se justifica em situações para as quais os demais ramos do Direito são 
ineficientes. Em assim sendo, significa que o Direito Penal deve intervir na vida 
coletiva e/ou individual tão somente quando outras intervenções jurídicas não 
penais falharem ou forem ineficazes, devendo funcionar apenas subsidiariamente 
(princípio da subsidiariedade), intervindo minimamente na criminalização de 
condutas (princípio da intervenção mínima), atuando ultima ratio na solução de um 
conflito ou problema social. A razão para que o Direito Penal seja assim considerado 
é porque a intromissão do Estado na esfera penal é de privação ou restrição de 
liberdade, bem jurídico fundamental no Estado Democrático de Direito.
Mas, afinal, o que são os bens jurídico-penais? Para o penalista Roxin 
(1997), bens jurídicos são circunstâncias dadas ou finalidades que são úteis para o 
indivíduo, considerando tais bens a finalidade maior da vida social. Pode-se então 
considerar como bens jurídicos valores e/ou interesses relevantes e significativos 
para a vida humana, tanto individual como coletiva. 
Embora sendo a religião e a moral bens jurídicos relevantes e também 
protegidos, é vedado ao Direito em geral, e ao Penal em particular, a intervenção 
no âmbito moral, religioso e ético, e todas as demais esferas da vida íntima das 
pessoas, determinando condutas morais e/ou religiosas, uma vez que possui como 
função a proteção de tais bens jurídicos e não ser um instrumento de controle na 
esfera íntima de crença religiosa ou convicção moral. 
Há que se assinalar que o controle social é exercido por um conjunto de 
instituições (escola, igrejas, associações, entre outras), estratégias (aceitação, 
valorização pessoal, entre outras) e ações (formas específicas de agir) que objetivam 
estabelecer limites e padrões de comportamento social, criando normas e aplicando 
sanções (não jurídicas) para os “desvios” em relação aos padrões estabelecidos. 
Em relação aos demais ramos do Direito, o Direito Penal é preventivo, isto 
é, tem por objetivo impedir a práticade delitos através de uma prevenção geral e 
genérica, dirigida a todos os cidadãos, impondo, a partir do devido processo legal e 
demais garantias legais e constitucionais, a sanção prevista. Por ser o Direito Penal 
a expressão máxima do poder coercitivo do Estado, a norma penal é um imperativo 
que atribui à pena a função de prevenir delitos e proteger bens jurídicos. 
2.1 DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO
Entende-se como Direito Penal objetivo o conjunto de normas jurídicas 
(regras e princípios) que descrevem os crimes (infrações penais) e impõem como 
consequência sanções (penas ou medidas de segurança).
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
6
Já o Direito Penal subjetivo é o direito de punir – jus puniendi – exercido 
exclusivamente pelo Estado, coibindo-se, assim, a vingança privada. Trata-se do 
ius imperium, poder de império do Estado. Divide-se em:
• Ius puniendi in abstracto (ou primário) – surge com a criação da norma penal 
e é a prerrogativa do Estado de poder exigir de todos os destinatários que se 
abstenham de praticar a ação ou omissão definida no preceito legal.
• Ius puniendi in concreto (ou secundário) – é o que nasce, em geral, com o 
cometimento da infração penal, surgindo daí o poder-dever do Estado de 
exigir que o infrator se sujeite à sanção prevista. 
DICAS
Portanto: é no momento em que ocorre a infração que é possível a punição em 
concreto, uma vez que é quando ocorre a possibilidade jurídica de ser imposta uma sanção 
penal. O Direito Penal objetivo é a norma penal em si e o Direito Penal subjetivo é a expressão 
do poder/faculdade do Estado de elaborar e fazer cumprir as normas, executar as decisões 
do Poder Judiciário. Por consequência, o ius puniendi, Direito Penal subjetivo, é a decisão 
político-criminal que, com base na norma penal, declara punível um fato, imputando uma 
sanção a seu autor.
2.2 DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E DIREITO PENAL ADJETIVO
O Direito Penal substantivo ou material é o Direito Penal objetivo, ou seja, 
o conjunto de normas (regras e princípios) que definem as infrações penais e 
impõem sanções (penas ou medidas de segurança). 
O Direito Penal Adjetivo ou formal é o Direito Processual Penal, que possui 
como finalidade determinar a maneira como deve ser aplicado o Direito Penal.
FIGURA 1 – DIREITO PENAL MATERIAL E DIREITO PENAL FORMAL
FONTE: A autora
Direito Penal
Material
(normas
 penais)
Direito Penal
Formal
(processo 
penal)
Direito
Penal
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
7
2.3 DIREITO PENAL COMUM E DIREITO PENAL ESPECIAL
A denominação Direito Penal Comum é utilizada para designar o Direito 
Penal aplicável pela justiça comum, de modo geral, a todas as pessoas, enquanto o 
Direito Penal Especial é aquele ramo do Direito Penal que se encontra sob a jurisdição 
especial que rege somente a conduta de um determinado grupo de pessoas. 
O Direito Penal Comum tem como fundamento o Código Penal e as diversas 
leis penais extravagantes, como a Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006), Código de 
Trânsito (Lei nº 10.826/2003), Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), entre outras. 
O Direito Penal Especial é aquele que se encontra sob a responsabilidade 
de justiça especializada. Em nosso ordenamento é o caso da chamada justiça 
castrense ou militar, a qual se incumbe de aplicar as normas previstas no Código 
Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/1969). 
Há que se esclarecer que não se pode confundir Direito Penal Especial 
com Parte Especial do Direito Penal, que é aquela referenciada no próprio Código 
Penal, como o Direito Penal Econômico, Direito Penal Empresarial, Direito 
Penal do Consumidor etc. Observe que estas áreas não são autônomas, apenas 
caracterizam estudo com objeto específico e possuem legislações específicas, sem 
que haja Justiça ou Tribunal Especializado, como é o caso da Justiça Militar. 
FIGURA 2 – DIREITO PENAL COMUM E DIREITO PENAL ESPECIAL
FONTE: A autora
Direito Penal:
ramo do direito público cujas 
normas visam a proteção de 
bens jurídicos, punindo fatos 
que os violam
Direito Penal Subjetivo:
Direito do Estado de 
punir
Direito Penal Comum:
aplicado pela justiça 
comum a todos os 
cidadãos
Direito Penal Especial:
aplicado pela Justiça 
especial (CPM)
Direito Penal Objetivo:
normas penais
3 RELAÇÃO DO DIREITO PENAL COM OUTROS 
RAMOS JURÍDICOS 
Compreender o Direito Penal em sua complexidade não significa limitar-
se à ordem normativa, à legislação penal em si, mas também conhecer a Ciência 
Penal, que se constitui em um conjunto de conhecimentos acerca do sistema 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
8
normativo penal (regras e princípios penais), que é chamada Dogmática Penal. 
O termo “dogmática” deve ser compreendido como o conjunto do saber jurídico 
penal que possui função analítica e problematizadora acerca do direito positivo 
penal criado pelo Estado. A Dogmática Penal trata-se de uma ciência que, a partir 
das normas positivas, discute os valores e finalidades das normas, permitindo a 
seu aplicador (Estado-Juiz) decidir de maneira justa e equânime, evitando, assim, 
a arbitrariedade e o casuísmo. 
Segundo o penalista Muñoz Conde (2001), a Dogmática Penal possui 
uma importante função no Estado Democrático de Direito, que é a de garantir 
a proteção dos direitos fundamentais do cidadão frente ao poder arbitrário do 
Estado, pois, embora este tenha limites estabelecidos pela ordem constitucional, 
é necessário o controle de tais limites. 
Portanto, o Direito Penal, enquanto saber científico, não é apenas mera 
contemplação ou memorização das normas penais, mas trata-se do campo de 
direito dinâmico e permanente inter-relação com outros campos da Ciência 
Jurídica, como a seguir analisaremos brevemente, considerando apenas alguns, 
dentre os vários, campos específicos do Direito e sua relação com o Direito Penal.
3.1 DIREITO PENAL E DIREITO CONSTITUCIONAL
Sem dúvida, a relação do Direito Penal com o Direito Constitucional é 
inegável e basilar. Considerando a Constituição Federal como o fundamento do 
ordenamento jurídico em um Estado Democrático de Direito e ápice do sistema 
jurídico, todas as normas obrigatoriamente estão vinculadas e subordinadas aos 
ditames constitucionais. 
Tal enlace coloca-se no plano vertical, de maneira que todos os setores 
do ordenamento jurídico devem retirar seu fundamento de validade 
formal e material, da Constituição, servindo esta como fonte primeira 
e limite insuperável de sua atuação (LENZA, 2012, p. 44).
Na perspectiva contemporânea de Direito, o Direito Constitucional 
condiciona e norteia todos os ramos do Direito e, em particular, o Direito Penal, por 
duas razões: 1. Os bens jurídicos tutelados encontram-se insculpidos na Magna Carta 
como Direitos Fundamentais, cabendo ao Estado a tarefa de protegê-los; 2. O Direito 
Penal, enquanto instrumento de controle social, facultando ao Estado a imposição de 
restrições a direitos fundamentais (vida, liberdade, patrimônio etc.), e esta ingerência 
deve ser em conformidade e sob o controle dos princípios constitucionais penais, que 
são indisponíveis e inegociáveis mesmo para o ente estatal. 
Os direitos fundamentais constituem, neste sentido, o núcleo central de 
legitimação e limite de ação do Estado, que deve obedecer aos princípios políticos 
e jurídicos da ordem democrática, como estudaremos mais detalhadamente no 
próximo tópico. Lembrando o consagrado constitucionalista Konrad Hesse (1983), 
a Constituição é que estabelece os pressupostos de criação, vigência e execução 
do ordenamento jurídico e constitui o elemento unificador do sistema normativo. 
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
9
Luigi Ferrajoli (2002) lembra que o modelo clássico positivista reduzia 
a validade normativa à sua vigência, considerando-a tão somente produto 
legislativo, sem considerar-se o conteúdo valorativo das normas produzidas. 
Entretanto, nos estados constitucionais contemporâneos, tal concepção é 
insuficientee inadmissível. Para Ferrajoli, o Direito em geral e o Direito Penal 
em particular, no Estado Democrático Constitucional, vinculam-se a princípios 
políticos e jurídicos éticos que delimitam os parâmetros valorativos de produção, 
interpretação e aplicação das normas jurídicas, devendo declarar-se inválidas as 
normas que violam direitos fundamentais. 
DICAS
Portanto, uma determinada norma pode ter vigência (formal), observando-
se apenas o critério de legitimidade jurídica formal, mas não ter validade (material) por 
estar em desconformidade com significados ou conteúdos normativos delimitados 
constitucionalmente. No Estado absolutista, validade e vigência eram equivalentes. O Estado 
Democrático de Direito caracteriza-se justamente por essa possível divergência. A validade 
das normas exige conformidade com os valores estabelecidos por outras normas superiores 
a elas. Uma teoria juspositivista contemporânea como a de Kelsen não faz essa distinção, 
pois, para o autor, todo Estado é um Estado de Direito, equivalendo-se vigência e validade. A 
possibilidade de invalidade de uma norma vigente se abre diante da recusa dessa premissa, 
em que por muito tempo se afirmou que o ordenamento jurídico é um todo completo e 
coerente, desprovido de lacunas.
Em um Estado Absoluto, a resposta à questão “quando e como punir?” é muito simples: 
“quando e como queira o soberano”. Já no Estado Democrático de Direito, são normas 
constitucionais que oferecem as respostas aos problemas do “quando” e do “como”. Para 
Ferrajoli, dependendo do caráter vinculante das respostas, um sistema será mais ou menos 
garantista, mais ou menos de “direito”.
FONTE: SALAH, H. K. Introdução aos fundamentos do direito penal. Disponível em: <http://
www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7411>. 
Acesso em: 28 mar. 2019.
O Direito Penal contemporâneo deve ser assentado, portanto, em princípios 
fundamentais, próprios do Estado Democrático de Direito, e tem como base o 
expresso na Magna Carta. Porém, por serem normas prescritas de forma imperativa, 
em não raras vezes tanto o órgão julgador como o legislador produzem e aplicam 
normas que afrontam a ordem democrática e constitucional. Criando um paradoxo. 
Entretanto, como lembra o próprio Ferrajoli (2002), há na prática uma grande 
contradição entre as normas produzidas e reproduzidas com os princípios e valores 
constitucionais, mas a realização do modelo é um projeto a ser perseguido e efetivado. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
10
Lembra Ferrajoli:
Se as lutas pelos direitos são o veículo necessário mediante o qual se 
afirmam necessidades vitais insatisfeitas, é essencialmente graças a elas 
que se produzem as mudanças progressivas na esfera do direito positivo: 
do reconhecimento constitucional de novos direitos fundamentais à 
elaboração de novas garantias legais para direitos já reconhecidos, 
das evoluções da jurisprudência às solicitações de responsabilidade 
política pela violação dos direitos já garantidos. E é precisamente nesta 
capacidade de mudar ou de influenciar a legislação, a jurisdição, o 
governo e a administração que consistem a força e o sucesso de uma luta 
social; por outro lado, é signo de esterilidade ou de fraqueza a sua falta 
de saídas, ou pior, de objetivos institucionais, idôneos, a garantirem e a 
estabilizarem as instâncias em formas jurídicas positivas (2002, p. 871).
A íntima e vital relação entre Direito Penal e Direito Constitucional é o 
que permite a funcionalidade axiológica do sistema normativo, uma vez que as 
normas penais apenas possuem validade e obrigam quando orientadas segundo 
os fins dos valores constitucionais consagrados, conferindo sentido de justiça ao 
controle punitivo do Estado. 
3.2 DIREITO PROCESSUAL PENAL E DIREITO PENAL
A relação entre Direito Processual Penal e Direito Penal é muito estreita. 
De acordo com Tourinho Filho (2011, p. 54), Direito Processual Penal é constituído 
pelo conjunto de normas e princípios que regulam a aplicação jurisdicional do Direito 
Penal objetivo, a sistematização dos órgãos de jurisdição e respectivos auxiliares, bem 
como a persecução penal.
Portanto, enquanto o Direito Penal é constituído por normas que definem 
condutas criminosas e cominam as sanções correspondentes, o Processo Penal é o 
“instrumento” através do qual a pena é imposta, sendo ambos complementares, 
uma vez que o ius puniendi – direito do Estado de punir – somente pode ser 
exercido através do ius persequendi – meio formal de exercício do direito de punir. 
Frise-se: no Estado Democrático de Direito não há como aplicar uma 
pena senão pelo devido processo legal, due process of law –, segundo o disposto 
no art. 5º, inc. LIV da CF, ao determinar que “ninguém será privado de sua 
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. 
A ocorrência de um delito desencadeia para o poder público o dever 
de punir o agente, tornando realidade a sanção cominada à infração cometida. 
Entretanto, para que isso aconteça, o Estado deve necessariamente recorrer ao 
Poder Judiciário, através de um procedimento formal e solene, que assegure o 
contraditório e ampla defesa, a fim de demonstrar a culpabilidade do agente, 
podendo ou não o Estado impor pena ou, se for o caso, medida de segurança. 
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
11
3.3 DIREITO PRIVADO E DIREITO PENAL
Embora o Direito seja um sistema normativo unitário com inter-relações 
internas e externas, que possui todos os ramos do ordenamento jurídico mútuos, 
complexas e intrincadas implicações, cada campo específico mantém autonomia.
No caso do Direito Privado não é diferente, a exemplo do Direito Civil. 
De acordo com o Código Civil, entende-se por ilícito:
a) O ato de alguém que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
viola direito e causa dano a outrem, ainda que exclusivamente moral (art. 186). 
b) O exercício abusivo de um direito por seu titular, quando exceder 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes (art. 187).
As penas previstas a estes vão desde a obrigação de reparar o dano, a 
imposição de multa, a rescisão contratual, a nulidade do ato ou negócio jurídico, 
até, em caráter excepcional, a decretação da prisão coercitiva, quando se tratar 
de dívida de alimentos, obedecendo ao disposto no art. 528 do CPC, que é 
a única hipótese por dívida admitida pela CF (art. 5º LXVVII), uma vez que a 
jurisprudência colocou fim à possibilidade de depositário infiel. 
Ainda, em casos de indenização civil ex-delicto que acompanham a condenação 
na esfera penal e a tutela de institutos do Direito Civil, por exemplo, a propriedade 
em casos de furto, roubo, dano etc., ou mesmo nos contratos e negócios privados.
FIGURA 3 – ANÁLISE DO ATO ILÍCITO – ESFERA CIVIL OU CRIMINAL?
FONTE: <https://cdn-images-1.medium.com/max/800/1*ZuQKwNF8BhEq2cONo5zkXw.png>. 
Acesso em: 28 mar. 2019.
Para casos de infrações chamadas de “menor potencial ofensivo”, atualmente 
as chamadas contravenções penais e crimes cuja pena máxima não exceda a dois 
anos (Lei nº 9.099/95), ocorre o “devido processo legal consensual”, em que, por 
meio de uma transação penal, é possível a aplicação de pena alternativa. 
A relação entre Direito Penal e Direito Processual Penal é tão próxima que 
se pode concluir afirmando que o segundo é a força, a energia potencial para que 
aquele se concretize. 
ESFERA PENAL
ESFERA CIVIL
ABUSO DE
DIREITO 
PRÓPRIO
VIOLAÇÃO 
DE DIREITO 
ALHEIO
CRIME
ATO ILÍCITO
Lato Sensu
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
12
Há clara diferença entre ilícito civil e ilícito penal. Na esfera civil, embora 
seja reconhecida a conduta ou ato pela norma civil como ilícito, não há crime, 
havendo ainda diferenças bastante claras. A responsabilidade penal é sempre 
individual e personalíssima (art. 5º, inc. XLV da CF), enquanto no Direito civil 
é admitia a responsabilidade por ato de terceiros,como no caso de pais que 
respondem por seus filhos menores, do empregador ou comitente por seus 
empregados e prepostos, entre outros. 
DICAS
Sugere-se como leitura complementar os seguintes sites: 
<https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/16730/Il%C3%ADcito_Civil_Il%C3%ADcito_Penal.pdf> 
e 
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1404>. 
Acessos em: 28 mar. 2019.
3.4 DIREITO PENAL E DIREITO ADMINISTRATIVO 
Para Celso Bandeira de Mello (2011), Direito Administrativo é o ramo 
do direito público que disciplina a função administrativa, bem como pessoas e 
órgãos que a exercem. É composto, portanto, por regras e princípios que regem 
o funcionamento e organização da administração pública e sua relação com 
particulares no exercício do interesse público.
São muitos os pontos de contato entre o Direito Penal e o Administrativo. 
Por exemplo, a tutela penal da Administração Pública (Título XI da Parte Especial 
do CP), os efeitos extrapenais da condenação, dentre os quais há a perda do cargo, 
função ou mandato eletivo (art. 92, I, do CP) e ainda, a pena restritiva de direitos, 
como a proibição de atividade, cargo ou função pública, bem como mandato 
eletivo (art. 47, II, do CP).
UNI
Para melhor compreensão, leia um texto sobre essa temática, acessando o link a 
seguir: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
id=11132>. Acesso em: 29 mar. 2019.
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
13
Como se observa, o Direito Administrativo também prevê sanções, 
porém de caráter disciplinar, relacionadas à prática de atos ilícitos na esfera da 
administração pública. Portanto, tais sanções não são penas, uma vez que as 
sanções penais exigem a prática de crime e a submissão a processo penal, que 
deve obedecer aos princípios do contraditório e ampla defesa. 
EM SÍNTESE:
Relação do Direito Penal com alguns ramos do Direito
Direito Constitucional
• A supremacia política e jurídica constitucional fundamenta o Direito Penal.
• Os bens jurídicos tutelados encontram-se insculpidos na Magna Carta como Direitos 
Fundamentais, cabendo ao Estado a tarefa de protegê-los. 
• O Direito Penal, enquanto instrumento de controle social, faculta ao Estado a imposição de restrições 
a direitos fundamentais (vida, liberdade, patrimônio etc.), e esta ingerência deve ser em conformidade 
e sob o controle dos princípios constitucionais penais, que são indisponíveis e inegociáveis.
Direito Processual Penal
• O Direito Penal não é autoexecutivo, ou seja, é um direito de coação indireta cuja concretização 
depende do devido processo legal.
• O Processo Penal é o instrumento através do qual o Direito Penal torna-se efetivo. 
Direito Privado
• Embora sejam esferas jurídicas distintas, o conceito de ilícito civil é mais amplo que o penal, 
uma vez que este implica a existência de crime – violação a bens jurídicos fundamentais à 
sociedade e apenada gravemente. 
• Apesar da independência das esferas Civil e Penal, há efeitos recíprocos. 
Direito Administrativo
• Os ilícitos penal e administrativo não se confundem, uma vez que ao primeiro com graves sanções.
• A responsabilidade penal e a administrativa são independentes, mas a condenação penal pode 
gerar efeitos na esfera administrativa, como perda de cargo ou função. 
4 CRIMINOLOGIA E A FUNÇÃO ÉTICA DO DIREITO PENAL
O Direito Penal inegavelmente é um instrumento de controle social que 
padroniza e molda comportamentos. Por sua natureza, o Direito Penal não possui 
uma perspectiva causal-explicativa do crime, encontrando na Criminologia a 
fonte de compreender criticamente as condições de criminalização e as funções 
do sistema punitivo – social, cultural e político – e penal – Direito Penal, Política 
Criminal e Poder Judiciário. 
A função da Criminologia é fornecer elementos para ações públicas de 
prevenção geral (ações de bem-estar social e individual, reorientação do sistema de 
educação, planejamento urbano e habitacional etc.) e sociais, tomando por objeto o 
sistema punitivo, é necessário que se identifique e individualize os elementos que 
o compõem, de forma a construir e a propor novas concepções acerca da violência 
(individual, institucional e estrutural), indo além da perspectiva unitária tradicional 
e reducionista (interpessoal: criminoso, vítima, pena, punição). Portanto, são 
importantes elementos tanto para o legislador penal como para o jurista que deve 
aplicar a norma penal no caso concreto, dando efetividade ao Direito Penal. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
14
Como você já deve ter percebido, o Direito Penal é um sistema normativo 
que valora bens e condutas humanas relevantes para a vida social e, portanto, 
interagindo de maneira dinâmica com os valores éticos sociais positivando-os e 
dando sentido jurídico, com a finalidade de protegê-los.
4.1 CRIMINOLOGIA E DIREITO PENAL 
O Direito Penal contemporâneo é resultado das concepções iluministas 
europeias do século XVIII, que passaram a tratar a questão do crime essencialmente 
como ente jurídico, buscando integrar o agir delitivo com a previsão legal processual, 
situando a Criminologia distante do Direito Penal, privilegiando o último. Desde 
tal perspectiva, portanto, o Direito Penal é concebido como saber normativo, 
valorativo e finalista – essencialmente abstrato –, preocupado tão somente com a 
coibição do delito como fenômeno individual e/ou coletivo, de natureza repressiva. 
UNI
“Iluminismo” é um movimento construído entre os séculos XVII e XVIII por 
pensadores que, na esfera penal, pregavam a reforma das leis e administração do modelo 
punitivo. Com a obra de Hugo Grotis sobre o direito natural (de iuris ac pacis) em 1625, as ideias 
políticas começam a ser revistas, dando início à luta sobre os fundamentos do direito penal 
do Estado entendendo que a pena deve ter um fundamento racional. A evolução prossegue 
com as obras de Puffendorf, Thomasius e Cristhian Wolff, jusnaturalistas que fundaram o 
direito do Estado na razão, combatendo o direito romano e o canônico, bem como opondo-
se ao princípio da retribuição reconhecendo o fim da pena na utilidade comum.
 O grande marco do Iluminismo no campo penal foi a obra de César Beccaria 
publicada em Milão em 1764, Dei delliti delle e pene. Um pequeno livro que se tornou o 
símbolo da reação liberal ao desumano sistema então vigente.
 A obra de Beccaria reflete a forte influência dos enciclopedistas Montesquieu e 
Rosseau cujas ideias Beccaria acolhe, reproduz e desenvolve. Parte da concepção de “contrato 
social”, afirmando que a finalidade da pena é apenas a de evitar que o criminoso cause novos 
males e que os demais cidadãos o imitem, sendo tirânica toda punição que não se funde 
na absoluta necessidade. Defendia a conveniência de leis claras e precisas, não permitindo 
sequer o juiz ter o poder de interpretá-las, opondo-se, dessa forma, ao arbítrio que prevalecia 
na justiça penal. Combateu a pena de morte, a tortura, o processo inquisitório, defendendo a 
aplicação de penas certas, moderadas e proporcionais ao dano causado à sociedade. 
FONTE:<https://monografias.brasilescola.uol.com.br/direito/a-historia-as-ideias-direito-penal.htm>.
Acesso em: 29 mar. 2019.
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
15
Em síntese, para o Direito Penal, o problema do crime se encerra com a 
aplicação e execução da pena, não interessando as razões e fatores relacionados 
ao fenômeno do crime. Nas palavras de Orlando Soares (2003), criminólogo 
brasileiro clássico, o Direito Penal é um saber inócuo e abstrato que nada tem 
podido realizar no campo da prevenção do crime e tratamento do criminoso, 
porque na verdade só cuida da repressão do delito. Desde tal constatação é 
possível afirmar que seria utópico compreender e prevenir o crime somente 
através do Direito Penal, exigindo-se estabelecer diálogo com outros campos do 
conhecimento, particularmente com a Criminologia. 
Emsentido lato, Criminologia pode ser definida como saber acerca da 
questão do crime, suas causas, características, natureza, bem como fatores 
relacionados com o criminoso e a criminalização. 
UNI
Vejamos algumas definições clássicas de Criminologia: 
[...]
Nelson Hungria diz que a Criminologia é o “estudo experimental do fenômeno do crime, para 
pesquisar-lhe a etiologia e tentar sua debelação por meios preventivos”.
Jean Pinatel define a Criminologia como “a ciência que tem por objeto fundamental 
coordenar, confrontar e comparar os resultados obtidos pelas ciências criminológicas para 
lograr uma síntese sistemática”.
[...]
Jean Merquiset entende a Criminologia como “o estudo do crime como fenômeno social e 
individual de suas causas e de sua prevenção”.
Kinberg diz que a Criminologia é “a ciência que tem por objeto não somente o fenômeno 
natural da prática do crime, como também o fenômeno da luta contra o crime”.
Martin Wofgang pondera que o termo Criminologia deve ser empregado para designar o 
corpo de conhecimento científico sobre o crime.
[...]
O criminólogo austríaco Roland Grassberger define a Criminologia como “o sistema das 
ciências auxiliares do Direito Penal sobre as causas, prova e prevenção do crime. Enrique 
Cury, penalista chileno, conceitua a Criminologia como “a ciência causal-explicativa do delito”.
FONTE: FERNANDES, Valter; FERNANDES, Newton. Criminologia Integrada. São Paulo: Ed. 
RT, 2012, pp.36 e 37.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
16
Em que pesem as distintas definições, a Criminologia, diferentemente do 
Direito Penal, é uma ciência empírica acerca do crime, sua gênese, fornecendo 
elementos acerca das causas do delito e dos fatores relacionados ao delinquente. 
A Criminologia possui um objeto próprio de investigação – o crime na sua 
complexidade, os sujeitos envolvidos (criminoso, vítima e sociedade) –, métodos de 
investigação e um sólido conjunto de conhecimentos elaborados ao longo de séculos 
de investigações e problematizações. Em assim sendo, é sua tarefa não apenas 
acumular e divulgar dados ou números sobre o crime, mas obter dados, discuti-los, 
sistematizá-los e interpretá-los desde marcos teóricos adequados com a finalidade de 
contribuir para a construção de políticas criminais adequadas e efetivas. 
Enquanto o Direito Penal possui uma perspectiva causal-explicativa do 
fenômeno da criminalidade, cuja função do saber criminológico é a de subsidiar e 
legitimar a política criminal que orienta ações de prevenção e repressão ao crime, 
permitindo adotar um horizonte mais amplo e crítico, permite compreender as 
condições de criminalização engendradas a partir do sistema punitivo e seus 
mecanismos de controle e dominação. Desta forma, é conferida à Criminologia 
a função de problematizar este sistema como parte de um conjunto sociopolítico 
articulado de exercício de poder, permitindo uma compreensão crítica em relação 
ao próprio Direito Penal.
Mas qual a razão da valorização central do Direito Penal em relação à 
Criminologia na formação acadêmica? 
O Direito Penal, como parte da Dogmática Jurídica, funciona como um 
sistema (teórico e conceitual) coerente, uniforme e previsível, que aparentemente 
teria a capacidade de evitar a arbitrariedade do Estado contra o cidadão, garantindo 
a segurança jurídica (elemento essencial do discurso justificador do Direito 
Moderno). Portanto, o Direito Penal constrói uma legitimidade técnica racional 
para imputar a responsabilidade penal; ou seja, possui o condão de “vincular as 
decisões à lei e à conduta do autor de um fato-crime, objetiva e subjetivamente 
considerada em relação a este o exorcizar, por esta via, a submissão do imputado 
à arbitrariedade judicial (ANDRADE, 1997, p. 27). 
Em assim sendo, a Dogmática Penal (fundamento e justificativa técnica 
racional do Direito Penal) serve de instrumento punitivo, que divorciado da 
Criminologia transforma-se num mero decisionismo arrogante despojado de 
vínculo com a realidade.
Entretanto, o Direito Penal exerce sua função de controle através de 
um subconjunto de normas articuladas institucionalmente: Direito Processual 
Penal, Organização Judiciária, Execução Penal etc. A ação orientada e sucessiva 
das distintas instituições (desde a Polícia Judiciária com função investigativa 
até o “estabelecimento” prisional), cada qual obedecendo a limites e funções 
previamente definidas (legislações específicas) compõe o Sistema Penal. Trata-se 
de uma institucionalização do controle punitivo.
TÓPICO 1 | CONCEITO, OBJETO, CARACTERÍSTICAS DO DIREITO PENAL
17
Analisando criticamente a relação tradicional entre Direito Penal e 
Criminologia, que acabou por tornar a Criminologia como saber “auxiliar”, 
afirma Vera Regina de Andrade (1997, p. 103): 
Com efeito, enquanto a Dogmática do Direito Penal, definida como 
"Ciência" normativa, terá por objeto as normas penais e por método 
o técnico-jurídico, de natureza lógico-abstrata, interpretando e 
sistematizando o Direito Penal positivo (mundo do DEVER-SER) para 
instrumentalizar sua aplicação com "segurança jurídica", a Criminologia, 
definida como Ciência causal-explicativa, terá por objeto o fenômeno 
da criminalidade (legalmente definido e delimitado pelo Direito Penal) 
investigando suas causas segundo o método experimental (mundo do 
SER) e subministrando os conhecimentos antropológicos e sociológicos 
necessários para dar um fundamento "científico" à Política Criminal , 
a quem caberá, a sua vez, transformá-los em "opções" e "estratégias" 
concretas assimiláveis pelo legislador (na própria criação da lei penal) e 
os poderes públicos, para prevenção e repressão do crime. 
Podemos então concluir que o crime, enquanto fenômeno complexo, carrega 
em si distintos elementos – fato criminoso, o criminoso, a vítima, a política criminal, 
a punição etc. – que são objeto de estudo de distintos campos das chamadas 
Ciências Criminais, que podem ser divididas em Ciências Criminais Histórico-
Filosóficas (História do Direito Penal, Filosofia do Direito Penal e Direito Penal 
Comparado); Ciências Criminais Causais-Explicativas (Criminologia, Antropologia 
Criminal, Sociologia Criminal, Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Psicanálise 
Criminal); Ciências Jurídico-Repressivas (Direito Penal, Direito Processual Penal e 
Direito Penitenciário); Ciências Criminais Auxiliares (Penologia, Política Criminal, 
Medicina Legal, Psiquiatria Forense, Estatística Criminal etc.).
A relação entre Direito Penal e Criminologia é inegável, uma vez que o 
saber criminológico contribuiu de maneira eficaz para a fixação de estratégias 
– políticas criminais – de enfrentamento às causas da criminalidade e fatores 
criminológicos, fornecendo elementos cientificamente elaborados para um Direito 
Penal humanizador e eficiente, assegurando uma lógica punitiva assentada em 
uma perspectiva além do binômio crime-pena.
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Neste tópico, você aprendeu que:
• “Crime” é um conceito jurídico e está relacionado com a previsão normativa 
estabelecida pelo Código Penal. 
• O Direito Penal é um dos sistemas normativos que compõem o Direito e 
como tal, possui interrelação com os demais ramos do Direito devendo ser 
compreendido em sua sistematicidade.
• A compreensão do crime e do processo de criminalização não pode ser 
compreendida somente pelo Direito Penal, mas sobretudo pela Criminologia que 
estuda os fatores subjacentes ao fenômeno do crime para além da mera legalidade.
RESUMO DO TÓPICO 1
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1 O Direito Penal é ramo do Direito Público composto por um conjunto de 
normas que têm por finalidade regular o poder punitivo do Estado. Desde 
tal afirmação, é CORRETO afirmar que:
a) ( ) O Direito Penal é composto por normas não jurídicas que se ocupam do 
controle das ações criminosas, impondo sanções.
b) ( ) As normas penais são as que determinam ações consideradas crimes e 
imputam as penas ou medidas de segurança, portanto, criam o injusto 
penal e suas respectivas consequências. 
c) ( ) As normas penaisfixam os limites das ações éticas e morais que regem a 
vida social.
d) ( ) O Direito Penal, enquanto ramo do Direito Público, não tutela bens 
jurídicos particulares, como a propriedade individual.
2 Considere as afirmações a seguir: 
I- Ao conjunto de normas jurídicas que descreve os crimes e impõe sanções 
(medida de segurança ou penas), entende-se como Direito Penal objetivo.
II- O Jus Puniendi é o Direito Penal Subjetivo, constituído de normas que garantem 
à vítima o Direito a justa reparação pela violação a bem jurídico tutelado. 
III- O direito de punir é exercido somente pelo Estado, que é o ente jurídico legítimo 
para exigir que os cidadãos se abstenham de praticar determinadas condutas.
IV- O Direito Penal objetivo é a norma penal em si e o Direito Penal subjetivo é 
a expressão do poder do Estado de fazer cumprir as normas e executar as 
decisões do Poder Judiciário.
Assinale a afirmação CORRETA:
a) ( ) As afirmações I e II estão corretas.
b) ( ) As afirmações I, II e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmações I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As afirmações II, III e IV estão corretas.
3 O Direito Penal é composto por dois tipos de normas: 1. as normas que 
definem as infrações penais e impõem sanções (Direito Penal Substantivo); 
2. as que possuem como finalidade definir a maneira de como se aplicar o 
próprio Direito Penal (Direito Penal Adjetivo). O artigo 157 do CP estabelece: 
Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou 
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade 
de resistência: Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Quanto ao tipo, É 
CORRETO afirmar que tal norma penal:
a) ( ) Trata-se de norma ao Direito Penal Substantivo ou Material.
b) ( ) Trata-se de norma de Direito Especial que apenas se aplica aos sujeitos 
que praticam tal conduta. 
AUTOATIVIDADE
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c) ( ) Trata-se de norma de Direito Penal Adjetivo ou Formal, porque há 
necessidade da formalização do ato infracional.
d) ( ) Trata-se de medida de segurança aplicada aos inimputáveis. 
4 Contemporaneamente, no Brasil, o Direito Penal assenta-se em princípios 
fundamentais próprios do Estado Democrático de Direito, o que garante 
que as normas penais válidas são as que se orientam segundo os valores 
constitucionalmente definidos. Desde tal perspectiva, é CORRETO afirmar: 
a) ( ) O Direito Constitucional estabelece a função valorativa (axiológica) ao 
Direito Penal, garantindo pressupostos para a criação e aplicação da lei 
penal.
b) ( ) As normas penais são criadas e aplicadas segundo os princípios 
morais e éticos da sociedade, independentemente do modelo político 
constitucional vigente.
c) ( ) Para garantir a validade da norma penal, na perspectiva contemporânea, 
basta sua vigência.
d) ( ) Não há normas penais inválidas. 
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TÓPICO 2
OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o ordenamento jurídico 
brasileiro em geral passa a ser assentado em princípios fundamentais, próprios 
do Estado Democrático de Direito, superando-se assim a concepção legalista do 
Direito. Contemporaneamente compreende-se todo o sistema normativo a partir 
da harmonização à Constituição não apenas no plano formal, como também no 
plano material. Por outras palavras, há que se tratar a norma penal em consonância 
com os valores expressos, implícita ou explicitamente, na Magna Carta, uma vez 
que os valores e princípios constitucionais devem servir de orientação tanto para 
a interpretação da norma como para sua criação.
Este deve ser o marco jurídico para se pensar o Direito no século XXI, 
exigindo-se do jurista em geral a concretização e promoção dos valores e princípios 
constitucionalmente afirmados. 
Neste tópico o objetivo será o de compreender o conceito de princípios 
jurídicos, bem como identificar os que servem de fundamento do Direito Penal 
brasileiro, uma vez que o estudo de qualquer ramo do Direito deve ser iniciado 
pelo entendimento da lógica e coerência do ordenamento jurídico.
2 COMPREENDENDO PRINCÍPIOS E REGRAS
No atual estágio da Ciência do Direito, os princípios não são considerados 
como meras aspirações ou mesmo idealizações, mas possuem força normativa. 
As normas jurídicas são as formas através das quais o direito se expressa, 
criando, modificando ou extinguindo direitos. Genericamente pode-se afirmar 
que a norma jurídica é uma prescrição cujo objetivo é estabelecer o agir humano, 
individual ou coletivamente, de forma a garantir ou realizar direitos. 
Como você já deve ter estudado, a norma jurídica difere-se da norma 
moral ou religiosa, uma vez que as normas ou preceitos jurídicos possuem uma 
natureza coercitiva – impõem-se obrigatoriamente aos sujeitos – e são elaboradas 
a partir das relações sociopolíticas e culturais. A norma jurídica é um produto 
histórico e político que se concretiza pela interpretação diante do caso concreto e 
não se confunde com texto legal, com enunciado jurídico, uma vez que a norma é 
a afirmação do direito cujo sentido exprime valores.
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
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Para o clássico pensador brasileiro Ferraz Junior (2006), para esclarecer 
o que é o termo “norma jurídica”, via de regra, deve-se compreendê-lo sob 
três aspectos: o propositivo, o prescritivo e o comunicacional. O primeiro, 
ou seja, norma jurídica como proposição, é o sentido relacionado ao “dever 
ser” do comportamento humano, portanto, estabelece um imperativo que se 
pode formular na seguinte estrutura lógica: uma proposição hipotética ligada 
condicionalmente a uma sanção (“se” ocorrer A “deverá” ser imposto “B”; ou 
ainda; se “fulano” cometer a conduta “X”, deverá ser aplicada a pena “Y”). 
Para o referido autor, sob a dimensão prescritiva, as normas são atos de uma 
vontade impositiva que disciplina condutas, sendo, sob tal aspecto, imperativos ou 
comandos de uma “vontade institucionalizada”, que em nosso caso é o Estado, 
único ente político legítimo para prescrever normas jurídicas. Já na dimensão 
comunicacional, a norma jurídica institui uma comunicação – troca de mensagens 
entre indivíduos – estabelecendo relações de subordinação e coordenação. 
Sem adentrar na complexa conceituação de norma jurídica, pode-se 
afirmar que as normas jurídicas são significações construídas a partir dos textos 
positivados e estruturados, das necessidades e valores humanos e dos bens 
protegidos juridicamente. 
Entretanto, há que se destacar que as normas jurídicas se expressam por meio 
de regras e princípios e, em assim sendo, o sistema normativo deve ser compreendido 
como um conjunto de regras e princípios, sendo estes o fundamento daquelas. 
Como se costuma dizer, os princípios são como “núcleos” em torno dos quais as 
regras “gravitam”. Os princípios são expressões de valores fundamentais da vida 
social concretizados na Constituição e atuam como expressões ideais de justiça. Já as 
regras são normas jurídicas que obrigam, permitem ou proíbem algo, sendo que sua 
aplicação depende da “subsunção” – “encaixe” perfeito – do fato ou da conduta ao 
que nela está previsto. Assim, se o fato ou conduta corresponde ao que está descrito 
na regra, ela será aplicada e sua consequência é considerada válida. 
Para o pensador português Canotilho (2003), as regras como normas 
exigem, permitem ou proíbem algo em termos definidos, sem admitir qualquer 
exceção. Não obstante tal conceito, deve-se considerar os princípios como 
fundamento das regras, uma vez que estas expressam e viabilizam os valores 
prescritos nos princípios. 
Exemplo: 
O art. 1º do Código Penal dispõe: “Não há crime sem lei anterior que o 
defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Tal regra expressa o princípio da 
legalidade ou da reserva legal, segundo o qual a criação dos tipos incriminadores 
e suas respectivas penas está submetida à lei formal anterior, funcionando como 
exigência de segurança jurídica e garantia individual.TÓPICO 2 | OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
23
UNI
As normas jurídicas são gênero do qual princípios e regras são espécies.
Princípios, no Direito Penal, são limitadores do poder punitivo do Estado. 
Regras são normas de conduta e definem o limite entre o lícito e o ilícito. Já os princípios 
são mandados de otimização (segundo Robert Alexy) e, portanto, devem ser aplicados com 
a máxima efetividade possível.
3 AS DIFERENÇAS ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS
Nos lembra Robert Alexy (2002) que a distinção entre Regras e Princípios 
não é nova e, apesar disso, imperam confusão e polêmica acerca de sua frequente 
utilização. Lembra Alexy que há uma grande variedade de critérios de distinção, 
tais como valores, terminologia etc. Embora os critérios de distinção entre regras 
e princípios sejam numerosos, o da generalidade é o mais utilizado. Segundo tal 
critério, os princípios são normas de um alto grau de generalidade, enquanto as 
regras possuem baixo grau de generalidade. 
Para Alexy, um ponto decisivo para a distinção entre regras e princípios 
é que os princípios são normas que ordenam a realização de algo em maior ou 
menor medida possível, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes. 
Portanto, são mandados de otimização que estão caracterizados pelo fato de 
que podem ser cumpridos em diferentes graus e seu cumprimento não depende 
apenas das condições reais, mas também jurídicas. Já as regras são normas que 
apenas podem ser cumpridas ou não. Se uma regra é válida, então deve ser feito 
exatamente o que ela exige, nem mais, nem menos. 
Resume Alexy (2002, p. 90) que “toda norma ou é uma regra ou é um 
princípio”.
A seguir vamos estabelecer algumas diferenças para melhor compreendermos 
a diferença entre regras e princípios.
3.1 DIFERENÇAS QUANTO À HIERARQUIA
A primeira grande diferença entre estas duas espécies de normas jurídicas 
está na hierarquia, uma vez que os princípios constituem expressões de valores 
fundamentais de qualquer ramo do Direito e, por essa razão, em um conflito 
aparente entre regras e princípios, estes são superiores àquelas. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
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Exemplificando: entre o conflito, o princípio da insignificância ou de 
bagatela e o tipo penal descrito no art. 155 do CP (furto simples), considerando o 
caso concreto, embora a conduta seja típica à luz da regra legal, levando em conta 
as condições particulares de realização do delito, a personalidade do agente e a 
lesão ao bem jurídico tutelado a conduta deve ser considerada atípica, uma vez 
que o princípio se sobrepõe à regra. 
UNI
O princípio da insignificância nasce da concepção de que não se deve criminalizar 
comportamentos que causem lesões insignificantes aos bens jurídicos protegidos, e por tal 
razão, são consideradas materialmente atípicas. 
3.2 DIFERENÇAS QUANTO AO CONTEÚDO
Outro elemento diferenciador está no conteúdo. Os princípios expressam 
valores ou finalidades a serem atingidas, enquanto as regras descrevem condutas 
que devem ser observadas. 
Pode-se exemplificar com a seguinte situação: A CF em seu art. 5º, inciso 
XLVI, estabelece que a “lei regulará a individualização da pena”. O CP em seu art. 
59, caput determina que o juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, 
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente 
para a reprovação e prevenção do crime. Observe que o princípio ínsito na norma 
constitucional impõe uma diretriz a ser seguida. Já a norma penal orienta como o 
magistrado deverá fixar a pena na sentença condenatória. 
3.3 DIFERENÇA QUANTO À ESTRUTURA FORMAL
Tal diferenciação é muito fácil de ser estabelecida. As regras descrevem fatos 
e atribuem uma consequência. Exemplificando: art. 121 do CP: Matar alguém: Pena 
– reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Já o princípio expressa valores e concepções 
de diversas formas, a exemplo do art. 5º, LVII da CF, que anuncia: “ninguém será 
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. 
TÓPICO 2 | OS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL
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3.4 DIFERENÇA QUANTO À APLICAÇÃO
No tocante à aplicação das normas jurídicas, as regras são aplicadas pelo 
critério da subsunção, que é “enquadrar’ ou “inserir” o caso concreto à norma legal 
em abstrato. É a adequação de uma conduta ou fato concreto à norma jurídica. 
Os princípios são aplicados utilizando-se o critério da ponderação, que é 
uma técnica que utiliza a proporcionalidade como forma de raciocínio jurídico, 
considerando: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. 
Preleciona Barcellos (2008, p. 57-58) que a ponderação se estrutura em três 
etapas: primeira etapa, deverão ser identificados os comandos normativos ou as 
normas relevantes em colisão; na segunda, o intérprete deverá proceder à análise 
dos fatos e premissas do caso concreto, considerando os valores, interesses e 
necessidades em questão; por fim, como última fase, deve o intérprete valorar 
a importância dos bens jurídicos em confronto, mediante as consequências e 
impactos concretos da decisão. 
3.5 DIFERENÇAS QUANTO AO IMPEDIMENTO DO 
RETROCESSO
Como os princípios estabelecem conceitos ideais de justiça, uma vez 
garantida sua efetividade, não se admite seu retrocesso, por representar um autêntico 
anacronismo. É o que se conhece como “efeito cliquet”, expressão utilizada por 
alpinistas e define o movimento de “ir para cima”. No campo jurídico, a origem da 
nomenclatura é francesa, para designar o entendimento o Conselho Constitucional 
reconhece que o princípio da vedação de retrocesso (chamado de "effet cliquet") 
se aplica inclusive em relação aos direitos de liberdade, significando que não é 
possível a revogação total de uma lei que protege as liberdades fundamentais sem 
a substituir por outra que ofereça garantais com eficácia equivalente.
Pode-se dar como exemplo a pena de morte. Os países que aboliram a 
pena de morte, segundo a Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 4º, 3, 
ela não pode ser restabelecida. O mesmo ocorre no Brasil, uma vez que estabelece 
a CF em seu art. 5º, inciso XLVII: 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança 
e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XLVII – não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX. 
UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL
26
Assim sendo, tal postulado, como cláusula pétrea, os direitos fundamentais 
apenas podem ser ampliados, uma vez que são conquistas irreversíveis, podendo 
apenas avançar no sentido de ampliar juridicamente sua tutela. 
EM SÍNTESE:
PRINCÍPIOS REGRAS
São hierarquicamente superiores às regras. São inferiores aos princípios, a eles se sujeitando.
São a expressão de valores ou finalidades a 
serem atingidos. Descrevem condutas a serem observadas.
Contêm enunciados e expressão de ideias. Contêm descrição de fato e atribuição de consequência.
Os princípios são aplicados positivamente, como 
orientação a ser seguida, ou negativamente, para 
anular uma regra que os contradiga.
As regras são aplicadas mediante subsunção.
Possuem alto grau de abstração e vagueza. As regras são dotadas de maior concreção.
Têm baixa densidade normativa. Contêm maior densidade normativa.
São dotados de plasticidade ou poliformia, pois 
se adaptam a diferentes situações e acompanham 
a evolução social.
Não são revestidos de plasticidade ou poliformia, 
embora admitam alteração interpretativa.
Sua generalidade coloca-se no sentido de 
compreenderem uma série indefinida de 
aplicações (possuem um leque maior de 
incidência).
Sua generalidade corresponde à incidência a um 
número indeterminado de fatos e atos.
O conflito entre princípios exige uma solução 
conciliadora, de modo a se verificar

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