Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 1 MATERIAL DE APOIO DOS CONTRATOS TEORIA GERAL DOS CONTRATOS NOÇÃO GERAL CONCEITO O contrato é a mais comum e a mais importante fonte de obrigação, devido às suas múltiplas formas e inúmeras repercussões no mundo jurídico. O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral. O contrato é, pois, “um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. O Código Civil brasileiro de 2002 disciplina, em vinte capítulos, vinte e três espécies de contratos nominados (arts. 481 a 853) e cinco de declarações unilaterais da vontade (arts. 854 a 886 e 904 a 909), além dos títulos de crédito, tratados separadamente (arts. 887 a 926). Contém ainda um título referente às obrigações por atos ilícitos (“Da Responsabilidade Civil”, arts. 927 a 954). FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO O Código Civil de 2002 procurou afastar-se das concepções individualistas que nortearam o diploma anterior para seguir orientação compatível com a socialização do direito contemporâneo. O princípio da socialidade por ele adotado reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais, sem perda, porém, do valor fundamental da pessoa humana. Nessa consonância, dispõe o art. 421 do Código Civil: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Por identidade dialética guarda intimidade com o princípio da “função social da propriedade” previsto na Constituição Federal. Tem por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 2 A função social do contrato constitui, assim, princípio moderno a ser observado pelo intérprete na aplicação dos contratos. Não existe uma definição legal da função social do contrato. Possivelmente esse princípio foi inspirado no art. 5º, XXIII, da CF que limita o direito de propriedade ao atendimento de sua função social. Tem-se o entendimento de que deve prevalecer o interesse coletivo sobre os interesses dos contratantes. Segundo o ensinamento de Flávio Tartuce “a função social dos contratos pode ser conceituada como sendo um princípio contratual, de ordem pública, pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, visualizado e interpretado de acordo com o contexto da sociedade” (Direito Civil – Teoria Geral dos Contratos e Contratos em Espécie, 7ª edição, p.65). CONDIÇÕES DE VALIDADE DO CONTRATO Para que o negócio jurídico produza efeitos, possibilitando a aquisição, modificação ou extinção de direitos, deve preencher certos requisitos, apresentados como os de sua validade. Se os possui, é válido e dele decorrem os mencionados efeitos, almejados pelo agente. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o negócio é inválido, não produz o efeito jurídico em questão e é nulo ou anulável. Requisitos subjetivos Os requisitos ou condições de validade dos contratos são de duas espécies: a) de ordem geral, comuns a todos os atos e negócios jurídicos, como a capacidade do agente, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e a forma prescrita ou não defesa em lei (CC, art. 104); b) de ordem especial, específico dos contratos: o consentimento recíproco ou acordo de vontades. Os requisitos de validade do contrato podem, assim, ser distribuídos em três grupos: subjetivos, objetivos e formais. Os requisitos subjetivos consistem: a) na manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos contraentes; Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 3 b) na aptidão específica para contratar; c) no consentimento. a) Capacidade genérica – A capacidade genérica dos contratantes (que podem ser duas ou mais pessoas, visto constituir o contrato um negócio jurídico bilateral ou plurilateral) é o primeiro elemento ou condição subjetiva de ordem geral para a validade dos contratos. Estes serão nulos (CC, art. 166, I) ou anuláveis (art. 171, I), se a incapacidade, absoluta ou relativa, não for suprida pela representação ou pela assistência (CC, arts. 1.634, V, 1.747, I, e 1.781). b) Aptidão específica para contratar – Além da capacidade geral, exige a lei a especial para contratar. Algumas vezes, para celebrar certos contratos, requer-se uma capacidade especial, mais intensa que a normal, como ocorre na doação, na transação, na alienação onerosa, que exigem a capacidade ou poder de disposição das coisas ou dos direitos que são objeto do contrato. c) Consentimento – O requisito de ordem especial, próprio dos contratos, é o consentimento recíproco ou acordo de vontades. O consentimento deve ser livre e espontâneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude. A manifestação da vontade, nos contratos, pode ser tácita, quando a lei não exigir que seja expressa (CC, art. 111). Não havendo na lei tal exigência, vale a manifestação tácita, que se infere da conduta do agente. Nas doações puras, por exemplo, muitas vezes o donatário não declara que aceita o objeto doado, mas o seu comportamento (uso, posse, guarda) demonstra a aceitação. Requisitos objetivos Os requisitos objetivos dizem respeito ao objeto do contrato, que deve ser lícito, possível, determinado ou determinável (CC, art. 104). A validade do contrato depende, assim, da: Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 4 a) Licitude de seu objeto – Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Objeto imediato do negócio é sempre uma conduta humana e se denomina prestação: dar, fazer ou não fazer. Quando o objeto jurídico do contrato é imoral, os tribunais por vezes aplicam o princípio de direito de que ninguém pode valer-se da própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). b) Possibilidade física ou jurídica do objeto – O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo (CC, art. 166, II). A impossibilidade do objeto pode ser física ou jurídica. c) Determinação de seu objeto – O objeto do negócio jurídico deve ser, igualmente, determinado ou determinável (indeterminado relativamente ou suscetível de determinação no momento da execução). Admite-se, assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade (CC, art. 243), que será determinada pela escolha, bem como a venda alternativa, cuja indeterminação cessa com a concentração (CC, art. 252). Embora não mencionado expressamente na lei, a doutrina exige outro requisito objetivo de validade dos contratos: o objeto do contrato deve ter algum valor econômico. Um grão de areia, por exemplo, não interessa ao mundo jurídico, por não ser suscetível de apreciação econômica. A sua venda, por não representar nenhum valor, é indiferente ao direito, pois tão irrisória quantidade jamais levaria o credor a mover uma ação judicial para reclamar do devedor o adimplemento da obrigação. Requisitos formais O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma (forma dat esse rei, ou seja, a forma dá ser às coisas), que é o meio de revelação da vontade. Deve sera prescrita ou não defesa em lei. Há dois sistemas no que tange à forma como requisito de validade do negócio jurídico: o consensualismo, da liberdade de forma, e o formalismo ou da forma obrigatória. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 5 No direito brasileiro a forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular. O consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. Dispõe, com efeito, o art. 107 do Código Civil: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. É nulo o negócio jurídico quando “não revestir a forma prescrita em lei” ou “for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade” (CC, art. 166, IV e V). Em alguns casos a lei reclama também a publicidade, mediante o sistema de Registros Públicos (CC, art. 221). Cumpre frisar que o formalismo e a publicidade são garantias do direito. Podem ser distinguidas três espécies de formas: livre, especial ou solene e contratual. a) Forma livre – É a predominante no direito brasileiro (CC, art. 107). É qualquer meio de manifestação da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito público ou particular, gestos, mímicas etc.). b ) Forma especial ou solene – É a exigida pela lei, como requisito de validade de determinados negócios jurídicos. Em regra, a exigência de que o ato seja praticado com observância de determinada solenidade tem por finalidade assegurar a autenticidade dos negócios, garantir a livre manifestação da vontade, demonstrar a seriedade do ato e facilitar a sua prova. c ) Forma contratual – É a convencionada pelas partes. O art. 109 do Código Civil dispõe que, “no negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, este é da substância do ato”. Os contratantes podem, portanto, mediante convenção, determinar que o instrumento público se torne necessário para a validade do negócio. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CONTRATUAL O direito contratual rege-se por diversos princípios, alguns tradicionais e outros modernos. Os mais importantes são os: da autonomia da vontade, da supremacia da ordem Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 6 pública, do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigatoriedade, da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé. Princípio da autonomia da vontade O princípio da autonomia da vontade se alicerça exatamente na ampla liberdade contratual, no poder dos contratantes de disciplinar os seus interesses mediante acordo de vontades, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica. Têm as partes a faculdade de celebrar ou não contratos, sem qualquer interferência do Estado. Podem celebrar contratos nominados ou fazer combinações, dando origem a contratos inominados. A liberdade contratual é prevista no art. 421 do atual Código Civil, “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”. Preceitua ainda o art. 425: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”. Princípio da supremacia da ordem pública O princípio da autonomia da vontade não é absoluto. É limitado pelo princípio da supremacia da ordem pública, que resultou da constatação, feita no início do século passado e em face da crescente industrialização, de que a ampla liberdade de contratar provocava desequilíbrios e a exploração do economicamente mais fraco. Compreendeu-se que, se a ordem jurídica prometia a igualdade política, não estava assegurando a igualdade econômica. Em alguns setores fazia-se mister a intervenção do Estado, para restabelecer e assegurar a igualdade dos contratantes. Surgiram os movimentos em prol dos direitos sociais e a defesa destes. Começaram, então, a ser editadas leis destinadas a garantir, em setores de vital importância, a supremacia da ordem pública, da moral e dos bons costumes, podendo ser lembradas, entre nós, as diversas leis do inquilinato, a Lei da Usura, a Lei da Economia Popular, o Código de Defesa do Consumidor e outros. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 7 A intervenção do Estado na vida contratual é, hoje, tão intensa em determinados campos (telecomunicações, consórcios, seguros, sistema financeiro etc.) que se configura um verdadeiro dirigismo contratual. Princípio do consensualismo De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para o aperfeiçoamento do contrato, o acordo de vontades, contrapondo-se ao formalismo e ao simbolismo que vigoravam em tempos primitivos. Decorre ele da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. A compra e venda, por exemplo, quando pura, torna-se perfeita e obrigatória, desde que as partes acordem no objeto e no preço (CC, art. 482). O contrato já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o preço oferecido pela coisa, independentemente da entrega desta. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos contratantes (CC, art. 481). No direito brasileiro a forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular (CC, art. 107). O consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. Os contratos são, pois, em regra, consensuais. Princípio da relatividade dos efeitos do contrato Funda-se tal princípio na ideia de que os efeitos do contrato só se produzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. Mostra-se ele coerente com o modelo clássico de contrato, que objetivava exclusivamente a satisfação das necessidades individuais e que, portanto, só produzia efeitos entre aqueles que o haviam celebrado, mediante acordo de vontades. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 8 O atual Código Civil, que não concebe mais o contrato apenas como instrumento de satisfação de interesses pessoais dos contraentes, mas lhe reconhece uma função social, como já foi dito. Tal fato tem como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não são propriamente partes do contrato possam nele influir, em razão de serem direta ou indiretamente por ele atingidos. Não resta dúvida de que o princípio da relatividade dos efeitos do contrato, embora ainda subsista, foi bastante atenuado pelo reconhecimento de que as cláusulas gerais, por conterem normas de ordem pública, não se destinam a proteger unicamente os direitos individuais das partes, mas tutelar o interesse da coletividade, que deve prevalecer quando em conflito com aqueles. Princípio da obrigatoriedade dos contratos ( pacta sunt servanda) O princípio em epígrafe, também denominado princípio da intangibilidade dos contratos, representa a força vinculante das convenções. Daí por que é também chamado de princípio da força vinculante dos contratos. Pelo princípio da autonomia da vontade, ninguém é obrigado a contratar. A ordem jurídica concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos eobjeto da avença. Os que o fizerem, porém, sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se forrarem às suas consequências, a não ser com a anuência do outro contraente. Como foram as partes que escolheram os termos do ajuste e a ele se vincularam, não cabe ao juiz preocupar-se com a severidade das cláusulas aceitas, que não podem ser atacadas sob a invocação dos princípios de equidade. O princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a irreversibilidade da palavra empenhada. Uma vez aplicado o princípio, veda-se a qualquer das partes contratantes alterar unilateralmente qualquer das cláusulas assumidas. Mas, em casos excepcionais, permite-se modificar o conteúdo contratual para fazer prevalecer os princípios da função social e da boa-fé objetiva, ou, então, para aplicar a chamada teoria da imprevisão (CC, arts. 478 a 480). Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 9 Outra exceção está prevista no Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 49, pois permite ao consumidor, desistir do contrato no prazo de 7 dias, a contar da assinatura ou do ato do recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone e a domicílio. Às vezes, outra exceção pode ocorrer, afastando-se do princípio da obrigatoriedade do contrato quando o descumprimento do contrato é justificado por caso fortuito ou força maior. Princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva Opõe-se tal princípio ao da obrigatoriedade, pois permite aos contraentes recorrerem ao Judiciário, para obterem alteração da convenção e condições mais humanas, em determinadas situações. A teoria recebeu o nome de rebus sic stantibus e consiste basicamente em presumir, nos contratos comutativos, de trato sucessivo e de execução diferida, a existência implícita (não expressa) de uma cláusula, pela qual a obrigatoriedade de seu cumprimento pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Se esta, no entanto, modificar-se em razão de acontecimentos extraordinários (uma guerra, p. ex.), que tornem excessivamente oneroso para o devedor o seu adimplemento, poderá este requerer ao juiz que o isente da obrigação, parcial ou totalmente. Entre nós, a teoria em tela foi adaptada e difundida por ARNOLDO MEDEIROS DA FONSECA, com o nome de teoria da imprevisão, em sua obra Caso fortuito e teoria da imprevisão. Assim, não era mais suficiente a ocorrência de um fato extraordinário, para justificar a alteração contratual. Passou a ser exigido que fosse também imprevisível. A teoria da imprevisão consiste, portanto, na possibilidade de desfazimento ou revisão forçada do contrato quando, por eventos imprevisíveis e extraordinários, a prestação de uma das partes tornar-se exageradamente onerosa – o que, na prática, é viabilizado pela aplicação da cláusula rebus sic stantibus, inicialmente referida. O Código de 2002 dedicou uma seção, composta de três artigos, à resolução dos contratos por onerosidade excessiva. Dispõe, com efeito, o art. 478 do referido diploma: Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 10 “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação”. Prescreve, por sua vez, o art. 479 do Código Civil: “A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato”. Estatui, ainda, o art. 480 do mesmo diploma: “Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva”. Este dispositivo, aplicável aos contratos unilaterais, permite que o pedido não resulte necessariamente na resolução do contrato, mas se converta em um reajuste equitativo da contraprestação. A revisão deve ser escolhida como objetivo preferencial, só admitida pelo juiz a resolução se aquela malograr. Malgrado o retrotranscrito art. 478 do Código Civil, concernente aos contratos bilaterais, permita somente a resolução do contrato, e não a sua revisão, esta pode, todavia, ser pleiteada com base no art. 317 do mesmo diploma, que estatui: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”. Muito embora este dispositivo, tendo em vista a sua localização, possa, num primeiro momento, dar a ideia de que sua finalidade foi apenas a de proteger o credor da prestação que se desvalorizou, na verdade “a regra se aplica para os dois lados: a desproporção manifesta pode ser tanto pela desvalorização do bem a ser prestado (desvalorização da moeda pela inflação, p. ex.), como pela superveniente desvalorização excessiva da prestação, quebrando a proporcionalidade entre a que fora convencionada e a que agora deve ser cumprida, em prejuízo do devedor”. Em realidade, com base nas cláusulas gerais sempre se poderá encontrar fundamento para a revisão ou a extinção do contrato em razão de fato superveniente que desvirtue sua finalidade social, agrida as exigências da boa-fé e signifique o enriquecimento indevido para uma das partes, em detrimento da outra. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 11 Assim, em resumo, as modificações supervenientes que atingem o contrato podem ensejar pedido judicial de revisão do negócio jurídico, se ainda possível manter o vínculo com modificações nas prestações (arts. 317 e 479 do CC), ou de resolução, nos termos dos arts. 317 e 478, a ser apreciado tendo em conta as cláusulas gerais sobre o enriquecimento injusto (art. 884), a boa-fé (art. 422) e o fim social do contrato (art. 421), se houver modificação da base do negócio que signifique quebra insuportável da equivalência ou a frustração definitiva da finalidade contratual objetiva Princípio da boa-fé e da probidade O art. 422 do CC dispõe: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. A boa-fé pode ser dividida em: Objetiva, ou concepção ética da boa-fé; segundo alguns doutrinadores. Subjetiva, ou concepção psicológica da boa-fé. Objetiva – devem os contratantes, segundo o princípio objetivo agir corretamente na celebração dos contratos, nos padrões do homem comum, de acordo com os usos e costumes do lugar. Os contratantes devem agir com probidade, honestidade e lealdade. A Jornada STJ 26 define a boa-fé objetiva como a exigência de comportamento leal dos contratantes. No mencionado dispositivo legal (CC, art. 422), o legislador acrescentou a probidade, que segundo Carlos Roberto Gonçalves: “nada mais é senão um dos aspectos objetivos do princípio da boa-fé podendo ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres, que são atribuídos ou cometidos à pessoa”. Quando esse princípio não é obedecido, é possível a intervenção judicial no contrato. A Jornada STJ 26 diz que “a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamentoleal dos contratantes”. O princípio da boa-fé objetiva, segundo a doutrina é aplicável: a – na fase pré-contratual; Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 12 b – na fase da formação do contrato; c – na fase da execução do contrato; d – na fase pós-contratual, isto é, após o término da execução do contrato. O entendimento tem como base a Jornada STJ 25: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. Tal princípio, isto é o da boa-fé objetiva está previsto no Código de Defesa do Consumidor, ao que parece visando amparar a parte mais vulnerável no contrato: a) a oferta deve conter a informação ou publicidade suficientemente precisa (art. 30 do CDC); b) o fornecedor deve assegurar ao consumidor o conhecimento prévio do conteúdo do contrato (art. 46 do CDC); c) o fornecedor deve garantir a continuidade da oferta de componentes e peças de reposição, após o contrato de aquisição do produto (art. 32 do CDC), etc. Maria Helena Diniz destaca que “pelo art. 51, I a XVI, do CDC, em caso de relação de consumo, haverá nulidade de pleno direito das cláusulas abusivas desleais ou leoninas, como, p.ex., as que: a) exonerarem ou atenuarem a responsabilidade do fornecedor por vícios dos produtos e serviços ou transferirem sua responsabilidade a terceiro; b) prescreverem inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor; c) deixarem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; d) autorizarem o fornecedor a cancelar, modificar o contrato ou a variar o preço unilateralmente; e) possibilitarem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias”. (Curso de Direito Civil Brasileiro, 3. Teoria das Obrigações Contratuais e Extracontratuais, 25ª edição, p.34). Exemplo típico da pessoa que infringe a boa-fé objetiva: na venda de seu veículo, omite abalroamento ou colisão; omite se foi danificado por qualquer motivo. Exemplos extraídos da jurisprudência: a) – STJ, REsp.250.523-SP, 4ª T., rel. Rosado de Aguiar: “Conta corrente. Apropriação do saldo. Age com abuso de direito e viola a boa-fé o banco que, invocando cláusula contratual constante do contrato de financiamento, cobra-se lançando mão do numerário depositado pela correntista em conta destinada ao pagamento dos salários de seus empregados, cujo numerário teria sido obtido junto ao BNDES”. b) – STJ, Ag. 47.901-SP, 4ª T, rel. Min. Rosado de Aguiar “ Responsabilidade civil. Estacionamento. Relação contratual de fato. Dever de proteção derivado da boa-fé. Furto de veículo. O estabelecimento bancário que põe à disposição dos seus clientes uma área para Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 13 estacionamento dos veículos assume o dever, derivado do princípio da boa-fé objetiva, de proteger os bens e a pessoa do usuário”. Subjetiva – ou concepção psicológica da boa-fé, segundo alguns doutrinadores, “Diz respeito ao conhecimento ou à ignorância da pessoa relativamente a certos fatos, sendo levada em consideração pelo direito, para os fins específicos da situação regulada. Serve à proteção daquele que tem a consciência de estar agindo conforme o direito apesar de ser outra a realidade”. Basicamente esse princípio (subjetivo) está voltado para uma crença ou ignorância. A boa-fé subjetiva acredita, por força de crer, que está agindo corretamente, quando por exemplo ignora estar prejudicando interesse alheio. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS A MANIFESTAÇÃO DA VONTADE A manifestação da vontade é considerada o requisito essencial para a celebração do contrato. Trata-se do consentimento dos sujeitos para que não ocorra dúvidas a respeito da manifestação da vontade das partes contratantes. A manifestação pode ser expressa quando o contratante declara de forma escrita ou falada e até esmo por gestos, como ocorre p.ex., em leilão, quando o licitante, com um sinal, revela o seu propósito de oferecer o maior lance. A propósito o art. 107 do CC dispõe que a declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. A manifestação tácita deriva das circunstâncias em que as partes demonstram de forma inequívoca a vontade de contratar. Ex.: vencido o prazo da locação de imóvel urbano, o inquilino nele permanece, sem qualquer resistência do proprietário (este, portanto, concordou, de forma tácita, com a prorrogação do contrato de locação). Quanto ao silêncio é de se ressaltar, que normalmente não constitui declaração de vontade tácita. Porém, em casos excepcionais esse silêncio pode vincular a parte. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 14 Implica em consentimento, quando a lei atribui ao silêncio o efeito vinculativo. Ex.: na doação pura, o silêncio do donatário caracteriza aceitação (CC, art. 539). Dispõe o art. 111 do CC que: “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. Na formação dos contratos, existem fases ou etapas, que a doutrina identifica em: a) negociações preliminares ou tratativas; b) proposta; c) aceitação. NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES Nessa fase, que a doutrina costuma chama-la de pré-contratual, surgem apenas discussões e sondagens, em que as partes procuram estabelecer suas condições para, a final chegar ao contrato. Não há necessidade de qualquer documento, mas as partes interessadas podem elaborar um esboço, denominado de minuta, em cujo documentos as partes expressam suas condições e ideias a respeito do possível negócio ou contrato a ser celebrado. Não se trata de nenhum contrato ou acordo de vontades, mas de negociações preliminares visando a futura contratação. Nessa fase, muito embora os interessados tenham feito a minuta, não há nenhuma vinculação, uma vez que o contrato só pode ocorrer depois do ajuste final entre as partes contratantes. É possível, portanto, que uma das partes não demonstre interesse no prosseguimento do negócio e abandone essa fase e não fica obrigado a indenizar a outra, exceto se age de má- fé, uma vez que nessa etapa já vigora o princípio da boa-fé contratual; e a parte, ainda, infringe a função social do contrato, de tal sorte que a parte abandona sofra dano em razão da expectativa de celebração do contrato. PROPOSTA Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 15 Proposta, oferta, policitação ou oblação “é uma declaração receptícia de vontade, dirigida por uma pessoa a outra (com quem pretende celebrar um contrato), por força da qual a primeira manifesta sua intenção de se considerar vinculada, se a outra parte aceitar”. Quem faz a proposta é chamado de proponente ou, classicamente, policitante. Aquele a quem ela se dirige é chamado de oblato. Representa ela o impulso decisivo para a celebração do contrato, consistindo em uma declaração de vontade definitiva. Distingue-se nesse ponto das negociações preliminares, que não têm esse caráter e não passam de estudos e sondagens, sem força obrigatória. Aquela, ao contrário, cria no aceitante a convicção do contrato em perspectiva, levando- o à realização de projetos e às vezes de despesas e à cessação de alguma atividade. Por isso, vincula o policitante, que responde por todas essas consequências, se injustificadamente retirar-se do negócio. A proposta deve conter todos os elementos essenciais do negócio proposto, como preço, quantidade, tempode entrega, forma de pagamento etc. Deve também ser séria e consciente, pois vincula o proponente (CC, art. 427). Deve ser, ainda, clara, completa e inequívoca, ou seja, há de ser formulada em linguagem simples, compreensível ao oblato, mencionando todos os elementos e dados do negócio necessários ao esclarecimento do destinatário e representando a vontade inquestionável do proponente. A oferta é um negócio jurídico receptício, pois a sua eficácia depende da declaração do oblato. Não tem, entretanto, força absoluta, gerando desde logo direitos e obrigações. Não se pode assim dizer que equivale ao contrato. Não perde o caráter de negócio jurídico receptício se for endereçada não a uma pessoa determinada, mas assumir a forma de oferta aberta ao público, como nos casos de mercadorias expostas em vitrinas, feiras ou leilões com o preço à mostra, bem como em licitações e tomadas de preços para contratação de serviços e obras. O art. 429 do atual Código Civil declara que “a oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. Em geral entende-se que é limitada ao estoque existente. Acrescenta o parágrafo único que “pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. A oferta aberta ao público vale como proposta obrigatória, pois, quando contém todos os elementos essenciais do contrato. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 16 Não se deve confundir a proposta com as negociações preliminares. Na proposta as partes já revelam a vontade definitiva de contratar, ao passo que as negociações preliminares estão as apenas as ideias e sondagens das partes, sem qualquer obrigatoriedade ou vínculo. De regra, a proposta é irrevogável, daí o que a doutrina denomina de princípio da irrevogabilidade da proposta, ou a força vinculante da oferta. Assim dispõe o art. 427 do CC: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. Mesmo a morte ou interdição do proponente não tem o poder de revogar a proposta, exceto se se tratar de contrato personalíssimo (“intuitu personae”), que se caracteriza pela obrigação de fazer personalíssima. Os herdeiros ou sucessores devem responder pelo cumprimento da proposta, quando se tratar de proposta que não se enquadra no caso de contrato personalíssimo. A regra do art. 427 do CC não é absoluta; comporta exceções previstas nesse dispositivo: “se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso”. O primeiro caso (se o contrário não resultar dos termos dela) é quando o proponente declara que a proposta não é definitiva e tem a faculdade de retirá-la. Em segundo lugar, “a proposta não obriga o proponente em razão da natureza do negócio. É o caso, por exemplo, das chamadas propostas abertas ao público, que se consideram limitas ao estoque existente e encontram-se reguladas no art. 429 do atual diploma”. E, por último, ainda “a oferta não vincula o proponente em razão das circunstâncias do caso, mencionadas no art. 428 do CC. Não são, portanto, circunstâncias quaisquer, mas aquelas a que a lei confere esse efeito. O referido dispositivo declara que a proposta deixa de ser obrigatória: “ I – Se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita...” . Quando o solicitado responde que irá estudar a proposta feita por seu interlocutor, poderá este retira-la. É “pegar ou largar”, e se o oblato não responde logo, dando pronta aceitação, caduca a proposta, liberando-se o proponente. Considera-se também presente – Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 17 aduz o dispositivo em tela – “a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante”. Presente, portanto, é aquele que conversa diretamente com o policitante, mesmo que por algum outro meio mais moderno de comunicação a distância, e não só por telefone, e ainda que os interlocutores estejam em cidades, Estados ou países diferentes. Se a comunicação entre as partes é feita pela Internet, estando ambas em contato simultâneo, a hipótese merece o mesmo tratamento jurídico conferido às propostas feitas por telefone, por se tratar de comunicação semelhante, só se tornando obrigatória a policitação se for imediatamente aceita. Todavia, o mesmo não deve suceder com a proposta feita por via de e-mail, não estando ambos os usuários da rede simultaneamente conectados”. “ II – Se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente”. Cuida de oferta enviada por corretor ou correspondência, a pessoa ausente. Uma pessoa não é considerada ausente, para esse fim, por se encontrar distante do outro contratante, visto que são considerados presentes os que contratam por telefone, mas sim devido à inexistência de contato direto. Para os fins legais, são considerados ausentes os que negociam mediante troca de correspondência ou intercâmbio de documentos. O prazo suficiente para a resposta varia conforme as circunstâncias. É o necessário ou razoável para que chegue ao conhecimento do proponente e denomina-se prazo moral. Entre moradores próximos não deve ser muito longo. Diferente será o entendimento se os partícipes do negócio residirem em locais distantes e de acesso difícil e demorado. “ III – Se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado”. Se foi fixado prazo para a resposta, o proponente terá de esperar pelo seu término. Esgotado, sem resposta, estará o proponente liberado, não prevalecendo a proposta feita. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 18 “ IV – Se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente”. Malgrado a força obrigatória da proposta, a lei permite ao proponente a faculdade de retratar-se, ainda que não haja feito ressalva nesse sentido. Todavia, para que se desobrigue, e não se sujeite às perdas e danos, é necessário que a retratação chegue ao conhecimento do aceitante antes da proposta ou simultaneamente com ela. Por exemplo: antes que o mensageiro entregue a proposta ao outro contratante, o ofertante entende-se diretamente com ele, por algum meio rápido de comunicação, retratando-se. A proposta, in casu, não chegou a existir juridicamente, porque retirada a tempo”. ACEITAÇÃO Significa que aquele a quem a proposta foi dirigida aceitou integralmente a oferta e com a adesão transforma-se em contrato. Essa aceitação deve ser pura e simples, mas segundo o disposto no art. 431 do CC se aceitação ocorrer fora do prazo, com aditamentos, restrições ou modificações, “importará nova proposta”, o que a doutrina denomina de contraproposta. A parte pode declarar expressamente que aceita os termos da proposta. Tem-se então a aceitação expressa. Ao lado dessa aceitação, tem-se aquela chamada de aceitação tácita que o art. 432 do CC prevê: a) quando o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa; b) ou quando o proponente a tiver dispensado. Exemplos: um fornecedor costuma remeter os seus produtos a determinado comerciante, e este, sem confirmar os pedidos, efetua os pagamentos, instaura-se uma praxe comercial. Se o último, em dado momento, quiser interrompê-la, terá de avisar previamenteo fornecedor, sob pena de ficar obrigado ao pagamento de nova remessa, nas mesmas bases das anteriores. Costuma-se mencionar, como exemplo da situação descrita na letra “b”, a hipótese do turista que remete um fax a determinado hotel, reservando acomodações, informando que a chegada se dará em tal data, se não receber aviso em contrário. Não chegando a tempo a negativa, reputar-se-á concluído o contrato”. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 19 O Código Civil prevê duas situações que a aceitação não se torna obrigatória. A primeira, no art. 430, 1ª parte do Código Civil: se aceitação chegar tarde ao conhecimento do proponente, embora tenha sido expedida em tempo previsto pelas partes. Nessas condições o proponente deve comunicar imediatamente ao aceitante, sob de responder por perdas e danos (CC, art. 430, 2ª parte). A segunda está prevista no art. 433 do CC. A exemplo da proposta, o aceitante, também, pode se retratar, mas para a sua validade determina que essa retratação chegue ao conhecimento do proponente antes da aceitação. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS Podemos classificar os contratos em várias espécies: Contratos Consensuais – aqueles que se aperfeiçoam com o simples acordo de vontades. Não há necessidade de entrega da coisa. Ex.: contratos de compra e venda de um móvel, contrato de locação, etc. Contratos Reais – para seu aperfeiçoamento há necessidade da entrega da coisa, isto é, da tradição do bem. Ex.: contratos de depósito, de mútuo, de comodato, etc. Contratos Solenes – a lei exige uma forma especial para sua validade. A doutrina chama- os de contratos formais. Ex.: contratos de compra e venda de bem imóvel, permuta de imóveis, doação de imóveis (há necessidade da escritura pública); contratos de seguro, fiança (há necessidade da forma escrita). Contratos Não-solenes – basta o acordo de vontades entre as partes, independentemente de forma especial. São chamados de contratos não-formais, ou informais. Ex.: contratos de locação, de comodato (não há exigência de forma especial para seu aperfeiçoamento). Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 20 Contratos Unilaterais – apenas uma das partes assume obrigação em relação à outra parte. Ex.: contratos de doação (pura), de mandato, de depósito, etc. Contratos Bilaterais – as duas partes assumem obrigações. Ex.: contratos de compra e venda, de locação, de permuta, etc. Contratos Onerosos – as duas partes são contempladas com benefícios e ônus. Ex.: contratos de compra e venda, locação, etc. (obs: todo contrato bilateral é oneroso). Contratos Gratuitos – apenas uma das partes fica com o ônus e a outra com o benefício. Ex.: contratos de doação (pura), comodato, etc. Nos contratos onerosos há responsabilidade pela evicção e pelos vícios redibitórios, o mesmo não ocorrendo com os contratos gratuitos. Contratos Comutativos – os contratantes sabem, antecipadamente, as vantagens e desvantagens do negócio. As prestações não variam e são equivalentes. Ex.: contratos de compra e venda, de permuta, de locação. Contratos Aleatórios – quando a prestação pode variar, para uma das partes, dependendo da incerteza de certo evento. Ex.: contratos de seguro, jogo, aposta. O objeto de contrato está vinculado a ideia de risco. Contratos Principais (ou independentes) – não dependem de outro contrato. Têm existência autônoma. Ex.: contratos de compra e venda, permuta, doação, etc. Contratos Acessórios (ou dependentes) - dependem de outro contrato para sua existência, para seu aperfeiçoamento. Procuram assegurar a execução de outro contrato. Ex.: contratos de fiança. OBS: convém lembrar: parte final do art. 184 do CC.: a invalidade da obrigação principal, invalida a obrigação acessória; mas a invalidade da acessória não provoca necessariamente a invalidação da obrigação principal. Direito Civil IV – Contratos – Profª. Ma. Fabiana de Souza 21 Contratos Nominados (ou típicos) – têm designação própria. Reconhece-se pelo nome que se dá ao contrato. Ex.: contratos de compra e venda, de locação, de troca, de doação, etc. Contratos Inominados (ou atípicos) – São contratos que não têm nomes próprios; as partes, com base no princípio da autonomia da vontade, criam esses contratos, uma vez observadas as regras do Código Civil, na forma disposta no art. 425. Ex: contrato de prestação de serviços, com permuta de bem material. Contratos de execução instantânea (ou imediata) – são aqueles que as partes cumprem em um só ato, ou momento, imediatamente e simultaneamente. Ex: compra e venda de um livro à vista. Contratos de execução continuada (ou sucessiva) – o cumprimento é feito em prestações. Ex: compra e venda de móveis em prestações. Contratos pessoais – (ou intuitu personae) – são os contratos cuja prestação deve ser cumprida pessoalmente pelo contratante-devedor; caracterizam-se pela obrigação de fazer infungível. Ex: contratação de um cantor famoso para apresentação em um show. Contratos impessoais – nessas modalidades, as prestações são cumpridas por qualquer pessoa. Caracterizam-se pela obrigação de fazer fungível. Ex: reparos em um carro junto à concessionária do veículo. Contratos preliminares – são aqueles que antecedem os contratos definitivos. Celebram- se, primeiramente, os preliminares para posteriormente os definitivos. Ex: compromisso particular de compra e venda de imóvel, em prestações mensais. Contratos definitivos – são aqueles que não tem nenhuma dependência em relação a qualquer outro contrato. Ex: a escritura pública de compra e venda de imóvel.
Compartilhar