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Transferência Denise Maurano

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TRANSFERÊNCIA 
 
*JEAN ALMUAS 
*SANDRA CRISTINA GIRARDI DE OLIVEIRA LIMA 
 
Maurano, Denise. A transferência: uma viagem rumo ao continente negro / Denise 
Maurano. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,2006 
 
A psicanálise está apta a tratar do sofrimento psíquico do ser humano. O mal 
do amor se revela nas mais variadas produções do nosso tempo. Por meio do caso 
Anna O., paciente de Joseph Breuer, Freud formulou o conceito de transferência, 
fundamental para o tratamento psicanalítico. A transferência envolve um 
investimento afetivo do paciente dirigido ao analista e a contratrasferência, segundo 
Lacan, é o desejo do analista de que a transferência seja efetivada e viabilize o 
tratamento. Freud ficou encantado com a hipnose por ser rápida e não 
desconfortável, no entanto não confiável, pois não supria os sintomas do paciente. 
Freud constatou que se a autoridade do médico enfraquecia para o paciente, o 
sintoma voltava. Inconformado com esta problemática e influenciado por Joseph 
Breuer com o método catártico Freud faz uma modificação no método hipnótico, 
deixando assim de impor uma sugestão proibidora do sintoma, e começou a 
explorá-lo produzindo assim a revivência da situação traumática que possibilitasse a 
liberação do afeto que se encontrava “ bloqueado” e restituindo-lhe a mobilidade 
afetiva. Segundo Aristóteles catarse significa propiciar a purificação das paixões. A 
segunda mudança do método de Freud foi abandonar o método catártico de Joseph 
Breuer por não ir além de uma repetição, assim criou o método psicanalítico que 
não se trata apenas de repetição da cena traumática, o método psicanalítico é mais 
do que isso, é recriar, viabilizar meios para que o sujeito vá além da repetição. 
Bertha Pappenheim, o caso mais marcante da psicanálise, foi um acidente de 
percurso durante seu tratamento para Joseph Breuer, posteriormente publicado 
juntamente com Freud nos Estudos sobre a Histeria. Marca a transposição do 
método catártico para que pudesse acontecer a Psicanálise. Anna O., uma jovem de 
21 anos tinha oscilações de humor, perturbações visuais e linguísticas, angústia, 
sonambulismo, asco aos alimentos, tosses, paralisias por contratura, anestesias. A 
Jean Almuas é academico do curso de Psicologia, no 6º semestre, na Disciplina de Teorias 
e Técnicas Psicanalíticas I, ministradas pela Professora Sandra Cristina Girardi de Oliveira 
Lima​,​ da Unisociesc - Blumenau. 
cura pela conversa, limpeza de chaminé é o método nomeado pela própria Anna 
O.,utilizava a sugestão hipnótica, a fim de investigar a amnésia presente nos casos 
de histeria por meio de uma escuta. Com a melhora progressiva de Anna O., a 
esposa de Breuer enciumada , propõe uma segunda lua de mel. Na mesma noite 
em que comunicou Anna O. sobre o fim do tratamento, Breuer foi chamado a conter 
suas crises, Anna O. estava com uma gravidez psicológica, simulando um o parto 
de um filho dele. Este fato fez com que Breuer confirmasse o fim do tratamento, sua 
viagem com a esposa e o fim de suas aventuras com o método catártico. No 
entanto, continuou a estimular Freud em suas pesquisas, porém Breuer não 
reconhecia o valor da sexualidade na origem das neuroses, fato que fez com que os 
dois se afastassem. Posteriormente Freud percebeu a complexidade da relação 
entre paciente e médico, deixando a hipnose e criando o método psicanalítico. 
A transferência, segundo o termo alemão Überträgung é o estabelecimento 
de um laço afetivo intenso, que em contato com o médico revela o pivô em torno do 
qual gira a organização subjetiva do paciente, assim as fantasias ganham novas 
versões. O paciente substitui o afeto de alguém importante na vida do sujeito para o 
médico, que será o intérprete do que lhe é falado, passando de status de médico 
para analista. Nesse processo o analisando traz para a pessoa do analista as 
posições em que se encontram figuras primordiais do início de sua vida, 
encontrando no analista os traços com a pessoa do passado, trazendo o sujeito 
para mais próximo de seu desejo, revelando a forma com que lida com o passado 
atualizado no presente. Por definição de Freud, a transferência é a regra 
fundamental para o processo psicanalítico, é onde toda a relação entre analisando e 
analista se desenvolve. É importante destacar que sem a instalação da transferência 
o método é inviabilizado. Freud percebeu que através da transferência dirigida ao 
analista, o analisando traria a energia do sintoma que possui os seus investimentos 
e então podendo ser tratada e devolvida. A transferência funciona como um 
instrumento de intervenção. O manejo da transferência é o que distingue o médico e 
o analista, o médico importa-se em eliminar o sintoma, não utiliza da transferência 
no tratamento. Ao utilizar um processo sugestivo o médico consegue reforçar o 
recalcamento que sustenta o sintoma, nem toca no processo de formação, podendo 
haver melhoras pelo mesmo período em que durar a alienação presente na 
 
sugestão, tornando os resultados não confiáveis. Já o analista analisa e trabalha a 
transferência e a resistência que revelam os elementos do conflito em que houve o 
recalcamento e o trouxe como um sintoma. O êxito no trabalho do analista é analisar 
a transferência para que possa progredir no tratamento psicanalítico. Freud usa a 
teoria da libido para explicar o tratamento, diz que é possível devido a capacidade 
de investimento libidinal do sujeito aos objetos e que podem passar de um a outro. 
No neurótico a libido encontra-se dirigida ao sintoma chegando a constituir a vida 
sexual do neurótico segundo Freud. Estando a libido recalcada, para disponibilizá-la 
ao sujeito é preciso renovar o conflito para conseguir tratá-lo, é como uma revisão 
do processo de recalcamento, de como a experiência recalcada se dará na relação 
com o analista, na transferência, recriando o velho conflito. Através da transferência 
as hipóteses serão levantadas que irão orientar o manejo clínico de acordo com a 
estratégia de intervenção, existem variações da transferência de acordo com o tipo 
clínico: O neurótico se torna o modelo de tratamento para a psicanálise por se 
adequar às disposições da transferência; O perverso exige satisfação imediata e 
que o analista sustente firmemente a direção do trabalho; O psicótico inviabiliza o 
processo psicanalítico por ter sua libido toda voltada para o eu. O psicótico não 
possui um investimento na transferência. Lacan aponta para uma possibilidade de 
tratamento com os psicóticos em que a transferência é mais difícil de ser 
estabelecida. 
A psicanálise se diferencia de outros métodos pela instalação e o estudo da 
transferência e por não utilizar a sugestão que traz resultados não confiáveis, ao 
contrário a psicanálise irá através de uma escuta psicanalítica valorizar de forma 
única a experiênciado sujeito em seu sintoma.

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