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Direito Ambiental Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Tercius Zychan Revisão Textual: Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin A Proteção Constitucional do Meio Ambiente 5 • A Proteção Constitucional do Meio Ambiente • A Constituição Federal de 1988 e o Meio Ambiente • A Garantia da Proteção Legal ao Meio Ambiente • O Patrimônio Genético • Estudo Prévio de Impacto Ambiental • Meio Ambiente e Educação • A Fauna e a Flora • O Estado Democrático de Direito e a Proteção ao Meio Ambiente • O Meio Ambiente como Direito Fundamental • Direito Ambiental e Sustentabidade • Sustentabidade Econômica · Conhecer a proteção dada pela Constituição Federal de 1988 ao Meio Ambiente · Reconhecer medidas tais como a educação ambiental ou o estudo de impacto ambiental · Compreender a inserção do Meio Ambiente no Estado Democrático de Direito e sua ligação com os Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais Nesta Unidade, estudaremos a proteção dada pela Constituição Federal de 1988 ao Meio Ambiente, tal como a educação ambiental ou o estudo de impacto ambiental. Trataremos, também, da inserção do Meio Ambiente no Estado Democrático de Direito e sua ligação com os Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais Não se esqueça de acessar o link Materiais Didáticos no qual encontrará o conteúdo e as atividades propostas para esta unidade. Bom estudo a todos! A Proteção Constitucional do Meio Ambiente 6 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente Contextualização Entre as medidas protetivas ao Meio Ambiente, veremos que nossa Constituição Federal de 1988 prevê, em seu Artigo 225, o denominado “Estudo Prévio de Impacto Ambiental”, com a finalidade de controlar as obras ou atividades que possam por em risco o Meio Ambiente. Assista ao vídeo disponível no Youtube, que trata um pouco sobre a fauna e flora brasileiras: <https://www.youtube.com/watch?v=fQVSnHUvJvY> Bom estudo! 7 A Proteção Constitucional do Meio Ambiente Se examinarmos um pouco a História recente da Humanidade, não encontraremos uma discussão sobre Meio Ambiente da forma como ocorre atualmente. Este fato, sobretudo, ocorre diante do desenvolvimento econômico, tecnológico e genético nas últimas décadas, evoluções estas que trouxeram como contrapartida desgastes além da poluição que, de um lado devem ser estudados e, de outro, devem ser combatidos. Desta forma, a proteção ao Meio Ambiente tem por objetivo a preocupação da preservação do ativo ambiental, bem como ser flexível, a fim de garantir que o desenvolvimento social e econômico de determinado país ocorra de forma sustentável. Atendendo esta chamativa, a Constituição Federal de 1988, de modo inédito no Direito brasileiro, tutelou, ou seja, estabeleceu diretrizes de proteção do Meio Ambiente. A Constituição Federal de 1988 e o Meio Ambiente Na história das diversas constituições brasileiras, foi a Constituição Federal de 1988 a primeira a especificamente tratar sobre o Meio Ambiente, mais especificamente em seu Artigo 225, não desprezando outras menções importantes em outros diapositivos da mesma Constituição: Art. 225. Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do Meio Ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o Meio Ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente; 8 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o Meio Ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do Meio Ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. Diante desta preocupação de defesa e proteção do Meio Ambiente, nossa Constituição foi designada por muitos como a Constituição Verde. Destaque importante ao uso econômico do Meio Ambiente e sua sustentabilidade é a previsão no Artigo 170, Inciso VI, no Título “Da ordem Econômica e Financeira”, da existência de preceito que trata como um princípio a ser observado no desempenho de qualquer atividade econômica a preocupação com o Meio Ambiente: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VI - defesa do Meio Ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; Neste caso, é oportuno registrar o que fala o professor Édis Milaré: O crescimento econômico ou o desenvolvimento socioeconômico deve portar- se como um instrumento, um meio eficaz para subsidiar o objetivo social maior. Neste caso, as atividades econômicas não poderão, de forma alguma, gerar problemas que afetem a qualidade ambiental e impeçam o pleno atingimento dos escopos sociais. Prosseguindo nossos estudos, vale aqui fazermos uma análise mais amiúde do Artigo 225 da Constituição Federal: Art. 225. Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Cumpre, desde logo, estabelecer o que se entende por Meio Ambiente ecologicamente equilibrado. 9 Ao tratar sobre sustentabilidade e equilíbrio, nas relações homem e natureza, não se pode prosseguir sem fazer menção a Marise Costa de Souza Duarte: Disso decorre que, ao considerar o Meio Ambiente como direito, com a qualidade de ser ecologicamente equilibrado, quis o constituintetutelar não qualquer ambiente, mas aquele que resultasse de um equilíbrio entre as (dinâmicas) relações travadas entre o homem e a natureza e que, portanto, impusesse a proteção e defesa para os presentes e futuras gerações. Questão importante, ainda tratada pelo mesmo Artigo 225 de nossa Constituição, é que o Meio Ambiente é um bem jurídico de uso comum de todos, impondo sua preservação não somente ao Estado, mas também à Sociedade como um todo, sendo solidário às presentes gerações e àquelas que estão por vir, ou seja, as futuras gerações, isto é, um verdadeiro legado de solidariedade. Outra questão que deve ser destacada é que no Artigo 225, a Constituição designa o Meio Ambiente como “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, ou seja, denomina o Meio Ambiente como uma categoria de bem, que não é publico nem tão pouco privado, isto é, podemos designá-lo simplesmente como um “bem ambiental”, sendo um hibrido entre o público e o privado. Vejamos o que fundamenta este entendimento. Dizemos que um Bem jurídico é tudo aquilo que constitua ou possa constituir um objeto que será protegido pelo Direito. Neste passo, o Meio Ambiente, pois nesta situação deveria estar sob o domínio de uma pessoa física ou jurídica. Já de início, descarta-se a hipótese de o Meio Ambiente ser um bem particular, pois pertenceria a uma pessoa natural ou a uma pessoa jurídica de direito privado. O Meio Ambiente possui algumas características que lhe estão gravadas e que são fundamentais: a inapropriabilidade (não pode ser objeto de apropriação); a indisponibilidade (não está disponível para qualquer transmissão, como por exemplo, a venda) e a indivisibilidade (não poderá ser objeto de fracionamento). O Meio Ambiente é público, posto ter um pequeno caráter público, vez que seu uso é coletivo. Reforçando essa ideia, o Artigo 225 diz que o Meio Ambiente sadio é considerado bem público, devendo atender a todos os cidadãos e de forma indistinta a toda a coletividade, o que não quer dizer que o Meio Ambiente integra o patrimônio de um determinado ente público, mas que deve atender a toda a sociedade. Para tanto, vale à pena ver o que diz Luís Paulo Sirvinskas a este respeito: Meio Ambiente e qualidade de vida fundem-se no direito à vida, transformando- se num direito fundamental. Por isso a maioria das Constituições passou a protegê-lo mais intensamente como a garantia da coletividade. Resumidamente, podemos afirmar que quando a Constituição Federal de 1988 reconhece o Meio Ambiente como um Direito Fundamental de toda uma coletividade, traz um importante marco ao nosso ordenamento jurídico, na busca de uma sociedade democrática, solidária e participativa, estabelecendo o poder e o dever de todos de protegê-lo, preservando sua qualidade como uma condição a garantir a dignidade da vida humana e do equilíbrio ecológico, preservando-o para as presentes e futuras gerações. 10 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente A Garantia da Proteção Legal ao Meio Ambiente Vejamos o que fala o §1º do Artigo 225 da Constituição Federal: § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do Meio Ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o Meio Ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente; Para tanto, veremos se por si só o §1º do Artigo 225 pode produzir os efeitos protetivos almejados ou simplesmente servirá de orientação às medidas legais sobre a preservação do Meio Ambiente. Recorrermos ao Professor Édis Millaré: Não basta, entretanto, apenas legislar. É fundamental que todas as pessoas e autoridades responsáveis se lancem ao trabalho de tirar essas regras do limbo da teoria para a existência efetiva da vida real. Na verdade, o maior dos problemas ambientais brasileiros é o desrespeito generalizado, impunido e impunível, à legislação vigente. É preciso, numa palavra, ultrapassar a ineficaz retórica ecológica – tão inócua quanto aborrecida – e chegar às ações concretas em favor do ambiente e da vida. Do contrário, em breve, nova modalidade de poluição – a “poluição regulamentar” – ocupará o centro de nossas preocupações. Esta é a primeira medida prevista pela Constituição, no Inciso I do Art. 225 do § 1°: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; Como podemos observar no disposto no Inciso, ele demonstra uma relação interdisciplinar dentro de nossos estudos, fazendo com que recorramos à análise de um conceito que não apreciamos, mas que possui uma relação muito próxima neste momento, ou seja, devemos avaliar o que vem a ser “Ecologia”. “Ecologia” é um conceito que muito provavelmente vimos nas aulas de Biologia, nas quais se aborda o tema com certa frequência. 11 Vamos, então, partir para o estudo de Ecologia, inicialmente prestando atenção à formação da palavra. Bem, Ecologia trata-se de uma palavra de origem grega, formada pela união de dois vocábulos “eco” (“oikos”), que significa casa, e “logos” que quer dizer “saber”, “estudar”. Assim, Ecologia significa o estudo do local onde vivemos, isto é, por Ecologia podemos entender a Ciência que estuda os seres vivos em “suas casas”, no meio em que vivem. Logo de início, percebe-se a interdisciplinaridade existente entre as Ciências Jurídicas e as Ciências da Natureza. Sendo assim, no momento em que à Constituição faz referência aos denominados processos ecológicos, pretendeu colocar sob a proteção constitucional todos os processos vitais oriundos da natureza que asseguram uma vida equilibrada, não apenas para o homem, mas para todos os seres viventes, posto que a sobrevivência do indivíduo está relacionada a tudo que o circunda. A segunda parte do Inciso I do Art. 225 da CF/88 trata do manejo ecológico das espécies e ecossistemas, o qual deve ser entendido dentro da esfera da gestão ambiental planejada, para que sejam aplicados na gestão e uso do Meio Ambiente de modo sustentável: (...) I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; Portanto, demonstra-se aqui que o direito fundamental ao Meio Ambiente está intimamente ligado à pretensão de um desenvolvimento social e econômico sustentável, havendo quase uma unanimidade desta propiciando uma relação onde Poder Público e sociedade tornam-se grandes aliados, com o devido amparo jurídico, praticando, por meio desta norma jurídica, a preservação, a restauração e o manejo da natureza, constituindo-se em um importante meio para efetivar tais escopos. 12 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente O Patrimônio Genético Por patrimônio genético, podemos entender conceitualmente a informação dos genes contidos em toda e qualquer espécie, seja ela vegetal, animal, microbiana ou fúngica. Os genes tratam-sedas características hereditárias, transmitidas de uma geração a outra, o que os torna um fator caracterizante e diferenciador da enorme variedade de espécies. Assim, a proteção efetiva do material genético necessita de um planejamento científico, dada a natureza da Ciência, mas sem deixar de lado critérios legais e medidas governamentais pertinentes. Aliada a esta necessidade e à previsão constitucional, em 2005 foi editada a Lei 11.105, de 24 de março de 2005, mais conhecida como a Lei de Biossegurança, na qual, em seu preâmbulo, encontramos a seguinte disposição: Regulamenta os incisos II, IV e V do §1.º do art.225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados [...]. Estudo Prévio de Impacto Ambiental Trata o Inciso IV do § 1º do Artigo 225 da Constituição Federal, como medida de garantia à proteção ambiental: (...) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do Meio Ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade, Por Estudo Prévio de Impacto Ambiental, vejamos o que diz José Afonso da Silva: Trata-se de um meio de atuação preventiva, que visa a evitar as consequências danosas, sobre o Meio Ambiente, de um projeto de obras, de urbanização ou de qualquer atividade [...] Quanto à sua necessidade, vejamos o que fala Édis Milaré: O objetivo central do Estudo de Impacto Ambiental é simples: evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o prisma econômico ou em relação aos interesses imediatos de seu proponente, revele-se posteriormente nefasto ou catastrófico para o Meio Ambiente. Como pode ser, a Constituição não fez distinção entre riscos concretos ou abstratos, mas imperiosamente definiu que seja qual for o risco, devem ser adotadas medidas preventivas para afastar a incidência de qualquer dano ao Meio Ambiente. Daí o porquê de toda atividade que possa comprometer a integridade do direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado dever ser criteriosamente avaliada pelo Poder Público, com a finalidade de afastar ou diminuir eventuais riscos. 13 Meio Ambiente e Educação O texto dado ao inciso VI do § 1º do Artigo 225 da Constituição Federal marca um aspecto de grande importância na formação de uma consciência protetiva ao Meio Ambiente: (...) VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente; Pelo que dispõe o mencionado dispositivo, pode-se perceber que a questão da formação de uma educação ambiental está direcionada na busca de temas e atividade educacionais em qualquer nível de ensino, bem como na busca de uma participação de toda a sociedade, seja por intermédio de campanhas, publicidade ou outros meios de interação capazes de produzir formação do que se possa denominar “consciência ambiental”, demonstrando que, com pequenas ou grandes atitudes, o Poder Público e a Sociedade podem contribuir com a preservação e a garantia de um Meio Ambiente de qualidade. A Fauna e a Flora Por fim, trata o Inciso VII do § 1º do Artigo 225: (...) VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Neste dispositivo, estamos vendo que cabe ao Poder Público a proteção efetiva da fauna e da flora, vedando, conforme a descrição legal, a prática de condutas que ponham em risco as suas funções ecológicas da fauna e flora, que deem causa a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. 14 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente O Estado Democrático de Direito e a Proteção ao Meio Ambiente A expressão “Estado Democrático de Direito” é atualmente uma marca que caracteriza nosso país. Mas o que ele é? O Professor Alexandre de Moraes procura delinear o que vem a ser o Estado Democrático de Direito: [...] significa a exigência de reger-se pelo Direito e por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamado no caput do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, adotou, igualmente em seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. E agora, onde o Direito Ambiental ou o Meio Ambiente está inserido neste Estado Democrático de Direito? Podemos afirmar que o Direito Ambiental, no ponto em que se encontra hoje, é fruto de um processo evolutivo, que envolve o reconhecimento social quanto à preservação do Meio Ambiente, sendo este elemento fundamental na garantia de melhor qualidade de vida do ser humano, o que fez despertar na coletividade a necessidade de preservá-lo ante o uso descontrolado dos meios ambientais e a poluição. Neste passo, a consciência ambiental torna-se uma necessidade para a sobrevivência da própria raça humana, ou seja, o Meio Ambiente é um bem essencial à existência do Planeta, devendo ser a todo custo preservado. Deste modo, o Meio Ambiente caracteriza-se como bem de uso de todos, fazendo com que seja necessário preservá-lo. Foi a sociedade que o elegeu como um direito fundamental, essencial à garantia do que se denomina dignidade da pessoa humana, estando atrelado ao princípio fundamental da dignidade da pessoa humana. 15 O Meio Ambiente como Direito Fundamental Os Direitos Humanos ou direitos fundamentais são fruto de uma classificação histórica, originada de um processo evolutivo de direitos ocorrido ao longo do tempo, absorvendo as necessidades e características da sociedade à época de seu reconhecimento, distinguindo-os em direitos humanos de primeira, segunda e terceira geração ou dimensão. Nos séculos XVII e XVIII, foram positivados os direitos fundamentais individuais baseados na liberdade, os quais deram origem aos chamados direitos humanos ou fundamentais de primeira dimensão (direitos civis e políticos). Com o surgimento da Revolução Industrial, em que ficaram evidenciadas ainda mais as diferenças entre os cidadãos, notadamente pelo prisma do capital ante o trabalho, o Estado deu conta de que não podia partir da premissa de que todos eram iguais naturalmente, pois de fato não o eram. Foi assim que nasceu o Estado Social e, consequentemente, surgiram os direitos humanos de segunda geração (sociais, econômicos e culturais). Foi em virtude da Revolução Industrial que surgiram na sociedade conflitos, fazendo com que o Estado criasse novos direitos com o objetivo de garantir e harmonizar a convivência dos indivíduos considerados em seu conjunto. Daqui advém uma mudança do enfoque social adicionado ao anterior, ou seja, do individual para o coletivo. São os direitos humanos ou fundamentais de segunda geração. Foi neste contexto que, em seguida, surgiram os Direitos Humanos de terceira geração ou dimensão, influenciados por valores de solidariedade. Vejamos o que fala a este respeito a professora Andréia Minussi Facin a respeito da integração do Direito Ambiental aos direitos fundamentais de 3ª dimensão: Assim, como a doutrina passou a considerar como Direito Humano de Terceira Geração o direito a um ambiente digno e sadio, quando se viola o direito ao Meio Ambiente, também se violam os direitos humanos. O reconhecimento definitivo do Direito Ambiental como direito humano já começa a ser feito pelos vários países do mundo. Dando continuidade a este entendimento, podemos reconhecer que no caput do Artigo 225 da Constituição Federal impõe concluir que o Direito Ambiental é um dos direitos humanosfundamentais. Neste entendimento, o denominado direito ao Meio Ambiente passa a ser um direito fundamental da pessoa humana, com características de imprescritível e irrevogável. Ademais, por força da cláusula aberta do Artigo 5º, parágrafo 2º, da Constituição Federal, os pactos, tratados e convenções relativas ao Meio Ambiente aprovadas pelo Brasil, desde que mais favoráveis, integram imediatamente o sistema constitucional dos direitos humanos fundamentais. 16 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente Direito Ambiental e Sustentabidade Nossa Constituição Federal, no Artigo 225 da Constituição Federal prevê, de modo esclarecedor, que o Meio Ambiente, no tocante à preservação, interessa às presentes e também às futuras gerações. Assim, serão beneficiadas a atual geração do povo brasileiro, bem as futuras gerações. Destarte, para atingir seu objetivo, o Direito Ambiental e, consequentemente a noção de sustentabilidade em sua dimensão ambiental, deverá ser necessariamente interdisciplinar, envolvendo, portanto, estudos voltados às Ciências Biológicas, à Sociologia, à Antropologia, à Geografia e até mesmo à Economia. Sustentabidade Econômica Seja qual for o modelo de desenvolvimento sustentável, este deve garantir as necessidades das presentes gerações e, ao mesmo tempo, preservar condições para que as futuras gerações desfrutem das mesmas condições para satisfazer suas próprias necessidades. Em um contexto econômico, a sustentabilidade não pode ser entendida apenas como um qualificativo de luxo. O princípio da sustentabilidade preconiza a existência de um critério de uso e reconstrução do Meio Ambiente como condição de sobrevivência da vida no Planeta, sem deixar de lado um desenvolvimento próspero para a sociedade como um todo. Quando se pensa em sustentabilidade, inicialmente se tem a ideia de que esta esteja ligada tão somente às bases produtivas nos modelos capitalistas liberais. Não se pode somente se apegar à ligação entre a Economia e a sustentabilidade, desprezando outras questões afetas. A Constituição Federal, ao tratar dos princípios gerais da ordem econômica e financeira, estabelece no Artigo 170: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do Meio Ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; 17 Do texto constitucional, pode-se compreender que o desenvolvimento econômico trata-se de um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro: Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Portanto, o desenvolvimento econômico pressupõe tanto a defesa quanto a preservação do Meio Ambiente, como também a promoção dos direitos sociais de modo a concretizar o objetivo fundamental de erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades sociais e regionais. Entretanto, o discurso preponderante continua a ter como objetivo principal o crescimento econômico, em desfavor do crescimento social e da proteção ambiental. 18 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente Material Complementar Para aprofundar seus conhecimentos, consulte: Livros: ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2011. BELTRÃO, Antônio F. G. Curso de direito ambiental. São Paulo: Método, 2009. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2004. Sites: SOUZA, Danuta Rafaela Nogueira de. Licenciamento ambiental e Política Nacional do Meio Ambiente. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3490, 20 jan. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/23503>. Acesso em: 30 set. 2015. 19 Referências ACADEMIA de Ciências do Estado de São Paulo. Glossário de ecologia. São Paulo: ACIESP, 1997. AMADO, Frederico Augusto Di Trindade. Direito Ambiental Esquematizado. São Paulo: Gen-Método, 2011. BECHARA, Erika. A proteção da fauna sob a ótica constitucional. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003. DERANI, Cristiane. A propriedade na Constituição de 1988 e o conteúdo da “Função Social”. Revista de Direito Ambiental nº 27. São Paulo: RT, 2002. DUARTE, Marise Costa de Souza. Meio Ambiente sadio: direito fundamental em crise. 2.tir. Curitiba: Juruá, 2006. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2011. GUERRANTE, Rafaela Di Sabato; ANTUNES, Adelaide Souza; PEREIRA JUNIOR, Nei. Transgênicos, a difícil relação entre a Ciência, a Sociedade e o Mercado. In: VALLE, Silvio; TELLES, José Luiz (Orgs.). Bioética e biorrisco: abordagem transdisciplinar. Rio de Janeiro: Interciência, 2003. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2007. MILARÉ, Édis Direito do ambiente: Doutrina - prática - jurisprudência – glossário. São Paulo: RT, 2000. Moraes, Alexandre de. Direito Constitucional. 21.ed. São Paulo: Atlas, 2007. SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 8.ed. São Paulo: Malheiros, 2010. SIRVINSKAS, L. P. Manual de Direito Ambiental. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 20 Unidade: A Proteção Constitucional do Meio Ambiente Anotações
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