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FORMAÇÃO DOCENTE: UM PROCESSO PERMANENTE Fabio Junior Cordova 1 Venice Teresinha Grings2 Resumo : O que pretendemos com este trabalho nada mais é, do que fazer uma leitura de alguns textos que foram estudados para a elaboração do trabalho. Está leitura servirá para nos ajudar a compreender melhor sobre a formação docente, como um processo permanente no qual estamos nos inserindo. Nessa perspectiva, tendo em vista a atual situação do sistema educacional brasileiro, inserida num contexto sócio-histórico-político, mais amplo, discute-se se os docentes se percebem como profissionais. A formação dos professores, a partir dos saberes e experiências, propõem-se a algumas indagações aos pesquisadores que resultaram nos trabalhos de pesquisa. Mas a possibilidade da reflexão, do diálogo e da criticidade em relação ao processo educativo. Privilegiando e propondo uma outra perspectiva de formação do professor, o refletir sobre os saberes construídos ao longo das trajetórias de ensino. Instaura-se, assim, a formação continuada a partir dos materiais produzidos pelos professores. Palavras-chave: Formação docente. Processo de profissionalização. Procedimento metodológico. Introdução A principal discussão do assunto ora tratado, a formação de professores, a partir dos saberes e experiências, propõe algumas indagações aos pesquisadores que inspiraram trabalhos de pesquisa. Ainda segundo Nóvoa, “a formação de professores pode desempenhar um papel importante na configuração de uma nova personalidade docente” (Nóvoa, 1995, p. 24), estimulando a emergência de uma cultura profissional no seio do professorado e de uma cultura organizacional no seio das escolas. Nóvoa afirma que: estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos, com vista à construção de uma 1 Professor de Filosofia. E-mail: fabiocordova2003@hotmail.com. 2 Professora Doutoranda PPGEdu -UFRGS. E-mail: vgrings@smail.ufsm.br. identidade, que é também uma identidade profissional (...). A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de refletividade critica sobre as crįticas e da construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência (Nóvoa, 1995, p. 25). A crise de identidade na profissão docente tem levado os professores a questionarem suas críticas profissionais. Anteriormente a profissão de professor apresentava um status social bastante elevado. Contudo, na atualidade, o imaginário instituído na sociedade perpassa a idéia de que a profissão docente configura-se, para alguns, como ultima opção daqueles que não conseguiram ingressar nos demais cursos superiores. Nóvoa (1995) destaca que a docência, ao longo dos séculos, foi se delineando e se estruturando como profissão, na medida em que ia sendo definido a quem competia a função de educar. Essa atribuição, por volta do século XVI, estava a cargo da Igreja, tendo algumas congregações religiosas a responsabilidade específica da educação formal. Nesse sentido, uma gama de elementos foi sendo incorporada ao trabalho docente: currículo, técnicas pedagógicas, habilitação; sendo cada vez mais requisitado que o professor se tornasse um especialista. Medidas de regulamentação da profissão foram implementadas pelo Estado, tendo a licença para ensinar concedida a indivíduos que dispusessem de alguns requisitos e que prestassem exame ou concurso. As mudanças ocorridas, no decorrer dos séculos, na atividade docente acarretaram a criação de associações profissionais, afirmando Nóvoa que, "a emergência deste ato corporativo constitui a ultima etapa do processo de profissionalização da atividade docente, na medida em que corresponde à tomada de consciência do corpo docente de seus próprios interesses enquanto grupo profissional" (Novoa, 1991. p, 125.). No entanto, para Nóvoa, a aquisição de uma identidade profissional não poderia se fazer sem a adesão a um certo número de idéias e de valores. Fica claro, nesse sentido, que a discussão sobre a profissionalização docente faz parte de um debate bem mais amplo que é datado historicamente e inclui outras sociedades. Percebem-se muitas iniciativas que estão sendo desenvolvidas para o aprofundamento do debate sobre as questões educacionais e sobre as relações entre educação e sociedade. O professor deve buscar gradativamente uma continua formação. Esta busca não deve apenas ser uma exigência da escola ou do sistema em relação a cada professor, tampouco deve ser um 2 imperativo propagandistíco e esvaziado de significação crítica. Deve sim, ser elemento constitutivo dos próprios processos de formação do formador. Esse pode ser um procedimento capaz de garantir que cada professor, enquanto indivíduo/profissional e a escola, da qual seria elemento constituinte juntamente com outros indivíduos/profissionais, sejam habitados por essa postura formativa continuada. Na formação de professores faz-se necessário que estes busquem participar desses processos de forma crítica e compromissada com a educação. Assim, destaca-se a importância da formação continuada, com vistas à qualificação, reflexão da crítica docente, como uma maneira de valorizar os saberes experienciais dos professores. A formação do professor não se vislumbra apenas na academia, com a diplomação, mas sim sobre as reflexões destes quanto à crítica em si, nos bancos escolares e também para além destes. Abordando os saberes da docência e o seu significado na construção de uma identidade profissional, Pimenta afirma que: Quando os alunos chegam ao curso de formação inicial, já tem saberes sobre o que é ser professor. Os saberes de sua experiência de alunos que foram de diferentes professores em toda sua vida escolar. Experiência que lhes possibilita dizer quais foram os bons professores, quais eram bons em conteúdo, mas não em didática, isto é, não sabiam ensinar. Quais professores foram significativos em suas vidas, isto é, contribuíram para sua formação humana. Também sabem sobre o ser professor por meio da experiência socialmente acumulada, as mudanças históricas da profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a não valorização social e financeira dos professores, as dificuldades de estar diante de turmas de crianças e jovens turbulentos, em escolas precárias; sabem um pouco sobre as representações e os estereótipos que a sociedade tem dos professores, através dos meios de comunicação (Pimenta, 1999, p. 20). Já Tardif ressalta, que: se admitirmos que o movimento de profissionalização é, em grande parte, uma tentativa de renovar os fundamentos epistemológicos do ofício de professor, então devemos examinar seriamente a natureza desses fundamentos e extrair daí elementos que nos permitam entrar num processo reflexivo e crítico sobre nossas próprias práticas como formadores e como pesquisadores (Tardif, 1999, p. 4). 3 Sabemos, no entanto, que um dos maiores desafios nos processos de formação surgem com relação à transformação de suas práticas, mais facilmente viabilizada pelas vivências pedagógicas. Com estas, buscamos não só a formação continuada dos professores, mas também o diálogo e a reflexão de suas práticas educativas. Algumas iniciativas brasileiras As políticas públicas para a Educação de alguns estados e municípios e a promulgação da Constituição Federal, em 1988, favoreceram a explicitação dascondições do exercício da profissão docente. Diante disso, a “formação de professores reflexivos compreende a um projeto humano emancipa-tório. Desenvolver pesquisas nessa tendência implica posições político educacionais que apostam nos professores como autores na prática social” (Pimenta, 1999, p. 31). Dentre essas iniciativas, salienta-se o resgate do concurso público, a formulação de políticas de capacitação em serviço, o incentivo à realização de cursos de aperfeiçoamento, a especialização e as propostas de planos de cargos e carreira. Com efeito, o concurso público ou exame de seleção pode funcionar como estímulo a atualização, pois, o recrutamento de docentes pelas instāncias governamentais ao mesmo tempo em que possibilita a seleção de pessoas capacitadas para o exercício da atividade docente, torna pública uma bibliografia que termina se tornando referência para aqueles que já desenvolvem a atividade docente. Além disso, o concurso público pode se constituir em um obstáculo a atividade docente, o que, certamente, atinge professores contratados via influência política, fruto de práticas que favoreceram a criação de currais eleitorais. Desse modo, ao se estabelecerem regras públicas e gerais para todos os candidatos a essa profissão propicia-se a definição de requisitos mínimos de formação e de competências para o exercício docente, ao mesmo tempo em que favorece a restauração da dignidade profissional, acompanhada, ou não, de política salarial compatível, de servidores públicos. Portanto, se apenas em algumas localidades foram estabelecidas políticas salariais adequadas, no país, de um modo geral, em decorrência das inúmeras greves que tem caracterizado a área educacional, têm sido discutidas as propostas, planos de cargos e carreira. A ênfase está, não somente na apreensão dos conteúdos, mas também no processo de ensino, tendo em vista uma perspectiva de futuro. O professor é um agente de transformação e está preocupado 4 com as questões sociais direta ou indiretamente, relacionadas como processo ensino- aprendizagem. Ele é um profissional comprometido com emancipação da população. A imagem do professor e seus significados na representação social Ainda hoje a imagem do professor é muito configurada. Ao definirem a representação social de professor em bases afetivas, atribui ao docente o compromisso com a formação moral de seus alunos. Desse modo, o professor “é antes de tudo, alguém que sabe alguma coisa e cuja função consiste em transmitir esse saber aos outros” (Tardif, 2002, p. 31). Os professores ainda evidenciam uma imagem da profissão docente semelhante ao modelo original professor-padre. Segundo Nóvoa, “em que o saber é referenciado a uma ordem superior religiosa” (Novoa, 1991, p.109-139) . Portanto, distante da lógica formal e geralmente respaldado por noções inquestionáveis, seu saber é incontestável. Padres, tias, amigas, mães, geralmente, são figuras que representam modos de relação afetiva. A influência exercida por essas denominações, sobre o comportamento e atitude dos indivíduos, em especial das crianças, respalda-se numa lógica do amor, mais precisamente, num tipo de uso da palavra amor que denota afeto. Sendo assim, tal associação provavelmente acarreta uma estruturação de um modo de relacionamento entre professor e aluno possivelmente semelhante ao desses modelos afetivos, o que, de certa forma, levaria a uma descaracterização da docência como profissão, na medida em que indubitavelmente não existem cursos para formação de amigas, tias, mães e demais graus de parentesco, estando, pois, essa representação social indo de encontro a um dos indicadores básicos da caracterização da docência como profissão. Essa imagem de professor parece atender a uma demanda das famílias, no cuidado com a formação dos filhos, não necessariamente relacionada ao processo ensino-aprendizagem, o que, provavelmente, repercute no exercício da docência por parte desses professores, configurada na relação com os alunos. Esse tipo de imagem é uma relação próxima com a família do usuário, sendo esta relação, a que muitas vezes embasa as propostas pedagógicas das escolas, devido à incorporação do discurso da Psicologia, no qual é atribuída uma grande importância aos aspectos afetivos. Desse modo, a docência parece se encontrar num processo de transformação, em que o modelo tradicional de professor, apesar de considerado ultrapassado, ainda persiste no vocabulário docente, convivendo lado a lado com as novas concepções e propostas. Com efeito, 5 observa-se nos discursos dos sujeitos a presença de elementos considerados indicadores de profissionalização associados a uma imagem caracteristicamente afetiva. Isto poderia ser considerado uma ambigüidade na estruturação de um novo modelo de professor. Por enquanto, concebe-se ainda, o exercício da docência como profissão num contexto de relações interpessoais. A concepção de docência que resulta dessa ambigüidade está relacionada com linhas mais gerais de projetos político-sociais que consigam a adesão na sociedade brasileira, valendo aprofundar a discussão sobre as concepções de professor presentes em nossa sociedade e que são internalizadas pelos docentes como seres sociais porque constitui momento necessário a compreensão de sua própria prática profissional. Nesse sentido, indubitavelmente estudos com relação às representações sociais dos docentes constituem uma tentativa de ampliar a compreensão dos aspectos que envolvem a educação na nossa sociedade. Na perspectiva da Psicologia Social, o homem é concebido como um ser social, que se constitui mediante um processo de interação. Através da linguagem, seja verbal ou não, significados são repassados através de um processo de comunicação socializada. Segundo Selma G. Pimenta a “identidade profissional se constrói, pois, a partir da significação social da profissão, da revisão constante dos significados sociais da profissão” (Pimenta, 2000, p. 19). Assim, as normas, regras e concepções da sociedade vão sendo internalizadas pelo sujeito. Ao contrário, segundo ele, os sujeitos os reformulam quando com eles se deparam. Ele pode, as vezes, simplesmente reproduzir os significados recebidos, mas em outras, a assimilação que faz da realidade passa por um processo de reorganização dos significados que lhes foram fornecidos. Uma das maneiras do indivíduo se apropriar dos aspectos da realidade seria via representação social, compreendido como uma forma de conhecimento elaborado e compartilhado, tendo uma perspectiva prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. É uma representação social desenvolvida no próprio processo de interação social, particularmente, naquelas situações relativas a difusão dos conhecimentos científicos e artísticos. As representações sociais poderiam ser consideradas, num sentido mais amplo, como uma forma de pensamento social, da mesma forma que esse pode ainda ser concebido como a realidade que é formulada pelos sujeitos dos diversos segmentos de uma sociedade. São esses significados compartilhados que possibilitam a construção de perspectivas comuns. 6 Desse modo, a representação social de professor que os docentes formulam em relação a sua profissão foi apreendida a partir das concepções que os mesmos elaboram sobre o que seja professor, profissão e trabalho docente, além de como eles supõem ser as concepções dos seus grupos de referência.Considerações finais Portanto, as vivências pedagógicas que são desenvolvidas não possuem como finalidade única o conteúdo escolar ou metodologias da prática pedagógica, mas a possibilidade da reflexão, do diálogo e da criticidade em relação ao processo educativo. Privilegiando e propondo uma outra perspectiva de formação do professor, o refletir sobre os saberes construídos ao longo das trajetórias de ensino. Instaura-se, assim, a formação continuada a partir dos materiais produzidos pelos professores. Valorizam-se os saberes construídos nas trajetórias profissionais. Desse modo, nota-se que ao produzir materiais pedagógicos estamos coletivamente disponibilizando experiências e materiais significativos para os professores em serviço e pesquisadores. Ressaltamos a relevância destes na formação inicial e continuada daqueles que procuram os cursos de formação, na tentativa de ressignificar o sentido de ser professor na atualidade. Referências bibliográficas NÓVOA, A. Para o estudo sócio-histórico da gênese e desenvolvimento da profissão docente. Teoria & Educação. 1991 n. 4, p.109-139. ______. Os professores e a sua formação. Lisboa, Dom Quixote, 1992. ______. Vidas de Professores. 2. ed., Porto Editora, Porto, 1995. (Coleção Ciências da Educação). PIMENTA, S. G. Saberes Pedagógicos e atividades docentes. São Paulo: Cortez, 2000. _____. Saberes Pedagógicos e atividades docentes. São Paulo: Cortez, 1999. TARDIF, Maurice. Conferência proferida na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas - RS, no dia 25 de outubro de 1999. Universidade Laval, Quebec, Canadá. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. 7 Venice Teresinha Grings2 Introdução Algumas iniciativas brasileiras A imagem do professor e seus significados na representação social Considerações finais Referências bibliográficas