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Trabalho Direito Penal Constitucional Crimes em Espécie pronto

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Pós-graduação em Direito Penal e Processual Penal
Resenha do Caso “Envolvimento entre segurança pública e empresa privada”
 
Clederson Jardel Poersch
 Disciplina: Direito Penal Constitucional – Crimes em Espécie
Tutor: Prof. Daniela Bastos Soares
Barracão/PR
2018
Caso: Envolvimento entre segurança pública e empresa privada é “temerário”.
OS DELITOS DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA, MILÍCIA PRIVADA E SUA APLICAÇÃO NOS DELITOS PREVISTOS NO CÓDIGO PENAL
REFERÊNCIA: JORNAL DO BRASIL. Envolvimento entre segurança pública e empresa privada é “temerário”. Jornal do Brasil, 09 nov. 2014. Disponível em: <http://www.jb.com.br/rio/noticias/2014/11/09/envolvimento-entre-seguranca-publica-e-empresa-privada-e-temerario/>. Acesso em 11 ago. 2018.
Resumo: Confronto entre Segurança Pública e Privada, e, a atuação de seus respectivos agentes na formação da denominada “milícia privada”, delito tipificado no art. 288-A do Código Penal. A preocupação sobre políticas de segurança pública em todo país, bem como, o problema enfrentado pelos Tribunais diante do conflito de normas, haja vista as diversas espécies de associações criminosas previstas no ordenamento jurídico pátrio, bem como, a caracterização do delito de milícia privada.
	Como se observa do texto extraído do site referenciado, o fato do servidor público de segurança (policial militar) estar sendo desvalorizado pela instituição (haja vista o valor percebido para efeitos de remuneração), sendo que expõe sua vida para salvaguardar a vida da coletividade, acarreta que os mesmos acabem realizando “bicos” em empresas de segurança privada.
	Todavia, há um nítido confronto de interesses, haja vista que, a empresa privada somente é contratada pelo fato de inexistir a segurança pública atuando naquele local, assim, podemos verificar que, o policial militar, o qual deveria salvaguardar o local, acaba por não o fazer, gerando assim a obrigatoriedade de se contratar uma segurança privada, a qual, cada vez mais vai em busca de militares para integrar a empresa privada, haja vista o conhecimento público e notório da desvalorização do servidor público que expõe sua vida em risco para salvaguardar a vida coletiva, porém, é mal remunerado.
	Veja que tal situação acaba por ser ainda pior se analisarmos que todo investimento para qualificação do policial militar adveio do Estado, oriundo de dinheiro público que nós cidadãos pagamos, porém, o policial militar acaba por fazer “bicos” em empresas privadas, utilizando todo preparo, conhecimento e garantias inerentes ao militar, como por exemplo, o porte de arma que lhe é garantido pelo fato de ser policial militar, sendo que, em diversas situações não seria possível o segurança privado estar portando arma naquele local, sem contar que, em uma situação de risco, o policial militar acaba por ter um apoio mais rápido e efetivo de seus “irmãos de farda” do que caso fosse um segurança comum.
	Ocorre que, na maioria das vezes, esses “bicos” acabam resultando na constituição de milícia privada, sendo considerado crime previsto no art. 288-A do Código Penal, o qual assim prevê “Art. 288-A.  Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código”, com pena de 4 a 8 anos de reclusão.
	Veja-se que há diversos núcleos do tipo penal “Constituir, Organizar, Integrar, Manter ou Custear”.
	É importante frisar que a milícia é formada por um determinado grupo de pessoas (civis e/ou militares) que alegam pretender garantir a segurança das famílias, residências e comércios, com a “boa” intenção de assegurar a paz e tranquilidade que foi perdida no local em decorrência da violência ali existente.
	Ocorre que, a intenção até seria boa se não fosse o fato de que a adesão à tal milícia não ocorre de forma espontânea, mas sim é imposta à comunidade, mediante coação, violência e grave ameaça, podendo-se então dizer que a milícia ocupa o território e explora as pessoas e comércios carentes de segurança.
	Vale ressaltar que não há na Lei uma delimitação do número mínimo de agentes que deve integrar a figura típica, porém, em respeito e analogia à figura prevista no mesmo artigo 288 (associação criminosa), temos a imprescindibilidade de existência de no mínimo três agentes.
	É importante salientar que a abrangência para aplicação da milícia se limita às figuras típicas do Código Penal, não podendo ser aplicada sobre a Legislação Especial, nem mesmo sobre as contravenções penais.
	Também é de suma importância frisar que o delito de milícia privada é de caráter especial se considerado em relação à associação criminosa prevista no art. 8º da Lei n. 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos), porém, não se pode dizer o mesmo sobre os crimes equiparados a hediondos (art. 2º da Lei n. 8.072/90), haja vista que nesse caso prevalecerá a Lei Especial.
	É importante que se diferencie a Milícia Privada (art. 288-A, CP), Associação Criminosa (art. 288, CP), Organização Criminosa (Lei n. 12.850/13), e, Associação Criminosa para o Tráfico (art. 35 da Lei n. 11.343/06).
	Veja-se que, na Milícia Privada (art. 288-A, CP) o entendimento (em que pese a ausência de previsão no texto legal) é de que se necessita de no mínimo 3 agentes para integrar a figura típica, sendo o mesmo número de agentes necessários para a configuração da Associação Criminosa descrita no art. 288 do CP.
	Quanto a Organização Criminosa (Lei n. 12.850/13), é necessário o mínimo de 4 pessoas, enquanto que, na Associação Criminosa para o Tráfico (art. 35 da Lei n. 11.343/06), necessita-se apenas 2 pessoas.
	Na Milícia Privada se dispensa a divisão de tarefas, sendo que na Associação Criminosa também se dispensa tal organização estruturada e divisão de tarefas, enquanto que, na Organização Criminosa, necessário se faz a estruturação da Organização, bem como, a divisão de tarefas entre os integrantes, mesmo que de forma informal, sendo que, na Associação Criminosa para o Tráfico, também não se faz necessária a divisão de tarefas.
	Na Milícia Privada é dispensável a busca por qualquer vantagem, sendo igual na Associação Criminosa e na Associação Criminosa para o Tráfico, porém, o objetivo da Organização Criminosa é a obtenção de vantagem de qualquer natureza.
	Há mais algumas formas de diferenciação entre os delitos acima citados, porém, para finalizar, é importante frisar que, na Milícia Privada a finalidade é a prática de qualquer dos crimes previstos no Código Penal, sendo que a finalidade da Associação Criminosa é o cometimento de crimes, não importando o tipo do crime ou a sua pena, enquanto na Organização Criminosa, a finalidade é a prática de infrações (abrangendo inclusive contravenções penais) cujas penas máximas sejam superiores a 4 anos ou de caráter transnacional, e, a finalidade da Associação Criminosa para o Tráfico é o cometimento, de forma reiterada ou não, dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e, art. 34, ambos da Lei n. 11.343/06.
	É importante ainda salientar que a pena da Milícia Privada é de 4 a 8 anos, enquanto a pena de Associação Criminosa é de 1 a 3 anos (com situação de aumento de pena), sendo que a pena para Organização Criminosa é de 3 a 8 anos e multa (com situação de aumento de pena), e, a pena para o delito de Associação Criminosa para o Tráfico é de 3 a 10 anos e multa.

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