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Dir.Consumidor

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Professor: Werley Campos Gomes 
Direito do Consumidor – 6º período C. 
 
 
 
I – DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
 
 
 
1.1 CONCEITO 
 
De acordo com Ada Pelegrini Grinover (2007), o Direito do 
Consumidor surgiu de uma lei principiológica, vindo a integrar um 
ramo autônomo do direito que lida com conflitos de consumo e 
com a defesa dos direitos dos consumidores. 
 
Segundo Cavalieri Filho, para se conseguir entender a origem desse 
ramo autônomo que é o Direito do Consumidor, mister se faz 
utilizar uma atenção especial à Revolução Industrial. De acordo 
com o autor, tem-se que antes da Revolução Industrial a produção 
era limitada, de forma artesanal e destinada ao grupo familiar ou a 
uma pequena quantidade de pessoas. 
 
Atualmente se encontra desenvolvido na maior parte dos países 
com as sociedades de consumo. 
 
 
 
1.2 NOÇÕES HISTÓRICAS 
 
A) CÓDIGO DE HAMURABI 
Séc. XII a.c. – Formulado pelo Rei Hammurabi por volta dos anos 
(1728-1686 a.C.), este código tinha como princípio basilar a célebre 
frase que hoje se tornou popular no mundo todo, qual seja: 
“olho por olho, dente por dente”. 
Este código trazia leis que regulavam algumas categorias especiais 
de trabalhadores: médicos, veterinários, barbeiros, pedreiros, 
arquitetos, entre outros. Essas leis conferiam direitos e obrigações 
entre os profissionais e às pessoas que contratavam os serviços. 
 
 
B) CÓDIGO MASSU 
Séc. XIII a.C. Índia – “Sagrado” código que previa pena para quem 
adulterasse produtos alimentícios ou vendesse por preços 
diferentes. 
 
 
C) OS GREGOS 
Os gregos normatizavam as relações consumerista com fonte nos 
costumes à época, com o intuito de cuidar dos direitos de quem 
consumia um produto. 
 
Segundo Aristóteles Apud José Geraldo Brito Filomento (1995), 
havia uma supervisão em prol da defesa do consumidor, onde eram 
sorteados fiscais de mercado, em que eram lhes atribuído às 
funções atinentes a fiscalização de mercadorias em geral, a fim de 
que os produtos vendidos não tivessem misturas ou não fossem 
adulterados. 
 
Existia também a figura do fiscal de medidas, que por sua vez 
verificava as medidas e os pesos dos produtos, a fim de que os 
vendedores utilizassem os pesos e as medidas correntes, buscando 
um melhor equilíbrio entre os produtos. 
 
Havia também os guardiões do trigo, estes se encarregam, de que o 
trigo em grão colocado no mercado, fosse comercializado 
honestamente à fabricação de farinha, pães, etc. 
 
 
D) OS ROMANOS 
De acordo com Walter Vieira do Nascimento (2008), Na Roma 
Antiga, embora fosse muito perceptível o desenvolvimento jurídico, 
eles também não dispunham de uma norma específica sobre as 
relações consumeristas. Os Romanos valiam-se do Direito Comum, 
que regulava as relações de compra e venda entre eles. 
 
Já no período do Império Romano, com as práticas do controle de 
abastecimento de produtos, principalmente nas regiões 
conquistadas em determinados períodos, se fez necessário a 
criação de Leis mais avançadas, até mesmo para conter o processo 
inflacionário, gerado em grande parte pelo déficit do tesouro 
imperial na manutenção das ocupações. 
 
“Atual, não?” 
 
 
E) EDITO DE LUIZ XI 
Em 1481, França – Banho escaldante em quem acrescentasse água 
no leite ou pedra na manteiga, para aumentar o volume e o peso. 
Há divergência em que tal punição não pode ser considerada como 
“Direito do Consumidor” haja vista sua motivação cruel. 
 
 
F) CONSUMER’S UNION 
O movimento consumerista teve início nas lutas de grupos sociais 
contra a discriminação de cor, sexo, raça e, sobretudo por melhores 
condições de trabalho. 
 
“Os consumidores descobriam sua força.” 
 
Em 1891, Nova Iorque – Surgia a New York Consumer’s League, 
formada por um pequeno grupo de advogados trabalhistas, que se 
transformou em 1899 na National Consumer’s league, sendo a atual 
Consumer’s Union que edita a temida e respeitada revista em 
defesa do consumidor. 
 
 
G) REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 
Em 1930, França – Houve um grande marco para a história mundial 
que influenciou na cultura e no modo de viver de quase todas as 
nações do mundo. 
 
Somente com a Revolução Industrial e a produção em larga escala é 
que as pessoas passaram a adquirir produtos manufaturados, sem o 
conhecimento de quem os havia fabricado, fazendo nascer então o 
Mercado de Consumo. 
 
 
H) VIGILÂNCIAS SANITÁRIAS 
Não se tem ao certo o período exato de suas criações, mas as 
vigilâncias surgiram no início do século XX por razões de reserva 
de mercado. 
 
 
I) ORGANIZAÇÕES DE DEFESA DO CONSUMIDOR 
A Partir de 1930, juntamente com a Revolução Industrial, surgiram 
as Organizações de Defesa do Consumidor, na Itália, França e 
Inglaterra, logo após espalhando-se para diversos países dos vários 
continentes do mundo, após a guerra mundial. 
 
 
J) AÇÕES COLETIVAS (Class Actions) 
A década de 60 foi marcada por estas ações, especialmente nos 
EUA em relação a veículos automotores, e na Alemanha. 
 
 
 
 
 
K) INTERNACIONAL ORGANIZATION OF CONSUMERS UNION (IOCU) 
Criada entre as décadas de 60 e 70, esta organização foi 
inicialmente constituída pela organização de cinco países: Autrália, 
Bélgica, Estados Unidos, Holanda e Reino Unido. 
 
Em 1985 com a resolução 39/248, a ONU reconheceu a organização 
como braço forte para a defesa dos consumidores. Atualmente a 
IOCU é designada de CONSUMERS INTERNATIONAL (CI), uma 
federação mundial de grupos de consumidores que atua em 115 
países, distribuído em todos os continentes do planeta onde se liga 
centenas de associações de defesa e proteção ao consumidor, no 
Brasil estão ligadas o INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO 
CONSUMDIOR (IDEC) e a PROteção ao CONsumidor (PROCON), 
ambos os órgãos pertencentes ao Sistema Nacional de Defesa do 
Consumidor (SNDC), previstos no artigo 105 do CDC. 
 
Algumas garantias extraídas da resolução supra: 
 
- Direito à Segurança; 
- Direito a Escolha; 
- Direito à Informação; 
- Direito de Ser Ouvido; 
- Direito à Indenização; 
- Direito à Educação Para o Consumo; 
- Direito a um Meio Ambiente saudável. 
 
Veremos mais adiante, que o Código de Defesa do Consumidor 
(CDC), também se utilizou de tal resolução em seus conceitos 
principiológicos. 
 
 
 
1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL 
A Constituição Federal determina ao Estado promover a defesa ao 
consumidor, determinação esta que se faz presente no Título II, 
que trata das Garantias e Direitos Fundamentais, artigo 5º, XXXII, 
e mais especificamente no Art. 48 dos Atos das Disposições 
Constitucionais e Transitórias (ADCT), Encontrada logo após a 
Constituição Federal em seu vademecum. 
Imperioso se faz mencionar, que a CF menciona diretamente o 
consumidor em várias outras ocasiões. Vejamos algumas: 
- artigo 24 inciso VIII - Competência para legislar; 
- artigo 150, VI, “d” p. 5º - Esclarecimento sobre Impostos; 
- artigo 155, III, p.2º, VII - Instituição do Estado sobre Impostos; 
- artigo 170, V - Defesa do Consumidor como Princípio Econômico; 
- artigo 175, II - Esclarecimento a usuários de serviços públicos. 
 
 
1.4 GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
Analisando de forma histórica a queda de grandes impérios, 
percebe-se que até mesmo os grandes pensadores (Filósofos, 
Sociólogos, Antropólogos, Teólogos) já defendiam a criação de 
novos direitos e deveres, onde remanesceram várias entidades 
como o feudalismo, parlamentarismo, teocentrismo, entre outros. 
 
Logo após, houve um marco na história ocidental com a RevoluçãoFrancesa, com ela, nascera o movimento constitucionalista que se 
baseava em três palavras: Liberté, Égalité, Fraternité, sobrevindo 
então o Estado de Direito, com a primitiva divisão dos poderes de 
Aristóteles, e então renovada por Montesquieu. 
Todos estes acontecimentos na idade média deram ensejo às três 
gerações de direitos fundamentais, onde a doutrina atual ainda cria 
uma quarta geração. 
 
A) DIREITOS DE 1ª GERAÇÃO 
DIREITOS INDIVIDUAIS – Correspondem aos Direitos (de 
LIBERDADE, civis, políticos, de propriedade, da vida e da 
segurança). Essa geração de direito tem como principal objetivo 
proteger a pessoa das arbitrariedades praticadas pelo Estado ou por 
outro indivíduo. 
Buscam libertar todos e cada um do absolutismo de um ou de 
alguns sobre todos. No plano político cuidava-se de libertar o 
indivíduo do absolutismo do monarca e seus agentes, aos quais se 
opõe a liberdade individual irrestrita que só podia ser restringida 
pela lei, como expressão da vontade geral e em função do interesse 
comum. 
 
B) DIREITOS DE 2ª GERAÇÃO 
DIREITOS SOCIAIS – Correspondem aos Direitos (de IGUALDADE, 
econômicos, sociais e culturais). Obriga ao Estado a fazer em 
benefício da pessoa que necessite desses direitos. As ações do 
Estado devem estar motivadas e orientadas para atender a justiça 
social. 
 
Surgiu mais especificamente no séc. XX, após a Primeira Guerra 
Mundial, voltados para as relações sociais, nas quais a desigualdade 
se acentua por fatores econômicos, físicos ou de qualquer natureza. 
O indivíduo continua sujeito dos direitos humanos fundamentais, 
porém, não mais como individualidade abstrata e absoluta, mas 
como integrante de uma categoria social. Daí, por que na segunda 
geração surgem direitos que, em vez de oposição, fazem 
chamamento ao Estado para obter dele uma prestação legislativa, 
administrativa e judiciária, em favor das categorias sociais mais 
fracas. 
 
A encíclica Rerum Novarum corroborou no sentido de que os 
direitos de segunda geração vieram para se contrapor a convulsão 
social gerada no século XIX pela exploração das massas operárias e 
pelo capitalismo selvagem desencadeado pela revolução industrial 
em meados do séc. XX. 
 
Por isso que esses direitos foram aplicados primeiramente às 
relações de trabalho, a fim de proteger a categoria dos assalariados, 
a classe operária, contra a espoliação patronal. 
 
C) DIREITOS DE 3ª GERAÇÃO 
DIREITOS COLETIVOS - Correspondem aos Direitos (de 
FRATERNIDADE, DIFURSOS, do CONSUMIDOR, do meio ambiente, 
da qualidade de vida, da paz, da autodeterminação dos povos, da 
criança, do idoso, da mulher, do deficiente, etc.). O Estado passou a 
ter a obrigação de proteger a coletividade de pessoas, não somente 
o ser humano de forma isolada. 
 
Reagindo aos extermínios em massa da humanidade praticados na 
primeira metade do século XX, tanto por regimes totalitários 
(stalinismo, nazismo), como por democráticos (bombardeio e 
destruição de cidades indefesas, até mesmo por armas atômicas), o 
direito voltou os olhos novamente às relações sociais, mas agora 
não para garantir indivíduo contra indivíduo, nem contra o Estado, 
mas para garantir a humanidade contra a própria humanidade. 
 
Após a 2ª Guerra Mundial, com o rápido desenvolvimento da 
tecnologia de transportes, comunicação e de informação, os 
direitos humanos se internacionalizaram com a criação de 
organismos políticos e sistemas normativos internacionais, a fim 
de gerar condições de progresso material para regenerar padrões 
morais de respeito à dignidade da pessoa humana, desgastados pela 
miséria econômica e social, extrema em muitas partes do mundo. 
Devido a fortes comoções humanitárias causadas pelas vítimas da 
guerra, várias nações sentiram a necessidade de tratar sobre as 
questões humanitárias em momento de paz ou em campanha. 
 
Exemplo em momento de paz: 
Escassez de alimentos, desestruturação social, mortalidade 
infantil, etc. 
 
Exemplo em momento de guerra: 
O direito de um soldado paraquedista ser alvejado somente após 
pisar no solo inimigo. 
 
Criou-se então a Organização das Nações Unidas (ONU) após a Carta 
das Nações Unidas assinada por ocasião da Conferência de 
Organização Internacional das Nações Unidas na cidade de São 
Francisco nos Estados Unidos em 26 de Junho de 1945, e ratificada 
pelo Brasil pelo Decreto 19.841/45. Logo após Foi estipulada a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos pela (Resolução 217 A 
(III)/48), aprovada pela Assembléia Geral das ONU, em que já no seu 
preâmbulo, Considera o reconhecimento da dignidade inerente a 
todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e 
inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da 
paz no mundo, que as Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé 
nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da 
pessoa humana. 
 
No item 2 do artigo XXI, já encontramos alusões ao Direito do 
Consumidor pelas seguintes informações: 
2 – Toda pessoa tem igual direito de acesso ao 
serviço público do seu país. 
 
Logo depois, veio a Convenção Americana sobre Direitos Humanos 
de 1969 (Pacto San José da Costa Rica), ratificada no Brasil pelo 
Decreto 678/92, também estabelece em seu art. 11, §1º, que: 
“Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao 
reconhecimento de sua dignidade" e no art. 32, §1º, que "Toda 
pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a 
humanidade". 
 
No plano Constitucional temos o artigo 1º, III, e artigo 5º, incisos 
III e XLIX, que fixam a dignidade da pessoa humana. 
 
D) DIREITOS DE 4ª GERAÇÃO 
DIREITOS DA MINORIA - Correspondem aos novos Direitos Sociais 
decorrentes da evolução da sociedade e da globalização. Envolvem 
questões relacionadas à informática, biociência, clonagem, 
eutanásia, estudo de células tronco. 
 
 
O direito à União Estável e até mesmo ao Contrato Nupcial 
(Casamento) dos Homoafetivos poderia se enquadrar nesta quarta 
geração? 
 
 
1.5 CARACTERÍSTICAS DO CDC 
 
O Código Brasileiro de Proteção e Defesa do Consumidor, 
comumente conhecido como (CDC), é regulamentado pela Lei 
8.078/90, e senão uma das melhores, a melhor Lei Consumerista 
do Mundo. 
 
Está dividido em 119 artigos que estão distribuídos em 6 títulos, 
encerrando uma norma Principiológica por meio de um 
Microssistema Interdisciplinar. 
 
Helio Zaghetto Gama, Divide didaticamente o CDC em três grandes 
grupamentos, a saber: 
 
A) DOS ARTIGOS 1º usque 7º - Onde se apresenta e define o 
consumidor e o fornecedor, o produto e o serviço. 
 
B) DOS ARTIGOS 8º usque 54 – Prevê a mecânica do que fazer para 
o cumprimento do Dever. 
 
C) DOS ARTIGOS 55 usque 107 – Mostra os mecanismos utilizáveis 
pela Sociedade e Pelo Poder Público, para fazer prevalecer o 
cumprimento do Dever. 
 
O CDC é conhecido como o Código dos Desiguais, enquanto o 
Código Civil por sua vez, Código dos Iguais. 
 
O CDC recebe este título justamente por tratar das relações de 
consumo, onde se presume que o consumidor é sempre a parte 
mais frágil da relação, daí se extrai o termo “vulnerável”. 
 
A vulnerabilidade do consumidor pode ser evocada de acordo com 
vários pontos de vista, como: técnico, jurídico e fático. 
 
 
1.6 RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
Para haver a chamada RELAÇÃO DE CONSUMO, a ponto de se 
aplicar o CDC, é necessário que se reúnam em torno de algum 
NEGÓCIO ou FATO os sujeitos: CONSUMIDOR e FORNECEDOR, 
tendo entre eles um dos objetos: PRODUTO ou SERVIÇO. 
 
 
1.7 TEORIAS DA RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
Existemtrês teorias a disputar a condição de consumidor e, por 
conseguinte a existência da relação de consumo. 
 
 
1º TEORIA FINALISTA 
Também conhecida como (minimalista ou teleológica), conforme 
própria denominação busca uma conceituação mais fechada de 
consumidor para fins de aplicação do CDC, ou seja, à proteção da 
parte vulnerável da relação jurídica. 
 
Para os finalistas, o conceito de consumidor baseado na ideia de 
destinatário final, envolve não apenas destinatário fático, mas 
também destinatário econômico do bem ou serviço, isto é, aquele 
que o retira do mercado de consumo, para uso próprio, SEM fins 
lucrativos ou de reintrodução na cadeia produtiva. 
 
Assim, a teoria finalista adota, ao pé da letra, o conceito restritivo 
de consumidor previsto no artigo 2º do CDC, onde só poderá ser 
considerado como consumidor o destinatário final, àquele que 
retira o produto ou serviço do mercado de consumo sem o objetivo 
de reintegrá-lo novamente no mercado, não o aplicando na sua 
cadeia produtiva ou utilizando-o como insumo. 
 
Exemplo prático da aplicação da teoria finalista na jurisprudência 
diz respeito aos contratos de mútuo celebrados entre o empresário 
e a instituição financeira, destinados a fomentar a atividade 
empresarial. Embora exista a súmula 297 STJ que determina a 
aplicação do CDC também às instituições financeiras, no caso em 
tela, o CDC é afastado, justamente pela finalidade de aplicação do 
empréstimo à cadeia produtiva ou aquisição de insumo. 
 
Vejamos uma jurisprudência neste diapasão: 
 
EMENTA: EMBARGOS DE DEVEDOR – CONTRATO 
BANCÁRIO - PESSOA JURÍDICA - CAPITAL DE 
GIRO - RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO 
CONFIGURADA - CDC INAPLICÁVEL - 
JUROSREMUNERATÓRIOS - AUSÊNCIA DE 
LIMITE PELA LEI DE USURA - COMISSÃO DE 
PERMANÊNCIA - LEGALIDADE – 
IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - PROVIMENTO 
DA APELAÇÃO. Em que pese não mais haver 
divergência quanto à aplicação do CDC às 
instituições financeiras, nos termos da Súmula 
297, do STJ, certo é que o suposto consumidor 
deve adequar-se ao conceito inserido em seu artigo 
2º, vale dizer, deve ser destinatário final do produto 
ou serviço objeto da contratação, o que não ocorre 
no caso, no qual o dinheiro tomado pela 
empresa embargante, inclusive a título de capital 
de giro, presta-se ao fomento da atividade por ela 
desenvolvida, enquadrando-se como verdadeiro 
insumo. [...] (TJ/MG, Apelação Cível n.º 
1.0569.05.001.904-5/001, 16ª Câmara Cível, Rel. 
Batista de Abreu, j. 19.12.2007). 
 
 
Portanto, para a teoria finalista, não podem ser considerados 
consumidores as pessoas jurídicas e os profissionais que, em uma 
relação comercial, tenham adquirido produto ou serviços 
caracterizado como insumo, isto é como fator de produção de 
lucro. 
 
A teoria finalista se baseia na ideia de que o sistema consumerista 
tem por objetivo a proteção do vulnerável, portanto não poderiam 
ser considerados consumidores vulneráveis (técnico, jurídico e 
fático), as pessoas jurídicas e os profissionais que adquirem 
produtos ou serviços com finalidade lucrativa. 
 
No início os finalistas só consideravam consumidores pessoas 
físicas, excluindo totalmente do âmbito de proteção das normas de 
defesa do consumidor as pessoas jurídicas. 
 
Por esse motivo, em várias legislações alienígenas, como na 
Alemanha e na França, o conceito de consumidor está atrelado à 
pessoa física, definido com um leigo ou um não profissional que 
contrata ou se relaciona com um profissional para fins familiares 
ou de suas necessidades de vida. 
 
Porém, no Brasil a interpretação é mais ampla, de modo que uma 
pessoa jurídica também pode figurar como consumidora, desde que 
adquira produtos não destinados para a sua atividade principal. 
 
Exemplo: Compra de materiais de higiene para uma empresa. 
 
Até mesmo quem adquira produtos ou serviços destinados para sua 
atividade principal (insumos), pode ser consumidor como 
consumidor, desde que se prove sua vulnerabilidade. Este caso 
veremos na teoria mista. 
Por fim, para se determinar que o consumidor possa ser uma 
pessoa física, pessoa jurídica, por equiparação, ou coletividade 
independente de serem determináveis ou não, deve haver a 
aquisição ou utilização de produtos ou serviços, para o seu próprio 
benefício ou de outrem, e também a vulnerabilidade. 
Está é a corrente majoritária em nosso país. 
 
2º TEORIA MAXIMALISTA 
De forma bem resumida, esta corrente amplia o conceito de 
DESTINATÁRIO. 
 
Defende que as disposições do CDC são meramente objetivas, não 
importando a destinação econômica da aquisição, de modo que se 
acrescente também a figura do DESTINATÁRIO FÁTICO, além do 
DESTINATÁRIO FINAL expresso no artigo 2º do CDC. 
 
Basta que a pessoa retire o bem da cadeia de consumo para se 
tornar um destinatário fático e, portanto, um consumidor. 
 
Para esta teoria, o conceito estabelecido pelo artigo 2º do CDC deve 
receber a interpretação mais ampla possível, de modo que não 
importa se o produto ou serviço adquirido será utilizado para o 
desenvolvimento de uma atividade lucrativa. 
 
No entanto, esta teoria fragiliza a essência do Código de Defesa do 
Consumidor, que é proteger o mais vulnerável. 
 
Para esta corrente, a vulnerabilidade não é fator de relevância. 
 
Portanto, nota-se que esta linha de pensamento, por adotar amplo 
significado ao consumidor, acaba absorvendo um pouco o Código 
Civil e das Leis Esparsas. 
 
A principal crítica que se tem à concepção maximalista é que, ao se 
adotar uma concepção tão ampla de consumidor, passando de 
destinatário final para destinatário fático (aquele que adquire ou 
retira do mercado o produto ou serviço, não importando se para 
uso próprio ou com finalidade de lucro), acaba por fazer com que o 
CDC, concebido em sua origem como uma legislação especial 
destinada à proteção de determinados sujeitos numa relação 
jurídica específica, passe a ser uma regulação geral de todo e 
qualquer contrato de aquisição de bens ou serviços assim como o 
Código Civil, de forma que ficaria difícil saber quando uma relação 
seria consumerista ou empresarial. 
 
 
3º TEORIA MISTA 
Também conhecida como (finalista aprofundada), esta por sua vez, 
mistura os elementos das duas primeiras teorias. 
 
Nesta corrente doutrinária o consumidor (destinatário final), seria 
aquela pessoa que adquire o produto ou o serviço para o uso 
privado, porém, admitindo-se esta utilização em atividade de 
produção, com a finalidade de desenvolver atividade comercial ou 
profissional, desde que seja provada a vulnerabilidade desta pessoa 
física ou jurídica que está adquirindo o produto ou contratando o 
serviço. 
 
Para esta nova teoria, o STJ tem utilizado o artigo 29 do CDC para 
comprovar a vulnerabilidade deste consumidor, mesmo que se 
utilize da aquisição de bens ou serviços com o fito de obter lucro. 
 
O conceito-chave é o da vulnerabilidade. 
 
Esta teoria se faz muito moderna e, até mesmo humana, pois dá 
tratamento diferenciado àqueles que adquirem um produto ou 
serviço para utilizá-lo como forma de produção, reconhecendo que 
estes adquirentes podem possuir a mesma vulnerabilidade em 
relação ao produto ou serviço que está sendo adquirido por 
qualquer outra pessoa que o utilizaria para satisfação de uma 
necessidade própria. 
 
Exemplo 1: O restaurante que compra um veículo para fazer 
entregas. 
 
Exemplo 2: O Taxista que compra o veículo para transportar 
pessoas. 
 
Observem que a palavra chave é a vulnerabilidade do consumidor. 
 
Tanto o restaurante como o taxista, ambos possuem habilidades 
distantes daprodução de um automóvel, portanto eles podem não 
ter o menor conhecimento técnico sobre veículos, da mesma forma 
que qualquer outro consumidor que o adquira para fins próprios ou 
de terceiros. 
 
Por isso esta teoria é tão bem aceita em nosso ordenamento 
jurídico, pois ela apresenta mais concordância com o princípio 
fundamental do Código de Defesa do Consumidor, que é a proteção 
dos mais fracos perante os mais fortes, daqueles que são, portanto, 
notadamente, vulneráveis. 
 
O Código do Consumidor brasileiro tem como elemento fático a 
proteção dos vulneráveis, em observância da boa-fé empregada na 
relação jurídica de consumo. 
 
Com base em tudo o que foi estudado até agora, como ficaria a 
situação de um taxista que compra um produto (carro), mas irá 
utilizá-lo para trabalhar com a finalidade de obter lucro? 
 
Seria o taxista um destinatário final a ser enquadrado no código 
dos desiguais (CDC), ou seria ele um oblato a ser regido pelo código 
dos iguais (CC)? 
 
Entre o taxista e a concessionária existiria uma relação 
consumerista ou empresarial? 
 
Neste caso seria aplicada a teoria Maximalista, Finalista ou Mista? 
 
Outra dúvida frequente se diz respeito aos serviços bancários. 
Estes serviços são enquadrados nas relações consumeristas? 
 
 
1.7 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO 
 
A) CONSUMIDOR EXTRITO SENSU 
Do ponto de vista Psicológico, é o sujeito sobre o qual se estudam 
as reações a fim de se individualizar os critérios para a produção e 
as motivações internas que o levam ao consumo. 
 
Do ponto de vista Sociológico, é qualquer indivíduo que frui ou se 
utiliza de produtos e serviços, mas pertence a uma determinada 
categoria ou classe social. Foi baseado neste conceito que surgiram 
as classes de consumidores: A, B, C, etc. 
 
Do ponto de vista Filosófico, é aquele que cede sempre às sugestões 
veiculadas pela publicidade. 
 
Do ponto de vista Etimológico, Considera-se consumidor segundo 
os dicionários, como: 
 
- Houaiss: “adj.s.m. que ou o que consome. aquele que adquire 
mercadorias, riquezas e serviços para uso próprio ou de sua família; 
comprador, freguês, cliente.” 
- Aurélio: “Adj. 1. Que consome. S. m. 2. Aquele ou aquilo que 
consome. 3. Restr. Aquele que compra para gastar em uso próprio.” 
Do ponto de vista Doutrinário, Para Maria Helena Diniz o 
consumidor significa: 
“Pessoa física ou jurídica que adquire ou usa 
produto ou serviço como destinatário final. 
Coletividade de pessoas que intervêm numa relação 
de consumo. Aquele que consome. O que compra 
produtos para uso próprio, sem intenção de 
revendê-los para obter lucro.” 
 
Do ponto de vista Legal, esta definição está presente no Código de 
Proteção e Defesa do Consumidor (CDC - Lei 8.078/90). O CDC 
adotou o conceito econômico-jurídico, conceituando o consumidor 
nos artigos: 2º, 17 e 29. 
Conforme a norma legal expressa, o consumidor deve ser o 
destinatário FINAL do produto ou serviço. 
 
 
A.2) CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO OU (BYSTANDER = 
ESPECTADOR) 
Aqui veremos que o consumidor não é somente aquela pessoa física 
ou jurídica determinável, mas também as pessoas e a coletividade 
de pessoas indetermináveis ou as vítimas de eventos. 
 
1º COLETIVIDADE DE PESSOAS DETERMINÁVEIS OU NÃO 
De acordo com o p. único do artigo 2º do CDC, a coletividade de 
pessoas, determináveis ou não, que haja intervindo nas relações de 
consumo, são equiparáveis aos consumidores. 
 
Acerta da coletividade nos ensina José Geraldo Brito Filomeno 
(2011) que: 
 
“Dessa forma, além dos aspectos já tratados em 
passos anteriores, o que se tem em mira no 
parágrafo único do art. 2° do Código do Consumidor 
é a universalidade, conjunto de consumidores de 
produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou 
categoria deles, e desde que relacionados a 
determinado produto ou serviço. Tal perspectiva é 
extremamente relevante e realista, porquanto é 
natural que se previna, por exemplo, o consumo de 
produtos e serviços perigosos ou então nocivos, 
beneficiando-se assim, abstratamente, as referidas 
universalidades e categorias de potenciais 
consumidores. Ou, então, se já provado o dano 
efetivo pelo consumo de tais produtos ou serviços, o 
que se pretende é conferir à universalidade ou 
grupo de consumidores os devidos instrumentos 
jurídico-processuais para que possam obter a justa 
e mais completa possível reparação dos 
responsáveis, circunstâncias essas 
pormenorizadamente previstas a partir do art. 8° e 
seguintes do Código do Consumidor, e, sobretudo 
pelo art. 81 e seguintes.” 
 
 
Portanto, esse grupo de pessoas é defendido através das normas e 
princípios do CDC, de forma equiparada àqueles consumidores 
individuais e determináveis que participaram da relação jurídica de 
consumo, gozam de toda a garantias. 
 
O CDC defende que as pessoas, mesmo sem adquirir ou utilizar 
produto ou serviço como destinatário final, ou que estejam em 
grupos indetermináveis, podem estar em condição de 
vulnerabilidade às práticas comerciais cometidas pelos fabricantes 
ou fornecedores de produtos ou serviços. 
 
Exemplo 1: Produto destinado a um determinado público (homem 
ou mulher, classe profissional, etc.). 
 
Exemplo 2: Grupo de turistas que se intoxicam com um produto. 
 
Exemplo 3: Um remédio anticoncepcional que é destinado e 
exclusivo ao público feminino. 
 
Exemplo 4: Um aparelho de barbear que é destinado e exclusivo ao 
público masculino. 
 
2º PESSOAS DETERMINÁVEIS OU NÃO. 
Este regramento se completa com o artigo 29 do CDC, que também 
iguala aos consumidores, todas as pessoas, determináveis ou não, 
expostas as práticas comerciais abusivas. 
 
O que difere esta modalidade da primeira, é que está modalidade 
está ligada diretamente a publicidade, tanto que tem como base o 
artigo 29 que por sua vez, está delimitado no Capítulo V que trata 
justamente das Práticas Comerciais. 
 
3º VÍTIMAS DO EVENTO 
São todas as vítimas de um acidente de consumo, que por 
equiparação se tornam consumidoras e adquirem o direito à 
responsabilização pelo fato do produto ou do serviço, de acordo 
com o 17 do CDC. 
 
Mesmo não tendo nenhuma participação direta à relação de 
consumo, esse consumidor “espectador” pode tornar-se vítima de 
um evento danoso causado por um acidente de consumo e sofrer 
consequências da mesma forma como o consumidor que adquiriu o 
produto ou o serviço. 
 
Sendo assim, basta que a pessoa física ou jurídica tenha sua 
segurança ou saúde atingida por um evento decorrente de um 
produto ou serviço, mesmo que não tenha adquirido ou utilizado 
este produto ou serviço, podendo até, esta pessoa, ser estranha à 
relação de consumo, para que seja igualada a condição de 
consumidor e tenha toda a proteção das normas e princípios 
presentes no CDC. 
 
Exemplo: O triste acidente que aconteceu com um avião “foker 
100” da TAM em São Paulo há alguns anos, onde o aparelho, 
segundo perícias, apresentou falhas mecânicas em uma das 
turbinas, vindo a cair e colidir com diversas casas. Várias pessoas 
morreram e outras ficaram feridas... 
 
Neste fatídico caso, todas as pessoas atingidas pelos destroços do 
avião figuram como vítimas de acidente de consumo, sendo, 
portanto, consumidores, podendo reclamar os seus direitos junto 
ao fornecedor. 
Nos dois primeiros casos permite-se o ajuizamento de ações 
coletivas em prol da comunidade, e no último caso facilita-se a 
reparação civil dos danos pelo acidente de consumo, de acordo com 
os artigos 12 usque 17 do CDC. 
 
B) FORNECEDOR 
Do pondo de vista Doutrinário, segundo Maria Helena Diniz, 
fornecedor:“É a pessoa natural ou jurídica, pública ou 
privada, nacional ou estrangeira, ou ente 
despersonalizado, que desenvolve atividade de 
produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, 
distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços.” 
 
 
Do ponto de vista Etimológico, Considera-se fornecedor segundo os 
dicionários, como: 
 
- Houaiss: “adj.s.m. 1 que ou o que fornece (algo) 2 que ou aquele 
que abastece com regularidade (alguém) com algum produto, 
matéria-prima, água, gás, eletricidade etc. 3 que ou o que produz, 
que é fonte de; produtor.” 
 
- Aurélio: “adj. 1. Que fornece. S. m. 2. Aquele que fornece ou se 
obriga a fornecer mercadorias.” 
 
Do ponto de vista Legal, o artigo 3º do CDC, traz as definições 
acerca do fornecedor. 
 
O melhor conceito é o Legal. 
 
Jamais devemos nos esquecer que fornecedor é GÊNERO, do qual 
são ESPÉCIES: Comerciantes, fabricantes, produtor, importador, 
etc. Isto é importante para a responsabilização civil. 
 
Condomínio possui CNPJ e presta serviços a todos os moradores do 
prédio, logo ele poderia ser enquadrado como pessoa jurídica 
fornecedora? 
 
A Doutrina e a Jurisprudência entendem que os condomínios, 
muito embora possam ser fornecedores de produtos ou serviços, 
NÃO SERÃO considerados fornecedores em suas relações com os 
condôminos, por se tratar de uma obrigação propter rem, 
(obrigação a alguma coisa), regulada norma própria (Lei 4.591/64, 
que foi atualizada pela Lei 10.406/02). 
 
Embora o condomínio tenha CNPJ, o condomínio não figura como 
pessoa jurídica, vez que não consta no rol dos artigos 40 usque 44 
do Código Civil que trata sobre as pessoas jurídicas de direito 
público e de direito privado. 
 
Para que se considere alguma pessoa Física ou Jurídica como 
FORNECEDOR de produtos ou serviços, necessário se faz que essas 
pessoas exerçam atividade com HABITUALIDADE ou 
PROFISSIONALISMO. 
 
Se por exemplo, uma loja de instrumentos musicais que possua um 
veículo para fazer suas entregas, decidir vender este veículo para 
uma pessoa particular, este estabelecimento não pode ser 
considerado como fornecedor nessa relação, pois a loja não tem 
habitualidade de negociar a compra e venda de veículos 
automotores, mas sim negociar instrumentos musicais. 
Novamente temos a questão da “vulnerabilidade”, já que, neste 
caso, a loja está no mesmo nível do comprador, logo não mais se 
fala em fato ou vício do produto, mas em outros institutos 
regulados pelo código civil, como por exemplo um vício 
redibitório.

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