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Professor: Werley Campos Gomes Direito do Consumidor – 6º período C. I – DIREITO DO CONSUMIDOR 1.1 CONCEITO De acordo com Ada Pelegrini Grinover (2007), o Direito do Consumidor surgiu de uma lei principiológica, vindo a integrar um ramo autônomo do direito que lida com conflitos de consumo e com a defesa dos direitos dos consumidores. Segundo Cavalieri Filho, para se conseguir entender a origem desse ramo autônomo que é o Direito do Consumidor, mister se faz utilizar uma atenção especial à Revolução Industrial. De acordo com o autor, tem-se que antes da Revolução Industrial a produção era limitada, de forma artesanal e destinada ao grupo familiar ou a uma pequena quantidade de pessoas. Atualmente se encontra desenvolvido na maior parte dos países com as sociedades de consumo. 1.2 NOÇÕES HISTÓRICAS A) CÓDIGO DE HAMURABI Séc. XII a.c. – Formulado pelo Rei Hammurabi por volta dos anos (1728-1686 a.C.), este código tinha como princípio basilar a célebre frase que hoje se tornou popular no mundo todo, qual seja: “olho por olho, dente por dente”. Este código trazia leis que regulavam algumas categorias especiais de trabalhadores: médicos, veterinários, barbeiros, pedreiros, arquitetos, entre outros. Essas leis conferiam direitos e obrigações entre os profissionais e às pessoas que contratavam os serviços. B) CÓDIGO MASSU Séc. XIII a.C. Índia – “Sagrado” código que previa pena para quem adulterasse produtos alimentícios ou vendesse por preços diferentes. C) OS GREGOS Os gregos normatizavam as relações consumerista com fonte nos costumes à época, com o intuito de cuidar dos direitos de quem consumia um produto. Segundo Aristóteles Apud José Geraldo Brito Filomento (1995), havia uma supervisão em prol da defesa do consumidor, onde eram sorteados fiscais de mercado, em que eram lhes atribuído às funções atinentes a fiscalização de mercadorias em geral, a fim de que os produtos vendidos não tivessem misturas ou não fossem adulterados. Existia também a figura do fiscal de medidas, que por sua vez verificava as medidas e os pesos dos produtos, a fim de que os vendedores utilizassem os pesos e as medidas correntes, buscando um melhor equilíbrio entre os produtos. Havia também os guardiões do trigo, estes se encarregam, de que o trigo em grão colocado no mercado, fosse comercializado honestamente à fabricação de farinha, pães, etc. D) OS ROMANOS De acordo com Walter Vieira do Nascimento (2008), Na Roma Antiga, embora fosse muito perceptível o desenvolvimento jurídico, eles também não dispunham de uma norma específica sobre as relações consumeristas. Os Romanos valiam-se do Direito Comum, que regulava as relações de compra e venda entre eles. Já no período do Império Romano, com as práticas do controle de abastecimento de produtos, principalmente nas regiões conquistadas em determinados períodos, se fez necessário a criação de Leis mais avançadas, até mesmo para conter o processo inflacionário, gerado em grande parte pelo déficit do tesouro imperial na manutenção das ocupações. “Atual, não?” E) EDITO DE LUIZ XI Em 1481, França – Banho escaldante em quem acrescentasse água no leite ou pedra na manteiga, para aumentar o volume e o peso. Há divergência em que tal punição não pode ser considerada como “Direito do Consumidor” haja vista sua motivação cruel. F) CONSUMER’S UNION O movimento consumerista teve início nas lutas de grupos sociais contra a discriminação de cor, sexo, raça e, sobretudo por melhores condições de trabalho. “Os consumidores descobriam sua força.” Em 1891, Nova Iorque – Surgia a New York Consumer’s League, formada por um pequeno grupo de advogados trabalhistas, que se transformou em 1899 na National Consumer’s league, sendo a atual Consumer’s Union que edita a temida e respeitada revista em defesa do consumidor. G) REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Em 1930, França – Houve um grande marco para a história mundial que influenciou na cultura e no modo de viver de quase todas as nações do mundo. Somente com a Revolução Industrial e a produção em larga escala é que as pessoas passaram a adquirir produtos manufaturados, sem o conhecimento de quem os havia fabricado, fazendo nascer então o Mercado de Consumo. H) VIGILÂNCIAS SANITÁRIAS Não se tem ao certo o período exato de suas criações, mas as vigilâncias surgiram no início do século XX por razões de reserva de mercado. I) ORGANIZAÇÕES DE DEFESA DO CONSUMIDOR A Partir de 1930, juntamente com a Revolução Industrial, surgiram as Organizações de Defesa do Consumidor, na Itália, França e Inglaterra, logo após espalhando-se para diversos países dos vários continentes do mundo, após a guerra mundial. J) AÇÕES COLETIVAS (Class Actions) A década de 60 foi marcada por estas ações, especialmente nos EUA em relação a veículos automotores, e na Alemanha. K) INTERNACIONAL ORGANIZATION OF CONSUMERS UNION (IOCU) Criada entre as décadas de 60 e 70, esta organização foi inicialmente constituída pela organização de cinco países: Autrália, Bélgica, Estados Unidos, Holanda e Reino Unido. Em 1985 com a resolução 39/248, a ONU reconheceu a organização como braço forte para a defesa dos consumidores. Atualmente a IOCU é designada de CONSUMERS INTERNATIONAL (CI), uma federação mundial de grupos de consumidores que atua em 115 países, distribuído em todos os continentes do planeta onde se liga centenas de associações de defesa e proteção ao consumidor, no Brasil estão ligadas o INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMDIOR (IDEC) e a PROteção ao CONsumidor (PROCON), ambos os órgãos pertencentes ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), previstos no artigo 105 do CDC. Algumas garantias extraídas da resolução supra: - Direito à Segurança; - Direito a Escolha; - Direito à Informação; - Direito de Ser Ouvido; - Direito à Indenização; - Direito à Educação Para o Consumo; - Direito a um Meio Ambiente saudável. Veremos mais adiante, que o Código de Defesa do Consumidor (CDC), também se utilizou de tal resolução em seus conceitos principiológicos. 1.3 PREVISÃO CONSTITUCIONAL A Constituição Federal determina ao Estado promover a defesa ao consumidor, determinação esta que se faz presente no Título II, que trata das Garantias e Direitos Fundamentais, artigo 5º, XXXII, e mais especificamente no Art. 48 dos Atos das Disposições Constitucionais e Transitórias (ADCT), Encontrada logo após a Constituição Federal em seu vademecum. Imperioso se faz mencionar, que a CF menciona diretamente o consumidor em várias outras ocasiões. Vejamos algumas: - artigo 24 inciso VIII - Competência para legislar; - artigo 150, VI, “d” p. 5º - Esclarecimento sobre Impostos; - artigo 155, III, p.2º, VII - Instituição do Estado sobre Impostos; - artigo 170, V - Defesa do Consumidor como Princípio Econômico; - artigo 175, II - Esclarecimento a usuários de serviços públicos. 1.4 GERAÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS Analisando de forma histórica a queda de grandes impérios, percebe-se que até mesmo os grandes pensadores (Filósofos, Sociólogos, Antropólogos, Teólogos) já defendiam a criação de novos direitos e deveres, onde remanesceram várias entidades como o feudalismo, parlamentarismo, teocentrismo, entre outros. Logo após, houve um marco na história ocidental com a RevoluçãoFrancesa, com ela, nascera o movimento constitucionalista que se baseava em três palavras: Liberté, Égalité, Fraternité, sobrevindo então o Estado de Direito, com a primitiva divisão dos poderes de Aristóteles, e então renovada por Montesquieu. Todos estes acontecimentos na idade média deram ensejo às três gerações de direitos fundamentais, onde a doutrina atual ainda cria uma quarta geração. A) DIREITOS DE 1ª GERAÇÃO DIREITOS INDIVIDUAIS – Correspondem aos Direitos (de LIBERDADE, civis, políticos, de propriedade, da vida e da segurança). Essa geração de direito tem como principal objetivo proteger a pessoa das arbitrariedades praticadas pelo Estado ou por outro indivíduo. Buscam libertar todos e cada um do absolutismo de um ou de alguns sobre todos. No plano político cuidava-se de libertar o indivíduo do absolutismo do monarca e seus agentes, aos quais se opõe a liberdade individual irrestrita que só podia ser restringida pela lei, como expressão da vontade geral e em função do interesse comum. B) DIREITOS DE 2ª GERAÇÃO DIREITOS SOCIAIS – Correspondem aos Direitos (de IGUALDADE, econômicos, sociais e culturais). Obriga ao Estado a fazer em benefício da pessoa que necessite desses direitos. As ações do Estado devem estar motivadas e orientadas para atender a justiça social. Surgiu mais especificamente no séc. XX, após a Primeira Guerra Mundial, voltados para as relações sociais, nas quais a desigualdade se acentua por fatores econômicos, físicos ou de qualquer natureza. O indivíduo continua sujeito dos direitos humanos fundamentais, porém, não mais como individualidade abstrata e absoluta, mas como integrante de uma categoria social. Daí, por que na segunda geração surgem direitos que, em vez de oposição, fazem chamamento ao Estado para obter dele uma prestação legislativa, administrativa e judiciária, em favor das categorias sociais mais fracas. A encíclica Rerum Novarum corroborou no sentido de que os direitos de segunda geração vieram para se contrapor a convulsão social gerada no século XIX pela exploração das massas operárias e pelo capitalismo selvagem desencadeado pela revolução industrial em meados do séc. XX. Por isso que esses direitos foram aplicados primeiramente às relações de trabalho, a fim de proteger a categoria dos assalariados, a classe operária, contra a espoliação patronal. C) DIREITOS DE 3ª GERAÇÃO DIREITOS COLETIVOS - Correspondem aos Direitos (de FRATERNIDADE, DIFURSOS, do CONSUMIDOR, do meio ambiente, da qualidade de vida, da paz, da autodeterminação dos povos, da criança, do idoso, da mulher, do deficiente, etc.). O Estado passou a ter a obrigação de proteger a coletividade de pessoas, não somente o ser humano de forma isolada. Reagindo aos extermínios em massa da humanidade praticados na primeira metade do século XX, tanto por regimes totalitários (stalinismo, nazismo), como por democráticos (bombardeio e destruição de cidades indefesas, até mesmo por armas atômicas), o direito voltou os olhos novamente às relações sociais, mas agora não para garantir indivíduo contra indivíduo, nem contra o Estado, mas para garantir a humanidade contra a própria humanidade. Após a 2ª Guerra Mundial, com o rápido desenvolvimento da tecnologia de transportes, comunicação e de informação, os direitos humanos se internacionalizaram com a criação de organismos políticos e sistemas normativos internacionais, a fim de gerar condições de progresso material para regenerar padrões morais de respeito à dignidade da pessoa humana, desgastados pela miséria econômica e social, extrema em muitas partes do mundo. Devido a fortes comoções humanitárias causadas pelas vítimas da guerra, várias nações sentiram a necessidade de tratar sobre as questões humanitárias em momento de paz ou em campanha. Exemplo em momento de paz: Escassez de alimentos, desestruturação social, mortalidade infantil, etc. Exemplo em momento de guerra: O direito de um soldado paraquedista ser alvejado somente após pisar no solo inimigo. Criou-se então a Organização das Nações Unidas (ONU) após a Carta das Nações Unidas assinada por ocasião da Conferência de Organização Internacional das Nações Unidas na cidade de São Francisco nos Estados Unidos em 26 de Junho de 1945, e ratificada pelo Brasil pelo Decreto 19.841/45. Logo após Foi estipulada a Declaração Universal dos Direitos Humanos pela (Resolução 217 A (III)/48), aprovada pela Assembléia Geral das ONU, em que já no seu preâmbulo, Considera o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, que as Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana. No item 2 do artigo XXI, já encontramos alusões ao Direito do Consumidor pelas seguintes informações: 2 – Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. Logo depois, veio a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto San José da Costa Rica), ratificada no Brasil pelo Decreto 678/92, também estabelece em seu art. 11, §1º, que: “Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade" e no art. 32, §1º, que "Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade". No plano Constitucional temos o artigo 1º, III, e artigo 5º, incisos III e XLIX, que fixam a dignidade da pessoa humana. D) DIREITOS DE 4ª GERAÇÃO DIREITOS DA MINORIA - Correspondem aos novos Direitos Sociais decorrentes da evolução da sociedade e da globalização. Envolvem questões relacionadas à informática, biociência, clonagem, eutanásia, estudo de células tronco. O direito à União Estável e até mesmo ao Contrato Nupcial (Casamento) dos Homoafetivos poderia se enquadrar nesta quarta geração? 1.5 CARACTERÍSTICAS DO CDC O Código Brasileiro de Proteção e Defesa do Consumidor, comumente conhecido como (CDC), é regulamentado pela Lei 8.078/90, e senão uma das melhores, a melhor Lei Consumerista do Mundo. Está dividido em 119 artigos que estão distribuídos em 6 títulos, encerrando uma norma Principiológica por meio de um Microssistema Interdisciplinar. Helio Zaghetto Gama, Divide didaticamente o CDC em três grandes grupamentos, a saber: A) DOS ARTIGOS 1º usque 7º - Onde se apresenta e define o consumidor e o fornecedor, o produto e o serviço. B) DOS ARTIGOS 8º usque 54 – Prevê a mecânica do que fazer para o cumprimento do Dever. C) DOS ARTIGOS 55 usque 107 – Mostra os mecanismos utilizáveis pela Sociedade e Pelo Poder Público, para fazer prevalecer o cumprimento do Dever. O CDC é conhecido como o Código dos Desiguais, enquanto o Código Civil por sua vez, Código dos Iguais. O CDC recebe este título justamente por tratar das relações de consumo, onde se presume que o consumidor é sempre a parte mais frágil da relação, daí se extrai o termo “vulnerável”. A vulnerabilidade do consumidor pode ser evocada de acordo com vários pontos de vista, como: técnico, jurídico e fático. 1.6 RELAÇÃO DE CONSUMO Para haver a chamada RELAÇÃO DE CONSUMO, a ponto de se aplicar o CDC, é necessário que se reúnam em torno de algum NEGÓCIO ou FATO os sujeitos: CONSUMIDOR e FORNECEDOR, tendo entre eles um dos objetos: PRODUTO ou SERVIÇO. 1.7 TEORIAS DA RELAÇÃO DE CONSUMO Existemtrês teorias a disputar a condição de consumidor e, por conseguinte a existência da relação de consumo. 1º TEORIA FINALISTA Também conhecida como (minimalista ou teleológica), conforme própria denominação busca uma conceituação mais fechada de consumidor para fins de aplicação do CDC, ou seja, à proteção da parte vulnerável da relação jurídica. Para os finalistas, o conceito de consumidor baseado na ideia de destinatário final, envolve não apenas destinatário fático, mas também destinatário econômico do bem ou serviço, isto é, aquele que o retira do mercado de consumo, para uso próprio, SEM fins lucrativos ou de reintrodução na cadeia produtiva. Assim, a teoria finalista adota, ao pé da letra, o conceito restritivo de consumidor previsto no artigo 2º do CDC, onde só poderá ser considerado como consumidor o destinatário final, àquele que retira o produto ou serviço do mercado de consumo sem o objetivo de reintegrá-lo novamente no mercado, não o aplicando na sua cadeia produtiva ou utilizando-o como insumo. Exemplo prático da aplicação da teoria finalista na jurisprudência diz respeito aos contratos de mútuo celebrados entre o empresário e a instituição financeira, destinados a fomentar a atividade empresarial. Embora exista a súmula 297 STJ que determina a aplicação do CDC também às instituições financeiras, no caso em tela, o CDC é afastado, justamente pela finalidade de aplicação do empréstimo à cadeia produtiva ou aquisição de insumo. Vejamos uma jurisprudência neste diapasão: EMENTA: EMBARGOS DE DEVEDOR – CONTRATO BANCÁRIO - PESSOA JURÍDICA - CAPITAL DE GIRO - RELAÇÃO DE CONSUMO NÃO CONFIGURADA - CDC INAPLICÁVEL - JUROSREMUNERATÓRIOS - AUSÊNCIA DE LIMITE PELA LEI DE USURA - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - LEGALIDADE – IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS - PROVIMENTO DA APELAÇÃO. Em que pese não mais haver divergência quanto à aplicação do CDC às instituições financeiras, nos termos da Súmula 297, do STJ, certo é que o suposto consumidor deve adequar-se ao conceito inserido em seu artigo 2º, vale dizer, deve ser destinatário final do produto ou serviço objeto da contratação, o que não ocorre no caso, no qual o dinheiro tomado pela empresa embargante, inclusive a título de capital de giro, presta-se ao fomento da atividade por ela desenvolvida, enquadrando-se como verdadeiro insumo. [...] (TJ/MG, Apelação Cível n.º 1.0569.05.001.904-5/001, 16ª Câmara Cível, Rel. Batista de Abreu, j. 19.12.2007). Portanto, para a teoria finalista, não podem ser considerados consumidores as pessoas jurídicas e os profissionais que, em uma relação comercial, tenham adquirido produto ou serviços caracterizado como insumo, isto é como fator de produção de lucro. A teoria finalista se baseia na ideia de que o sistema consumerista tem por objetivo a proteção do vulnerável, portanto não poderiam ser considerados consumidores vulneráveis (técnico, jurídico e fático), as pessoas jurídicas e os profissionais que adquirem produtos ou serviços com finalidade lucrativa. No início os finalistas só consideravam consumidores pessoas físicas, excluindo totalmente do âmbito de proteção das normas de defesa do consumidor as pessoas jurídicas. Por esse motivo, em várias legislações alienígenas, como na Alemanha e na França, o conceito de consumidor está atrelado à pessoa física, definido com um leigo ou um não profissional que contrata ou se relaciona com um profissional para fins familiares ou de suas necessidades de vida. Porém, no Brasil a interpretação é mais ampla, de modo que uma pessoa jurídica também pode figurar como consumidora, desde que adquira produtos não destinados para a sua atividade principal. Exemplo: Compra de materiais de higiene para uma empresa. Até mesmo quem adquira produtos ou serviços destinados para sua atividade principal (insumos), pode ser consumidor como consumidor, desde que se prove sua vulnerabilidade. Este caso veremos na teoria mista. Por fim, para se determinar que o consumidor possa ser uma pessoa física, pessoa jurídica, por equiparação, ou coletividade independente de serem determináveis ou não, deve haver a aquisição ou utilização de produtos ou serviços, para o seu próprio benefício ou de outrem, e também a vulnerabilidade. Está é a corrente majoritária em nosso país. 2º TEORIA MAXIMALISTA De forma bem resumida, esta corrente amplia o conceito de DESTINATÁRIO. Defende que as disposições do CDC são meramente objetivas, não importando a destinação econômica da aquisição, de modo que se acrescente também a figura do DESTINATÁRIO FÁTICO, além do DESTINATÁRIO FINAL expresso no artigo 2º do CDC. Basta que a pessoa retire o bem da cadeia de consumo para se tornar um destinatário fático e, portanto, um consumidor. Para esta teoria, o conceito estabelecido pelo artigo 2º do CDC deve receber a interpretação mais ampla possível, de modo que não importa se o produto ou serviço adquirido será utilizado para o desenvolvimento de uma atividade lucrativa. No entanto, esta teoria fragiliza a essência do Código de Defesa do Consumidor, que é proteger o mais vulnerável. Para esta corrente, a vulnerabilidade não é fator de relevância. Portanto, nota-se que esta linha de pensamento, por adotar amplo significado ao consumidor, acaba absorvendo um pouco o Código Civil e das Leis Esparsas. A principal crítica que se tem à concepção maximalista é que, ao se adotar uma concepção tão ampla de consumidor, passando de destinatário final para destinatário fático (aquele que adquire ou retira do mercado o produto ou serviço, não importando se para uso próprio ou com finalidade de lucro), acaba por fazer com que o CDC, concebido em sua origem como uma legislação especial destinada à proteção de determinados sujeitos numa relação jurídica específica, passe a ser uma regulação geral de todo e qualquer contrato de aquisição de bens ou serviços assim como o Código Civil, de forma que ficaria difícil saber quando uma relação seria consumerista ou empresarial. 3º TEORIA MISTA Também conhecida como (finalista aprofundada), esta por sua vez, mistura os elementos das duas primeiras teorias. Nesta corrente doutrinária o consumidor (destinatário final), seria aquela pessoa que adquire o produto ou o serviço para o uso privado, porém, admitindo-se esta utilização em atividade de produção, com a finalidade de desenvolver atividade comercial ou profissional, desde que seja provada a vulnerabilidade desta pessoa física ou jurídica que está adquirindo o produto ou contratando o serviço. Para esta nova teoria, o STJ tem utilizado o artigo 29 do CDC para comprovar a vulnerabilidade deste consumidor, mesmo que se utilize da aquisição de bens ou serviços com o fito de obter lucro. O conceito-chave é o da vulnerabilidade. Esta teoria se faz muito moderna e, até mesmo humana, pois dá tratamento diferenciado àqueles que adquirem um produto ou serviço para utilizá-lo como forma de produção, reconhecendo que estes adquirentes podem possuir a mesma vulnerabilidade em relação ao produto ou serviço que está sendo adquirido por qualquer outra pessoa que o utilizaria para satisfação de uma necessidade própria. Exemplo 1: O restaurante que compra um veículo para fazer entregas. Exemplo 2: O Taxista que compra o veículo para transportar pessoas. Observem que a palavra chave é a vulnerabilidade do consumidor. Tanto o restaurante como o taxista, ambos possuem habilidades distantes daprodução de um automóvel, portanto eles podem não ter o menor conhecimento técnico sobre veículos, da mesma forma que qualquer outro consumidor que o adquira para fins próprios ou de terceiros. Por isso esta teoria é tão bem aceita em nosso ordenamento jurídico, pois ela apresenta mais concordância com o princípio fundamental do Código de Defesa do Consumidor, que é a proteção dos mais fracos perante os mais fortes, daqueles que são, portanto, notadamente, vulneráveis. O Código do Consumidor brasileiro tem como elemento fático a proteção dos vulneráveis, em observância da boa-fé empregada na relação jurídica de consumo. Com base em tudo o que foi estudado até agora, como ficaria a situação de um taxista que compra um produto (carro), mas irá utilizá-lo para trabalhar com a finalidade de obter lucro? Seria o taxista um destinatário final a ser enquadrado no código dos desiguais (CDC), ou seria ele um oblato a ser regido pelo código dos iguais (CC)? Entre o taxista e a concessionária existiria uma relação consumerista ou empresarial? Neste caso seria aplicada a teoria Maximalista, Finalista ou Mista? Outra dúvida frequente se diz respeito aos serviços bancários. Estes serviços são enquadrados nas relações consumeristas? 1.7 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO A) CONSUMIDOR EXTRITO SENSU Do ponto de vista Psicológico, é o sujeito sobre o qual se estudam as reações a fim de se individualizar os critérios para a produção e as motivações internas que o levam ao consumo. Do ponto de vista Sociológico, é qualquer indivíduo que frui ou se utiliza de produtos e serviços, mas pertence a uma determinada categoria ou classe social. Foi baseado neste conceito que surgiram as classes de consumidores: A, B, C, etc. Do ponto de vista Filosófico, é aquele que cede sempre às sugestões veiculadas pela publicidade. Do ponto de vista Etimológico, Considera-se consumidor segundo os dicionários, como: - Houaiss: “adj.s.m. que ou o que consome. aquele que adquire mercadorias, riquezas e serviços para uso próprio ou de sua família; comprador, freguês, cliente.” - Aurélio: “Adj. 1. Que consome. S. m. 2. Aquele ou aquilo que consome. 3. Restr. Aquele que compra para gastar em uso próprio.” Do ponto de vista Doutrinário, Para Maria Helena Diniz o consumidor significa: “Pessoa física ou jurídica que adquire ou usa produto ou serviço como destinatário final. Coletividade de pessoas que intervêm numa relação de consumo. Aquele que consome. O que compra produtos para uso próprio, sem intenção de revendê-los para obter lucro.” Do ponto de vista Legal, esta definição está presente no Código de Proteção e Defesa do Consumidor (CDC - Lei 8.078/90). O CDC adotou o conceito econômico-jurídico, conceituando o consumidor nos artigos: 2º, 17 e 29. Conforme a norma legal expressa, o consumidor deve ser o destinatário FINAL do produto ou serviço. A.2) CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO OU (BYSTANDER = ESPECTADOR) Aqui veremos que o consumidor não é somente aquela pessoa física ou jurídica determinável, mas também as pessoas e a coletividade de pessoas indetermináveis ou as vítimas de eventos. 1º COLETIVIDADE DE PESSOAS DETERMINÁVEIS OU NÃO De acordo com o p. único do artigo 2º do CDC, a coletividade de pessoas, determináveis ou não, que haja intervindo nas relações de consumo, são equiparáveis aos consumidores. Acerta da coletividade nos ensina José Geraldo Brito Filomeno (2011) que: “Dessa forma, além dos aspectos já tratados em passos anteriores, o que se tem em mira no parágrafo único do art. 2° do Código do Consumidor é a universalidade, conjunto de consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou categoria deles, e desde que relacionados a determinado produto ou serviço. Tal perspectiva é extremamente relevante e realista, porquanto é natural que se previna, por exemplo, o consumo de produtos e serviços perigosos ou então nocivos, beneficiando-se assim, abstratamente, as referidas universalidades e categorias de potenciais consumidores. Ou, então, se já provado o dano efetivo pelo consumo de tais produtos ou serviços, o que se pretende é conferir à universalidade ou grupo de consumidores os devidos instrumentos jurídico-processuais para que possam obter a justa e mais completa possível reparação dos responsáveis, circunstâncias essas pormenorizadamente previstas a partir do art. 8° e seguintes do Código do Consumidor, e, sobretudo pelo art. 81 e seguintes.” Portanto, esse grupo de pessoas é defendido através das normas e princípios do CDC, de forma equiparada àqueles consumidores individuais e determináveis que participaram da relação jurídica de consumo, gozam de toda a garantias. O CDC defende que as pessoas, mesmo sem adquirir ou utilizar produto ou serviço como destinatário final, ou que estejam em grupos indetermináveis, podem estar em condição de vulnerabilidade às práticas comerciais cometidas pelos fabricantes ou fornecedores de produtos ou serviços. Exemplo 1: Produto destinado a um determinado público (homem ou mulher, classe profissional, etc.). Exemplo 2: Grupo de turistas que se intoxicam com um produto. Exemplo 3: Um remédio anticoncepcional que é destinado e exclusivo ao público feminino. Exemplo 4: Um aparelho de barbear que é destinado e exclusivo ao público masculino. 2º PESSOAS DETERMINÁVEIS OU NÃO. Este regramento se completa com o artigo 29 do CDC, que também iguala aos consumidores, todas as pessoas, determináveis ou não, expostas as práticas comerciais abusivas. O que difere esta modalidade da primeira, é que está modalidade está ligada diretamente a publicidade, tanto que tem como base o artigo 29 que por sua vez, está delimitado no Capítulo V que trata justamente das Práticas Comerciais. 3º VÍTIMAS DO EVENTO São todas as vítimas de um acidente de consumo, que por equiparação se tornam consumidoras e adquirem o direito à responsabilização pelo fato do produto ou do serviço, de acordo com o 17 do CDC. Mesmo não tendo nenhuma participação direta à relação de consumo, esse consumidor “espectador” pode tornar-se vítima de um evento danoso causado por um acidente de consumo e sofrer consequências da mesma forma como o consumidor que adquiriu o produto ou o serviço. Sendo assim, basta que a pessoa física ou jurídica tenha sua segurança ou saúde atingida por um evento decorrente de um produto ou serviço, mesmo que não tenha adquirido ou utilizado este produto ou serviço, podendo até, esta pessoa, ser estranha à relação de consumo, para que seja igualada a condição de consumidor e tenha toda a proteção das normas e princípios presentes no CDC. Exemplo: O triste acidente que aconteceu com um avião “foker 100” da TAM em São Paulo há alguns anos, onde o aparelho, segundo perícias, apresentou falhas mecânicas em uma das turbinas, vindo a cair e colidir com diversas casas. Várias pessoas morreram e outras ficaram feridas... Neste fatídico caso, todas as pessoas atingidas pelos destroços do avião figuram como vítimas de acidente de consumo, sendo, portanto, consumidores, podendo reclamar os seus direitos junto ao fornecedor. Nos dois primeiros casos permite-se o ajuizamento de ações coletivas em prol da comunidade, e no último caso facilita-se a reparação civil dos danos pelo acidente de consumo, de acordo com os artigos 12 usque 17 do CDC. B) FORNECEDOR Do pondo de vista Doutrinário, segundo Maria Helena Diniz, fornecedor:“É a pessoa natural ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, ou ente despersonalizado, que desenvolve atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.” Do ponto de vista Etimológico, Considera-se fornecedor segundo os dicionários, como: - Houaiss: “adj.s.m. 1 que ou o que fornece (algo) 2 que ou aquele que abastece com regularidade (alguém) com algum produto, matéria-prima, água, gás, eletricidade etc. 3 que ou o que produz, que é fonte de; produtor.” - Aurélio: “adj. 1. Que fornece. S. m. 2. Aquele que fornece ou se obriga a fornecer mercadorias.” Do ponto de vista Legal, o artigo 3º do CDC, traz as definições acerca do fornecedor. O melhor conceito é o Legal. Jamais devemos nos esquecer que fornecedor é GÊNERO, do qual são ESPÉCIES: Comerciantes, fabricantes, produtor, importador, etc. Isto é importante para a responsabilização civil. Condomínio possui CNPJ e presta serviços a todos os moradores do prédio, logo ele poderia ser enquadrado como pessoa jurídica fornecedora? A Doutrina e a Jurisprudência entendem que os condomínios, muito embora possam ser fornecedores de produtos ou serviços, NÃO SERÃO considerados fornecedores em suas relações com os condôminos, por se tratar de uma obrigação propter rem, (obrigação a alguma coisa), regulada norma própria (Lei 4.591/64, que foi atualizada pela Lei 10.406/02). Embora o condomínio tenha CNPJ, o condomínio não figura como pessoa jurídica, vez que não consta no rol dos artigos 40 usque 44 do Código Civil que trata sobre as pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. Para que se considere alguma pessoa Física ou Jurídica como FORNECEDOR de produtos ou serviços, necessário se faz que essas pessoas exerçam atividade com HABITUALIDADE ou PROFISSIONALISMO. Se por exemplo, uma loja de instrumentos musicais que possua um veículo para fazer suas entregas, decidir vender este veículo para uma pessoa particular, este estabelecimento não pode ser considerado como fornecedor nessa relação, pois a loja não tem habitualidade de negociar a compra e venda de veículos automotores, mas sim negociar instrumentos musicais. Novamente temos a questão da “vulnerabilidade”, já que, neste caso, a loja está no mesmo nível do comprador, logo não mais se fala em fato ou vício do produto, mas em outros institutos regulados pelo código civil, como por exemplo um vício redibitório.
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