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ou microssatélites no interior ou próximo de um gene supressor de tumor (Fig. 8.36) correlaciona-se muito bem com a deleção desse gene. Como se trata de um procedimento razoavelmente simples, a pesquisa de perda de heterozigosidade tem sido em- pregada em diversas neoplasias humanas, trazendo informações interessantes. O Quadro 8.5 lista os principais genes supresso- res de tumor, sua localização e seu efeito na célula normal. GeneRb O primeiro e mais conhecido exemplo de gene supressor de tumor é o gene do retinoblastoma (gene Rb). O retinoblastoma é uma neoplasia rara que ocorre na infância e se apresenta de duas formas: 1) hereditária (40% dos casos), com transmissão autossô- mica dominante e freqüentemente bilateral e multifocal; 2) espo- rádica (60% dos casos), em que a lesão é unifocal e unilateral. Nas duas formas do tumor, a lesão decorre de mecanismo comum, que é a inativação, por duas mutações, de ambas as có- pias do gene Rb numa mesma célula precursora. A diferença é que, na forma hereditária, uma cópia defeituosa do gene é her- dada de um dos pais e, portanto, está presente em todas as célu- las do organismo, inclusive nas germinativas. A segunda muta- ção ocorre apenas em algumas células, as quais originam tumo- res multifocais. Crianças que herdam dos pais o gene Rb defeituo- Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 211 so têm risco de desenvolver o retinoblastoma apenas durante a infância, pois, a partir dos cinco anos de idade, todos os retinoblastos sofrem diferenciação terminal para retinócitos e não mais se dividem. Na forma esporádica, ocorrem duas mutações nos dois alelos de uma mesma célula suscetível, a qual origina um tumor unifocal e unilateral. O gene Rb já foi identificado e clonado. Seu produto, a pRb, é uma fosfoproteína nuclear que atua como repressora da divisão celular. A pRb é encontrada nas formas hipo e hiperfosforilada. Na forma hipofosforilada, a pRb é ativa e se liga aos fatores de trans- crição da família E2F, impedindo a ação destes na divisão celu- lar (Fig. 8.37A). Por isso mesmo, em células que não estão se dividindo (quiescentes), a pRb é encontrada na forma hipofos- forilada. Quando a célula recebe estímulo mitogênico, as cdk (cinases dependentes de ciclina) fosforilam a pRb, tomando-a inativa. Nessa situação, as moléculas E2F se soltam da pRb e ficam livres para se ligar ao DNA e estimular a divisão celular (as E2F estimulam a transcrição de genes essenciais para a fase S, incluindo cinases, DNA polimerase a, myc e a própria ciclina D) (Fig. 8.37B). Após a mitose, fosfatases celulares removem os radicais fosfato da proteína e a pRb retoma ao seu estado hipofosforilado e ativo. A pRb atua na progressão do ciclo celu- lar no período G/S, constituindo de fato um freio da divisão celular. Quadro 8.5 Principais genes supressores de tumor, indicados pela sigla com que são conhecidos, seguidos da localização no genoma humano e produtos codificados Nome Localização Produto Rb p53 INK4 (p16) p19 APC WT-l NF-l NF-2 MENl PTCH PTEN DPC4 E-CAD LKBlISTKl SNF5/1NIl EXTl EXT2 TSCl TSC2 MSH MLHs PMSs BRCA-l BRCA-2 TGF~RII bax FHIT aCAT DCC SMAD2 CDX2 MKK4 PP2RIB MCC 13q14.1-2 17p13.1 9p21 9pl3 5q21 7p15p-11.2 17ql1.2 22q12.2 llq13 9q22.3 10q23.31 18q21 16q22.1 19p13 22qll 8q24.11-13 llp12 9q34 16p13.3 3p21 3p21.3 2q31-33 17q21 13q12.3 3p22 19q13.3-4 3p14.2 5q31 18q21.3 18q21 13qI2.3 17pl1.2 16pl2 5q21 Proteína que se liga ao fator de transcrição E2F, inibindo-o Proteína que ativa a transcrição de genes que inibem ciclinalcdk. Induz apoptose Proteína inibidora de cdk Proteína reguladora da proteína mdm2, induzindo degradação da p53 Proteína ligada ao citoesqueleto e que se associa à ~-catenina no citosol, favorecendo sua degradação Fator de transcrição Proteína ativadora da atividade de GTPase na proteína ras Proteína que liga o citoesqueleto à matriz extracelular, participando dos processos de inibição do movimento e de proliferação Proteína repressora de genes precoces de proliferação celular Proteína transmembranosa receptora do fator sonic hedgehog e inibidora do receptor moothned Proteína com atividade de tirosina fosfatase (fosfoinositol-3-fosfatase) Fator de transcrição ativado via TGF~ Caderina E Proteína treonina-serina cinase Proteína que faz parte do complexo de remodelação da cromatina ATP-dependente Glicosiltransferases que atuam no alongamento do sulfato de heparan Proteínas ativadoras de GTPase que agem sobre Rap e rab, proteínas G que interferem no tráfego de vesículas no citoplasma MSH, MLH e PMS codificam proteínas que fazem parte do complexo reparador de erros do pareamento do DNA (MMR, de MisMatching Repair) Proteínas que fazem parte do processo de reparo do DNA induzidas por radiação. Agem regulando proteínas da família Rad Proteína de membrana receptora do TGF~ Proteína inibidora de bcl-2 e indutora de apoptose Dinucleosídeo polifosfato-hidrolase e-catenina, proteína que liga a caderina, no complexo de adesão, ao citoesqueleto Proteína componente do receptor netrinl, que regula a migração celular e a apoptose Fator de transcrição ativado por rotas ativadas pelo TGF~ Fator de transcrição do grupo homebox Proteína cinase ativável pelo estresse (SAPK, de Stress Activated Protein Kinase) Subunidade de uma proteína fosfatase 2A Proteína que inibe a transformação maligna in vitro, mas cuja função ainda não se conhece 212 Patologia Geral A importância da pRb no surgimento de tumores pode ser facilmente compreendida, pois, toda vez que a proteína deixa de atuar, ocorre multiplicação celular descontrolada. A pRb perde sua função por: 1) mutações no gene, herdadas ou adquiridas. Tais mutações alteram o sítio de ligação da pRb com a molécula E2F (a pRb deixa de "seqüestrar" a E2F) e, com isso, esta fica disponível para se ligar ao DNA e induzir a divisão celular; 2) ligação a proteínas de vírus oncogênicos, que também ocupam o sítio de ligação dos fatores de transcrição. De fato, a proteína E7 do HPV, a proteína ElA do adenovírus e o antígeno T do vírus SV-40 se ligam à pRb e bloqueiam sua ligação com a E2F (Fig. 8.37C). Vários são os elementos que sugerem o papel antioncogênico do gene Rb: 1) a pRb está ausente ou modificada no retinoblas- toma, mas é encontrada em tecidos normais; 2) transfecção do gene Rb normal em células cancerosas reverte o fenótipo malig- no; 3) pacientes com retinoblastoma tratado apresentam maior risco de desenvolver outras neoplasias; 4) indivíduos com defeito congênito do gene Rb mas que não desenvolvem retinoblasto- ma têm maior incidência de outros tumores, principalmente osteossarcoma; 5) perda dos dois alelos do gene Rb é encontra- da freqüentemente em outros cânceres, como osteossarcoma, sarcomas de tecidos moles e carcinomas da mama, pulmão, be- xiga e próstata. Gene p53 Defeitos no gene p53 são seguramente a forma mais comum de alteração genética em neoplasias humanas. Além de se asso- ciarem ao surgimento de várias neoplasias, alterações da p53 parecem atuar também na progressão tumoral, pois são mais comuns em cânceres avançados e/ou já com metástases do que naqueles em estágio inicial. Como regra geral, o fenótipo neo- plásico manifesta-se somente quando há perda dos dois alelos do gene, que pode se dar de forma herdada ou adquirida. No entanto, a p53 tem uma particularidade interessante. Algumas formas da proteína anormal são capazes de se ligar e inativar a p53 normal. Desse modo, em certos casos o fenótipo maligno se o Ctcnno-cak manifesta quando há mutação de apenas um alelo do gene, já que não existe p53 normal disponível. Essa condição caracteriza o que se conhece como mutação "dominante-negativa". Na rara síndrome -de Li-Fraumeni, os indivíduos afetados herdam dos pais a mutação e todas as suas células possuem um alelo do gene defeituoso, o que resulta em riscomuito aumentado de desen- volver vários tipos de tumores, principalmente da mama. A p53 é uma fosfoproteína de 393 aminoácidos envolvida nos processos de crescimento celular, reparo e síntese de DNA, di- ferenciação celular e apoptose. Na sua forma nativa, a p53 tem vida média curta, da ordem de 20-30 minutos; como existe nor- malmente em pequena quantidade nas células, a p53 não é evi- denciada pela imuno-histoquímica. Sua função mais conhecida e documentada relaciona-se com a manutenção da fidelidade da replicação do DNA nas células. A p53 é constitutivamente ex- pressa nas células; após sua síntese, desloca-se para o núcleo, onde é inibida pela ligação com a proteína mdm; esta facilita o retomo da p53 ao citoplasma, sua ubiqüitinação e posterior de- gradação nos proteassomos. A p16 (ARF) inibe a mdm, permi- tindo a atuação da p53. O gene p53localiza-se no cromossomo 17 e possui 11 exons. Na grande maioria dos tumores humanos, as mutações ocorrem nos exons 5 a 10. As mutações são de dois tipos principais: 1) mudança de sentido (missense), em que há troca de um aminoá- cido por outro, resultando em modificação na cadeia polipeptí- dica. É o tipo mais freqüente (80% das mutações encontradas) e resulta em uma proteína anormal e mais estável, com vida mé- dia de horas; com isso, a p53 se acumula nas células e pode ser detectada pela imuno-histoquímica; 2) deleções do gene ou sín- tese truncada da proteína (20% das mutações), em que não há aumento da vida média nem acúmulo da proteína; a identifica- ção desses defeitos só pode ser feita por técnicas de biologia molecular. Quando as células são agredi das por agentes mutagênicos (substâncias químicas, radiações etc.), proteínas especiais (famí- lia rad, ku) "captam" o sinal e estimulam a forforilação da p53: p53 fosforilada desliga-se da mdm, toma-se mais estável, per- manece no núcleo e estimula genes para proteínas inibidoras do p Mitose Mitose Fig. 8.37 A. Em células quiescentes, a pRb encontra-se hipofosforilada e se liga ao fator de transcrição E2F, impedindo a ligação deste ao DNA. B. Quando a célula recebe estímulo para se dividir, o complexo ciclinalcdk fosforila a pRb; esta libera o E2F, o qual se liga ao DNA e induz a divisão celular; C. pRb mutada ou ligada a oncoproteínas virais (p. ex., proteína E7 do HPV, proteína ElA do adenovírus) não se liga ao E2F. permitindo que este fique livre e estimule a multiplicação celular. pRb* = proteína Rb mutada. ciclo celular, como a p21, p27 e 57, que inibem o complexo ciclina/cdk. Outras proteínas também podem fosforilar e estabi- lizar a p53, como a JNKlSAPK. Inibição da ativação das cdk impede a fosforilação da pRb, que continua ativa e não permite a liberação dos fatores de transcrição, bloqueando as células em Gj (esse fato ilustra muito bem a interação e cooperação entre pRb e p53). Essa "parada" do crescimento dá tempo para que os sistemas de reparo do DNA corrijam o defeito provocado, im- pedindo sua propagação nas gerações celulares seguintes. Caso tais defeitos no DNA não possam ser corrigidos, a p53 age no sentido de induzir a célula a entrar em apoptose, por estimula- ção do gene bax, de novo prevenindo que a mutação seja trans- mitida às novas células (Fig. 8.38). Quando a p53 deixa de cum- prir seu papel, portanto, as mutações são transmitidas às células descendentes; mutações adicionais vão se acumulando no geno- ma e, em determinado momento, tomam-se suficientes para de- sencadear a transformação celular. Por cumprir tão importantes funções celulares, a p53 é conhecida, com bastante razão, como "guardiã do genoma". Tal como descrito parao gene Rb, transfecção do gene p53 nativo reverte o fenótipo maligno de células derivadas de vários cânceres (cólon, bexiga, cérebro, ossos). A exemplo do que ocorre com a pRb, a perda da p53 pode-se dar através de: 1) deleção gênica; 2) mutações no gene, congê- nitas ou adquiridas; 3) ligação com oncoproteínas de vírus oncogênicos, como o antígeno T do SV-40, a proteína EIB do adenovírus e a proteína E6 do HPV. A ligação da proteína EIB ou do antígeno T à p53 toma esta última inativa; a ligação da proteína E6 do HPV à p53 estimula a degradação desta através do sistema ubiqüitina. Além de sua importância na gênese das neoplasias, a re- gulação da apoptose pela p53 tem implicações terapêuticas e prognósticas. Como a rádio e a quimioterapia lesam o DNA e induzem apoptose, tumores cujas células têm mutações da p53 sofrem menos apoptose e respondem menos a esses tra- tamentos. Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 213 Outros Genes Supressores de Tumor O gene APC (de Adenomatous Polyposis CoZi) associa-se sobretudo ao desenvolvimento de tumores colônicos, tanto os de caráter hereditário como os esporádicos. Na polipose familial do cólon, o indivíduo nasce sem um alelo do gene APC e, a partir da segunda década de vida, desenvolve múltiplos pólipos no in- testino grosso. Algum tempo depois, ocorre mutação no outro alelo e os pólipos evoluem para um câncer (adenocarcinoma). Ao lado disso, a maioria dos tumores colônicos não-familiares (adenomas e adenocarcinomas) também mostra mutações do gene APC. Mais ainda, mutações desse gene são encontradas também em outras neoplasias (p. ex., do estômago), indicando ser o APC um gene de fato importante no controle do crescimento e diferenciação celular. Normalmente, o produto do gene APC se liga e inibe a l3-catenina. Quando mutado, o APC deixa livre a l3-catenina, que é um fator de transcrição que ativa a divisão celular e a perda da diferenciação. Em mais de 70% dos carcinomas colorretais, existe deleção de uma região específica do cromossomo 18, onde se localiza o gene conhecido como DCC (de Deleted in Colon Carcinoma), cujo produto é uma proteína de membrana da família das molé- culas de adesão celular. Esse defeito poderia explicar a perda do fenômeno de inibição por contato, que é uma das propriedades mais conhecidas das células transformadas. Perda de heterozi- gosidade para o DCC já foi encontrada em numerosas outras neoplasias, incluindo osteossarcoma e carcinomas da mama, ovário, estômago e pâncreas. Em muitos casos de tumor de Wilms, há inativação do gene WT.l, localizado no cromossomo llp13. A introdução do cro- mossomo 11 normal em linhagem celular derivada dessa neo- plasia suprime sua tumorigenicidade. Os pacientes com neurofibromatose tipo 1 possuem mutação herdada de um alei o do gene NF-l e desenvolvem múltiplos neurofibromas (tumores benignos). Se ocorre mutação na outra cópia do gene, há transformação maligna para neurofibrossar- coma. O gene NF-l codifica a proteína GAP, que ativa a função ~ Inibe cdk • FosforilaçãoI dOPRb\ t 21 Seqüestro ~d~~~ 13 81~~~Tit~~ ~~~/ DNAc~~ /VJe..::' Mutação '\ ~ químicos Genes de reparo DNA Apoptose Fig",8.3~ Quando o DNA sofre mutaç~o, a p53 se acumula na célula e estimula a síntese da p21, que inibe a ação da cdk sobre a pRb, mantendo es? inatrva; como os fatores de transcnção ficam "seqüestrados" pela pRb, ocorre uma parada na divisão celular. Durante esse tempo, entram em açao os genes de reparo do DNA; se o reparo é eficaz, a célula prossegue em sua atividade normal. Caso o defeito não seja corrigido, a célula é estimulada a entrar em apoptose. 214 Patologia Geral GTPase da proteína ras e assim promove a hidrólise do GTP. Com mutação ou perda do gene NF-I, a proteína ras pode ficar ativada por mais tempo e induzir o crescimento celular descon- trolado (ver Fig. 8.32). GENES DE REPARO DO DNA Essa classe de genes ganhou maior destaque nos últimos anos após observação de que certos tumores familiares (em especial uma forma familial de tumor do cólon denominada câncer colônico hereditário não-associado a polipose [hereditary non- polyposis colon cancer- HNPCC] e o câncer da mama farnilial) apresentam instabilidade genética em regiões repetitivas do DNA chamadas microssatélites. A instabilidade se deve a falhas no sistema que mantém a fidelidade genômica durante a replicação celular e se manifesta nas células cancerosas pela presença de alelos com pequenas variações de tamanho. Entre os genes que atuam no reparo do DNA existem: • família MMR (de Mismatch Repair Genes), genes responsá- veis pelo reparo do pareamento errado do DNA, evento fre- qüente durante a replicação deste. Na espécie humana, exis- tem pelo menos quatro genes envolvidos no reparo do pareamento defeituoso do DNA: hMSH2, hMSH6, hMLHI, hPMS2, todos com mutações no HNPCC. A instabilidade genômica causada por defeitos em um deles facilita o acúmulo de mutações no DNA e favorece o aparecimento de neoplasi- as. Mutações dos genes hMSH2 e hMLHI em células germi- nativas são responsáveis pela grande maioria dos casos de HNPCC, que se manifesta como tumores no ceco e cólon ascendente. Esses indivíduos têm ainda maior risco de desen- volver câncer do endométrio, do ovário e de outras sedes. • família UVDR (de UV Damage Repair) ou ERC (de Excisi- on-Repair Complement defective in Hamsters). Trata-se de genes que atuam no reparo do DNA após lesão pela radiação ultravioleta. Indivíduos com mutação nesses genes têm mai- or risco de desenvolver vários tumores. Um bom exemplo é o xeroderma pigmentoso, doença hereditária na qual os paci- entes são incapazes de reparar dímeros de pirimidina forma- dos sobretudo pela ação de raios ultravioleta e desenvolvem múltiplos cânceres da pele, mesmo quando ainda jovens. • genes que agem no reparo do DNA lesado por radiação io- nizante. Incluem grande número de genes que codificam proteínas que: a) reconhecem a lesão (proteínas cinases ativadas por lesão do DNA causada por irradiação, como a CHEK2, homóloga da proteína cinase do Sacharomyces pombe Check point Kinase); b) se associam para formar o complexo reparador (proteínas da família RAD, entre as quais muitas atuam no processo de recombinação de cromátides durante a meiose); c) regulam proteínas repa- radoras. Neste último grupo estão os genes BRCA-l e 2, mutados no carcinoma mamário, de onde vem a sigla: Breast Cancer). BRCA-l e BRCA-2, localizados nos cro- mossomos 17q12-21 e 13q12-13, são genes supressores de tumor associados a vários cânceres, sobretudo o carcino- ma da mama. Mutações desses genes são encontradas em 80% dos carcinomas mamários hereditários, mas são pou- co freqüentes nos cânceres da mama esporádicos. Os pro- dutos desses genes interagem com a proteína BARDl e se associam a genes da família RAD; quando mutados, não ocorre ativação da proteínas RAD, impedindo seu efeito reparador do DNA. Os produtos dos BRCA, especialmen- te do BRCA-2, também inibem a expressão do gene p53. Em outras três doenças hereditárias com instabilidade cromos- sômica, também existem defeitos no reparo de erros de replica- ção do DNA e aumento da incidência do câncer. Na ataxia-te- langiectasia, há predisposição a leucemias; na anemia de Fan- coni e na síndrome de Bloom, os pacientes têm maior risco de desenvolver vários tipos de câncer. Além dessas doenças, leu- cócitos de indivíduos com história farnilial de câncer ou fibro- blastos de pacientes com carcinoma pulmonar têm menor capa- cidade de reparar danos no DNA, indicando que o poder de re- paro é de fato importante na gênese de muitos tumores. Como visto anteriormente, o câncer decorre de alterações permanentes na molécula do DNA. Além das mutações causa- das por agentes externos (radiações, substâncias químicas etc.). alterações na molécula do DNA podem surgir durante o proces- so normal de sua duplicação. Considerando a enorme extensão do DNA humano (3 bilhões de nucleotídeos), não é surpresa que possam ocorrer falhas na replicação (copiagem dessa molécu- la). Após modificação na seqüência própria do DNA, produtos de numerosos genes (estimados em cerca de 50) entram em ação para reparar os defeitos produzidos. Quando a "lesão" no DNA é reparada, a célula continua com seu genótipo e fenótipo nor- mais. Se o sistema de reparo falha, a mutação ocorrida se propa- ga nas gerações seguintes e pode ser suficiente para induzir trans- formação neoplásica. Quando os genes de reparo estão defeitu- osos por qualquer motivo, tem-se o chamado fenótipo mutador. Nesse caso, mutações em genes cruciais para crescimento e di- ferenciação (oncogenes, genes supressores etc.) não são repara- dos e se tomam causa do aparecimento de uma neoplasia. Os genes que controlam os sistemas de reparo do DNA, portanto, assumem papel muito importante na carcinogênese, GENES PARA APOPfOSE Um indivíduo adulto possui cerca de 1015 células. Estima-se que a reposição diária de células mortas naturalmente envolva um número também muito alto (da ordem de 1012), sobretudo entre as lábeis. Para que o número de células dos vários órgãos fique dentro dos limites fisiológicos, existe um balanceamento preciso entre a geração de novas células e as perdas que normal- mente ocorrem. Nesse processo, a apoptose é essencial para re- gular a população celular normal em um indivíduo. Como visto no Capo 4, existem numerosos genes que regu- lam a apoptose, cujos produtos a inibem ou a favorecem (ver Quadro 4.4). Já na fase de imortalização das células cancerosas, ocorre inibição da apoptose, por ativação de genes antiapoptóti- cos ou por inativação dos pró-apoptóticos. Alguns tumores têm na alteração dos genes antiapoptóticos seu mecanismo básico de imortalização, como certos linfomas. Cerca de 85% dos linfomas foliculares de células B possuem uma translocação (l4;18)(q32:q21); genes para cadeias pesadas de imunoglobulinas estão localizados em 14q32; sua justaposição com o bel- 2 (em 18q21) resulta em aumento da expressão desse gene e diminuição da apoptose em linfócitos B, o que parece estar relacionado com a gênese dessas neoplasias. GENES QUE REGULAM A DESACETILAÇÃO E A METILAÇÃO DO DNA. MECANISMOS EPIGENÉTICOS NA CARCINOGÊNESE Mecanismos epigenéticos são aqueles em que as alterações gênicas independem de modificações na seqüência do DNA (mutações). O mecanismo epigenético mais conhecido é o silenciamento gênico por hipermetilação de seqüências CpG em promotores. A metilação se faz pela transferência de radicais metil por ação de uma DNA metíltransferase, que por sua vez atua sob controle de enzimas que comandam a acetílação e a desacetilação da cromatina. Os complexos protéicos de acetila- ção e desacetilação estão associados ao nucleossomo e contro- lam a associação das bistonas ao DNA. MECANISMOS MOLECULARES DA CARCINOGÊNESE OSmecanismos básicos da carcinogênese descritos anterior- mente se aplicam a qualquer tumor. As variações estão relacio- nadas à maneira pela qual as alterações genéticas se instalam, o tempo entre a ação do agente e o aparecimento do tumor e quais vias intracelulares são utilizadas. Múltiplas são as interações de proteínas intracelulares para formar rotas de ativação ou de ini- bição dos processos biológicos, em uma complexa rede de inte- ração molecular que, alterada, conduz à transformação maligna. Com base nas alterações genômicas descritas anteriormente, o câncer pode se originar por duas vias principais: 1) via clássi- (:a,a mais comum, associada a mutações múltiplas e aditivas em Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 215 oncogenes, genes supressores de tumor etc., em geral envolven- do deleções cromossômicas em regiões cruciais; 2) fenótipo mutador, relacionado com defeitos no sistema de reparo do DNA (instabilidade genética) que favorecem o acúmulo de mutações em sítios críticos que resultam na transformação neoplásica. Dados disponíveis de algumas neoplasias indicam que os tumo- res associados ao fenótipo mutador têm menor atividade proli- ferativa e, portanto, melhor prognóstico do que os originados pela via clássica. A geração dos vários produtos protéicos responsáveis pelos transtornos que resultamem uma neoplasia pode ser entendida dentro do modelo de "redes neurais", no qual alguns elementos de "entrada" no sistema se combinam de formas múltiplas, em rede, para produzir alguns elementos de "saída". Essa idéia pode ser entendida de maneira muito simplificada, conforme esque- matizado na Fig. 8.39. Alguns agentes (p. ex., fatores de cresci- mento, hormônios etc.) interagem com seus receptores celula- res, a partir dos quais são ativados alguns mediadores intracelu- lares, geralmente enzimas, cuja ação resulta em efeitos impor- tantes nas células (multiplicação, diferenciação, morte celular, Receptores \~~~~ t ~ís f Proteínas cinases Protelnas cinases ~ cinases ~ Fatores J transc~O;óo Transdutores de sinais Efeitos Fig. 8.39 Modelo de rede para explicar a interação combinatória (não necessariamente seqüencial) de múltiplos genes e fatores externos na for- mação de uma neoplasia. Agentes externos estimulam seus receptores celulares, os quais atuam sobre mediadores intracelulares que produzem efeitos variados (crescimento, morte celular etc.). Notar que a ação de um componente do sistema atua em mais de um elemento da rede, podendo ter efeito estimulador ou inibidor sobre ele. A ação aditiva de múltiplos oncogenes, genes supressores de tumor etc. pode se manifestar como descrito nesse modelo. PA = proteína de adaptação; PG = proteína G ligada ao GTP. -l;JJopSUUP10ldUJmpOJ8v8;JU;J~o'(rt'8'~H)(~1.L1)su~uoI 5!UU~Ull;JlS;JQ5pgd;JlsepnureqosarejnonredSU~Jusnb;Jsepapnnon -X;JUpUJW;J0pU;Jl'nu»;J[od'8v8sOpUU~WOU;Jp'S;JU;J~SSlllOd BPU1U;JS;Jld;Jl~stujaoriarSOpUWOU;J~OpUJ~syqurrunnsoV 'uuuwnq;JS -;~lUS~OJUOnpS~S;JlUuqpW;JSogsSUJp~U;J~OlUdSU~ASUpsennm srod'S!UW!UUSOpUJ!l91!A;JS;JUS~OU!JlUJnuussud;JSonbol;JJ;Jqu -OJ;J1UUSS;Jl;J1U! ounur~'W!SSV'suInI~JsnuSOlPP;Jsompord 5n;JSrepruso'S;JI;JPrnredU';JsrujxoriorSOpS;JU;J~OJUOlUIOS~ dl;JJ;JquOJ;JlHJYJ;J1U;JWI;JAUOZUl ~IUUO!JU1;JdOU1S!Acpoiuod Op'OSS!P0PUI0V'l;JJUllJopO~SS;Jl~Old;JOlU;JW!J;JlUdUouSOp -!AIOAU;JSOWS~UUJ;JWSOpUJ1;JJUSOlU;JW!J;JquOJSOpo~SUUdX;J B~.Il}U!P10UllX;JnnruuadS~UW~UUS;JSS;JUsrujxoricrSOpS;JQ5Ul;Jl -U!SUpOpmS;Jo'Up!A~PronbpmbW;JS'SUPU!1UASU!SUIdO;JUuroz -nputsrenbseu'(SOl;JJJWUW;JS;JAU'S;JXpd'S!;Jld~l)S!UW!UUS;J!J -~dS;JSU~AW;JogómqtnsrpuIdumWsl'OSS!PW~IV'S;JU;J~OJUO SOpOpmS;J;J0~5UJ!JnU;JP!uu;JIU1U;JWp;JdX;J;JS;JUS~OJUO opSOpnlS;Jsou;JSSgj;J1U~Ol!nWepO~Sseur'uuuwnq;JS;JUS~OU -!J1UJuuUUOlOUUIJUUllOdWIroiW;JJ;J1UdOUUsnrtxonarSO :C17S'8'~~tÓ'S;J1U;J;od~!Ul~A~;J1010WOld;Jp;W~X9;durararâann dSonbS;JU;J~OJU0010ldO~SnoSnlJASO[;JdOg5U10dJOJU~uns;Jl -uumpS;JQ5Ulnwuml;J1JOSonbS;JU;J~OJUOOlOldO~S:JUO-ASO'S;Jl -U;JS;Jldopuun()'O~Usermo';)UO-Auronssodsrujxonorsun~IV 'S!UW!UUS;J!J~dS;J;Jp;JpUp;JpUAUIdwuetnnu 50pU11UOJU;JWUlOJ'oprmS!UW'SOU!PJ;JS;JlOp;JOl'S;JAU;JpS;Jl 'l!{n{51:Jl!pSOpl!UIUI -rpogsonb'SUOr-gASOAOUmnroj'septznpan~{~PseujoiordUIO:J~lU~UI -munf'srujxordoponrosunnVN1IO'0Jr~p~dsoqopl!UIOU~í3oat!lí3~lur ospmbo'(srujxord)l!lUl!{dnp~pVNGuuuoj~l!:JHd~l~Sstodoponb YNGUI~0prll~AUO:J9VN1Inos'l!Sl~A~lasmuostranUUIncp0r~UIrod-o sOpUZ!IUUl~lUrogsSUOPJASO-srujxo.narsopO:JIWUIOSoprJOt'8':J!~ <""\"",. 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Provírus completo, conten- doos genesgag, pol e env. B.Provírusdeficiente,contendoumoncogene -v-onci no lugar dopol e deleções parciais (~) nos genes das proteínas internasdo vírion (gag) e capsídeo (env). C. Estrutura do vírus do sarco- ma de Rous. Além dos genes próprios dos retrovírus, ele possui um oncogene, Nos três casos, o retrovírus contém ainda seqüências regulatóriase de inserção, chamadasrepetições terminais longas (LTR). ne do vírion; o pol, a transcritase reversa e o env, glicoproteínas do capsídeo viral. A região LTR é uma seqüência regulatória de alta importância e eficiência na expressão gênica e contém pelo menos três componentes: 1) promotores (regiões do DNA que contêm sítios de ligação para a RNA polimerase e para várias proteínas de regulação da taxa de transcrição do gene adjacen- te); 2) aumentadores (seqüências regulatórias do DNA que au- mentam a transcrição de um gene. Essas seqüências exercem suas funções tanto quando estão perto como longe do gene de influ- ência); 3) sítios de poliadenilação, que marcam o final da cadeia polipeptídica. A capacidade dos vírus de RNA em transformar células está relacionada a: a) o vírus carrega um v-onc; b) ao inserir o cDNA no DNA da célula hospedeira, o retrovírus ativa protooncogenes até então pouco estimulados ou mesmo reprimidos, por meio da inserção de seqüências promotoras ou aumentadoras; c) o vírus induz transativação de oncogenes por inserção de seqüências que codificam proteínas capazes de ativar oncogenes distantes do sítio de integraçãodo genoma viral; d) o vírus de RNA defectivo se associa a um vírus auxiliar para induzir a carcinogênese, com dois componentes: um vírus induz uma alteração (imortalização) e o outro induz as alterações que completam a malignização. Os retrovírus oncogênicos são divididos em duas grandes categorias: 1) vírus de ação rápida; 2) vírus de ação lenta. Vírus de RNAOncogênicos de Ação Rápida São assim chamados por serem capazes de induzir in vivo doença fatal em 2-3 semanas e de poderem transformar células in vitro. Todos eles possuem oncogenes. Um exemplo é o vírus do sarcoma de Rous, o qual, ao infec- tar células, multiplica-se e insere seu oncogene (várias cópias) no DNA celular, induzindo rápida transformação. O vírus induz tumores policlonais devido ao grande poder transformador, dois a três dias depois de inoculado. Podem aparecer tumores em várias localizações, devido ao amplo espectro de células susce- tíveis à infecção pelo vírus. Como a resposta imunitária atua na contenção da infecção viral e como a infecção persistente é im- portante para manter a neoplasia, os tumores aparecem rapida- mente em pintos; quando o vírus é inoculado em animais adul- tos, os tumores que aparecem tendem a regredir à medida que o animal monta resposta imunitária eficaz contra o vírus. Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 217 A maioria dos retrovírus de ação rápida são deficientes, isto é, não podem se replicar autonomamente. A razão disso é que o vírus perdeu o gene pol durante o processo de transdução a par- tir do genoma celular (o oncogene substituiu o gene pol (da transcritase reversa) (Fig. 8.4lB). A estratégia adaptativa des- ses vírus deficientes em pol é a co-infecção com outro retrovírus completo, chamado auxiliar; no caso, a transcritase reversa do auxiliar é usada para a replicação de ambos os vírus. Um exem- plo é o vírus AmuL V (de Abelson Murine Leukemia Virus), que necessita co-infecção com um vírus do herpes para induzir leu- cemia em camundongos. O AmuL V possui o oncogene v-abl, completo ou, às vezes, truncado e associado ao gene gag, for- mando um gene de fusão. O vírus do sarcoma de Rous é uma exceção nesse grupo, pois contém o v-onc e os demais genes próprios dos retrovírus (Fig. 8.4lC). Portanto, a característica principal dos retrovírus de ação rápida é a presença de v-onc, os quais são os responsáveis pela transformação celular. Vírus de RNAOncogênicos de Ação Lenta Causam tumores após longo período de latência, em geral de três a nove meses. As principais neoplasias produzidas são lin- fomas e eritroleucemias em aves, roedores e gatos, e carcinoma da mama em camundongos. Ao contrário dos de ação rápida, esses vírus são desprovidos de oncogenes, não transformam cé- lulas em cultura mas são capazes de replicação (não necessitam de vírus auxiliar). Se são desprovidos de oncogenes, como ex- plicar sua ação oncogênica? As evidências disponíveis indicam que o mecanismo básico da ação desses vírus é por meio de sua integração no genoma celular e ativação de protooncogenes (mutação por inserção). De fato, sabe-se que tais vírus se inte- gram em sítios preferenciais de células, o que estimula a expres- são de certos genes. A segunda questão a ser respondida é como esses vírus alteram a estrutura ou expressão de um protooncogene e o tomam ativo. Os principais mecanismos estão descritos a seguir. Ativação Insercional (por inserção de um promotor ou de se- qüência aumentadora da transcrição). Quando a integração ocorre imediatamente antes ou na região 5' de um gene, os promotores virais da LTR estimulam a transcrição desse gene. O exemplo mais conhecido desse mecanismo é a inserção do vírus do linfo- ma aviário (ALV) na região 5' do protooncogene myc e sua ati- vação. O MMTV (de Mouse Mammary Tumor Virus) se integra aleatoriamente nas células do epitélio mamário, mas, nas célu- las tumorais, há sempre integração em determinada região do cromossomo 15, onde se localiza o protooncogene int-l, normal- mente desativado (esse gene só é expresso durante a embriogê- nese). Seqüência aumentadora do vírus (na LTR) age sobre o promotor do int-l, ativando-o. Codificação de Proteínas Truncadas. Inserção do cDNA viral separando parte de um protooncogene leva à transcrição de pro- teína truncada (faltando um pedaço). Inserção do cDNA do retrovírus pode deslocar, por exemplo, pequena parte da seqüên- cia do gene do EGF, levando à codificação de uma molécula sem parte da região de ligação com o agonista, ficando o EGF per- manentemente ativado (ver Fig. 8.33D). Mecanismo semelhan- te no ALV é responsável pela síntese de proteína truncada do myc, a qual é hiperativa por ser mais resistente a degradação. Transativação. O cDNA do retrovírus insere um gene que co- difica uma proteína capaz de ativar protooncogenes mesmo dis- ';:}lUU!PUOlpJS;:}Pp;:}soueumqmnopdedop 'lUJAo'SOpUpuAsorourruUJOAOJdsmnbssu'S!Uli!UUS;:}!J51ds;:} 'Bliní.llueradOJ!USí.lOJUO;:}lU;:}liUP!qUS9U!UqliUliUScpOlOJq O'S!Uli!UUsojod;:}lU;:}illllilní.l;:}Jopuoâut;:}opunliopSUJ!J~uí.lo;:}í.l 'dQ!í.l;:}Jsmtnur;:}psuoâmsndSUU;:}lU;:}lS!X;:} IUl;:}í.l;:}Aurn'U!UqliUli -BScpOlOJqo;:}AdS:o;:}JlU;:}OliS!í.lJ;:}U!SmAuq;:}J;:}rud'(AdS:) )UIAOqmuopdedopsnrjx0I;:}dSOpUSnUJSOU!AOqopOA!lS;:}í.l!P oqruop;:}S!Ul!U;:}í.l'SO;:}U~lnJsoromruSOogssonrairodunurçq -illU.L';:}S-JUZ!uí.lnUliUU!JU~pU;:}l;:}PUUJí.llislseur'(snuropdad) souãtuoq;:}lU;:}liIU!J!U!ogsS!Uli!UUS;:}SS;:}USOp!ZnpU!sorounu 'O'(;:}doqScpeurojrdad)li;:}í.luAI;:}SoqI;:}OJOpO;:}U~lnJtnuojtdnd )po90P!J;:}quOJsretnojdurcxoo'S;:}lS;:}N'S!Uli!UUureOliOJ soueumquroOlUUlscrounuureurãuouuropdadopsrujxso '(V.LS.L) ;opupmq!ludliOJOlS!qcpou;:}í.lpuuo(op-ASouS!OP;:}mnoqod ouSsJl).LsouoãntregpSUpUliUqJ;:}lU;:}liulunfuoJSUUJglOJdumo -IJ!POJs;:}JOJgJds;:}u;:}ílso-soroiourord;:}(SO!PJUls;:}ugílgSgJOJ -ardsouoâ)sUJopUJ!J!POJSU!Ju~nb;:}sli51lUOJ~s;:}Idli!s;:}lU;:}liUA!l -uI;:}J;:}ouonbod9OP-ASopomuoqodopsrujxopetuoueâO -soptoscu-li51J -arsoãuopunuraourosouãqsursarounuSOpyAUJOAOJdmnoqod opsrujz,O's;:}JOP;:}OJtuosauodnsarourruusncosnur'umnnJ urosmmumqsUInI51Juro;:}JS;:}J;)oP-ASO-onmsseopoucdsor Bs;:}Q6uUJJoJu!sepouedeoqnpuqo!oJsmnbsoarqos;:}sopnptu -sc;:}lU;:}liusu;:}lU!SillJAogs~S!Uli!UUurosorourruliUJOAOJdonb 'BliO!IodopsrujxogOP-ASouroouairod;:}I;:}V'(;:}lUuZnOnJUA 'ulionod'uliondud)nsodpd09stujxsossopodnrãIud!JupdO 'IUJ;:}íluroSU!SUId -oausap;:}Sgusí.loludo!l;:}UarqosOlUgli!J;:}qUOJoreruoumanred d!U;:}ligpUUJíln!nqplUOJS!gApgJSnSsortopodsoqurooVNGgp 'ruJAOpS;:}Q6UJglU!SUpoirrounocquooO'vN~;:}pSOJ!U~í.lOJUO SlUJASOnredouro.j'(su;:}í.luAI;:}SnoSOJ!lS51liOP'ouçraroqnjop) Smli!UUcp9SOP!J;:}quOJSOJ!Usí.lOJUOVNG;:}PsrujxsopUPO!Uli V'S!Uli!UUs;:}!J51ds;:}SglUgJ;:}J!PW;:}'suuí.lnulinosuuí.l!u;:}q'sns -l;:}A!PSU!SUIdo;:}uuroosopmoosseogsVNGcpsrujxSOl!nw VN:O3:0SIUIJA 'SUS0l!AsUInI51Jcps: BliOJUnopsUInI51JseuSOPUJlSUOli;:}PmulOJSUUPlOJdsnnsurou srujaourou'OlUUlU;:}ou~(ZtISUUJ;:}lOJd)srujxopsrarrunnsasau -joiordepropejnumsoredrqOl!;:}Jg;:}S-;:}l!liPU's:souoojuqJUlJ;:}J -U!opodsrujxoOWO;)';:}J;:}qUOJosoonod'UliOJUn;:}ss;:}pogónp -U!nu;)HAopog6u;:}pSOliS!UUJ;:}liSO;:}JqoS'SillJAopOg6UU!li -I{;:}'1UA;:}Ionboiuourmansodaopuâorpmbo';)HAourooSOPUl -J;:}JU!sonpJA!pU!W;:}'(sosojtxSOl!J9Junuroos:sUInI51JcpOJ!U -?Ids;:}UliOJU!r)oõeqou;:}lu;:}liIU!J;:}dsg'IUU!í.lrulieuozups:SOl -toçjuqcpUliOJUnopog6upossuUpUlUpJtoj';:}lU;:}li;:}lU;:}J;:}~ 'OP9lumuUU!ossooordouSUPU!JOSSUJUInpJUJlXgztn -ntnupS;:}Q6Ul;:}nU;:}suuroorunnb'SUUpOlPgpotourrodrejrqoo og6UJ;:}JnOJdnuJP;:}Jl;:}lU!ropodcpli51Iu'OP9lUliUUU!orepnsxo opsUlnI51JSUI;:}dsoprznpordS;:}JAnS!UJ!PUJoiuetpamSUJ!l51U;:}í.l s;:}Q6UJ;:}lIU;:}promptnOliOJ;:}(SOl!J9lUd;:}q;:}pUA!lUJ;:}U;:}í.l;:}J og6 -Bl;:}JnOJd)JOlOliOldOliOJunluSillJAo'og6UJ;:}U;:}í.l;:}1;:};:}SOJJ;:}U WOJ'UJ!ugJ;)Og6UliUUU!J!znpu!Jod(E~;:}s;:}u~í.loUpJUJolud;:}q BUS;:}lUUlJodw!OlU;:}li!JSgJJ;:}pSgJOlUJogsgnb'II-dDIgXldD.L WUJ!J!POJ;:}nbs;:}u;:}í.lsop'IUJ!Aog6uJnd;:}Jupdup!znpu!'ogs-s;:}Jdx;:}-oJ(Z~SOJ!l9ldodu-9JdS!UU!Sgpog6npsuUJlUOPU!p;:}dli! 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No outro tipo, a célula não permite a replicação viral e é considerada não-permissiva. Nela, os genes tardios, respon- sáveis pela codificação das proteínas do capsídeo, não são ex- pressos; todavia, os genes precoces são transcritos e o DNA viral integra-se ao genoma da célula hospedeira. Esses dois fenôme- nos - expressão de genes precoces e integração do DNA viral - parecem ser os responsáveis comuns pela transformação ce- lular. Para ocorrer transformação celular, a integração do DNA vi- ral ao genoma do hospedeiro deve ocorrer em sítios particula- res, de modo que os genes precoces continuem ativos mas haja interrupção dos genes tardios. Com isso, não se formam novas partículas virais (e a célula continua viável), mas são sintetiza- das proteínas transformantes. A expressão dos genes iniciais desses vírus resulta na síntese de algumas proteínas que atuam na transformação celular e, por isso, são chamadas proteínas transformantes. Os vírus de DNA sabidamente oncogênicos produzem uma ou mais proteínas transformantes (E6 e E7 no vírus do papiloma humano, ElA e EIB no adenovírus etc.). Transfecção dos genes que codificam tais proteínas é suficiente para imortalizar células em cultura ou mesmo para conferir-lhes fenótipo maligno. O modo de ação das proteínas transformantes ainda não está totalmente esclarecido, embora haja evidências de sua ligação com proteínas codificadas pelos genes supressores de tumor. Como já descrito, o antígeno T do SV-40, a proteína ElA do adenovírus e a proteína E7 do vírus do papiloma humano se li- gam à proteína Rb, enquanto as proteínas EIB do adenovírus, a E6 do vírus do papiloma humano e o antígeno T do SV-40 se ligam à p53. Inativação das proteínas Rb e p53 resulta em perda do controle do crescimento celular e na aquisição do caráter trans- formado. Outro possível mecanismo carcinogênico dos vírus de DNA é a transcrição de genes virais que levam à síntese de proteínas que, na membrana da célula hospedeira, comportam-se como receptores ativados transduzindo sinais que ativam fatores de transcrição para genes ativadores de proliferação e de sobrevi- vência das células. Alguns vírus de DNA podem ter genes que codificam proteínas transativadoras, as quais ativam protoonco- genes celulares. Tumores Humanos Induzidos por Vírus deDNA Vírus do Papiloma Humano (HPV). Os vírus do papiloma humano (HPV) 'têm tropismo para o epitélio escamoso da pele e mucosas, onde provocam lesões proliferativas de diferente po- tencial de malignidade. São conhecidos mais de 70 tipos dife- rentes do vírus, cada um com sede preferencial e potencial ma- ligno distintos. As lesões induzidas pelo HPV mais conhecidas são as verrugas cutâneas, o papiloma da laringe, o condiloma acuminado e os tumores anogenitais. Também tem interesse a epidermodisplasia verruciforme, uma rara doença acompanha- da de imunodeficiência e verrugas cutâneas, algumas das quais Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 219 sofrem transformação maligna. Nas lesões malignas dessa do- ença, são encontrados vários tipos de HPV, mas principalmente 06, 8 e 14. Em freqüência muito menor, o HPV tem sido encon- trado em carcinomas de outros locais, como o da conjuntiva e do esôfago. O grande impacto do HPV em tumores humanos decorre de sua associação com lesões displásicas e malignas do colo uteri- no. Displasias de baixo grau contêm freqüentemente HPV tipo 6 ou 11, enquanto nas displasias de alto grau, no carcinoma in situ e no invasor são encontrados predominantemente os tipos 16, 18, 31, 33 e 35 e 51. Vê-se, portanto, que tipos distintos do vírus têm potencial diferente de induzir lesões de gravidade va- riada. Além de sua associação com tumores espontâneos, certos ti-pos de HPV são capazes de imortalizar ceratinócitos humanos em cultura e de provocar in vitro alterações morfológicas típi- cas das displasias. O estado físico do HPV varia de acordo com o tipo de lesão. Na maioria dos carcinomas, o genoma viral está integrado ao da célula hospedeira, enquanto nas lesões benignas o vírus encon- tra-se na forma epissomal. Tal fato reforça o papel da inserção de uma seqüência estranha (mutação) no surgimento de uma neoplasia. No carcinoma do colo uterino, DNA do HPV integra-se ao DNA celular, ocorrendo deleção das seqüências El e E2 do ge- noma viral, as quais são repressoras das seqüências E6 e E7. Com isso, fica liberada a síntese destas últimas. As proteínas codifi- cadas por E6 e E7 se combinam com proteínas celulares que interferem nos mecanismos de proliferação e sobrevivência das células. A pE6 se associa à p53, e a pE7 à pRb, favorecendo a rápida degradação delas nos proteassomos. Além disso, a pE7 se liga à pRb no mesmo sítio de ligação do fator E2F; com isso, este fica livre ("não-seqüestrado") e atua no DNA celular, esti- mulando a mitose (ver Fig. 8.37). Também ao se ligar à p53, a pE6 bloqueia a atividade transcritora da p53 sobre genes pró- apoptóticos. Por outro lado, pE6 e pE7 podem se ligar a proteí- nas da família RAD, dificultando os mecanismos de reparo do DNA e favorecendo a instabilidade do genoma. Vírus de Epstein-Barr (EBV). O EBV é amplamente distribu- ído na natureza, estimando-se que cerca de 80% dos adultos no mundo todo já tenham sido infectados por ele. O EBV infecta linfócitos B, que possuem receptores específicos para o vírus. Na grande maioria dos casos, a infecção é assintomática, mas em certos indivíduos aparecem manifestações clínicas agudas e exu- berantes que caracterizam a mononucleose infecciosa. Esta tem duração limitada e é uma doença benigna. In vitro, o EBV pode imortalizar células, embora sem conferir o fenótipo transforma- do ou capacidade de formar tumores em animais atímicos. O EBV tem sido associado a algumas neoplasias humanas. A primeira e mais importante é o linfoma de Burkitt, que se apre- s~nta de duas formas: uma endêmica, que acomete crianças da Africa e é a neoplasia da infância mais comum nessa região, e outra esporádica, menos comum e encontrada em diversas par- tes do mundo. As evidências do papel oncogênico do EBV são indiretas, mas mesmo assim são fortes. A quase totalidade dos tumores africanos contém o genoma do vírus, e 100% dos paci- entes com a neoplasia apresentam títulos elevados de anticorpos anti-EBV. Na forma esporádica, o genoma viral é encontrado em apenas 15-20% dos tumores. Nas duas formas, contudo, existe a translocação 8q-14q +, que resulta na ativação do c-myc (ver Fig. 8.35). Todavia, parece que o EBV é apenas um dos fatores 220 PatologiaGeral causais do linfoma de Burkitt, mas incapaz, sozinho, de induzir tumores. Nesse sentido, é postulado que a malária (também en- dêmica na África) possa ser um co-fator importante, pois pode estimular o sistema imunitário e provocar proliferação de linfó- citos B. Células com taxa elevada de multiplicação são mais suscetíveis a sofrer mutações, inclusive a translocação caracte- rística desse linfoma. O outro tumor associado ao EBV é o carcinoma nasofaríngeo, raro no Brasil mas endêmico em algumas regiões da China e da África. Nos tumores de qualquer região geográfica, o DNA do vírus é encontrado nas células neoplásicas; além disso, os pacientes com esse câncer têm títulos muito elevados de anticorpos anti-EBY. Alguns linfomas de células B são também associados ao EBV. Associação de infecção com o EBV e linfoma de Hodgkin é alta em regiões tropicais, admitindo-se nesses locais participação do vírus na etiologia do tumor, especialmente em crianças. Estudos de biologia molecular mostram que alguns dos ge- nes do EBV são importantes na carcinogênese. O gene LPM-l codifica uma proteína transmembranosa capaz de se associar a várias proteínas transdutoras de sinais no citosplasma e induzir tais sinais, os quais ativam fatores de transcrição ativadores de mitose e de sobrevivência das células (p. ex., há indução do gene bcl-2). O gene EBNA-2 codifica uma proteína que age no nú- cleo e aumenta a expressão não só do gene LPM-l (do vírus) como também dos genes src e da ciclina D, o que favorece mais ainda a manutenção do ciclo celular ativo nos linfócitos, levan- do à imortalização. Vírus da Hepatite B (VHB). Estudos epidemiológicos mostram que a infecção crônica pelo VHB associa-se a maior incidência do carcinoma hepatocelular (CHC), que é um dos cânceres hu- manos mais freqüentes em algumas partes do mundo. Na África e no Sudeste Asiático, regiões de alta prevalência do tumor, a infecção pelo VHB também é comum e atinge parte considerá- vel da população. De acordo com a história natural da infecção, de todos os infectados pelo VHB, poucos (cerca de 5%) desen- volvem infecção crônica; estes, porém, têm risco 200 vezes maior de desenvolver CHC do que os não-infectados. Além disso, os marcadores sorológicos do VHB são encontrados mais freqüen- temente nos pacientes com CHC do que na população em geral. Outros vírus da família Hepadna induzem CHC nos seus hospe- deiros: o WHB (de Woodchuck B Virus) na marmota americana e o DHB (de Duck B Virus) no pato de Pequim. Camundongos transgênicos com o VHB ou com o gene do HbsAg desenvol- vem carcinoma hepatocelular depois de oito meses de idade. O DNA do HBV se integra ao genoma do hepatócito. A inte- gração é precoce, independe da replicação viral, é aleatória e parcial, porém em múltiplas cópias do mesmo fragmento, poden- do ocorrer em vários sítios. Essa integração aleatória, de múlti- plos fragmentos, é responsável pelo aumento da instabilidade do genoma que favorece o aparecimento do CHC. Duas proteínas expressas após a integração participam da carcinogênese: prote- ína X e uma proteína truncada (MHBst, de Middle HB surface truncated protein), ambas agindo como transativadoras de ge- nes que codificam fatores de transcrição potentes, aumentando assim a expressão de genes (p. ex., TGFa e IGF-I1) que favore- cem a imortalização dos hepatócitos. Como na infecção pelo vírus da hepatite C, inflamação crônica, com necrose e regeneração, participa do processo hepatocarcinogenético. Vírus HHV 8 (Vírus 8 do Herpes Humano). O HHV 8 é um vírus de transmissão sexual facilitada pelo HIV. Recentemente, demonstrou-se sua associação com o sarcoma de Kaposi; o ge- noma do vírus foi isolado das células endoteliais malignas e possui genes que codificam moléculas que mimetizam fatores de crescimento: IL-6, ciclina D, bcl-2, MIP-la e receptores para quimiocinas. A ativação desses genes favorece a proliferação endotelial, que evolui para imortalização celular. É possível que haja interação com o HIV na indução do sarcoma: a proteína tat do HIV se liga a células endoteliais, via integrinas, e as induz a produzir fatores de crescimento. OUTROS AGENTES BIOLÓGICOS CAUSADORES DE CÂNCER Bactérias e parasitas podem ocasionalmente estar relaciona- dos a alguns cânceres, embora sua participação na carcinogêne- se não esteja ainda totalmente esclarecida. Carcinoma de célu- las escamosas da bexiga está associado à esquistossomose vesi- cal causada pelo Schistosoma haematobium. A inflamação gra- nulomatosa da mucosa vesical, onde os ovos são eliminados, deve ter participação na carcinogênese diretamente ou como fator co- carcinogênico. Na China, o parasitismo das vias biliares com o trematóide Clonorchis sinensis associa-se a maior risco de de- senvolver carcinoma das vias biliares. Mais recentemente, tem sido descrita associação entre infecção do estômago pelo Helycobacter pylori e o linfoma MALT (linfoma B, da zona marginal). Não se conhecem os mecanismos pelos quais a bac- téria induz o linfoma; suspeita-se de algumas proteínas que in- duzem hiperestimulação linfocitária. Embora existamevidênci- as epidemiológicas associando o H. pylori ao carcinoma gástri- co, essas não são ainda suficientes para afirmar que tal relação realmente exista. Carcinógenos Químicos A primeira observação científica de que o câncer pode ser causado por agentes químicos é atribuída a Percival Pott, que. em 1775, associou o câncer do escroto em limpadores de chami- nés com a fuligem que se depositava sobre a pele. Mais de um século depois, outro grande marco na história da carcinogênese química foi a produção experimental de tumores cutâneos me- diante pincelamento, com alcatrão de carvão mineral, da orelha de camundongos. Pelas facilidades de manipulação e de observação, a pele é um setor do organismo muito estudado do ponto de vista da on- cogênese química experimental. O fígado é também freqüente- mente explorado, nele sendo induzidos tumores pela administra- ção de diversas substâncias químicas. Substâncias químicas segura ou presumivelmente canceríge- nas encontram-se amplamente distribuídas na natureza e com- preendem desde alimentos naturais até compostos altamente modificados pelo homem. Algumas são muito potentes; outras são importantes por estarem em contato muito próximo e pro- longado com o homem e os animais. Dependendo dessas duas variáveis, têm maior ou menor importância prática. Muitos car- cinógenos químicos têm interesse apenas na carcinogênese ex- perimental; outros são causa importante de cânceres humanos. Os cancerígenos químicos são divididos em duas grandes categorias: 1) carcinógenos diretos; 2) carcinógenos indiretos. Os primeiros são agentes alquilantes ou acilantes que já possu- em atividade eletrofílica intrínseca; por isso mesmo, podem pro- vocar câncer diretamente. A maioria das substâncias canceríge- nas, contudo, precisa primeiro sofrer modificações químicas no Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular ZZI organismo antes de se tornarem eletrofílicas e ativas (carcinó- genos indiretos). O metabolismo dos carcinógenos é feito por grande variedade de enzimas solúveis ou associadas a membra- nas, entre as quais as do citocromo P-45Ü são as mais importan- tes. A atividade desses sistemas enzimáticos, por sua vez, sofre influência de numerosos fatores endógenos e exógenos, haven- do variações qualitativas e quantitativas dessas enzimas em di- ferentes tecidos, em diferentes indivíduos e em diferentes espé- cies, o que pode influenciar a sede e o tipo de tumores. O feno- barbital é uma droga sabidamente indutora do sistema enzimáti- co P-45Ü, de modo que sua administração pode aumentar a pro- dução de tumores por cancerígenos indiretos. Por outro lado, tais modificações bioquímicas podem resultar também em inativa- ção do carcinógeno. Os carcinógenos químicos diretos ou indiretos agem sobre o DNA e causam mutações. O principal mecanismo de ação dos carcinógenos químicos é a formação de compostos covalentes com o DNA (DNA adducts), que aumentam a probabilidade de ocorrerem erros durante a replicação. No entanto, nem sempre uma mutação leva à formação de tumores, pois o organismo dis- põe de sistemas eficazes de reparação do DNA (ver genes de reparo do DNA). Existe grande variação entre os indivíduos e entre os diferentes tecidos na eficiência de reparação do DNA. Tecidos fetais, por exemplo, têm 2-5 vezes menos potencial do que tecidos adultos. Além disso, alguns cancerígenos químicos (certos aldeídos, agentes alquilantes), além de sua ação mutagênica, podem inibir a atividade das enzimas reparadoras. Por tudo o que foi comentado, pode-se concluir que substân- cias químicas provocam tumores na dependência de vários fato- res do indivíduo e do ambiente. Na Fig. 8.42 estão esquernatiza- C§ JRe~~dO EFIC~EFICAZ(iJe Célula Célula normal canceroso INATIVO ATIVO ~ @j IRe~C:dO EFIC~EFJCAZ@. Célula Célula normal cancerosa Fig. 8.42 Caminhos seguidos pelos carcinógenos químicos. Os cancerígenos diretos induzem mutações e provocam câncer quando os sistemasreparadores doDNA falham. Os indiretos dependem de trans- formaçãometabólica no organismo. Quando se tomam ativados, com- portam-se como os cancerígenos diretos na gênese do câncer. dos os passos percorridos por um carcinógeno químico até pro- vocar tumores. Os principais carcinógenos químicos conhecidos podem ser agrupados nas categorias listadas a seguir. Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos. São os carcinóge- nos químicos mais potentes e os mais estudados. Derivam da combustão incompleta do carvão mineral, petróleo, tabaco etc. (são, por isso, alcatrões). Todos são cancerígenos indiretos e, por- tanto, dependem de ativação prévia pelos sistemas enzimáticos. Provocam tumores variados, conforme o local de introdução e as células presentes. Os hidrocarbonetos aromáticos derivam dos núcleos do antraceno e do fenantreno. Dependendo do tipo e local das mo- dificações químicas das moléculas, a potência do produto resul- tante é diferente. Os principais exemplos desse grupo são o 9, lO-dimetil-l, 2-benzantraceno (DMBA), o metilcolantreno e o benzopireno. Seu mecanismo básico de atuação é a formação de epóxidos que se ligam ao DNA. Exposição ao benzopireno, por exemplo, resulta em transversão do tipo G:T; já o DMBA pro- voca transição A:G ou C:T. Outro modo de ação mutagênica dos compostos cíclicos é a sua propriedade hidrofóbica e planar, atra- vés da qual se intercalam entre as bases do DNA; distorções pro- vocadas na estrutura da dupla hélice de DNA facilitam a ocor- rência de inserções/deleções no momento da replicação. Como se formam pela combustão de diversos compostos que contêm carbono, são muitas as fontes de produção dessas subs- tâncias: carvão, petróleo e seus derivados, produtos alimentícios, principalmente os defumados (carnes e peixes), tabaco etc. En- contram-se, pois, muito difundidas no ambiente, sendo grande sua importância prática como causa de câncer. Hoje, elas não re- presentam apenas um risco profissional, como ocorria, por exem- plo, com os operários de destilarias de alcatrão. Com a multipli- cidade das fontes de produção desses compostos, o consumo crescente de alimentos industrializados e, de modo particular, a generalização do hábito de fumar, um número cada vez maior de indivíduos fica exposto a essas substâncias cancerígenas. Aminas Aromáticas. Nessa categoria estão alguns derivados da anilina que, para produzirem tumores, devem sofrer ativação pelos hepatócitos. A l3-naftilamina é hidroxilada no fígado e depois conjugada com o ácido glicurônico, que a toma inativa como cancerígeno. No entanto, por ação de uma glicuronidase urinária, libera-se o composto l3-hidroxilado, que é oncogênico para o epitélio vesical. A principal importância dessas substân- cias é causar uroteliomas sobretudo em trabalhadores na indús- tria de corantes e derivados da anilina. Outra substância pertencente a esse grupo é o 2-acetil arninofluoreno, muito usado na carcinogênese experimental. Seus derivados hidroxilados são cancerígenos em algumas espécies animais, nas quais provocam câncer sobretudo no fígado. Azocompostos. São derivados do azobenzeno, que em si não é cancerígeno. Todos os azocompostos são cancerígenos indire- tos. Muitos deles têm importância na carcinogênese experimen- tal, de modo particular a hepática. Para a espécie humana, têm interesse porque muitos corantes usados na industrialização de produtos alimentares pertencem a essa categoria. O exemplo mais conhecido é o do amarelo-manteiga, que era usado para dar à margarina a mesma cor da manteiga. Alquilantes. Representam um grupo heterogêneo de substânci- as que têm em comum a propriedade de doar um grupo alquílico 222 Patologia Geral (metílico ou etílico) a um substrato. São carcinógenos diretos mas de baixa potência. Sua ligação ao 06 da guanina altera a ligação com o hidrogênio, leva a um erro de leitura pela DNA polimera- se e resulta em transição G:A.Os agentes alquilantes são radiomiméticos (interagem com o DNA) e, por isso, são usados no tratamento do câncer e como imunossupressores. As substâncias mais conhecidas nessa, cate- goria são a ciclofosfamida, o clorambucil e o bussulfan. E fato bem conhecido que pacientes cancerosos em tratamento com essas drogas têm risco aumentado de desenvolver outros tumo- res, preferencialmente linfomas e leucemias. Agentes alquilan- tes podem causar mutações puntiformes no códon 12 do gene raso Nitrosaminas. São substâncias formadas no organismo a partir de nitritos e aminas ou amidas ingeridos com os alimentos. A importância maior das nitrosaminas é sua relação com o câncer gástrico. Compostos N-nitroso causam desaminação de ácidos nucléicos e mutações variadas. O gene p53 parece ser um alvo importante desse tipo de mutação. Aflatoxinas. São produzidas por algumas cepas de Aspergillus flavus, um fungo que contamina alimentos, principalmente ce- reais. A aflatoxina hepatocarcinogênica mais potente é a aflatoxina B 1, que é metabolizada no retículo endoplasmático liso, originando o 8,9 epóxido da aflatoxina, que normalmente é transformado em aflatoxicol (por ação da epóxido-hidrolase e glutation-S-transferase), que é eliminado na urina. O 8,9 epóxido é nucleofílico, liga-se à guanosina e induz troca desta por timina, no códon 249 do gene p53, mutação que inativa a proteína p53. Com isso, a aflatoxina induz desrepressão de ciclinas e cdk, fa- vorecendo o hepatócito a entrar em mitose. Nas pessoas com deficiência da epõxido-hidrolase e ou de glutation-S-transfera- se, esse efeito mutagênico da aflatoxina é exacerbado, favore- cendo o aparecimento do carcinoma hepatocelular. Parece ha- ver ação sinérgica das aflatoxinas com o vírus da hepatite B, o que explicaria a baixa idade de ocorrência desse tumor na Áfri- ca, onde as duas condições coexistem. Asbesto. A inalação prolongada do asbesto provoca a asbestose pulmonar, doença que tem interesse pelos transtornos funcionais que provoca no sistema respiratório. Ao lado disso, o asbesto também é causa importante de mesoteliomas e do câncer bron- copulmonar, especialmente quando associado ao hábito de fu- mar. Indivíduos fumantes e expostos ao asbesto têm risco muito maior de desenvolver câncer pulmonar do que os só tabagistas. Assim, parece haver efeito potenciador de um agente sobre o outro. A principal forma de contato com o asbesto é a exposição de trabalhadores na indústria de amianto (diversos produtos des- tinados à produção de telhas e coberturas). Cloreto de Vinil. Experimentalmente, causa angiossarcoma hepático. Há indícios de que tenha papel também na doença humana, já que trabalhadores expostos a essa substância são mais suscetíveis a esse raro tumor do fígado. Carcinógenos Inorgânicos. O arsênico causa câncer da pele e do pulmão em indivíduos expostos. O cromo, encontrado no cimen- to e em outros produtos industriais, é responsável por cânceres da pele e do pulmão em trabalhadores do ramo. O níquel provoca papilomas, pólipos e câncer da mucosa nasal ou broncopulmonar quando inalado como poeira metálica ou como níquel carbonila. O ferro é apontado como responsável por câncer do pulmão em trabalhadores expostos a esse metal. Além desses, vários outros metais já foram implicados na gênese de alguns cânceres. Por último, um breve comentário sobre um grupo de substâncias quí- micas cuja ação cancerígena é motivo de intensa discussão. Tra- ta-se da sacarina e ciclamatos, que induzem câncer da bexiga em ratos. No entanto, não há provas suficientes para afirmar que, na espécie humana, o uso desses adoçantes, nas doses consumi- das, seja capaz de provocar câncer vesical. 81 1 Carcinogênese por Radiações Tanto as radiações excitantes (ultravioleta) como as ionizan- tes podem provocar tumores em humanos e em animais de labo- ratório. As formas de exposição a esses agentes físicos são mui- to variadas e freqüentes, de modo que, em conjunto, eles têm grande interesse prático. Como na carcinogênese química, as radiações também provocam mutações gênicas e podem ativar oncogenes (principalmente o ras) e/ou inativar genes supresso- res de tumor. RADIAçÃO ULTRAVIOLETA Os raios ultravioleta (UV) da luz solar são provavelmente o agente cancerígeno mais atuante na espécie humana. De fato, 0< cânceres da pele, que são os mais freqüentes em humanos, têm estreita relação com exposição ao sol e são encontrados predo- minantemente nas pessoas expostas à luz solar por período pro- longado (lavradores, marinheiros etc.). Desde muito tempo se sabe que indivíduos que trabalham ou ficam muito tempo erro contato com os raios solares desenvolvem diversas lesões pré- cancerosas da pele (ceratose solar), carcinomas basocelular ou de células escamosas e melanomas. O risco de aparecimento desses tumores depende da intensi- dade e duração da exposição e da proteção natural de cada indi- víduo. A suscetibilidade a esses tumores é inversamente propor- cional à pigmentação cutânea, já que a melanina é um filtro efi- ciente da radiação ultravioleta. A faixa ativa das radiações UV está entre 250 e 300 nm. Es- tudos fotoquímicos demonstram que o alvo principal dessa radi- ação é o DNA, no qual podem ser produzidas várias alterações. das quais a formação de dímeros de timina é a mais importante (Fig. 8.43). Trata-se, pois, da produção de uma mutação puntiforme. Como já discutido na carcinogênese química, em condições normais essas modificações da molécula de DNA podem ser reparadas eficazmente por sistemas enzimáticos, apa- recendo tumores somente quando esses sistemas protetores fa- lham. Confirmando esse fato e como já comentado, no xeroderma pigmentoso o sistema reparador é defeituoso e os pacientes de- senvolvem múltiplos cânceres da pele já em idade jovem. Além disso, pelo menos em animais, a radiação UV estimula linfóci- tos T-supressores a inibir a resposta imunitária, o que também pode favorecer o aparecimento de neoplasias. RADIAçÃO IONIZANTE As radiações ionizantes podem ser eletromagnéticas (raios X e gama) ou particuladas (partículas alfa e beta, prótons e nêu- trons). As principais evidências da ação cancerígena dessas ra- diações são: • maior incidência de câncer cutâneo ou leucemias em radio- logistas ou operadores de raios X que, no passado, não usa- vam a devida proteção; A "I I 1 I I I I 1 I I I I I I T G T C A T T G C C G C A C A C A G T A A C G G C G T G I I I I I I I I I I I I I I •• lrrodloçôo UV "I I I A Dímero de timina I I I i I i 1 I I T G T C A T = TG C C G C A C A C A G T A A C G G C G T G I I I I I I I I I I I I I I •• I Endonuclease Clivagem -----=:1 • 3' 5' "I 1 1 1 I~I I I I I I I T G T C A T TG C C G C A C A C A G T A A C G G C G T G I I I I I I I I I I I I I I. Exonuflease 5' "I 3'~/5' I I I I T G C I1 I T G T CA cGCA C A C A G T A A C G G C G T G I I I I I I I I 1 I 1 I I I •• Polimerase • 3'5'"I 1 I I I I I I I 1"1 I I T G T C A T T G C C G C A C A C A G T A A C G G C G T G I I I I I I I I I I I I I I •• ugbse •"I I I I I I I I I I I I I T G T C A T T G C C G C A C A C A G T A A C G G C G T G I 1 I I I I I I I I I I I I •• B c D E F Fíg. 8.43 Formação de dímero de timina pela radiação ultravioleta (UV) ~reparo do DNA. A. Molécula de DNA de dupla fita. B. Formação de .íírnerode timina pela radiação UV. C. Início do reparo por ação de uma endonucleaseque cliva as ligações fosfodiésterdos nucleotídeos.D. Re- 'noção da seqüência contendo o dímero por uma exonuclease. E. Pre- enchimento da porção removida pela DNA polimerase. F. Ligação do segmentocopiado por uma ligase. • exposição excessiva aos raios X na infância aumenta a inci- dência de leucemias e câncer da tireóide; • o câncer broncopulmonar é mais comum em trabalhadores de minas que contêm compostos radioativos; • aparecimento de osteossarcomas em operários que enverni-zavam mostradores luminosos e que tinham o hábito de ume- decer com os lábios o pincel com material fluorescente con- tendo substâncias radioativas; • aumento da incidência de leucemias nos sobreviventes das explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki; • aplicação experimental dessas radiações induz neoplasias em diferentes animais. Diante de tantos indícios do potencial oncogênico desses agentes, hoje hápreocupação muito grande em reduzir ao mí- nimo possível a exposição das pessoas às radiações ionizan- tes. Em razão das precauções tomadas, atualmente elas são responsáveis apenas por pequena parcela dos cânceres huma- :lOS. O efeito carcinogênico das radiações ionizantes também pa- ~ecedever-se ao seu potencial mutagênico, uma vez que podem ::rovocar diversas alterações cromossômicas (translocações, Distúrbios do Crescimento e da Diferenciação Celular 223 quebras, mutações puntiformes e, principalmente, deleções). O poder mutagênico, por sua vez, depende ainda dos seguintes fa- tores: 1) tipo das células-alvo. Diferentes tecidos têm sensibilida- de variada às radiações. Em geral, quanto maior a taxa de renovação celular e menor o grau de diferenciação das células, maior é a sensibilidade. A medula óssea, por exemplo, é muito sensível às radiações ionizantes. Essa regra geral também vale para o tratamento dos próprios tumores, ou seja, neoplasias pouco diferenciadas ou em acelerada taxa de proliferação respondem mais à radio- terapia; 2) idade do indivíduo. Fetos, recém-nascidos e crianças são mais vulneráveis aos efeitos das radiações do que os adul- tos; 3) eficiência dos mecanismos de reparo do DNA induzido por radiações: mutações herdadas nos genes Rad e BRCA tor- nam o indivíduo mais suscetível à ação das radiações; 4) a resposta imunitária e o estado hormonal também influ- enciam a ação cancerígena das radiações. SÍNDROMES HEREDITÁRIAS ASSOCIADAS A TUMORES O câncer é uma doença genômica, uma vez que o crescimen- to neoplásico resulta de alterações genéticas que se transmitem de uma célula para as suas descendentes. Em muitos casos, as mutações são adquiridas pelas células somáticas, que se trans- formam e originam o tumor. Em outros, ocorrem mutações em células germinativas, as quais as transmitem a todas as células do novo organismo gerado e que tomam o seu portador mais suscetível a desenvolver uma neoplasia. Trata-se, portanto, de neoplasias familiares, já que a mutação, de caráter dominante ou recessivo, pode aparecer em vários membros da mesma família, com penetrância variável. As neoplasias familiares têm três características epidemioló- gicas importantes: 1) história do mesmo ou de mesmos tumores em vários membros, parentes próximos, de uma mesma família; 2) em geral, os tumores aparecem em idade mais baixa do que os tumores esporádicos correspondentes; 3) não é raro aparecer mais de um tipo de tumor no mesmo indivíduo. Muitas das síndromes associadas a alto risco para o desen- volvimento de tumores são autossômicas dominantes, sendo de 50% a probabilidade de aparecimento da mutação nos descen- dentes; o surgimento da neoplasia no portador da mutação é va- riável, já que varia bastante a penetrância do efeito. O Quadro 8.6 mostra as principais síndromes hereditárias associadas a risco aumentado para tumores, indicando o gene mutado. Em todos os casos, existem mutações em oncogenes ou em genes supressores de tumor. A localização da mutação (o códon onde a mutação ocorreu) pode variar em cada gene, em- bora em alguns genes haja códons em que elas são mais comuns. A variação nos códons mutados explica em parte a variação que a síndrome pode apresentar, inclusive em relação ao risco aumen- tado de desenvolver tumor. Como nessas síndromes a mutação é gerrninativa, ela apare- ce em todas as células do indivíduo. No entanto, como a regula- ção gênica varia nas células com diferentes tipos de diferencia- ção, o potencial cancerígeno da mutação não é o mesmo em to- dos os tecidos; em geral, os tumores surgem preferencialmente em um tecido ou em alguns tecidos, como pode ser observado no Quadro 8.6. 224 Patologia Geral Quadro 8.6 Principais síndromes hereditárias associadas a risco aumentado de câncer. Estão listadas as síndromes, bem como os genes que possuem a mutação em células germinativas (hereditária) e os tumores mais freqüentemente associados. Para a função dos produtos dos genes mutados, ver Quadros 8.4 e 8.5 Síndrome Gene afetado Tumores associados Retinoblastoma Síndrome de Lynch Carcinoma mamário familial Neoplasias endócrinas múltiplas Neoplasias endócrinas múltiplas Síndrome de Li-Fraumeni Síndrome da polipose familial Poli pose juvenil Câncer gástrico familial Tumor de Wilms Síndrome de von Hippel-Lindau Síndrome de Gorlin Síndrome de Cowden Esclerose tuberosa Neurofibromatose Síndrome do nevo displásico Rb-l MSH2e6 MLHI,PMS2 BRCA-I e 2 MENI RET p53 e hCHK2 APC SMAD4 E-CAD WT-I VHL PATCH PTENI TSCl e 2 NF-I e 2 CDKN2 Retinoblastoma. Osteossarcoma Carcinoma colorretal. Adenocarcinoma do endométrio. Carcinoma gástrico. Câncer do ovário. Uroteliomas Carcinoma da mama. Carcinoma do ovário (BRCA-I e BRCA-2) Carcinoma da mama masculina (BRCA-I) Hiperplasia da paratireóide. Tumores endócrinos do pâncreas Tumores da hipófise Carcinoma medular da tireóide. Feocromocitoma Sarcomas de tecidos moles. Carcinoma da mama. Tumores do sistema nervoso. Carcinoma da cortical da supra-renal Câncer colorretal. Tumores desmóides. Osteomas. Carcinoma do duodeno Pólipos intestinais. Carcinoma colorretal Carcinoma gástrico difuso. Carcinoma intralobular da mama Tumor de Wilms Carcinoma de células renais. Hemangioblastoma. Angioma da retina. Feocromocitoma Carcinoma basocelular. Meduloblastoma. Fibroma do ovário Carcinoma da mama. Hamartomas em vários locais Angiomiolipoma renal. Rabdomioma Neurofibroma (NF-I). Neurinoma do acústico. Meningioma. Schwannoma (NF-2) Melanoma. Carcinoma do pâncreas ETAPAS DA CARCINOGÊNESE Como já comentado, a formação e o desenvolvimento das neoplasias é processo complexo que ocorre em múltiplas etapas. Estudos em animais de laboratório têm permitido identificar fa- ses ou etapas que têm real interesse prático. Nos modelos de carcinogênese química experimental, é fácil evidenciar fases de iniciação (o agente carcinogênico induz alterações genéticas permanentes nas células), promoção (a célula iniciada é estimu- lada a proliferar, ampliando o clone transformado), progressão (o clone transformado prolifera e o tumor cresce) e dissemina- ção (surgem células com potencial metastatizante e a neoplasia se desenvolve em sítios distantes de sua origem). Etapas seme- lhantes devem ocorrer também na carcinogênese espontânea, inclusive na humana. A iniciação pode ser induzida por uma única aplicação de um agente cancerígeno, mesmo que em dose baixa. A promoção depende de contato mais prolongado com o agente promotor, que precisa ser aplicado após o iniciador. Os resultados clássicos sobre esse tipo de carcinogênese estão resumidos na Fig. 8.44. Os elementos nela contidos permitem as seguintes observações: 1) iniciação isoladamente não é tumorigênica (grupo 1), mas, quando seguida de promoção, resulta em tumores (grupos 2 e 3); 2) a iniciação é fenômeno irreversível, no sentido de que uma célula pode se transformar em tumor mesmo quando o promotor é aplicado certo tempo depois (grupo 3); 3) a promoção sozinha ou aplicada antes da iniciação não causa tumores (grupos 4 e 5); 4) a promoção é reversível, já que o espaçamento na aplica- ção do promotor não produz tumores (grupo 6). Estudos posteriores mostraram que essas mesmas observações são válidas para muitos outros tumores de vários órgãos. Mais ainda, há tumores humanos que parecem seguir a mesma seqüên- cia evolutiva, indicando que iniciação e promoção são fenôme- nos comuns
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