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Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR PROLIFERAÇÃO CELULAR E CÂNCER TUTORIA 3 – ANTES TARDE DO QUE NUNCA Objetivos 1. Definir e entender mutagênese (aspectos essenciais). 2. Conhecer os efeitos mutagênicos em células somáticas e germinativas. 3. Definir carcinogênese, entende-la e compreender os efeitos das mutações nesse processo. 4. Estudar as bases genéticas do câncer. 5. Compreender a angiogênese e relacioná-la com o câncer. Referências Thompson & Thompson – Genética Médica, 8ª ed capítulos 4 e 15 Robbins & Cotran – Patologia – Bases Patológicas das Doenças – 8ª ed, capítulo 7 Biologia Molecular da Célula- Alberts, 5ª ed, cap 20 Biologia Celular e Molecular Lodish, 5ª ed, capitulo 23 A ORIGEM E A FREQUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE MUTAÇÕES A diversidade genética pode manifestar-se como diferenças na organização do genoma, como alterações de nucleotídeos na sequência do genoma, como variações no número de cópias de grandes segmentos de DNA genômico, como alterações na estrutura ou na quantidade de proteínas encontradas em vários tecidos, ou como qualquer um destes no contexto de doenças clínicas. As mutações são por vezes classificadas pelo tamanho da sequência de DNA alterada e, em outros momentos, pelo efeito funcional da mutação na expressão gênica. • Mutações que deixam cromossomos intactos, mas que alteram o número de cromossomos de uma célula (mutações cromossômicas). • Mutações que mudam apenas uma parte do cromossomo e podem envolver uma alteração no número de cópias de um segmento subcromossômico ou um rearranjo estrutural que envolve partes de um ou mais cromossomos (mutações regionais ou subcromossômicas). • Alterações na sequência de DNA que envolvem a substituição, deleção ou inserção de DNA, variando de um nucleotídeo único até um limite definido de modo arbitrário de aproximadamente 100 kb (mutações gênicas ou de DNA). • Diferentes tipos de mutações surgem no contexto de processos fundamentais da divisão celular, tais como replicação, reparo e recombinação de DNA, e a segregação cromossômica na mitose ou meiose. A frequência de mutações por locus por divisão celular é uma medida básica de quão propensos a erros estes processos estão, o que é de fundamental importância para a biologia e evolução do genoma. Na prática da genética, estamos preocupados principalmente com a variação genômica herdada; no entanto, toda essa variação teria de se originar como uma alteração nova (de novo) nas células germinativas. Nesse ponto, tal variante seria bastante rara na população (ocorrendo apenas uma vez), e sua frequência final na população ao longo do tempo dependeria do acaso e dos princípios de herança e de genética de populações. Embora a mutação original tenha ocorrido apenas no DNA das células da linhagem germinativa, qualquer pessoa que herdasse esta mutação a carregaria como uma mutação constitucional em todas as células do corpo. Ao contrário, as mutações somáticas ocorrem em todo o corpo, mas não podem ser transmitidas à geração seguinte. Em tecidos altamente proliferativos, tais como os epiteliais intestinais ou células hematopoiéticas, tal heterogeneidade genômica é particularmente suscetível de estar evidente. No entanto, a maioria de tais mutações não é tipicamente detectada, porque em ensaios clínicos, o DNA é geralmente sequenciado a partir de coleções de muitos milhões de células; em tais coleções, a base mais prevalente em qualquer posição no genoma será a única presente no momento da análise, e mutações somáticas raras serão amplamente invisíveis e indeterminadas. A principal exceção à expectativa de que mutações somáticas sejam subdetectadas em qualquer amostra de DNA multicelular está no câncer. A base mutacional para as origens do câncer e a natureza clonal da evolução tumoral direcionam certas alterações somáticas a estar presentes essencialmente em todas as células de um tumor. De fato, de 1.000 a 10.000 mutações somáticas (e algumas vezes muito mais) são encontradas nos Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR genomas da maioria dos cânceres de adultos, com frequências e padrões mutacionais específicos para diferentes tipos de câncer. MUTAÇÕES CROMOSSÔMICAS Mutações que produzem alteração no número de cromossomos devido a erros de segregação cromossômica estão entre as mutações mais observadas em humanos, com uma taxa de uma mutação por 25 a 50 divisões celulares meióticas. MUTAÇÕES REGIONAIS As mutações que afetam a estrutura ou a organização regional dos cromossomos podem surgir por vários caminhos diferentes. As duplicações, deleções e inversões de um segmento de um único cromossomo são predominantemente o resultado da recombinação homóloga entre segmentos de DNA com alta homologia de sequência situados em mais de um local em uma região do cromossomo. No entanto, nem todas as mutações estruturais são resultado de recombinação homóloga. Algumas, como translocações cromossômicas e algumas inversões, podem ocorrer em locais de quebras espontâneas do DNA de dupla-fita. Uma vez que a quebra ocorra em dois locais no genoma, as duas extremidades quebradas podem ser unidas em conjunto, mesmo sem qualquer homologia óbvia na sequência entre as duas extremidades (um processo denominado reparo por união de extremidades não homólogas). MUTAÇÕES GÊNICAS A mutações gênicas ou de DNA, incluindo a substituição de um par de bases, inserções e deleções, podem originar-se por qualquer um de dois mecanismos básicos: erros introduzidos durante a replicação do DNA ou mutações decorrentes de uma falha no reparo correto do DNA após lesão. Muitas dessas mutações são espontâneas e surgem durante os processos normais (mas imperfeitos) de replicação e reparo do DNA, enquanto outras são induzidas por agentes físicos ou químicos, chamados de mutagênicos. ERROS DE REPLICAÇÃO DO DNA O processo de replicação do DNA é altamente preciso; a maioria dos erros de replicação (i.e., a inserção de uma base diferente da base complementar que restauraria o par de bases nessa posição da dupla-hélice) é rapidamente removida do DNA e corrigida por uma série de enzimas de reparo de DNA que primeiramente reconhecem qual fita na dupla-hélice recém-sintetizada contém a base incorreta e, em seguida, substituem-na com a base complementar adequada, um processo denominado revisão do DNA (proofreading). A replicação do DNA precisa ser um processo notavelmente exato; caso contrário, o ônus da mutação nos organismos e nas espécies seria intolerável. A enzima DNA polimerase duplica fielmente as duas fitas da dupla- hélice com base em regras rigorosas de pareamento de bases (A pareia com T , C pareia com G), mas introduz um erro a cada 10 milhões de pb. Uma revisão adicional, em seguida, corrige mais de 99,9% desses erros de replicação do DNA. Assim, a taxa de mutação total por base, como resultado de erros de replicação, é consideravelmente menor que 1 × 10-10 por divisão celular — menor que uma mutação por genoma por divisão celular. REPARO DA LESÃO DO DNA Em adição aos erros de replicação, estima-se que entre 10.000 e um milhão de nucleotídeos sejam danificados por célula humana por dia devido a processos químicos espontâneos, tais como a depurinação, a desmetilação ou a desaminação; por reação com mutagênicos químicos (naturais ou não) no ambiente; e por exposição à radiação ultravioleta ou ionizante. Algumas dessas lesões, mas nem todas, são reparadas. Mesmo que a lesão seja reconhecida e destruída, a maquinaria de reparo pode criar mutações através da introdução de bases incorretas. Assim, em contraste com as alteraçõesdo DNA relacionadas à replicação, as quais são geralmente corrigidas por meio de mecanismos de revisão, as alterações de nucleotídeos introduzidos por lesão e reparo do DNA muitas vezes resultam em mutações permanentes. Uma mutação espontânea particularmente comum é a substituição de T por C (ou A por G na outra fita). Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR DIFERENÇAS SEXUAIS E EFEITOS DA IDADE NAS TAXAS DE MUTAÇÃO Como o DNA no esperma é submetido a muito mais ciclos de replicação do que o DNA nos óvulos, há maior oportunidade de ocorrerem erros; pode-se prever, portanto, que muitas mutações sejam mais frequentemente de origem paterna que materna. Quando estas foram exploradas, as novas mutações responsáveis por determinadas condições são geralmente mutações de sentido trocado (missense) que surgem quase sempre na linhagem paterna. Além disso, quanto mais velho o homem for, mais ciclos de replicação terão precedido as divisões meióticas, e, portanto, seria esperado que a frequência de novas mutações paternas aumentasse com a idade do pai. TIPOS DE MUTAÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS ➔ Substituições Nucleotídicas Mutações de Sentido Trocado Uma única substituição de nucleotídeo (ou mutação pontual) em uma sequência gênica pode alterar o código em uma trinca de bases e causar a substituição não sinônima de um aminoácido por outro no produto gênico. Tais mutações são denominadas mutações de sentido trocado (missense) porque alteram o “sentido” da codificação do gene ao especificar um aminoácido diferente. Embora nem todas as mutações de sentido trocado conduzam a uma alteração observável na função proteica, a proteína resultante pode não funcionar adequadamente, pode tornar-se instável e degradar-se rapidamente, ou pode falhar em localizar a sua posição intracelular correta. Em muitos distúrbios, tais como a β-talassemia, a maioria das mutações detectadas em diferentes pacientes compreende mutações de sentido trocado. Mutações sem sentido As mutações pontuais em uma sequência de DNA que causam a substituição de um códon normal para um aminoácido por um dos três códons de término (ou “parada”) são chamadas de mutações sem sentido (nonsense). Como a tradução do RNA mensageiro (RNAm) cessa quando o códon de término é atingido, uma mutação que converte um éxon codificante em um códon de término promove a parada da tradução no meio da sequência codificante do RNAm. As consequências das mutações de término prematuras são duplas. Em primeiro lugar, o RNAm transportando uma mutação prematura é frequentemente alvo de rápida degradação (através de um processo celular conhecido como decaimento do RNAm mediado por mutações sem sentido), e a tradução não é possível. Em segundo, mesmo que o RNAm seja suficientemente estável para ser traduzido, a proteína truncada é tão instável que é rapidamente degradada dentro da célula. Mutações que Afetam a Transcrição, o Processamento e a Tradução do RNA O mecanismo normal pelo qual os transcritos iniciais de RNA são feitos e depois convertidos em RNAms maduros (ou versões finais de RNAs não codificantes) requer uma série de modificações, incluindo a ligação de fatores de transcrição, o capeamento 5′, a poliadenilação e o splicing. Todos esses passos de maturação do RNA dependem de sequências específicas dentro do RNA. ➔ Deleções, Inserções e Rearranjos As mutações também podem ser causadas por inserção, deleção ou rearranjo nas sequências de DNA. Algumas deleções e inserções envolvem apenas alguns nucleotídeos e são, em geral, mais facilmente detectadas pelo sequenciamento direto dessa parte do genoma. Em outros casos, um segmento substancial de um gene ou um gene inteiro é deletado, duplicado, invertido, ou translocado para criar uma nova organização de sequências gênicas. Algumas deleções afetam apenas um pequeno número de pares de bases. Quando tal mutação ocorre em uma sequência codificante e o número de bases envolvidas não é um múltiplo de três (i.e., não é um número completo de códons), o quadro de leitura será alterado começando no ponto de inserção ou deleção. O resultado das mutações é chamado de mutações de mudança de matriz de leitura (frameshift). A partir do ponto de inserção ou de deleção, uma sequência diferente de códons é, portanto, gerada, codificando aminoácidos incorretos seguidos por um códon de término na matriz alterada, o que levará a um produto proteico funcionalmente alterado. Em contraste, se o número de pares bases inserido ou deletado for um múltiplo de três, não ocorrerão mudanças na matriz Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR de leitura e haverá uma simples inserção ou deleção de aminoácidos correspondentes no produto gênico normalmente traduzido. Mutações Dinâmicas As mutações em alguns distúrbios envolvem a amplificação de uma sequência de repetição de nucleotídeos simples. Por exemplo, repetições simples, tais como (CCG)n, (CAG)n ou (CCTG)n localizadas na porção codificante de um éxon, em uma região não traduzida de um éxon, ou mesmo em um íntron, podem expandir-se durante a gametogênese, o que é denominado mutação dinâmica, interferindo com a expressão gênica normal ou com a função proteica. Uma repetição expandida na região codificante irá gerar um produto proteico anormal, enquanto a expansão da repetição em regiões não traduzidas ou íntrons de um gene pode interferir com a transcrição, o processamento de RNA ou a tradução. MUTAGÊNESE Mutagênese é um evento marcado pela produção de mutações no material genético, ou seja, está relacionado com a produção de alterações na sequência de DNA e por ter relação com a Carcinogênese, que é a geração de um câncer. Essa relação se deve ao fato de que o desenvolvimento de um câncer pode depender da existência das mutações. As mutações podem ser vantajosas como nos casos em que geram variabilidade genética, mas também podem levar distúrbios genéticos e a cânceres = processos que envolvem o desenvolvimento de neoplasias (acúmulo anormal de células que ocorrem por desequilíbrios entre proliferação celular e o desgaste celular). O desenvolvimento do câncer (oncogênese) resulta de mutações em um ou mais genes reguladores do crescimento celular e da morte celular. Também chamada de carcinogênese, a geração de um câncer está diretamente relacionada com a mutagênese, que é a produção de alterações na sequência de DNA. Mutações nas células germinativas: embora a mutação original tenha ocorrido apenas no DNA das células da linhagem germinativa, qualquer pessoa que herdasse esta mutação a carregaria como uma mutação constitucional em todas as células do corpo. As mutações somáticas, ao contrário, ocorrem em todo o corpo, mas não podem ser transmitidas à geração seguinte. Contudo, mutações nessas células podem contribuir para o desenvolvimento do câncer. A iniciação do tumor ocorre por alterações genéticas que incluem: → Mutações ativadoras ou de ganho de função, incluindo amplificação gênica, mutações de ponto e promotoras que mudam um alelo de um proto- oncogene para um oncogene; → Mutações ectópicas e heterogêneas de proto- oncogenes; → Translocações cromossômicas que causam a má expressão de genes ou criam genes quiméricos que codificam proteínas com novas propriedades funcionais; → Perda de função de ambos os alelos ou mutação negativa dominante de um alelo do TSG. Uma vez iniciado, o câncer progride pelo número de danos genéticos adicionais, por meio de mutações ou silenciamentoepigenético, de genes de manutenção que codificam a maquinaria que repara os danos ao DNA e mantém a normalidade citogenética. Outra consequência do dano genético é a expressão alterada de genes que promovem a vascularização e disseminação do tumor através de invasão local ou metástases distantes. Princípios relacionados com a oncogênese: → O cerne da carcinogênese é o dano genético não letal, ou mutação, que pode ser causada por agentes adquiridos ou hereditários; → Um tumor é formado pela expansão clonal de uma única célula precursora que sofre lesão genética e a maioria dos tumores malignos são monoclonais. → Os principais alvos do dano genético são os genes reguladores de quatro classes: a. Genes proto-oncogenes promotores do crescimento- com alelos dominantes (basta um estar lesionado para a oncogênese ocorrer). b. Genes supressores do tumor que inibem o crescimento- seus 2 alelos devem estar lesionados ou deve haver haploinsuficiência para que ocorra a transformação. c. Genes que regulam a apoptose d. Genes de reparo de DNA. - Afetam a proliferação ou a sobrevivência da célula através da influência em reparar danos não letais em outros genes como os próprios reguladores. Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR e. microRNA- descoberta recente; age como os oncogenes ou como os supressores de tumor. CARCINOGÊNESE A carcinogênese é um processo de múltiplas etapas tanto a nível fenotípico quanto a nível genético, sendo resultado do acumulo de múltiplas mutações, sendo essas herdadas ou somáticas. É também lento, gradual e complexo, onde funções celulares são alteradas acarretando no surgimento de um tumor. Apesar de a maioria dos tumores malignos ser de origem monoclonal, quando eles se tornam clinicamente evidentes suas células constituintes são extremamente heterogêneas. Isso porque durante a progressão, as células tumorais estão sujeitas a pressões de seleção imune e não imune. AGENTES CARCINOGÊNICOS E SUAS INTERAÇÕES CELULARES →Etapas Envolvidas na Carcinogênese Química ➢ A iniciação resulta da exposição das células a uma dose suficiente de agentes carcinogênicos (iniciadores); uma célula iniciada está alterada, tornando-a potencialmente capaz de dar origem a um tumor. A iniciação isoladamente, contudo, não é suficiente para a formação do tumor; ➢ A iniciação provoca dano permanente ao DNA (mutações). Ela é, portanto, rápida e irreversível, possuindo “memória”. ➢ Os promotores podem induzir os tumores nas células iniciadas, mas eles não são tumorigênicos por si mesmos. Além disso, não há formação de tumores quando o agente promotor é aplicado antes, ao invés de depois, do agente iniciador. Isso indica que, em contraste com os efeitos dos iniciadores, as alterações celulares que resultam da aplicação dos promotores não afetam o DNA diretamente e são reversíveis. As substâncias químicas que podem causar a iniciação da carcinogênese podem ser classificadas em duas categorias: de ação direta e de ação indireta. →Agentes de ação direta: Os agentes de ação direta não requerem a conversão metabólica para se tornarem carcinogênicos. A maioria deles são carcinógenos fracos, mas importantes, porque alguns são drogas quimioterápicas para o câncer (p. ex., agentes alquilantes) que curaram, controlaram ou adiaram a recorrência com sucesso em certos tipos de câncer (p. ex., leucemia, linfomas e carcinoma de ovário), somente para evocar, mais adiante, uma segunda forma de câncer, geralmente a leucemia mieloide aguda. São poucos representantes, são principalmente eletrofilos reativos (compostos que procuram e reagem com centros de carga negativa em outros compostos). Esses compostos podem modificar as bases do DNA ao reagir quimicamente com os átomos de nitrogênio e oxigênio distorcendo o padrão normal de pareamento entre as bases. Caso não haja reparação eles permitem a incorporação de um nucleotídeo incorreto durante a replicação. Ex: etilmetano sulfonato (EMS), dimetil sulfato (DMS) e as mostardas nitrogenadas. Eles não requerem conversão metabólica para se tornarem carcinógenos. →Agentes de ação indireta: A designação de agentes de ação indireta refere-se às substâncias químicas que requerem a conversão metabólica para um carcinógeno em sua forma final antes que eles se tornem ativos. Um dos mais potentes Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR carcinógenos químicos indiretos – os hidrocarbonetos policíclicos – estão presentes em combustíveis fósseis. Outros, por exemplo, o benzopireno e outros carcinógenos, são formados na combustão de altas temperaturas do tabaco no fumo do cigarro. Esses produtos estão envolvidos na etiologia do câncer de pulmão em fumantes de cigarro. São compostos não-reativos, insolúveis em água e atuam como potentes indutores de câncer apenas após a introdução de centros eletrofilicos. As enzimas do citocromo p-450 (a susceptibilidade aos carcinógenos é regulada em parte por polimorfismos nos genes que codificam essas enzimas, assim pode-se avaliar o risco de câncer em um indivíduo através da análise genética de tal polimorfismo enzimático) localizadas no reticulo endoplasmático das células hepáticas normalmente funcionam adicionando centros eletrofilicos aos compostos químicos externos não-polares (ex: certos inseticidas e drogas terpaeuticas, hidrocarbonetos policíclicos presentes nos combustíveis fósseis) a fim de solubiliza-los para serem excretados. Porém, estas enzimas podem tornar compostos químicos inócuos em carcinógenos. Requerem a conversão metabólica para um carcinógeno em sua forma final antes que se tornem ativos. *A potência carcinogênica de uma substância química é determinada não somente pela atividade inerente de seu derivado eletrofílico, mas também pelo equilíbrio entre ativação metabólica e reações de inativação. Existem também agentes que não provocam mutação, mas estimulam a divisão de células mutadas, conhecidos como promotores. Para que a alteração seja hereditária, o molde de DNA danificado deve ser replicado. Assim, para que a iniciação ocorra, as células alteradas pelo carcinógeno devem sofrer pelo menos um ciclo de proliferação de forma que as alterações no DNA se tornem fixas. CARCINOGÊNESE POR RADIAÇÃO A energia de radiação, quer seja na forma de raios UV da luz solar ou sob a forma de ionização eletromagnética e radiação particulada, é um carcinógeno bem estabelecido. A luz UV está claramente envolvida na etiologia dos cânceres de pele, e a exposição à radiação ionizante devido à exposição médica ou ocupacional, acidentes de usinas nucleares e detonações de bombas atômicas produziu uma diversidade de cânceres. ➔ Raios UV Os canceres de pele não melanoma estão associados à exposição cumulativa à radiação UV, enquanto os melanomas estão associados à intensa exposição intermitente. A porção de UV do espectro solar pode ser dividida em três grandes gamas de comprimento: UVA(320-400nm), UVB(280320nm) e UVC(200 a 280nm). Dentre eles o UVB é responsável pela indução do câncer de pele. O UVC é um potente mutagênico, mas não é considerado um significativo por ser filtrado pela camada de ozônio. A luz UVB é carcinogênica por induzir a formação de dímeros de pirimidina no DNA. Que é reparado pelo reparo de excisão de nucleotídeos. Com a exposição solar excessiva, a capacidade dessa via de reparo é superada e os mecanismos de reparo do DNA não moldado propensos a erros se tornam operantes. Isso, provoca a sobrevivência da célulaa custa de mutações genômicas que podem levar ao câncer em alguns casos. Nesse sentido, indivíduos com xeroderma pigmentoso tem maior tendência ao câncer de pele, melanomas ou carcinomas de células escamosas. Tendo em vista que, estes indivíduos não possuem um mecanismo de reparo eficiente. ➔ Radiação Ionizante As radiações eletromagnéticas (raios X e raios γ) e particuladas (partículas α e β, prótons e nêutrons) são todas carcinogênicas. Em humanos há uma vulnerabilidade hierárquica de diferentes tecidos a cânceres induzidos por radiação. Os mais frequentes são as leucemias mieloides aguda e crônica. O câncer da tiroide segue de perto, mas somente nos jovens. Na categoria intermediária estão as neoplasias malignas de mama, pulmões e glândulas salivares. CARCINOGÊNESE MICROBIANA ➔ Vírus oncogênicos de RNA Vírus da leucemia de Células T humanas tipo1: o HTLV-1 esta firmemente envolvido na etiologia do câncer em humanos. Ele provoca uma forma de linfoma/leucemia de células T que é endêmica em certas partes do Japão e na bacia caribenha. Similar à SIDA, o HTLV-1 possui um tropismo para as Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR células TCD4+, logo elas são o alvo principal da transformação neoplásica. A infecção requer a transmissão de células T infectadas através do ato sexual, de produtos do sangue ou da amamentação materna. A leucemia se desenvolve em 3 a 5% dos indivíduos infectados possuindo um período de latência de cerca de 40 a 60 anos. Porem os mecanismos de leucogenese pelo HTLV-1 não são esclarecidos. o HTLV-1 em contraste com diversos retrovírus não contem um oncogene e não foi descoberta uma integração consistente próxima a um proto-oncogene. Porem, nas células leucêmicas, a integração viral mostra um padrão clonal. O HTLV-1 em contraste a outros retrovírus possuem uma região referida como tax. O produto do gene tax são essenciais para a replicação viral, pois ele estimula a transcrição do RNAm viral através da ação na repetição terminal longa 5’. A proteína tax também pode ativar transcrição de genes na célula hospedeira (envolvidos na proliferação e diferenciação das células T), dentre eles: FOS (gene imediato precoce), genes que codificam a interleucina-2 (il-2) e seu receptor, e o gene para o fator de crescimento mieloide, o fator estimulante de colônia de granulócitos- macrófagos. Além disso a proteína tax desregula o ciclo celular (inativa o inibidor p16/INK4a e melhora ativação da ciclina D), ela também ativa o NF-kapabeta, um fator de transcrição que regulam muitos genes incluindo os antiapoptóticos. Ela também contribui para transformação maligna por meio da instabilidade genômica (ele interfere nas funções de reparo de DNA e inibe os pontos de checagem do ciclo celular mediados por ATM que são ativados por dano ao DNA). As etapas para formação da leucemia/linfoma de células T no adulto: a infecção por HTLV-1 provoca expansão da população de células policlonais não malignas através de efeitos estimulatórios da Tax na proliferação celular. As células T em proliferação possuem risco aumentado de mutação e instabilidade genômica induzida por tax. A instabilidade permite acumulo de mutações e anomalias cromossômicas e eventualmente surge uma população neoplásica monoclonal de células T. as células malignas replicam, independentemente da IL-2, e contem anomalias moleculares e cromossômicas. ➔ Vírus oncogênicos de DNA PAPILOMA VIRUS HUMANO (HPV): os tipos de alto risco expressam proteínas oncogênicas que inativam os supressores de tumor, ativam ciclinas, inibem a apoptose e combatem a senescência celular. Pelo menos 70 tipos geneticamente distintos foram identificados (alguns que provocam papiloma escamoso benigno e outros de alto risco, envolvidos na gênese de diversos canceres, principalmente do carcinoma de células escamosas do colo do útero e da região anogenital). Além disso, 20% dos canceres de orofaringe estão associados ao HPV. Nas verrugas genitais (benignas) o genoma do HPV é mantido em sua forma epissomal, já em casos de canceres o genoma é integrado ao genoma do hospedeiro. O sitio de integração viral em cromossomo hospedeiro é aleatório (assim como no HTLV1), mas o padrão de integração é clonal. Não há associação consistente a um proto-oncogene do hospedeiro. Em vez disso, à integração interrompe o DNA viral dentro da fase de leitura aberta E1/E2, levando à perda do repressor viral E2 e à superexpressão das oncoproteinas E6 e E7. Os genes virais E6 e E7 interagem com uma variedade de proteínas reguladoras do crescimento codificadas por proto-oncogenes e por genes supressores de tumor. A proteína E7 promove a progressão através do ciclo celular por deslocar os fatores de transcrição E2F ao se ligar à proteína RB. Nos tipos de HPV de alto risco a proteína E7 tem maior afinidade pela proteína RB. Ela também inativa as CDKI p21 e p27 e, nos grupos de alto risco, ativam as ciclinas E e A. A proteína E6 se liga e medeia a degradação da p53 e da BAX (membro pró-apoptótico da família BLC2), ativa a telomerase. VIRUS EPSTEIN-BARR (EBV): é um membro da família herpes. Ele infecta os linfócitos B e possivelmente as células epiteliais da orofaringe. Ele usa o receptor do complemento CD21 para se ligar e infectar as células B. A infecção dessas células é latente (não morrem e não há replicação viral). As células infectadas latentemente são imortalizadas e adquirem a habilidade de se propagar indefinidamente in vitro. As bases moleculares para proliferação das células B induzidas por EVB consiste na usurpação de diversas vias normais de sinalização. O gene LMP- 1 do EBV (uma proteína de membrana latente) age como um oncogene. Ela se comporta como um Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR receptor de CD40 constitutivamente ativo, um receptor-chave dos dois sinais de células T auxiliares que estimula o crescimento das células B. Ela ativa as vias de sinalização (NF-kappabeta e JAK/SAT) e promove a sobrevivência das células B e sua proliferação, tudo ocorrendo de forma autônoma (sem sinais externos). Ao mesmo tempo a LMP-1 evita a apoptose por ativação do BCL2. O gene EBNA-2 codifica uma proteína nuclear que mimetiza um receptor Notch constitutivamente ativo. A EBNA-2 provoca a transativação de diversos genes hospedeiros, incluindo a ciclina D e a família src de proto-oncogenes. O genoma do EBV contem uma citocina viral vIL-10, que foi sequestrada do hospedeiro. Ela pode evitar que macrófagos e monócitos ativem as células T e é requerida para a transformação dependente de EBV das células B. indivíduos imunologicamente normais a proliferação de células B policlonais induzida por EBV é rapidamente controlada e o indivíduo pode permanecer assintomático ou desenvolver um episodio auto limitado de mononucleose infecciosa. Logo, a evasão do sistema imune é um passo-chave na oncogenese relacionada ao EBV. Linfoma de Burkitt: é um neoplasma de linfócitos B que é o tumor da infância mais comum na África central e na nova guine. Nesse caso, o EBV não é diretamente oncogênico, mas ao agir como um mitógeno policlonal das células B, ele dita estagio para a aquisição da translocação t e de outras mutações, que, em ultima analise liberam as células da regulação normal do crescimento. Em indivíduos normais, a infecção por EBV é rapidamente controlada por respostas imunes efetivas dirigidas contra antígenos virais expressos nas membranas celulares. Assim, a vasta maioria de indivíduos infectados permaneceassintomáticas ou desenvolve mononucleose infecciosa autolimitada. Em regiões da africa onde o linfoma de Burkitt é endêmico, cofatores pouco compreendidos (malária crônica por exemplo) podem favorecer a aquisição de eventos genéticos (translocação por exemplo) que levam à transformação. Em pacientes imunossuprimidos esses linfomas de células B são policlonais desde o inicio, mas podem desenvolver-se em neoplasmas monoclonais. Em contraste com o linfoma de Burkitt eles expressam uniformemente LMP-1 e EBNA2, que são reconhecidos pelas células T citotóxicas. Essas proliferações potencialmente letais podem ser subjugadas se o estado imunológico do hospedeiro melhora (retirada das drogas imunossupressoras em transplantados). O Carcinoma nasofaríngeo (comum no sul da china, ártico e parte da africa) possui relação ao EBV. 100% dos casos encontrados possuem DNA do EBV. A integração nas células do hospedeiro é clonal. Os anticorpos contra os antigenos do capsídeo viral estão grandemente elevados, e em áreas virais os pacientes desenvolvem anticorpos IgA antes do aparecimento dos tumores. Nesse caso a LMP-1 também é expressa nas células epiteliais. Nessas células, assim como nas B, a LMP-1 ativa a via da NF-kappaB. Além disso, a LMP-1 induz a expressão de fatore pró- angiogenicos tais como VEGF, FGF-2, MMP9 e COX2, que podem contribuir para a oncogênese. VIRUS DAS HEPATITES B E C: em casos de infecções crônicas não solucionada como na hepatite viral ou na gastrite crônica por H. pylori, a resposta imune pode se tornar inadequada, promovendo tumorigenese. O genoma do HBV possui um gene conhecido como HBx que pode ativar direta ou indiretamente uma diversidade de fatores de transcrição e diversas vias sinais de transdução. Além disso, a integração viral pode provocar rearranjos secundários dos cromossomos, incluindo múltiplas deleções que podem abrigar genes supressores de tumor desconhecidos. Apesar de não ser um vírus DNA, o HCV também está fortemente ligado à patogenia do câncer de fígado. Os mecanismos moleculares usados pelo HCV são menos bem definidos do que aqueles do HBV. Além da injuria celular crônica ao fígado e da regeneração compensatória, os componentes do genoma do HCV, tais como a proteína central do HCV, podem ter um efeito direto na tumorigenese, possivelmente pela ativação de uma variedade de vias de transdução de sinal promotoras de crescimento. HELICOBACTER PYLORI: é a primeira bactéria a ser classificada como carcinogênica. Está envolvida na gênese tanto dos adenocarcinomas gástricos quanto dos linfomas gástricos. O cenário para desenvolvimento do adenocarcinoma gástrico envolve a proliferação aumentada de células epiteliais e um histórico de inflamação crônica. O ambiente inflamatório (assim como na hepatite viral) possui muitos Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR agentes genotoxicos como espécies reativas de oxigênio por exemplo. Há um desenvolvimento inicial da gastrite crônica, seguida por atrofia gástrica, metaplasia intestinal das células do revestimento, displasia e câncer. Leva décadas para completar a sequencia e só ocorre em 3% dos pacientes infectados. O genoma da H. pylori contem genes diretamente implicados na oncogênese. foi demonstrado que cepas associadas ao adenocarcinoma gástrico contem uma “ilha de patogeinicidade” que abriga o o gene associado à citotoxina A (CagA). Ela penetra nas células epiteliais gástricas, onde realiza iniciação de uma cascata de sinalização que mimetiza a estimulação desregulada de fatores de crescimento. Além disso o H. pylori está associado a um risco aumentado para desenvolvimento de linfomas gástricos. Eles possuem origem nas células B, e como os tumores lembram algumas das características das placas de Peyer normais, frequentemente eles são chamados de linfomas da mucosa associada ao tecido linfoide, ou MALTomas. A patogenia molecular deles ainda não é completamente compreendida (mas parece envolver polimorfismos nos promotores de citocinas inflamatórias, como a IL- 1 e o fator de necrose tumoral (TNF). NEOPLASIA Câncer é o nome usado para descrever as formas mais agressivas de neoplasia, um processo patológico caracterizado por uma proliferação celular descontrolada que leva ao surgimento de uma massa ou tumor (neoplasma). Existem 3 classes principais de câncer: ➢ Sarcomas, casos em que o tumor é originado no tecido mesenquimal, tal como osso, músculo ou tecido conjuntivo, ou no tecido do sistema nervoso. ➢ Carcinomas, casos em que o tumor se origina no tecido epitelial, tal como as células de revestimento do intestino, brônquios, ou ductos mamários. ➢ Neoplasmas malignos hematopoiéticos e linfoides, tais com leucemia e linfoma, que se disseminam por toda a medula óssea, sistema linfático e sangue periférico. Dentro de cada um dos principais grupos, os tumores são classificados pelo local, tipo tecidual, aspecto histológico, grau de malignidade, aneuploidia cromossômica e, cada vez mais, por quais mutações gênicas e anormalidades na expressão gênica são encontradas no tumor. BASE GENÉTICA DO CÂNCER MUTAÇÕES GÊNICAS “CONDUTORAS” E “PASSAGEIRAS” O número de mutações presentes em um tumor pode variar desde somente algumas até muitas dezenas de milhares. A maioria das mutações encontradas pelo sequenciamento do tecido tumoral parece ser aleatória, não é recorrente em tipos específicos de câncer, e, provavelmente, ocorreu à medida que o câncer se desenvolveu, e não provocando diretamente o desenvolvimento ou a progressão da neoplasia. Tais mutações são denominadas de mutações “passageiras”. Todavia, um subconjunto de algumas centenas de genes tem sido repetidamente considerado como sofrendo mutações em alta frequência em muitas amostras do mesmo tipo de câncer ou mesmo em múltiplos tipos diferentes de câncer, com mutações em uma frequência tão alta que seria difícil que fossem mutações passageiras. Assim, presume-se que esses genes estejam envolvidos no desenvolvimento ou na progressão do câncer em si e, portanto, são considerados como genes “condutores”, ou seja, eles abrigam mutações (assim chamadas mutações gênicas condutoras) que provavelmente provocam o desenvolvimento ou a progressão de um câncer. Embora muitos genes condutores sejam específicos para determinados tipos de tumor, alguns, como o gene TP53 que codifica a proteína p53, são encontrados na vasta maioria de cânceres de muitos tipos diferentes. ESPECTRO DAS MUTAÇÕES GÊNICAS CONDUTORAS Muitas diferentes alterações do genoma podem agir como mutações gênicas condutoras. Em alguns casos, uma mudança em um único nucleotídeo ou uma inserção ou deleção pequena pode ser uma mutação condutora. Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR Alguns agentes ambientais, como carcinógenos da fumaça do cigarro ou radiação por raios UV ou raios X, irão aumentar a taxa de mutação ao longo do genoma. Caso ocorram mutações em genes condutores críticos em uma determinada célula, então o processo de oncogênese pode ser iniciado. Mutações cromossômicas e subcromossômicas também podem servir como mutações condutoras. Translocações particulares algumas vezes são altamente específicas para determinados tipos de câncer e envolvem genes específicos (p. ex., a translocação BCR-ABL na leucemia mieloide crônica; por outro lado, outras neoplasias podem mostrar rearranjos complexos nos quais os cromossomos se quebram em numerosos fragmentos e se reúnem, formando combinações novase complexas (um processo conhecido como “estilhaçamento cromossômico”). Já as grandes alterações genômicas envolvendo muitas quilobases de DNA podem formar a base para a perda da função ou aumento da função de um ou mais genes condutores. Essas grandes alterações incluem deleções de um segmento de um cromossomo ou multiplicação de um segmento cromossômico para produzir regiões com muitas cópias do mesmo gene (amplificação gênica). AS FUNÇÕES CELULARES DOS GENES CONDUTORES Algumas mutações gênicas condutoras afetam diretamente genes específicos que regulam processos que são prontamente reconhecidos como sendo importantes na oncogênese. Esses processos incluem regulação do ciclo celular, proliferação celular, diferenciação e saída do ciclo celular, inibição do crescimento pelos contatos célula- célula e mote programada (apoptose). Contudo, os efeitos de outras mutações gênicas condutoras não são reconhecidos tão prontamente e incluem genes que agem de modo mais global e afetam indiretamente a expressão de muitos outros genes. Incluídos nesse grupo encontram-se genes que codificam produtos que mantêm a integridade do DNA e genoma ou genes que afetam a expressão gênica, em nível de transcrição pelas mudanças epigenômicas, em nível pós--transcricional através de efeitos sobre a tradução ou estabilidade do RNA mensageiro (RNAm) ou em nível pós-traducional através de seus efeitos no turnover da proteína. Outros genes condutores afetam a tradução, por exemplo, genes que codificam RNAs não codificantes a partir dos quais são derivados micro RNAs (miRNAs) reguladores. Detectou-se que muitos miRNAs são altamente superexpressos ou sub-regulados em vários tumores, algumas vezes de forma exuberante. Uma vez que cada miRNA pode regular até 200 diferentes genes-alvo, a superexpressão ou subexpressão de miRNAs pode ter disseminado efeitos oncogênicos, porque muitos genes condutores serão desregulados. Os miRNAs não codificantes que causam impacto na expressão gênica e contribuem para a oncogênese são denominados como oncomiRs. ONCOGENES ATIVADOS E GENES SUPRESSORES TUMORAIS Ambas as classes de genes condutores — aqueles com efeitos específicos sobre a proliferação celular ou a sobrevivência e aqueles com efeitos globais no genoma ou integridade do DNA (expostos nas 2 tabelas acima) —podem ser adicionalmente Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR subdivididos em uma ou duas categorias funcionais, dependendo de como, caso sofram mutações, eles dirigem a oncogênese. A primeira categoria inclui os proto-oncogenes. Esses são genes normais que, quando sofrem mutação por muitos caminhos específicos, tornam- se genes condutores através de alterações que conduzem a níveis excessivos de atividade. Uma vez que sofrem mutação por esse caminho, os genes condutores desse tipo são denominados oncogenes ativados. Apenas uma única mutação em um alelo pode ser suficiente para ativação, e as mutações que ativam um proto-oncogene podem variar desde mutações pontuais altamente específicas, causando a desregulação ou a hiperatividade de uma proteína, passando por translocações cromossômicas que guiam a superexpressão de um gene, até eventos de amplificação gênica que criam uma superabundância do RNAm codificado e do produto proteico. A segunda e mais comum categoria de genes condutores inclui os genes supressores de tumor (TSGs, do inglês tumor supressor genes), no quais mutações causam uma perda da expressão de proteínas necessárias para controlar o desenvolvimento de neoplasias. Para guiar a oncogênese, a perda de função de um TSG requer tipicamente mutações em ambos os alelos. Existem muitos caminhos pelos quais uma célula pode perder a função dos alelos TSG. Os mecanismos de perda de função podem variar desde mutações de sentido trocado (missense), sem sentido (nonsense), ou de mudança de matriz de leitura (frameshift) até deleções gênicas ou perda de uma parte ou mesmo um cromossomo inteiro. A perda de função dos TSGs também pode resultar de silenciamento epigenômico transcricional, em virtude da alteração da conformação da cromatina ou da metilação do promotor, ou ao silenciamento traducional pelos miRNAs ou perturbações em outros componentes da estrutura traducional. HETEROGENEIDADE CELULAR DENTRO DE TUMORES INDIVIDUAIS O acúmulo de mutações gênicas condutoras não ocorre sincronicamente em todas as células do tumor. Ao contrário, o câncer evolui ao longo de várias linhagens dentro de um tumor, como eventos mutacionais e epigenéticos aleatórios em diferentes células ativando os proto-oncogenes e paralisando a maquinaria para manter a integridade do genoma, levando a mais alterações genéticas, em um círculo vicioso de mais mutações e agravamento do controle do crescimento. As linhagens que experimentam um aumento do crescimento, sobrevivência, invasão e disseminação a distância virão a predominar conforme o câncer evolui e progride. Dessa forma, o clone original de células neoplásicas evolui e dá origem a várias sublinhagens, cada uma carregando um conjunto de mutações e alterações epigenômicas que são diferentes, mas se sobrepõem com o que é carregado em outras sublinhagens. O perfil de mutações e alterações epigenômicas pode diferir entre as mutações primárias e suas metástases, entre diferentes metástases e mesmo entre as células do tumor original ou dentro de uma única metástase. Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR BASE GENÉTICA DO CÂNCER Independentemente do fato de um câncer ocorrer esporadicamente em um indivíduo, como resultado de mutação somática, ou repetidamente em muitos indivíduos em uma família como um traço hereditário, o câncer é uma doença genética. • Genes nos quais mutações causam câncer são denominados de genes condutores, e as mutações causadoras de câncer nesses genes são mutações condutoras. • Genes condutores classificam-se em duas categorias distintas: Oncogenes ativados e genes supressores de tumor (TSGs). • Um oncogene ativado é um alelo mutante de um proto-oncogene, uma classe de genes que codifica proteínas celulares normais que promovem o crescimento e a sobrevivência celular. Os oncogenes facilitam a transformação maligna, estimulando a proliferação ou inibindo a apoptose. Oncogenes que codificam proteínas como, por exemplo, as seguintes: →Proteínas em vias de sinalização para a proliferação celular →Fatores de transcrição que controlam a expressão de genes promotores do crescimento →Inibidores da maquinaria da morte celular programada • Um TSG é um gene em que a perda da função através de mutação ou silenciamento epigenômico remove diretamente os controles reguladores normais sobre o crescimento celular ou conduz indiretamente a essas perdas através de uma taxa de mutação aumentada ou expressão gênica aberrante. Os TSGs codificam proteínas envolvidas em muitos aspectos da função celular, incluindo a manutenção do número e estrutura cromossômicos corretos, proteínas de reparo do DNA, proteínas envolvidas na regulação do ciclo celular, proliferação celular ou inibição do contato, apenas para citar alguns exemplos. • Iniciação do tumor pode ser causada por tipos diferentes de alterações genéticas. Essas alterações incluem mutações como, por exemplo, as seguintes: →Mutações de ativação ou ganho de função, incluindo amplificação gênica, mutações pontuais e mutações do promotor, que transformam um alelo de um proto-oncogene em um oncogene →Mutações ectópicase heterocrônicas dos proto- oncogenes Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR →Translocações cromossômicas que causam expressão anormal de genes ou criam genes quiméricos que codificam proteínas com propriedades funcionais novas →Perda de função de ambos os alelos, ou uma mutação negativa dominante de um alelo dos TSGs • A progressão tumoral ocorre como resultado do acúmulo de dano genético adicional, através de mutações ou silenciamento epigenético, de genes condutores que codificam a maquinaria que repara o DNA danificado e mantém a normalidade citogenética. Uma consequência adicional do dano genético é a expressão de genes alterada que promove a vascularização e a disseminação do tumor através de invasão local e de metástases a distância. ANGIOGÊNESE →É um processo básico na formação da massa tumoral, sendo que alguns tumores produzem fatores de crescimento para angiogênese e outros induzem as células adjacentes a sintetizar e secretar esses fatores. → A angiogênese é requerida para que o tumor cresça além de um determinado tamanho. Na ausência de novos vasos sanguíneos o tumor pode crescer até uma massa de 10 a sexta células, tamanho aprox. de 2mm de diâmetro. Pois, nesse ponto há um equilíbrio entre a divisão das células na parte externa da massa tumoral e a morte das células no centro do tumor, devido ao fornecimento inadequado de nutrientes (não há crescimento). Eles secretam sinais angiogenicos para atrair suprimento sanguíneo. Estes sinais são produzidos em resposta à hipóxia, que começa a afetar as células à medida que o tumor se expande além de um milimetro ou dois em diâmetro. → A angiogênese é requerida não somente para o crescimento continuado, mas também para o acesso à vasculatura e posterior formação de metástases. A angiogênese é, então, um correlato biológico necessário à malignidade. → Essa hipóxia ativa uma alteração angiogenica que aumenta o suprimento de sangue pelo aumento do nível de fator induzível de hipóxia (HIF-1alfa, hypoxia inducible factor- alfa1) um gene de uma proteína reguladora que por sua vez ativa a transcrição de genes que codificam fatores pró- angiogenicos, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF, vascular endothelial growth factor). Além deste, existe a secreção de fator de crescimento fibroblastico básico (bFGF), o fator de crescimento tumoral alfa (TGFalfa). →A proteína VEGF é secretada, difunde-se através do tecido (com isoformas diferentes de VEGF difundindo-se a extensões diferentes) e atua sobre as células endoteliais próximas, estimulando-as a proliferar, a produzirem proteases para ajuda-las a digerir seu caminho através da lâmina basal do capilar, ou da vênula de origem, e a formar brotos. As células da extremidade dos brotos detectam o gradiente de VEGF e movem-se na direção da fonte deste. (Outros fatores de crescimento, incluindo alguns membros da família do fator de crescimento de fibroblasto, também podem estimular a angiogênese, mediando reações para outras condições, como a inflamação.) → Quando os novos vasos se formam, trazendo sangue para o tecido, a concentração de oxigênio se eleva, a atividade de HIF1α diminui, a produção de VEGF é encerrada e a angiogênese chega ao fim. No tecido normal bem-oxigenado, a degradação contínua da proteína HIF1α mantém a concentração de HIF1α baixa: na presença de oxigênio, uma enzima que necessita de oxigênio modifica HIF1α de modo que ela seja alvo para degradação. → Cada vaso novo origina-se como um broto capilar do lado de um capilar existente ou pequena vênula. Na extremidade do broto, abrindo caminho, está uma célula endotelial com um caráter distinto. Esta célula de extremidade tem um padrão de expressão gênica um tanto diferente daquele das células endoteliais da haste que seguem atrás dela, e enquanto elas se dividem, ela não o faz; mas a característica mais surpreendente da célula da extremidade é que ela estende muitos processos longos chamados de filopódios, que parecem com aqueles de um cone de crescimento neuronal. As células da haste, entretanto, tornam-se encavadas e ocas para formar um lúmen. → As células endoteliais da extremidade que abrem caminho para o crescimento de capilares Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR normais não apenas parecem com cones de crescimento neuronal, mas também respondem de forma semelhante aos sinais no ambiente. →Os fatores pró e anti-angiogenicos são regulados por muitos genes frequentemente mutados no câncer. (ex: o gene p53, pode estimular a expressão de moléculas anti-angiongenicas como a trombospondina-1 e reprimir a expressão de próangiogenicas como VEGF). A perca da p53 em células tumorais além de remover os pontos de checagem do cilco celular gera um ambiente mais permissivo para a angiogênese. → A transcrição da VEGF também é influenciada por sinais da via RAS-MAP cinase, e mutações no RAS ou MYC aumentam a regulação da produção do VEFG. →As proteínas secretadas atraem células endoteliais e estimulam o crescimento de novos vasos sanguíneos. Esses vasos servem de suprimento sanguíneo e de via de escape para as células cancerosas formarem metástase. →O processo de angiogênese possui várias etapas: degradação da lamina basal que envolve um capilar próximo, migração das células endoteliais que revestem o capilar para dentro do tumor, divisão dessas células endoteliais e formação de uma nova membrana ao redor do capilar alongado. → Porem, os novos vasos são malfeitos, heterogêneos em diâmetro e frágeis, e possuem ainda muitas ramificações com extremidades mortas. Essas anormalidades (fruto do balanço anormal de moléculas sinalizadoras) levam a um suprimento irregular de sangue para o tumor, ajudando a criar novas regiões de hipóxia. →A hipóxia seleciona células cancerosas mutantes que são melhor adaptadas para sobreviver em um ambiente inóspito e estressante, ou seja, células com maior malignidade. → Sinais das Células Endoteliais controlam o recrutamento de Pericitos e Células Musculares Lisas para formar a Parede do Vaso →A rede vascular é remodelada continuamente enquanto ela cresce e se adapta. Um vaso recém- formado pode engrossar; ou pode brotar ramos laterais; ou pode regredir. As próprias células musculares lisas ou de outros tecidos conectivos que formam uma camada em torno do endotélio ajudam a estabilizar os vasos enquanto eles aumentam. Este processo de formação da parede do vaso inicia com o recrutamento de periquitos. Um número pequeno destas células migra em companhia das células da haste, pela parte externa de cada broto endotelial. o recrutamento e a proliferação de periquitos e células musculares lisas para formar uma parede de vaso depende da PDGF-B secretada pelas células endoteliais e dos receptores de PDGF nos periquitos e nas células musculares lisas. →Uma vez que um vaso tenha amadurecido, os sinais das células endoteliais para o tecido conectivo e o músculo liso circundante continuam a regular a função e a estrutura do vaso. Por exemplo, as células endoteliais têm mecanorreceptores que lhes permitem perceber a tensão próxima devido ao fluxo de sangue sobre sua superfície. As células reagem pela produção e liberação do gás óxido nítrico, sinalizando, dessa forma, para as células vizinhas e induzindo alterações no diâmetro do vaso e na espessura da parede para acomodar o fluxo de sangue. As células endoteliais também medeiam respostas rápidas aos sinais nervosos para a dilatação dos vasos sanguíneos,por liberação de NO para fazer o músculo liso relaxar na parede do vaso.
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