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Trabalho de Camões - Papel do Poeta em Lusíadas

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ESTADO DE MATO GROSSO 
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO-UNEMAT
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PONTES E LACERDA
DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: LITERATURA PORTUGUESA IV – VII SEMESTRE
DOCENTE: ME. ALMIR GOMES DE JESUS
DISCENTE: PABLO ANDREU TAKANO SALGUEIRO
Qual o papel do poeta em os Lusíadas?
Camões para criar uma obra épica não usou apenas versos decassílabos, contando a história de um povo, ele teve que introduzir elementos da mitologia, participações de Deuses, então mistura a mitologia com a realidade, bem como, alguns episódios que são ficção criados pelo poeta para efetivamente não ficar só um livro de história de acontecimentos do povo português.
O grande modelo do Camões é o famoso autor Petrarca, de quem ele fez muitos poemas que são quase traduções, mas na verdade são emulações, imitava, mas tentava introduzir uma novidade, era uma coisa perfeitamente legítima na época, não existia esse sentido de originalidade estrita.
Em ambos, supostos sempre tanto o engenho natural quanto o domínio técnico das regras, arte é divulgação do feito extraordinário e, também, anúncio profético de outro maior e mais perfeito, que apenas após a intervenção do poeta ou pregador poder-se-ia conceber com nitidez. Arte é, para estes dois monstros do engenho, publicidade de um passado elevado e vibrante, e, ao mesmo tempo, fiança de uma história futura ainda mais alta que ela descobre embutida ou figurada na antiga. Ao revelar esse futuro e torná-lo presente em sua própria perfeição, tal arte antecipadamente participa de sua existência e assegura a sua vinda. (PÉCORA, p. 139)
Camões e Vieira sucedem-se, pois, cada um no exercício da arte que lhe é própria, como titulares de uma impressionante e turbulenta – por assim dizer secretaria do Império. [...] Nem um, nem outro, porém, nem de longe ficaria satisfeito com um reino de palavras somente, porque, se as diziam, era para descobrir ou fabricar a passagem do desejo para um reino também histórico. Um reino, aliás, mais real que a história anterior a ele, pois seria plenamente, segundo a “verdade, nua e pura” que a invenção poética descobria, aquilo que a história ainda não concebia ou experimentava senão de maneira precária. (PÉCORA, p. 145)
	A arte como feito segundo Pécora, concentra-se na relação da arte com o feito histórico, na qual podemos encontrar no Canto V, relatando o sujeito poético que põe em destaque a importância das letras e lamenta que os portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem ao saber e à eloquência.
Dá a terra Lusitana Cipiões, 
¹Césares, Alexandros, e dá Augustos; 
Mas não lhe dá contudo aqueles deões
Cuja falta os faz duros e robustos. 
Octávio, entre as maiores opressões, 
Compunha versos doutos e venustos 
(Não dirá Fúlvia, certo, que é mentira, 
Quando a deixava Antônio por Glafira). (CAMÕES, p. 102/103 pdf)
¹Portugal tem heróis tão ilustres como os estrangeiros aqui referidos.
Em negrito, percebemos que Camões ressalta que a terra portuguesa é fértil em heróis, mas faltam-lhes dons e qualidades, sendo essa falta substituída pela dureza e frieza que os classifica como pessoas.
	Num daqueles excursos – momentos que traduzem a visão crítica do poeta, conferindo ao poema uma perspectiva interventiva - que souberam fazer da epopéia lusíada a mais aflita que se pode conceber, no limite quase inverossímil (que não aparenta ser verdadeiro) daquilo que admitiria um discurso de louvor, defrontam-se surpreendentemente o herói e o poeta.
	No Canto VII temos a reflexão suscitada pelo pedido do Catual a Paulo da Gama para que lhe explique o significado das figuras desenhadas nas bandeiras da nau.
	No final do Canto VII percebemos a repetição da palavra “agora” concedida como anáfora que reforça a quantidade de infortúnios que lhe aconteceram.
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores 
O vosso Tejo cria valorosos, 
Que assim sabem prezar, com tais favores, 
A quem os faz, cantando, gloriosos! 
Que exemplos a futuros escritores, 
Pera espertar engenhos curiosos, 
Pera porem as cousas em memória 
Que merecerem ter eterna glória!
	Nas quatro primeiras linhas da estrófe temos a questão da ironia, na qual o poeta crítica a todos aqueles que não valorizam os poetas ou escritores.
 E nas quatro útlimas temos a reflexão do poeta acerca da desvalorização que não fomenta o aparecimento de novos escritores, o que acarretará o esquecimento dos heróis e um país sem cultura.
E por fim, no canto X, na última invocação que consiste em pedir ajuda as entidades mitológicas, chamadas musas temos um exemplo claro da crítica pessoal do autor no seguinte estrófe que se segue:
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho 
Destemperada e a voz enrouquecida, 
E não do canto, mas de ver que venho 
Cantar a gente surda e endurecida. 
O favor com que mais se acende o engenho 
Não no dá a pátria, não, que está metida 
No gosto da cobiça e na rudeza 
Duma austera, apagada e vil tristeza.
	Nas linhas em negrito, Camões sente-se desiludido e cansado não de escrever, mas do tipo de “público” que possui, ou seja, pessoas incultos, ignorantes, sem cultura, insensíveis.
	E nas linhas sublinhadas, o seu estado de espírito prende-se a constatação de que o seu país vive uma crise de valores morais.

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