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Análise do filme “A onda” baseada na perpectiva de Durkheim e Weber Emile Durkheim Emile Durkheim possuía o conceito de consciência coletiva, que pode ser definido como “conjunto de crenças e sentimentos comuns à média dos membros de uma sociedade”. Para ele, este conceito teria um papel importante na integração dos indivíduos e na coesão social. É possível realizar uma associação entre esta ideia e a fala de um personagem do filme, que ocorre aproximadamente aos nove minutos - “O que falta para nossa geração é um objetivo comum, ‘pra’ unir a gente”. Assim, pode-se notar a intenção do personagem de harmonizar a sociedade em que vive, fato que tem relação com a “visão estabilizadora” da sociologia de Durkheim. A criação e manutenção da estrutura do grupo “a onda” pode ser interpretada como um fato social, pois atende aos três requisitos definidos para ser classificada como tal. Se tomarmos como o primeiro deles a generalidade, podemos comprová-lo se levarmos em consideração que o grupo que estava realizando a atividade proposta (oficina sobre autocracia) foi afetado. Quanto à exterioridade ao indivíduo, pode-se dizer que essa é identificada pois a estrutura, depois de estabelecida, não é responsabilidade de somente um indivíduo e este não controla o fato social. Por fim, a coercitividade do fato é caracterizada por diversas situações em que indivíduos “contrários” (que se recusam a agir de determinada maneira requerida) a esse fato sofrem “sanções”. Como exemplos, temos a situação em que três alunos se recusam a cumprir ordens dadas pelo professor e são retirados da sala de aula; a cena em que, após o ganho de dimensão da influência do grupo, personagens que não fazem parte do agrupamento “A onda” são proibidos da utilização um espaço mostrado no filme como público (pista de skate) e o trecho em que duas personagens tem a entrada em um ambiente esportivo impedida por não aderirem a simbologia da identidade do grupo - uso de camiseta branca. Outra possível constatação a partir da teoria de Durkheim, é a questão do suicídio acontecido no final do filme, que seria apontada por ele como um fenômeno individual com causas fundamentalmente sociais. Este seria uma decorrência do enfraquecimento da coesão social, que levaria os membros do grupo a um estado mais suscetível a crises existenciais. Nas circunstâncias do filme, podemos dizer que esse enfraquecimento da coesão social do grupo ocorre de forma explícita após o professor demonstrar a magnitude do que estava acontecendo e ditar a ordem de encerramento permanente do grupo. O suicídio ocorrido no filme poderia ser encaixado na classificação anômico. Isso se considerarmos como principal fator causador do suicidio a situação de rápida e turbulenta instabilidade em que o indivíduo se encontrava. Em tese, essa situação faria com que não houvessem regras sociais explícitas regulando o indivíduo e assim, ele estaria mais propenso a entrar em um estado de crise. Dessa forma também conclui-se que o “estado de anomia” esteve presente em determinados trechos do filme. Max Weber Segundo a definição de tipos ideais estruturada por Weber, poderia-se encontrar ocorrências de determinados motivadores de ação humana no filme. Como exemplo de ação racional quanto aos objetivos estaria a iniciativa do professor em aplicar uma atividade com “abordagem prática” na aula sobre autocracia - tendo em vista que o objetivo inicial seria proporcionar aos alunos um aprendizado dinâmico e interessante sobre o assunto. É importante ressaltar que uma ação não precisa ser relacionada exclusivamente a um motivador, considerando o exemplo de que a ação citada anteriormente também poderia ser associada com o motivador racional quanto aos em valores. Uma possível ação racional quanto aos valores poderia ser encontrada no fato de que um dos alunos mais satisfeitos e comprometidos com a sua participação no grupo “A onda” (que no final do filme comete suicídio) queima suas próprias peças de roupa que não correspondem a simbologia da identidade do grupo. Nesse caso a ação seria racional pois demanda de raciocínio para ser desenvolvida e estaria ligada a valores pois a simbologia do grupo seria um valor que o indivíduo estima (valoriza). A ação afetiva poderia ser representada pelo fato de o mesmo personagem apontado anteriormente oferecer-se como “segurança” para o professor e tentar ficar na casa deste para supostamente protegê-lo, pois o aluno possui afeição pelo professor. A escolha do líder para o grupo, embora tenha sido democrática, reflete os valores de uma dominação racional/legal, na qual a obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer - neste caso a regra retratada no filme seria o papel do professor como “mestre” percebida pela certeza de um dos alunos que o professor seria o melhor líder para o grupo pois estaria em estado de competência para realizar tal ação. Além disso, poderia ser dito que para determinado aluno a dominação toma um rumo diferente, deixando de ser racional e se tornando carismática. Uma das principais características da dominação carismática é o fato de que autoridade é suportada por uma devoção afetiva por parte dos dominados. Isso pode ser comprovado no fato de o aluno demonstrar afeto pelo seu líder, neste caso o professor, e realizar ações ligadas ao motivador afetuoso como já mencionado anteriormente. Outra característica é a reafirmação do carisma do mestre e o ato do dominado de considerar a ação do senhor carismático como positiva. Por fim, o problema da ocorrência da rotinização do carisma (processo pelo qual a comunidade tenta manter a nova ordem interna estabelecida no caso da ausência de seu líder) é um dos artifícios utilizados pelo professor para não ser morto por seu aluno no final do filme. Outro aspecto importante seria que em determinado momento do filme os personagens questionam-se sobre os métodos que foram utilizados para a escolha dos atores de uma peça de teatro que estava sendo produzida. A fala “eu sempre achei que a gente deveria ter feito testes [para a escolha dos atores de cada personagem]” pode ser relacionada com uma das características do exemplo de dominação racional/legal proposto por Weber: a burocracia. Neste caso, o emprego de indivíduos qualificados desempenhando funções para as quais foram treinados. Conclusão Podemos destacar como diferenças entre o pensamento sociológico de Weber e Durkheim o fato da concepção do primeiro citado considerar o papel do indivíduo como determinante na relação indivíduo-sociedade, enquanto o segundo apontado não possui esse pressuposto. Além disso, enquanto para Durkheim a criação e manutençãoda estrutura do grupo “A onda” poderia ser interpretada como um fato social, para Weber o que estaria ocorrendo neste grupo seria uma dominação inicialmente racional/legal. É possível notar que determinados alunos começam a seguir as ordens de Reiner muito antes que outros, o que que simplesmente acreditam em totalmente em suas afirmações e cumpre sem nenhum tipo de questionamento às suas ordens. Além disso, pode-se perceber que em determinado momento o sentimento de união e pertencimento dos estudantes chega a um nível tão alto que um dos mais afetados queima suas próprias peças de roupa que não correspondam a simbologia da identidade do grupo formado nas aulas sobre autocracia. Na verdade a questão da simbologia pode ser vista com um papel de extrema importância, pois uma aluna em especial que estava concordando com as afirmações e não vendo nada de errado com a magnitude que as ações do grupo estavam tomando, após não ceder a uma das ordens de Reiner e ir para a escola sem utilizar a simbologia,, sente-se de certa forma ameaçada, somando o fato de que suas sugestões não estão sendo aceitas e sente-se excluída (teatro). A definição de um inimigo torna a atmosfera presente no grupo ainda mais presente a união, remetendo ao nacionalismo exagerado. //encontrada em exemplo de autocracia cuja ações levaram a segunda guerra mundial, o nazismo. No início do filme, que se passa na Alemanha, cenário do regime autocrático nazista durante o período de …. Referências: http://knoow.net/ciencsociaishuman/sociologia/consciencia-coletiva/ http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm http://cafecomsociologia.com/2013/12/os-tipos-de-dominacao-segundo-max-weber.h tml https://www.historia.ufg.br/up/108/o/CARISMA_E_DOMINA%C3%87%C3%83O_CA RISM%C3%81TICA_PERSPECTIVAS_TE%C3%93RICO-METODOL%C3%93GICA S_DO_CONCEITO_WEBERIANO_DE_CARISMA_E_SUA_EFETIVA%C3%87%C3 %83O_HIST%C3%93RICA_NOS_ESTUDOS_DE_RELIGI%C3%83O.pdf