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56 © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas Transverse discrepancies treatment in adults: Orthodontic and orthopedic alternatives rationale Resumo: A necessidade de tratamento das deficiências transversais em pacientes com crescimento craniofacial finalizado aumentou nos últimos anos, em decorrên- cia da crescente demanda de pacientes adultos em busca de uma melhor estética facial e dentária. O problema transversal é, comumente, caracterizado pela mor- dida cruzada posterior; porém, é muito comum nas más oclusões de Classe II, como compensação ao relacionamento da maxila com a porção mais estreita da mandíbula, mesmo quando o cruza- mento não está presente. Alguns traba- lhos demonstram que aproximadamente 9,4% de toda a população e quase 30% dos pacientes ortodônticos adultos apre- sentam o problema. Essa quantidade é relativamente alta e também preocupan- te, devido às controvérsias relacionadas ao tratamento não cirúrgico nos adultos, à dificuldade de tratamento no período de maturação esquelética completa, à consequente falta de estabilidade no período pós-tratamento e, também, pelo fato de nem todos os pacientes terem condições financeiras de se submeter ao tratamento cirúrgico ou, mesmo, estarem dispostos a isso. O presente trabalho visa demonstrar as possibilidades ortodônticas e ortopédicas clássicas para tratamento das discrepâncias transversais em adul- tos, e as mudanças no plano de tratamen- to e prognóstico resultantes da incorpora- ção do método mais recente de trabalho (MARPE, Miniscrew-Assisted Rapid Pal- atal Expansion); bem como descrever a instalação e ativação do aparelho nessa técnica, além de discutir os prós, contras e as indicações de cada modalidade de tratamento. Palavras-chave: Ortodontia em adultos. Expansão rápida da maxila. Expansão lenta da maxila. MARPE. Com- pensação dentoalveolar. Discrepâncias transversais em adultos. Abstract: The need for treatment of transverse de- ficiencies in patients with craniofacial growth has grown in recent years due to the increase in the demand of adult patients searching for better fa- cial and dental aesthetics. The transverse problem is commonly characterized by posterior crossbite, but is also very common in Class II malocclusions, as a compensation for the relationship of the max- illa with the narrower portion of the mandible, even when crossbite is not present. Some stud- ies show that approximately 9.4% of the entire population and almost 30% of adult orthodontic patients present the problem. This amount is rel- atively high and also critical, due to the controver- sies related to non-surgical treatment in adults, the difficulty in treating them in the period of complete skeletal maturation, the consequent lack of stability in the posttreatment period, and also because not all patients have the financial means to undergo surgical treatment or even are willing to do so. The present work aims at demonstrating the classic orthodontic and orthopedic possibilities for treating transverse discrepancies in adults and the changes in treatment plan and prognosis that result from the incorporation of the most recent expansion method (MARPE, Miniscrew-Assisted Rapid Palatal Expansion), as well as describing the technique for installation and activation of the ap- pliance in this technique and discuss the pros, cons and indications of each modality. Keywords: Adult orthodontics. Rapid maxillary expansion. Slow maxillary expansion. MARPE. Dentoalveolar com- pensation. Transverse discrepancies in adults. Marcos Janson1 Francisco Honório da Silva Neto2 1) Especialista e Mestre em Ortodontia pela FOB-USP (Bauru/SP). Clínica privada em Bauru/SP. 2) Especialista em Ortodontia AGOR (Porto Alegre/RS). Professor do curso de Especialização em Ortodontia do IGEO (Caxias do Sul/RS). Clínica privada em Fraiburgo/SC. Os autores declaram não ter interesses associativos, comer- ciais, de propriedade ou financeiros que representem confli- to de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo. O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias. Endereço para correspondência: Marcos Janson – Rua Engenheiro Saint Martin, 22-23, Altos da Cidade CEP: 17.012-056, Bauru/SP – E-mail: jansonm@uol.com.br Como citar este artigo: Janson M, Silva Neto FH. Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas. Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89. Enviado em: 20/11/16 - Revisado e aceito: 01/12/16 DOI: http://dx.doi.org/10.14436/ 1676-6849.15.6.056-089.art ARTIGO ORIGINAL Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 57 INTRODUÇÃO A principal meta dentária no tratamento das defor- midades transversais em pacientes adultos é permitir a correta oclusão dos dentes superiores e inferiores, com as cúspides vestibulares dos primeiros ocluindo por fora, promovendo uma situação em que a mandíbu- la se encontra totalmente envolvida pela maxila. Para promover tal situação, o mais indicado seria a ruptura das suturas maxilares — principalmente a sutura pala- tina mediana —, proporcionando uma separação e alargamento ao nível do palato. No entanto, sabe-se que, embora não se possa estabelecer precisamente a época da ossificação das suturas intermaxilares e transversa da maxila, essas tendem a se consolidar ao fim do crescimento, no início da idade adulta6-8. As- sim, um grau elevado de consolidação dessas suturas raramente é encontrado até que se entre na terceira década de vida9, tornando a expansão ortopédica da maxila imprevisível em indivíduos adultos10,11. Existem diversas alternativas para tratamento da atresia maxilar em pacientes adultos e, para a tomada de decisões, é importante avaliar o comprometimento dentário ou esquelético do problema. De acordo com Betts et al.12, a maxila deficiente apresenta mordida cruzada uni ou bilateral, apinhamento ou rotação dos dentes superiores, deslocamento dentário para vesti- bular ou palatino, forma triangular e palato profundo. A quantidade de dentes envolvidos na mordida cruza- da também serve de parâmetro, ou seja, quanto mais dentes estiverem envolvidos no cruzamento, maior a probabilidade de uma etiologia esquelética; por outro lado, se o envolvimento for menor, a etiologia pode ser dentária13, sendo de mais fácil resolução. AVALIAÇÃO RACIONAL DOS PROCEDIMENTOS EM ADULTOS: NECESSIDADE x DESEJO Existem duas formas de se corrigir uma defi- ciência transversal: pela disjunção ortopédica da maxila ou pela inclinação dos dentes e rebordos alveolares. A disjunção ortopédica é incerta e a inclinação dos dentes tem um limite, pois, conside- rando-se que a relação entre os dentes posteriores antagonistas é de cúspide-fossa, uma inclinação demasiada — tanto para lingual quanto para ves- tibular — compromete o contato dentário e, tam- bém, pode promover a recidiva, pois os contatos em planos inclinados são instáveis. Por se tratar de procedimentos que possuem algum grau de li- mitação, principalmente quando não ocorre a dis- junção maxilar, o clínico deve avaliar a sua real necessidade. Existem dois fatores principais que devem ser levados em consideração durante o planejamento da expansão maxilar: a) A oclusão funcional — Funcionalmente,é im- portante observar se os caninos estão envol- vidos na atresia, ou seja, se estão cruzados. Essa situação pode comprometer os movi- mentos mandibulares de lateralidade e pro- vocar desvios funcionais no fechamento, os quais, na presença de parafunção, podem exacerbar sintomas de DTM14. Outra avalia- ção é notar se o desvio funcional provoca assimetria facial funcional, que prejudica a estética. Esses exames são realizados mani- pulando-se o paciente em relação cêntrica. b) A estética/queixa do paciente — Algumas vezes, o paciente pode queixar-se da forma de sua maxila, relatando que a arcada su- perior é muito estreita e que “os dentes não aparecem no sorriso”. Essa é uma queixa tí- pica em portadores de maxila atrésica, onde o corredor bucal mostra-se bastante eviden- ciado e, às vezes, nem há presença de mor- dida cruzada. Portanto, a possibilidade de mudança de forma deve ser avaliada. Se nenhum desses fatores existir, talvez seja inte- ressante realizar uma abordagem mais conservado- ra, diminuindo o tempo de tratamento e os possíveis efeitos colaterais. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 58 AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE TRATAMENTO15: É POSSÍVEL? Como o objetivo do presente artigo é avaliar as possibilidades ortodônticas e ortopédicas para ex- pansão maxilar em indivíduos adultos, excluindo-se as possibilidades cirúrgicas, alguns critérios foram preestabelecidos: a) Avaliação quantitativa: na avaliação quanti- tativa, estima-se, em milímetros, a quantidade necessária para se atingir o resultado deseja- do, sendo útil na presença de mordida cruza- da e para a escolha do tamanho do parafuso, quando o método a ser empregado envolver um parafuso disjuntor (Haas ou Hyrax). Nes- sa análise, realizada nos modelos de estudo, mede-se a discrepância existente na região de molares superiores e inferiores, levando-se em consideração a posição anteroposterior fi- nal dos dentes (Fig. 7G e 7H). Quanto maior a discrepância transversal, maior a neces- sidade de disjunção esquelética da maxila, ou seja: como a abertura ou não da sutura é incerta, o caso torna-se menos previsível. De acordo com Handelman16, casos com dis- crepâncias maiores que 8 a 10 mm, mordidas cruzadas unilaterais severas, que não apre- sentam desvio funcional de RC para MIH, e com grandes recessões, não devem ser trata- dos compensatoriamente, com inclinação dos rebordos alveolares. b) Avaliação qualitativa: avalia-se, por meio de um exame clínico apurado e com a aná- lise dos modelos de estudo, as seguintes características: » Condições periodontais: esse é o pré-requisito número 1 em todas as al- ternativas, exceto quando se utiliza a MARPE (Miniscrew-Assisted Rapid Pal- atal Expansion, Expansão Rápida da Maxila Ancorada em Mini-implantes). Avalia-se a presença ou não de muco- sa ceratinizada na região dos dentes posteriores e a espessura da gengiva na face vestibular. Quanto maior a fai- xa de gengiva ceratinizada e a sua espessura vestibular, menores os riscos de recessões nos procedimentos de expansão dentária17-19 ou ortopédica. » Presença de atresia óssea da maxila. Em média, a largura da maxila na re- gião dos molares, em adultos, medin- do-se entre os pontos mais próximos (cervical), é de 35 a 39 mm20. Valores muito fora dessa média podem indicar um problema esquelético. » O alargamento excessivo da mandí- bula. Se os dentes inferiores estiverem muito inclinados para vestibular, pode-se estar diante de uma falsa atresia da maxila. Esses casos são favoráveis, pois permitem modificações também na mandíbula, diminuindo a necessi- dade de grandes movimentações na arcada superior (casos 2 e 6). » As inclinações desfavoráveis das es- truturas dentárias e processos alveo- lares, ou a associação desses dois elementos. A constatação da inclina- ção dentoalveolar negativa, em dire- ção ao palato, torna o procedimento de expansão ortodôntica/ortopédica no adulto mais favorável, pois, inde- pendentemente da terapia instituída, essas serão as áreas que sofrerão maiores modificações16,21,22. Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 59 OPÇÕES DE TRATAMENTO DAS DISCRE- PÂNCIAS TRANSVERSAIS EM ADULTOS 1) EXPANSÃO COM FIOS E ELÁSTICOS É o método mais conservador e menos agressivo. Nessa modalidade, a utilização de fios superiores com sobrecontorno no arco são a essência do tra- tamento. A utilização de fios ortodônticos com so- brecontorno para “expandir” a maxila é bastante fre- quente em Ortodontia23-25, e sua eficácia tem maior relação com a forma do arco do que com o tipo de braquete26. Levando-se em consideração que o processo alveolar é extremamente plástico, indepen- dentemente da idade, o objetivo é remodelar todo o processo alveolar superior, promovendo a inclinação dos dentes e do processo alveolar para a vestibular. Para que isso seja realizado e para que não ocorram inclinações indesejadas ao fim do tratamento — que promoveriam instabilidade em longo prazo —, o po- tencial de correção está relacionado à inclinação para lingual dos superiores e para vestibular dos infe- riores, no caso de haver mordidas cruzadas. A cor- reção da atresia superior ou mordida cruzada pode ser atingida somente com o sobrecontorno dos arcos, utilizando-se “arcos auxiliares” de expansão (caso 1) ou uma combinação do sobrecontorno com elásticos intermaxilares, quando existe a mordida cruzada e os dentes inferiores encontram-se muito verticalizados ou há o desejo/necessidade de compensação com inclinação lingual dos inferiores (caso 2). CASO 1 Paciente do sexo feminino, 37 anos de idade, re- latou descontentamento com a estética do sorriso, que achava muito estreito e “feio”. O relacionamento oclu- sal era de Classe I e havia deficiência no trespasse vertical dos dentes anteriores. Na análise quantitativa, percebeu-se que, na região dos pré-molares, onde a atresia era maior, uma discreta inclinação vestibular desses dentes já promoveria um ganho satisfatório, embora os dentes inferiores também apresentassem grande inclinação lingual. Na análise qualitativa, a inclinação negativa dos rebordos alveolares era favo- rável e, embora algumas recessões estivessem presen- tes, a faixa e a espessura de gengiva ceratinizada eram suficientes para suportar a inclinação vestibular dos dentes17-19. Nesse caso, optou-se por manter a inclinação negativa dos dentes inferiores, que era está- vel, para minimizar a necessidade de movimento dos dentes superiores. Para auxiliar na expansão e tornar o procedimento mais rápido, foi utilizado um “arco ca- valgado”, descrito nas Figuras 1E a 1G. A B C Figura 1A, 1B e 1C: Fotografias laterais e frontal, onde notam-se a má oclusão de Classe I, a mordida de topo na região dos pré-molares e primeiros molares, a deficiência vertical no trespasse vertical anterior e a boa faixa de gengiva ceratinizada em todos os dentes, apesar de algumas recessões. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 60 E H F I G J Figura 1E, 1F e 1G: Fotografias laterais e frontal que demonstram o uso de “arco cavalgado” para a expansão da arcada superior. O arco cavalgado é um recurso auxiliar para promover a expansão maxilar. É confeccionado com um fio de aço 0,9 mm e apresenta uma expansão média de 5 mm de cada lado, na região dos primeiros molares, ou entre os primeiros e segundos molares. Deve ser utilizado sobre o arco de nivelamento, preferencialmente em fios de maior calibre (0,016” em diante), quandoos apinhamentos e rotações já foram dissolvidos. Esse arco auxiliar é potente e deve ser acompanhado em intervalos curtos. Nas fotografias, observa-se a sobrecorreção atingida após 40 dias, com uma única ativação e com o fio de nivelamento 0,020” de aço inoxidável. Figura 1H, 1I e 1J: Fotografias laterais e frontal do caso finalizado, demonstrando um bom relacionamento anteroposterior e transversal, e a melhora na forma da arcada superior. Também é digna de nota a manutenção das inclinações linguais dos dentes inferiores, o que permitiu um alargamento mais conservador da arcada superior. O nível gengival permaneceu estável na maioria dos dentes, com pequenas alterações como o aumento da recessão no dente #23 e a diminuição da recessão no dente #13. Figura 1D: Nessa fotografia, é demonstrado o formato do arco utilizado quando se tem por meta recontornar o rebordo alveolar maxilar. Note que há uma expansão geral do arco, tanto na região anterior quanto posterior. Os arcos são trocados sempre obedecendo esse mesmo formato e, no momento que avalia-se que já foi atingido o objetivo, o profissional registra a forma atual da arcada e, a partir daquele momento, trabalha com os arcos passivos superior e inferior. Uma maneira de se proceder com esse registro é pedir ao paciente para morder uma lâmina de cera #7 dobrada ao meio. Os dentes e os braquetes ficarão registrados e é possível fazer exatamente o mesmo contorno da forma alcançada, repetindo-o nos próximos arcos. D Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 61 O P Q Figura 1O, 1P e 1Q: Fotografias laterais e frontal de controle após 4 anos, demonstrando a estabilidade oclusal e dos tecidos periodontais. Foram recomendados enxertos gengivais nos molares e caninos superiores, para dar maior estabilidade à migração apical da gengiva; porém, a paciente mostrou-se contrária ao procedimento. Figura 1K e 1L: Comparação da forma da arcada superior ao início (K) e ao fim do tratamento (L). Figura 1M e 1N: Comparação das fotografias do sorriso inicial (M) e final (N), demonstrando o ganho positivo de volume no corredor bucal, o desenho do arco do sorriso e a harmonia do conjunto, o que deixou a paciente extremamente satisfeita. K M L N Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 62 CASO 2 Paciente do sexo masculino, 40 anos de ida- de, apresentou-se com má oclusão de Classe III, subdivisão direita, mordida cruzada posterior e an- terior, diastema grande na distal do canino inferior esquerdo, desconforto mastigatório e estética insa- tisfatória. Os níveis de gengiva ceratinizada eram bons, apesar de algumas recessões posteriores no lado superior direito. O planejamento inicial era de cirurgia ortognática, com multissegmentação da maxila, para correção do problema transversal e avanço maxilar. No entanto, apesar de aceitar o procedimento, o paciente não tinha condições financeiras para o tratamento. Por esse motivo, optou-se pelo tratamento compensatório, com a extração do dente #46, fechamento dos espaços bilateralmente, expansão dentária da arcada su- perior com fios ortodônticos e utilização de elásti- cos intermaxilares posteriores, com o objetivo de descruzar a mordida, compensando um pouco com a inclinação dos dentes inferiores para lin- gual — pois os dentes superiores não apresenta- vam muita inclinação negativa, caracterizando um problema mais esquelético do que dentário. A B C Figura 2A, 2B e 2C: Fotografias laterais e frontal, demonstrando a relação oclusal de Classe III, subdivisão direita, com grande diastema na distal do canino inferior esquerdo e mordida cruzada anterior e posterior. Figura 2D e 2E: Fotografias laterais dos modelos em oclusão, para melhor visualização das relações posteriores. D E Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 63 H I J Figura 2H, 2I e 2J: Fotografias laterais e frontal ao fim do tratamento, onde se observa o bom relacionamento sagital e transversal das arcadas e a inclinação compensatória para lingual dos dentes posteriores inferiores. Figura 2F e 2G: Utilização de elásticos intermaxilares, cruzados da palatina dos dentes superiores para a vestibular dos dentes inferiores (3/16” médio) em conjunto com elástico de Classe III, durante o fechamento do espaço da extração. Figura 2K e 2L: Comparação da forma da arcada superior ao início (K) e ao fim do tratamento (L), onde se nota um discreto alargamento superior, decorrente da utilização de arcos mais abertos durante o nivelamento. F K G L Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 64 N M O P Figura 2N, 2O e 2P: Fotografias laterais e frontal no controle de 4 anos, demonstrando a estabilidade oclusal e dos tecidos periodontais. No segundo ano de controle, foram adicionados fios de contenção na vestibular dos caninos inferiores com os primeiros pré-molares, para conter a tendência de abertura dos espaços naquela região. O paciente se submeteu a procedimento de enxerto gengival livre na região do primeiro pré-molar inferior esquerdo, área onde pode-se observar um nível gengival mais adequado do que ao fim do tratamento. Figura 2M: Fotografia final do sorriso, com boa exposição dos dentes anterossuperiores. Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 65 EXPANSÃO RÁPIDA DA MAXILA (ERM) A expansão rápida da maxila é o procedi- mento de escolha para modificações transversais na maxila atrésica, e sua eficiência já foi larga- mente comprovada no tratamento de pacientes em crescimento8,27. Ainda que a literatura seja cética quanto à ERM em pacientes com ausência de crescimento28, relatando insucessos, recidivas e maus prognósticos, os estudos envolvendo a obliteração sutural demonstram um grau muito alto de variação com relação ao início do fe- chamento sutural e em diferentes partes de uma mesma sutura9,21. Resultados de um estudo29 de- monstraram que 9 em cada 10 indivíduos (com idades entre 18 e 38 anos) examinados após a morte poderiam ter se submetido à ERM com sucesso, porque menos de 5% da sutura palatina mediana encontravam-se obliterados. Também foi observado que uma sutura radiograficamente fechada (radiografia oclusal) nem sempre repre- senta o equivalente histológico de seu fecha- mento. Com base nessa variabilidade biológica, alguns trabalhos envolvendo a expansão orto- dôntica/ortopédica em pacientes adultos, ou pacientes adolescentes que já tiveram seu cres- cimento ósseo cessado, têm sido realizados com sucesso16,21,22,30,31. Mais recentemente, Angelieri et al.32 realizaram um estudo baseado em ima- gens tomográficas de 140 indivíduos, com ida- des variando de 5,6 a 58,4 anos, para definir o estágio radiográfico de maturação da sutura palatina mediana. Cinco estágios foram defini- dos (A, B, C, D, E), sendo que: no estágio “D”, já há sinais de fusionamento da sutura na porção do osso palatino (o que permitiria que ocorresse a abertura da sutura nas regiões mais anterio- res, porém não na região posterior); no estágio “E”, a sutura já estaria fusionada e, provavel- mente, não permitiria a separação da maxila nem na região anterior, ou seja, não estaria recomendada a tentativa de abertura, poisos sinais radiográficos já permitiriam fazer um prog- nóstico definitivo. Embora esse seja um caminho a ser buscado no diagnóstico, tais critérios ainda não foram testados clinicamente a ponto de se estabelecerem evidências quanto ao prognósti- co da abertura. Como não existem parâmetros clínicos para se identificar o grau de obliteração da sutura palatina e, consequentemente, se es- tabelecer um percentual de sucesso quando da utilização dos aparelhos ortopédicos mecânicos para a expansão maxilar em pacientes adultos, a única forma que se tem é iniciar o tratamento21 e ficar atento aos sinais clínicos durante o proce- dimento. Quando se trata de pacientes adultos (acima dos 18 anos de idade), deve ficar claro que é sempre uma tentativa, podendo a sutura se abrir ou não. O que dá segurança para a tentativa é o paciente ter o periodonto saudá- vel e com gengiva ceratinizada abundante nos dentes posteriores, e a inclinação negativa do rebordo alveolar (para lingual), o que permite a sua inclinação para vestibular nos casos de falha na disjunção maxilar. O protocolo adotado para a ERM em adultos tem sido a utilização do aparelho Hyrax — que evita a necrose do palato, por não ter apoio mu- coso —, com ativação do parafuso em 2/4 de volta pela manhã e 2/4 à noite, por um período de 5 dias, esperando-se que após 18 ativações já apareça o diastema entre os incisivos centrais, o que caracteriza a abertura ortopédica da maxila (disjunção maxilar). Quando ocorre a disjunção (casos 3 e 4), prossegue-se com a mesma ativa- ção até o limite desejado: geralmente, a relação cúspide com cúspide nos dentes posteriores. Não ocorrendo esse fato clínico (caso 5), pode-se op- tar pelo protocolo de expansão alveolar rápida da maxila16,22 ou expansão lenta da maxila33, que será descrito mais adiante nesse texto. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 66 CASO 3 Paciente do sexo feminino, 21 anos de idade, apresentando má oclusão de Classe II, subdivi- são direita, com mordida aberta anterior e mor- dida cruzada posterior. A queixa principal era o desconforto mastigatório e a falta de contato nos dentes. Apesar da gengivite presente nos dentes inferiores (que foi controlada antes do início da te- rapia), a faixa de gengiva ceratinizada nos dentes posteriores superiores era boa, larga e espessa, o que criava um prognóstico positivo para a tentativa de ERM. O plano de tratamento proposto foi de corrigir o problema transversal com a ERM e o sagital, com elásticos de Classe II. A D B E C F Figura 3A, 3B e 3C: Fotografias laterais e frontal iniciais, onde se observa o relacionamento de Classe II subdivisão direita, com mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior. É importante ressaltar a ótima qualidade e espessura da gengiva ceratinizada nos dentes posterossuperiores. Figura 3D, 3E e 3F: D) Vista em 45º do Hyrax, imediatamente após a instalação. Essa fotografia é muito importante, pois caracteriza o modelo ideal de Hyrax a ser utilizado nas expansões em adultos. Como se nota, o parafuso fica bem superficial, próximo à oclusal dos dentes. Esse design é importante porque as hastes do parafuso ficam menos curvadas em direção ao palato, oferecendo maior resistência à deflexão e ao comprometimento dos resultados, visto que: no adulto, a maxila pode apresentar uma grande resistência para a abertura da sutura — o fio de ligação do parafuso não aguenta, dobra-se, o parafuso se abre, mas os dentes não saem do lugar. Duas situações como essa já foram experimentadas pelos autores. E, F) Fotografias frontal e em 45º, no quinto dia de ativação: note a presença do diastema entre os incisivos. Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 67 Figura 3G e 3H: Como foi evidenciada a abertura da sutura, prosseguiu-se com o protocolo de ativação de 4/4 de volta ao dia durante mais 4 dias, perfazendo-se 9 mm de ativação. Figura 3I e 3J: Fotografias laterais após o nono dia de ativação: observe a sobrecorreção bilateral. Depois disso, o parafuso foi estabilizado e mantido em posição por 90 dias. Figura 3K e 3L: K) No quarto mês de tratamento, como se desejava manter uma barra palatina nos molares durante o nivelamento dos dentes, o Hyrax foi removido parcialmente, sendo mantidas as hastes nos molares até o nivelamento com fio 0,018”. L) Fotografia frontal ao fim do nivelamento, após a remoção da “barra”. G I K H J L Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 68 M N O Figura 3M, 3N e 3O: Fotografias laterais e frontal ao fim do tratamento, onde se observa o bom relacionamento sagital e transversal das arcadas e a estabilidade do periodonto. A gengiva nos incisivos inferiores apresentava-se com sangramento, devido à raspagem realizada na remoção do aparelho. Figura 3P e 3Q: Comparação das fotografias inicial e final da arcada superior: note a completa modificação anatômica atingida. Figura 3R e 3S: Sorriso da paciente: inicial e final. P R Q S Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 69 CASO 4 Paciente do sexo feminino, 28 anos de idade, apresentando má oclusão de Classe II, subdivisão esquerda, com mordida cruzada posterior. A queixa principal era quanto ao sorriso gengival e à assimetria facial. Por se tratar de um problema vertical esqueléti- co, optou-se pelo tratamento cirúrgico. Para minimizar os procedimentos cirúrgicos, o cirurgião questionou a possibilidade de disjunção da maxila previamente à cirurgia. Como a paciente apresentava, bilateralmen- te, inclinação negativa dos rebordos alveolares e pos- suía ótimo periodonto na região posterior, optou-se pela tentativa de ERM, que seria modificada para EARM (Expansão Alveolar Rápida da Maxila) caso não houvesse a disjunção no quinto dia. T A D U B E V C F Figura 3T, 3U e 3V: Fotografias laterais e frontal de controle após 18 meses, demonstrando a estabilidade oclusal e dos tecidos periodontais. Figura 4A, 4B e 4C: Fotografias laterais e frontal iniciais, demonstrando o relacionamento de Classe II subdivisão esquerda, com mordida cruzada unilateral posterior. Figura 4D, 4E e 4F: D) Fotografia oclusal com o Hyrax instalado: note que sempre há extensões para os segundos molares e caninos, para que esses dentes não fiquem fora da expansão, caso seja necessário mudar o protocolo para EARM. E, F) Fotografias oclusal e frontal no quinto dia, onde já se evidencia a abertura do diastema anterior. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 70 Figura 4G e 4H: Fotografias oclusal e frontal no décimo primeiro dia de ativação (11 mm). A fotografia frontal está em RC, para melhor avaliar a real expansão bilateral. Figura 4I e 4J: Fotografias laterais direita e esquerda, onde se nota a sobrecorreção bilateral. Figura 4K e 4L: Fotografias frontais imediatamente antes e após 60 dias da cirurgia ortognática: note como já não havia nenhuma discrepância transversal a ser corrigida, facilitando, demasiadamente, os procedimentos cirúrgicos. G I K H J L Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 71 M N O Figura 4M, 4N e4O: Fotografias laterais e frontal ao fim do tratamento, demonstrando o excelente relacionamento sagital, transversal e vertical entre os dentes. Figura 4P e 4Q: Fotografias oclusais inicial e final, antes da remoção do aparelho: observe a grande modificação atingida por meio da expansão ortopédica. Figura 4R e 4S: Fotografias do sorriso inicial e final: note a redução vertical da exposição gengival, devido à impacção da maxila, e o preenchimento do corredor bucal, em decorrência da maior amplitude transversal da maxila. P R Q S Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 72 EXPANSÃO ALVEOLAR RÁPIDA DA MAXILA (EARM) OU EXPANSÃO LENTA DA MAXILA (ELM) O termo Expansão Alveolar Rápida da Maxi- la (EARM) foi designado por Handelman et al.16,22 para definir uma expansão realizada com os mesmos aparelhos da Expansão Rápida da Maxi- la (ERM), porém, com ativações mais espaçadas, onde o limiar de sensibilidade do paciente dita a frequência das ativações. As recomendações de ativação22 eram de 2/4 de volta no primeiro dia e 1/4 de volta ao dia nos dias subsequentes, até se atingir o objetivo almejado, ou seja, a sobre- correção nos dentes posteriores, com uma relação de topo entre as cúspides palatinas superiores e as vestibulares inferiores. Os pacientes eram acompa- nhados a cada duas semanas e, se houvesse relato de dor ou desconforto, eram orientados a retroce- der algumas ativações, aguardar uma semana e, depois, voltar a ativar o aparelho 1/4 de volta em dias alternados. Diferentemente da expansão rápida, seus efeitos são mais dentoalveolares, com inclinação para vestibular dos dentes e processo alveolar, não ocorrendo a abertura da sutura pa- latina mediana. As modificações observadas foram similares nos adultos e no grupo de crianças que se submeteram à ERM na dentadura mista (respectiva- mente, 4,6 ± 2,8 mm versus 5,7 ± 2,4 mm, para os molares; e 5,5 ± 2,4 mm versus 5,7 ± 2,5 mm, para os segundos pré-molares), concluindo-se que a ex- pansão alveolar rápida da maxila (EARM) é um método clinicamente seguro e previsível para tratar a deficiência transversal da maxila. Em um trabalho posterior, Handelman33 propôs a modificação do nome do protocolo para NS-SME (Expansão Lenta da Maxila – Não Cirúrgica, devido à menor taxa de ativação, se comparada à da ERM) e algumas alterações do protocolo, como a modificação do aparelho de Haas, preconizando um alívio de 3 a 4 mm do acrílico em relação à união dentogengival no palato, e não deixando se estender além do primeiro molar, em direção posterior. Segundo ele, a não observação desses critérios pode ocasionar lesões no palato e demandar a remoção do apare- lho. Em relação às ativações, o protocolo deve ser diferenciado para adultos com 40 anos ou mais, ou seja, 1/4 de volta a cada 3 ou 5 dias, de acor- do com o conforto do paciente. » Indicações16,22,33 — Está indicada para os ca- sos de atresia maxilar suave a moderada, de com- ponente misto, ou seja, há uma atresia esquelética e, também, inclinação insatisfatória dos processos dentoalveolares, com presença ou não de mordi- da cruzada. Estariam contraindicados para esse procedimento os casos com mordida cruzada total (discrepância grave), perdas ósseas, recessões gengivais ou ausência de gengiva ceratinizada nos dentes posteriores da maxila e atresia severa maxilar com contorno triangular extremo, que pre- judica a estética do sorriso. » Racionalização da técnica — Os trabalhos de Handelman16,33 e Handelman et al.22 demonstram que é possível promover a inclinação do processo alveolar da maxila sem consequências aos dentes e periodonto de suporte. Considerando-se que, nessa técnica, nos momentos em que há dor o paciente deve voltar o parafuso e, posteriormente, reiniciar a ativação — ou seja, não há consequências ao se promover um movimento de inclinação e posterior desinclinação do dente —, pode-se concluir que, se for realizada uma tentativa de ERM em um paciente durante 5 dias e não ocorrer a disjunção maxilar, o protocolo pode ser modificado para ELM. Essa fle- xibilização já foi proposta antes15 e promove os mesmos resultados da técnica de ELM, com a van- tagem de que, se houver a disjunção, promove-se um movimento mais ortopédico, como mostrado nos casos 3 e 4. É esse raciocínio que permite promover a tentativa da ERM nos pacientes adultos. Se no quinto dia de ativação não ocorrer a disjunção, o Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 73 parafuso é desativado 8/4 de volta (em um ou dois dias), espera-se um período de repouso de 40 dias e volta-se a ativar o parafuso 1/4 de volta em dias alternados ou com intervalos maiores, de acordo com o conforto do paciente (caso 5). Isso tem sido realizado em pacientes com menos de 30 anos de idade, que apresentam boa faixa e espessura de gengiva ceratinizada, inclinação lingual do rebor- do alveolar superior, periodonto em perfeitas con- dições e ausência de reabsorções radiculares nos dentes posteriores. Em pacientes com idade maior que 30 anos, utiliza-se direto o protocolo de ELM, sem promover a tentativa de ERM (caso 6). » Aparelho utilizado — Embora o trabalho ori- ginal de Handelman preconize o aparelho Haas, os autores não o utilizam pois, com ele, quando o paciente relata algum sintoma doloroso, não é possível distinguir entre a dor do movimento e a possível necrose do palato. Por isso, a opção é o aparelho Hyrax. CASO 5 Paciente com 24 anos de idade, sexo femini- no, má oclusão de Classe II, divisão I, subdivisão esquerda e mordida cruzada posterior unilateral. Quando compareceu para a consulta, estava usando aparelho há dois anos, mas encontrava-se insatisfeita com o desenrolar do tratamento. A mordida cruzada posterior a incomodava, e nada havia sido feito nesse sentido. O plano de tratamento proposto foi a tentativa de ERM e a distalização do segmento posterior esquerdo da maxila, para corrigir a Classe II e a linha média superior, que encontrava-se desviada. A B C Figura 5A, 5B e 5C: Fotografias laterais e frontal iniciais, onde se observa a má oclusão de Classe II, divisão 1, subdivisão esquerda e mordida cruzada posterior unilateral. Note que esse caso apresentava um fator preocupante, que era a brida gengival sobre a cervical do primeiro pré-molar superior esquerdo. A paciente foi orientada sobre a possível recessão que poderia ocorrer no local, principalmente pelo fato da expansão à qual seria submetida, e foi orientada que o melhor era realizar, previamente, um enxerto gengival livre, para depois iniciar o tratamento. A paciente se recusou, mas concordou em realizar o procedimento caso uma resposta indesejável ocorresse. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 74 D H E I F J Figura 5D, 5E e 5F: D) Aparelho Hyrax instalado. A princípio, realizou-se o protocolo de ativações da ERM, ou seja, 4/4 de volta ao dia, para posterior avaliação no quinto dia. Como não ocorreu a disjunção, o parafuso foi desativado 8/4 de volta; aguardou-se um período de repouso de 40 dias e, depois, reiniciou-se a ativação, com o protocolo de 1/4 de volta em dias alternados, até se atingir o resultado desejado (E, F). Observe que não houve abertura da sutura (ausência de diastema entre os incisivos centrais superiores), e sim uma grande inclinação dos processos alveolares superiores. Figura 5H, 5I e 5J: Fotografias laterais e frontal ao fim do tratamento, demonstrando o excelente relacionamento sagital, transversal e verticalentre os dentes e o periodonto saudável, sem recessões críticas devido ao procedimento transversal. Aparentemente, a tensão da brida sobre o pré-molar superior esquerdo diminuiu, em decorrência do seu movimento para a distal, por meio de mini-implantes ortodônticos. Figura 5G: Após a remoção do aparelho Hyrax, o aparelho fixo foi imediatamente montado e uma barra palatina foi fixada entre os primeiros molares superiores e mantida até o nivelamento com o fio 0,018” de aço. G Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 75 O P Q Figura 5O, 5P e 5Q: Fotografias laterais e frontal no controle de 5 anos pós-tratamento: o caso permaneceu completamente estável, dos pontos de vista oclusal e periodontal. Figura 5K e 5L: Fotografias oclusais inicial e final. K L Figura 5M e 5N: Fotografias do sorriso inicial e final. M N Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 76 CASO 6 Paciente com 36 anos de idade, sexo feminino, apresentando Classe I bilateral, apinhamentos mode- rados em ambas as arcadas, biprotrusão, mordida cruzada posterior bilateral, dentes posteroinferiores verticalizados no rebordo e ausência do primeiro mo- lar inferior esquerdo. A queixa principal da paciente era a estética bucal, devido aos apinhamentos, mor- dida cruzada e falta de selamento labial passivo. A paciente relatou que já havia realizado outras ava- liações e que, em todas elas, o tratamento requeria expansão cirúrgica da maxila, fato que afastou-a da realização do tratamento. Na presente avaliação, foi sugerida a Expansão Lenta da Maxila, com aparelho Hyrax, e extrações dos dentes #15, #25 e #44, para corrigir o apinhamento e a biprotrusão, planejamento ao qual a paciente aderiu imediatamente. A B C Figura 6A, 6B e 6C: Fotografias laterais e frontal que denotam a má oclusão de Classe I bilateral, apinhamentos moderados em ambas as arcadas, biprotrusão, mordida cruzada posterior bilateral, dentes posteroinferiores verticalizados no rebordo e ausência do primeiro molar inferior esquerdo. A situação periodontal era ótima, com gengiva ceratinizada abundante e espessa na maxila. Figura 6D e 6E: D) Fotografia oclusal do Hyrax já instalado. Note as extensões nos caninos e segundos molares. No lado superior direito, optou-se por utilizar a banda no segundo molar, devido ao risco de quebra da coroa do primeiro molar, pela força do aparelho. E) O expansor foi ativado 1/4 de volta em dias alternados, até quase a relação de topo dos posteriores. O procedimento foi mais conservador porque o rebordo superior já estava quase verticalizado ao início e porque os dentes inferiores aceitavam um pouco de inclinação lingual. D E Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 77 G H I Figura 6G, 6H e 6I: Fotografias laterais e frontal ao fim do tratamento, demonstrando excelente relacionamento sagital (até os terceiros molares) e transversal, periodonto saudável e sem recessões críticas devido ao procedimento transversal. Figura 6J e 6K: Fotografias oclusais da maxila ao início e ao fim do tratamento: note a modificação anatômica positiva atingida, com maior espaço intrabucal e o palato mais arredondado. Figura 6F: Após o período de 3 meses pós-ativação, o Hyrax foi removido e, na mesma sessão, foi instalada uma barra palatina (que se manteve na posição até o nivelamento com o fio 0,018” de aço) e montou-se o aparelho fixo. Posteriormente, já nos fios retangulares, os dentes foram extraídos e os espaços, fechados. J K F Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 78 N O P Figura 6N, 6O e 6P: Controle de 8 meses, com resultados estáveis e ainda em período de contenção. Figura 6L e 6M: Sorriso da paciente ao início e ao fim do tratamento, com modificações positivas, do ponto de vista estético. L M MARPE (MINISCREW-ASSISTED RAPID PALATAL EXPANDER) – EXPANSÃO RÁPIDA DA MAXILA ANCORADA EM MINI-IMPLANTES A modalidade mais recente para a expansão maxilar recebeu a designação de MARPE34, e di- fere das outras modalidades por estar apoiada em mini-implantes instalados na maxila, próximos à sutura palatina mediana. Em seu trabalho inicial, Lee et al.34, em 2010, trataram um paciente, com 20 anos de idade e que apresentava deficiência transversal da maxila, usando um aparelho Hyrax adaptado, com fios soldados ao corpo principal, onde quatro parafusos eram fixados na maxila. A ativação utilizada durante o tratamento foi de 1/4 de volta ao dia, iniciando no dia posterior à instalação e continuando por 6 semanas, resultan- do em um aumento intermolares de 8,3 mm. Após esse período, o expansor foi mantido em posição por mais 3 meses, para permitir a formação ós- sea na área da sutura, e depois foi removido. Os resultados foram estáveis clínica e radiografi- camente. Em 2016, Choi et al.35 publicaram um estudo utilizando a mesma técnica, a qual cha- maram de MARME (Miniscrew-Assisted Rapid Maxillary Expander), em 69 pacientes adultos Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 79 (acima de 18 anos de idade) e selecionaram 20 pacientes desse montante, 10 do sexo masculino e 10 do sexo feminino — com idade média de 20,9 ± 2,9 anos e com controles pós-tratamento (30 ± 13,2 meses) — para avaliar os resultados. Concluíram que as modificações esqueléticas (2mm) e dentárias (4mm) foram estáveis durante o período de contenção, não houve aparecimen- to de recessões nos dentes posteriores e nenhum caso recidivou para a mordida cruzada ou mes- mo de topo, sendo, assim, considerados estáveis. Um dado importante obtido nesse trabalho foi que em 13,04% dos casos houve insucesso na disjunção maxilar, ou seja, 9 dos 69 indivíduos da amostra (8 homens e 1 mulher, com idades variando entre 19 e 26 anos). A ativação rea- lizada foi de 1/4 ao dia (0,2mm), continuada até as cúspides palatinas dos molares superiores contatarem as cúspides vestibulares dos molares inferiores. O insucesso da disjunção palatina foi estabelecido quando a sutura ainda não havia sido aberta até a quarta semana de ativação (ou seja, 28 ativações = 5,6 mm). Isso é importante para que o clínico tenha parâmetros de quando deve dar continuidade ou parar, no advento de perceber que não está havendo a disjunção do palato. Para facilitar o procedimento da MARPE, sem ter que fazer adaptações e soldas para alojar os parafusos, Suzuki et al.36 desenvolve- ram o parafuso expansor PecLab (PecLab, Belo Horizonte, Brasil), que já possui os slots dos parafusos alojados em seu corpo, sendo dois na região mais anterior e dois na região posterior. Informações importantes a respeito da anatomia da maxila e áreas próprias para a fixação do parafuso já foram publicadas36,37 e devem ser conhecidas, para se realizar os procedimentos com segurança. No caso apresentado a seguir (caso 7), o passo a passo da instalação do ex- pansor PecLab, assim como os procedimentos clínicos envolvidos na operação, são descritos. CASO 7 Paciente do sexo masculino, 30 anos e 10 meses de idade, procurou tratamento ortodôntico com a seguinte queixa principal: “Tenho dificuldade para cortar os alimentos” (mordida aberta anterior) “e dentes tortos” (estética). O paciente apresentava má oclusãode Classe I de Angle, mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior bilateral, com um perfil facial levemente convexo, selamento labial passivo e ausência de assimetria. O plano de tra- tamento sugerido foi a Expansão Rápida da Ma- xila apoiada em mini-implantes (disjuntor Marpe, PecLab) e tratamento ortodôntico com aparelhos fixos para a correção da má oclusão. O paciente foi orientado de que o procedimento era uma tenta- tiva e que, em caso de insucesso, seria necessário realizar os procedimentos de ELM ou expansão rá- pida assistida cirurgicamente. Após as ponderações sobre os objetivos, limitações e possíveis efeitos co- laterais, o tratamento proposto foi aceito por ele. Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 80 A D B E C F Figura 7A, 7B e 7C: Fotografias laterais e frontal iniciais, denotando a má oclusão de Classe I, mordida cruzada posterior bilateral e mordida aberta anterior. O periodonto na região posterior apresentava-se com boa faixa de gengiva ceratinizada e com ótima espessura. A mordida cruzada bilateral e os rebordos dentoalveolares posteriores verticalizados caracterizavam uma deficiência esquelética da maxila. Figura 7D, 7E e 7F: Fotografias iniciais da face, onde se nota o perfil levemente convexo, selamento labial passivo e ausência de assimetria. O sorriso apresentava-se deficiente, com a linha dos incisivos invertida, em decorrência da mordida aberta. Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 81 Figura 7G e 7H: Fotografias dos modelos iniciais superior e inferior, quantificando-se a deficiência transversal presente. Mede-se a distância entre as cúspides mesiais palatinas superiores e entre as fossas oclusais centrais dos molares inferiores, que é o local de assentamento das cúspides, na relação de Classe I. No presente caso, obteve-se distância intermolares superior de 35mm (G) e distância intermolares inferior de 46mm (H), demostrando a necessidade de expansão de 11mm (46mm - 35mm = 11mm). Por esse cálculo, é possível delinear a escolha do parafuso, sendo o ideal trabalhar com uma folga de pelo menos 2 mm, ou seja, o parafuso ideal seria o de 13mm. Figura 7I e 7J: I) Mini-implante da PecLab, específico para ser usado em conjunto com o disjuntor MARPE, também da PecLab. Tamanhos disponíveis do mini-implante: transmucoso de 4mm, diâmetro de 1,8mm e parte ativa (rosca) de 5 e 7mm. O profissional não precisa se preocupar em escolher o transmucoso e o diâmetro, pois essas medidas são únicas. O que muda é somente a parte ativa (tamanho da rosca). O com 7 mm de tamanho é usado na região anterior (palato mais espesso) e o de 5 mm, na região posterior do palato (osso menos espesso). J) Broca com diâmetro de 1,1mm e ponta ativa de 4mm, utilizada para a perfuração do palato, facilitando a instalação dos mini-implantes. G I J H Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 82 Figura 7K e 7L: A instalação pode ser realizada com a chave de mão da PecLab, que se adapta no contra-ângulo convencional, ou com um contra-ângulo e motor de implante (K). O kit do disjuntor acompanha uma chave com ajuste perfeito na cabeça do mini-implante e no contra-ângulo (qualquer contra- ângulo). L) Embalagem estéril do mini- implante, com as suas especificações descritas na parte da frente. Figura 7M: Fotografia do modelo superior durante a confecção do disjuntor. Sequência: 1) bandar os dentes #16 e #26 e realizar a moldagem de transferência; 2) traçar a linha média no modelo, para guiar o posicionamento do expansor; 3) com as bandas em posição no modelo, soldar o disjuntor MARPE nas bandas (deixar o disjuntor encostado no tecido mole do palato). Embora haja maior espessura de osso na região mais anterior da maxila, a posição do parafuso é guiada pela sua adequada adaptação, encostado no palato. No presente caso, ao deslocar o parafuso mais anteriormente, encontrava-se uma inclinação muito íngreme da pré-maxila, dificultando seu posicionamento. O disjuntor MARPE, da PecLab, está disponível nos tamanhos de 6, 9 e 11mm. Nesse caso, apesar da necessidade do maior disjuntor, foi utilizado o de 6mm, pois foi o único que coube encostado no palato do paciente sem pressionar a mucosa lateral (palato muito atrésico). Essa pode ser considerada uma limitação da técnica; porém, não é excludente, como pode ser avaliado na sequência de fotografias a seguir. K L M Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 83 Figura 7N e 7O: Instalação do expansor. Após anestesiar o paciente (nasopalatino e palatino maior bilateral), cimentar o disjuntor, utilizar a broca (Fig. 7J) para preparar os orifícios dos mini-implantes, e proceder com a fixação desses, tomando o cuidado de fixá-los de forma alternada: anterior direito (N) – posterior esquerdo (O) – anterior esquerdo – posterior direito) para evitar báscula no disjuntor. No presente caso, para a perfuração inicial com a broca, foi utilizado torque de 45N e 1200 rpm, com refrigeração, para não aquecer o tecido ósseo, e a fixação dos mini-implantes foi realizada utilizando-se o motor regulado em 18 rpm. Figura 7R e 7S: Fotografias oclusais demonstrando o disjuntor MARPE e mini-implantes de ancoragem instalados. As recomendações ao paciente após a instalação são de uso de analgésico, em caso de dor, e cuidados com a higiene. Figura 7P e 7Q: P) Aperto final dos mini-implantes, com auxílio de um torquímetro (Q). Nesse caso, foi utilizado um torquímetro da Neodent (Neodent, Curitiba, Brasil), mas qualquer marca de torquímetro é compatível com a chave da PecLab. Os mini-implantes travaram com 20N. Deve-se evitar torques acima de 35N, pois corre-se o risco de fratura (segundo recomendações do fabricante). N R P O S Q Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 84 Figura 7T e 7U: O protocolo de ativação utilizado foi de 1/4 de volta pela manhã e 1/4 de volta à noite. A abertura do diastema se deu após a realização de 4 voltas completas (8 dias = 4mm). Note o aparecimento do diastema entre os incisivos centrais superiores. Figura 7X e 7Y: Com mais quatro dias de ativação, atingiu-se o limite de expansão do disjuntor. Como pode-se avaliar nessas fotografias em ângulo de 45º, os pré-molares e caninos já apresentavam uma boa sobrecorreção; porém, os molares ainda não. Por isso, optou-se por remover o disjuntor e, agora que a sutura já havia sido rompida, instalar um Hyrax convencional e continuar a expansão até o limite desejado. Figura 7V: Sorriso do paciente, demonstrando a abertura do diastema após 8 dias de ativação. T X U Y V Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 85 A B C D E Figura 8A, 8B e 8C: Fotografias frontal e com ângulo de 45º, onde se observa a sobrecorreção na região dos pré-molares e molares, e a maior amplitude do diastema entre os incisivos centrais. Figura 8D: Radiografia oclusal final, evidenciando a abertura da sutura palatina mediana. Figura 8E: Fotografia do sorriso ao fim da terapia transversal.Nesse momento, o paciente ainda se encontrava em tratamento; o expansor ficaria em posição (passivo) por mais noventa dias, até a consolidação da sutura e, logo após, seriam instalados os aparelhos fixos superior e inferior, para conclusão do tratamento. Z1 Z2 Z3 Figura 7Z1, 7Z2 e 7Z3: Z1) Remoção do disjuntor MARPE e instalação de bandas nos pré-molares, para moldagem para Hyrax convencional. Z2) Instalação de disjuntor Hyrax convencional (11 mm). Nessa fase, mudou-se o protocolo de ativação para 2/4 de volta pela manhã e 2/4 à noite. Z3) Fotografia oclusal após 7 dias (+7 mm de expansão). Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 86 RECOMENDAÇÕES DE CONTENÇÃO PÓS-EXPANSÃO MAXILAR EM ADULTOS Não existe um consenso em relação ao tipo e tempo de contenção pós-expansão maxilar em adultos, mas algumas diretrizes podem ser sugeridas. Handelman16 recomenda, nos casos de ELM, uma contenção com Hawley superior em uso noturno por 5 anos. Essa recomenda- ção, embora segura, parece um pouco exa- gerada e, às vezes, pode ser negligenciada pelo paciente. Os casos clínicos aqui descritos utilizaram o protocolo de contenção com placa de Hawley superior o dia todo (manhã, tarde e noite), por um período de um ano e mais um ano de utilização noturna, e têm mostrado uma ótima estabilidade. Esse protocolo é o dobro do utilizado em casos convencionais, que é de 6 meses o dia todo e somente 6 meses noturno. DISCUSSÃO A atresia maxilar é uma deficiência transver- sal que pode ter etiologia dentária, esquelética ou uma combinação de ambas. Em pacientes jovens, até a adolescência, os procedimentos de ERM são bastante previsíveis5,10, ou seja, a porcentagem de sucesso da disjunção maxilar é muito grande e, portanto, esse é o método de escolha para a correção do problema, in- dependente da sua etiologia; apesar de que, quando o problema é somente dentário, as correções podem ser realizadas de diversas maneiras, utilizando-se aparelhos fixos e/ou móveis. Quando se trata de pacientes adultos, do final da adolescência em diante, o prognós- tico da disjunção maxilar começa a diminuir, ou seja, pode não haver o rompimento da sutura palatina mediana e a utilização da ERM passa a ser um procedimento incerto35. Estudos utili- zando radiografias38 ou tomografias de feixe cônico32, para diagnosticar previamente se a sutura palatina mediana já se encontra fusiona- da ou não, com o intuito de realizar um prog- nóstico preciso da abertura da sutura com ERM, já foram conduzidos; porém, a aplicabilidade clínica dos métodos para conduzir a disjunção sutural em adultos ainda é incerta. A idade cro- nológica também não é confiável, visto que a variação biológica é muito grande9,39,40. Dessa forma, se o clínico deseja proceder com a cor- reção de um problema transverso em adultos, não há uma metodologia totalmente confiável para prever o sucesso da disjunção maxilar por meio de expansores tradicionais, apoiados em dentes (Hyrax), dentomucossuportados (Haas) ou mesmo apoiados no esqueleto (MARPE). No entanto, o que deve ser considerado é que não existe somente uma maneira de se promo- ver ganhos transversais na maxila (disjunção maxilar). As inclinações dentoalveolares pro- movem ganhos tão positivos quanto essa16,22,33, inclusive quando se compara com a disjunção assistida cirurgicamente22. Para se promover modificações dentoalveolares de forma segura, evitando o aparecimento de recessões, é im- portante que o periodonto de proteção esteja em boas condições, com ausência de inflama- ção ou de recessões prévias, com boa espessu- ra gengival e uma adequada faixa de gengiva ceratinizada16,17,19,22,33. As opções para a correção transversal em adultos podem ser divididas em ortopédicas (que promovem a disjunção maxilar) ou ortodôn- ticas, que promovem a inclinação dentoalveo- lar. Entre as opções ortodônticas, encontram-se as expansões promovidas com fios ortodônti- cos23-25, com auxílio ou não de elásticos inter- maxilares e arcos auxiliares; a expansão alveo- lar rápida da maxila (EARM)16,22 e expansão lenta da maxila (ELM)33. Esses procedimentos são previsíveis e têm demonstrado estabilidade Tratamento das discrepâncias transversais em adultos: racionalização das alternativas ortodônticas e ortopédicas © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 87 ao longo do tempo. As opções ortopédicas re- querem a disjunção maxilar, e são promovidas por meio da ERM ou MARPE, e têm na sua im- previsibilidade21,35 a maior deficiência. O pre- sente artigo mostrou uma zona de transição possível: levando-se em consideração a impre- visibilidade da disjunção maxilar, recomenda-se a tentativa de disjunção até o quinto dia (em pacientes com até 30 anos) e, se não ocorrer a abertura, volta-se o parafuso e procede-se com a ELM (caso 5). Esse protocolo permite realizar a tentativa com mais segurança, sem o risco de ter que abortar o procedimento, e se apoia nos benefícios que são possíveis com os protocolos de EARM e ELM. Por isso, como a disjunção é imprevisível, deve-se ficar atento às recomendações de características saudáveis do periodonto, pois esse deve estar preparado para uma maior compensação dentoalveolar, no caso de insucesso ortopédico. O recurso do protocolo MARPE34-36, mais recentemente acrescentado ao arsenal do ortodontista, é uma excelente solução para a correção trans- versal ortopédica da maxila em adultos e tem a grande vantagem de não acarretar inclinações vestibulares aos dentes de suporte35,41. No en- tanto, a imprevisibilidade quanto à disjunção é a mesma que na ERM, com a desvantagem de requerer um maior treinamento do profissional e ter maiores riscos de fratura ou soltura dos mini-implantes, o que pode acarretar em pro- cedimentos mais longos e desconfortáveis ao profissional e ao paciente. De uma forma bas- tante racional, considerando-se o que foi expos- to, a indicação mais precisa para o protocolo MARPE seriam os casos com atresia crítica da maxila, apresentando formato triangular e pala- to ogival, com grande discrepância transversal, dentes superiores já verticalizados no rebordo, dentes de suporte para ERM com deficiências periodontais, incluindo perdas ósseas, ausência de gengiva ceratinizada, recessões gengivais e reabsorções radiculares e, até mesmo, des- dentados que necessitam da expansão maxilar para um melhor posicionamento dos implantes, nos casos de reabilitação bucal. CONCLUSÕES Existem várias possibilidades para o trata- mento das discrepâncias transversais em pa- cientes adultos, sendo que a diferença principal entre as modalidades disponíveis é o real movi- mento ortopédico da maxila (disjunção maxilar) ou a correção pela inclinação dos dentes e re- bordos alveolares posteriores. O primeiro crité- rio de escolha deve ser, sempre, a necessidade de correção, ou seja, se há comprometimento funcional ou estético do paciente, por meio da análise funcional e anamnese. Esse quesito é exclusivo, pois, como existe imprevisibilidade na disjunção ortopédica, não é interessante expor o paciente ao desconforto e riscos de uma tentativa de ERM ou mesmo MARPE. Já em relação à inclinação dos dentes, por meio de sobrecontorno dos arcos, EARM ou ELM, os riscos são menores, a previsibilidade é maior, porém as condições do periodonto devem ser ótimas, isso é, presença de faixa mínima de gengiva ceratinizada (2 mm) nos dentes pos- teriores, ausência de recessões nos dentes de suporte (quando se utiliza Haas ou Hyrax), au- sência de reabsorções e perdas ósseas. Assim que é definida a necessidade, o segundo cri- tério é a idade. Quando os pacientes estive- rem abaixo dos 30 anos, e todas as condiçõesperiodontais acima descritas estiverem de acor- do, a tentativa com a ERM ou MARPE deve ser considerada, suportada pelo fato de que, se não houver a disjunção maxilar, pode-se recorrer à ELM. Ainda em relação à escolha Janson M, Silva Neto FH © Dental Press Publishing | Rev Clín Ortod Dental Press. 2016 Dez-2017 Jan;15(6):56-89 88 entre a ERM e a MARPE, seria imprescindível a opção pela MARPE quando as condições do periodonto não forem ideais ou quando existi- rem perdas múltiplas, partindo-se do princípio de que a sutura palatina, se for abrir, abrirá em qualquer uma das técnicas. Em pacientes acima dos 30 anos, as opções de inclinações dentoalveolares são mais seguras e surtem óti- mo efeito, com baixo risco; porém, apresentam limitações relacionadas à gravidade da discre- pância transversa. Casos com deficiências se- veras, necessidades de expansão maiores que 8 mm, mordidas cruzadas bilaterais, rebordos alveolares superiores já verticalizados e de- ficiências periodontais nos dentes de suporte não são adequados, sendo mais seguro tentar a expansão com a MARPE, embora seja incer- ta. No caso de se optar pela MARPE e haver insucesso, o caminho natural seria a expansão cirúrgica. Obviamente que não existe uma li- nha divisória totalmente clara e objetiva nessas decisões, principalmente devido às incertezas quanto à resposta da sutura palatina no adul- to. Assim, a experiência do profissional, o rigor nos critérios de seleção e o conhecimento das técnicas são imprescindíveis. Em casos onde a insegurança reinar, é mais indicado realizar um procedimento de ERM assistida cirurgicamente, que apresenta um prognóstico mais certo, em- bora seja desconfortável, tenha um custo maior e também ofereça riscos, como qualquer proce- dimento cirúrgico. 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