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AT 1
TÓPICOS ESPECIAIS EM 
SAÚDE COLETIVA
2 32
S
U
M
Á
R
IO
3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Ética e Bioética
4 2.1 Ética na prática da enfermagem
8 2.2 Ética na saúde pública e na pesquisa epidemiológica 
10 2.3 Responsabilidade ético-legal do enfermeiro
13 2.4 COFEN e as comissões de ética
18 UNIDADE 3 - Humanização e a Política Nacional de Humanização
25 UNIDADE 4 - A Gestão dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS
25 4.1 Os Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS
27 4.2 Coleta, tratamento e destinação
28 4.3 Os principais riscos dos resíduos de saúde
32 UNIDADE 5 - A Segurança do Profissional de Saúde
32 5.1 Cuidados com o estresse do profissional
34 5.2 A questão da biossegurança – cuidados pessoais e coletivos
38 UNIDADE 6 - O Papel das Ciências Sociais no Âmbito da Saúde Coletiva
40 REFERÊNCIAS
2 33
UNIDADE 1 - Introdução
Reservamos este momento ao qual cha-
mamos de “Tópicos Especiais” porque exis-
tem certos temas e conteúdos que merecem 
um momento especial para reflexão. Eviden-
temente que todos esses temas têm relação 
com as disciplinas estudadas, que a título de 
exemplo encontra na unidade ‘ética e bioé-
tica’ um tema que permeia toda e qualquer 
profissão.
A humanização, assunto da segunda uni-
dade, também faz parte do universo dos 
profissionais que lidam com o processo saú-
de-doença do ser humano. Aqui veremos 
seu nascimento e a Política Nacional de Hu-
manização, que em última instância, busca 
efetivar os princípios do SUS no cotidiano 
das práticas de atenção e gestão da saúde, 
qualificando a saúde pública no Brasil e in-
centivando trocas solidárias entre gestores, 
trabalhadores e usuários.
A preocupação com a questão ambiental é 
um motivo mais que suficiente para vermos 
o gerenciamento dos resíduos dos serviços 
de saúde, como de fundamental importância 
na preservação da qualidade da saúde e do 
meio ambiente e como um tópico que preci-
sa ser discutido quando se trata da gestão 
de serviços de saúde, principalmente em re-
lação aos hospitais, ambulatórios e unidades 
de saúde.
Claro que a gestão correta dos resíduos 
dos serviços de saúde implica em segurança 
para os profissionais de saúde, assim como 
devemos dar atenção devida às consequ-
ências de problemas que acometem esses 
profissionais como o estresse e outras situa-
ções que levam o profissional ao adoecimen-
to e/ou perda da qualidade do trabalho.
Fechamos este módulo apresentando al-
gumas defesas de duas pesquisadoras acer-
ca da interface existente entre as Ciências 
Sociais e Humanas no âmbito da Saúde que 
são de extrema validade e só vem a contri-
buir para que ambas as áreas tenham sem-
pre o ser humano como foco principal de sua 
atenção.
Ressaltamos em primeiro lugar que embo-
ra a escrita acadêmica tenha como premissa 
ser científica, baseada em normas e padrões 
da academia, fugiremos um pouco às regras 
para nos aproximarmos de vocês e para que 
os temas abordados cheguem de maneira 
clara e objetiva, mas não menos científicos. 
Em segundo lugar, deixamos claro que este 
módulo é uma compilação das ideias de vá-
rios autores, incluindo aqueles que conside-
ramos clássicos, não se tratando, portanto, 
de uma redação original e tendo em vista o 
caráter didático da obra, não serão expres-
sas opiniões pessoais.
Ao final do módulo, além da lista de refe-
rências básicas, encontram-se outras que 
foram ora utilizadas, ora somente consulta-
das, mas que, de todo modo, podem servir 
4 54
UNIDADE 2 - Ética e Bioética
O Código de Ética dos Profissio-
nais de Enfermagem (Resolução CO-
FEN-240/2000 revogado pela Resolução 
COFEN nº 311/2007) é um documento-
-guia que focaliza os valores que devem 
fundamentar o conhecimento, a atitude 
e a prática de toda e qualquer pessoa que 
desenvolve ações de enfermagem, tendo 
como referência que a vida é o direito mais 
fundamental de todo ser humano.
Para que os significados desses valo-
res se tornem concretos, eles precisam 
ser aplicados à realidade dinâmica dos 
elementos centrais do trabalho de en-
fermagem, ou seja, quando aplicados em 
situações junto às pessoas envolvidas – 
cliente, população, equipe de enfermagem 
e de saúde – e quando aplicados na prática 
institucional e na profissão em si (TOCAN-
TINS; SILVA; PASSOS, 2003).
Merece destaque que o Código de Éti-
ca dos Profissionais de Enfermagem, ou 
seja, daqueles formalmente habilitados 
a agir desenvolvendo ações de cuidado 
profissional, focaliza o outro, seja o assis-
tido-cliente, seja o assistente-profissional, 
com respeito e como seres livres e autô-
nomos, capazes de agir livremente e de 
fundamentar com responsabilidade suas 
formas de agir.
2.1 Ética na prática da en-
fermagem
Deveria ser ponto fechado que o cuida-
do ao ser humano é o objetivo final quando 
se trata do binômio saúde-doença, e temos 
todo um suporte teórico-prático que veio 
se construindo ao longo da nossa evolução. 
Suporte este que envolve conhecimentos, 
evolução das teorias, filosofias e outras ci-
ências que se somam, como, por exemplo, 
o agir ético, no entanto, ainda precisamos 
lançar algumas reflexões sobre a ética e 
bioética, por uma série de fatores que va-
mos resumir em “não agir com ética”.
De todo modo, o simples fato da disponi-
bilidade de um determinado conhecimento 
ou tecnologia não é argumento válido o 
bastante para aplicá-lo em toda e qualquer 
situação da prática profissional. Sempre 
será necessário analisar os aspectos posi-
tivos e negativos de qualquer ação, tendo 
por referência os valores que dão origem 
à mesma, seja para a pessoa assistida, 
seja para grupos da população. O estudo e 
análise desses aspectos, ou seja, do valor 
de uma ação, é o que se denomina, no seu 
sentido amplo, ética (TOCANTINS; SILVA; 
PASSOS, 2003).
A ética pode ser entendida como o “es-
tudo dos juízos de apreciação referentes 
à conduta humana suscetível de qualifica-
ção do ponto de visto do bem e do mal, seja 
relativamente a determinada sociedade, 
seja de modo absoluto”. (FERREIRA, 2004). 
Nesse sentido, a ética sempre irá referir-se 
ao valor da ação humana, à ação de um ser 
consciente, racional e com liberdade para 
optar por este ou aquele valor para funda-
mentar o seu agir em determinadas situa-
ções da vida. A pessoa, o ser humano, é o 
valor central de tudo quanto nos rodeia.
Contudo, mesmo com essa liberdade de 
agir de cada ser humano, o valor deste agir 
é constituído concretamente mediante re-
lações com outros seres humanos. Assim, 
4 55
os orientadores da validade dos valores do 
agir de cada ser humano são o convívio e o 
aprendizado das regras e valores de dife-
rentes grupos humanos.
Falar em ética nos reporta quase que 
automaticamente para a moral! Esta pala-
vra moral tem sua origem no latim (more) 
e remete aos usos e costumes. O conjunto 
de regras de conduta consideradas como 
válidas, quer de modo absoluto para qual-
quer tempo ou lugar, quer para grupos ou 
pessoa determinada, é denominado moral. 
Como conjunto de normas e costumes, ao 
mesmo tempo em que tende a regulamen-
tar o agir das pessoas, a moral oportuniza 
refletir sobre o valor do agir humano. Com 
esse entendimento, a ética é o estudo, a 
análise, a discussão da moral do agir huma-
no em determinada realidade.
Enquanto a regra moral é ideal e se 
fundamenta no respeito a essas regras a 
partir de convicções próprias de cada ser 
humano, a regra legal é uma norma práti-
ca, de aplicação compulsória e faz agir por 
obrigação externa, por conformidade à lei.
Nesse sentido, o questionamento quan-
to à eticidade de determinada ação ocorre 
quando existem dúvidas quanto à adequa-
ção moral de cada escolha, quando a esco-
lha envolve proposições opostas ou uma 
situação com apenas duas possibilidades 
de ação difíceis ou penosas,ou seja, um 
dilema ético (TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 
2003).
A ética, de forma geral, ocupa-se da 
análise do que é bom (ou correto) e do que 
é mau (ou incorreto) no agir humano. A 
ética aplicada, nessa mesma linha de pen-
samento, trata de questões relevantes à 
pessoa e à humanidade.
A partir de 1960, a preocupação mundial 
com as questões morais em diferentes se-
tores da sociedade fez emergir, segundo 
Clotet (1997), entre outras:
 ética dos negócios, em que a ques-
tão da corrupção e abusos econômico-fi-
nanceiros passaram a ser objeto de discus-
são;
 ética ambiental, envolvendo princi-
palmente os valores a fundamentar a de-
fesa da preservação e proteção do meio 
ambiente;
 bioética, cujo objeto de estudo ético 
tem como realidade a vida dos seres hu-
manos em geral, significando um diálogo 
para formular, articular e resolver dilemas 
que emergem das propostas de pesquisa e 
intervenção sobre a vida, a saúde, o meio 
ambiente.
Ao focalizar a reflexão ética no fenôme-
no da vida, e considerando o dinamismo 
dos eventos vitais, as temáticas tratadas 
pela Bioética podem ser subdivididas em: 
aquelas que emergem dos conflitos entre 
o progresso das ciências e os direitos hu-
manos, como a fecundação artificial, a clo-
nagem; e aquelas presentes no cotidiano 
das pessoas, como a eutanásia, o aborto, a 
violência.
A Bioética é o estudo sistemático das 
dimensões morais – incluindo visão moral, 
decisões, condutas e políticas – das ciên-
cias da vida e atenção à saúde, utilizando 
uma variedade de metodologias éticas em 
um cenário interdisciplinar. (REICH, 1995 
apud TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003). 
Com esse entendimento, a Bioética en-
volve o estudo sistemático da conduta 
humana na área das ciências da vida e da 
6 7
atenção à saúde, conduta esta examinada 
à luz dos valores e princípios morais (GON-
ÇALVES, 1994).
No que se refere aos cuidados e à aten-
ção à saúde, e tendo por base a sua dire-
triz central, os valores que fundamentam o 
agir no setor saúde podem ser agrupados 
em:
 orientados por recursos – na situa-
ção em que a diretriz central são os recur-
sos, predomina o valor do custo-benefício, 
isto é, a relação entre o custo de investi-
mentos em recursos financeiros, materiais 
e recursos humanos e o benefício de alcan-
çar o máximo de saúde;
 orientados por doenças – quando a 
diretriz central é a doença, o valor presente 
é de que qualquer problema de saúde pode 
ser eliminado pela aplicação de tecnolo-
gias médicas e de saúde. Nesse contexto, 
ela é entendida como a ausência de qual-
quer doença, entendida por sua vez como 
apresentando um fundamento físico-bio-
lógico particular, passível de ser diagnos-
ticado pelo profissional de saúde. Assim, o 
valor positivo da assistência de saúde é o 
adequado tratamento dos indivíduos que 
apresentam uma doença, contribuindo 
para a eliminação de sinais e sintomas físi-
co-biológicos, caracterizados como situa-
ção de anormalidade;
 orientados por decisões políticas 
– o agrupamento das ações que envolvem 
decisões políticas trazem em destaque os 
valores e interesses das lideranças polí-
ticas, que em princípio expressam os pro-
blemas de saúde da população de uma re-
gião ou país, envolvendo implicitamente a 
questão do direito como cidadão, a saúde e 
equidade no acesso a serviços;
 orientados por valores de clientes 
e familiares – o agir no setor saúde que 
tem como diretriz central os clientes e seus 
familiares, apresenta como valor central os 
valores daqueles que se beneficiam da as-
sistência à saúde.
Nessa situação, as necessidades con-
cretas de assistência de saúde da pessoa 
ou de grupos da população são concebidas 
não como uma concepção abstrata, mas, 
tendo por referência problemas vivencia-
dos, como a única forma possível de garan-
tir o preenchimento do seu direito à saúde 
e ao bem-estar.
Os valores da atenção à saúde podem ser 
refletidos e analisados, no sentido ético, 
tendo por fundamento princípios morais. 
Os princípios que orientam a análise de di-
lemas éticos, tanto aqueles que emergem 
da vida em geral quanto aqueles que en-
volvem o setor saúde (como os valores da 
prática profissional), são o respeito à auto-
nomia, à beneficência, à não-maleficência 
e à justiça (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1994 
apud TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003).
A concepção central que fundamenta o 
princípio da autonomia é a autogoverna-
bilidade, a de que cada pessoa é soberana 
para decidir tudo o que se refere ao seu 
corpo, ao seu pensar e ao seu agir. Nesse 
princípio, está implícita a perspectiva social 
de respeito a outro ser humano, ou seja, o 
respeito à autonomia de modo recíproco.
O princípio do respeito à autonomia tem 
como valor fundamental que cada ser hu-
mano é capaz de decidir sobre o que é me-
lhor para si mesmo e para seu grupo. Assim, 
não considerar essa capacidade, seja ne-
gando a liberdade pessoal e social de agir, 
seja omitindo informações disponíveis que 
6 7
subsidiam o julgamento do seu agir, signi-
fica faltar com respeito a essa autonomia. 
Alguns trechos do Juramento Profissional 
do Enfermeiro focaliza como valor central 
o respeito pela autonomia daquele que é 
assistido e a responsabilidade pelo seu agir 
profissional. Vejamos:
“respeitando a dignidade e os direitos da 
pessoa humana, exercendo a enfermagem 
com consciência e fidelidade” [...]
“respeitar o ser humano desde a con-
cepção até depois da morte”. 
Paralelamente, faz-se importante des-
tacar que o reconhecimento, total ou par-
cial, da capacidade de julgamento e deci-
são de uma pessoa pode variar de acordo 
com a cultura do grupo ou sociedade que 
integra. Dessa forma, aqueles que na nos-
sa sociedade são considerados legalmente 
imaturos (menores de idade), aqueles con-
siderados incompetentes para fazerem 
julgamentos ou se autogovernarem (doen-
tes mentais) ou aqueles institucionalmen-
te impedidos de exercerem a sua liberdade 
de ação (presidiários) requerem proteção 
da sua autonomia para, em última instân-
cia, não serem desrespeitados como seres 
humanos.
O princípio da beneficência tem o bem 
como fundamento básico de toda e qual-
quer ação profissional de saúde, isto é, o 
valor moral de agir em benefício de outros. 
Com esse entendimento, a assistência à 
saúde visa sempre os interesses do clien-
te, da família e da comunidade.
A beneficência distingue-se da bene-
volência; enquanto a primeira refere-se 
à característica da ação que visa o bem, a 
segunda caracteriza a atitude de boa von-
tade de uma pessoa em relação à outra. 
O bem visado pela ação do enfermeiro – e 
explicitamente detalhada no seu juramen-
to profissional – é a vida, tanto na dimen-
são individual como coletiva (“respeitar o 
ser humano desde a concepção até depois 
da morte”; “atuar junto à equipe de saúde 
para o alcance da melhoria do nível de vida 
da população”) (TOCANTINS; SILVA; PAS-
SOS, 2003).
O princípio da não-maleficência tem 
como valor máximo que qualquer ação 
deve, em primeira instância, não infligir 
dano intencional (primum non nocere). 
Esse princípio também está explícito no ju-
ramento profissional do enfermeiro – “não 
praticar atos que coloquem em risco a inte-
gridade física ou psíquica do ser humano”.
Muitos autores entendem que o valor 
da ação profissional “não causar dano” é 
complementar ao valor do princípio da be-
neficência, especificando que uma ação 
benéfica deve priorizar em primeiro lugar 
“não colocar em risco a saúde e a vida” e em 
segundo lugar “maximizar os benefícios”. 
Essa priorização, denominada “dever prima 
facie”, justifica-se pelo fato de, ao prevenir 
um dano intencional, o profissional está 
concretamente visando um bem.
A distribuição justa, equitativa, apro-
priada e universal no que se refere aos 
benefícios dos serviços e das açõesdos 
agentes de saúde é o valor que compõe 
o princípio da justiça aplicado ao setor da 
saúde e à prática profissional, também 
chamado Justiça Distributiva. É um dos 
valores implícitos no juramento do profis-
sional enfermeiro: “atuar junto à equipe de 
saúde para o alcance da melhoria do nível 
de vida da população”.
O Princípio da Justiça Distributiva inclui 
8 9
o entendimento de que o Estado, nos seus 
diferentes níveis, tem como dever pro-
mover o direito à saúde universal, isto é, 
o bem-estar coletivo. Apesar de todos os 
valores sociais deverem ser distribuídos 
igualmente – critério da equidade –, uma 
distribuição desigual tem valor moral posi-
tivo desde que redunde em vantagem para 
todos, especialmente os mais necessita-
dos.
Nesse contexto, é importante não con-
fundir os termos justiça e direito; a justiça 
refere-se a um critério moral, enquanto o 
direito é concretizado no convívio em so-
ciedade.
Uma das áreas na qual a Ética sempre 
ocupou um lugar de destaque é a da saú-
de, particularmente em questões que en-
volvem vida e morte. Com a evolução e a 
diversificação das práticas no setor saúde, 
emerge a particularidade de diferentes 
ações profissionais, entre as quais, os de 
Enfermagem, que por sua vez fundamen-
ta-se em valores distintos.
O conteúdo nuclear da enferma-
gem pode ser descrito por meio de 
três conceitos centrais:
 ser humano – aquele que é assistido 
e recebe cuidados de enfermagem, poden-
do estar representado por uma pessoa, 
uma família, uma comunidade ou grupos 
da sociedade;
 meio ambiente – representado pe-
los arredores institucionais imediatos, a 
comunidade ou o entorno social, que se re-
laciona de modo direto e/ou indireto com o 
ser humano;
 saúde – expresso pelo bem-estar, 
individual e/ou coletivo, decidido mutua-
mente pelo ser humano assistido e o en-
fermeiro.
A articulação da especificidade destes 
conceitos aponta para os valores e a dire-
ção de seus fatos e eventos, valores estes 
expressos no Código de Ética desses pro-
fissionais que veremos mais adiante.
2.2 Ética na saúde pública e 
na pesquisa epidemiológi-
ca 
A saúde pública em última definição tem 
como objeto o processo saúde-doença da 
coletividade, observado em suas dimen-
sões biológica, psíquica e sociocultural. A 
saúde deve ser compreendida como a ex-
pressão do maior grau de bem-estar que 
o indivíduo e a coletividade são capazes 
de alcançar através de um equilíbrio exis-
tencial dinâmico, mediado por um conjunto 
de fatores sociais, econômicos, políticos, 
culturais, ambientais, comportamentais e 
biológicos.
Há diversificados conceitos sobre o que 
vem a ser saúde pública, variando confor-
me a cultura de cada país, o papel aceito 
para a esfera estatal na saúde, o modelo 
dos sistemas de saúde existentes, as cren-
ças e a compreensão das pessoas acerca 
do processo saúde-doença e também so-
bre o valor e a responsabilidade social em 
relação à saúde dos indivíduos. Assim sen-
do, não se poderia pensar em uma noção 
de saúde pública de caráter universal.
Porém, conforme Paim e Almeida Filho 
(2000), a saúde pública deve ocupar-se da 
dimensão biológica, das relações entre o 
homem e o meio ambiente residencial, de 
trabalho e de lazer, da reprodução das for-
mas de consciência e de comportamento e 
8 9
das relações sociais e econômicas.
Poeticamente, ela é uma arte e uma 
ciência, que busca promover, proteger e 
restaurar a saúde dos indivíduos e da co-
letividade, e obter um ambiente saudável, 
através de ações e serviços resultantes 
de esforços organizados e sistematizados 
da sociedade. Saúde pública é o que a so-
ciedade faz coletivamente para assegurar 
as condições nas quais as pessoas podem 
ser saudáveis, o conjunto de práticas e sa-
beres que objetivam um melhor estado de 
saúde possível das populações (ZOBOLI; 
FORTES, 2003).
O campo da saúde pública é inter e mul-
tidisciplinar, envolve saberes da teoria e da 
prática, tem estrutura em órgãos estatais 
que atuam de várias maneiras, principal-
mente normalizando e regulando as ações, 
como por exemplo, a vigilância epidemio-
lógica, zoonoses, saúde do trabalhador, 
doenças endêmicas, mas também atua no 
setor privado e/ou por organizações não 
governamentais. As ações da saúde públi-
ca podem ser simples ou complexas, indo 
de unidades básicas até setores altamente 
complexos em hospitais especializados.
Educação, nutrição, meio ambiente 
também são campos/áreas que fazem par-
te das ações em saúde pública.
Enfim, essas características inter e mul-
tisetorial e inter e multidisciplinar nos le-
vam para a questão da ética e bioética que 
envolve uma gama de profissionais, cada 
um com atribuições específicas, mas que 
em rede tem como objetivo final a promo-
ção da saúde que atuam tanto no individu-
al como no coletivo (ZOBOLI, 2003).
Vamos focar no viés da autonomia in-
dividual x interesses da coletividade, mas 
de antemão frisamos: vamos lançar mais 
questionamentos do que soluções! Estas 
vocês irão refletir e buscar alternativas ao 
longo de suas caminhadas.
Por autonomia, entende-se que o sujei-
to pode escolher, dentre várias alternati-
vas, o que é melhor para si, de acordo com 
seus valores, expectativas, prioridades, 
necessidades e crenças (claro que de ma-
neira racional e quando tem capacidade de 
discernimento).
Quanto aos interesses da coletividade, 
estes podem ultrapassar os interesses in-
dividuais como, por exemplo, uma campa-
nha de vacinação, a fluoretação da água. 
No caso do controle e erradicação de uma 
doença contagiosa, claro que o benefício 
também é individual, mas a intenção maior 
seria a coletividade (ZOBOLI; FORTES, 
2003).
Pois bem, as ações de saúde pública in-
tentam interferir no processo saúde-do-
ença da coletividade, atuando em seus 
condicionantes, desencadeantes e de-
terminantes em múltiplos setores da ati-
vidade humana, com a finalidade de pro-
porcionar um melhor estado de saúde das 
populações. Nessa busca, podem surgir 
confrontos e conflitos entre os interesses 
individuais e os coletivos, entre a liberdade 
individual e o bem-estar ou a segurança da 
coletividade.
As ações de saúde pública podem gerar 
conflitos morais, pois muitas vezes limitam 
ou restringem liberdades e decisões indi-
viduais, ensejando o bem comum ou evi-
tando consequências antissociais. Assim 
o faz em nome da supremacia do interesse 
público sobre o individual, como se dá, por 
exemplo, com as ações de vigilância sani-
10 11
tária, vigilância epidemiológica, controle 
de zoonoses e saúde do trabalhador.
Essa interferência da saúde pública 
sobe a autonomia individual nos leva de 
volta aos princípios éticos da beneficência 
e da não-maledicência.
Fato é que no exemplo dado da fluoreta-
ção da água, muitas pessoas não gostam, 
não querem que a água que chega a suas 
casas venha carregada de produtos quími-
cos, e como o setor de distribuição de água 
não tem como separar água fluoretada de 
água pura, envia a fluoretada. Assim, ela 
está passando por cima da autonomia indi-
vidual e fazendo prevalecer os direitos da 
coletividade. Fica a deixa para vocês: cor-
reto ou errado?! Como resolver? 
Lembremos que a noção ética utilitaris-
ta do “maior benefício para o maior número 
de pessoas” está contida em boa parte das 
ações de saúde pública, como nos proce-
dimentos de vacinação em massa. Não é 
necessário que se justifique a importância 
da imunização em massa como foi e é feita 
para a poliomielite, mediante a utilização 
da vacina Sabin, que levou à erradicação 
da doença em nosso país. Contudo, sendo 
uma vacina de vírus vivos atenuados que é 
eficaz, entre outros motivos, pela possibi-
lidade de disseminação ambiental, sabe-se 
que os vírus poderão atingir pessoas que 
tenham o sistema imunológico comprome-tido, como é o caso das pessoas com AIDS. 
Esse risco de causar danos, conhecido pe-
los sanitaristas, é de baixa probabilidade, 
mas existe. Assim, continuamos a utilizar o 
processo de vacinação em razão dos milha-
res de crianças protegidas, mesmo haven-
do risco para alguns.
Quanto ao campo da pesquisa epide-
miológica, também é imprescindível re-
ver e atentar para as contradições entre 
o individual e o coletivo porque a pesquisa 
epidemiológica apresenta especificidade 
própria, necessitando, além dos aspectos 
gerais que envolvem as pesquisas com 
seres humanos, da interação com as ciên-
cias naturais, sociais e políticas (MARQUES, 
1996; RIBEIRO, 2002).
Novas tecnologias no campo da saúde, 
rápida disseminação dos conhecimentos 
científicos, ampliação dos movimentos 
em favor dos direitos individuais, a indús-
tria querendo se fortalecer em termos de 
maximização de lucros, são todos motivos 
para se preocupar e agir eticamente.
A verdade é que as pesquisas epidemio-
lógicas exercem um papel social, buscando 
solucionar problemas de saúde que atin-
gem determinada população, portanto, 
considerando esses aspectos, tais estudos 
devem atender a protocolos e padrões bio-
éticos definidos pela comunidade científi-
ca e fundamentados em conceitos de éti-
ca e moral que garantam a segurança dos 
participantes das pesquisas e atendam aos 
quatro princípios básicos da bioética: auto-
nomia, não-maleficência, beneficência e 
justiça (VENTURI et al, 2008).
2.3 Responsabilidade ético-
-legal do enfermeiro
Desde a Antiguidade, existem normas 
regulando as relações das pessoas em 
sociedade, estabelecendo regras para o 
convívio social, os direitos e deveres dos 
indivíduos, mas também impondo sanções 
ou reprimendas a quem não as cumprisse 
(FREITAS, 2007) e na enfermagem não é 
diferente!
10 11
Devemos nos lembrar de que todo com-
portamento humano está condicionado 
a determinadas normas sociais e às pes-
soas e, na atualidade, estão sujeitas a um 
ambiente muito mais legalista que veio se 
construindo ao longo da institucionaliza-
ção das profissões e no decorrer da evolu-
ção humana, é claro.
As leis, em seu conjunto, formam as le-
gislações e o ordenamento jurídico dos 
Estados/Países que direcionam a vida das 
pessoas, das empresas, entre outros, e as 
profissões de livre exercício como a En-
fermagem, por exemplo, não foge a essas 
regras. Também para ela temos as regula-
mentações que estabelecem quem é esse 
profissional e como pode e deve exercer 
com autonomia seu ofício.
No caso da enfermagem brasileira, com-
pete ao Congresso Nacional (Câmara e Se-
nado) criar a Lei do Exercício Profissional, 
que tem eficácia para todos os enfermei-
ros que atuam no território nacional e de-
termina as competências que lhes cabe.
Os legisladores e os operadores do Di-
reito (juízes, promotores, advogados) cos-
tumam apontar um velho princípio, segun-
do o qual a ignorância das leis não constitui 
argumento para defesa. Dessa forma, é 
indesculpável e inadmissível que o enfer-
meiro alegue não saber ou não conhecer as 
leis do nosso ordenamento jurídico ou a lei 
específica do exercício profissional. Assim, 
a ninguém é permitido alegar desconheci-
mento das regras sociais (dentre as quais 
as leis) para se eximir de responder por 
seus atos. Nesse sentido, vejamos o que 
diz o art. 21 do Código Penal brasileiro, com 
redação pela Lei nº 7.209/84:
Art. 21. O desconhecimento da lei é 
inescusável. O erro sobre a ilicitude do 
fato, se inevitável, isenta de pena; se evi-
tável, poderá diminuí-la de um sexto a um 
terço.
Parágrafo único. Considera-se evitável 
o erro se o agente atua ou se omite sem 
a consciência da ilicitude do fato, quando 
lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou 
atingir essa consciência.
Portanto, o indivíduo responde por sua 
conduta, quando consciente, livre e capaz 
de entendimento das consequências do 
seu ato, ou seja, quando capaz de discernir 
o que é permitido nas leis do seu país. Mas, 
além das normas jurídicas, existem usos e 
costumes que precisam ser conhecidos em 
cada sociedade e cultura.
A importância do conhecimento da le-
gislação geral e também da legislação pro-
fissional de enfermagem deve-se a dois 
motivos, basicamente: em primeiro lugar, 
porque a legislação possibilita a criação ou 
a extinção de direitos e obrigações. Por ou-
tro lado, sabe-se que ninguém se isenta de 
cumprimento da lei alegando desconhe-
cê-la. Daí a obrigação de todas as pessoas 
conhecerem as normas específicas da sua 
profissão, mas também o ordenamento 
jurídico de seu País. Ademais, o aprofun-
damento no estudo da legislação auxiliará 
na conquista de novos espaços de atuação, 
luta pelos direitos da categoria e consciên-
cia das obrigações éticas e legais.
Não cabe ao momento contar a evolução 
da legislação para a profissão, no entanto, 
vale lembrar que tudo teve início com o De-
creto nº 791, de 27 de setembro de 1890, 
determinando a criação da primeira escola 
profissional de enfermeiros e enfermeiras 
no Hospital Nacional de Alienados; que em 
12 13
1932, veio o Decreto 20.931, que preten-
dia regulamentar e fiscalizar o exercício da 
medicina, odontologia, medicina veteriná-
ria e das profissões de farmacêutico, par-
teira e enfermeira.
Atualmente, a Lei do Exercício nº 
7.498/86, art. 11, inc. I, m, estabelece que 
ao enfermeiro compete, privativamente, 
cuidados de enfermagem de maior com-
plexidade técnica que exijam conheci-
mentos de base científica e capacidade de 
tomar decisões imediatas. As atividades 
elementares de enfermagem são aquelas 
que compreendem ações de fácil execu-
ção e entendimento, baseadas em saberes 
simples, que não requerem conhecimento 
científico, adquiridos por meio de treina-
mento e/ou da prática; requerem destreza 
manual, restringem-se a situações de roti-
na e de repetição, não envolvem cuidados 
diretos ao paciente, não colocam em risco 
a comunidade, o ambiente e/ou a saúde do 
executante, mas contribuem para que a 
assistência de enfermagem seja mais efi-
ciente (Resolução COFEN nº 186/1995).
Em se tratando da responsabilidade da 
Enfermagem, podemos analisar sob dois 
aspectos: primeiro, a responsabilidade 
pode ser uma imposição legal ou moral de 
restabelecer o dano ou prejuízo acarreta-
do. Dessa maneira, o pai é o responsável 
legal pelo filho menor, devendo cuidar de 
seu sustento físico. Mas um parente abas-
tado financeiramente poderia sentir-se 
obrigado, do ponto de vista moral, a con-
tribuir para o sustento e educação de seu 
sobrinho. A obrigação é originariamente do 
pai, mas o tio poderá sentir-se moralmente 
responsável por ele.
De acordo com Oguisso e Schmidt 
(1999), a responsabilidade moral tem ori-
gem na transgressão de norma moral, cujo 
terreno é a consciência individual. O se-
gundo aspecto consiste em que não existe 
responsabilidade jurídica se a violação de 
um dever não produzir dano pessoal, ma-
terial ou moral.
A responsabilidade ética se caracteri-
za pela infração ética, a qual pode estar 
prevista no Código de Ética dos Profissio-
nais de Enfermagem (CEPE). Assim, um 
comportamento profissional pode ser tido 
como antiético mesmo não havendo previ-
são no CEPE sobre ele.
Os arts. 16 e 24 do CEPE mencionam a 
obrigação dos profissionais de enferma-
gem de prestar assistência livre de danos 
ou de riscos decorrentes de negligência, 
imperícia ou imprudência. Tal norma des-
creve a conduta esperada do profissional, 
a fim de evitar a ocorrência de quaisquer 
daquelas modalidades de culpa no exercí-
cio de atividades de enfermagem. Como se 
vê, a norma em si é genérica, cabendo-nos 
a interpretação e aplicação em cada caso 
concreto.
Dessa forma, se alguém age de manei-
ra desatenta, inábil ou imprudente, e com 
isso expõe o cliente a riscos desnecessá-rios a determinado malefício, deverá res-
ponder por isso.
A conduta do profissional poderá ser 
questionada pela família do cliente, por 
outros profissionais da área da saúde ou 
pelo próprio cliente perante as instâncias 
adequadas para tal, como a comissão de 
ética de enfermagem ou o serviço de ouvi-
doria e qualidade da instituição.
Poderá ocorrer de o cliente, sentindo-se 
lesado pela ação ou omissão do profissio-
nal de enfermagem, questionar a conduta 
12 13
deste em instâncias externas à própria ins-
tituição de saúde, como os serviços de pro-
teção dos direitos do consumidor e o Con-
selho Regional de Enfermagem. Mas pode 
recorrer diretamente ao Poder Judiciário, 
no intuito de ver reparada a suposta lesão 
ao seu direito.
Quanto à responsabilidade penal, verifi-
ca-se que diversos artigos do CEPE encon-
tram consonância com o Código Penal (CP). 
Por exemplo, o art. 45 do CEPE proíbe “pro-
vocar aborto ou cooperar em prática desti-
nada a interromper a gestação” e encontra 
paralelo nos arts. 125 a 128 do CP que tra-
tam da matéria, que vedam a prática abor-
tiva, exceto nos casos previstos em lei, sob 
pena de quem a praticar incorrer em um 
ilícito penal, sujeitando-se à pena privativa 
de liberdade.
A responsabilidade profissional trans-
cende os aspectos ético e penal, podendo 
ser de natureza civil. Na esfera cível, tendo 
como parâmetro a Lei nº 10.406, de 10 de 
janeiro de 2002 (Código Civil vigente), dis-
cute-se a responsabilidade do profissional, 
diante da ocorrência de prejuízo a outrem 
(o cliente) e a reparação ou ressarcimento 
do dano acarretado por culpa profissional, 
bem como o valor da indenização à vítima.
A responsabilidade civil consiste na obri-
gação de indenizar, e, de acordo com o art. 
927 do Código Civil, “aquele que, por ato 
ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a ou-
trem, fica obrigado a repará-lo”. Ademais, o 
Parágrafo único desse mesmo artigo, esta-
belece que:
Haverá obrigação de reparar o dano, in-
dependentemente de culpa, nos casos es-
pecificados em lei, ou quando a atividade 
normalmente desenvolvida pelo autor do 
dano implicar, por sua natureza, risco para 
os direitos de outrem.
Trata-se, na verdade, da questão da 
obrigação de meio ou de resultado. Via de 
regra, quando o enfermeiro se vincula à 
obrigação de prestar determinado serviço, 
aplicam-se lhe os princípios da obrigação 
de meio. Nesta, o profissional se obriga a 
usar de prudência e diligência normais na 
prestação de um serviço para atingir um 
resultado, sem, contudo, se vincular a ob-
tê-lo (OGUISSO; SCHMIDT, 1999).
2.4 COFEN e as comissões 
de ética
Em 12 de julho de 1973, por meio da 
Lei nº 5.905, foi criada a entidade de fis-
calização do exercício profissional de en-
fermagem, em níveis federal e estadual 
(Conselhos Regionais de Enfermagem ou 
CORENs). Conforme preceituava essa lei, o 
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) 
organizou três quadros distintos para fins 
de inscrição: quadro I (enfermeiros), qua-
dro II (técnicos), quadro III (auxiliares de 
enfermagem, práticos de enfermagem e 
parteiras práticas).
A Lei nº 5.905/73 determinava que fos-
se adotado como critério da categoriza-
ção de enfermagem o disposto na Lei nº 
2.604/55, a qual regulamentava o exercí-
cio da enfermagem antes de ser substituí-
da pela Lei nº 7.498/86. O técnico de enfer-
magem, categoria surgida em 1966, não 
estava incluído nessa lei, que é de 1955. O 
COFEN, fundamentando-se na legislação 
de ensino, decidiu criar o quadro II para in-
cluir essa categoria (OGUISSO; SCHMIDT, 
14 15
1999).
A filiação ao sistema COFEN/COREN é 
obrigatória e abrange todas as categorias 
profissionais de enfermagem. A votação 
nas eleições para compor a diretoria é com-
pulsória, sob pena de pagamento de multa, 
correspondente a uma anuidade. Cada ca-
tegoria vota em candidatos de seu quadro. 
O conselho é a única entidade de classe de 
vinculação obrigatória para o exercício pro-
fissional. Com respaldo na Lei nº 5.905/73, 
os conselhos regionais e o Conselho Fe-
deral de Enfermagem são órgãos com po-
der de fiscalização e regulamentação das 
atividades de enfermagem nas áreas de 
sua jurisdição territorial (no caso dos con-
selhos regionais) e em nível nacional, em 
se tratando de provimentos ou resoluções 
emanadas do COFEN.
Ademais, é da competência legal dos 
conselhos regionais e do Conselho Federal 
de Enfermagem a aplicação de penas aos 
profissionais de enfermagem que come-
tam infrações ao Código de Ética de Enfer-
magem. Assim, o art. 18 da Lei nº 5.905/73 
preceitua o seguinte:
Aos infratores do Código de Deon-
tologia de Enfermagem poderão ser 
aplicadas as seguintes penas:
I. Advertência verbal.
II. Multa.
III. Censura.
IV. Suspensão do exercício profissional.
V. Cassação do direito ao exercício pro-
fissional.
A referida lei, em seu § 10 do art. 18, 
destaca que as penas previstas nos inci-
sos I, II, III e IV são da alçada dos Conselhos 
Regionais, enquanto a pena do inc. V é de 
competência exclusiva do Conselho Fede-
ral, ouvido o COREN interessado.
A Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, 
ao criar os conselhos de fiscalização do 
exercício profissional de enfermagem, es-
tabeleceu suas competências. Com o cor-
rer dos anos, aumentou o contingente de 
profissionais de enfermagem, e hoje a en-
fermagem é o grupo numericamente mais 
expressivo da área da saúde.
O COFEN (2001) normalizou a criação da 
Comissão de Ética de Enfermagem nas ins-
tituições de saúde, em 1994, e o COREN-SP 
baixou um Regimento para criação, forma-
ção e funcionamento das Comissões de 
Ética de Enfermagem (CEE), que foi oficia-
lizado, incentivando-se a criação delas nos 
hospitais. Esse Regimento estabelece que 
o órgão representa o COREN, em caráter 
permanente junto às instituições de saú-
de, com funções educativas, fiscalizadoras 
e consultivas do exercício profissional e 
ético dos profissionais de enfermagem nas 
referidas instituições.
São finalidades da CEE as que cons-
tam do art. 30 do referido Regimento, 
que englobam as explicitadas na Re-
solução nº 172/94 do COFEN:
 garantir a conduta ética dos profis-
sionais de enfermagem da instituição de 
saúde, pela análise das intercorrências 
notificadas por meio de denúncia formal e 
auditoria;
 zelar pelo exercício ético dos profis-
sionais de enfermagem da instituição;
 colaborar com o COREN no combate ao 
exercício ilegal da profissão e na tarefa de 
educar, discutir, orientar e divulgar temas 
14 15
relativos à ética dos profissionais de enfer-
magem.
A Resolução do COFEN e o Regimento do 
COREN são instrumentos legais importan-
tes, mas insuficientes para a existência de 
uma CEE eficiente que atenda às necessi-
dades de assessoria, consultoria e orienta-
ção dos profissionais de enfermagem nas 
instituições de saúde.
Por isso, é necessário que o COREN e as 
instituições de saúde invistam na forma-
ção de profissionais que irão atuar na CEE, 
preparando-os adequadamente. Convém 
lembrar que a formação curricular na gra-
duação não propicia esse preparo para en-
fermeiros, e a maioria deles nunca traba-
lhou em uma instância como essa. A falta 
de investimentos nessa formação poderá 
comprometer a intenção de fortalecer a 
atuação dos órgãos de fiscalização nas ins-
tituições de saúde. Por essa razão, o COREN 
precisa assessorar de forma permanente 
os membros da CEE, envolvendo também 
as chefias de enfermagem, em especial as 
de escalão mais elevado.
É imprescindível o apoio da gerência, 
diretoria ou chefia do serviço de enfer-
magem para que a CEE possa desempe-
nhar seu papel, provendo local adequado 
para reuniões, orientações, consultas e 
acompanhamentos dos casos comunica-
dos, pois não basta a existência de pro-
fissionais motivados para desenvolver as 
atividadesdesse órgão. É mister também 
apoio do COREN para orientar os membros 
da CEE, as gerências de enfermagem e os 
profissionais, desde o momento da instau-
ração do processo eleitoral até a posse e o 
desenvolvimento de suas atividades.
Dentre vários estudos nessa linha de 
ação, existem alguns interessantes cita-
dos por Freitas (2007) que valem ser ex-
postos:
Ao tratar das infrações éticas envolven-
do pessoal de enfermagem, em um hospi-
tal público, de grande porte, destinado ao 
ensino, verificou-se que, de um total de 
62 denúncias, 90% partiram dos próprios 
funcionários do hospital e que os enfer-
meiros foram responsáveis pela maioria 
delas (72,5%) (MENDES; CALDAS JUNIOR, 
1999). Esses dados foram corroborados 
por outro autor que constatou que, de um 
total de 114 ocorrências ou infrações éti-
cas, no período de 1995 a 2002, 97,37% 
delas haviam sido comunicadas pelos en-
fermeiros da instituição.
Acredita-se que tal fato se deva à maior 
autonomia e tomada de decisão do enfer-
meiro para encaminhar as ocorrências para 
a apreciação da CEE.
Em relação aos estudos mencionados, 
convém ressaltar as seguintes denúncias: 
maus-tratos aos pacientes (ofender, humi-
lhar, não alimentar, agredir fisicamente e 
assediar sexualmente), indisciplina (agres-
sões físicas entre membros da equipe, 
não-cumprimento de ordens superiores, 
desrespeito a colegas, dormir durante o 
serviço, algazarra, jogos, arrombamento 
de porta), negligência (descuido de ma-
terial coletado de paciente, quebra de 
material hospitalar, não-atendimento às 
solicitações do paciente, ausência da vigi-
lância necessária do paciente), falsidade 
ideológica (registro no prontuário de ações 
não realizadas), imperícia (erros cometidos 
por incapacidade técnica do denunciado), 
ineficiência (desempenho incompleto de 
grande parte das tarefas solicitadas), im-
prudência (adoção de procedimento ina-
16 17
dequado com conhecimento de suas possí-
veis implicações no que se refere a danos 
para o paciente), entre outros.
Daquele total de 114 ocorrências en-
caminhadas à CEE, 47,2% foram carac-
terizadas como tendo sido causadas por 
negligência dos profissionais envolvidos, 
28,4% decorreram de imprudência, 11,8% 
foram causadas por imperícia, 8,3% es-
tavam relacionadas à indução ao erro do 
profissional de enfermagem (prescrição 
médica inelegível, por exemplo) e 4,2 % 
referiram-se à omissão propriamente dita, 
ou seja, não realização de um procedimen-
to prescrito ou solicitado pelo médico ou 
pelo enfermeiro (não fazer mudança de 
decúbito, por exemplo). Esse estudo reve-
lou também que a categoria mais envolvi-
da com as ocorrências éticas foi a do auxi-
liar de enfermagem, independentemente 
de fatores como: negligência, imperícia ou 
imprudência dos profissionais envolvidos. 
Tal fato se justifica pelo aumento crescen-
te de auxiliares de enfermagem na presta-
ção de cuidados diretos de enfermagem, 
em substituição aos atendentes de enfer-
magem, que somente poderiam exercer 
atividades elementares de enfermagem, 
conforme Resolução COFEN nº 185/1995 
por não terem formação específica regula-
da em lei (FREITAS, 2007).
Com relação aos direitos e deveres do 
paciente, Gauderer (1991) destaca o direi-
to do paciente de obter informações sobre 
seu caso, por meio de cópias do seu pron-
tuário, cujos registros devem estar em le-
tra legível, incluindo exames, bem como o 
conteúdo desses documentos, tais como: 
anotações, evoluções, prescrições, laudos, 
avaliações, entre outros. Esse mesmo au-
tor aponta que o paciente, o cônjuge ou os 
filhos têm o direito de gravar ou filmar atos 
médicos realizados, requerer que profis-
sionais se reúnam para discutir a patologia 
para a tomada de decisão mais adequa-
da, morrer dignamente, escolher o local e 
a maneira que julgar melhor para morrer, 
recusar tratamentos dispendiosos e de re-
sultado imprevisível.
O Código de Ética dos Profissionais de 
Enfermagem é um parâmetro para avaliar 
direitos e deveres dos profissionais dessa 
área, seja em relação ao paciente, ao co-
lega, às entidades de classe e à sociedade 
em geral. Além dos deveres dos profissio-
nais, há também os deveres dos usuários 
dos serviços e das ações de saúde.
Kfouri Neto (2001) ressalta alguns de-
veres do paciente como seguir orientações 
ou prescrições técnicas, pois o descumpri-
mento desobriga o profissional de conti-
nuar lhe prestando cuidados. Entretanto, 
o paciente não pode ser abandonado em 
meio à assistência; por isso, deve-se asse-
gurar o acompanhamento por outro pro-
fissional, igualmente capacitado para tal, 
evitando, assim, a alegação de que houve 
abandono ou quebra da continuidade da 
assistência e, por conseguinte, infração 
ética do profissional no que tange ao dever 
de não expor o paciente à situação de risco 
ou causar-lhe dano.
Cooperar com a assistência ou o trata-
mento constitui obrigação do paciente, o 
qual deve informar todos os dados que se-
jam de interesse para esse fim e que forem 
necessários para a elucidação de diagnós-
tico e implementação de condutas técni-
cas. Dessa forma, ele estará contribuindo 
para que o processo assistencial ocorra de 
maneira eficaz. No que se refere ao enfer-
meiro, exige-se que este profissional seja 
16 17
capaz de ouvir o paciente, investigar cui-
dadosamente suas queixas, respeitar suas 
crenças e convicções, tratá-lo com respei-
to em sua dignidade, aplicando todos os 
esforços, meios e recursos disponíveis, 
a fim de aliviar o sofrimento, e ajudar nas 
medidas terapêuticas, sem riscos desne-
cessários ou previsíveis.
Orientar os profissionais de enferma-
gem, por meio de um processo educativo-
-reflexivo permanente, é missão precípua 
da CEE, visando à prevenção de ocorrências 
éticas danosas ao paciente no exercício da 
profissão. Desse modo, ao lembrar alguns 
desses direitos e deveres dos profissionais 
de saúde, e da enfermagem, convém frisar 
que tais obrigações devem ser sopesadas 
diante de cada caso concreto, seja pela 
chefia imediata, seja pela CEE, seja por ou-
tras instâncias internas ou externas nas 
instituições de saúde.
18 1918
UNIDADE 3 - Humanização e a Política 
Nacional de Humanização
Quando se fala em Humanização da Saú-
de, muitos pensam em ambientes hospitala-
res, pois é lá que nos acostumamos a ver car-
tazes, panfletos, enfim, explicações dessa 
“humanização”, mas seu significado vai além 
disso.
Começando pela instituição “hospital”, 
neste século XXI, embora ainda tenha carac-
terísticas de instituição voltada ao cuidado 
terapêutico, vem mudando e se adequando 
aos “tempos modernos”, daí começarmos a 
falar de humanização por meio deles.
Foi através da Portaria nº 30 de 11 de fe-
vereiro de 1977, que o Brasil aprovou e ado-
tou, via Ministério da Saúde, os conceitos e 
definições preconizados pela Organização 
Mundial de Saúde para os campos de servi-
ços sanitários, especialmente de assistência 
médico-hospitalar.
É dessa portaria que retiramos o concei-
to de hospital como sendo:
parte integrante de uma organiza-
ção Médica e Social, cuja função básica, 
consiste em proporcionar à população 
Assistência Médica Sanitária completa, 
tanto curativa como preventiva, sob 
quaisquer regime de atendimento, in-
clusive o domiciliar, cujos serviços ex-
ternos irradiam até o âmbito familiar, 
constituindo-se também, em centro de 
educação, capacitação de Recursos Hu-
manos e de Pesquisas em Saúde, bem 
como de encaminhamento de pacien-
tes, cabendo-lhe supervisionar e orien-
tar os estabelecimentos de saúde a ele 
vinculados tecnicamente.
Estamos bem longe dos anos 1970 e 
essa instituição que veio passando por vá-
rias mudanças, hoje se encontra num mis-
to de busca pela eficiência, rapidez e acer-
to em diagnósticos, prática de sua função 
social que passa pela humanização.Esta 
tendência surgiu pela necessidade de ga-
rantir o desenvolvimento futuro da medi-
cina e da saúde, já que são vislumbradas 
alterações nesta dinâmica hospitalar, com 
as quais o atendimento da doença está se 
deslocando para o atendimento aos cida-
dãos, ou seja, o foco desloca-se da ênfa-
se na intervenção tecnológica para ações 
sustentadas, nas relações humanas (AN-
TUNES et al. 2007).
Como diz Mello (2008) no documento 
“Humanização da Assistência Hospita-
lar no Brasil: conhecimentos básicos para 
estudantes e profissionais”, o significado 
da humanização da assistência hospitalar 
precisa ser compreendido dentro de um 
panorama bastante amplo.
Nos dicionários Aurélio e Enciclopédia 
Delta Larousse, a palavra humanizar tem 
como definição “tornar humano, dar con-
dição humana a, (...)”. Conceito simples, en-
xuto, mas vago...
Por humanização entende-se menos a 
retomada ou revalorização da imagem ide-
alizada do Homem e mais a incitação a um 
processo de produção de novos territórios 
existenciais (BENEVIDES DE BARROS; PAS-
SOS, 2005). 
Neste sentido, não havendo uma ima-
gem definitiva e ideal do Homem, é preciso 
aceitar a tarefa sempre inconclusa da rein-
18 1919
venção da humanidade, o que não pode se 
fazer sem o trabalho também constante da 
produção de outros modos de vida, de no-
vas práticas de saúde. 
Tais afirmações indicam, segundo Pe-
reira e Barros (2009), que na gênese do 
conceito de humanização há uma tomada 
de posição de que o homem para o qual as 
políticas de saúde são construídas deve 
ser o homem comum, o homem concreto. 
Deste modo, o humano é retirado de uma 
posição-padrão, abstrata e distante das 
realidades concretas e é tomado em sua 
singularidade e complexidade. Há, portan-
to, na gênese do conceito, tal como ele se 
apresenta no campo das políticas de saú-
de, a fundação de uma concepção de ‘hu-
manização’ crítica à tradicional definição 
do humano como “bondoso, humanitário” 
(FERREIRA, 2004). 
Esta crítica permite arguir movimentos 
de ‘coisificação’ dos sujeitos e afirmar a 
aventura criadora do humano em suas di-
ferenças. Humanização, assim, em sua gê-
nese, indica potencialização da capacidade 
humana de ser autônomo em conexão com 
o plano coletivo que lhe é adjacente. 
Para esta capacidade se exercer, é ne-
cessário o encontro com um outro, es-
tabelecendo com ele regime de trocas e 
construindo redes que suportem diferen-
ciações. Como o trabalho em saúde possui 
“natureza eminentemente conversacio-
nal” (TEIXEIRA, 2003), entendemos que a 
efetuação da humanização como política 
de saúde se faz pela experimentação co-
nectiva/afetiva entre os diferentes su-
jeitos, entre os diferentes processos de 
trabalho constituindo outros modos de 
subjetivação e outros modos de trabalhar, 
outros modos de atender, outros modos de 
gerir a atenção (PEREIRA; BARROS, 2009).
De acordo com a Política Nacional de 
Humanização do Ministério da Saúde, que 
será apresentada mais adiante (BRASIL, 
2003), humanização é o aumento do grau 
de corresponsabilidade na produção de 
saúde e de sujeitos e diz respeito à mudan-
ça na cultura da atenção dos usuários e da 
gestão dos processos de trabalho.
Segundo Mello (2008), os termos huma-
nização, humanização da assistência hos-
pitalar ou humanização em saúde já são de 
domínio público, embora haja certo estra-
nhamento e resistência por parte de mui-
tos profissionais da saúde em aceitá-los. O 
argumento principal é que a humanização 
é inerente à prática de quem cuida de se-
res humanos.
No entanto, as pesquisas de satisfação 
e insatisfação aplicadas aos usuários dos 
serviços de saúde no país apontam para 
a grande insatisfação da população com 
o atendimento prestado, enquanto as re-
portagens na mídia sobre o “estado da 
saúde” mostram um triste panorama nas 
organizações de saúde de nosso meio, sal-
vo algumas relevantes exceções.
Nos serviços de saúde, essa inten-
ção humanizadora se traduz em dife-
rentes proposições:
 melhorar a relação médico-paciente;
 organizar atividades de convívio, 
amenizadas e lúdicas como as brinquedo-
tecas e outras ligadas às artes plásticas, à 
música e ao teatro;
 garantir acompanhante na internação 
da criança;
 implementar novos procedimentos na 
20 21
atenção psiquiátrica, na realização do par-
to – o parto humanizado e na atenção ao 
recém-nascido de baixo peso – programa 
da mãe-canguru;
 amenizar as condições do atendimen-
to aos pacientes em regime de terapia in-
tensiva;
 denunciar a “mercantilização” da me-
dicina;
 criticar a “instituição total” e tan-
tas outras proposições (PUCCINI; CECÍLIO, 
2004).
No campo das políticas públicas de 
saúde, humanização diz respeito à trans-
formação dos modelos de atenção e de 
gestão nos serviços e sistemas de saúde, 
indicando a necessária construção de no-
vas relações entre usuários e trabalhado-
res e destes entre si. 
A humanização em saúde volta-se para 
as práticas concretas comprometidas com 
a produção de saúde e produção de su-
jeitos (CAMPOS, 2000), de tal modo que 
atender melhor o usuário se dá em sintonia 
com melhores condições de trabalho e de 
participação dos diferentes sujeitos im-
plicados no processo de produção de saú-
de (princípio da indissociabilidade entre 
atenção e gestão). Este voltar-se para as 
experiências concretas se dá por conside-
rar o humano em sua capacidade criadora e 
singular inseparável, entretanto, dos mo-
vimentos coletivos que o constituem. 
Orientada pelos princípios da transver-
salidade e da indissociabilidade entre aten-
ção e gestão, a humanização se expressa 
a partir de 2003 como Política Nacional de 
Humanização (PNH) (BRASIL, 2004). Como 
tal, compromete-se com a construção de 
uma nova relação, seja entre as demais 
políticas e programas de saúde, seja en-
tre as instâncias de efetuação do Sistema 
Único de Saúde (SUS), seja entre os dife-
rentes atores que constituem o processo 
de trabalho em saúde. O aumento do grau 
de comunicação em cada grupo e entre os 
grupos (princípio da transversalidade) e o 
aumento do grau de democracia institucio-
nal por meio de processos congestivos da 
produção de saúde e do grau de correspon-
sabilidade no cuidado são decisivos para a 
mudança que se pretende (PEREIRA; BAR-
ROS, 2009).
Transformar práticas de saúde exige 
mudanças no processo de construção dos 
sujeitos dessas práticas. Somente com tra-
balhadores e usuários protagonistas e cor-
responsáveis é possível efetivar a aposta 
que o SUS faz na universalidade do acesso, 
na integralidade do cuidado e na equidade 
das ofertas em saúde. Por isso, falamos da 
humanização do SUS (HumanizaSUS) como 
processo de subjetivação que se efetiva 
com a alteração dos modelos de atenção 
e de gestão em saúde, isto é, novos sujei-
tos implicados em novas práticas de saúde. 
Pensar a saúde como experiência de cria-
ção de si e de modos de viver é tomar a vida 
em seu movimento de produção de normas 
e não de assujeitamento a elas.
Podemos, então, definir humanização 
como a valorização dos processos de mu-
dança dos sujeitos na produção de saúde.
Mas, como surgiu? Qual a necessidade 
dessa, digamos, reinvenção da humaniza-
ção?
Nos anos 90, o direito à privacidade, a 
confidencialidade da informação, o con-
sentimento em face de procedimentos 
20 21
médicos praticados com o usuário e o 
atendimento respeitoso por parte dos 
profissionais de saúde ganham força rei-
vindicatória orientando propostas, progra-
mas e políticas de saúde. Com isto veio se 
configurando um “núcleo do conceito de 
humanização cuja ideia é a de dignidade e 
respeito à vida humana, enfatizando-se a 
dimensão ética na relação entre pacientes 
e profissionais de saúde” (VAITSMAN; AN-
DRADE, 2005, p. 608). 
Cresce o sentido que liga a humanização 
aocampo dos direitos humanos, principal-
mente aos direitos dos usuários, valorizan-
do sua inserção como cidadãos de direitos. 
As alianças entre os movimentos de saúde 
e os demais movimentos sociais, como por 
exemplo, o feminismo, desempenham aí 
papel fundamental na luta pela garantia de 
maior equidade e democracia nas relações. 
A XI Conferência Nacional de Saúde 
(CNS) que aconteceu em 2000, tendo como 
título “Acesso, qualidade e humanização na 
atenção à saúde com controle social”, pro-
curou interferir nas agendas das políticas 
públicas de saúde.
De 2000 a 2002, o Programa Nacional 
de Humanização da Atenção Hospitalar 
(PNHAH) iniciou ações em hospitais com 
o intuito de criar comitês de humanização 
voltados para a melhoria na qualidade da 
atenção ao usuário e, mais tarde, ao traba-
lhador. Tais iniciativas encontravam um ce-
nário ambíguo em que a humanização era 
reivindicada pelos usuários e alguns traba-
lhadores e, por vezes, secundarizada por 
gestores e profissionais de saúde. Por um 
lado, os usuários reivindicam o que é de di-
reito: atenção com acolhimento e de modo 
resolutivo; os profissionais lutam por me-
lhores condições de trabalho. Por outro 
lado, os críticos às propostas humanizan-
tes no campo da saúde denunciavam que 
as iniciativas em curso se reduziam, grande 
parte das vezes, a alterações que não che-
gavam efetivamente a colocar em questão 
os modelos de atenção e de gestão institu-
ídos (BENEVIDES; PASSOS, 2005). 
Entre os anos 1999 e 2002, além do 
PNHAH, algumas outras ações e progra-
mas foram propostos pelo Ministério da 
Saúde voltados para o que também foi de-
finindo-se como campo da humanização.
Pereira e Barros (2009) destacam:
 a instauração do procedimento de 
Carta ao Usuário (1999);
 o Programa Nacional de Avaliação dos 
Serviços Hospitalares (PNASH –1999);
 o Programa de Acreditação Hospitalar 
(2001);
 o Programa Centros Colaboradores 
para a Qualidade e Assistência Hospitalar 
(2000);
 o Programa de Modernização Geren-
cial dos Grandes Estabelecimentos de Saú-
de (1999);
 o Programa de Humanização no Pré-
-Natal e Nascimento (2000);
 a Norma de Atenção Humanizada de 
Recém-Nascido de Baixo Peso – Método 
Canguru (2000), dentre outros.
Como inferem Benevides e Passos 
(2005), ainda que a palavra humaniza-
ção não apareça em todos os programas 
e ações e que haja diferentes intenções 
e focos entre eles, podemos acompanhar 
a relação que se vai estabelecendo entre 
humanização qualidade na atenção-satis-
22 23
fação do usuário.
Com estas direções foram definidos nor-
teadores para a Política Nacional de Huma-
nização (Brasil, 2004).
Atualmente, a humanização enquanto 
política pública de saúde, vem-se afirman-
do como criação de espaços/tempos que 
alterem as formas de produzir saúde, to-
mando como princípios o aumento do grau 
de comunicação entre sujeitos e equipes 
(transversalidade), assim como a inse-
parabilidade entre a atenção e a gestão. 
Este movimento se faz com sujeitos que 
possam exercer sua autonomia de modo 
acolhedor, corresponsável, resolutivo e de 
gestão compartilhada dos processos de 
trabalho.
Grosso modo, a Política Nacional de Hu-
manização nasceu como forma de oposi-
ção à violência institucional existente nos 
hospitais brasileiros, e isso se concretiza 
com atos em que se nega a subjetividade 
dos sujeitos e a sua completude, quando 
lhes reduzem a meros objetos. Desta for-
ma, humanizar é modificar o modo de se 
fazer e produzir assistência hospitalar. É 
modificar toda a sua estrutura (RODRI-
GUES, 2013).
Quando um sujeito é hospitalizado ocor-
re uma ruptura em sua vida normal. Ele se 
torna vulnerável em todos os aspectos e 
sentidos. Medo, angústia e ansiedade são 
apenas alguns dos sentimentos acometi-
dos quando da hospitalização e tratamen-
to. Evidente que existem vários procedi-
mentos invasivos que lhe causam esses 
sentimentos, além da dor quando acome-
tido de doença.
 No entanto, se bem feita e acompanha-
da a sua anamnese, parte desses senti-
mentos pode ser transformada em cuida-
do, atenção e contribuir para uma relação 
mais agradável entre profissionais e pa-
cientes. Ou seja, se os profissionais conhe-
cerem a história do paciente e tratá-lo com 
os cuidados que o ser humano merece, as 
chances de recuperação, pelo menos do 
emocional, serão bem maiores.
O que vinha acontecendo, de acordo 
com o modelo filantrópico no qual se ba-
seou a rede hospitalar brasileira, em linhas 
gerais, era o descaso com a população de 
maneira geral, além de falta de estrutura 
e recursos humanos e técnicos. Passamos 
por uma fase, no século XIX, em que hospi-
tal significava local de morrer.
Rego (1983) conta que o período que 
compreende fins do século XIX e começo 
do século XX fora caracterizado pelo alto 
índice de óbitos que ocorriam nos hospi-
tais, devido à precária infraestrutura e 
conhecimentos médicos precários, tanto 
que o hospital ficara conhecido e assimila-
do pela população como lugar destinado a 
morrer, deste cenário nasce o que mais tar-
de seria conhecido como o hospital priva-
do, pois diante de tantos acontecimentos 
médicos instituíram “casas de saúde” uma 
espécie de hospital nas suas próprias re-
sidências se contrapondo ao sistema hos-
pitalar vigente visto como “antecâmara da 
morte”.
Fazendo um recorte no tempo, chega-
mos à Constituição Federal de 1988. A 
saúde passa a ser dever do Estado e nasce 
o Sistema Único de Saúde (SUS), que pre-
tendia oferecer saúde a todos os brasilei-
ros, sem distinção de qualquer gênero, que 
ofereceria saúde não só curativa mais pau-
tada sobre os eixos, promoção que busca 
eliminar ou controlar as causas das doen-
22 23
ças, proteção que procura prevenir riscos 
e exposições das doenças atuando dire-
tamente na vida das pessoas e, por fim, a 
recuperação que são as ações que evitam 
mortes e sequelas quando já estão com o 
patógeno instalado (MELLO, 2008).
A criação do SUS marcou a década de 80 
numa proposta de oferecer a população 
brasileira saúde de qualidade, pautada nos 
princípios de integralidade, universalidade 
e equidade. Já os anos 90, mostraram as 
dificuldades em se implantar o SUS e com 
elas cresceram as críticas, a desumaniza-
ção e impessoalidade da atenção à saúde 
(JUNGES; DODE, 2009 apud RODRIGUES, 
2013).
Desde a criação e implantação do SUS, 
existem várias criticas à sua metodologia, 
prática e execução. Críticas ao atendimen-
to desumano, à falta de recursos necessá-
rios para os procedimentos mais básicos, 
infraestrutura precária, precariedade em 
recursos humanos e técnicos, à baixa re-
muneração, à equipe hospitalar (BRASIL, 
2001).
Assim, no ano 2000, repetindo, na XI 
Assembleia Nacional de Saúde, a humani-
zação foi apontada como uma necessidade 
para que o SUS funcione como proposto, 
ao mesmo tempo em que representa um 
grande desafio na sua implantação, pois 
humanizar equivale à mudança, não so-
mente no corpo técnico, mas mudanças 
organizacionais, humanizar é mudar a for-
ma de se promover saúde, é mudar o ros-
to do hospital enquanto instituição (RIOS, 
2009).
São princípios norteadores da PNH:
 1) Valorização das dimensões subjetiva 
e social em todas as práticas de atenção e 
gestão no SUS, fortalecendo o compromis-
so com os direitos do cidadão, destacan-
do-se o respeito às questões de gênero, 
etnia, raça, orientação sexual e às popu-
lações específicas (índios, quilombolas, ri-
beirinhos, assentados, entre outros).
2) Fortalecimento de trabalho em equi-
pe multiprofissional, fomentando a trans-
versalidade e a grupalidade.
3) Apoio à construção de redes coope-
rativas, solidárias e comprometidas com a 
produção de saúde e com a produção de 
sujeitos.
4) Construção de autonomia e protago-
nismo de sujeitos e coletivos implicados narede do SUS.
5) Corresponsabilidade desses sujeitos 
nos processos de gestão e de atenção.
6) Fortalecimento do controle social 
com caráter participativo em todas as ins-
tâncias gestoras do SUS.
7) Compromisso com a democratização 
das relações de trabalho e valorização dos 
profissionais de saúde, estimulando pro-
cessos de educação permanente.
A PNH (2004, p. 10) estabeleceu as se-
guintes metas a serem consolidadas ao 
longo de sua implementação que não nos 
cabe no momento analisar e criticar se fo-
ram ou não atingidas. 
1. Reduzir as filas e o tempo de espera 
com ampliação do acesso e atendimento 
acolhedor e resolutivo baseados em crité-
rios de risco.
2. Todo usuário do SUS saberá quem 
são os profissionais que cuidam de sua 
saúde, e os serviços de saúde se responsa-
bilizarão por sua referência territorial.
24 2524
3. As unidades de saúde garantirão 
as informações ao usuário, o acompanha-
mento de pessoas de sua rede social (de 
livre escolha) e os direitos do código dos 
usuários do SUS. 
4. As unidades de saúde garantirão 
gestão participativa aos seus trabalhado-
res e usuários, assim como educação per-
manente aos trabalhadores.
Resumindo, as diretrizes da PNH têm 
seu alicerce no tripé – usuário, funcionário 
e gestor – para construção da “Qualidade 
de Vida” na integralidade humana.
Vale guardar...
As ações de humanização englobam 
muitas e diversificadas práticas profissio-
nais que vêm sendo introduzidas no trata-
mento de pessoas hospitalizadas (a psico-
logia, a terapia ocupacional, a arteterapia, 
a contação de histórias, a arte do palhaço, 
as artes plásticas, o toque terapêutico, a 
massoterapia, entre outros) (BARAÚNA, 
2007).
Nas ações da humanização, procura-se 
resgatar o respeito à vida humana, a nossa 
e a do paciente. Mais do que isso, humani-
zar é adotar uma prática na qual o enfer-
meiro, o profissional que cuida da saúde do 
próximo, o pedagogo, enfim, toda a equipe 
multiprofissional do hospital, encontre a 
possibilidade de assumir uma posição éti-
ca de respeito ao outro, de acolhimento 
do desconhecido, do imprevisível, do in-
controlável, do diferente e singular, reco-
nhecendo os seus limites (CEMBRANELLI, 
2007).
Quando falamos, portanto, em “humani-
zação do atendimento”, não falamos ape-
nas em resgatar o mais bonito do humano 
ou o quanto somos “maravilhosos”, mas 
resgatar-nos de uma forma mais inteira, 
mais coerente em todas essas nossas di-
mensões da comunicação. Temos que ser 
capazes de não ficar imaginando que “em 
algum lugar do planeta” nos comunicaría-
mos muito bem, mas sim entendermos que 
a nossa habilidade de comunicação passa 
pela verdade de sermos capazes de nos 
relacionar com quem existe à nossa volta; 
que as pessoas que nos rodeiam são os 
nossos professores de comunicação, e que 
melhorar a nossa comunicação significa 
conquistar o melhor de nós mesmos, sig-
nifica colocarmos a atenção em dimensões 
que, muitas vezes, não a pomos (SILVA, 
2007).
De acordo com Brasil (2004), a humani-
zação em hospitais e outras unidades de 
saúde envolve essencialmente o trabalho 
conjunto de diferentes profissionais, de 
toda a equipe. O trabalho interdisciplinar 
pode favorecer a uma multiplicidade de 
enfoques e alternativas para a compreen-
são de aspectos que estão envolvidos no 
atendimento ao paciente. Isto tudo pode 
colaborar para o estabelecimento de uma 
nova cultura de respeito e valorização da 
vida humana no atendimento ao paciente.
É necessário mudar a forma como es-
sas instituições se posicionam frente ao 
seu principal objeto de trabalho – a vida, o 
sofrimento e a dor de um indivíduo fragili-
zado pela doença. De nada valerão os es-
forços para o aperfeiçoamento gerencial, 
financeiro e tecnológico das organizações 
de saúde, pois a mais extraordinária tecno-
logia, sem ética, sem delicadeza, sem res-
peito, não produz bem-estar. Muitas vezes, 
desertifica o homem (BRASIL, 2004).
24 2525
UNIDADE 4 - A Gestão dos Resíduos 
dos Serviços de Saúde – RSS
Vamos falar dos resíduos de saúde, mas 
não custa lembrar que resíduos engloba uma 
gama grande de produtos, coisas, restos de 
alimentos, vasilhames, papel, papelão e ou-
tros que consideramos lixo. Genericamente, 
dizemos que lixo é o conjunto de resíduos 
sólidos resultantes das atividades humanas, 
entretanto, não podemos esquecer que o 
que é lixo para uns pode ser alimento para 
outros.
Antes de partirmos para os resíduos de 
saúde, cabe ainda fazermos um alerta para 
nós mesmos: para o fato de que nunca na 
história da humanidade se produziu tanto 
lixo como nesse século XXI. Desperdícios de 
um lado, utilização irracional dos recursos da 
natureza de outro lado vão nos custar muito 
caro, essa é a verdade!
4.1 Os Resíduos dos Servi-
ços de Saúde – RSS
Os resíduos sólidos dos serviços de saúde 
(RSSS), apesar de representarem uma pe-
quena parcela da totalidade de resíduos só-
lidos gerados no meio urbano, cerca de 1%, 
oferecem um preocupante risco sanitário e 
ambiental perante um gerenciamento ina-
dequado, pois são possíveis fontes de pro-
pagação de doenças, que podem contribuir 
para o aumento da incidência de infecção 
hospitalar, além de apresentarem um risco 
ocupacional intra e extraestabelecimento 
de saúde, principalmente em relação aos 
RSSS perfurocortantes acondicionados de 
maneira incorreta (SCHNEIDER; DUARTE; 
ORLANDIN, 2001 apud SALES et al., 2009; 
SILVA; HOPPE, 2005).
Os RSSS são definidos como aqueles re-
sultantes de atividades exercidas por pres-
tadores de assistência médica, odontológi-
ca, laboratorial, farmacêutica e instituições 
de ensino e pesquisa médica relacionados 
tanto à saúde humana quanto veterinária 
que, por suas características, necessitam 
de processos diferenciados em seu manejo, 
exigindo ou não tratamento prévio à sua dis-
posição final (SILVA; HOPPE, 2005; BRASIL, 
2005).
A normatização do gerenciamento dos 
RSSS é regulada pela Agência Nacional de 
Vigilância Sanitária (ANVISA), através da 
Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 
n° 306/04, e o Conselho Nacional do Meio 
Ambiente (CONAMA), com a Resolução n° 
358/05, que definiram as diretrizes sobre 
o gerenciamento dos RSSS, considerando 
princípios da biossegurança, preservação 
da saúde pública e do meio ambiente. Além 
disso, também estabeleceram a atual classi-
ficação dos RSSS em cinco grupos principais: 
Grupo A – resíduos com risco biológico; Gru-
po B – resíduos com risco químico; Grupo C 
– rejeito radioativo; Grupo D – resíduos simi-
lares ao doméstico; Grupo E - resíduos perfu-
rocortantes. O gerenciamento dos resíduos 
é dividido em manejo interno e manejo ex-
terno ao estabelecimento de saúde (SALES 
et al., 2009).
De maneira simplificada, os resíduos dos 
serviços de saúde compreendem todos os 
resíduos gerados nas instituições destina-
das à preservação da saúde da população e 
são assim classificados de acordo com a NBR 
12.808 da ABNT:
26 27
TIPO NOME CARACTERÍSTICA
Classe A – Resíduos Infectantes
A.1 Biológicos
Cultural, inoculo, mistura de microrganis-
mos e meio de cultura inoculado provenien-
tes de laboratório clínico ou de pesquisa, 
vacina vencida ou inutilizada, filtro de gases 
aspirados de áreas contaminadas por agen-
te infectantes e qualquer resíduo contami-
nado por estes materiais.
A.2 Sangue e hemoderivados
Sangue e hemoderivados com prazo de vali-
dade vencido ou sorologia positiva, bolsa de 
sangue para análise, soro, plasma e outros 
subprodutos.
A.3 Cirúrgicos, anatomopato-lógicos e exsudato
Tecido, órgão, feto, peça anatômica, sangue 
e outros líquidos orgânicos resultantes de 
cirurgia, necropsia e resíduos contaminados 
por estes materiais.
A.4 Perfurantes e cortantes Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro.
A.5 Animais contaminadosCarcaça ou parte de animal inoculado, 
exposto a microrganismos patogênicos ou 
portador de doenças infectocontagiosas, 
bem como resíduos que tenham estado em 
contato com eles.
A.6 Assistência a pacientes
Secreção e demais líquidos orgânicos proce-
dentes de pacientes, bem como os resíduos 
contaminados por estes materiais, inclusive 
restos de refeições.
26 27
TIPO NOME CARACTERÍSTICA
Classe B – Resíduos Especiais
B.1 Rejeitos radioativos
Material radioativo ou contaminado com 
radionuclídeos, proveniente de laboratório 
de análises clínicas, serviços de medicina 
nuclear e radioterapia.
B.2 Resíduos farmacêuticos Medicamento vencido, contaminado, inter-ditado ou não utilizado.
B.3 Resíduos químicos peri-gosos
Resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explo-
sivo, reativo, genotóxico ou mutagênico.
Classe C – Resíduos Comuns
C Resíduos comuns
São aqueles que não se enquadram nos ti-
pos A e B, por sua semelhança aos resíduos 
domésticos, não oferecem risco adicional à 
saúde pública.
4.2 Coleta, tratamento e 
destinação
A higiene ambiental dos estabelecimen-
tos assistenciais à saúde – EAS –, ou simples-
mente serviços de saúde (hospitais, clínicas, 
postos de saúde, clínicas veterinárias, entre 
outros), é fundamental para a redução de 
infecções, pois remove a poeira, os fluidos 
corporais e qualquer resíduo dos diversos 
equipamentos, dos pisos, paredes, tetos e 
mobiliário, por ação mecânica e com soluções 
germicidas. O transporte interno dos resídu-
os, o correto armazenamento e a posterior 
coleta e transporte completam as providên-
cias para a redução das infecções (MONTEI-
RO et al., 2001, p. 80).
Sobre as áreas hospitalares, estas 
são classificadas em três categorias:
1. Áreas críticas: que apresentam maior 
risco de infecção, como salas de operação e 
parto, isolamento de doenças transmissí-
veis, laboratórios, entre outras.
2. Áreas semicríticas: que apresentam 
menor risco de contaminação, como áreas 
ocupadas por pacientes de doenças não-in-
fecciosas ou não-transmissíveis, enferma-
rias, lavanderias, copa, cozinha, entre outras.
3. Áreas não-críticas: que teoricamente 
não apresentam riscos de transmissão de in-
fecções, como salas de administração, depó-
sitos, entre outras (MONTEIRO et al., 2001).
28 29
Existem regras a seguir em relação à se-
gregação (separação) de resíduos infectan-
tes do lixo comum, nas unidades de serviços 
de saúde, quais sejam:
 todo resíduo infectante, no momento 
de sua geração, tem que ser disposto em re-
cipiente próximo ao local de sua geração;
 os resíduos infectantes devem ser 
acondicionados em sacos plásticos brancos 
leitosos, em conformidade com as normas 
técnicas da ABNT, devidamente fechados;
 os resíduos perfurocortantes (agulhas, 
vidros, entre outros) devem ser acondiciona-
dos em recipientes especiais para este fim;
 os resíduos procedentes de análises 
clínicas, hemoterapia e pesquisa microbioló-
gica têm que ser submetidos à esterilização 
no próprio local de geração; os resíduos in-
fectantes compostos por membros, órgãos 
e tecidos de origem humana têm que ser 
dispostos, em separado, em sacos plásticos 
brancos leitosos, devidamente fechados;
 os resíduos infectantes e especiais de-
vem ser coletados separadamente dos re-
síduos comuns. Os resíduos radioativos de-
vem ser gerenciados em concordância com 
resoluções da Comissão Nacional de Energia 
Nuclear – CNEN;
 os resíduos infectantes e parte dos re-
síduos especiais devem ser acondicionados 
em sacos plásticos brancos leitosos e coloca-
dos em contêineres basculáveis mecanica-
mente em caminhões especiais para coleta 
de resíduos de serviços de saúde. Tais resí-
duos representam no máximo 30% do total 
gerado.
São muitas as tecnologias para tratamen-
to de resíduos de serviços de saúde. Até 
pouco tempo, a disputa no mercado de trata-
mento de resíduos de serviços de saúde era 
entre a incineração e a autoclavagem, já que, 
em muitos países, a disposição em valas sép-
ticas não é aceita (MONTEIRO et al., 2001).
Recentemente, com os avanços da pes-
quisa no campo ambiental e a maior cons-
cientização das pessoas, os riscos de polui-
ção atmosférica advindos do processo de 
incineração fizeram com que este processo 
tivesse sérias restrições técnicas e econô-
micas de aplicação, devido à exigência de 
tratamentos muito caros para os gases e 
efluentes líquidos gerados, acarretando 
uma sensível perda na sua parcela de merca-
do (MONTEIRO et al., 2001).
Os processos comerciais disponíveis que 
atendem às premissas fundamentais são a 
incineração (de grelha fixa ou de leito móvel), 
fornos rotativos, pirólise, autoclavagem, mi-
cro-ondas, radiação ionizante, desativação 
eletrotérmica e tratamento químico.
O único processo de disposição final para 
esse tipo de resíduo é a vala séptica, méto-
do muito questionado por grande número de 
técnicos, mas que, pelo seu baixo custo de 
investimento e de operação, é o mais utiliza-
do no Brasil.
A rigor, uma vala séptica é um aterro in-
dustrial Classe II, com cobertura diária dos 
resíduos e impermeabilização superior obri-
gatória, onde não se processa a coleta do 
percolado (MONTEIRO et al., 2001, p. 192).
4.3 Os principais riscos dos 
resíduos de saúde
Os resíduos de serviços de saúde apre-
sentam riscos que, se bem gerenciados, 
não resultam em danos à saúde pública e ao 
meio ambiente. Assim como os resíduos ge-
rados pela comunidade, o potencial de risco 
28 29
dos RSS aumenta quando os mesmos são 
manuseados de forma inadequada ou não 
são apropriadamente acondicionados e des-
cartados, especialmente em situações que 
favorecem a penetração de agentes de risco 
no organismo.
Os principais riscos a que os traba-
lhadores estão sujeitos são:
a) Risco biológico
Considera-se risco biológico a probabilida-
de da ocorrência de um evento adverso em 
virtude da presença de um agente biológico.
Os pré-requisitos necessários para o de-
senvolvimento de uma doença infecciosa 
são: presença do agente infeccioso; número 
suficiente do agente; hospedeiro suscetível; 
porta de entrada do agente no hospedeiro, 
que deve estar presente ou ser criada.
Na literatura, há registros de muitos aci-
dentes envolvendo resíduos perfurocortan-
tes (criação da porta de entrada) com sangue 
e outros fluidos orgânicos (possíveis presen-
ça e concentração do agente infectante), en-
volvendo tanto o pessoal da atenção à saú-
de como o da limpeza e coleta dos resíduos, 
muitas vezes, com baixa resistência e sem 
imunização.
Para diminuir o risco de transmissão 
de doenças por sangue e fluidos orgâ-
nicos, devem-se:
 não reencapar, entortar, quebrar ou re-
tirar manualmente as agulhas da seringas;
 colocar os recipientes coletores para o 
descarte de material perfurocortante próxi-
mo ao local onde é realizado o procedimento;
 descartar todo resíduo perfurocortan-
te e abrasivo, inclusive os que não foram 
usados, em recipiente exclusivo, resistente 
à perfuração e com tampa, sem ultrapassar 
o limite de 2/3 da capacidade total;
 fornecer equipamentos de proteção in-
dividual ao pessoal da higienização e coleta 
dos resíduos, de acordo com o Programa de 
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA – do 
estabelecimento, e exigir o seu uso correto 
(atentar para a possibilidade de haver agulha 
dispersa no chão);
 seguir as orientações do PGRSS do es-
tabelecimento.
 b) Risco físico
Exposição dos profissionais a agentes físi-
cos como, por exemplo, a temperaturas ex-
tremas durante o abastecimento manual das 
unidades de tratamento térmico e à radiação 
ionizante, quando os rejeitos radioativos são 
mal acondicionados ou armazenados para 
decaimento. Outros agentes físicos são: ru-
ído, vibração, radiação não-ionizante, ilumi-
nação deficiente ou excessiva e

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