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AT 1 TÓPICOS ESPECIAIS EM SAÚDE COLETIVA 2 32 S U M Á R IO 3 UNIDADE 1 - Introdução 4 UNIDADE 2 - Ética e Bioética 4 2.1 Ética na prática da enfermagem 8 2.2 Ética na saúde pública e na pesquisa epidemiológica 10 2.3 Responsabilidade ético-legal do enfermeiro 13 2.4 COFEN e as comissões de ética 18 UNIDADE 3 - Humanização e a Política Nacional de Humanização 25 UNIDADE 4 - A Gestão dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS 25 4.1 Os Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS 27 4.2 Coleta, tratamento e destinação 28 4.3 Os principais riscos dos resíduos de saúde 32 UNIDADE 5 - A Segurança do Profissional de Saúde 32 5.1 Cuidados com o estresse do profissional 34 5.2 A questão da biossegurança – cuidados pessoais e coletivos 38 UNIDADE 6 - O Papel das Ciências Sociais no Âmbito da Saúde Coletiva 40 REFERÊNCIAS 2 33 UNIDADE 1 - Introdução Reservamos este momento ao qual cha- mamos de “Tópicos Especiais” porque exis- tem certos temas e conteúdos que merecem um momento especial para reflexão. Eviden- temente que todos esses temas têm relação com as disciplinas estudadas, que a título de exemplo encontra na unidade ‘ética e bioé- tica’ um tema que permeia toda e qualquer profissão. A humanização, assunto da segunda uni- dade, também faz parte do universo dos profissionais que lidam com o processo saú- de-doença do ser humano. Aqui veremos seu nascimento e a Política Nacional de Hu- manização, que em última instância, busca efetivar os princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão da saúde, qualificando a saúde pública no Brasil e in- centivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores e usuários. A preocupação com a questão ambiental é um motivo mais que suficiente para vermos o gerenciamento dos resíduos dos serviços de saúde, como de fundamental importância na preservação da qualidade da saúde e do meio ambiente e como um tópico que preci- sa ser discutido quando se trata da gestão de serviços de saúde, principalmente em re- lação aos hospitais, ambulatórios e unidades de saúde. Claro que a gestão correta dos resíduos dos serviços de saúde implica em segurança para os profissionais de saúde, assim como devemos dar atenção devida às consequ- ências de problemas que acometem esses profissionais como o estresse e outras situa- ções que levam o profissional ao adoecimen- to e/ou perda da qualidade do trabalho. Fechamos este módulo apresentando al- gumas defesas de duas pesquisadoras acer- ca da interface existente entre as Ciências Sociais e Humanas no âmbito da Saúde que são de extrema validade e só vem a contri- buir para que ambas as áreas tenham sem- pre o ser humano como foco principal de sua atenção. Ressaltamos em primeiro lugar que embo- ra a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vá- rios autores, incluindo aqueles que conside- ramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expres- sas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de refe- rências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consulta- das, mas que, de todo modo, podem servir 4 54 UNIDADE 2 - Ética e Bioética O Código de Ética dos Profissio- nais de Enfermagem (Resolução CO- FEN-240/2000 revogado pela Resolução COFEN nº 311/2007) é um documento- -guia que focaliza os valores que devem fundamentar o conhecimento, a atitude e a prática de toda e qualquer pessoa que desenvolve ações de enfermagem, tendo como referência que a vida é o direito mais fundamental de todo ser humano. Para que os significados desses valo- res se tornem concretos, eles precisam ser aplicados à realidade dinâmica dos elementos centrais do trabalho de en- fermagem, ou seja, quando aplicados em situações junto às pessoas envolvidas – cliente, população, equipe de enfermagem e de saúde – e quando aplicados na prática institucional e na profissão em si (TOCAN- TINS; SILVA; PASSOS, 2003). Merece destaque que o Código de Éti- ca dos Profissionais de Enfermagem, ou seja, daqueles formalmente habilitados a agir desenvolvendo ações de cuidado profissional, focaliza o outro, seja o assis- tido-cliente, seja o assistente-profissional, com respeito e como seres livres e autô- nomos, capazes de agir livremente e de fundamentar com responsabilidade suas formas de agir. 2.1 Ética na prática da en- fermagem Deveria ser ponto fechado que o cuida- do ao ser humano é o objetivo final quando se trata do binômio saúde-doença, e temos todo um suporte teórico-prático que veio se construindo ao longo da nossa evolução. Suporte este que envolve conhecimentos, evolução das teorias, filosofias e outras ci- ências que se somam, como, por exemplo, o agir ético, no entanto, ainda precisamos lançar algumas reflexões sobre a ética e bioética, por uma série de fatores que va- mos resumir em “não agir com ética”. De todo modo, o simples fato da disponi- bilidade de um determinado conhecimento ou tecnologia não é argumento válido o bastante para aplicá-lo em toda e qualquer situação da prática profissional. Sempre será necessário analisar os aspectos posi- tivos e negativos de qualquer ação, tendo por referência os valores que dão origem à mesma, seja para a pessoa assistida, seja para grupos da população. O estudo e análise desses aspectos, ou seja, do valor de uma ação, é o que se denomina, no seu sentido amplo, ética (TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003). A ética pode ser entendida como o “es- tudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualifica- ção do ponto de visto do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto”. (FERREIRA, 2004). Nesse sentido, a ética sempre irá referir-se ao valor da ação humana, à ação de um ser consciente, racional e com liberdade para optar por este ou aquele valor para funda- mentar o seu agir em determinadas situa- ções da vida. A pessoa, o ser humano, é o valor central de tudo quanto nos rodeia. Contudo, mesmo com essa liberdade de agir de cada ser humano, o valor deste agir é constituído concretamente mediante re- lações com outros seres humanos. Assim, 4 55 os orientadores da validade dos valores do agir de cada ser humano são o convívio e o aprendizado das regras e valores de dife- rentes grupos humanos. Falar em ética nos reporta quase que automaticamente para a moral! Esta pala- vra moral tem sua origem no latim (more) e remete aos usos e costumes. O conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qual- quer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada, é denominado moral. Como conjunto de normas e costumes, ao mesmo tempo em que tende a regulamen- tar o agir das pessoas, a moral oportuniza refletir sobre o valor do agir humano. Com esse entendimento, a ética é o estudo, a análise, a discussão da moral do agir huma- no em determinada realidade. Enquanto a regra moral é ideal e se fundamenta no respeito a essas regras a partir de convicções próprias de cada ser humano, a regra legal é uma norma práti- ca, de aplicação compulsória e faz agir por obrigação externa, por conformidade à lei. Nesse sentido, o questionamento quan- to à eticidade de determinada ação ocorre quando existem dúvidas quanto à adequa- ção moral de cada escolha, quando a esco- lha envolve proposições opostas ou uma situação com apenas duas possibilidades de ação difíceis ou penosas,ou seja, um dilema ético (TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003). A ética, de forma geral, ocupa-se da análise do que é bom (ou correto) e do que é mau (ou incorreto) no agir humano. A ética aplicada, nessa mesma linha de pen- samento, trata de questões relevantes à pessoa e à humanidade. A partir de 1960, a preocupação mundial com as questões morais em diferentes se- tores da sociedade fez emergir, segundo Clotet (1997), entre outras: ética dos negócios, em que a ques- tão da corrupção e abusos econômico-fi- nanceiros passaram a ser objeto de discus- são; ética ambiental, envolvendo princi- palmente os valores a fundamentar a de- fesa da preservação e proteção do meio ambiente; bioética, cujo objeto de estudo ético tem como realidade a vida dos seres hu- manos em geral, significando um diálogo para formular, articular e resolver dilemas que emergem das propostas de pesquisa e intervenção sobre a vida, a saúde, o meio ambiente. Ao focalizar a reflexão ética no fenôme- no da vida, e considerando o dinamismo dos eventos vitais, as temáticas tratadas pela Bioética podem ser subdivididas em: aquelas que emergem dos conflitos entre o progresso das ciências e os direitos hu- manos, como a fecundação artificial, a clo- nagem; e aquelas presentes no cotidiano das pessoas, como a eutanásia, o aborto, a violência. A Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão moral, decisões, condutas e políticas – das ciên- cias da vida e atenção à saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar. (REICH, 1995 apud TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003). Com esse entendimento, a Bioética en- volve o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da 6 7 atenção à saúde, conduta esta examinada à luz dos valores e princípios morais (GON- ÇALVES, 1994). No que se refere aos cuidados e à aten- ção à saúde, e tendo por base a sua dire- triz central, os valores que fundamentam o agir no setor saúde podem ser agrupados em: orientados por recursos – na situa- ção em que a diretriz central são os recur- sos, predomina o valor do custo-benefício, isto é, a relação entre o custo de investi- mentos em recursos financeiros, materiais e recursos humanos e o benefício de alcan- çar o máximo de saúde; orientados por doenças – quando a diretriz central é a doença, o valor presente é de que qualquer problema de saúde pode ser eliminado pela aplicação de tecnolo- gias médicas e de saúde. Nesse contexto, ela é entendida como a ausência de qual- quer doença, entendida por sua vez como apresentando um fundamento físico-bio- lógico particular, passível de ser diagnos- ticado pelo profissional de saúde. Assim, o valor positivo da assistência de saúde é o adequado tratamento dos indivíduos que apresentam uma doença, contribuindo para a eliminação de sinais e sintomas físi- co-biológicos, caracterizados como situa- ção de anormalidade; orientados por decisões políticas – o agrupamento das ações que envolvem decisões políticas trazem em destaque os valores e interesses das lideranças polí- ticas, que em princípio expressam os pro- blemas de saúde da população de uma re- gião ou país, envolvendo implicitamente a questão do direito como cidadão, a saúde e equidade no acesso a serviços; orientados por valores de clientes e familiares – o agir no setor saúde que tem como diretriz central os clientes e seus familiares, apresenta como valor central os valores daqueles que se beneficiam da as- sistência à saúde. Nessa situação, as necessidades con- cretas de assistência de saúde da pessoa ou de grupos da população são concebidas não como uma concepção abstrata, mas, tendo por referência problemas vivencia- dos, como a única forma possível de garan- tir o preenchimento do seu direito à saúde e ao bem-estar. Os valores da atenção à saúde podem ser refletidos e analisados, no sentido ético, tendo por fundamento princípios morais. Os princípios que orientam a análise de di- lemas éticos, tanto aqueles que emergem da vida em geral quanto aqueles que en- volvem o setor saúde (como os valores da prática profissional), são o respeito à auto- nomia, à beneficência, à não-maleficência e à justiça (BEAUCHAMP; CHILDRESS, 1994 apud TOCANTINS; SILVA; PASSOS, 2003). A concepção central que fundamenta o princípio da autonomia é a autogoverna- bilidade, a de que cada pessoa é soberana para decidir tudo o que se refere ao seu corpo, ao seu pensar e ao seu agir. Nesse princípio, está implícita a perspectiva social de respeito a outro ser humano, ou seja, o respeito à autonomia de modo recíproco. O princípio do respeito à autonomia tem como valor fundamental que cada ser hu- mano é capaz de decidir sobre o que é me- lhor para si mesmo e para seu grupo. Assim, não considerar essa capacidade, seja ne- gando a liberdade pessoal e social de agir, seja omitindo informações disponíveis que 6 7 subsidiam o julgamento do seu agir, signi- fica faltar com respeito a essa autonomia. Alguns trechos do Juramento Profissional do Enfermeiro focaliza como valor central o respeito pela autonomia daquele que é assistido e a responsabilidade pelo seu agir profissional. Vejamos: “respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, exercendo a enfermagem com consciência e fidelidade” [...] “respeitar o ser humano desde a con- cepção até depois da morte”. Paralelamente, faz-se importante des- tacar que o reconhecimento, total ou par- cial, da capacidade de julgamento e deci- são de uma pessoa pode variar de acordo com a cultura do grupo ou sociedade que integra. Dessa forma, aqueles que na nos- sa sociedade são considerados legalmente imaturos (menores de idade), aqueles con- siderados incompetentes para fazerem julgamentos ou se autogovernarem (doen- tes mentais) ou aqueles institucionalmen- te impedidos de exercerem a sua liberdade de ação (presidiários) requerem proteção da sua autonomia para, em última instân- cia, não serem desrespeitados como seres humanos. O princípio da beneficência tem o bem como fundamento básico de toda e qual- quer ação profissional de saúde, isto é, o valor moral de agir em benefício de outros. Com esse entendimento, a assistência à saúde visa sempre os interesses do clien- te, da família e da comunidade. A beneficência distingue-se da bene- volência; enquanto a primeira refere-se à característica da ação que visa o bem, a segunda caracteriza a atitude de boa von- tade de uma pessoa em relação à outra. O bem visado pela ação do enfermeiro – e explicitamente detalhada no seu juramen- to profissional – é a vida, tanto na dimen- são individual como coletiva (“respeitar o ser humano desde a concepção até depois da morte”; “atuar junto à equipe de saúde para o alcance da melhoria do nível de vida da população”) (TOCANTINS; SILVA; PAS- SOS, 2003). O princípio da não-maleficência tem como valor máximo que qualquer ação deve, em primeira instância, não infligir dano intencional (primum non nocere). Esse princípio também está explícito no ju- ramento profissional do enfermeiro – “não praticar atos que coloquem em risco a inte- gridade física ou psíquica do ser humano”. Muitos autores entendem que o valor da ação profissional “não causar dano” é complementar ao valor do princípio da be- neficência, especificando que uma ação benéfica deve priorizar em primeiro lugar “não colocar em risco a saúde e a vida” e em segundo lugar “maximizar os benefícios”. Essa priorização, denominada “dever prima facie”, justifica-se pelo fato de, ao prevenir um dano intencional, o profissional está concretamente visando um bem. A distribuição justa, equitativa, apro- priada e universal no que se refere aos benefícios dos serviços e das açõesdos agentes de saúde é o valor que compõe o princípio da justiça aplicado ao setor da saúde e à prática profissional, também chamado Justiça Distributiva. É um dos valores implícitos no juramento do profis- sional enfermeiro: “atuar junto à equipe de saúde para o alcance da melhoria do nível de vida da população”. O Princípio da Justiça Distributiva inclui 8 9 o entendimento de que o Estado, nos seus diferentes níveis, tem como dever pro- mover o direito à saúde universal, isto é, o bem-estar coletivo. Apesar de todos os valores sociais deverem ser distribuídos igualmente – critério da equidade –, uma distribuição desigual tem valor moral posi- tivo desde que redunde em vantagem para todos, especialmente os mais necessita- dos. Nesse contexto, é importante não con- fundir os termos justiça e direito; a justiça refere-se a um critério moral, enquanto o direito é concretizado no convívio em so- ciedade. Uma das áreas na qual a Ética sempre ocupou um lugar de destaque é a da saú- de, particularmente em questões que en- volvem vida e morte. Com a evolução e a diversificação das práticas no setor saúde, emerge a particularidade de diferentes ações profissionais, entre as quais, os de Enfermagem, que por sua vez fundamen- ta-se em valores distintos. O conteúdo nuclear da enferma- gem pode ser descrito por meio de três conceitos centrais: ser humano – aquele que é assistido e recebe cuidados de enfermagem, poden- do estar representado por uma pessoa, uma família, uma comunidade ou grupos da sociedade; meio ambiente – representado pe- los arredores institucionais imediatos, a comunidade ou o entorno social, que se re- laciona de modo direto e/ou indireto com o ser humano; saúde – expresso pelo bem-estar, individual e/ou coletivo, decidido mutua- mente pelo ser humano assistido e o en- fermeiro. A articulação da especificidade destes conceitos aponta para os valores e a dire- ção de seus fatos e eventos, valores estes expressos no Código de Ética desses pro- fissionais que veremos mais adiante. 2.2 Ética na saúde pública e na pesquisa epidemiológi- ca A saúde pública em última definição tem como objeto o processo saúde-doença da coletividade, observado em suas dimen- sões biológica, psíquica e sociocultural. A saúde deve ser compreendida como a ex- pressão do maior grau de bem-estar que o indivíduo e a coletividade são capazes de alcançar através de um equilíbrio exis- tencial dinâmico, mediado por um conjunto de fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos. Há diversificados conceitos sobre o que vem a ser saúde pública, variando confor- me a cultura de cada país, o papel aceito para a esfera estatal na saúde, o modelo dos sistemas de saúde existentes, as cren- ças e a compreensão das pessoas acerca do processo saúde-doença e também so- bre o valor e a responsabilidade social em relação à saúde dos indivíduos. Assim sen- do, não se poderia pensar em uma noção de saúde pública de caráter universal. Porém, conforme Paim e Almeida Filho (2000), a saúde pública deve ocupar-se da dimensão biológica, das relações entre o homem e o meio ambiente residencial, de trabalho e de lazer, da reprodução das for- mas de consciência e de comportamento e 8 9 das relações sociais e econômicas. Poeticamente, ela é uma arte e uma ciência, que busca promover, proteger e restaurar a saúde dos indivíduos e da co- letividade, e obter um ambiente saudável, através de ações e serviços resultantes de esforços organizados e sistematizados da sociedade. Saúde pública é o que a so- ciedade faz coletivamente para assegurar as condições nas quais as pessoas podem ser saudáveis, o conjunto de práticas e sa- beres que objetivam um melhor estado de saúde possível das populações (ZOBOLI; FORTES, 2003). O campo da saúde pública é inter e mul- tidisciplinar, envolve saberes da teoria e da prática, tem estrutura em órgãos estatais que atuam de várias maneiras, principal- mente normalizando e regulando as ações, como por exemplo, a vigilância epidemio- lógica, zoonoses, saúde do trabalhador, doenças endêmicas, mas também atua no setor privado e/ou por organizações não governamentais. As ações da saúde públi- ca podem ser simples ou complexas, indo de unidades básicas até setores altamente complexos em hospitais especializados. Educação, nutrição, meio ambiente também são campos/áreas que fazem par- te das ações em saúde pública. Enfim, essas características inter e mul- tisetorial e inter e multidisciplinar nos le- vam para a questão da ética e bioética que envolve uma gama de profissionais, cada um com atribuições específicas, mas que em rede tem como objetivo final a promo- ção da saúde que atuam tanto no individu- al como no coletivo (ZOBOLI, 2003). Vamos focar no viés da autonomia in- dividual x interesses da coletividade, mas de antemão frisamos: vamos lançar mais questionamentos do que soluções! Estas vocês irão refletir e buscar alternativas ao longo de suas caminhadas. Por autonomia, entende-se que o sujei- to pode escolher, dentre várias alternati- vas, o que é melhor para si, de acordo com seus valores, expectativas, prioridades, necessidades e crenças (claro que de ma- neira racional e quando tem capacidade de discernimento). Quanto aos interesses da coletividade, estes podem ultrapassar os interesses in- dividuais como, por exemplo, uma campa- nha de vacinação, a fluoretação da água. No caso do controle e erradicação de uma doença contagiosa, claro que o benefício também é individual, mas a intenção maior seria a coletividade (ZOBOLI; FORTES, 2003). Pois bem, as ações de saúde pública in- tentam interferir no processo saúde-do- ença da coletividade, atuando em seus condicionantes, desencadeantes e de- terminantes em múltiplos setores da ati- vidade humana, com a finalidade de pro- porcionar um melhor estado de saúde das populações. Nessa busca, podem surgir confrontos e conflitos entre os interesses individuais e os coletivos, entre a liberdade individual e o bem-estar ou a segurança da coletividade. As ações de saúde pública podem gerar conflitos morais, pois muitas vezes limitam ou restringem liberdades e decisões indi- viduais, ensejando o bem comum ou evi- tando consequências antissociais. Assim o faz em nome da supremacia do interesse público sobre o individual, como se dá, por exemplo, com as ações de vigilância sani- 10 11 tária, vigilância epidemiológica, controle de zoonoses e saúde do trabalhador. Essa interferência da saúde pública sobe a autonomia individual nos leva de volta aos princípios éticos da beneficência e da não-maledicência. Fato é que no exemplo dado da fluoreta- ção da água, muitas pessoas não gostam, não querem que a água que chega a suas casas venha carregada de produtos quími- cos, e como o setor de distribuição de água não tem como separar água fluoretada de água pura, envia a fluoretada. Assim, ela está passando por cima da autonomia indi- vidual e fazendo prevalecer os direitos da coletividade. Fica a deixa para vocês: cor- reto ou errado?! Como resolver? Lembremos que a noção ética utilitaris- ta do “maior benefício para o maior número de pessoas” está contida em boa parte das ações de saúde pública, como nos proce- dimentos de vacinação em massa. Não é necessário que se justifique a importância da imunização em massa como foi e é feita para a poliomielite, mediante a utilização da vacina Sabin, que levou à erradicação da doença em nosso país. Contudo, sendo uma vacina de vírus vivos atenuados que é eficaz, entre outros motivos, pela possibi- lidade de disseminação ambiental, sabe-se que os vírus poderão atingir pessoas que tenham o sistema imunológico comprome-tido, como é o caso das pessoas com AIDS. Esse risco de causar danos, conhecido pe- los sanitaristas, é de baixa probabilidade, mas existe. Assim, continuamos a utilizar o processo de vacinação em razão dos milha- res de crianças protegidas, mesmo haven- do risco para alguns. Quanto ao campo da pesquisa epide- miológica, também é imprescindível re- ver e atentar para as contradições entre o individual e o coletivo porque a pesquisa epidemiológica apresenta especificidade própria, necessitando, além dos aspectos gerais que envolvem as pesquisas com seres humanos, da interação com as ciên- cias naturais, sociais e políticas (MARQUES, 1996; RIBEIRO, 2002). Novas tecnologias no campo da saúde, rápida disseminação dos conhecimentos científicos, ampliação dos movimentos em favor dos direitos individuais, a indús- tria querendo se fortalecer em termos de maximização de lucros, são todos motivos para se preocupar e agir eticamente. A verdade é que as pesquisas epidemio- lógicas exercem um papel social, buscando solucionar problemas de saúde que atin- gem determinada população, portanto, considerando esses aspectos, tais estudos devem atender a protocolos e padrões bio- éticos definidos pela comunidade científi- ca e fundamentados em conceitos de éti- ca e moral que garantam a segurança dos participantes das pesquisas e atendam aos quatro princípios básicos da bioética: auto- nomia, não-maleficência, beneficência e justiça (VENTURI et al, 2008). 2.3 Responsabilidade ético- -legal do enfermeiro Desde a Antiguidade, existem normas regulando as relações das pessoas em sociedade, estabelecendo regras para o convívio social, os direitos e deveres dos indivíduos, mas também impondo sanções ou reprimendas a quem não as cumprisse (FREITAS, 2007) e na enfermagem não é diferente! 10 11 Devemos nos lembrar de que todo com- portamento humano está condicionado a determinadas normas sociais e às pes- soas e, na atualidade, estão sujeitas a um ambiente muito mais legalista que veio se construindo ao longo da institucionaliza- ção das profissões e no decorrer da evolu- ção humana, é claro. As leis, em seu conjunto, formam as le- gislações e o ordenamento jurídico dos Estados/Países que direcionam a vida das pessoas, das empresas, entre outros, e as profissões de livre exercício como a En- fermagem, por exemplo, não foge a essas regras. Também para ela temos as regula- mentações que estabelecem quem é esse profissional e como pode e deve exercer com autonomia seu ofício. No caso da enfermagem brasileira, com- pete ao Congresso Nacional (Câmara e Se- nado) criar a Lei do Exercício Profissional, que tem eficácia para todos os enfermei- ros que atuam no território nacional e de- termina as competências que lhes cabe. Os legisladores e os operadores do Di- reito (juízes, promotores, advogados) cos- tumam apontar um velho princípio, segun- do o qual a ignorância das leis não constitui argumento para defesa. Dessa forma, é indesculpável e inadmissível que o enfer- meiro alegue não saber ou não conhecer as leis do nosso ordenamento jurídico ou a lei específica do exercício profissional. Assim, a ninguém é permitido alegar desconheci- mento das regras sociais (dentre as quais as leis) para se eximir de responder por seus atos. Nesse sentido, vejamos o que diz o art. 21 do Código Penal brasileiro, com redação pela Lei nº 7.209/84: Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evi- tável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. Parágrafo único. Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. Portanto, o indivíduo responde por sua conduta, quando consciente, livre e capaz de entendimento das consequências do seu ato, ou seja, quando capaz de discernir o que é permitido nas leis do seu país. Mas, além das normas jurídicas, existem usos e costumes que precisam ser conhecidos em cada sociedade e cultura. A importância do conhecimento da le- gislação geral e também da legislação pro- fissional de enfermagem deve-se a dois motivos, basicamente: em primeiro lugar, porque a legislação possibilita a criação ou a extinção de direitos e obrigações. Por ou- tro lado, sabe-se que ninguém se isenta de cumprimento da lei alegando desconhe- cê-la. Daí a obrigação de todas as pessoas conhecerem as normas específicas da sua profissão, mas também o ordenamento jurídico de seu País. Ademais, o aprofun- damento no estudo da legislação auxiliará na conquista de novos espaços de atuação, luta pelos direitos da categoria e consciên- cia das obrigações éticas e legais. Não cabe ao momento contar a evolução da legislação para a profissão, no entanto, vale lembrar que tudo teve início com o De- creto nº 791, de 27 de setembro de 1890, determinando a criação da primeira escola profissional de enfermeiros e enfermeiras no Hospital Nacional de Alienados; que em 12 13 1932, veio o Decreto 20.931, que preten- dia regulamentar e fiscalizar o exercício da medicina, odontologia, medicina veteriná- ria e das profissões de farmacêutico, par- teira e enfermeira. Atualmente, a Lei do Exercício nº 7.498/86, art. 11, inc. I, m, estabelece que ao enfermeiro compete, privativamente, cuidados de enfermagem de maior com- plexidade técnica que exijam conheci- mentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas. As atividades elementares de enfermagem são aquelas que compreendem ações de fácil execu- ção e entendimento, baseadas em saberes simples, que não requerem conhecimento científico, adquiridos por meio de treina- mento e/ou da prática; requerem destreza manual, restringem-se a situações de roti- na e de repetição, não envolvem cuidados diretos ao paciente, não colocam em risco a comunidade, o ambiente e/ou a saúde do executante, mas contribuem para que a assistência de enfermagem seja mais efi- ciente (Resolução COFEN nº 186/1995). Em se tratando da responsabilidade da Enfermagem, podemos analisar sob dois aspectos: primeiro, a responsabilidade pode ser uma imposição legal ou moral de restabelecer o dano ou prejuízo acarreta- do. Dessa maneira, o pai é o responsável legal pelo filho menor, devendo cuidar de seu sustento físico. Mas um parente abas- tado financeiramente poderia sentir-se obrigado, do ponto de vista moral, a con- tribuir para o sustento e educação de seu sobrinho. A obrigação é originariamente do pai, mas o tio poderá sentir-se moralmente responsável por ele. De acordo com Oguisso e Schmidt (1999), a responsabilidade moral tem ori- gem na transgressão de norma moral, cujo terreno é a consciência individual. O se- gundo aspecto consiste em que não existe responsabilidade jurídica se a violação de um dever não produzir dano pessoal, ma- terial ou moral. A responsabilidade ética se caracteri- za pela infração ética, a qual pode estar prevista no Código de Ética dos Profissio- nais de Enfermagem (CEPE). Assim, um comportamento profissional pode ser tido como antiético mesmo não havendo previ- são no CEPE sobre ele. Os arts. 16 e 24 do CEPE mencionam a obrigação dos profissionais de enferma- gem de prestar assistência livre de danos ou de riscos decorrentes de negligência, imperícia ou imprudência. Tal norma des- creve a conduta esperada do profissional, a fim de evitar a ocorrência de quaisquer daquelas modalidades de culpa no exercí- cio de atividades de enfermagem. Como se vê, a norma em si é genérica, cabendo-nos a interpretação e aplicação em cada caso concreto. Dessa forma, se alguém age de manei- ra desatenta, inábil ou imprudente, e com isso expõe o cliente a riscos desnecessá-rios a determinado malefício, deverá res- ponder por isso. A conduta do profissional poderá ser questionada pela família do cliente, por outros profissionais da área da saúde ou pelo próprio cliente perante as instâncias adequadas para tal, como a comissão de ética de enfermagem ou o serviço de ouvi- doria e qualidade da instituição. Poderá ocorrer de o cliente, sentindo-se lesado pela ação ou omissão do profissio- nal de enfermagem, questionar a conduta 12 13 deste em instâncias externas à própria ins- tituição de saúde, como os serviços de pro- teção dos direitos do consumidor e o Con- selho Regional de Enfermagem. Mas pode recorrer diretamente ao Poder Judiciário, no intuito de ver reparada a suposta lesão ao seu direito. Quanto à responsabilidade penal, verifi- ca-se que diversos artigos do CEPE encon- tram consonância com o Código Penal (CP). Por exemplo, o art. 45 do CEPE proíbe “pro- vocar aborto ou cooperar em prática desti- nada a interromper a gestação” e encontra paralelo nos arts. 125 a 128 do CP que tra- tam da matéria, que vedam a prática abor- tiva, exceto nos casos previstos em lei, sob pena de quem a praticar incorrer em um ilícito penal, sujeitando-se à pena privativa de liberdade. A responsabilidade profissional trans- cende os aspectos ético e penal, podendo ser de natureza civil. Na esfera cível, tendo como parâmetro a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil vigente), dis- cute-se a responsabilidade do profissional, diante da ocorrência de prejuízo a outrem (o cliente) e a reparação ou ressarcimento do dano acarretado por culpa profissional, bem como o valor da indenização à vítima. A responsabilidade civil consiste na obri- gação de indenizar, e, de acordo com o art. 927 do Código Civil, “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a ou- trem, fica obrigado a repará-lo”. Ademais, o Parágrafo único desse mesmo artigo, esta- belece que: Haverá obrigação de reparar o dano, in- dependentemente de culpa, nos casos es- pecificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Trata-se, na verdade, da questão da obrigação de meio ou de resultado. Via de regra, quando o enfermeiro se vincula à obrigação de prestar determinado serviço, aplicam-se lhe os princípios da obrigação de meio. Nesta, o profissional se obriga a usar de prudência e diligência normais na prestação de um serviço para atingir um resultado, sem, contudo, se vincular a ob- tê-lo (OGUISSO; SCHMIDT, 1999). 2.4 COFEN e as comissões de ética Em 12 de julho de 1973, por meio da Lei nº 5.905, foi criada a entidade de fis- calização do exercício profissional de en- fermagem, em níveis federal e estadual (Conselhos Regionais de Enfermagem ou CORENs). Conforme preceituava essa lei, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) organizou três quadros distintos para fins de inscrição: quadro I (enfermeiros), qua- dro II (técnicos), quadro III (auxiliares de enfermagem, práticos de enfermagem e parteiras práticas). A Lei nº 5.905/73 determinava que fos- se adotado como critério da categoriza- ção de enfermagem o disposto na Lei nº 2.604/55, a qual regulamentava o exercí- cio da enfermagem antes de ser substituí- da pela Lei nº 7.498/86. O técnico de enfer- magem, categoria surgida em 1966, não estava incluído nessa lei, que é de 1955. O COFEN, fundamentando-se na legislação de ensino, decidiu criar o quadro II para in- cluir essa categoria (OGUISSO; SCHMIDT, 14 15 1999). A filiação ao sistema COFEN/COREN é obrigatória e abrange todas as categorias profissionais de enfermagem. A votação nas eleições para compor a diretoria é com- pulsória, sob pena de pagamento de multa, correspondente a uma anuidade. Cada ca- tegoria vota em candidatos de seu quadro. O conselho é a única entidade de classe de vinculação obrigatória para o exercício pro- fissional. Com respaldo na Lei nº 5.905/73, os conselhos regionais e o Conselho Fe- deral de Enfermagem são órgãos com po- der de fiscalização e regulamentação das atividades de enfermagem nas áreas de sua jurisdição territorial (no caso dos con- selhos regionais) e em nível nacional, em se tratando de provimentos ou resoluções emanadas do COFEN. Ademais, é da competência legal dos conselhos regionais e do Conselho Federal de Enfermagem a aplicação de penas aos profissionais de enfermagem que come- tam infrações ao Código de Ética de Enfer- magem. Assim, o art. 18 da Lei nº 5.905/73 preceitua o seguinte: Aos infratores do Código de Deon- tologia de Enfermagem poderão ser aplicadas as seguintes penas: I. Advertência verbal. II. Multa. III. Censura. IV. Suspensão do exercício profissional. V. Cassação do direito ao exercício pro- fissional. A referida lei, em seu § 10 do art. 18, destaca que as penas previstas nos inci- sos I, II, III e IV são da alçada dos Conselhos Regionais, enquanto a pena do inc. V é de competência exclusiva do Conselho Fede- ral, ouvido o COREN interessado. A Lei nº 5.905, de 12 de julho de 1973, ao criar os conselhos de fiscalização do exercício profissional de enfermagem, es- tabeleceu suas competências. Com o cor- rer dos anos, aumentou o contingente de profissionais de enfermagem, e hoje a en- fermagem é o grupo numericamente mais expressivo da área da saúde. O COFEN (2001) normalizou a criação da Comissão de Ética de Enfermagem nas ins- tituições de saúde, em 1994, e o COREN-SP baixou um Regimento para criação, forma- ção e funcionamento das Comissões de Ética de Enfermagem (CEE), que foi oficia- lizado, incentivando-se a criação delas nos hospitais. Esse Regimento estabelece que o órgão representa o COREN, em caráter permanente junto às instituições de saú- de, com funções educativas, fiscalizadoras e consultivas do exercício profissional e ético dos profissionais de enfermagem nas referidas instituições. São finalidades da CEE as que cons- tam do art. 30 do referido Regimento, que englobam as explicitadas na Re- solução nº 172/94 do COFEN: garantir a conduta ética dos profis- sionais de enfermagem da instituição de saúde, pela análise das intercorrências notificadas por meio de denúncia formal e auditoria; zelar pelo exercício ético dos profis- sionais de enfermagem da instituição; colaborar com o COREN no combate ao exercício ilegal da profissão e na tarefa de educar, discutir, orientar e divulgar temas 14 15 relativos à ética dos profissionais de enfer- magem. A Resolução do COFEN e o Regimento do COREN são instrumentos legais importan- tes, mas insuficientes para a existência de uma CEE eficiente que atenda às necessi- dades de assessoria, consultoria e orienta- ção dos profissionais de enfermagem nas instituições de saúde. Por isso, é necessário que o COREN e as instituições de saúde invistam na forma- ção de profissionais que irão atuar na CEE, preparando-os adequadamente. Convém lembrar que a formação curricular na gra- duação não propicia esse preparo para en- fermeiros, e a maioria deles nunca traba- lhou em uma instância como essa. A falta de investimentos nessa formação poderá comprometer a intenção de fortalecer a atuação dos órgãos de fiscalização nas ins- tituições de saúde. Por essa razão, o COREN precisa assessorar de forma permanente os membros da CEE, envolvendo também as chefias de enfermagem, em especial as de escalão mais elevado. É imprescindível o apoio da gerência, diretoria ou chefia do serviço de enfer- magem para que a CEE possa desempe- nhar seu papel, provendo local adequado para reuniões, orientações, consultas e acompanhamentos dos casos comunica- dos, pois não basta a existência de pro- fissionais motivados para desenvolver as atividadesdesse órgão. É mister também apoio do COREN para orientar os membros da CEE, as gerências de enfermagem e os profissionais, desde o momento da instau- ração do processo eleitoral até a posse e o desenvolvimento de suas atividades. Dentre vários estudos nessa linha de ação, existem alguns interessantes cita- dos por Freitas (2007) que valem ser ex- postos: Ao tratar das infrações éticas envolven- do pessoal de enfermagem, em um hospi- tal público, de grande porte, destinado ao ensino, verificou-se que, de um total de 62 denúncias, 90% partiram dos próprios funcionários do hospital e que os enfer- meiros foram responsáveis pela maioria delas (72,5%) (MENDES; CALDAS JUNIOR, 1999). Esses dados foram corroborados por outro autor que constatou que, de um total de 114 ocorrências ou infrações éti- cas, no período de 1995 a 2002, 97,37% delas haviam sido comunicadas pelos en- fermeiros da instituição. Acredita-se que tal fato se deva à maior autonomia e tomada de decisão do enfer- meiro para encaminhar as ocorrências para a apreciação da CEE. Em relação aos estudos mencionados, convém ressaltar as seguintes denúncias: maus-tratos aos pacientes (ofender, humi- lhar, não alimentar, agredir fisicamente e assediar sexualmente), indisciplina (agres- sões físicas entre membros da equipe, não-cumprimento de ordens superiores, desrespeito a colegas, dormir durante o serviço, algazarra, jogos, arrombamento de porta), negligência (descuido de ma- terial coletado de paciente, quebra de material hospitalar, não-atendimento às solicitações do paciente, ausência da vigi- lância necessária do paciente), falsidade ideológica (registro no prontuário de ações não realizadas), imperícia (erros cometidos por incapacidade técnica do denunciado), ineficiência (desempenho incompleto de grande parte das tarefas solicitadas), im- prudência (adoção de procedimento ina- 16 17 dequado com conhecimento de suas possí- veis implicações no que se refere a danos para o paciente), entre outros. Daquele total de 114 ocorrências en- caminhadas à CEE, 47,2% foram carac- terizadas como tendo sido causadas por negligência dos profissionais envolvidos, 28,4% decorreram de imprudência, 11,8% foram causadas por imperícia, 8,3% es- tavam relacionadas à indução ao erro do profissional de enfermagem (prescrição médica inelegível, por exemplo) e 4,2 % referiram-se à omissão propriamente dita, ou seja, não realização de um procedimen- to prescrito ou solicitado pelo médico ou pelo enfermeiro (não fazer mudança de decúbito, por exemplo). Esse estudo reve- lou também que a categoria mais envolvi- da com as ocorrências éticas foi a do auxi- liar de enfermagem, independentemente de fatores como: negligência, imperícia ou imprudência dos profissionais envolvidos. Tal fato se justifica pelo aumento crescen- te de auxiliares de enfermagem na presta- ção de cuidados diretos de enfermagem, em substituição aos atendentes de enfer- magem, que somente poderiam exercer atividades elementares de enfermagem, conforme Resolução COFEN nº 185/1995 por não terem formação específica regula- da em lei (FREITAS, 2007). Com relação aos direitos e deveres do paciente, Gauderer (1991) destaca o direi- to do paciente de obter informações sobre seu caso, por meio de cópias do seu pron- tuário, cujos registros devem estar em le- tra legível, incluindo exames, bem como o conteúdo desses documentos, tais como: anotações, evoluções, prescrições, laudos, avaliações, entre outros. Esse mesmo au- tor aponta que o paciente, o cônjuge ou os filhos têm o direito de gravar ou filmar atos médicos realizados, requerer que profis- sionais se reúnam para discutir a patologia para a tomada de decisão mais adequa- da, morrer dignamente, escolher o local e a maneira que julgar melhor para morrer, recusar tratamentos dispendiosos e de re- sultado imprevisível. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem é um parâmetro para avaliar direitos e deveres dos profissionais dessa área, seja em relação ao paciente, ao co- lega, às entidades de classe e à sociedade em geral. Além dos deveres dos profissio- nais, há também os deveres dos usuários dos serviços e das ações de saúde. Kfouri Neto (2001) ressalta alguns de- veres do paciente como seguir orientações ou prescrições técnicas, pois o descumpri- mento desobriga o profissional de conti- nuar lhe prestando cuidados. Entretanto, o paciente não pode ser abandonado em meio à assistência; por isso, deve-se asse- gurar o acompanhamento por outro pro- fissional, igualmente capacitado para tal, evitando, assim, a alegação de que houve abandono ou quebra da continuidade da assistência e, por conseguinte, infração ética do profissional no que tange ao dever de não expor o paciente à situação de risco ou causar-lhe dano. Cooperar com a assistência ou o trata- mento constitui obrigação do paciente, o qual deve informar todos os dados que se- jam de interesse para esse fim e que forem necessários para a elucidação de diagnós- tico e implementação de condutas técni- cas. Dessa forma, ele estará contribuindo para que o processo assistencial ocorra de maneira eficaz. No que se refere ao enfer- meiro, exige-se que este profissional seja 16 17 capaz de ouvir o paciente, investigar cui- dadosamente suas queixas, respeitar suas crenças e convicções, tratá-lo com respei- to em sua dignidade, aplicando todos os esforços, meios e recursos disponíveis, a fim de aliviar o sofrimento, e ajudar nas medidas terapêuticas, sem riscos desne- cessários ou previsíveis. Orientar os profissionais de enferma- gem, por meio de um processo educativo- -reflexivo permanente, é missão precípua da CEE, visando à prevenção de ocorrências éticas danosas ao paciente no exercício da profissão. Desse modo, ao lembrar alguns desses direitos e deveres dos profissionais de saúde, e da enfermagem, convém frisar que tais obrigações devem ser sopesadas diante de cada caso concreto, seja pela chefia imediata, seja pela CEE, seja por ou- tras instâncias internas ou externas nas instituições de saúde. 18 1918 UNIDADE 3 - Humanização e a Política Nacional de Humanização Quando se fala em Humanização da Saú- de, muitos pensam em ambientes hospitala- res, pois é lá que nos acostumamos a ver car- tazes, panfletos, enfim, explicações dessa “humanização”, mas seu significado vai além disso. Começando pela instituição “hospital”, neste século XXI, embora ainda tenha carac- terísticas de instituição voltada ao cuidado terapêutico, vem mudando e se adequando aos “tempos modernos”, daí começarmos a falar de humanização por meio deles. Foi através da Portaria nº 30 de 11 de fe- vereiro de 1977, que o Brasil aprovou e ado- tou, via Ministério da Saúde, os conceitos e definições preconizados pela Organização Mundial de Saúde para os campos de servi- ços sanitários, especialmente de assistência médico-hospitalar. É dessa portaria que retiramos o concei- to de hospital como sendo: parte integrante de uma organiza- ção Médica e Social, cuja função básica, consiste em proporcionar à população Assistência Médica Sanitária completa, tanto curativa como preventiva, sob quaisquer regime de atendimento, in- clusive o domiciliar, cujos serviços ex- ternos irradiam até o âmbito familiar, constituindo-se também, em centro de educação, capacitação de Recursos Hu- manos e de Pesquisas em Saúde, bem como de encaminhamento de pacien- tes, cabendo-lhe supervisionar e orien- tar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. Estamos bem longe dos anos 1970 e essa instituição que veio passando por vá- rias mudanças, hoje se encontra num mis- to de busca pela eficiência, rapidez e acer- to em diagnósticos, prática de sua função social que passa pela humanização.Esta tendência surgiu pela necessidade de ga- rantir o desenvolvimento futuro da medi- cina e da saúde, já que são vislumbradas alterações nesta dinâmica hospitalar, com as quais o atendimento da doença está se deslocando para o atendimento aos cida- dãos, ou seja, o foco desloca-se da ênfa- se na intervenção tecnológica para ações sustentadas, nas relações humanas (AN- TUNES et al. 2007). Como diz Mello (2008) no documento “Humanização da Assistência Hospita- lar no Brasil: conhecimentos básicos para estudantes e profissionais”, o significado da humanização da assistência hospitalar precisa ser compreendido dentro de um panorama bastante amplo. Nos dicionários Aurélio e Enciclopédia Delta Larousse, a palavra humanizar tem como definição “tornar humano, dar con- dição humana a, (...)”. Conceito simples, en- xuto, mas vago... Por humanização entende-se menos a retomada ou revalorização da imagem ide- alizada do Homem e mais a incitação a um processo de produção de novos territórios existenciais (BENEVIDES DE BARROS; PAS- SOS, 2005). Neste sentido, não havendo uma ima- gem definitiva e ideal do Homem, é preciso aceitar a tarefa sempre inconclusa da rein- 18 1919 venção da humanidade, o que não pode se fazer sem o trabalho também constante da produção de outros modos de vida, de no- vas práticas de saúde. Tais afirmações indicam, segundo Pe- reira e Barros (2009), que na gênese do conceito de humanização há uma tomada de posição de que o homem para o qual as políticas de saúde são construídas deve ser o homem comum, o homem concreto. Deste modo, o humano é retirado de uma posição-padrão, abstrata e distante das realidades concretas e é tomado em sua singularidade e complexidade. Há, portan- to, na gênese do conceito, tal como ele se apresenta no campo das políticas de saú- de, a fundação de uma concepção de ‘hu- manização’ crítica à tradicional definição do humano como “bondoso, humanitário” (FERREIRA, 2004). Esta crítica permite arguir movimentos de ‘coisificação’ dos sujeitos e afirmar a aventura criadora do humano em suas di- ferenças. Humanização, assim, em sua gê- nese, indica potencialização da capacidade humana de ser autônomo em conexão com o plano coletivo que lhe é adjacente. Para esta capacidade se exercer, é ne- cessário o encontro com um outro, es- tabelecendo com ele regime de trocas e construindo redes que suportem diferen- ciações. Como o trabalho em saúde possui “natureza eminentemente conversacio- nal” (TEIXEIRA, 2003), entendemos que a efetuação da humanização como política de saúde se faz pela experimentação co- nectiva/afetiva entre os diferentes su- jeitos, entre os diferentes processos de trabalho constituindo outros modos de subjetivação e outros modos de trabalhar, outros modos de atender, outros modos de gerir a atenção (PEREIRA; BARROS, 2009). De acordo com a Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, que será apresentada mais adiante (BRASIL, 2003), humanização é o aumento do grau de corresponsabilidade na produção de saúde e de sujeitos e diz respeito à mudan- ça na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho. Segundo Mello (2008), os termos huma- nização, humanização da assistência hos- pitalar ou humanização em saúde já são de domínio público, embora haja certo estra- nhamento e resistência por parte de mui- tos profissionais da saúde em aceitá-los. O argumento principal é que a humanização é inerente à prática de quem cuida de se- res humanos. No entanto, as pesquisas de satisfação e insatisfação aplicadas aos usuários dos serviços de saúde no país apontam para a grande insatisfação da população com o atendimento prestado, enquanto as re- portagens na mídia sobre o “estado da saúde” mostram um triste panorama nas organizações de saúde de nosso meio, sal- vo algumas relevantes exceções. Nos serviços de saúde, essa inten- ção humanizadora se traduz em dife- rentes proposições: melhorar a relação médico-paciente; organizar atividades de convívio, amenizadas e lúdicas como as brinquedo- tecas e outras ligadas às artes plásticas, à música e ao teatro; garantir acompanhante na internação da criança; implementar novos procedimentos na 20 21 atenção psiquiátrica, na realização do par- to – o parto humanizado e na atenção ao recém-nascido de baixo peso – programa da mãe-canguru; amenizar as condições do atendimen- to aos pacientes em regime de terapia in- tensiva; denunciar a “mercantilização” da me- dicina; criticar a “instituição total” e tan- tas outras proposições (PUCCINI; CECÍLIO, 2004). No campo das políticas públicas de saúde, humanização diz respeito à trans- formação dos modelos de atenção e de gestão nos serviços e sistemas de saúde, indicando a necessária construção de no- vas relações entre usuários e trabalhado- res e destes entre si. A humanização em saúde volta-se para as práticas concretas comprometidas com a produção de saúde e produção de su- jeitos (CAMPOS, 2000), de tal modo que atender melhor o usuário se dá em sintonia com melhores condições de trabalho e de participação dos diferentes sujeitos im- plicados no processo de produção de saú- de (princípio da indissociabilidade entre atenção e gestão). Este voltar-se para as experiências concretas se dá por conside- rar o humano em sua capacidade criadora e singular inseparável, entretanto, dos mo- vimentos coletivos que o constituem. Orientada pelos princípios da transver- salidade e da indissociabilidade entre aten- ção e gestão, a humanização se expressa a partir de 2003 como Política Nacional de Humanização (PNH) (BRASIL, 2004). Como tal, compromete-se com a construção de uma nova relação, seja entre as demais políticas e programas de saúde, seja en- tre as instâncias de efetuação do Sistema Único de Saúde (SUS), seja entre os dife- rentes atores que constituem o processo de trabalho em saúde. O aumento do grau de comunicação em cada grupo e entre os grupos (princípio da transversalidade) e o aumento do grau de democracia institucio- nal por meio de processos congestivos da produção de saúde e do grau de correspon- sabilidade no cuidado são decisivos para a mudança que se pretende (PEREIRA; BAR- ROS, 2009). Transformar práticas de saúde exige mudanças no processo de construção dos sujeitos dessas práticas. Somente com tra- balhadores e usuários protagonistas e cor- responsáveis é possível efetivar a aposta que o SUS faz na universalidade do acesso, na integralidade do cuidado e na equidade das ofertas em saúde. Por isso, falamos da humanização do SUS (HumanizaSUS) como processo de subjetivação que se efetiva com a alteração dos modelos de atenção e de gestão em saúde, isto é, novos sujei- tos implicados em novas práticas de saúde. Pensar a saúde como experiência de cria- ção de si e de modos de viver é tomar a vida em seu movimento de produção de normas e não de assujeitamento a elas. Podemos, então, definir humanização como a valorização dos processos de mu- dança dos sujeitos na produção de saúde. Mas, como surgiu? Qual a necessidade dessa, digamos, reinvenção da humaniza- ção? Nos anos 90, o direito à privacidade, a confidencialidade da informação, o con- sentimento em face de procedimentos 20 21 médicos praticados com o usuário e o atendimento respeitoso por parte dos profissionais de saúde ganham força rei- vindicatória orientando propostas, progra- mas e políticas de saúde. Com isto veio se configurando um “núcleo do conceito de humanização cuja ideia é a de dignidade e respeito à vida humana, enfatizando-se a dimensão ética na relação entre pacientes e profissionais de saúde” (VAITSMAN; AN- DRADE, 2005, p. 608). Cresce o sentido que liga a humanização aocampo dos direitos humanos, principal- mente aos direitos dos usuários, valorizan- do sua inserção como cidadãos de direitos. As alianças entre os movimentos de saúde e os demais movimentos sociais, como por exemplo, o feminismo, desempenham aí papel fundamental na luta pela garantia de maior equidade e democracia nas relações. A XI Conferência Nacional de Saúde (CNS) que aconteceu em 2000, tendo como título “Acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social”, pro- curou interferir nas agendas das políticas públicas de saúde. De 2000 a 2002, o Programa Nacional de Humanização da Atenção Hospitalar (PNHAH) iniciou ações em hospitais com o intuito de criar comitês de humanização voltados para a melhoria na qualidade da atenção ao usuário e, mais tarde, ao traba- lhador. Tais iniciativas encontravam um ce- nário ambíguo em que a humanização era reivindicada pelos usuários e alguns traba- lhadores e, por vezes, secundarizada por gestores e profissionais de saúde. Por um lado, os usuários reivindicam o que é de di- reito: atenção com acolhimento e de modo resolutivo; os profissionais lutam por me- lhores condições de trabalho. Por outro lado, os críticos às propostas humanizan- tes no campo da saúde denunciavam que as iniciativas em curso se reduziam, grande parte das vezes, a alterações que não che- gavam efetivamente a colocar em questão os modelos de atenção e de gestão institu- ídos (BENEVIDES; PASSOS, 2005). Entre os anos 1999 e 2002, além do PNHAH, algumas outras ações e progra- mas foram propostos pelo Ministério da Saúde voltados para o que também foi de- finindo-se como campo da humanização. Pereira e Barros (2009) destacam: a instauração do procedimento de Carta ao Usuário (1999); o Programa Nacional de Avaliação dos Serviços Hospitalares (PNASH –1999); o Programa de Acreditação Hospitalar (2001); o Programa Centros Colaboradores para a Qualidade e Assistência Hospitalar (2000); o Programa de Modernização Geren- cial dos Grandes Estabelecimentos de Saú- de (1999); o Programa de Humanização no Pré- -Natal e Nascimento (2000); a Norma de Atenção Humanizada de Recém-Nascido de Baixo Peso – Método Canguru (2000), dentre outros. Como inferem Benevides e Passos (2005), ainda que a palavra humaniza- ção não apareça em todos os programas e ações e que haja diferentes intenções e focos entre eles, podemos acompanhar a relação que se vai estabelecendo entre humanização qualidade na atenção-satis- 22 23 fação do usuário. Com estas direções foram definidos nor- teadores para a Política Nacional de Huma- nização (Brasil, 2004). Atualmente, a humanização enquanto política pública de saúde, vem-se afirman- do como criação de espaços/tempos que alterem as formas de produzir saúde, to- mando como princípios o aumento do grau de comunicação entre sujeitos e equipes (transversalidade), assim como a inse- parabilidade entre a atenção e a gestão. Este movimento se faz com sujeitos que possam exercer sua autonomia de modo acolhedor, corresponsável, resolutivo e de gestão compartilhada dos processos de trabalho. Grosso modo, a Política Nacional de Hu- manização nasceu como forma de oposi- ção à violência institucional existente nos hospitais brasileiros, e isso se concretiza com atos em que se nega a subjetividade dos sujeitos e a sua completude, quando lhes reduzem a meros objetos. Desta for- ma, humanizar é modificar o modo de se fazer e produzir assistência hospitalar. É modificar toda a sua estrutura (RODRI- GUES, 2013). Quando um sujeito é hospitalizado ocor- re uma ruptura em sua vida normal. Ele se torna vulnerável em todos os aspectos e sentidos. Medo, angústia e ansiedade são apenas alguns dos sentimentos acometi- dos quando da hospitalização e tratamen- to. Evidente que existem vários procedi- mentos invasivos que lhe causam esses sentimentos, além da dor quando acome- tido de doença. No entanto, se bem feita e acompanha- da a sua anamnese, parte desses senti- mentos pode ser transformada em cuida- do, atenção e contribuir para uma relação mais agradável entre profissionais e pa- cientes. Ou seja, se os profissionais conhe- cerem a história do paciente e tratá-lo com os cuidados que o ser humano merece, as chances de recuperação, pelo menos do emocional, serão bem maiores. O que vinha acontecendo, de acordo com o modelo filantrópico no qual se ba- seou a rede hospitalar brasileira, em linhas gerais, era o descaso com a população de maneira geral, além de falta de estrutura e recursos humanos e técnicos. Passamos por uma fase, no século XIX, em que hospi- tal significava local de morrer. Rego (1983) conta que o período que compreende fins do século XIX e começo do século XX fora caracterizado pelo alto índice de óbitos que ocorriam nos hospi- tais, devido à precária infraestrutura e conhecimentos médicos precários, tanto que o hospital ficara conhecido e assimila- do pela população como lugar destinado a morrer, deste cenário nasce o que mais tar- de seria conhecido como o hospital priva- do, pois diante de tantos acontecimentos médicos instituíram “casas de saúde” uma espécie de hospital nas suas próprias re- sidências se contrapondo ao sistema hos- pitalar vigente visto como “antecâmara da morte”. Fazendo um recorte no tempo, chega- mos à Constituição Federal de 1988. A saúde passa a ser dever do Estado e nasce o Sistema Único de Saúde (SUS), que pre- tendia oferecer saúde a todos os brasilei- ros, sem distinção de qualquer gênero, que ofereceria saúde não só curativa mais pau- tada sobre os eixos, promoção que busca eliminar ou controlar as causas das doen- 22 23 ças, proteção que procura prevenir riscos e exposições das doenças atuando dire- tamente na vida das pessoas e, por fim, a recuperação que são as ações que evitam mortes e sequelas quando já estão com o patógeno instalado (MELLO, 2008). A criação do SUS marcou a década de 80 numa proposta de oferecer a população brasileira saúde de qualidade, pautada nos princípios de integralidade, universalidade e equidade. Já os anos 90, mostraram as dificuldades em se implantar o SUS e com elas cresceram as críticas, a desumaniza- ção e impessoalidade da atenção à saúde (JUNGES; DODE, 2009 apud RODRIGUES, 2013). Desde a criação e implantação do SUS, existem várias criticas à sua metodologia, prática e execução. Críticas ao atendimen- to desumano, à falta de recursos necessá- rios para os procedimentos mais básicos, infraestrutura precária, precariedade em recursos humanos e técnicos, à baixa re- muneração, à equipe hospitalar (BRASIL, 2001). Assim, no ano 2000, repetindo, na XI Assembleia Nacional de Saúde, a humani- zação foi apontada como uma necessidade para que o SUS funcione como proposto, ao mesmo tempo em que representa um grande desafio na sua implantação, pois humanizar equivale à mudança, não so- mente no corpo técnico, mas mudanças organizacionais, humanizar é mudar a for- ma de se promover saúde, é mudar o ros- to do hospital enquanto instituição (RIOS, 2009). São princípios norteadores da PNH: 1) Valorização das dimensões subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão no SUS, fortalecendo o compromis- so com os direitos do cidadão, destacan- do-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às popu- lações específicas (índios, quilombolas, ri- beirinhos, assentados, entre outros). 2) Fortalecimento de trabalho em equi- pe multiprofissional, fomentando a trans- versalidade e a grupalidade. 3) Apoio à construção de redes coope- rativas, solidárias e comprometidas com a produção de saúde e com a produção de sujeitos. 4) Construção de autonomia e protago- nismo de sujeitos e coletivos implicados narede do SUS. 5) Corresponsabilidade desses sujeitos nos processos de gestão e de atenção. 6) Fortalecimento do controle social com caráter participativo em todas as ins- tâncias gestoras do SUS. 7) Compromisso com a democratização das relações de trabalho e valorização dos profissionais de saúde, estimulando pro- cessos de educação permanente. A PNH (2004, p. 10) estabeleceu as se- guintes metas a serem consolidadas ao longo de sua implementação que não nos cabe no momento analisar e criticar se fo- ram ou não atingidas. 1. Reduzir as filas e o tempo de espera com ampliação do acesso e atendimento acolhedor e resolutivo baseados em crité- rios de risco. 2. Todo usuário do SUS saberá quem são os profissionais que cuidam de sua saúde, e os serviços de saúde se responsa- bilizarão por sua referência territorial. 24 2524 3. As unidades de saúde garantirão as informações ao usuário, o acompanha- mento de pessoas de sua rede social (de livre escolha) e os direitos do código dos usuários do SUS. 4. As unidades de saúde garantirão gestão participativa aos seus trabalhado- res e usuários, assim como educação per- manente aos trabalhadores. Resumindo, as diretrizes da PNH têm seu alicerce no tripé – usuário, funcionário e gestor – para construção da “Qualidade de Vida” na integralidade humana. Vale guardar... As ações de humanização englobam muitas e diversificadas práticas profissio- nais que vêm sendo introduzidas no trata- mento de pessoas hospitalizadas (a psico- logia, a terapia ocupacional, a arteterapia, a contação de histórias, a arte do palhaço, as artes plásticas, o toque terapêutico, a massoterapia, entre outros) (BARAÚNA, 2007). Nas ações da humanização, procura-se resgatar o respeito à vida humana, a nossa e a do paciente. Mais do que isso, humani- zar é adotar uma prática na qual o enfer- meiro, o profissional que cuida da saúde do próximo, o pedagogo, enfim, toda a equipe multiprofissional do hospital, encontre a possibilidade de assumir uma posição éti- ca de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido, do imprevisível, do in- controlável, do diferente e singular, reco- nhecendo os seus limites (CEMBRANELLI, 2007). Quando falamos, portanto, em “humani- zação do atendimento”, não falamos ape- nas em resgatar o mais bonito do humano ou o quanto somos “maravilhosos”, mas resgatar-nos de uma forma mais inteira, mais coerente em todas essas nossas di- mensões da comunicação. Temos que ser capazes de não ficar imaginando que “em algum lugar do planeta” nos comunicaría- mos muito bem, mas sim entendermos que a nossa habilidade de comunicação passa pela verdade de sermos capazes de nos relacionar com quem existe à nossa volta; que as pessoas que nos rodeiam são os nossos professores de comunicação, e que melhorar a nossa comunicação significa conquistar o melhor de nós mesmos, sig- nifica colocarmos a atenção em dimensões que, muitas vezes, não a pomos (SILVA, 2007). De acordo com Brasil (2004), a humani- zação em hospitais e outras unidades de saúde envolve essencialmente o trabalho conjunto de diferentes profissionais, de toda a equipe. O trabalho interdisciplinar pode favorecer a uma multiplicidade de enfoques e alternativas para a compreen- são de aspectos que estão envolvidos no atendimento ao paciente. Isto tudo pode colaborar para o estabelecimento de uma nova cultura de respeito e valorização da vida humana no atendimento ao paciente. É necessário mudar a forma como es- sas instituições se posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho – a vida, o sofrimento e a dor de um indivíduo fragili- zado pela doença. De nada valerão os es- forços para o aperfeiçoamento gerencial, financeiro e tecnológico das organizações de saúde, pois a mais extraordinária tecno- logia, sem ética, sem delicadeza, sem res- peito, não produz bem-estar. Muitas vezes, desertifica o homem (BRASIL, 2004). 24 2525 UNIDADE 4 - A Gestão dos Resíduos dos Serviços de Saúde – RSS Vamos falar dos resíduos de saúde, mas não custa lembrar que resíduos engloba uma gama grande de produtos, coisas, restos de alimentos, vasilhames, papel, papelão e ou- tros que consideramos lixo. Genericamente, dizemos que lixo é o conjunto de resíduos sólidos resultantes das atividades humanas, entretanto, não podemos esquecer que o que é lixo para uns pode ser alimento para outros. Antes de partirmos para os resíduos de saúde, cabe ainda fazermos um alerta para nós mesmos: para o fato de que nunca na história da humanidade se produziu tanto lixo como nesse século XXI. Desperdícios de um lado, utilização irracional dos recursos da natureza de outro lado vão nos custar muito caro, essa é a verdade! 4.1 Os Resíduos dos Servi- ços de Saúde – RSS Os resíduos sólidos dos serviços de saúde (RSSS), apesar de representarem uma pe- quena parcela da totalidade de resíduos só- lidos gerados no meio urbano, cerca de 1%, oferecem um preocupante risco sanitário e ambiental perante um gerenciamento ina- dequado, pois são possíveis fontes de pro- pagação de doenças, que podem contribuir para o aumento da incidência de infecção hospitalar, além de apresentarem um risco ocupacional intra e extraestabelecimento de saúde, principalmente em relação aos RSSS perfurocortantes acondicionados de maneira incorreta (SCHNEIDER; DUARTE; ORLANDIN, 2001 apud SALES et al., 2009; SILVA; HOPPE, 2005). Os RSSS são definidos como aqueles re- sultantes de atividades exercidas por pres- tadores de assistência médica, odontológi- ca, laboratorial, farmacêutica e instituições de ensino e pesquisa médica relacionados tanto à saúde humana quanto veterinária que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua dis- posição final (SILVA; HOPPE, 2005; BRASIL, 2005). A normatização do gerenciamento dos RSSS é regulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 306/04, e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a Resolução n° 358/05, que definiram as diretrizes sobre o gerenciamento dos RSSS, considerando princípios da biossegurança, preservação da saúde pública e do meio ambiente. Além disso, também estabeleceram a atual classi- ficação dos RSSS em cinco grupos principais: Grupo A – resíduos com risco biológico; Gru- po B – resíduos com risco químico; Grupo C – rejeito radioativo; Grupo D – resíduos simi- lares ao doméstico; Grupo E - resíduos perfu- rocortantes. O gerenciamento dos resíduos é dividido em manejo interno e manejo ex- terno ao estabelecimento de saúde (SALES et al., 2009). De maneira simplificada, os resíduos dos serviços de saúde compreendem todos os resíduos gerados nas instituições destina- das à preservação da saúde da população e são assim classificados de acordo com a NBR 12.808 da ABNT: 26 27 TIPO NOME CARACTERÍSTICA Classe A – Resíduos Infectantes A.1 Biológicos Cultural, inoculo, mistura de microrganis- mos e meio de cultura inoculado provenien- tes de laboratório clínico ou de pesquisa, vacina vencida ou inutilizada, filtro de gases aspirados de áreas contaminadas por agen- te infectantes e qualquer resíduo contami- nado por estes materiais. A.2 Sangue e hemoderivados Sangue e hemoderivados com prazo de vali- dade vencido ou sorologia positiva, bolsa de sangue para análise, soro, plasma e outros subprodutos. A.3 Cirúrgicos, anatomopato-lógicos e exsudato Tecido, órgão, feto, peça anatômica, sangue e outros líquidos orgânicos resultantes de cirurgia, necropsia e resíduos contaminados por estes materiais. A.4 Perfurantes e cortantes Agulha, ampola, pipeta, lâmina de bisturi e vidro. A.5 Animais contaminadosCarcaça ou parte de animal inoculado, exposto a microrganismos patogênicos ou portador de doenças infectocontagiosas, bem como resíduos que tenham estado em contato com eles. A.6 Assistência a pacientes Secreção e demais líquidos orgânicos proce- dentes de pacientes, bem como os resíduos contaminados por estes materiais, inclusive restos de refeições. 26 27 TIPO NOME CARACTERÍSTICA Classe B – Resíduos Especiais B.1 Rejeitos radioativos Material radioativo ou contaminado com radionuclídeos, proveniente de laboratório de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia. B.2 Resíduos farmacêuticos Medicamento vencido, contaminado, inter-ditado ou não utilizado. B.3 Resíduos químicos peri-gosos Resíduo tóxico, corrosivo, inflamável, explo- sivo, reativo, genotóxico ou mutagênico. Classe C – Resíduos Comuns C Resíduos comuns São aqueles que não se enquadram nos ti- pos A e B, por sua semelhança aos resíduos domésticos, não oferecem risco adicional à saúde pública. 4.2 Coleta, tratamento e destinação A higiene ambiental dos estabelecimen- tos assistenciais à saúde – EAS –, ou simples- mente serviços de saúde (hospitais, clínicas, postos de saúde, clínicas veterinárias, entre outros), é fundamental para a redução de infecções, pois remove a poeira, os fluidos corporais e qualquer resíduo dos diversos equipamentos, dos pisos, paredes, tetos e mobiliário, por ação mecânica e com soluções germicidas. O transporte interno dos resídu- os, o correto armazenamento e a posterior coleta e transporte completam as providên- cias para a redução das infecções (MONTEI- RO et al., 2001, p. 80). Sobre as áreas hospitalares, estas são classificadas em três categorias: 1. Áreas críticas: que apresentam maior risco de infecção, como salas de operação e parto, isolamento de doenças transmissí- veis, laboratórios, entre outras. 2. Áreas semicríticas: que apresentam menor risco de contaminação, como áreas ocupadas por pacientes de doenças não-in- fecciosas ou não-transmissíveis, enferma- rias, lavanderias, copa, cozinha, entre outras. 3. Áreas não-críticas: que teoricamente não apresentam riscos de transmissão de in- fecções, como salas de administração, depó- sitos, entre outras (MONTEIRO et al., 2001). 28 29 Existem regras a seguir em relação à se- gregação (separação) de resíduos infectan- tes do lixo comum, nas unidades de serviços de saúde, quais sejam: todo resíduo infectante, no momento de sua geração, tem que ser disposto em re- cipiente próximo ao local de sua geração; os resíduos infectantes devem ser acondicionados em sacos plásticos brancos leitosos, em conformidade com as normas técnicas da ABNT, devidamente fechados; os resíduos perfurocortantes (agulhas, vidros, entre outros) devem ser acondiciona- dos em recipientes especiais para este fim; os resíduos procedentes de análises clínicas, hemoterapia e pesquisa microbioló- gica têm que ser submetidos à esterilização no próprio local de geração; os resíduos in- fectantes compostos por membros, órgãos e tecidos de origem humana têm que ser dispostos, em separado, em sacos plásticos brancos leitosos, devidamente fechados; os resíduos infectantes e especiais de- vem ser coletados separadamente dos re- síduos comuns. Os resíduos radioativos de- vem ser gerenciados em concordância com resoluções da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN; os resíduos infectantes e parte dos re- síduos especiais devem ser acondicionados em sacos plásticos brancos leitosos e coloca- dos em contêineres basculáveis mecanica- mente em caminhões especiais para coleta de resíduos de serviços de saúde. Tais resí- duos representam no máximo 30% do total gerado. São muitas as tecnologias para tratamen- to de resíduos de serviços de saúde. Até pouco tempo, a disputa no mercado de trata- mento de resíduos de serviços de saúde era entre a incineração e a autoclavagem, já que, em muitos países, a disposição em valas sép- ticas não é aceita (MONTEIRO et al., 2001). Recentemente, com os avanços da pes- quisa no campo ambiental e a maior cons- cientização das pessoas, os riscos de polui- ção atmosférica advindos do processo de incineração fizeram com que este processo tivesse sérias restrições técnicas e econô- micas de aplicação, devido à exigência de tratamentos muito caros para os gases e efluentes líquidos gerados, acarretando uma sensível perda na sua parcela de merca- do (MONTEIRO et al., 2001). Os processos comerciais disponíveis que atendem às premissas fundamentais são a incineração (de grelha fixa ou de leito móvel), fornos rotativos, pirólise, autoclavagem, mi- cro-ondas, radiação ionizante, desativação eletrotérmica e tratamento químico. O único processo de disposição final para esse tipo de resíduo é a vala séptica, méto- do muito questionado por grande número de técnicos, mas que, pelo seu baixo custo de investimento e de operação, é o mais utiliza- do no Brasil. A rigor, uma vala séptica é um aterro in- dustrial Classe II, com cobertura diária dos resíduos e impermeabilização superior obri- gatória, onde não se processa a coleta do percolado (MONTEIRO et al., 2001, p. 192). 4.3 Os principais riscos dos resíduos de saúde Os resíduos de serviços de saúde apre- sentam riscos que, se bem gerenciados, não resultam em danos à saúde pública e ao meio ambiente. Assim como os resíduos ge- rados pela comunidade, o potencial de risco 28 29 dos RSS aumenta quando os mesmos são manuseados de forma inadequada ou não são apropriadamente acondicionados e des- cartados, especialmente em situações que favorecem a penetração de agentes de risco no organismo. Os principais riscos a que os traba- lhadores estão sujeitos são: a) Risco biológico Considera-se risco biológico a probabilida- de da ocorrência de um evento adverso em virtude da presença de um agente biológico. Os pré-requisitos necessários para o de- senvolvimento de uma doença infecciosa são: presença do agente infeccioso; número suficiente do agente; hospedeiro suscetível; porta de entrada do agente no hospedeiro, que deve estar presente ou ser criada. Na literatura, há registros de muitos aci- dentes envolvendo resíduos perfurocortan- tes (criação da porta de entrada) com sangue e outros fluidos orgânicos (possíveis presen- ça e concentração do agente infectante), en- volvendo tanto o pessoal da atenção à saú- de como o da limpeza e coleta dos resíduos, muitas vezes, com baixa resistência e sem imunização. Para diminuir o risco de transmissão de doenças por sangue e fluidos orgâ- nicos, devem-se: não reencapar, entortar, quebrar ou re- tirar manualmente as agulhas da seringas; colocar os recipientes coletores para o descarte de material perfurocortante próxi- mo ao local onde é realizado o procedimento; descartar todo resíduo perfurocortan- te e abrasivo, inclusive os que não foram usados, em recipiente exclusivo, resistente à perfuração e com tampa, sem ultrapassar o limite de 2/3 da capacidade total; fornecer equipamentos de proteção in- dividual ao pessoal da higienização e coleta dos resíduos, de acordo com o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA – do estabelecimento, e exigir o seu uso correto (atentar para a possibilidade de haver agulha dispersa no chão); seguir as orientações do PGRSS do es- tabelecimento. b) Risco físico Exposição dos profissionais a agentes físi- cos como, por exemplo, a temperaturas ex- tremas durante o abastecimento manual das unidades de tratamento térmico e à radiação ionizante, quando os rejeitos radioativos são mal acondicionados ou armazenados para decaimento. Outros agentes físicos são: ru- ído, vibração, radiação não-ionizante, ilumi- nação deficiente ou excessiva e
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