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A1 ESTUPRO

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DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
Sob o título dignidade sexual, o legislador busca a proteção da dignidade da pessoa humana sob o aspecto sexual, alcançando sua liberdade sexual, sua vida e integridade física. Também se encontra na esfera dessa proteção a moralidade pública sexual tanto que o pudor público também é protegido como expressão de valores e padrões sociais.
Antes da Lei 12015/09 o título denominava-se “Crimes contra os costumes” e tinha como fonte de proteção social, principalmente, a moral média da sociedade.
ESTUPRO
1 – Conceito: é a conduta de obrigar, forçar uma pessoa a praticar conjunção carnal (se mulher) ou praticar ou permitir que com ela se pratique (se homem ou mulher) outro ato libidinoso. Observe-se que o delito, em decorrência das modificações produzidas pela Lei 12015/09, reuniu as condutas típicas do crime de atentado violento ao pudor ao estupro e passou a proteger sob esse nomem juris, tanto a liberdade sexual da mulher quanto a do homem.
2 – Elementares do tipo
O verbo do tipo é constranger, forçar, compelir à prática da conjunção carnal, definida como a introdução do pênis na cavidade vaginal ou à permissão ou prática de outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal, como o sexo oral, anal, exemplificativamente, ou qualquer outro ato que sirva à satisfação da lascívia e que tenha conteúdo sexual.
É necessário, para a configuração do ato libidinoso, o contato físico entre o sujeito ativo e a vítima, não se resumindo à prática de sexo oral ou anal, como, por exemplo, a masturbação, a introdução de dedos ou outro instrumento na cavidade anal ou vaginal, etc.
Desta forma, não se pode dizer que houve ato libidinoso, se o sujeito ativo, masturba-se na presença da vítima, obrigando-a a presenciar sua conduta lasciva, posto que, a vítima, neste caso, não praticou ou permitiu que com ela se praticasse, conjunção carnal. Distingue-se a hipótese em que a vítima é obrigada a praticar masturbação mediante o constrangimento que é o traço característico do delito. Neste caso, considera-se que a vítima age como longa manus do autor, caso de autoria mediata.
Discute-se na doutrina e existem posicionamentos jurisprudenciais diversos sobre se o beijo lascivo, as apalpadelas em partes pudendas ou o toque nos seios configura o delito de estupro, posto que se trata de crime hediondo, compondo a cartela dos crimes mais graves da legislação penal. 
Fernando Capez se posiciona no sentido de que a intenção do agente deve ser buscada e se tiver propósito de satisfação da libido e for praticado mediante violência ou grave ameaça, podem tipificar o delito de estupro.
Os meios executórios do delito são a vis absoluta e a vis compulsiva. A coação moral deve ter o condão de intimidar a vítima e deixa-la à mercê do agente, tanto faz seja o mal prometido direto ou indireto, justo ou injusto, devendo ser avaliado segundo as condições pessoais da vítima.
Cumpre ressaltar que o dissentimento da vítima integra o tipo delitivo, salvo no caso do estupro de vulnerável, previsto no Art. 217-A, cujo consentimento da vítima é irrelevante.
2 – Sujeito ativo
Qualquer pessoa, homem ou mulher.
O marido também pode ser sujeito ativo do crime. Alguns doutrinadores como Magalhães Noronha e Nelson Hungria se posicionam contra a possibilidade, uma vez que a prática de relações sexuais é dever recíproco entre os cônjuges. Na atualidade não mais se admite a existência de superdireitos na esfera privada, e, apesar da relação sexual integrar os deveres do casamento, não autoriza o uso de meios abusivos e violentos, configurando verdadeiro abuso de direito e crime.
Na definição da Lei 11340/06 a violência sexual consiste em qualquer conduta que constranja a mulher a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
3 – Sujeito passivo
Qualquer pessoa, homem ou mulher.
Se a vítima for menor de 18 anos e maior de 14 anos, o crime é qualificado.
4 – Elemento subjetivo
É o dolo consubstanciado na vontade livre e consciente de constranger pessoa à cópula vagínica ou a prática de ato libidinoso diverso dela.
5 – Consumação e tentativa
Na hipótese de conjunção carnal, o delito é material, e consuma-se com à introdução completa ou incompleta do pênis na vagina. Os atos preliminares ao ato, mas indiscutivelmente tendentes a ele, configuram a tentativa.
Na hipótese de ato libidinoso diverso da conjunção, consuma-se o crime com a prática dos atos libidinosos diversos da conjunção carnal, ou, revela-se a tentativa, quando o sujeito ativo não consegue seu intento por circunstâncias alheias à sua vontade.
6 – PROVA DO CRIME DE ESTUPRO
O estupro é delito de difícil comprovação em razão das circunstâncias nas quais, em regra, ocorre, seja por já terem desaparecido as provas da violência ou das substâncias biológicas deixadas no corpo da vítima, seja porque o delito foi praticado mediante grave ameaça. 
Cumpre ressaltar, entretanto, que se o crime narrado pela vítima deixa evidenciado que é possível o exame de corpo de delito, a ausência do exame sexológico forense, não pode ser suprida, nem mesmo pela confissão do acusado conforme a sistemática do Código de Processo Penal, que determina, em seu art. 158 que “se a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direito ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Adota-se, no caso, o princípio da prova legal, excepcionando-se a regra do princípio da livre apreciação da prova pelo juiz e da verdade real.
Observe-se que, essa regra se aplica apenas quando a infração deixar vestígios, e for possível a realização da perícia, pois, neste caso, a ausência do exame implica na nulidade de qualquer outra prova produzida em substituição e, em consequência, a absolvição do acusado com base no Art. 386, inciso VII do CPP.
Se, por outro lado, não for possível o exame de corpo de delito direto, a prova pode ser suprida por outros meios (Art. 167, CPP).
Entretanto, a tendência jurisprudencial no STF é no sentido de que a perícia não é imprescindível, desde que seja possível comprovar o delito por outros meios de prova.
Cumpre observar que o estupro é crime que se pratica às escondidas e que a palavra da vítima, apesar de não poder ser o único elemento probatório a ser considerado, tem forte peso na formação do convencimento do juiz. O STJ inclusive, já se manifestou nesse sentido “Processo Penal. Habeas corpus. Crime de estupro e atentado violento ao pudor. Sentença condenatória. Anulação. Novo laudo pericial. Condenação fundada em outros elementos de prova. Idoneidade. Na hipótese de crime de estupro e atentado violento ao pudor, a palavra da vítima, corroborada por prova testemunhal idônea, teme relevante valor probante e autorizam e a condenação quando em sintonia com outros elementos de prova. Habeas corpus denegado.” STJ, HC 15.25-SP 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, j. 22-05-2001, DJ, 11-06-2001, p. 262).
 6 – PROVA DO CRIME DE ESTUPRO
O estupro é delito de difícil comprovação em razão das circunstâncias nas quais, em regra, ocorre, seja por já terem desaparecido as provas da violência ou das substâncias biológicas deixadas no corpo da vítima, seja porque o delito foi praticado mediante grave ameaça. 
Cumpre ressaltar, entretanto, que se o crime narrado pela vítima deixa evidenciado que é possível o exame de corpo de delito, a ausência do exame sexológico forense, não pode ser suprida, nem mesmo pela confissão do acusado conforme a sistemática do Código de Processo Penal, que determina, em seu art. 158 que “se a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direito ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Adota-se, no caso, o princípio da prova legal, excepcionando-se a regra do princípio da livre apreciação da prova pelo juiz e da verdade real.
Observe-se que, essa regra se aplica apenas quando a infração deixar vestígios, e for possível a realização da perícia, pois, neste caso, a ausência do exameimplica na nulidade de qualquer outra prova produzida em substituição e, em consequência, a absolvição do acusado com base no Art. 386, inciso VII do CPP.
Se, por outro lado, não for possível o exame de corpo de delito direto, a prova pode ser suprida por outros meios (Art. 167, CPP).
Entretanto, a tendência jurisprudencial no STF é no sentido de que a perícia não é imprescindível, desde que seja possível comprovar o delito por outros meios de prova.
Cumpre observar que o estupro é crime que se pratica às escondidas e que a palavra da vítima, apesar de não poder ser o único elemento probatório a ser considerado, tem forte peso na formação do convencimento do juiz. O STJ inclusive, já se manifestou nesse sentido “Processo Penal. Habeas corpus. Crime de estupro e atentado violento ao pudor. Sentença condenatória. Anulação. Novo laudo pericial. Condenação fundada em outros elementos de prova. Idoneidade. Na hipótese de crime de estupro e atentado violento ao pudor, a palavra da vítima, corroborada por prova testemunhal idônea, teme relevante valor probante e autorizam e a condenação quando em sintonia com outros elementos de prova. Habeas corpus denegado.” STJ, HC 15.25-SP 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, j. 22-05-2001, DJ, 11-06-2001, p. 262).
7 – CONCURSO DE CRIMES
A modificação operada pela Lei 12.015/2009, fundindo no mesmo tipo delitivo a conjunção carnal e os atos libidinosos diversos dela passou a admitir a continuidade delitiva do delito quando, em ocasiões diferentes, mas aproveitando-se das mesmas circunstâncias de tempo, modo e local, a vítima for constrangida mediante violência ou grave ameaça a prática dos atos descritos no tipo. Por outro lado, se num mesmo contexto fático o sujeito ativo praticar conjunção carnal e atos libidinosos configura-se crime único.
Pode ocorrer concurso material entre os crimes de sequestro e cárcere privado e estupro, devendo-se considerar, porém, que se o sequestro ocorreu apenas para viabilizar o estupro e durou apenas o tempo necessário para sua execução fica absorvido por este pelo princípio da consunção.
Cumpre ressaltar que o sequestro e cárcere privado é qualificado se o fim almejado pelo agente é para fim libidinoso (Art. 148, §1º, V do CP).
Poderá ocorrer concurso material entre o estupro e a morte ou lesões corporais de natureza grave. Cumpre ressaltar que se as lesões graves ou a morte decorrerem da violência usada durante o estupro, configura-se as formas qualificadas do delito.
As lesões leves e as vias de fato são absorvidas pelo estupro.
8 – Formas
8.1 – Simples: está prevista no caput.
8.2 – Qualificadas:
a) se da violência utilizada na prática do crime de estupro resultar lesões corporais de natureza grave;
b) se da violência utilizada resultar morte;
c) se a vítima for maior de 14 anos e menor de 18 anos.
As formas qualificadas do delito são crimes complexos decorrentes da fusão entre o estupro e as lesões corporais graves ou gravíssimas e a morte.
As formas qualificadas só admitem a conduta impelida pelo preterdolo, pois, caso o agente haja com desígnio autônomo de matar ou gravemente lesionar está configurado o concurso material de crimes.
Os crimes preterdolosos não admitem a tentativa, posto que, o resultado agravador resulta de culpa.
Consumadas as lesões corporais graves ou gravíssimas ou a morte, consuma-se o delito em suas formas qualificadas, ainda que o sujeito ativo não consiga a realização do estupro, aplicando-se, por analogia, a Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima.”
Se da violência de que resultar as lesões corporais graves ou a morte vitimarem outra pessoa que não a vítima do estupro, configura-se o concurso material de crimes e não o estupro qualificado.
A forma simples e as figuras qualificadas do crime de estupro são consideradas crime hediondo (Art. 1º, V da Lei 8072/90).

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