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EBA/UFMG Ateliê de Criação: Projeto 2o Semestre/2013 CADERNO DE PROCESSOS/ARQUIVO VISUAL 1 – Introdução Caderno de Processos O diário ou caderno de processos é um documento constituído pelo registro das etapas do processo criativo. Mas antes de mais nada, é uma ferramenta de trabalho imprescindível para os designers e artistas, que nele reúnem e processam os dados da pesquisa. Como consequência, oferece para os outros participantes do processo (orientadores, professores, patrocinadores e avaliadores) uma visão global do percurso do criador de maneira que o trabalho seja compreendido. Os cadernos registram a trajetória profissional do criador e transformam-se em valioso material a ser revisitado a cada novo trabalho. O caderno geralmente contém uma etapa de observações, ou registro do mundo exterior, uma etapa de reflexões acerca do que foi coletado e uma etapa de criações, na qual os dados pesquisados são avaliados e recombinados e dão origem a um novo objeto. O caderno não deve ser apenas cosmético ou dar aparência de que uma pesquisa é realizada. O vigor de uma pesquisa registrada em um caderno de processos está na dedicação e na profundidade com que são abordadas as informações, bem como no empenho em transformar este conteúdo em um novo objeto. Não há uma receita ou fórmula, visto que cada processo e cada trabalho desenvolve-se em um percurso único. Assim, como trata-se de um espaço de registro pessoal, são infinitas as possibilidades de formato e organização. No entanto, é importante observar que esse formato deve conter a linguagem criativa do autor e que, por mais subjetiva que seja a organização, ela deve estar visível. Johanne Andersen, 2009, Royal College of Art Johanne Andersen, 2009, Royal College of Art Dulcie Wanless, 2009, Royal College of Art Dulcie Wanless, 2009, Royal College of Art Dulcie Wanless, 2009, Royal College of Art Arquivos Visuais Quando o aluno realiza uma pesquisa na modalidade Monografia, isto é, quando se trata de um trabalho principalmente teórico, mas que se constrói sobre um repertório de imagens, a criação de um arquivo visual é uma das ferramentas imprescindíveis para registrar, organizar e compilar a pesquisa visual e também elaborar reflexões e tecer comparações. Embora mais simples que o caderno de processos, o arquivo visual deverá conter registros rigorosos da coleta de imagens. 2 – Como fazer? Caderno de Processos O caderno de processos deverá funcionar como um diário – cada passo da pesquisa como textos lidos, imagens coletadas, ideias, esboços e experiências realizadas deve ser registrado. Os recursos mais comuns para o registro de observações e para o desenvolvimento de idéias são o texto, o desenho, a colagem, a fotografia e/ou a justaposição desses materiais. Os textos aparecem tanto como pequenas notas como também em fichamentos e extensas reflexões. O material pode ser organizado por datas ou por etapas, por materiais ou ainda de acordo com os procedimentos adotados. Arquivo Visual O arquivo deverá conter a seleção de imagens com as quais se pretende trabalhar, o registro detalhado da fonte, análises do aluno e de outros estudiosos. 2.1 – A escolha do formato Caderno de Processos O caderno de processos em papel pode ser organizado no formato capa dura com costuras, com espiral ou no formato fichário. O material pode também ser distribuído em pastas sanfonadas de arquivo ou pastas com plásticos, ou ainda em caixas. O importante é que seja possível organizar, visualizar e compreender facilmente o material dentro da sequência de procedimentos escolhida pelo criador. Arquivo Visual As imagens poderão ser organizadas em fichas padrão em um caderno ou pasta-arquivo, juntamente com referências e demais textos. Loraine McClean, 2009 Loraine McClean, 2009 3 – Conteúdo Caderno de Processos Todo conteúdo anexado ao caderno deve ser comentado, isto é, cada texto, imagem, ou conjunto de imagens precisa ser acompanhado de uma pequena nota que explicite seu propósito e também indique sua fonte – o aluno tem obrigação de saber de onde foi extraído o material bem como a razão de sua escolha. Não é recomendável que textos que não são de autoria do aluno sejam colados diretamente no caderno – estes devem ser mantidos em uma pasta em separado – porém, os textos usados na pesquisa podem e devem aparecer no caderno de processo na forma de fichamentos e reflexões. Ao conjunto dos procedimentos adotados em um pesquisa dá-se o nome de método e à reflexão sobre os métodos utilizados dá-se o nome de metodologia. Embora o processo de criação seja pessoal, alguns procedimentos são imprescindíveis para a realização de um bom trabalho de pesquisa e criação. Os procedimentos listados abaixo podem acontecer dentro da ordem aqui sugerida ou preferencialmente, dentro da ordem estabelecida pelo aluno, de acordo com seu processo. Alguns trabalhos exigirão procedimentos extras, enquanto outros podem prescindir de algumas destas sugestões. Sugestões de Procedimentos de Pesquisa e Criação – Criação de painéis temáticos/iconográficos/de inspiração – Criação de mapa de idéias – Investigação sobre o objeto de pesquisa/tema – Pesquisa e definição de público-alvo ou função do produto – Fichamento de textos – Reflexões sobre textos lidos – Levantamento de imagens – Levantamento de bibliografias – Registro de procedimentos e resultados de investigações práticas – Pesquisa de materiais/tecidos – Pesquisa de formas – Pesquisa de detalhes – Pesquisa de cores – Pesquisa de tratamento de superfície (texturas, estampas, etc) – Estabelecimento de relações entre as informações obtidas – Desenvolvimento de desenhos e esboços – Experimentação tridimensional Rosie Goldfish, 2009 Rosie Goldfish, 2009 1a Etapa – Condensação – definição do objeto de pesquisa É no caderno de processos que se encontram as idéias. Deve-se aglomerar tudo o que for possível acerca dos temas e idéias que nos são caros. Estas idéias podem estar em uma única imagem, em uma seqüência de imagens, em um material, em um texto, em um filme, em uma música, em uma pessoa, em um pensamento... É preciso cercar os fatos, elementos, palavras, imagens e fenômenos que de alguma forma nos chamam a atenção: o que nos comove, o que nos intriga, o que nos estimula e, sobretudo, o que mais gostamos. Os trabalhos individuais já realizados oferecem muitas respostas: podem ser analisados em busca de elementos reincidentes ou de elementos contrastantes (e estes elementos podem ser tanto imagens como idéias). Devemos detectar os nossos intercessores. Intercessores são as pessoas, objetos e idéias que ao mesmo tempo que nos atravessam, intercedem no mundo por nós. Deles extraímos as características que virão a constituir a nossa expressão, isto é, cada criação deve ser entendida como uma coagulação de intercessores. Nesta etapa devem ser reunidos no caderno, em grande quantidade, as fontes de inspiração, sejam elas imagens, textos, desenhos, cores, tecidos. Em seguida, se o objeto de pesquisa/tema escolhido parece muito vasto, é importante cercar o que mais nos interessa nele, reduzi-lo e apurá-lo ao máximo para que as idéias não se percam e para que o trabalho não seja uma repetição de generalidades. Assim, nesta etapa é preciso delimitar os objetos de pesquisa principais. Uma maneira de se fazer isso é através da eleição de palavras-chave organizadas dentro de um mapa de idéias. Os procedimentos adotados vão depender do processo de cada um, assim nesta etapa podem ser feitos por exemplo: – Criação de painéis temáticos/iconográficos/de inspiração – Criação de mapa de idéias – Investigação a partir de palavras-chave – Pesquisa e definição de público-alvo ou função do produto – Registro de procedimentos e resultados de investigações práticas – Pesquisade materiais/tecidos – Pesquisa de formas DAVIES, Hywel. Fashion Designers' Sketchbooks, 2010. DAVIES, Hywel. Fashion Designers' Sketchbooks, 2010. 2a Etapa – Incubação – investigação sobre o objeto de pesquisa Deve-se tentar saber e registrar o máximo de informações sobre o objeto de pesquisa/tema escolhido. Se meu objeto de pesquisa é uma imagem por exemplo, devo buscar saber onde imagens semelhantes aparecem, quem as fez e em que contexto, o que foi dito sobre essas imagens, etc. Estas ferramentas estão na história, nos textos teóricos, nas ficções, nos filmes, etc. Em algumas ocasiões, não há um material pronto para ser pesquisado, e neste caso o aluno deve partir para a observação direta e produzir o seu próprio material de investigação. É preciso tentar extrair significados das nossas pesquisas: saber com propriedade o que é, como é, de onde veio, quais as implicações. Nesta etapa pode-se realizar: – Criação de painéis temáticos/iconográficos/de inspiração – Investigação sobre o objeto de pesquisa/tema – Pesquisa e definição de público-alvo ou função do produto – Fichamento de textos – Levantamento de imagens – Levantamento de bibliografias – Registro de procedimentos e resultados de investigações práticas – Pesquisa de materiais/tecidos – Pesquisa de formas – Pesquisa de detalhes – Pesquisa de cores – Pesquisa de tratamento de superfície (texturas, estampas, etc) DAVIES, Hywel. Fashion Designers' Sketchbooks, 2010. DAVIES, Hywel. Fashion Designers' Sketchbooks, 2010. 3a Etapa – Reflexão – estabelecimento de relações e formação de idéias Cada uma das informações coletadas deve ser analisada com as mais variadas ferramentas. Assim, nesta etapa, objetiva-se transformar o resultado desta análise em novas idéias. É neste momento que deve-se refletir acerca das nossas escolhas, extraindo novas dimensões das informações investigadas. Cada elemento, inclusive os materiais usados, são depositários de significados. Delimitadas as idéias, é preciso inventar um procedimento de trabalho, um método de pesquisa. O diário de criação é o lugar para que se estabeleçam relacionamentos entre as informações escolhidas e se inventem métodos para estabelecer estas relações. Pode-se começar, por exemplo, relacionando o objeto de pesquisa/tema com formas já conhecidas, com cores ou estampas e também criar relações com materiais que evocam aspectos específicos do tema. É importante verificar e experimentar os procedimentos de trabalho dos criadores que nos interessam. Extrair procedimentos não significa apropriar-se de uma idéia e sim analisar e testar a validade dos processos de outra pessoa com o objetivo de fundar a nossa própria idéia. Para isso é muito importante valorizar as próprias opiniões. Até o final desta etapa devem ter sido feitos os primeiros croquis/desenhos técnicos, a pesquisa de materiais, cores, formas, superfícies. – Pesquisa e definição de público-alvo ou função do produto – Reflexões sobre textos lidos – Registro de procedimentos e resultados de investigações práticas – Pesquisa de materiais/tecidos – Pesquisa de formas – Pesquisa de detalhes – Pesquisa de cores – Pesquisa de tratamento de superfície (texturas, estampas, etc) – Estabelecimento de relações entre as informações obtidas – Desenvolvimento de desenhos e esboços Sampo Lehtinen Sampo Lehtinen 4a Etapa - Verificação Nesta etapa, as idéias desenvolvidas devem ser submetidas aos procedimentos escolhidos para testar sua validade. Procedimentos e resultados devem sempre ser anotados no caderno de processos. A partir dos desenhos selecionados para teste, deve-se partir para a experimentação tridimensional, em tamanho real ou em escala. Dos resultados dessa experimentação (devidamente registrada no caderno) deve ser extraído o primeiro protótipo para se confeccionado. – Registro de procedimentos e resultados de investigações práticas – Pesquisa de materiais/tecidos – Pesquisa de formas – Pesquisa de detalhes – Pesquisa de cores – Pesquisa de tratamento de superfície (texturas, estampas, etc) – Desenvolvimento de croquis/desenhos técnicos – Experimentação tridimensional Referências: DAVIES, Hywel. Fashion Designers' Sketchbooks. Londres: Laurence King Publishers, 2010. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis: Vozes, 1987. SEIVEWRIGHT, Simon. Pesquisa e design. Porto Alegre: Bookman, 2009.